miúdos
ilustrarte 2012
Os melhores O
que é uma
boa ilustração
para crianças?
“Deve ser
criativa, original,
desenhos para
inventiva e
estimular a imaginação... de
crianças e adultos”, responde
por email Ju Godinho,
comissária da Ilustrarte, Bienal
crianças
Internacional de Ilustração
para a Infância. Qualidades
identificadas nas 150 imagens
(três por cada ilustrador) que
poderão ser vistas a partir de
dia 12 de Janeiro no Museu da
Electricidade, em Lisboa.
Chegam de vários países e submetem-se à apreciação De dois em dois anos, expõe-
se em Portugal o que de melhor
de um júri internacional. São originais de ilustrações se faz por aí na ilustração
para a infância. É assim desde
para crianças e vão estar no Museu da Electricidade, 2003, data da primeira edição
da Ilustrarte. “Trata-se de um
em Lisboa, a partir de quinta-feira. Mas só os melhores. concurso internacional. Pedimos
Cinquenta escolhas entre mais de 1500 candidaturas. a ilustradores de todo o mundo
que nos enviem três trabalhos
originais publicados nos
Texto Rita Pimenta últimos dois anos ou inéditos.
Depois, são sujeitos a um júri O vencedor e os seleccionados para a exposição, estão cinco fruição pura, simples e livre está
internacional de cinco pessoas foram divulgados no início de ilustradores portugueses, dois um bocadinho vedada ao público
reconhecidas, que seleccionam Novembro de 2011. O Prémio com trabalho conjunto: Daniel não iniciado”.
50 candidaturas para uma Ilustrarte coube ao italiano Lima & Cátia Serrão, André Os comissários notam
exposição e atribuem um Valerio Vidali e as duas menções Letria, Bernardo Carvalho e diferenças significativas no
primeiro prémio e duas menções especiais aos trabalhos do André da Loba. âmbito da ilustração em
especiais de entre essas 50”, também italiano Simone Rea e da Portugal: “Há uma evolução
explica à Pública Eduardo Filipe, dupla de ilustradoras suíças Nina O boom português nítida, houve um boom da
também comissário da bienal. Wehrle e Evelyn Laube. Perante a questão sobre se será ilustração e do gosto pelos bons
Para esta edição, receberam Para Ju Godinho, qualquer dos mais fácil ver boa ilustração do livros ilustrados, percebe-se um
desenhos de 1585 ilustradores de autores das menções especiais que ver artes plásticas nos seus determinado cunho de qualidade
65 países. Portugal contribuiu também poderia ser vencedor. exemplos mais herméticos, dos ilustradores, dos editores,
com 30% das candidaturas. “As decisões do júri não são Eduardo Filipe conclui: “Na dos pequenos editores e também
A forte adesão dos ilustradores absolutas. São o resultado da ilustração, encontra-se mais mais exigência do público.”
e também dos diferentes opinião de cinco pessoas, num facilmente o contexto. Há uma A nível internacional,
públicos a este universo resulta, dado momento, no fim de um contextualização quase imediata apercebem-se de que a tendência
segundo Eduardo Filipe, “do determinado percurso.” que se sobrepõe às questões é para abandonar uma certa
fascínio que toda a gente tem Martin Jarrie (ilustrador e estéticas com que a pessoa exuberância e profusão de
por uma história bem contada”. pintor francês), Isidro Ferrer possa estar menos à vontade. elementos gráficos e montagens
No caso, por imagens. “O (ilustrador e designer espanhol), Percebe-se logo qualquer coisa. que caracterizavam esta arte
público percebe que, nas artes Isabelle Vandenabeele Como reconhecer o Capuchinho há alguns anos, naquilo a que
plásticas ditas aplicadas, lhe (ilustradora belga, vencedora Vermelho, por mais deformado o comissário chama “ilustrar à
está a ser contada uma história da Ilustrarte anterior), Paolo que apareça. Isso abre logo uma la Rouerge”, em resultado da
e recebe-a com muito agrado. Canton (editor italiano) e porta de entendimento.” influência da editora francesa
E os ilustradores, como gostam João Paulo Cotrim (escritor e Já para desfrutar das artes criada por Olivier Douzou.
de contar histórias por imagens, jornalista português) foram o plásticas contemporâneas, “é “Hoje, a tendência é para uma
cativam as pessoas de uma forma júri desta 5.ª edição. preciso estar muito por dentro ilustração mais depurada, clean,
impressionante.” De entre os 50 escolhidos para decifrar alguns códigos, a com o mínimo de meios. c
Simone Re
a
Valerio Vidali
FOTOS: JOSÉ ALEx GANDuM/FuNDAçãO EDP
À esquerda, Eduardo Moura (director do
Museu da Electricidade) e João Paulo Cotrim
(do júri) vêem os originais seleccionados.
Nesta página, Eduardo Filipe e Ju Godinho,
comissários da Ilustrarte
miúdos
Daniel Lima & Cátia Serrão Talvez seja até um bocadinho sido apresentadas ao público
mais conceptual. Nas técnicas, o em malas de pintura, este ano
digital está a assumir-se de forma estarão em mesas-de-cabeceira
inequívoca. E de várias maneiras. gigantes.
Desde os que fazem a ilustração “Partiram da ideia dos livros
digital logo de raiz, até aos que de cabeceira, criando uma visão
a iniciam ‘analogicamente’, alterada das mesas-de-cabeceira.
com tintas, pincéis e recortes, e Assim, iremos ter 50 dessas
depois digitalizam e manipulam mesas com ilustrações dentro das
a imagem no computador. gavetas. uma peça fora de escala,
Há também os que usam o com um candeeiro e um copo.
computador a imitar ilustração É um convite para que abram
não digital, e até é difícil as gavetas, onde encontrarão as
reconhecer que não foi feito com ilustrações do livro que estará
pincel”, diz Eduardo Filipe. sobre a mesa. Há uma magia no
Na moda está também “a meio disto tudo que acredito que
gravura, a monotipia, um certo as pessoas vão gostar muito”,
André Letria revivalismo da ilustração dos desvenda com entusiasmo.
anos 50, 60, com cores primárias “Entusiasmo” é também a
e poucas”. palavra indicada quando se
Já durante a apresentação refere ao Museu da Electricidade,
à imprensa dos trabalhos “um espaço magnífico”. Sendo
seleccionados, Ju Godinho professor de Engenharia
tinha referido à Pública que Química no Instituto Superior
havia muitas obras de gravura a Técnico, diz divertido: “Eu
concurso. E também o recurso, poderia perfeitamente dar ali as
“até este ano pouco habitual”, a minhas aulas de termodinâmica.
costura (com pano e linha). Gostamos muito do espaço (a Ju
também é professora de Química)
Lançar ilustradores e fomos muito bem acolhidos por
A Ilustrarte, segundo Eduardo todas as equipas do museu. Vê-se
Filipe, tem contribuído para que gostam de ter ali a exposição.
lançar alguns ilustradores, Há um interesse genuíno da
que após a sua participação parte do administrador Sérgio
são contactados por editoras Figueiredo, mas sobretudo do
interessadas em contratá-los. director do museu, Eduardo
Como exemplos, refere o caso Moura.” As primeiras três edições
da ilustradora polaca Gabriela decorreram no Barreiro, no
Cichowska, que o informou Auditório Municipal Augusto
Bernardo Ca que após constar do catálogo Cabrita.
rvalho foi convidada para ilustrar dois Em paralelo, o museu acolhe
livros, e o de Joanna Concejo, uma retrospectiva de Martin
“que é hoje a coqueluche da Jarrie, com 120 obras (pintura
ilustração internacional”. e ilustração). O autor colabora
E lembra que, quando foi com títulos como o Libération,
seleccionada para a primeira o Le Monde, a New Yorker e a
bienal, “com umas imagens de Bloomberg, já assinou 30 livros
umas alcachofras lindíssimas individualmente e 13 em co-
André da Loba e uns cardos junto aos olhos autoria. Também uma mostra
de uma menina”, ninguém a sobre os livros do escritor
conhecia. “Para nós, é muito António Torrado pode ser
gratificante. Embora não possa visitada no âmbito da Ilustrarte.
estabelecer uma relação directa uma parceria com a Vista Alegre
de causa-efeito, estou certo de irá resultar na criação de um
que a Ilustrarte teve a sua quota- conjunto de chávenas de café
parte de responsabilidade ao com ilustrações dos vencedores
mostrar aqueles desenhos que das várias edições. Depois, há o
toda a gente adorou.” projecto de se diversificar com
Tal como na edição anterior, a outras peças e ilustradores.
bienal tem o patrocínio exclusivo A bienal pode ser visitada de
da Fundação EDP, o catálogo está terça a domingo, das 10h às 18h,
a cargo do Silvadesigners e conta termina a 8 de Abril e segue para
com os arquitectos Pedro Cabrita a Academia Real de Belas Artes
e Isabel Dinis para a concepção de Ghent, na Bélgica. a
do espaço da exposição. Depois
de, em 2010, as ilustrações terem rpimenta@publico.pt