SlideShare una empresa de Scribd logo
1 de 20
PEQUENO HISTÓRICO FOTOGRÁFICO DA MÁQUINA DE ESCREVER E O BELO POEMA DO POETA BRASILEIRO GIUSEPPE GHIARONI ( 22- 02 - 1919)    BAR-LOCK-6  EUA ca. 1885   Brazilian music:  BATE OUTRA VEZ  by Cartola
AMERICAN index EUA ca. 1893
DISKRET GERMAN ca. 1898
HAMMOND  EUA ca. 1885
HAMMOND DOBRÁVEL ABERTA
HAMMOND FECHADA EUA ca. 1923
CORONA  EUA  ca. 1912  portátil
REMINGTON 6 - EUA - ca. 1897
GUNDKA  GERMAN  ca.  1920
BENNETT  EUA  ca. 1910.
BLINCKENSDERFER  EUA ca. 1908
KANZLER – GERMAN - 1903
SMITH  PREMIER  Nº 4  EUA  ca.  1889
EDELMANN  GERMAN ca. 1897
Vende esse rádio que ganhei de prêmio  por um concurso num jornal do povo,  e aquele terno novo, ou quase novo,  com poucas manchas de café boêmio .   Vende também meus óculos antigos  que me davam uns ares inocentes.  Já não precisarei de duas lentes  para enxergar os corações amigos.  POEMA – MÁQUINA DE ESCREVER Mãe, se eu morrer de um repentino mal,  vende meus bens a bem dos meus credores:  a fantasia de festivas cores  que usei no derradeiro Carnaval.
Vende , além das gravatas, do chapéu,  meus sapatos rangentes. Sem ruído  é mais provável que eu alcance o Céu  e logre penetrar despercebido.  Vende meu dente de ouro. O Paraíso  requer apenas a expressão do olhar.  Já não precisarei do meu sorriso  para um outro sorriso me enganar.
Vende meus olhos a um brechó qualquer  que os guarde numa loja poeirenta,  reluzindo na sombra pardacenta,  refletindo um semblante de mulher.  Vende tudo, ao findar a minha sorte,  libertando minha alma pensativa  para ninguém chorar a minha morte  sem realmente desejar que eu viva.  Pode vender meu próprio leito e roupa  para pagar àqueles a quem devo.  Sim, vende tudo, minha mãe, mas poupa  esta caduca máquina em que escrevo.
Mas poupa a minha amiga de horas mortas,  de teclas bambas, tique-taque incerto.  De ano em ano, manda-a ao conserto  e unta de azeite as suas peças tortas.  Vende todas as grandes pequenezas  que eram meu humílimo tesouro,  mas não! ainda que ofereçam ouro,  não venda o meu filtro de tristezas!  Quanta vez esta máquina afugenta  meus fantasmas da dúvida e do mal,  ela que é minha rude ferramenta,  o meu doce instrumento musical...
Bate rangendo, numa espécie de asma,  mas cada vez que bate é um grão de trigo.  Quando eu morrer, quem a levar consigo  há de levar consigo o meu fantasma.  Pois será para ela uma tortura  sentir nas bambas teclas solitárias  um bando de dez unhas usurárias  a datilografar uma fatura.
Deixa-a morrer também quando eu morrer;  deixa-a calar numa quietude extrema,  à espera do meu último poema  que as palavras não dão para fazer.  Conserva-a, minha mãe, no velho lar,  conservando os meus íntimos instantes,  e, nas noites de lua, não te espantes  quando as teclas baterem devagar .                                             GIUSEPPE GHIARONI FORMATAÇÃO:  Sansão  J. Silva Music: BATE OUTRA VEZ  by Cartola (Brazilian composer)

Más contenido relacionado

La actualidad más candente

La actualidad más candente (8)

Capítulo 01 - "Caso Pensado"
Capítulo 01 - "Caso Pensado"Capítulo 01 - "Caso Pensado"
Capítulo 01 - "Caso Pensado"
 
Os Maias - Capítulo VIII
Os Maias - Capítulo VIIIOs Maias - Capítulo VIII
Os Maias - Capítulo VIII
 
Revistas femininas dos anos 50 e 60.....
Revistas femininas dos anos 50 e 60.....Revistas femininas dos anos 50 e 60.....
Revistas femininas dos anos 50 e 60.....
 
Diapositivo do dia do autor,
Diapositivo do dia do autor,Diapositivo do dia do autor,
Diapositivo do dia do autor,
 
Velharias
VelhariasVelharias
Velharias
 
Velharias
VelhariasVelharias
Velharias
 
Velharias
VelhariasVelharias
Velharias
 
Velharias
VelhariasVelharias
Velharias
 

Similar a Typewriter

A MODERNIDADE NA PROSA E NO VERSO
A MODERNIDADE NA PROSA E NO VERSOA MODERNIDADE NA PROSA E NO VERSO
A MODERNIDADE NA PROSA E NO VERSOItalo Delavechia
 
102054795-CARONE-Modesto-Licoes-de-Kafka.pdf
102054795-CARONE-Modesto-Licoes-de-Kafka.pdf102054795-CARONE-Modesto-Licoes-de-Kafka.pdf
102054795-CARONE-Modesto-Licoes-de-Kafka.pdfssuser47aa16
 
Palavra Perdida - Oya Baydar
Palavra Perdida - Oya BaydarPalavra Perdida - Oya Baydar
Palavra Perdida - Oya BaydarSá Editora
 
Despedida3
Despedida3Despedida3
Despedida3JNR
 
5 PAU - OU, 15 PILA DE CONTO
5 PAU - OU, 15 PILA DE CONTO5 PAU - OU, 15 PILA DE CONTO
5 PAU - OU, 15 PILA DE CONTOUmberto Neves
 
Jose Gomes Ferreira
Jose Gomes FerreiraJose Gomes Ferreira
Jose Gomes Ferreiratimtim100
 
A ceia-dos-mortos-salma-ferraz
A ceia-dos-mortos-salma-ferrazA ceia-dos-mortos-salma-ferraz
A ceia-dos-mortos-salma-ferrazLRede
 
Artur azevedo cavação
Artur azevedo   cavaçãoArtur azevedo   cavação
Artur azevedo cavaçãoTulipa Zoá
 
Acre 004 (ago set-out de 2014) e-book revista de arte e poesia em geral circ...
Acre 004 (ago set-out de 2014)  e-book revista de arte e poesia em geral circ...Acre 004 (ago set-out de 2014)  e-book revista de arte e poesia em geral circ...
Acre 004 (ago set-out de 2014) e-book revista de arte e poesia em geral circ...AMEOPOEMA Editora
 
Acre004ago set-outde2014e-book-140924131458-phpapp01(1)
Acre004ago set-outde2014e-book-140924131458-phpapp01(1)Acre004ago set-outde2014e-book-140924131458-phpapp01(1)
Acre004ago set-outde2014e-book-140924131458-phpapp01(1)Ana Fonseca
 
Vinicius de-moraes-novos-poemas-i
Vinicius de-moraes-novos-poemas-iVinicius de-moraes-novos-poemas-i
Vinicius de-moraes-novos-poemas-ijcmucuge
 

Similar a Typewriter (20)

A MODERNIDADE NA PROSA E NO VERSO
A MODERNIDADE NA PROSA E NO VERSOA MODERNIDADE NA PROSA E NO VERSO
A MODERNIDADE NA PROSA E NO VERSO
 
Cortazar
CortazarCortazar
Cortazar
 
108
108108
108
 
102054795-CARONE-Modesto-Licoes-de-Kafka.pdf
102054795-CARONE-Modesto-Licoes-de-Kafka.pdf102054795-CARONE-Modesto-Licoes-de-Kafka.pdf
102054795-CARONE-Modesto-Licoes-de-Kafka.pdf
 
Modernismo de 30
Modernismo de 30Modernismo de 30
Modernismo de 30
 
Modernismo de 30
Modernismo de 30Modernismo de 30
Modernismo de 30
 
Modernismo de 30
Modernismo de 30Modernismo de 30
Modernismo de 30
 
Palavra Perdida - Oya Baydar
Palavra Perdida - Oya BaydarPalavra Perdida - Oya Baydar
Palavra Perdida - Oya Baydar
 
José de Alencar - Ao correr da pena
José de Alencar - Ao correr da penaJosé de Alencar - Ao correr da pena
José de Alencar - Ao correr da pena
 
Casos do romualdo
Casos do romualdoCasos do romualdo
Casos do romualdo
 
Despedida3
Despedida3Despedida3
Despedida3
 
5 PAU - OU, 15 PILA DE CONTO
5 PAU - OU, 15 PILA DE CONTO5 PAU - OU, 15 PILA DE CONTO
5 PAU - OU, 15 PILA DE CONTO
 
Coisas que só eu sei
Coisas que só eu seiCoisas que só eu sei
Coisas que só eu sei
 
Jose Gomes Ferreira
Jose Gomes FerreiraJose Gomes Ferreira
Jose Gomes Ferreira
 
A ceia-dos-mortos-salma-ferraz
A ceia-dos-mortos-salma-ferrazA ceia-dos-mortos-salma-ferraz
A ceia-dos-mortos-salma-ferraz
 
Artur azevedo cavação
Artur azevedo   cavaçãoArtur azevedo   cavação
Artur azevedo cavação
 
Acre 004 (ago set-out de 2014) e-book revista de arte e poesia em geral circ...
Acre 004 (ago set-out de 2014)  e-book revista de arte e poesia em geral circ...Acre 004 (ago set-out de 2014)  e-book revista de arte e poesia em geral circ...
Acre 004 (ago set-out de 2014) e-book revista de arte e poesia em geral circ...
 
Acre004ago set-outde2014e-book-140924131458-phpapp01(1)
Acre004ago set-outde2014e-book-140924131458-phpapp01(1)Acre004ago set-outde2014e-book-140924131458-phpapp01(1)
Acre004ago set-outde2014e-book-140924131458-phpapp01(1)
 
Alvares de Azevedo - Macário
Alvares de Azevedo - MacárioAlvares de Azevedo - Macário
Alvares de Azevedo - Macário
 
Vinicius de-moraes-novos-poemas-i
Vinicius de-moraes-novos-poemas-iVinicius de-moraes-novos-poemas-i
Vinicius de-moraes-novos-poemas-i
 

Más de Milene Cristina (20)

Arroba1
Arroba1Arroba1
Arroba1
 
Elis regina 26 anos (m
Elis regina 26 anos   (m Elis regina 26 anos   (m
Elis regina 26 anos (m
 
El angulo perfecto
El angulo perfectoEl angulo perfecto
El angulo perfecto
 
Desejos
DesejosDesejos
Desejos
 
Gelandoumacervejacompapeltoalha (1)
Gelandoumacervejacompapeltoalha (1)Gelandoumacervejacompapeltoalha (1)
Gelandoumacervejacompapeltoalha (1)
 
Humor
HumorHumor
Humor
 
Como cuidar de seus olhos no uso de computadores
Como cuidar de seus olhos no uso de computadoresComo cuidar de seus olhos no uso de computadores
Como cuidar de seus olhos no uso de computadores
 
Arte con frutas y verduras
Arte con frutas y verdurasArte con frutas y verduras
Arte con frutas y verduras
 
Edibar
EdibarEdibar
Edibar
 
Perolas do humor fino.pps nil
Perolas do humor fino.pps nilPerolas do humor fino.pps nil
Perolas do humor fino.pps nil
 
Feliz pascoa 4
Feliz pascoa 4Feliz pascoa 4
Feliz pascoa 4
 
45+fotogr
45+fotogr45+fotogr
45+fotogr
 
45+fotogr
45+fotogr45+fotogr
45+fotogr
 
Frases ilustradas
Frases ilustradasFrases ilustradas
Frases ilustradas
 
Frases ilustradas
Frases ilustradasFrases ilustradas
Frases ilustradas
 
Fotos nanos do corpo humano fj
Fotos nanos do corpo humano fjFotos nanos do corpo humano fj
Fotos nanos do corpo humano fj
 
Cultura
CulturaCultura
Cultura
 
Feliz2012
Feliz2012Feliz2012
Feliz2012
 
Thelatesttechnology
ThelatesttechnologyThelatesttechnology
Thelatesttechnology
 
Escultor de arvores
Escultor de arvoresEscultor de arvores
Escultor de arvores
 

Typewriter

  • 1. PEQUENO HISTÓRICO FOTOGRÁFICO DA MÁQUINA DE ESCREVER E O BELO POEMA DO POETA BRASILEIRO GIUSEPPE GHIARONI ( 22- 02 - 1919)   BAR-LOCK-6  EUA ca. 1885 Brazilian music: BATE OUTRA VEZ by Cartola
  • 7. CORONA  EUA  ca. 1912  portátil
  • 8. REMINGTON 6 - EUA - ca. 1897
  • 13. SMITH  PREMIER  Nº 4  EUA ca.  1889
  • 15. Vende esse rádio que ganhei de prêmio por um concurso num jornal do povo, e aquele terno novo, ou quase novo, com poucas manchas de café boêmio . Vende também meus óculos antigos que me davam uns ares inocentes. Já não precisarei de duas lentes para enxergar os corações amigos. POEMA – MÁQUINA DE ESCREVER Mãe, se eu morrer de um repentino mal, vende meus bens a bem dos meus credores: a fantasia de festivas cores que usei no derradeiro Carnaval.
  • 16. Vende , além das gravatas, do chapéu, meus sapatos rangentes. Sem ruído é mais provável que eu alcance o Céu e logre penetrar despercebido. Vende meu dente de ouro. O Paraíso requer apenas a expressão do olhar. Já não precisarei do meu sorriso para um outro sorriso me enganar.
  • 17. Vende meus olhos a um brechó qualquer que os guarde numa loja poeirenta, reluzindo na sombra pardacenta, refletindo um semblante de mulher. Vende tudo, ao findar a minha sorte, libertando minha alma pensativa para ninguém chorar a minha morte sem realmente desejar que eu viva. Pode vender meu próprio leito e roupa para pagar àqueles a quem devo. Sim, vende tudo, minha mãe, mas poupa esta caduca máquina em que escrevo.
  • 18. Mas poupa a minha amiga de horas mortas, de teclas bambas, tique-taque incerto. De ano em ano, manda-a ao conserto e unta de azeite as suas peças tortas. Vende todas as grandes pequenezas que eram meu humílimo tesouro, mas não! ainda que ofereçam ouro, não venda o meu filtro de tristezas! Quanta vez esta máquina afugenta meus fantasmas da dúvida e do mal, ela que é minha rude ferramenta, o meu doce instrumento musical...
  • 19. Bate rangendo, numa espécie de asma, mas cada vez que bate é um grão de trigo. Quando eu morrer, quem a levar consigo há de levar consigo o meu fantasma. Pois será para ela uma tortura sentir nas bambas teclas solitárias um bando de dez unhas usurárias a datilografar uma fatura.
  • 20. Deixa-a morrer também quando eu morrer; deixa-a calar numa quietude extrema, à espera do meu último poema que as palavras não dão para fazer. Conserva-a, minha mãe, no velho lar, conservando os meus íntimos instantes, e, nas noites de lua, não te espantes quando as teclas baterem devagar .                                             GIUSEPPE GHIARONI FORMATAÇÃO: Sansão J. Silva Music: BATE OUTRA VEZ by Cartola (Brazilian composer)