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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO - UFRJ

                              ESCOLA DE SERVIÇO SOCIAL – ESS

                                    IDENTIDADES CULTURAIS

                                                 GISELE

                               MARCELLE TRINDADE BEZERRA

                           MARIA CRISTINA JORGE DE CARVALHO

                                       ROSANGELA SOARES

                                       RIO DE JANEIRO – RJ

                                                   2008

                                       SUMÁRIO SUMÁRIO




1. INTRODUÇÃO ------------------------------------------------------------------------------------
                                                                                                     03


2. NORDESTE: UMA CONSTRUÇÃO HISTÓRICA ---------------------------------------
                                                                                                     03


3. A MIGRAÇÃO DO NORDESTINO ----------------------------------------------------------
                                                                                                     04


4. ESTEREÓTIPO, PRECONCENTEIRO, DISCRIMINAÇÃO E ESTIGMA --------                                     06
5. A IDENTIDADE NORDESTINA --------------------------------------------------------------
                                                                                                          08


 6. DENÚNCIA -----------------------------------------------------------------------------------------
                                                                                                          09


 7. CONCLUSÃO --------------------------------------------------------------------------------------
                                                                                                          10


 8. ANEXOS --------------------------------------------------------------------------------------------
                                                                                                          11


 9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS --------------------------------------------------------
                                                                                                          12




1. INTRODUÇÃO

A subjetividade de um povo é construída intrinsecamente junto aos seus bens materiais e às suas
formas de poder. O Brasil é formado por uma variedade infinita de povos, raças, etnias, uma autêntica
miscigenação que mostra que somos todos frutos de um caldeirão étnico, o que implica em uma
impossibilidade de existir alguém que afirme pertencer a sua “raça pura”, perante sua árvore
genealógica cheia de filhos bastardos, nascidos em senzalas ou em tribos indígenas. Sobretudo, ainda
hoje o Brasil tem a cultura do colonizado, onde tudo que é feito e originário daqui não tem valor, até
regionalmente somos opressores, rimos do sotaque norte-nordestino, louvamos o sotaque paulista e
carioca, e os sulistas transformam a “regionalidade”1 nordestina em apelidos, e se sentem os
dominadores portugueses ao virem para as praias nordestinas, consumir seus bens e retornar para sua
terra natal com o sentimento legitimado de superioridade. O relevante aqui é problematizar e
apresentar o nordeste enquanto uma invenção, uma realidade histórica e cultural construída a partir de
interesses econômicos, políticos e sociais, justificados através de uma definição espaço-territorial com
limites precisos e da delimitação de fronteiras culturais e geográficas.

2. NORDESTE: UMA CONSTRUÇÃO HISTÓRICA

                                         Em vez de pensar as culturas nacionais como unificadas, deveríamos
                                         pensá-las como constituindo um dispositivo discursivo que representa a
                                         diferença como unidade ou identidade (Hall, 2003).

Pensar o nordeste enquanto espaço inventado num dado momento histórico leva-se a pensar nas
representações em sua volta, e que depende da produção de um conhecimento, de meios e símbolos que
o retratam, enfim, de formas de legitimação e reconhecimento coletivo para tal construção.

O que vem a ser, então, o Nordeste?

A idéia de nordeste surge no início do século XX, como determinações de processos políticos, sociais
e econômicos, que geraram tensões intra-regionais. O discurso regionalista emerge das elites agrárias,
que após a constituição do Estado Nacional, algumas regiões perderam seu poder econômico, a partir
da queda de preços de seus principais produtos como o açúcar e o algodão, ficando fora das decisões
políticas2, recebendo pouca assistência por parte da União. Em contrapartida, a economia cafeeira do
Sul se tornava uma importante área em ascensão, exercendo uma grande influência política,
contrapondo-se aos interesses das elites de outras regiões, sobretudo a região do Norte, fazendo surgir
em meios aos representantes da região um discurso regionalista.

                                         O Nordeste, que um dia foi o Brasil, o Brasil da Casa Grande e da Senzala,
                                         o Brasil da nobreza e da quase nobreza portuguesa, o Brasil das capitanias
                                         hereditárias e das sesmarias, dos engenhos de açúcar e das roças, do gado e
                                         do algodão, tornou-se periferia desse mesmo Brasil, mas que já não é mais
                                         o mesmo... (Favero e Santos, 2000, p. 27)

O Nordeste passou a ser assim chamado a partir da criação da Inspetoria Federal de Obras Contra as
Secas (IFOCS), em 1919, sendo identificada por esse nome à região que sofria com a estiagem na parte
Norte do país. A seca vai ser nesse processo inicial, o grande argumento do discurso que a elite
nordestina usará para angariar os recursos e a atenção da Federação, e é em cima dessa base que a
edificação Nordeste vai começar a se erigir. As províncias do Norte precisavam se defender da ameaça
da decadência total e por isso seu discurso precisava assumir um caráter político que as defendessem na
capital do país, e um caráter cultural que as afirmassem e legitimassem nas mentes dos outros e nas dos
próprios nordestinos.

3. A MIGRAÇÃO DO NORDESTINO

O sentido imaginário da migração nordestina se dá pela invisibilidade social dessa população. Essa
questão estava embasada no tripé nordeste/seca/fome, sendo que esta não é a realidade3. Antigamente,
o nordestino ficava em suas cidades, na época de plantações, no período de chuva. Com o passar deste
período, época de seca, o nordestino migrava para a região sudeste em busca da sobrevivência e
sustentação da sua família, sujeitando-se a trabalhos subalternizados. Pode-se constatar que a
historiografia da migração nordestina é fruto de uma dispersão vinculada diretamente desse tripé,
sendo assim, mascarando o fato de que a transumância se constitui num dos traços mais característicos
das populações de homens livres e pobres. Neste contexto, eram as migrações que lhes davam a
flexibilidade necessária para “escapar” das mazelas sociais (fome, violência, penúria, etc.).

No entanto, esse aspecto não pode ser escamoteado por conta da tremenda precariedade que esse modo
de vida impôs a grande contingente da população. Por um lado, a migração trouxe benefícios à
população nordestina. De outra forma, os nordestinos sujeitavam-se aos grandes latifundiários e ao
monopólio, em trabalho escravo4, Uma vez que apenas eram aproveitados residualmente e tal
mobilidade foi provocada por um sistema que marginalizava os homens livres e pobres.

Migrar, portanto, tem sempre um sentido ambíguo – como uma imposição das condições econômicas e
sociais ou ambientais – e, nesse caso, ela aparece na maioria das vezes como um dos mais fortes
elementos que explicariam uma destinação do ser nordestino, mas também como uma escolha contra a
miséria e a pobreza da vida no sertão. Migrar é, em última instância, dizer não à situação em que se
vive, é pegar o destino com as próprias mãos, resgatar sonhos e esperanças de vida melhor ou mesmo
diferente. O problema está no fato de que numa vasta produção discursiva, retirou-se do migrante a sua
condição de sujeito, como se migrar não fosse uma escolha, como se ele não tivesse vontade própria.
Migrar pode ser entendido como estratégia não só para minimizar as penúrias do cotidiano, mas
também para buscar um lugar social onde se possa driblar a exclusão pretendida pelas elites brasileiras
através de seus projetos modernizantes.

Quando se trata de migração nordestina, tudo se passa como se fosse uma decorrência sócio-econômica
natural, levando-se em conta a construção imaginária do tripé Nordeste/ seca/ migração. Essa
construção imaginária "destina" ao homem nordestino a condição de migrante, pobre e flagelado. De
certo modo, essa representação social contribui para criar a invisibilidade histórica em torno do
migrante, deslocando as questões para outros campos que não favoreciam o surgimento de uma história
social que os incluísse.

Não obstante, há aqueles que entendem que o migrar é em si uma violência, posto que acarretaria,
sobretudo, perda de identidade e um desenraizamento, tida como perda das relações sociais
constitutivas dos referenciais que informam a identidade. No entanto, ao entender o migrar com essas
características, confina-se novamente o migrante na condição de vítima, passivo diante de um ato que é
tido como não sendo de sua escolha, mas fruto de imposições históricas e estruturais, diante das quais
ele se mantém alheio. A perda das raízes se conforma à de exclusão social, presente já no lugar de
origem. Já existindo antes mesmo da partida, e nesse sentido, percebe-se a experiência de uma certa
precariedade dos modos sociais de existência que compelem à migração também como
desenraizamento, sendo, portanto, o enraizamento no lugar de origem apenas um pressuposto.

É apenas nesse sentido que migrar pode ser entendido como resistência, não só à exploração e
dominação existentes no local de origem, que produzem a exclusão social, mas, sobretudo, a se ver
fixado, emoldurado num lugar social e simbólico. Migrar é exercer o desejo de mudar, de não se
conformar.

4. ESTEREÓTIPO, PRECONCEITO, DISCRIMINAÇÃO E ESTIGMA.

                                        O tipo nordestino vai se definindo como um tipo tradicional, voltado para
                                        a preservação de um passado regional que estaria desaparecendo... ...se
situa na contramão do mundo moderno, rejeita as suas superficialidades,
                                         sua vida delicada e histérica. Um homem de costumes conservadores,
                                         rústicos, ásperos, masculinos; um macho capaz de resgatar aquele
                                         patriarcalismo em crise; um ser viril, capaz de retirar a sua região da
                                         situação de passividade e subserviência em que se encontrava.
                                         ( Albuquerque Jr, 2003, p. 162)

Aceitar a multiplicidade e a diversidade de vozes e presenças no Brasil nunca foi fácil para elite local.
Os sentimentos ambivalentes de fascínio e repulsa, preconceito e aceitação, envolvimento e
distanciamento e a dificuldade de reconhecimento do outro em si mesmo compõem a história da
construção da identidade nacional.

Os estereótipos formados historicamente ganham visibilidade, dirigindo a imagem do nordestino em
todo o país, inclusive na mídia, no cinema, nas músicas e na literatura. O nordestino tende a ser
colocado no lugar de vítima da seca e do destino.

                                         O discurso da estereotipia é um discurso assertivo, repetitivo, é uma fala
                                         arrogante, uma linguagem que leva a estabilidade acrítica, é fruto de uma
                                         voz segura e auto-suficiente que se arroga o direito de dizer o que é o
                                         outro em poucas palavras. (2001, p. 20)

O preconceito nasceu com os ideais dos intelectuais de que o Sudeste / Sul eram compostos de
população branca e moderna e o Nordeste era composto de mestiços entre negros e índios, onde seu
atraso impediria o desenvolvimento do país.

Sendo assim, o nordestino assume uma duplicidade de visões sobre si mesmo e sobre sua região. Ao
mesmo tempo em que a elaboração do Nordeste tradicional reconhece o Nordeste como à raiz do
brasileiro verdadeiro, por estar livre da influência estrangeira que imigrou para as cidades do Sul,
principalmente São Paulo, e sente orgulho de suas casas grandes, com seus senhores e das relações
dóceis entre estes e seus trabalhadores, o nordestino também assume uma posição de inferioridade em
relação ao Sul, cuja imagem construída é a de um oásis da prosperidade e do desenvolvimento
nacional.

                                         ...seja na imprensa do Sul, seja nos trabalhos de intelectuais que adotam
                                         os paradigmas naturalistas,seja no próprio discurso da seca, o Norte
                                         aparece como uma área inferior do país... A certeza de que o rápido
                                         desenvolvimento do Sul, notadamente São Paulo, se explicava por ser um
                                         Estado de clima temperado e raça branca, levava a que não se tivesse
                                         dúvidas do destino desta área, puxar o trem descarrilhado de uma nação
                                         tropical e mestiça . O Norte ficaria naturalmente para trás.
                                         (Albuquerque Jr., 2001, p. 62)

O Nordeste é conhecido pelo verão da seca e da praia. Visto como a caatinga dos brasileiros e o
balneário dos estrangeiros, a região nordestina carrega consigo o estigma de um povo sofrido de fome
e de peste, raquítico de corpo e de mente. Apesar de suas belezas e de sua gente, em meio a esse
paradoxo de estereótipos, infelizmente o que impera é o mal entendido transmitido por esses pré-
conceitos definidos pela nação brasileira e, muitas vezes, pelo próprio nordestino.

Ao instituir uma imagem do nordestino, de forjar um ‘outro’, acabam dando-lhe o lugar do ‘diferente’,
o ‘diferente’ nessa perspectiva acaba tendo a conotação de inferioridade. Nesse sentido, o que mais
inquieta é que a imagem que produzem sobre esse sujeito, é reflexo de uma concepção de cultura
popular posta, como a outra face de uma suposta ‘verdadeira cultura’. Dessa forma, a cultura popular
nordestina constitui algo pitoresco, exótico, cômico e etc. A identidade cultural criada para o sujeito
nordestino, nesse sentido, torna-se algo ‘inferior’, que destina o olhar para o outro de forma
verticalizada, de cima para baixo, voltada sob o foco das culturas ‘subalternas’, tidas por menor, e por
isso mesmo folclorizada.




5. A IDENTIDADE NORDESTINA

A identidade nordestina é resultado de proposições e análises sobre o caráter regional de literatos,
políticos, artistas e cantores que se debateram com o dilema da identidade regional, buscando sua
autenticidade, essência ou “natureza”, dando pontos e unindo os retalhos de que é feito esse tecido e
ao mesmo tempo, dele se apropriando como algo dado, natural. O Nordeste da casa grande, dos
engenhos, do cangaço, do messianismo, do sertão e do litoral, entre outros temas "tipicamente"
nordestinos, é escrito, desenhado e cantado por artistas ou jornalistas nacionalmente reconhecidos e
aclamados que contribuem na construção e legitimação do Nordeste. A região passa a ser um espaço
culturalmente definido que demarca um mundo familiar, estruturado pela tradição com a qual a
coletividade se identifica.

A identidade, enquanto uma construção simbólica faz-se presente nas músicas de forró em relação à
região, com seus traços culturais característicos - costumes, crenças e valores morais - que interage
com outros referentes identitários, como a natureza e seus componentes especificamente regionais: o
solo, o sol, os animais, os pássaros, o clima quente. A força comunicativa destas músicas está na idéia
de origem, raízes nas quais está submersa a experiência humana da migração, da qual os autores retiram
o sustento que alimenta a idéia de nordestinidade5, um universo que se apóia nesta condição, formada
por um conjunto coeso de símbolos que consegue manter aceso o sentimento de pertencimento e de
reconhecimento entre os indivíduos, mesmo que se encontrem separados territorialmente.

                                              Uma nova consciência do espaço surge, principalmente, entre
                                              intelectuais que se sentem cada vez mais distantes do centro de
                                              decisão, do poder, seja no campo político, seja no da cultura e da
                                              economia. Uma distância tanto geográfica, quanto em termos de
                                              capacidade de intervenção. (Albuquerque Jr, 2001, p.50)




6. DENÚNCIA

Abaixo segue uma lista de comunidades no Orkut com preconceito contra nordestinos. Algumas delas
tentam negar, na descrição, que sejam preconceituosas, provavelmente para evitar problemas com a
lei. Mas basta ler os tópicos para constatar o seu real conteúdo.
Obs.: as comunidades de cariocas chamam os nordestinos de "paraíba" e as comunidades paulistas
chamam os nordestinos de "baiano"

Paraíba tem cabeça widescreen (mais de 500 membros)

http://www.orkut.com/Community.aspx?cmm=14530333

Odeio Paraíba em Itacoatiara (mais de 300 membros)

http://www.orkut.com/Community.aspx?cmm=9463706

Odeio vizinho Paraíba (mais de 100 membros)

http://www.orkut.com/Community.aspx?cmm=11801464

Odeio os paraíbas do aterro (mais de 100 membros)

http://www.orkut.com/Community.aspx?cmm=222095

Lênin era cearense (mais de 1000 membros)

- Descrição: A quem ele quis enganar com essa cabeça chata?

http://www.orkut.com.br/Main#Community.aspx?cmm=42779699

Odeio sotaque nordestino (mais de 100 membros)

http://www.orkut.com.br/Main#Community.aspx?cmm=26013142

PQP SP só tem baiano (mais de 1000 membros)

http://www.orkut.com/Community.aspx?cmm=10822818


Odeio Baiano Loco (note que a foto da comunidade é do Jeremias, que é pernambucano)

http://www.orkut.com/Community.aspx?cmm=17247989

7. CONCLUSÃO

Pode-se dizer que o nordestino sabe o que é verdade a seu respeito, no que concerne à imagem feita
pelo resto do país. Sabe os exageros e as invencionices, sabe do Nordeste vendido como "coitadinho" e
do vendido como paraíso tropical do país, sabe das imagens que circulam nas fotos de revistas e nas
telas da TV, que trabalham na construção dessa caricatura nordestina. Mas mesmo sabendo disso, o
próprio Nordeste se utiliza dessa construção para alcançar seus fins.

O nordestino é como o restante do Brasil, ou seja, brasileiro por excelência. Possui suas mazelas,
porém não perde suas belezas, como todo o país, têm suas dificuldades e seus progressos. As regiões se
caracterizam por suas peculiaridades naturais, sociais, econômicas e culturais, todavia estão inseridas
no contexto nacional: cada uma tem um pouco da outra. Há nordestino morando no Sul, Sudestino no
Nordeste etc. Gente que nasceu num lugar, mas cresceu em outro. Sangue cearense, porém cultura
gaúcha – por exemplo. Por que criar estereótipos, então?

Apesar da indústria do humorismo, a alegria do nordestino não é piada para turista rir. A cultura de
nossa gente não é artesanato para exportar. A comida do nordeste não é farofa com carne de sol e
baião-de-dois. Ser cearense não é ser “cabra-da-peste” ou “arriégua macho” muito menos o baiano ser
“Oxente”. Nascer e viver no nordeste brasileiro é muito mais do que características simplórias e
“coisificadas”; é orgulhar-se do passado, trabalhar o presente e acreditar no futuro. Nordestino é da
serra, da praia, do sertão, do Brasil. Não só trabalha como estuda. Tem sofisticação e simplicidade.
Permeia entre o bem e o mal de viver sem perder sua identidade.

Precisamos ter um novo olhar sobre o Nordeste, sem piedade ou soberba. Uma visão perspicaz de seu
desenvolvimento e diversificação de culturas, não apenas como praia para os turistas ou sertão para os
brasileiros. Enxergar o celeiro de artistas, doutores e literários que há. Analisar a pobreza, o
analfabetismo e a seca, não como característica do Nordeste e sim, como problema do Brasil. Perceber
na região a possibilidade de lançar mão dos preconceitos e acreditar que todos nós somos nordestinos,
somos brasileiros.

Portanto, para que a região se configure é necessário que se forme uma “consciência moral” e uma
dimensão cultural que lhe dê respaldo, sem esquecer que a criação de símbolos e rituais, tais como
festas, músicas e indumentárias, fomentam tal construção.

8. ANEXOS




9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALBUQUERQUE Jr., Durval Muniz de. A Invenção do Nordeste e outras artes. São Paulo: Cortez.
2001.

ALBUQUERQUE Jr., Durval Muniz de. Nordestino, uma invenção do falo, uma história do gênero
masculino (Nordeste 1920 1940). Maceió: Catavento. 2003.

ANDRADE, Vivian Galdino. A produção e instituição da identidade nordestina a partir das
linguagens da cinematografia brasileira. Revista Espaço Acadêmico Nº. 66, novembro/2006.
FAVERO, Celso Antônio e SANTOS, Stella Rodrigues dos. Semi-árido: fome, esperança, vida
digna. Salvador: UNEB, 2000.

HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. Rio de Janeiro: DP&A, 2003.

LINDOSO, Ester de Carvalho. A fantástica construção do nordestino Seu Lunga. Monografia
apresentada à Universidade Federal do Ceará – Departamento de Comunicação Social. Fortaleza / CE.
2000

RACKEL, Helga. Somos nordestinos, somos brasileiros. Acessado no dia 16/11/08:
http://verblogando.wordpress.com/2008/01/21/somos-nordestinos-somos-brasileiros/

VASCONCELOS, Cláudia Pereira. A construção da imagem do nordeste/sertanejo na constituição
da identidade nacional. II encontro de estudos e cultura, UFBA. 2006.




1 Regionalidade:

2 Decisões políticas:

3 realidade

4 escravo

5 nordestinidade

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Identidades Culturais - Cultura Nordestina

  • 1. UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO - UFRJ ESCOLA DE SERVIÇO SOCIAL – ESS IDENTIDADES CULTURAIS GISELE MARCELLE TRINDADE BEZERRA MARIA CRISTINA JORGE DE CARVALHO ROSANGELA SOARES RIO DE JANEIRO – RJ 2008 SUMÁRIO SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO ------------------------------------------------------------------------------------ 03 2. NORDESTE: UMA CONSTRUÇÃO HISTÓRICA --------------------------------------- 03 3. A MIGRAÇÃO DO NORDESTINO ---------------------------------------------------------- 04 4. ESTEREÓTIPO, PRECONCENTEIRO, DISCRIMINAÇÃO E ESTIGMA -------- 06
  • 2. 5. A IDENTIDADE NORDESTINA -------------------------------------------------------------- 08 6. DENÚNCIA ----------------------------------------------------------------------------------------- 09 7. CONCLUSÃO -------------------------------------------------------------------------------------- 10 8. ANEXOS -------------------------------------------------------------------------------------------- 11 9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS -------------------------------------------------------- 12 1. INTRODUÇÃO A subjetividade de um povo é construída intrinsecamente junto aos seus bens materiais e às suas formas de poder. O Brasil é formado por uma variedade infinita de povos, raças, etnias, uma autêntica miscigenação que mostra que somos todos frutos de um caldeirão étnico, o que implica em uma impossibilidade de existir alguém que afirme pertencer a sua “raça pura”, perante sua árvore genealógica cheia de filhos bastardos, nascidos em senzalas ou em tribos indígenas. Sobretudo, ainda hoje o Brasil tem a cultura do colonizado, onde tudo que é feito e originário daqui não tem valor, até
  • 3. regionalmente somos opressores, rimos do sotaque norte-nordestino, louvamos o sotaque paulista e carioca, e os sulistas transformam a “regionalidade”1 nordestina em apelidos, e se sentem os dominadores portugueses ao virem para as praias nordestinas, consumir seus bens e retornar para sua terra natal com o sentimento legitimado de superioridade. O relevante aqui é problematizar e apresentar o nordeste enquanto uma invenção, uma realidade histórica e cultural construída a partir de interesses econômicos, políticos e sociais, justificados através de uma definição espaço-territorial com limites precisos e da delimitação de fronteiras culturais e geográficas. 2. NORDESTE: UMA CONSTRUÇÃO HISTÓRICA Em vez de pensar as culturas nacionais como unificadas, deveríamos pensá-las como constituindo um dispositivo discursivo que representa a diferença como unidade ou identidade (Hall, 2003). Pensar o nordeste enquanto espaço inventado num dado momento histórico leva-se a pensar nas representações em sua volta, e que depende da produção de um conhecimento, de meios e símbolos que o retratam, enfim, de formas de legitimação e reconhecimento coletivo para tal construção. O que vem a ser, então, o Nordeste? A idéia de nordeste surge no início do século XX, como determinações de processos políticos, sociais e econômicos, que geraram tensões intra-regionais. O discurso regionalista emerge das elites agrárias, que após a constituição do Estado Nacional, algumas regiões perderam seu poder econômico, a partir da queda de preços de seus principais produtos como o açúcar e o algodão, ficando fora das decisões políticas2, recebendo pouca assistência por parte da União. Em contrapartida, a economia cafeeira do Sul se tornava uma importante área em ascensão, exercendo uma grande influência política, contrapondo-se aos interesses das elites de outras regiões, sobretudo a região do Norte, fazendo surgir em meios aos representantes da região um discurso regionalista. O Nordeste, que um dia foi o Brasil, o Brasil da Casa Grande e da Senzala, o Brasil da nobreza e da quase nobreza portuguesa, o Brasil das capitanias hereditárias e das sesmarias, dos engenhos de açúcar e das roças, do gado e do algodão, tornou-se periferia desse mesmo Brasil, mas que já não é mais o mesmo... (Favero e Santos, 2000, p. 27) O Nordeste passou a ser assim chamado a partir da criação da Inspetoria Federal de Obras Contra as Secas (IFOCS), em 1919, sendo identificada por esse nome à região que sofria com a estiagem na parte Norte do país. A seca vai ser nesse processo inicial, o grande argumento do discurso que a elite nordestina usará para angariar os recursos e a atenção da Federação, e é em cima dessa base que a edificação Nordeste vai começar a se erigir. As províncias do Norte precisavam se defender da ameaça da decadência total e por isso seu discurso precisava assumir um caráter político que as defendessem na capital do país, e um caráter cultural que as afirmassem e legitimassem nas mentes dos outros e nas dos próprios nordestinos. 3. A MIGRAÇÃO DO NORDESTINO O sentido imaginário da migração nordestina se dá pela invisibilidade social dessa população. Essa questão estava embasada no tripé nordeste/seca/fome, sendo que esta não é a realidade3. Antigamente, o nordestino ficava em suas cidades, na época de plantações, no período de chuva. Com o passar deste período, época de seca, o nordestino migrava para a região sudeste em busca da sobrevivência e
  • 4. sustentação da sua família, sujeitando-se a trabalhos subalternizados. Pode-se constatar que a historiografia da migração nordestina é fruto de uma dispersão vinculada diretamente desse tripé, sendo assim, mascarando o fato de que a transumância se constitui num dos traços mais característicos das populações de homens livres e pobres. Neste contexto, eram as migrações que lhes davam a flexibilidade necessária para “escapar” das mazelas sociais (fome, violência, penúria, etc.). No entanto, esse aspecto não pode ser escamoteado por conta da tremenda precariedade que esse modo de vida impôs a grande contingente da população. Por um lado, a migração trouxe benefícios à população nordestina. De outra forma, os nordestinos sujeitavam-se aos grandes latifundiários e ao monopólio, em trabalho escravo4, Uma vez que apenas eram aproveitados residualmente e tal mobilidade foi provocada por um sistema que marginalizava os homens livres e pobres. Migrar, portanto, tem sempre um sentido ambíguo – como uma imposição das condições econômicas e sociais ou ambientais – e, nesse caso, ela aparece na maioria das vezes como um dos mais fortes elementos que explicariam uma destinação do ser nordestino, mas também como uma escolha contra a miséria e a pobreza da vida no sertão. Migrar é, em última instância, dizer não à situação em que se vive, é pegar o destino com as próprias mãos, resgatar sonhos e esperanças de vida melhor ou mesmo diferente. O problema está no fato de que numa vasta produção discursiva, retirou-se do migrante a sua condição de sujeito, como se migrar não fosse uma escolha, como se ele não tivesse vontade própria. Migrar pode ser entendido como estratégia não só para minimizar as penúrias do cotidiano, mas também para buscar um lugar social onde se possa driblar a exclusão pretendida pelas elites brasileiras através de seus projetos modernizantes. Quando se trata de migração nordestina, tudo se passa como se fosse uma decorrência sócio-econômica natural, levando-se em conta a construção imaginária do tripé Nordeste/ seca/ migração. Essa construção imaginária "destina" ao homem nordestino a condição de migrante, pobre e flagelado. De certo modo, essa representação social contribui para criar a invisibilidade histórica em torno do migrante, deslocando as questões para outros campos que não favoreciam o surgimento de uma história social que os incluísse. Não obstante, há aqueles que entendem que o migrar é em si uma violência, posto que acarretaria, sobretudo, perda de identidade e um desenraizamento, tida como perda das relações sociais constitutivas dos referenciais que informam a identidade. No entanto, ao entender o migrar com essas características, confina-se novamente o migrante na condição de vítima, passivo diante de um ato que é tido como não sendo de sua escolha, mas fruto de imposições históricas e estruturais, diante das quais ele se mantém alheio. A perda das raízes se conforma à de exclusão social, presente já no lugar de origem. Já existindo antes mesmo da partida, e nesse sentido, percebe-se a experiência de uma certa precariedade dos modos sociais de existência que compelem à migração também como desenraizamento, sendo, portanto, o enraizamento no lugar de origem apenas um pressuposto. É apenas nesse sentido que migrar pode ser entendido como resistência, não só à exploração e dominação existentes no local de origem, que produzem a exclusão social, mas, sobretudo, a se ver fixado, emoldurado num lugar social e simbólico. Migrar é exercer o desejo de mudar, de não se conformar. 4. ESTEREÓTIPO, PRECONCEITO, DISCRIMINAÇÃO E ESTIGMA. O tipo nordestino vai se definindo como um tipo tradicional, voltado para a preservação de um passado regional que estaria desaparecendo... ...se
  • 5. situa na contramão do mundo moderno, rejeita as suas superficialidades, sua vida delicada e histérica. Um homem de costumes conservadores, rústicos, ásperos, masculinos; um macho capaz de resgatar aquele patriarcalismo em crise; um ser viril, capaz de retirar a sua região da situação de passividade e subserviência em que se encontrava. ( Albuquerque Jr, 2003, p. 162) Aceitar a multiplicidade e a diversidade de vozes e presenças no Brasil nunca foi fácil para elite local. Os sentimentos ambivalentes de fascínio e repulsa, preconceito e aceitação, envolvimento e distanciamento e a dificuldade de reconhecimento do outro em si mesmo compõem a história da construção da identidade nacional. Os estereótipos formados historicamente ganham visibilidade, dirigindo a imagem do nordestino em todo o país, inclusive na mídia, no cinema, nas músicas e na literatura. O nordestino tende a ser colocado no lugar de vítima da seca e do destino. O discurso da estereotipia é um discurso assertivo, repetitivo, é uma fala arrogante, uma linguagem que leva a estabilidade acrítica, é fruto de uma voz segura e auto-suficiente que se arroga o direito de dizer o que é o outro em poucas palavras. (2001, p. 20) O preconceito nasceu com os ideais dos intelectuais de que o Sudeste / Sul eram compostos de população branca e moderna e o Nordeste era composto de mestiços entre negros e índios, onde seu atraso impediria o desenvolvimento do país. Sendo assim, o nordestino assume uma duplicidade de visões sobre si mesmo e sobre sua região. Ao mesmo tempo em que a elaboração do Nordeste tradicional reconhece o Nordeste como à raiz do brasileiro verdadeiro, por estar livre da influência estrangeira que imigrou para as cidades do Sul, principalmente São Paulo, e sente orgulho de suas casas grandes, com seus senhores e das relações dóceis entre estes e seus trabalhadores, o nordestino também assume uma posição de inferioridade em relação ao Sul, cuja imagem construída é a de um oásis da prosperidade e do desenvolvimento nacional. ...seja na imprensa do Sul, seja nos trabalhos de intelectuais que adotam os paradigmas naturalistas,seja no próprio discurso da seca, o Norte aparece como uma área inferior do país... A certeza de que o rápido desenvolvimento do Sul, notadamente São Paulo, se explicava por ser um Estado de clima temperado e raça branca, levava a que não se tivesse dúvidas do destino desta área, puxar o trem descarrilhado de uma nação tropical e mestiça . O Norte ficaria naturalmente para trás. (Albuquerque Jr., 2001, p. 62) O Nordeste é conhecido pelo verão da seca e da praia. Visto como a caatinga dos brasileiros e o balneário dos estrangeiros, a região nordestina carrega consigo o estigma de um povo sofrido de fome e de peste, raquítico de corpo e de mente. Apesar de suas belezas e de sua gente, em meio a esse paradoxo de estereótipos, infelizmente o que impera é o mal entendido transmitido por esses pré- conceitos definidos pela nação brasileira e, muitas vezes, pelo próprio nordestino. Ao instituir uma imagem do nordestino, de forjar um ‘outro’, acabam dando-lhe o lugar do ‘diferente’, o ‘diferente’ nessa perspectiva acaba tendo a conotação de inferioridade. Nesse sentido, o que mais inquieta é que a imagem que produzem sobre esse sujeito, é reflexo de uma concepção de cultura
  • 6. popular posta, como a outra face de uma suposta ‘verdadeira cultura’. Dessa forma, a cultura popular nordestina constitui algo pitoresco, exótico, cômico e etc. A identidade cultural criada para o sujeito nordestino, nesse sentido, torna-se algo ‘inferior’, que destina o olhar para o outro de forma verticalizada, de cima para baixo, voltada sob o foco das culturas ‘subalternas’, tidas por menor, e por isso mesmo folclorizada. 5. A IDENTIDADE NORDESTINA A identidade nordestina é resultado de proposições e análises sobre o caráter regional de literatos, políticos, artistas e cantores que se debateram com o dilema da identidade regional, buscando sua autenticidade, essência ou “natureza”, dando pontos e unindo os retalhos de que é feito esse tecido e ao mesmo tempo, dele se apropriando como algo dado, natural. O Nordeste da casa grande, dos engenhos, do cangaço, do messianismo, do sertão e do litoral, entre outros temas "tipicamente" nordestinos, é escrito, desenhado e cantado por artistas ou jornalistas nacionalmente reconhecidos e aclamados que contribuem na construção e legitimação do Nordeste. A região passa a ser um espaço culturalmente definido que demarca um mundo familiar, estruturado pela tradição com a qual a coletividade se identifica. A identidade, enquanto uma construção simbólica faz-se presente nas músicas de forró em relação à região, com seus traços culturais característicos - costumes, crenças e valores morais - que interage com outros referentes identitários, como a natureza e seus componentes especificamente regionais: o solo, o sol, os animais, os pássaros, o clima quente. A força comunicativa destas músicas está na idéia de origem, raízes nas quais está submersa a experiência humana da migração, da qual os autores retiram o sustento que alimenta a idéia de nordestinidade5, um universo que se apóia nesta condição, formada por um conjunto coeso de símbolos que consegue manter aceso o sentimento de pertencimento e de reconhecimento entre os indivíduos, mesmo que se encontrem separados territorialmente. Uma nova consciência do espaço surge, principalmente, entre intelectuais que se sentem cada vez mais distantes do centro de decisão, do poder, seja no campo político, seja no da cultura e da economia. Uma distância tanto geográfica, quanto em termos de capacidade de intervenção. (Albuquerque Jr, 2001, p.50) 6. DENÚNCIA Abaixo segue uma lista de comunidades no Orkut com preconceito contra nordestinos. Algumas delas tentam negar, na descrição, que sejam preconceituosas, provavelmente para evitar problemas com a lei. Mas basta ler os tópicos para constatar o seu real conteúdo.
  • 7. Obs.: as comunidades de cariocas chamam os nordestinos de "paraíba" e as comunidades paulistas chamam os nordestinos de "baiano" Paraíba tem cabeça widescreen (mais de 500 membros) http://www.orkut.com/Community.aspx?cmm=14530333 Odeio Paraíba em Itacoatiara (mais de 300 membros) http://www.orkut.com/Community.aspx?cmm=9463706 Odeio vizinho Paraíba (mais de 100 membros) http://www.orkut.com/Community.aspx?cmm=11801464 Odeio os paraíbas do aterro (mais de 100 membros) http://www.orkut.com/Community.aspx?cmm=222095 Lênin era cearense (mais de 1000 membros) - Descrição: A quem ele quis enganar com essa cabeça chata? http://www.orkut.com.br/Main#Community.aspx?cmm=42779699 Odeio sotaque nordestino (mais de 100 membros) http://www.orkut.com.br/Main#Community.aspx?cmm=26013142 PQP SP só tem baiano (mais de 1000 membros) http://www.orkut.com/Community.aspx?cmm=10822818 Odeio Baiano Loco (note que a foto da comunidade é do Jeremias, que é pernambucano) http://www.orkut.com/Community.aspx?cmm=17247989 7. CONCLUSÃO Pode-se dizer que o nordestino sabe o que é verdade a seu respeito, no que concerne à imagem feita pelo resto do país. Sabe os exageros e as invencionices, sabe do Nordeste vendido como "coitadinho" e do vendido como paraíso tropical do país, sabe das imagens que circulam nas fotos de revistas e nas telas da TV, que trabalham na construção dessa caricatura nordestina. Mas mesmo sabendo disso, o próprio Nordeste se utiliza dessa construção para alcançar seus fins. O nordestino é como o restante do Brasil, ou seja, brasileiro por excelência. Possui suas mazelas, porém não perde suas belezas, como todo o país, têm suas dificuldades e seus progressos. As regiões se
  • 8. caracterizam por suas peculiaridades naturais, sociais, econômicas e culturais, todavia estão inseridas no contexto nacional: cada uma tem um pouco da outra. Há nordestino morando no Sul, Sudestino no Nordeste etc. Gente que nasceu num lugar, mas cresceu em outro. Sangue cearense, porém cultura gaúcha – por exemplo. Por que criar estereótipos, então? Apesar da indústria do humorismo, a alegria do nordestino não é piada para turista rir. A cultura de nossa gente não é artesanato para exportar. A comida do nordeste não é farofa com carne de sol e baião-de-dois. Ser cearense não é ser “cabra-da-peste” ou “arriégua macho” muito menos o baiano ser “Oxente”. Nascer e viver no nordeste brasileiro é muito mais do que características simplórias e “coisificadas”; é orgulhar-se do passado, trabalhar o presente e acreditar no futuro. Nordestino é da serra, da praia, do sertão, do Brasil. Não só trabalha como estuda. Tem sofisticação e simplicidade. Permeia entre o bem e o mal de viver sem perder sua identidade. Precisamos ter um novo olhar sobre o Nordeste, sem piedade ou soberba. Uma visão perspicaz de seu desenvolvimento e diversificação de culturas, não apenas como praia para os turistas ou sertão para os brasileiros. Enxergar o celeiro de artistas, doutores e literários que há. Analisar a pobreza, o analfabetismo e a seca, não como característica do Nordeste e sim, como problema do Brasil. Perceber na região a possibilidade de lançar mão dos preconceitos e acreditar que todos nós somos nordestinos, somos brasileiros. Portanto, para que a região se configure é necessário que se forme uma “consciência moral” e uma dimensão cultural que lhe dê respaldo, sem esquecer que a criação de símbolos e rituais, tais como festas, músicas e indumentárias, fomentam tal construção. 8. ANEXOS 9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALBUQUERQUE Jr., Durval Muniz de. A Invenção do Nordeste e outras artes. São Paulo: Cortez. 2001. ALBUQUERQUE Jr., Durval Muniz de. Nordestino, uma invenção do falo, uma história do gênero masculino (Nordeste 1920 1940). Maceió: Catavento. 2003. ANDRADE, Vivian Galdino. A produção e instituição da identidade nordestina a partir das linguagens da cinematografia brasileira. Revista Espaço Acadêmico Nº. 66, novembro/2006.
  • 9. FAVERO, Celso Antônio e SANTOS, Stella Rodrigues dos. Semi-árido: fome, esperança, vida digna. Salvador: UNEB, 2000. HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. Rio de Janeiro: DP&A, 2003. LINDOSO, Ester de Carvalho. A fantástica construção do nordestino Seu Lunga. Monografia apresentada à Universidade Federal do Ceará – Departamento de Comunicação Social. Fortaleza / CE. 2000 RACKEL, Helga. Somos nordestinos, somos brasileiros. Acessado no dia 16/11/08: http://verblogando.wordpress.com/2008/01/21/somos-nordestinos-somos-brasileiros/ VASCONCELOS, Cláudia Pereira. A construção da imagem do nordeste/sertanejo na constituição da identidade nacional. II encontro de estudos e cultura, UFBA. 2006. 1 Regionalidade: 2 Decisões políticas: 3 realidade 4 escravo 5 nordestinidade