A União Europeia está preocupada com o impacto ambiental do plástico descartável e planeja proibir itens como talheres, pratos, copos e canudos plásticos até 2021. A proibição visa reduzir a poluição plástica nos oceanos e promover alternativas mais sustentáveis. Os países da UE terão até 2021 para implementar as novas diretrizes.
Venho de uma família de agricultores, assisti o que a revolução verde fez com as terras de minha família presenciei a fartura e a diversidade da época de meu avo e o quanto as terras foram se tornando menos produtivas e o quanto meu pai foi aumentando as dividas com os bancos.
Lembro na minha adolescência acompanhar meu pai ao Banco do Brasil para pedir um financiamento para comprar semente de milho, o gerente respondeu que somente financiaria o milho se junto ele comprasse também o herbicida, inseticida e o adubo químico, pois sem isso, ele não conseguiria produzir e não teria como pagar o banco: éramos obrigados a engolir pacotes tecnológicos, empurrados por um modelo de desenvolvimento rural que atendia aos objetivos imediatistas de aumento de produção de commodities agrícolas e principalmente das industrias de agrotóxicos.
Quando entrei na universidade sonhava entender o funcionamento da natureza para produzir em harmonia com ela, sem usar aqueles venenos cada vez mais fortes, pois os insetos estavam cada vez mais resistentes e o solo cada vez mais fraco. Porem, na sala de aula, os professores só sabiam receitar mais pacotes. Juntei-me com outros colegas que estavam no mesmo caminho e começamos a produzir verduras, sem agrotóxicos numa chácara, próximo a universidade, depois de um tempo, passamos a comercializar, inclusive entregando na casa dos professores.
Este grupo cresceu, os movimentos naturalistas estavam tomando força, depois de um tempo, começaram a aparecer conflitos de relacionamento e alguns membros passaram a fazer esta reflexão: estamos produzindo verduras sem veneno, mas nosso relacionamento está envenenado, com fazer para viver sem esses venenos de relacionamento?
Desse grupo, alguns anos depois, surgiu em 1988 a vila Yamaguishi em Jaguariúna – SP., onde moro e produzo, alimentos orgânicos
Atualmente tenho dado consultorias para os ministérios meio ambiente, agricultura, e MDA. Nos idos de 2006 participei de um projeto do MDA de Apoio para Diversificação em Áreas Cultivadas com Tabaco em propriedades produtoras de fumo da agricultura familiar. O Brasil havia ratificado, em novembro de 2005, sua participação à Convenção-Quadro para Controle do Tabaco (CQCT/OMS), comprometendo-se a implementar medidas para diminuir o tabagismo e apoiar os agricultores produtores de tabaco na busca de alternativas. O Brasil era o segundo maior produtor mundial de fumo e o maior exportador de fumo em folha, com 14,1% da produção mundial em 2004, estando atrás apenas da China, que nesse período produziu 36,5% do total mundial. Porém, ainda assim, a China precisava do produto brasileiro, porque o fumo brasileiro é “aromático”, enquanto o chinês é considerado “enchimento”. Para manter este status, o setor fumageiro envolve cerca de 2,4 milhões de pessoas, entre fumicultores, transportadores, funcionários das indústrias de beneficiamento e das fábricas de cigarros, pontos de vendas, fabricantes e distribuidores de insumos agrícolas e fornecedores de matéria-prima. Mais de 80% dos produtores de fumo são de agricultores com menos de 20hec. (pequenos agricultores familiares). Logo nas primeiras conversas com os agricultores, observei que apesar de estarem cultivando tabaco ha muito tempo, essas famílias ainda tinham a memoria e a saudade dos tempos do avo, (assim como eu), todos queriam voltar aos tempos em que tinham em casa as frutas, com que faziam as chimias, as verduras, o ovo, a carne na lata, que é a conservação do porco na própria banha, a galinha caipira, ovo caipira, erva-mate, além de milho, feijão e batata, araruta, etc.
Um estudo do Deser (Departamento de Estudos SocioEconomicos Rurais) mostrou que três em cada quatro famílias fumicultoras gostariam de migrar para outras culturas. E muitos, principalmente as mulheres, intuitivamente, sabiam como cultivar outros produtos, mas tinham sido influenciados pela propaganda da “modernidade”, a indústria do fumo produzindo em serie, prometia boa renda, em sistema de integração, oferecia um mercado certo, firme e crescente, a possibilidade de comprar bens iguais aos da “gente da cidade”, e ser moderno ser valorizado assim como os urbanos.
O mercado sedutor, os sonhos de consumo urbano, toda a propaganda de massa, foi inebriando a visão da maioria dos agricultores, principalmente os jovens, de tal forma, que só conseguiam ver o mundo daquela forma, passaram a fazer parte do ciclo vicioso
Mais de 60 agrotóxicos estão liberados para uso na cultura do fumo. Praticamente a metade desses produtos pertence às classes toxicológicas I e II, ou seja, são extremamente tóxicos podendo trazer sérios danos à saúde, além do que é um trabalho extremamente penoso, com equipamento costal, que dá problemas na coluna e reumatismo a intoxicação pelos agrotóxicos, é comum nas lavouras e chega até a provocar sequelas graves, como perda de movimentos nas pernas, impotência e inclusive depressão. Citei esse caso da cultura do tabaco, mas o drama do uso de agrotóxicos acontece de forma generalizada na maioria das produções agrícolas, no caso especifico do fumo, existe ainda a doença da folha verde do tabaco, provoca sintomas como tonturas, náusea, diarreia, febre, perda de apetite e do sono. O simples contato com a folha molhada pode transferir ao organismo até nove miligramas de nicotina. Ao fim de um dia de trabalho na época de colheita, um produtor fica exposto a 54 miligramas, o equivalente a 36 cigarros. A situação se agrava diante de casos de trabalho infantil.
Nosso trabalho junto a essas famílias foi de promover e apoiar sua organização, resgatar e aperfeiçoar técnicas ecológicas de plantio, visando primeiramente sua soberania alimentar com diversificação de produtos e abrir pontos de comercialização direta ao consumidor. No segundo ano, já tinham produção excedente, levando seus produtos orgânicos para feiras agroecológicas, tendo contato direto com consumidores que realmente valorizam e elogiam esses produtos. As ações deste trabalho foram simples:
Trouxe consequências sinérgicas altamente poderosa. Tudo isso provoca uma melhora da renda que propicia não só o acesso aos sonhados “bens materiais da modernidade urbana” mas traz saúde, autoestima, alegria e motivação de vida, e isso é o que realmente importa,
Aumentar a auto estima de uma Família de um grupo, comunidade não é tão complicado, mas como será aumentar a autoestima de uma nação?
Como brasileiros preocupados com o meio ambiente, nossa auto-estima não anda muito bem, pois, segundo dados da ANVISA e do Observatório da Industria dos Agrotóxicos da UFPR, nos últimos dez anos, o mercado mundial de agrotóxicos cresceu 93%, o mercado brasileiro cresceu 190%.
Por demanda dos movimentos sociais agregados na Articulação Nacional de Agroecologia e a Câmara Temática de Agricultura Orgânica, e também para melhorar a imagem do pais anfitrião da Rio+20, a presidenta Dilma esta lançando na na Rio +20, a PNAPO, que tenta equilibrar um pouco a relação entre a agricultura pelo dinheiro ou agricultura pela felicidade. Faço parte do grupo de trabalho que veio construindo a minuta desse decreto representando a sociedade civil. A agricultura orgânica foi regulamentada no Brasil, a partir de 2003, até então, não havia reconhecimento legal da agricultura limpa sem uso de venenos, muito se avançou nesse 9 anos, mas mesmo reconhecida legalmente o apoio a AO é restrito a meros programas ou projetos desconectados, com parcos recursos. A partir do momento da publicação de uma politica nacional de agroecologia, esse modelo de desenvolvimento rural muda de status.
Passa a ser um compromisso dos gestores, dos comandantes deste navio Brasil, de seguir essa direção, esse rumo pois entendem que esse é o verdadeiro desejo da nação. A expectativa dos movimentos sociais agroecologicos é que esse decreto seja um marco na mudança de direção do modelo hegemônico de desenvolvimento rural e agrícola, Para isso, achamos que dentre os conceitos fundamentais desse decreto a função social da terra é premissa básica: a efetividade da PNAPO deverá estar intrinsecamente associada ao princípio da função social da Terra , através da realização da reforma agrária, da regularização fundiária e do respeito aos direitos territoriais das populações e comunidades tradicionais. Existem ainda hoje no Brasil uma infinidade de povos e comunidades tradicionais que tem culturas muito próprias e diferenciadas, que carregam uma riqueza de conhecimentos tradicionais construídos através de centenas de anos: quilombolas, indígenas, populações tradicionais de extrativistas, castanheiros, seringueiros, quebradeiras de côco babaçu, faxinalenses, gente dos fundos de pasto, vazanteiros, geraizeiros, catadoras de mangaba, ribeirinhos, pescadores, agricultores urbanos, entre outros povos. Esses Povos e comunidades tradicionais são os principais guardiões da Agrobiodiversidade das chamadas sementes crioulas 2 “ grupos culturalmente diferenciados e que se reconhecem como tais, que possuem formas próprias de organização social, que ocupam e usam territórios e recursos naturais como condição para sua reprodução cultural, social, religiosa, ancestral e econômica, utilizando conhecimentos, inovações e práticas gerados e transmitidos pela tradição”. São denominadas de variedades crioulas aquelas variedades que foram desenvolvidas pelos próprios agricultores, resultantes da seleção de plantas por eles realizada ao longo do tempo, cujas sementes são passadas de geração a geração e também trocadas entre vizinhos e parentes.
Ao falar em alimento do futuro, vários estudos, realizados por setores da Organização das Nações Unidas (ONU) e por equipes internacionais de pesquisadores independentes, confirmam que sistemas de produção desenhados e manejados de acordo com os princípios da ciência da Agroecologia têm muitas dimensões positivas. Estes sistemas conservam a biodiversidade nativa e cultivada, usada livremente pelas comunidades, recuperam os solos, protegem e usam com responsabilidade as águas. Além disso, geram trabalho digno no campo, democratizam a riqueza gerada pela agricultura e atuam na superação da pobreza rural, pois fortalecem a agricultura familiar camponesa e promovem maior autonomia dos agricultores frente aos mercados, seja de insumos, seja na comercialização da produção.
Como fazer isso? Trazer aos povos e comunidades tradicionais: reconhecimento, fortalecimento e garantir os seus direitos territoriais, sociais, ambientais, econômicos e culturais, com respeito e valorização à sua identidade, suas formas de organização e suas instituições.
Nesse sentido o decreto recém lançado pela presidenta traz algumas ações emergenciais que tentam comprovar a seriedade deste compromisso assumido pelo governo, por exemplo:
Qual você escolhe?
Venho de uma família de agricultores, assisti o que a revolução verde fez com as terras de minha família presenciei a fartura e a diversidade da época de meu avo e o quanto as terras foram se tornando menos produtivas e o quanto meu pai foi aumentando as dividas com os bancos.