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UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ
PÓS-GRADUAÇÃO EM COMUNICAÇÃO E MARKETING EM
MÍDIAS DIGITAIS

MARIANA BUENO NETTO

ENGAJAMENTO CÍVICO E JORNALISMO
COLABORATIVO NAS REDES SOCIAIS

RIO DE JANEIRO
2013
MARIANA BUENO NETTO

ENGAJAMENTO CÍVICO E JORNALISMO
COLABORATIVO NAS REDES SOCIAIS

Monografia apresentada como pré-requisito para a
conclusão do curso de pós-graduação em Comunicação e
Marketing em Mídias Digitais da Universidade Estácio de
Sá, sob a supervisão do professor Márcio Gonçalves.

RIO DE JANEIRO
2013
AGRADECIMENTOS

Agradeço acima de tudo a Deus, pela vida;
Aos meus pais, por terem me proporcionaram as melhores oportunidades que
puderam;
Aos que conheci ao longo da minha caminhada, em especial aos que se tornaram
verdadeiros amigos, com os quais pude e posso contar nas horas boas e ruins;
Aos queridos colegas da pós-graduação, por transformarem as manhãs de sábado
em momentos de muita amizade e diversão;
Às redes sociais, que me possibilitam o contato com os que não estão próximos
geograficamente;
E aos meus anjos da guarda, pela proteção constante.
RESUMO

Esta pesquisa tem como objetivo principal analisar o papel desempenhado
pelas redes sociais no engajamento e na mobilização das pessoas que foram às
ruas protestar em todo o Brasil nas manifestações ocorridas em junho de 2013. Para
isso, é feita uma retomada da história das manifestações populares nos séculos
passados, chegando à década atual, quando a Internet se mostrou uma figura
importante para a organização, realização e cobertura dos protestos em diversos
países. A pesquisa questiona, ainda, o novo papel do jornalista diante das redes
sociais, que se tornaram um canal para o desenvolvimento do jornalismo
colaborativo, possibilitando que cada leitor se torne também criador e distribuidor de
notícias. Partindo do surgimento dos primeiros jornais na imprensa brasileira até a
chegada a Internet e o advento das redes sociais, é possível observar como a forma
de se comunicar mudou e como o leitor passivo se transformou num possível
produtor de conteúdo.

Palavras-chave: redes sociais, mobilização, jornalismo colaborativo.
ABSTRACT

This research intends to analyze the role of social networks at the
mobilization of people who were at the popular protests in Brazil in June 2013. For
that, there is a resumption of the popular protests history in past centuries, reaching
the current decade, when the Internet has proved an important figure for
organization, realization and announces of protests in many countries. The research
also questions the new journalist’s role face of social networks, which became a way
to the development of collaborative journalism, allowing each person becomes
creators and distributors of news. Starting from the first newspapers in the Brazilian
press until the arrival of Internet and the advent of social networks, it’s possible to
observe how the way we communicate has changed and how the reader can
become a content producer.

Key words: social network, mobilization, collaborative journalism.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura 1.1 – Queda da Bastilha – Revolução francesa..............................................12
Figura 1.2 – Protestos no Egito – Primavera Árabe...................................................13
Figura 1.3 – Occuppy Wall Street, nos Estados Unidos.............................................14
Figura 1.4 – Passeata dos 100 mil, em 1968.............................................................16
Figura 1.5 – Diretas Já, em 1984...............................................................................17
Figura 1.6 – Caras pintadas, em 1992.......................................................................18
Figura 2.1 – Os primeiros jornais brasileiros..............................................................19
Figura 2.2 – Crescimento do número de internautas até 2011, segundo IBGE.........21
Figura 2.3 – Rede Social The Globe..........................................................................24
Figura 2.4 – Rede Social Classmates........................................................................24
Figura 2.5 – Spokesman-Review, primeiro veículo escrever com participação dos
leitores........................................................................................................................28
Figura 2.6 – Página do Voz da Comunidade no Twitter.............................................29
Figura 3.1 - Manifestação na Candelária, Rio de Janeiro..........................................35
Figura 4.1 - Cartaz "Nós somos a rede social"...........................................................40
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO.............................................................................................................8
1. MOVIMENTOS SOCIAIS POPULARES................................................................11
1.1 História dos movimentos sociais populares.....................................................11
1.2 Movimentos sociais populares no mundo........................................................12
1.3 Movimentos sociais populares no Brasil..........................................................15
2. JORNALISMO E INTERNET.................................................................................19
2.1 Jornalismo digital.............................................................................................22
2.2 Redes sociais...................................................................................................23
2.3 Jornalismo colaborativo...................................................................................27
3. AS REDES SOCIAIS E AS MANIFESTAÇÕES....................................................32
3.1 Papel das redes sociais nas manifestações....................................................32
3.2 Compartilhamento de informações nas redes.................................................36
4. O NOVO PAPEL DO JORNALIS DIANTE DAS REDES SOCIAIS......................39
4.1 Jornalismo colaborativo nas redes sociais.......................................................40
4.2 O novo papel do jornalista...............................................................................43
CONSIDERAÇÕES FINAIS.......................................................................................47
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..........................................................................50
8

INTRODUÇÃO

O objetivo deste trabalho, baseado em pesquisa bibliográfica, é mostrar
como as redes sociais criaram uma nova maneira de comunicação entre as
pessoas.
Para isso, foram analisados os acontecimentos durante as manifestações
populares que tomaram as ruas de diversas cidades do Brasil em junho de 2013 e
que tiveram as redes sociais como personagem principal. Foi através delas que as
pessoas se mobilizaram, estabeleceram debates e se organizaram para que o
movimento realmente acontecesse.
O engajamento cívico brasileiro se deu por meio das redes, da mesma forma
que já vinha acontecendo há algum tempo em outras manifestações e protestos pelo
mundo. A população de países do Oriente Médio foi a primeira a se valer das
tecnologias para se mobilizar e buscar, de fato, mudanças concretas e melhorias. A
ideia se espalhou e logo chegou também aos Estados Unidos e a alguns países da
Europa.
No Brasil, as redes – especialmente Twitter e Facebook – foram fundamentais
na mobilização da população e nos chamados para irem às ruas. A hashtag
#vemprarua foi uma das mais usadas e se de tornou o grito de guerra dos
protestantes.
Mas esse não foi o único papel desempenhado pelas redes sociais. Elas
fizeram com que uma nova forma de produzir e consumir informação ganhasse
força: o jornalismo colaborativo, caracterizado pela presença do leitor (e, agora,
também produtor) na construção da notícia.
Com a Internet, não só o acesso à informação já havia se tornado maior do
que em qualquer outro momento da história, como também haviam aumentado as
possibilidades de produzir informação. Com a popularização das redes sociais isso
ficou ainda mais fácil e rápido. Um post pode ser compartilhado e atingir um número
cada vez maior de pessoas.
Esse trabalho se propõe a analisar o papel das redes sociais no
engajamento da população e o jornalismo colaborativo durante as manifestações.
Para isso, se divide em quatro partes.
O capítulo 1 começa contando a história dos movimentos sociais e
mostrando como as pessoas são capazes de se organizarem e transformarem a
9

estrutura do sistema. São abordados desde os mais antigos, como a Revolução
Francesa, no século XVIII, que foi um marco na história mundial, até os mais
recentes, especialmente os que ocorreram nos países do Oriente Médio, na
chamada Primavera Árabe. Aborda, ainda, os grandes movimentos ocorridos na
história do Brasil, como a Marcha dos 100 mil, durante a ditadura, as Diretas já, em
1984, as passeatas dos caras pintadas pedindo o impeachment do presidente
Fernando Collor, em 1992 e, recentemente, as manifestações que, por todo o país,
pediam melhorias na saúde, na educação e o fim da corrupção entre os políticos.
No capítulo 2 são apresentadas teorias que explicam o jornalismo digital e o
que mudou na comunicação com a chegada da Internet. Desde o surgimento dos
primeiros jornais do Brasil, em 1808, até os dias de hoje, as mudanças foram
constantes, mas nunca tão grandes como agora. Com a Internet, surgiram novas
possibilidades para complementar as notícias, com vídeos, fotos, hipertextos e
outros recursos, criando novas formas de narrativas. A Internet se tornou o meio de
comunicação utilizado pela maioria dos brasileiros (53%) na hora de se informarem,
e possibilitou, também, que os leitores criassem seus próprios canais de
comunicação, como os blogs, onde podem divulgar notícias e publicar seus textos.
A Internet foi usada também para mobilizar a população nas manifestações
recentes, como mostra o capítulo 3. Durante os protestos no Oriente Médio e
também no Brasil, as redes sociais tiveram um papel fundamental no engajamento.
E, depois de tomarem as ruas, foi através das redes que os manifestantes
divulgaram notícias, postando fotos, vídeos e relatos dos acontecimentos, um
exemplo de jornalismo colaborativo, que está mudando a forma de se fazer
jornalismo.
Uma análise do novo papel do jornalista diante desse quadro e das redes
sociais é o que mostra o capítulo 4. Com o jornalismo colaborativo, tornou-se
constante a participação dos leitores que não só compartilham notícias da grande
mídia, mas também produzem e divulgam suas próprias notícias, relatando
acontecimentos que presenciaram ou dos quais participaram. As redes sociais
abriram espaço para que o leitor se tornasse também produtor de conteúdo e
emissor de informações. Durante as últimas manifestações, foi possível observar de
forma nítida esse novo papel desempenhado pelo público. Eles participavam das
manifestações, mas não viam na mídia tradicional um relato fiel do que tinham
10

vivenciado. Começaram, então, a contar suas próprias histórias que, nas redes
sociais, se propagam de forma mais rápida e têm um grande alcance.
Os jornalistas profissionais, por sua vez, deixaram de ter o monopólio da
informação e perceberam que há uma necessidade de mudar a forma de produzir
conteúdo. Os veículos já estão começando a dar mais espaço aos leitores e muitos
já estão se pautando pelas notícias que surgem nas mídias sociais. É preciso ter
cuidado, porém, com as inverdades que, nas redes sociais, também são divulgadas
e compartilhadas mais facilmente. Por isso o jornalista continua sendo essencial,
para analisar os conteúdos noticiosos e filtrar o que é realmente verdadeiro e
relevante. Mas o poder está na mão dos leitores.
11

1. MOVIMENTOS SOCIAIS POPULARES

A luta pelos direitos da população, por melhores condições de vida e por
descontentamentos com a política e a economia são os principais fatores que, ao
longo da história, despertaram nas pessoas a vontade de se manifestarem.
Para Castells (2013), esses movimentos são sistemas de práticas sociais
contraditórias de acordo com a ordem social urbana/rural, cuja natureza é a de
transformar a estrutura do sistema, seja através de ações revolucionárias ou não,
numa correlação classista e, em última instância, o poder estatal. “O conceito de
movimento social se refere à ação coletiva de um grupo organizado que tem como
objetivo alcançar mudanças sociais por meio do embate político, dentro de uma
determinada sociedade e de um contexto específico.” (MOVIMENTOS..., 2012)

1.1 História dos movimentos sociais populares
Desde a Revolução Francesa, no século XVIII (1789-1799) – quando
trabalhadores foram às ruas com o lema "Liberdade, Igualdade e Fraternidade" para
manifestarem a insatisfação, tentarem tomar o poder do governo monarca do rei
Luis XVI e instaurarem um governo democrático – chegando à chamada Primavera
Árabe – onda de protestos no Oriente Médio, que começou em 2010 e derrubou
ditadores em quatro países – muitos grupos se formaram e tomaram as ruas em
movimentos sociais populares em todo o mundo, lutando pelo cumprimento das
suas reivindicações.
Para o teórico Herbert Blumer (1951, apud GOHN, 2007, p. 30), os
movimentos sociais surgem de uma situação de inquietação social, derivando suas
ações dos seguintes pontos: insatisfação com a vida atual, desejo e esperança de
novos sistemas e programas de vida. Rudolf Herbele (1951, apud GOHN, 2007, p.
38) diz que eles seriam sintomas de descontentamento dos indivíduos com a ordem
social vigente e seus objetivos principais seriam a mudança dessa ordem.
Os movimentos mais antigos eram analisados pelos autores clássicos como
ciclos evolutivos em que o surgimento, crescimento e propagação ocorriam por
intermédio de um processo de comunicação que abrangia contatos, rumores,
reações circulares, difusão das ideias, etc. As insatisfações que geravam as
reivindicações eram vistas como respostas às rápidas mudanças sociais e à
12

desorganização social subsequente. E a adesão aos movimentos seria uma
resposta cega e irracional de indivíduos desorientados pelo processo de mudança
que a sociedade industrial gerava. Nessas abordagens dava-se, portanto, grande
importância à reação psicológica dos indivíduos diante das mudanças, considerada
como comportamento não-racional ou irracional.
No passado, os comportamentos coletivos eram considerados como frutos
de tensões sociais. Já os movimentos recentes, para Castells (2012, p. 8),
espalharam-se por contágio num mundo ligado pela Internet sem fio e caracterizado
pela difusão rápida e viral de imagens e ideias.

1.2 Movimentos sociais populares no mundo

A Revolução Francesa é considerada, ainda hoje, o movimento mais
importante da história contemporânea. O Estado Absolutista, com um governo que
fazia diversas intervenções econômicas e sociais, tinha mais de 200 mil pessoas
vivendo nos campos em condições precárias e uma população urbana com
desempregados ou assalariados com baixa renda. Os impostos eram altos e uma
pequena burguesia, composta pelo alto clero, alta nobreza e a família real, vivia com
luxo e riqueza.
Figura 1.1 – Queda da Bastilha – Revolução Francesa

Fonte: Wikipédia
13

Revoltada, a população de Paris se reuniu no dia 14 de julho de 1789, foi até
a Bastilha, onde funcionava a prisão política, e espancou o carcereiro até a morte.
Os camponeses também se rebelaram e começaram a invadir castelos e executar
famílias da nobreza. Alguns partidos políticos incentivaram a população a lutarem
contra a Assembleia, o que deu início a uma fase ainda mais radical, mas também
mais popular, do movimento, que continuou mesmo após a queda da Monarquia
Francesa, em 1792, quando a burguesia tirou o poder do rei Luis XVI e o transferiu
para si. Munida de armas, a população continuou as manifestações. O rei e a rainha
Maria Antonieta foram decapitados em praça pública. Uma nova constituição foi
criada, mas um golpe de Estado da alta burguesia financeira finalizou a participação
popular no movimento.
Na

história

recente,

as

manifestações

populares

mais

marcantes

aconteceram no Oriente Médio, onde a população enfrenta sérios problemas sociais,
especialmente em países com governos ditatoriais, sejam civis, militares ou
monárquicos.
Figura 1.2 – Manifestações no Egito – Primavera Árabe

Fonte: www.geoensino.net

O primeiro país a tomar as ruas foi o Egito, o que motivou outros países a
fazerem o mesmo. Castells (2012, p. 119) diz que:
“O eco das revoltas árabes foi amplificado pelas notícias
provenientes da Europa, em particular da Espanha, propondo novas formas
de mobilização e organização, com base na experiência da democracia
14

direta, como maneira de aprofundar a demanda por uma verdadeira
democracia. Num mundo conectado ao vivo pela Internet, cidadãos
comprometidos ficaram imediatamente a par de lutas e projetos com os
quais podiam se identificar.”

As manifestações também aconteceram em outros países da região. Na
Tunísia, a Revolução do Jasmim derrubou o ditador que estava há mais de 20 anos
no poder. Na Jordânia os manifestantes exigiam limites nos poderes do rei, reformas
constitucionais e nova eleição parlamentar. Na Argélia, a luta foi por reformas
políticas. E, no Egito, o ditador Mubarack também deixou o cargo em que estava há
30 anos, após pressões populares.
Nos Estados Unidos, em setembro de 2011 teve início o Occupy Wall Street,
protestos contra a desigualdade social e econômica entre a população do país. “No
dia 13 de julho de 2011, a Adbusters, revista de crítica cultural com sede em
Vancouver, postou no blog a seguinte convocação: #occupywallstreet.” (CASTELLS,
2012, p. 119) A convocação inicial para a ocupação queria restaurar a democracia,
tornando o sistema político independente do poder do dinheiro. Foi um movimento
que nasceu digital e a revista Time atribuiu ao “Manifestante” o título de
personalidade do ano. (ibid., p. 9)
Figura 1.3 – Occupy Wall Street, nos Estados Unidos

Fonte: www.newsamericasnow.com
15

A primeira manifestação aconteceu em Nova York, mais especificamente em
Wall Street, o centro financeiro da cidade. A estratégia era manter uma ocupação
constante no local até que as demandas fossem atendidas. Aos poucos o
movimento foi se espalhando por mais de 100 cidades, como Boston, Los Angeles,
Chicago, e ecoou até mesmo em outros países, despertando a população para os
protestos. Em algumas capitais da Europa houve uma série de manifestações contra
a corrupção, as políticas recessivas e o corte de gastos sociais em tempos de crise.
Os protestos aconteceram em 86 países e 952 cidades. Na Espanha, a estimativa
foi de mais de um milhão de pessoas nas ruas, divididos entre Barcelona e Madri.
Na Itália os protestos foram marcados pela violência no confronto com a polícia.
“Esses movimentos sociais em rede são novos tipos de movimento
democrático – de movimentos que estão reconstruindo a esfera pública no
espaço de autonomia constituído em torno da interação entre localidades e
redes da Internet, fazendo experiências com as tomadas de decisão com
base em assembleias e reconstituindo a confiança como alicerce da
interação humana”. (CASTELLS, 2012, p. 177)

As tecnologias digitais viabilizaram as redes sociais on-line, que são as
ferramentas fundamentais para organização das manifestações que têm surgido no
mundo desde 2008 – Revolução do Panelaço na Islândia (2008), Revolução de
Jasmim na Tunísia (2010), os Indignados na Espanha (2011) e Occupy Wall Street
nos Estados Unidos (2011). “As tecnologias em si não fazem revolução – quem faz
revolução são as pessoas. Mas as tecnologias modificam a estrutura de poder
social”. (GABRIEL, 2013)



1.3 Movimentos sociais populares no Brasil

A história do Brasil também é marcada por alguns movimentos populares
que tiveram como objetivo mostrar o descontentamento da população com a política,
a economia e as condições sociais do país. 
Alguns exemplos são a Guerra dos
Mascates, Balaiada, Cabanagem, Guerra dos Farrapos, Canudos, entre outros. De
Norte a Sul, do período colonial ao século 20, o Brasil teve rebeliões populares de
características variadas.
Na história mais recente, o primeiro grande movimento aconteceu em 1968.
Foi o chamado Marcha dos 100 mil. Quatro anos após a Ditadura Militar ser
16

instalada no Brasil, em 1964, a população se revoltou com a forma arbitrária e até
mesmo violenta como o governo se comportava. O movimento estudantil foi quem
tomou

frente,

organizando

manifestações

que

eram

sempre

reprimidas

violentamente pela polícia, resultando na prisão de diversos estudantes, além de um
número considerável de mortos e feridos.
Uma passeata realizada na Cinelândia, centro do Rio de Janeiro, reuniu
aproximadamente 100 mil pessoas. Jovens de outros estados do país também se
mobilizaram. Mas a repressão policial crescia proporcionalmente ao aumento das
manifestações. Até que, no fim daquele ano, o governo instaurou o AI -5, Ato
Inconstitucional nº 5, que marcou o início da era mais pesada da Ditadura Militar,
chamada de Anos de Chumbo.
Figura 1.4 – Marcha dos 100 mil, em 1968

Fonte: www.ebc.com.br

Em 1984 foi a vez das Diretas Já. Depois de muitos anos sob o regime
ditatorial, os brasileiros se mobilizaram para exigir a redemocratização do país e
reivindicar o direito às eleições diretas para presidente, que não aconteciam desde
1961, quando Jânio Quadros foi eleito. A emenda constitucional Dante de Oliveira,
que previa a volta das eleições diretas para a Presidência, foi rejeitada, deixando a
população frustrada e dando início às primeiras manifestações.
São Paulo e Rio de Janeiro foram as cidades com o maior número de
pessoas participando das Diretas Já – respectivamente 1,5 milhão no Vale do
17

Anhangabaú e um milhão na Candelária. Os movimentos começaram quando
membros do PMDB, PT e PDT passaram a organizar grandes comícios, em que a
população se mostrava a favor da escolha direta. Esses comícios repercutiram nos
meios de comunicação e se transformaram no movimento popular, que contou com
a participação de artistas, intelectuais, lideranças sindicais e vários partidos políticos
de oposição ao regime ditatorial. O movimento ganhou cada vez mais força em todo
o país e outras manifestações aconteceram em diversas capitais.
Figura 1.5 – Diretas já, em 1984

Fonte: www.veja.abril.com.br/30anos

Uma vitória parcial foi conquistada com a possibilidade de o Colégio Eleitoral
eleger um presidente. O eleito foi Tancredo Neves, que faleceu antes da posse e foi
substituído por seu vice, José Sarney. Mas só em 1985 o poder civil realmente
voltou a valer e em 1988 saiu a nova Constituição Federal. Em 1989 aconteceu a
primeira eleição direta para presidente, marcada pela disputa no segundo turno
entre os candidatos Luis Inácio Lula da Silva e Fernando Collor de Mello, que foi
eleito.
Já na era democrática, em 1992, após a insatisfação popular com as
medidas econômicas e diversas denúncias por corrupção contra o então presidente
Collor veiculadas na grande mídia, incluindo uma entrevista bombástica com seu
irmão, Pedro Collor, que comprovava uma série de irregularidades, a população foi
às ruas. Os jovens pintaram seus rostos de verde e amarelo, motivo que deu ao
18

movimento o nome de Caras Pintadas. Eles pediram o impeachment do Presidente
da República. Em São Paulo ocorreu a maior das manifestações, que chegou a
reunir cerca de 750 mil pessoas. Para evitar o impeachment, Collor renunciou ao
cargo pouco antes do seu julgamento pelo Senado, que iria cassar seu mandato e
seus direitos políticos. Ele deixou o Planalto no dia 2 de outubro de 1992.
Figura 1.6 – Caras pintadas, em 1992

Fonte: www.acervo.estadao.com.br

Em 2013, a população se mobilizou através das redes sociais e tomou as
ruas em 120 cidades do Brasil para reivindicar contra a violência, os serviços
públicos ruins (especialmente saúde e educação) e os altos gastos com construção
e reformas de estádios para a Copa do Mundo.
Ao longo da história, segundo Castells (2012, p. 12) os movimentos sociais
ajudaram a construir novos valores e objetivos, que servem como base para as
transformações da sociedade, que cria novas normas para organizar a vida social.
19

2. JORNALISMO E INTERNET

Ao contrário dos principais países da América Latina, o Brasil entrou no
século XIX sem tipografia, sem jornais e sem universidades, que contribuiriam para
a formação do público leitor. Só a partir de 1808, com a chegada da família real
portuguesa ao Brasil e a abertura dos portos, os primeiros jornais começaram a
surgir.
Ainda em 1808, duas datas diferentes foram consideradas como marcos
fundadores da imprensa no país: o lançamento do Correio Braziliense, em Londres,
dia 1º de junho, e a criação da Gazeta do Rio de Janeiro, dia 10 de setembro, ambos
considerados publicações independentes.
Figura 2.1 – Os primeiros jornais brasileiros

Fonte: www.historiativanet.wordpress.com/www.tipografos.net

Desde então, foram inúmeras as mudanças pelas quais a imprensa
brasileira passou, tanto em relação aos meios de veiculação das notícias quanto à
própria forma das notícias.
No início, as restrições impostas pelas Cortes Portuguesas ao que era
publicado eram muito fortes, e só diminuíram em 1821. Entre 1822, ano em que D.
João VI retornou a Portugal, e 1840, ano em que D. Pedro II, seu herdeiro, foi
coroado imperador do Brasil, proliferaram as tipografias, panfletos e jornais por todo
o país.
20

De acordo com a Associação Nacional de Jornais (ANJ), o desenvolvimento
dos jornais brasileiros intensificou-se na segunda metade do século XIX. Em 1852 o
telégrafo elétrico foi introduzido no país, permitindo que os jornais das grandes
cidades recebessem informações sobre os principais acontecimentos em todo o
mundo no mesmo dia em que ocorriam.
Ainda segundo a ANJ, o rádio só chegou ao Brasil em 1923, trazido por
Edgard Roquette-Pinto. Mas, por um grande período, a programação limitava-se ao
entretenimento e só mais tarde passou a veicular notícias. Enquanto isso, com a
chegada das máquinas de escrever às redações, os jornais impressos cresceram
ainda mais.
Com o cinema mudo em desenvolvimento e o rádio dando os primeiros
sinais de possíveis transmissões de coberturas jornalísticas, começaram a surgir
grandes repórteres no cenário nacional. (FERRARI, 2012, p. 27) E após a Segunda
Guerra Mundial, foi a vez dos conglomerados na imprensa brasileira, com uma
mesma empresa controlando jornais, revistas, rádios e, a partir dos anos 50,
também emissoras de televisão. (ibid., p. 27)
Mas, ao longo de sua história, nunca o jornalismo sofreu mudanças tão
radicais e tão aceleradas quanto as que estão acontecendo por conta da Internet.
(CASTILHO, 2007, p.6) Drucker (2000, apud PUCCINI, 2010, p. 51) diz que "a
máquina a vapor foi para a primeira Revolução Industrial aquilo que o computador
vem sendo para a Revolução da Informação: seu gatilho, mas também e, sobretudo,
seu símbolo".
Contando de sua chegada ao Brasil, a Internet levou quatro anos para atingir
uma audiência de 50 milhões de pessoas. Um crescimento muito rápido,
especialmente se comparado ao rádio e à TV, que levaram, respectivamente, 38
anos e 16 anos para atingirem esse mesmo número. E a quantidade de pessoas que
acessa a Internet no país não para de crescer.
Segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) do
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), entre 2005 e 2011 o número de
internautas brasileiros cresceu 143,8%. Ou seja, em seis anos houve um aumento
de 45,8 milhões de pessoas, chegando a um total de 77,7 milhões de internautas
com 10 anos ou mais de idade.
21

Figura 2.2 – Crescimento do número de internautas até 2011

Fonte: www.saladeimprensa.ibge.gov.br

A Internet surgiu nos Estados Unidos em 1969 com o nome original de
ARPA (Advanced Research Projects Agency), uma rede do departamento de defesa
norte-americano que tinha a função de interligar centros de pesquisas. E o WWW,
ou World Wide Web, surgiu em 1991, desenvolvido por Tim Bernes-Lee, e baseada
numa interface que permite o acesso a dados diversos, como textos, músicas,
animações, e muitos outros. A facilidade oferecida por sua interface fez com que a
Web passasse, desde então, a crescer de uma forma vertiginosa. (LEÃO, 2005, p.
22, 23)
Com a Internet, mensagens escritas por diferentes pessoas, em diferentes
situações e locais, podem ser compartilhadas e divulgadas o tempo todo, atingindo
um número crescente de pessoas.
"O ciberespaço encoraja um estilo de relacionamento quase independente
dos lugares geográficos e da coincidência de tempos e permitem que os
membros de um grupo humano se coordenem, cooperem, alimentem e
consultem uma memória em comum, e isto em tempo quase real, apesar da
distribuição geográfica e da diferença de horários". (LÉVY, 1999, p. 49)

Lévy (ibid., p. 17) chama de "ciberespaço" ou "rede" o novo meio de
comunicação que surge da interconexão mundial de computadores. O termo foi
descrito pela primeira vez por Willian Gibson, no romance Neuromancer, em 1984.
22

Hoje, especifica não só a infra-estrutura material da comunicação digital, mas
também o universo de informações que ela abriga, assim como os seres humanos
que navegam e alimentam esse universo.
A Internet se tornou a plataforma mais importante para o consumo de
notícias no Brasil. Segundo dados de uma pesquisa realizada pelo Reuters Institute
for the Study of Journalism, órgão vinculado à Universidade de Oxford, 53% dos
brasileiros se informam pela Internet, que ficou à frente da TV (38%), rádio (2%) e
impresso (6%). (RIBEIRO, 2013)

2.1 Jornalismo digital

O jornalismo sempre passou por inúmeras transformações, especialmente
quando uma nova tecnologia surgia. A Internet, além de mais possibilidades na
apuração e nas pesquisas, trouxe também uma interatividade maior com o leitor,
que deixou de ser apenas um receptor passivo das informações jornalísticas e se
tornou também um produtor de notícias.

Com a Internet, criou-se uma outra dinâmica na produção, distribuição e
consumo das notícias, proporcionando um acesso à informação de maneira única
(FERRARI, 2012, p. 79). A mídia tradicional precisou se adaptar a uma nova era
comunicacional e, por isso, realizou e continua realizando experiências para explorar
os conceitos e recursos trazidos pelo avanço tecnológico. (PERRET, 2012, p. 15)
Para Ferrari (2012, p. 93), “o efeito transformador da comunicação por meio da
tecnologia atingiu um patamar sem igual desde a popularização da Internet.”
As informações no ambiente digital podem e devem estar amarradas por
meios de links, que permitem que o usuário avance em sua leitura na ordem que
desejar, de uma forma única e pessoal. (LEÃO, 2005, p. 15) São os chamados
hipertextos, compostos por diferentes blocos de informações interconectadas.
A Internet chegou para ficar, não é uma moda passageira e não haverá
retrocesso. (FERRARI, 2012, p. 23) Ela altera todos os paradigmas comunicacionais
à medida que coloca à disposição de qualquer pessoa com conhecimentos e
recursos necessários a possibilidade de se comunicar, de um ponto a outro
qualquer, com qualquer usuário do planeta. Forma-se o que Dowobor (2001, p. 48)
chama de “sociedade em rede”.
23

Ferrari (2012, p. 57) aponta como a grande diferença entre a mídia
tradicional impressa e a digital o fato de que a tradicional tem como objetivo falar
com uma grande quantidade de pessoas, enquanto a digital consegue atingir cada
indivíduo. Outra diferença, segundo ela, é que o público on-line tende a ser mais
ativo do que os leitores de veículos impressos ou que os espectadores de televisão.
Eles optam por buscar mais informações e não se contentam em aceitar
passivamente o que lhe é apresentado. (ibid., p. 51)
Para conquistar a atenção desse leitor, a cobertura jornalística na Internet
não se limita a textos, fotos e gráficos, ao contrário do que acontece na mídia
tradicional, especialmente na mídia impressa. Há outros elementos que compõem o
conteúdo on-line, como arquivos de áudio, vídeo ou imagem, e até mesmo um email ou comentários de leitores podem mostrar um novo ponto de vista e se tornar
parte da notícia. O leitor on-line precisa clicar e escolher o que quer ler, precisa estar
realmente interessado pelo assunto (FERRARI, 2012, p. 55).
Ramonet (2012, p. 56) diz que, se a imprensa era o “quarto poder”, que
permitiu a aparição da opinião pública, que não existia antes do desenvolvimento
das mídias de massa no final do século XIX, a Internet deu voz aos sem-vozes e
possibilitou a criação de um “quinto poder”, para denunciar o superpoder de alguns
grupos midiáticos que, em certas circunstâncias, deixaram de defender os cidadãos
e passaram a agir contra eles. (ibid., p. 60)
A saída para os jornais é se adaptarem rapidamente a um mundo
extremamente conectado, onde as informações fluem a velocidades inimagináveis e
os fatos estão cada vez mais complexos e interdependentes. A relação entre público
e veículo, na Internet, é intensa e participativa, diferente daquela experimentada
entre leitor e jornal, branda e unilateral. (PERRET, 2012, p. 27)

2.2 Redes Sociais

Alguns serviços para conectar pessoas e possibilitar interação começaram a
surgir na década de 60, mas o mais marcante aconteceu em 1985, quando a
America Online (AOL) passou a fornecer ferramentas para que as pessoas criassem
perfis virtuais, descrevendo a si mesmas e criando comunidades para discussões
sobre diversos assuntos.
24

Dez anos depois, em 1995, dois novos serviços com características mais
claras de conectividade entre os usuários foram lançados: o The Globe, que
possibilitava publicações pessoais e interação com pessoas de interesses comuns, e
o Classmates, para reunir grupos de antigos colegas de escola e faculdade.
Figura 2.3 – Página inicial do The Globe

Fonte: globe.com.ph

Figura 2.4 – Página inicial do Classmates

Fonte: classmates.com
25

Sem essas primeiras comunidades, todas as outras talvez nunca tivessem
existido. Um sonho libertário que, hoje, apesar de todas as tentativas de controle,
continua dando frutos. (LORENZOTTI, 2013) O "boom" veio nos anos 2000, quando
surgiram o Fotolog, o Friendster, LinkedIn, MySpace, Flickr, Orkut, Facebook e
Twitter.
As duas redes sociais mais conhecidas e mais usadas atualmente, o
Facebook e o Twitter, surgiram, respectivamente, em 2004, criado pelos estudantes
da Universidade de Harvard Mark Zuckerberg, Eduardo Saverin, Chris Hughes e
Dustin Moskovitz, para manter contatos e trocar fotos com colegas e amigos mais
próximos; e em 2006, por Jack Dorsey, como uma mistura de rede social e
mensagens instantâneas, com postagens de até 140 caracteres.
Com o advento da complexificação das redes sociais foram aparecendo
novos fluxos de informação, que passou a ser difundida de forma mais rápida e mais
interativa. Tal mudança criou novos canais e, ao mesmo tempo, uma pluralidade de
novas informações circulando nos grupos sociais. (RECUERO, 2012, p. 54) “Nós
passamos da era das mídias de massa para a era da massa de mídias e os imensos
recursos da Internet e das redes sociais representam uma democratização da
informação” (RAMONET, 2012, p. 23), muitas delas difundidas de forma quase
epidêmica,

alcançando

grandes

proporções

tanto

on-line

quanto

off-line.

(RECUERO, 2012, p. 54)
A liberdade de expressão proporcionada pela Internet jamais foi vista em
nenhum outro meio de comunicação de massa. As pessoas se relacionam, trocam
experiências e valiosas informações sobre os mais variados assuntos. É essa junção
de vários ao redor de um tema ou interesse que forma uma rede social.
(FERNANDES e ROSSENO, 2013, p. 15)
Para traçar um perfil desse internauta que compartilha conteúdos é preciso,
segundo Santaella (2004, p. 181), não apenas caracterizar os processos inferenciais
e mentais que guiam as escolhas do cibernauta, mas também explicar de onde vem
a agilidade perspectiva e a prontidão de respostas que esse leitor exibe na interação
com o fluxo incessante de signos que se apresentam nas interfaces da hipermídia.
“A grande marca deste tipo de leitor, está dentro das interfaces da interatividade.
Não é a toa que este tema vem sendo tratado com tanta intensidade nos últimos
anos”. (ibid., p. 181)
26

O consumo de notícias pela Internet e mídias sociais também é crescente.
Em pesquisa do Reuters Institute da Universidade de Oxford, realizada em
janeiro/fevereiro de 2013 e divulgada em junho (JORNALISMO..., 2013), 51% dos
brasileiros (população urbana) disseram se informar por meio de blogs ou mídias
sociais. Na mesma pesquisa, 38% dos brasileiros disseram comentar o noticiário em
mídias sociais. E quando a pergunta foi qual o principal meio on-line para encontrar
notícias, os brasileiros também deram prioridade às mídias sociais, como nenhum
outro povo: 60%.
Foi também nas redes sociais que tiveram início as mais recentes
manifestações populares no Brasil e no mundo. As redes sociais, segundo Castells
(2012, p. 18), são espaços de autonomia, muito além do controle de governos e
empresas, que, ao longo da história, haviam monopolizado os canais de
comunicação como alicerces de seu poder. Compartilhando dores e esperanças no
livre espaço público da Internet, conectando-se entre si e concebendo projetos a
partir de múltiplas fontes do ser, indivíduos formaram redes, a despeito de suas
opiniões pessoais ou filiações organizacionais.
A adesão de um número cada vez maior de pessoas às redes sociais fez
com que a ideia de que “informação é poder” se tornasse real. A noção de
informação hierárquica e unidirecional deu lugar a uma versão contemporânea muito
mais explosiva: bidirecional, sincrônica e, o mais importante, em rede. “Três novas
características que mudam tudo, desde como se estrutura o poder no topo do
Estado, a como se articula o descontentamento social na rua". (BEAS, 2011)
As diferenças estruturais das redes sociais, já que elas não são todas iguais,
interferem diretamente na difusão de informação através de suas conexões.
(RECUERO, 2012, p. 54) As interações mediadas pelo computador como
formadoras de laços sociais só podem ser compreendidas na medida em que esses
sites e sistemas de comunicação permitem que os atores criem perfis
individualizados no ciberespaço. (ibid., p. 47)
“Atualmente, é por meio das redes sociais que se dão as atividades mais
importantes da Internet. Elas se tornaram plataformas para todos os tipos
de atividade, não apenas para amizades ou bate-papos pessoais, mas para
marketing, e-commerce, educação, criatividade cultural, distribuição de
mídia e entretenimento, aplicações de saúde e, sim, ativismo sociopolítico”.
(CASTELLS, 2012, p. 169)
27

Além disso, as redes e a Internet permitiram uma nova forma de organização
e deram poder aos cidadãos, tirando a capacidade de controle de informação do
Estado. A natureza ubíqua e descentralizada da rede, seus múltiplos nós (que quase
sempre encontram uma forma de contornar a censura) e sua capacidade para
estabelecer conexões entre milhões de pessoas em tempo real, estão criando novos
mecanismos que subvertem o poder do Estado ao mesmo tempo em que dotam o
cidadão de novos canais para exercer a cidadania. (BEAS, 2011)

2.3 Jornalismo colaborativo

Castilho (2007, p. 7) diz que o jornalismo on-line e sua versão 2.0 formam a
base da transição para o processo de produção colaborativa on-line de notícias. Os
leitores não são mais apenas receptores passivos de mensagens. Eles criam,
compartilham e comentam. (BRIGGS, 2007, p.34) "A produção de informações
aumenta, impulsionada pelo incremento de novas tecnologias que permitem o
acesso e a publicação das mesmas" (PUCCINI, 2010, p. 51), processo que se
tornou ainda mais fácil com a popularização dos smartphones e da tecnologia 3G.
As redes sociais, mais do que possibilitar a interação entre os usuários,
modificaram a forma como as informações são tratadas. As pessoas que antes eram
meras usuárias de computadores passaram a ser potenciais produtoras de
conteúdo. Todos podem agora criar a sua própria mídia. (TORRES, 2013)
A popularização da Internet e seu grande alcance fazem dela uma
ferramenta influente, que cria o duplo fluxo e contínuo da informação. Alguns fatos
não seriam notícia sem as mídias sociais. Emissor e receptor, que antes tinham
funções claras e definidas, hoje se misturam. Mídia tradicional e mídias sociais
passam a desempenhar papéis complementares.
Quando as mídias ainda não eram assim tão sociais, o emissor tinha como
única alternativa enviar a informação para seus receptores. Eles recebiam o
conteúdo de forma passiva. Mas então as mídias tornaram-se sociais e os
receptores da informação ganharam poderosas ferramentas não só para devolver ao
emissor suas percepções e opiniões, mas também para contribuir com novos
conteúdos gerados a partir delas. Isso se chama colaboração. Ou, um termo que
surge, o crowdsourcing. (LOMBARDI, 2013)
28

O termo crowdsourcing é relativamente novo, criado por Jeff Howe num
artigo publicado em 2006, no serviço on-line de notícias Wired News. Muitos o
consideram quase um sinônimo de investigação ou reportagem compartilhada,
colaborativa, distribuída ou em código aberto. (BRIGGS, 2007, p.49)
Mas, embora o termo usado para descrever a produção coletiva de
reportagens seja novo, o processo em si já existe há vários anos. De acordo com
Briggs (ibid., p. 51), em 2001 o Spokesman-Review, em Washington, começou a
fazer reportagens compartilhadas com um banco de dados de endereços de e-mail –
que foi chamado de “rede de leitores” – com os quais ele se comunicava enquanto
estava elaborando as matérias. E em 2006, o News-Press, em Fort Myers, na
Flórida, pediu aos leitores que ajudassem na investigação sobre o aumento nos
gastos públicos. A audiência respondeu com números surpreendentes, dando
subsídios para um artigo e deixando até mesmo o jornal surpreso com o volume de
ligações telefônicas e e-mails recebidos. (ibid., p.49)
Figura 2.5 - Spokesman-Review, primeiro veículo escrever com participação dos leitores

Fonte: spokesman.com

Lévy (2013) diz que há uma nova geração de pessoas bem educadas,
trabalhadores com conhecimento, usando a Internet e que querem suas vozes
ouvidas. E há uma proliferação de fontes e formatos de conteúdo jornalístico e de
novas tecnologias para consumo de informações, que possibilitam a participação do
consumidor na disseminação e produção de notícias ao compartilhar conteúdos em
29

mídias sociais, fazer comentários, blogar e postar fotos e arquivos de áudio e vídeo
na Internet, personalizando o fluxo de notícias que chega ao indivíduo via e-mail,
aplicativos para plataformas móveis e redes sociais. (ADLER, 2013, p. 26)
Por isso, para Lombardi (2013), é possível afirmar que nunca se fez tanto
jornalismo de verdade como na era da colaboração. Mesmo os veículos tradicionais
já estabelecidos estão utilizando de informações, fotografias e notícias produzidas
por pessoas em todo o mundo, aproveitando a proximidade dos cidadãos com os
fatos e acontecimentos urgentes. (FERREIRA, 2012, p. 91)
A Internet vem possibilitando novas práticas na produção de informação.
Hoje, a capacidade de narrar a história pertence a todos. Um dos casos mais
conhecidos no Brasil aconteceu em 2011, durante a ocupação do Complexo do
Alemão, no Rio de Janeiro, quando policiais e traficantes entraram em conflito. O
adolescente Rene Silva, morador local, então com 17 anos, fez uso da Internet,
especialmente do Twitter, para narrar os acontecimentos. De sua casa, no Morro do
Adeus, Rene se comunicava com outros colegas do jornal comunitário "Voz da
Comunidade", criado por ele em 2005, e postava essas informações. Em poucos
dias, se tornou uma das fontes mais seguras para quem queria se informar sobre os
acontecimentos no local. Pessoas famosas e jornalistas passaram a retuitar os posts
de Rene, consolidando e dando ainda mais credibilidade ao perfil do jornal. Seis
meses após a ocupação policial, ele acumulava 50 mil seguidores no Twitter.
(ABREU e SILVA, 2013, p. 56)
Figura 2.6 – Página do Voz da Comunidade no Twitter

Fonte: twitter.com/vozdacomunidade
30

Alguns anos antes, um acontecimento histórico também foi marcado pelo
jornalismo participativo. Nos atentados de 11 de setembro, em 2001, os blogs de
moradores de Nova York passaram a ser fontes de informações, pois eram
acessados de forma mais rápida e transmitiam as notícias com uma linguagem
diferente, com as emoções de quem vivenciou o atentado. (PERRET, 2012, p. 22)
Esse acontecimento é apontado como evento fundador da recessão da mídia e da
crise do jornalismo, já que a atenção do usuário – leitor, telespectador ou ouvinte –
esteve, em boa parte, durante o atentado, fragmentada em veículos que não
somente os das corporações midiáticas. (MALINI e ANTOU, 2013, p. 128)
Dois tipos diferentes de jornalismo colaborativo podem ser identificados: a
cobertura emergente, marcada pela produção de pautas independentes ainda sem
presença no noticiário da imprensa, e a programada, que é a do acontecimento já
pautado por perfis com forte capital social nas redes sociais, fazendo-as
funcionarem como plataformas de promoção e reforço de suas ideias ou atos. São
as coberturas associadas às celebridades, às campanhas políticas, aos eventos
aguardados ou às causas movimentadas por grupos. (ibid., p. 245)
O jornalismo colaborativo vem crescendo principalmente porque a nova
geração quer decidir por si só, e não apenas confiar a decisão sobre o que é ou não
notícia aos editores de um jornal ou outro meio de comunicação tradicional. (ADLER,
2013, p. 30) “Se antigamente uns poucos meios tinham o poder de ditar a pauta,
com a profusão de hoje começamos a ver um número quase infinito de gente capaz
de definir qual será o grande assunto do dia”. (ibid., p. 28)
Do seu lado, as mídias dominantes também encorajam os internautas a se
tornarem “jornalistas”, pedindo constantemente que coloquem em seu site fotos,
vídeos ou comentários sobre os assuntos mais diversos que tenham testemunhado.
(RAMONET, 2012, p. 22)
Malini e Antou (2013, p. 113) acreditam que até mesmo os grandes jornais
estão se abrindo à participação dos usuários, criando “canais de jornalismocidadão”, uma forma de ter conteúdos mais personalizados que, com frequência,
geram audiência e complementam as informações. As empresas jornalísticas
passaram a contar com a pulverização de fontes de imagens e informações, mesmo
onde não haja qualquer jornalista ou repórter-fotográfico. (FERREIRA, 2012, p. 87)
Na “sociedade de redes”, os internautas continuam buscando acesso às
mídias tradicionais, principalmente as publicações consideradas as mais sérias da
31

imprensa escrita e seus sites de informação on-line. O fato novo é que as pessoas
que acessam os conteúdos dos jornais por essa via desejam, de sua parte, serem
lidas e escutadas. A informação não circula mais em sentido único. “A lógica
“vertical” que caracterizava a relação mídia-leitor torna-se, de agora em diante, cada
vez mais ‘horizontal’, ou ‘circular’”. (RAMONET, 2012, p. 19)
Para Brambilla (2012, p. 41), a principal motivação de quem produz e envia
notícias aos veículos de mídia tradicional é o desejo de ver socializada uma
informação que até então estava sob seu poder e que pode ser útil para outras
pessoas. E essa participação dos leitores na construção de conteúdos e
comunidades em torno de um veículo ou canal de comunicação pode
definitivamente mudar a dinâmica entre os veículos e seus consumidores.
(FERREIRA, 2012, p. 83)
32

3. AS REDES SOCIAIS E AS MANIFESTAÇÕES

Foi a partir da luta contra a ditadura nos países árabes que começou a se
falar no papel desempenhado pelas redes sociais nos movimentos populares, pois,
sem os recursos tecnológicos, a dimensão não teria sido a mesma e, possivelmente,
os resultados também não.
Das redes da Internet, o chamado à ação se espalhou pelas redes sociais de
amigos, famílias e associações de todo tipo (CASTELLS, 2012, p. 47), mobilizando
milhares de pessoas que foram às ruas em diversos países e marcando a ascensão
de novas formas de transformação social.
A história dos movimentos – que são, simultaneamente, locais e globais – foi
contada com múltiplas vozes, de um modo que transcende o tempo e o espaço.
(ibid., p. 137) Começaram em contextos específicos, por motivos próprios,
constituíram suas próprias redes e construíram seu espaço público ao ocupar o
espaço urbano e se conectar com o mundo inteiro através das redes da Internet.
(ibid., p. 161) Estamos ao mesmo tempo aqui e lá, graças às técnicas de
comunicação. (LÉVY, 1996, p. 27)

3.1 Papel das redes sociais nas manifestações

As redes sociais, especialmente Twitter e Facebook, estão frequentemente
lançando novas funcionalidades. Nos movimentos sociais recentes em todo o
mundo, elas tiveram um papel fundamental, sendo utilizadas como meio de
comunicação de massa para a realização de manifestações. (FERNANDES e
ROSSENO, 2013, p. 36) "Organização, trabalho em rede, acesso a ideias e
informações proibidas, debates, são alguns dos bônus que a mídia social está
proporcionando à população". (COHEN, 2011)
No Egito, um dos primeiros países a tomar as ruas depois de uma
convocação pelas redes sociais, a fundadora do Movimento da Juventude postou:
“Vão para as ruas, enviem SMS, façam seus posts na rede, levem consciência às
pessoas”. (CASTELLS, 2012, p. 47) Assim, em 25 de janeiro, dezenas de milhares
de pessoas convergiram para a praça Tahrir (praça da Liberdade), um lugar
simbólico e central. (ibid., p. 47)
33

Além da mobilização, as redes sociais também tiveram um papel importante
na cobertura dos fatos durante a revolução egípcia. Com câmeras fotográficas e
telefones celulares, os manifestantes fizeram fotos e vídeos dos acontecimentos e
compartilharam pelo YouTube e Facebook. (ibid., p. 50)
No Brasil, o movimento popular mais recente também teve a Internet e as
redes sociais como personagens importantes. “Os inúmeros relatos, vídeos,
fotografias e mensagens acabaram sendo a faísca que faltava para criar uma
mobilização de grandes proporções”. (A ESCALADA..., 2013)
Tudo começou no início do mês de junho de 2013, mais exatamente no dia
6, uma quinta-feira, quando moradores de São Paulo foram às ruas se manifestar
contra o aumento nas tarifas de ônibus. A manifestação foi convocada pelo
Movimento Passe Livre (MPL), criado em 2005 por estudantes durante o Fórum
Social Mundial em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul. O MPL se inspira nos
movimentos de jovens que nos últimos anos tomaram espaços públicos no Oriente
Médio, na Europa e nos Estados Unidos (QUEM..., 2013, p. 34). Seus integrantes
utilizaram o Twitter e o Facebook para trocarem informações sobre as ações que
estavam acontecendo.
Alguns dias depois, em 10 de junho, estimulados pelo movimento paulista,
moradores do Rio de Janeiro também resolveram se manifestar contra o preço do
transporte público.
Os protestos se transformaram em um fenômeno. Com a ajuda das redes
sociais, o movimento foi crescendo, ampliou o seu foco e se espalhou por todo o
país, tornando-se nacional. Foi na conexão entre as redes sociais e as redes
pessoais que se forjou o protesto. A precondição para as revoltas foi a existência de
uma cultura da Internet, constituída de blogueiros, redes sociais e ciberativismo.
(CASTELLS, 2012, p. 29)
De imediato, alguns estados como Rio de Janeiro e São Paulo baixaram os
preços das passagens de ônibus, mas novas reivindicações que já estavam em
pauta fizeram com que o movimento continuasse tendo força e acontecendo nas
ruas e nas redes. O pavio já estava aceso. “Pela primeira vez na história do Brasil,
um movimento social foi capaz de percorrer o território nacional em apenas 15 dias,
mantendo-se nas capitais, no interior e nas periferias, sem que houvesse líderes,
somente representantes que se alternavam.” (FERNANDES e ROSSENO, 2013, p.
13)
34

Para Castells (2012, p. 166), o papel da Internet e da comunicação sem fio
nos atuais movimentos sociais em rede foi fundamental. Twitter e Facebook
passaram a ser usados não só para organização e motivação dos ativistas, mas,
principalmente, para compartilhar informações, fotos e vídeos feitos por quem estava
participando das manifestações, além de terem se tornado um palanque de debates
políticos.
As hashtags #vemprarua e #ogiganteacordou eram usadas para identificar
postagens referentes aos protestos. De acordo com Fernandes e Rosseno (2013, p.
53), estima-se que as duas hashtags tenham impactado, respectivamente, 80
milhões e 62 milhões de pessoas. Através das redes, os manifestantes mostravam
cenas não divulgadas pela grande mídia, transformando-as num dos principais
meios para que os brasileiros se informassem sobre o que estava acontecendo.
Com o tempo, os usuários perceberam que estavam com dois poderes nas
mãos: produzir e distribuir informações. “Trata-se do primeiro movimento social a
usar, no país, táticas modernas de ocupação urbana com o uso intensivo de
ferramentas digitais. Tais ações visíveis ganham um impacto muito maior.” (DA
INTERNET..., 2013, p. 81)
As redes sociais digitais baseadas na Internet e nas plataformas sem fio são
ferramentas decisivas para mobilizar, organizar, deliberar, coordenar e decidir. Mas
o papel da Internet ultrapassa a instrumentalidade: ela cria as condições para uma
forma de prática comum que permite a um movimento sem liderança sobreviver,
deliberar, coordenar e expandir-se. (CASTELLS, 2012, p. 167)
O ápice das manifestações aconteceu no dia 19 de junho, quando mais de
um milhão de pessoas foram às ruas em todo o Brasil, com cartazes e gritos de
ordem, protestando por diversos motivos. Em algumas cidades, minorias radicais
provocaram cenas de vandalismo e os protestos acabaram se transformando em
confronto com a polícia, o que tomou uma proporção muito maior do noticiário do
que as manifestações pacíficas.
Pesquisa realizada pelo Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística
(Ibope) e exibida no Fantástico (Rede Globo) do dia 23 de junho, mostrou que quase
80% dos que foram às ruas no dia 19 se organizaram para as passeatas por meio
das redes sociais. Fernandes e Rosseno (2013, p. 38) citam pesquisa realizada pela
Ideas Scup, segundo a qual houve dois milhões de menções nas redes Twitter,
Facebook, Youtube e Google, com mais de 132 milhões de pessoas impactadas por
35

essas postagens, criadas por 941 mil usuários únicos. “A rede foi o ponto de ligação
entre as várias tribos. Ficou tão sobrecarregada que mal conseguia se mover e
chegou a cair algumas vezes em alguns lugares.” (RONAI, 2013)
Figura 3.1 – Manifestação na Candelária, Rio de Janeiro, junho de 2013

Fonte: www.noticias.uol.com.br/album

Castells (2013) diz que a Internet é uma condição necessária, mas não
suficiente para que existam movimentos sociais. "Não basta um manifesto no
Facebook para mobilizar milhares de pessoas. Isso depende do nível de
descontentamento popular e da capacidade de mobilização de imagens e palavras".
Para Morozov (2011):
“É importante fazer uma distinção entre “ativismo on-line” – pessoas que
fazem abaixo-assinados, pedem doações ou mudam a foto de seu perfil
para apoiar uma causa – daquelas que usam a Internet para falar de
protestos que estão acontecendo no mundo real. São dois tipos diferentes
de ativismo. E o último é apenas o bom e velho ativismo se apropriando dos
novos canais de comunicação”.

Para que se forme um movimento social, a ativação emocional dos
indivíduos deve conectar-se a outros indivíduos. Isso exige um processo de
comunicação de uma experiência individual para outras. (CASTELLS, 2012, p. 19) E
a condição para que essas experiências individuais se encadeiem e formem um
movimento é a existência de um processo de comunicação que propague os
eventos e as emoções a eles associadas. “Quanto mais rápido e interativo for o
36

processo de comunicação, maior será a probabilidade de formação de um processo
de ação coletiva”. (ibid., p. 19)

3.2 Compartilhamento de informações nas redes

A grande maioria dos veículos midiáticos sempre abriu espaço para o
conteúdo cidadão, possibilitando a interação através de cartas, telefonemas e emails, em que o público leitor/telespectador podia expor suas opiniões sobre os fatos
noticiados. Mas, mais do que a interação, o que se vê atualmente, segundo
Cavalcanti (2012, p. 2) é uma participação efetiva do receptor no que será
consumido por todos em um ambiente de imenso alcance. 

A Internet proporcionou um acesso à informação de maneira única,
mudando a forma de comunicação, causando impacto na mídia tradicional e também
no comportamento social da população. (FERRARI, 2012, p. 84) 
A voz dos até
então apenas receptores passou a ser ouvida em gigantescas proporções e suas
participações no processo de construção do conteúdo de um jornal passaram a ser
exploradas. (CAVALCANTI, 2012, p. 3)
A maneira como o conteúdo jornalístico é produzido e oferecido mudou
(TORRES, 2012) A informação não circula mais como antes, em unidades
controladas, bem corrigidas e formatadas. “Tornada imaterial, ela se apresenta
agora sob a forma de um fluido, que circula em segmentos abertos da Internet quase
à velocidade da luz”. (RAMONET, 2012, p. 17) Para Ferrari (2012, p. 84), a
comunicação tem a ver com conteúdos e a informação refere-se ao modo como os
conteúdos entram em circulação, ou seja, na rede.
Da segurança do ciberespaço, pessoas de todas as idades e condições
passaram a ocupar o espaço público e a reivindicar seu direito de fazer história.
(CASTELLS, 2012, p. 8) Antes de compartilhar um texto ou vídeo, o indivíduo para e
reflete sobre a mensagem que o material em questão passará. Adler (2013, p. 28)
diz que “compartilhar em redes sociais tem a ver com a própria identidade, é um jeito
de dizer: 'vejam, sou inteligente, sou bonzinho, sou engraçado'.”
A disseminação da Internet fez com que centenas de milhões de cidadãos
passassem a se sentir (talvez ilusoriamente) com poder real, e lhes permitiu
(comprovadamente) trocar informações e pontos de vista entre si sem a
37

necessidade de intermediários. (JORNALISMO..., 2013) As redes sociais ajudam a
mudar o modo como as pessoas se comunicam e fazem fluir informação, alterando,
consequentemente, as estruturas tradicionais de poder. Mas se elas ajudam a furar
bloqueios e informar, também desinformam. (SAKAMOTO, 2013) "Em razão de sua
explosão, de sua multiplicação, a informação encontra-se contaminada, envenenada
por toda espécie de mentira, poluída pelos rumores, pelas deformações, pelas
distorções e manipulações”. (RAMONET, 2012, p. 64)
Com a Internet, a forma como o jornalismo vê seu produto ser adquirido e
compartilhado também mudou drasticamente. Para Torres (2012), criar um conteúdo
noticioso não depende mais apenas de boas pautas e fontes, mas sim de uma forma
em que seja possível identificar como o usuário digital irá receber, encontrar,
compartilhar, avaliar, criticar e, acima de tudo, modificar a mensagem, analisando o
contexto, tempo e cenário.
O compartilhamento de informações esteve fortemente presente nas
manifestações que ocorreram no Brasil. Em sua grande maioria, elas tiveram como
ponto de origem as redes sociais, onde estudantes se encontravam para falar de
política e dos problemas sociais. No ambiente virtual, eles discutiam suas
expectativas sendo frustradas no Brasil, como o desemprego, os baixos salários e o
aumento dos preços dos serviços e produtos, principalmente do transporte público,
meio de locomoção essencial para estudantes. “Foi então que eles se emanciparam
e iniciaram uma série de protestos pelo Brasil”. (FERNANDES e ROSSENO, 2013,
p. 10)
Foi também por conta das manifestações que os brasileiros começaram a
prestar mais atenção na informação que vem das mídias sociais. (DÓRIA, 2013)
Durantes o período dos protestos, ao se conectar à Internet era possível
acompanhar, minuto a minuto, a movimentação dos usuários nas mídias sociais. As
mensagens falando de protestos surgiam de todos os lados e se multiplicavam.
Posts eram publicados e fóruns se formavam para discutir o cenário da política
brasileira. Para Fernandes e Rosseno (2013, p. 20), as redes sociais tornaram-se
um palanque de discussões e uma ferramenta eficaz para a convocação de
manifestações.
No Facebook, a timeline dos usuários estava o tempo todo cheia de fotos,
textos, notícias, opiniões e mensagens sobre os protestos, além de eventos
convidando para as manifestações que ainda iriam acontecer. O Twitter tinha
38

atualizações em tempo real sobre os acontecimentos. E, no Youtube, filmes eram
postados. Segundo pesquisa do Ibope, 78% dos manifestantes em todo o país foram
mobilizados pela Internet. (ibid., p. 17)
A força das redes sociais foi tão grande que, segundo reportagem publicada
no site G1 (GOVERNO..., 2013), a Secretaria Nacional da Juventude, ligada à
Presidência da República, informou que o governo iria lançar um canal de diálogo
com jovens por meio das redes sociais, em que cada um poderia criar seu próprio
usuário e interagir com os demais.
39

4. O NOVO PAPEL DO JORNALISTA DIANTE DAS REDES SOCIAIS

A sociedade está mudando e os jornais já perceberam a necessidade de
dialogar com o leitor. Houve uma mudança radical de todo o “ecossistema midiático”
(RAMONET, 2012, p. 15) e saímos definitivamente da sociedade da mídia para
entrarmos na sociedade da informação. (FERRARI, 2012, p. 7)
Para Ferrari (2012, p. 79), o poder de transformação causado pelo uso das
redes sociais também pode ser colocado como um dos grandes avanços da Internet
nesse começo de século XXI. A mídia social engoliu a comunicação digital. (ibid., p.
93, 94) E a mídia hoje é um meio para o leitor se comunicar, não só consumir
conteúdo. (ADLER, 2013, p. 28)
Não é necessário ser jornalista para perceber a virada que a tecnologia vem
provocando na comunicação humana há alguns anos. Basta entender o princípio
básico da rede para notar que a colaboração é uma condição sine qua non para
existir.
“O que é a rede, senão uma infinidade de nós – não por acaso, nós
(pronome) somos os nós (substantivo) – que interligam realidades múltiplas,
mundos, culturas e identidades traduzidos em informação? Portanto, como
isolar jornalistas e demais públicos nesse manancial de informantes e
informações?” (BRAMBILLA, 2012, p. 29)

O jornalista perdeu o monopólio da novidade, da produção e da
disseminação da informação. Novos sujeitos passaram a disputar o cenário da
informação e fez surgir o que Ramonet (2012, p. 10) chama de “prodsumidor”, que
não só consome a informação, mas também constrói com base nela.
Novas possibilidades de construção de informação estão se abrindo a cada
dia.
“A Internet possibilitou que uma legião de pessoas se tornassem editoras de
si mesmas. Hoje em dia é muito fácil criar um canal na web, expor sua
opinião, produzir um conteúdo interessante e, de quebra, ganhar
credibilidade profissional e reconhecimento do mercado, podendo até
mesmo se tornar uma fonte de renda caso seu "veículo" conquiste um
público considerável. Isso não ameaça os grandes conglomerados
midiáticos, mas preocupa”. (TORRES, 2013)

Durante as manifestações, a multidão, com seus gritos de protesto, deu um
"looping" nas certezas e deixou evidente que os canais da imprensa são
insuficientes para captar as mudanças de humor na sociedade. (SINGER, 2013) Os
veículos de comunicação perceberam de vez a força dos usuários, compreenderam
40

os caminhos naturais da informação e tornaram-se público de seu público.
(CAVALCANTI, 2012, p. 4)
As novas mídias proporcionam o surgimento do que Castells (2012, p. 12)
chama de autocomunicação: o uso da Internet e das redes sem fio como
plataformas da comunicação digital. É comunicação de massa porque processa
mensagens de muitos para muitos, com o potencial de alcançar uma multiplicidade
de receptores e de se conectar a um número infindável de redes que transmitem
informações digitalizadas pela vizinhança ou pelo mundo. É autocomunicação
porque a produção da mensagem é decidida de modo autônomo pelo remetente, a
designação do receptor é autodirecionada e a recuperação de mensagens das redes
de comunicação é autosselecionada.

4.1 Jornalismo colaborativo nas redes sociais

Nos movimentos que tomaram as ruas em todo o Brasil, manifestantes
diziam “Nós somos a rede social”. Cada cidadão, segundo Adler (2013, p. 28) era
um jornalista em potencial, pois, ao postar observações e argumentos em todo lugar,
todos são, de certo modo, jornalistas amadores.
Figura 4.1 – Faixa exibida nas manifestações em 2013

Fonte: www.fotografia.folha.uol.com.br
41

A Internet quebrou o monopólio da narração e possibilitou, através de suas
interfaces, que qualquer usuário pudesse tornar atualizável uma informação,
liberando sua comunicação. (MALINI e ANTOU, 2013, p. 177)
Com as redes sociais, o leitor se torna também uma espécie de jornalista e
passa a ter a possibilidade não só de compartilhar o que leu, mas de questionar,
criticar e colocar a sua própria versão dos fatos, como aconteceu durante as
manifestações. (ibid., p. 10) O ambiente digital vem gerando uma nova maneira de
as pessoas se relacionarem, se organizarem e participarem da vida social e política.
Para Cohen (2011), “a liberdade de conectar-se é uma ferramenta de libertação – e
poderosa”.
A transparência possibilitada pelas redes sociais colocou em xeque a mídia
de massas. Enquanto telejornais e jornais impressos mostravam uma versão dos
acontecimentos, os próprios manifestantes publicavam em suas páginas pessoais
fotos, vídeos e comentários relatando o que estava acontecendo, muitas vezes em
tempo real. O jornalismo colaborativo surgiu em meio à crise do jornalismo de
massas, que deixou de ser a única fonte de informação.
Nas manifestações brasileiras foram utilizados vídeos, posts, associados a
hashtags, tweets e memes on-line, para criar ondas de intensa participação em
experiência de tempo e de espaço, a partilha do sensível, a intensidade da comoção
e

engajamento

construídos

num

complexo

sistema

de

espelhamento,

potencialização entre redes e ruas. (MALINI e ANTOU, 2013, p. 14)
A imprensa chegou a se tornar também alvo das manifestações, acusada de
manipuladora.
"As pessoas iam para a rua e viam uma coisa, depois voltavam pra casa e
viam outra na cobertura da imprensa. Começaram a perceber que a mídia
tradicional manobrava suas posições de acordo com seus interesses, de
forma mais ou menos velada. As pessoas não se veem na mídia, naquelas
informações tão editorializadas dos veículos de comunicação de massa".
(EKMAN, apud FRAGA, 2013)

A troca do espaço físico pelo espaço ideal, que muitas vezes pode ser
apenas espaço virtual, faz com que a informação seja divulgada muito mais
rapidamente do que antes. (FERRARI, 2012, p. 20) O Facebook, o Twitter e, numa
escala menor, o YouTube, foram os pontos de observação ideais para acompanhar
o movimento. “Não há forma de mídia tradicional que consiga ficar de olho em tantas
paisagens simultaneamente, ou ecoar tantas vozes ao mesmo tempo”. (RONAI,
2013)
42

Para Ferrari (2012, p. 91), a participação dos leitores em busca de
informações políticas, culturais ou prestação de serviços começou a se misturar com
o chamado jornalismo cidadão. Os veículos passaram a incentivar a participação de
leitores que se disponham a escrever matérias, enviar fotografias e vídeos, numa
fusão entre o jornalismo profissional e o cidadão. “Não é mais o mundo interior do
autor que aflora no meio digital e nem a rede que invade os mass media tradicionais.
Pois vivemos em uma era na qual não existe mais diferença entre espaço público e
privado”. (ibid., p. 89)
Um simples RT, como informam Malini e Antou (2013, p. 234), pode fazer
com que uma informação seja ampliada e também ajuda a criar novas conexões,
interferindo nas já existentes, motivando discussões e ideias diferentes e produzindo
até mesmo uma ação coletiva na rede. O poder está nas mãos do leitor, agora
também produtor ou divulgador de conteúdos.
Por outro lado, a facilidade e a rapidez com que as informações se
proliferam na rede podem acabar espalhando também notícias falsas e inverdades.
É um ponto negativo, que, segundo Moretzsohn (2013), reflete o comportamento das
pessoas na vida cotidiana, cuja característica é precisamente o automatismo, a
reação irrefletida. “Por isso não é possível, simplesmente, substituir a informação
jornalística pelo que circula na Internet, por mais que as redes também sejam uma
riquíssima fonte de informação e expressão da criatividade e da irreverência diante
da brutalidade e da opressão.” (ibid., 2013)
Outro ponto prejudicial ao jornalismo colaborativo nas redes sociais é a
instabilidade da conexão da Internet no Brasil, especialmente em meio a multidões.
“Quando muitas pessoas utilizam as mesmas antenas simultaneamente, a
velocidade da transmissão de dados cai e, assim, dificulta o
compartilhamento de informações e imagens. Por isso, durante os protestos
em São Paulo, os manifestantes pediam que as pessoas retirassem as
senhas da Internet sem fio (wi-fi) de suas casas para liberar o acesso a
todos”. (O GRANDE..., 2013)

Mas, mesmo com os pontos negativos, é nítido que o futuro tende a estar
cada vez mais aberto ao jornalismo colaborativo ou participativo, num novo
ecossistema de informação que ameaça o papel dos meios de comunicação
tradicionais. Beas (2011) diz que agora eles se veem obrigados a escolher: ou
rompem seus pactos com o poder ou novos canais roubarão sua legitimidade para
informar.
43

“A diferença-chave no novo modelo é a democratização da emissão unida à
velocidade permitida pelas novas ferramentas. A praça pública fica ao
mesmo tempo mais acelerada e mais plana. É o poder de ter acesso à
informação adequada no momento adequado. Não importa a plataforma,
mas o conjunto da rede e as sinergias que ela provoca é que emanam esta
nova forma de poder”. (ibid.)

A narrativa noticiosa, que sempre esteve atrelada à imprensa, que detinha a
capacidade de irradiar informação, hoje está em todos os lugares virtuais, que se
comportam cada vez mais como mídias cujas produções se dão de forma articulada
e cooperativa, cujo produto final é exibido de forma pública e livre (MALINI e
ANTOU, 2013, p. 185)
Mas a cobertura colaborativa nas redes sociais só se torna um gênero
jornalístico quando veicula e mostra em detalhes algum fato alternativo ao que foi
veiculado diretamente na imprensa que, por algum motivo, não o pode veicular.
(ibid., p. 246)
Quem já não acredita no que a grande imprensa diz, busca gente em quem
confia para tentar formar uma opinião. (ADLER, 2013, p. 30), já que tornou-se
possível narrar os acontecimentos sem a intermediação da mídia tradicional. “Sem
levar a fundo questões como a exigência de diploma e de registro jornalístico – no
Brasil – para exercício da profissão, cada um, mesmo sem técnica e sem perceber,
pode acabar publicando uma verdadeira reportagem”. (CAVALCANTI, 2012, p. 2)
As redes sociais deram voz às pessoas que se sentiam sem poder de fala. A
Internet se revelou um megaespaço público onde qualquer um tem voz e pode falar
por si mesmo (MALINI e ANTOU, 2013, p. 174) e a informação perdeu sua
característica unívoca, de relação de um para um, para transformar-se em dado com
múltiplos significados e leituras. (FERRARI, 2012, p. 13)
De acordo com pesquisa do Reuters Institute for the Study of Journalism
(JORNALISMO..., 2013), o Brasil é o país onde mais se acessa redes sociais e blogs
e onde há o maior índice de compartilhamento de notícias nessas redes, com 44%,
acima de Itália e Espanha. Os brasileiros também se destacam nos comentários de
links de notícias nas redes (38%).

4.2 O novo papel do jornalista

As narrativas compartilhadas na Internet fazem parte de um movimento
social que se recusa a deixar para a mídia tradicional o poder de dizer o que
44

pertence ou não ao acontecimento. (MALINI e ANTOU, 2013, p. 249) Hoje, cada
internauta possui o poder de se comunicar, enviar textos e imagens, trocar
informações, redistribuí-las, misturá-las a diversos documentos, colocar suas
próprias fotos e vídeos na rede, onde massas de pessoas vão vê-las e, por sua vez,
discutir, contribuir, e fazê-las circular. (RAMONET, 2012, p. 28)
Durante as manifestações populares em todo o Brasil, a imprensa foi
também alvo de protestos, acusada de manipulação por muitos. As pessoas viam
uma coisa nas ruas e outra coisa diferente na imprensa. Enquanto a mídia
tradicional mostrava as cenas do alto de seus helicópteros, pessoas e jornalistas
compartilhavam outras imagens das ruas, mostrando especialmente a violência nos
confrontos, que quase sempre começava com pequenos grupos de vândalos e se
alastrava pela multidão. (FERNANDES e ROSSENO, 2013, p. 20)
Internautas questionavam nas redes sociais a razão de parte da mídia
tradicional destacar mais a violência do que as manifestações populares pacíficas.
Essa discussão percorria a mídia social. (ibid., p. 55) e os manifestantes
protagonizam uma grande novidade na cobertura dessas manifestações e na
alternativa à mídia tradicional. (LORENZOTTI, 2013)
Num processo inverso do que normalmente acontecia, as redes sociais
começaram a pautar a mídia tradicional. Com isso, o foco mudou e o poder de
escolha passou para as mãos do leitor. Ele é agora o sujeito da ação. (FERRARI,
2012, p. 12)
Um dos grandes destaques que simbolizou a emergência de uma mídia da
multidão nos protestos em junho e julho de 2013 foi a “Mídia Ninja” (Narrativas
Independentes Jornalismo e Ação) que cobriu colaborativamente as manifestações
em todo o Brasil (MALINI e ANTOU, 2013, p. 15) Para Lorenzotti (2013) trata-se de
uma cobertura com lado, mas quem não tem?
Os meios tradicionais de comunicação balançaram. A imprensa estava à
mercê das redes sociais e dos manifestantes. A televisão, o rádio e o jornal não
tinham mais controle sobre a situação que havia surgido nas mídias sociais.
(FERNANDES e ROSSENO, 2013, p. 56) Manifestantes diziam que não precisavam
deles para veicular os protestos, porque as redes sociais já haviam feito o papel que
eles não fizeram. (ibid., p. 91)
“Às experiências de jornalismo participativo dentro dos grupos tradicionais
de mídia, somam-se ainda uma infinidade de experiências que atuam de
45

forma independente através de modelo aberto (sem a presença de
jornalistas profissionais) ou híbrido (usuários e jornalistas profissionais),
inventando um conjunto de novas práticas para a produção noticiosa”.
(MALINI e ANTOU, 2013, p. 115)

Brambilla (2012, p. 37) diz que é preciso admitir que os leitores podem saber
muito mais do que os próprios jornalistas em determinadas pautas. Organizações de
mídia hoje estão dispostas a deixar o público ajudar na cobertura dos fatos. (ADLER,
2013, p. 38) A participação de repórteres amadores tem crescido nas seções
editoriais, seja com notícias de última hora, flagras, opiniões, comentários em blogs
e outras modalidades de colaboração. (FERREIRA, 2012, p. 85)
O resultado é que o oligopólio da imprensa tradicional virou uma força a
mais – e só – na hora de decidir o que é “notícia” e a importância que vai ter uma
matéria ou imagem. (ADLER, 2013, p. 26)
“Além de chacoalhar as diferentes instâncias de poder, a moçada do
#vemprarua deu um nó na cabeça dos jornalistas”. (SINGER, 2013)
Mas quem se
informou sobre as manifestações apenas pelas redes, porém, recebeu um misto de
suposições, verdades, mentiras. Quem filtra o todo? O excesso de informação vinda
de tantas mídias acabou criando um sentimento chamado por Ramonet (2012, p.
108, 109) de “insegurança informacional”. O chamado ao “leitor jornalista” ou à
“testemunha de um evento” o incita a colocar on-line, no website do jornal, em seu
blog, suas fotos ou seus vídeos, aumentando o risco de difundir falsas informações.
O leitor, o telespectador, o ouvinte ou o internauta não sabe, ao receber uma
informação, se ela não vai finalmente se revelar falsa algumas horas mais tarde.
(ibid, p. 133)
Moretzsohn (2013) acredita que, por tudo isso, os jornais e o jornalismo são
cada vez mais necessários. Para Dória (2013), o jornalismo tradicional não morrerá,
já que, sem rigor informativo, nenhuma democracia se sustenta. “O jornalista
profissional nunca foi tão importante quanto neste modelo de noticiário, produzido
por uma variedade tão grande de perfis identitários”. (BRAMBILLA, 2012, p. 33) E
“todo projeto colaborativo de produção de informações só pode ser chamado de
“jornalístico” se contar com o trabalho de jornalistas profissionais”. (ibid., p. 34)
Mas os profissionais precisarão aprender, segundo Ramonet (2012, p. 137)
a elaborar de outra maneira as informações para difundi-las sob diversas formas nas
redes sociais. Sairá vitorioso quem compreender e souber gerir esse processo de
mudança, quem for mais inteligente na disseminação de conteúdos informativos e
46

na busca de parcerias para a criação de novas tecnologias e novos produtos. A
mídia é nova e está em mutação, por isso o papel do jornalista é fundamental.
(FERRARI, 2012, p. 23)
“O que é irreversível no Brasil como no mundo é o empoderamento dos
cidadãos, sua autonomia comunicativa e a consciência dos jovens de que tudo que
sabemos do futuro é que eles o farão. Móbil-izados”. (CASTELLS, 2012, p. 182)
47

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O que se pode concluir deste estudo é que a Internet e, mais recentemente,
as redes sociais, mudaram a forma de se comunicar. Mais do que isso, mudaram a
forma de se fazer jornalismo. E isso, durante as manifestações, foi observado no
engajamento e na divulgação dos fatos.
As redes sociais possibilitaram, ainda, uma nova forma de mobilização
social. Como foi mostrado na parte histórica da pesquisa, muitas manifestações
aconteceram antes que houvesse a Internet e todas elas conseguiram mobilizar
milhares de pessoas. A diferença agora é como essa mobilização se dá, facilitada
pelas novas tecnologias, que permitem um alcance maior num período de tempo
menor.
Elas favorecem, ainda, a troca de ideias em tempo real e a organização dos
atos de uma forma mais otimizada, permitindo que pessoas com os mesmos ideais e
objetivos se comuniquem e consigam fazer com que seus pontos de vista cheguem
de forma mais rápida e direta a seus amigos que, por sua vez, irão divulgar a novos
amigos, criando, assim, uma rede de engajamento, que pode posteriormente se
concretizar em um manifesto, como já aconteceu no Oriente Médio, nos Estados
Unidos e em diversas cidades do Brasil.
Outro ponto a ser destacado é o fato de a Internet ter ampliado as formas de
conhecimento das pessoas. Hoje em dia é muito mais fácil se informar, acessar
notícias, buscar vídeos ou outras postagens que as complemente. E, na medida em
que a informação se tornou mais acessível, aumenta o senso crítico, o que desperta
a vontade de lutar para que as coisas sejam diferentes.
Mas, como lembrado por diversos autores, as redes não fazem revolução.
Quem a faz são as pessoas. As redes sociais e a Internet são apenas um dos meios
que ajudam isso a acontecer.
As redes sociais estão ajudando, ainda, a mudar a forma como se faz e
como se consome jornalismo. Essas mudanças já vêm acontecendo desde o
surgimento da Internet. Os textos passaram a contar com diferentes recursos, como
vídeos e hiperlinks, para se tornarem mais atrativo para o leitor, já que as
possibilidades de formas para se informar, ficaram mais amplas. Já não era mais
preciso esperar o horário em que um telejornal vai ao ar, ou o impresso chegar às
bancas no dia seguinte, nem mesmo a atualização de um site de notícias.
48

Os blogs pessoais foram outra mudança que a Internet gerou. Qualquer
pessoa poderia criar seu próprio espaço virtual para divulgar o que quisesse, desde
notícias reproduzidas da mídia, ou mesmo suas próprias notícias.
Todas essas mudanças se ampliaram com as redes sociais. E durante as
manifestações recentes no Brasil essa nova forma de informar e de se informar ficou
bem clara. Mesmo quem não foi para a rua pôde acompanhar cada instante como se
estivesse presente, graças aos registros de fotos, vídeos e posts de quem estava
nos locais dos protestos. Quem não tinha tempo para acompanhar um telejornal,
pôde ter acesso, pelo Twitter ou Facebook, através de seus celulares, à cobertura
feita pelos próprios manifestantes, em tempo real.
Na contramão do que costumava acontecer, os veículos de comunicação
começaram a divulgar notícias que haviam sido publicadas inicialmente nas redes
sociais. As narrativas das pessoas foram citadas em diversos jornais e programas de
televisão.
É claro que é preciso haver um filtro e saber quais dessas informações são
verídicas antes de divulgá-las. Ao falar de conteúdo colaborativo, não se está
levando em consideração o fato de que um grande número de pessoas, talvez a
maioria dos usuários das redes sociais, não serem totalmente politizadas e não
terem uma educação política que as torne aptas a serem chamadas de produtoras
de conteúdo. Nesses casos, o que ocorreu e continua ocorrendo é uma série de
compartilhamentos de notícias falsas, frases não ditas em montagens com fotos de
políticos, vídeos antigos postados como se fossem dos acontecimentos atuais,
entres outros. Cabe, também, a cada um, saber quais fontes são ou não confiáveis,
antes de saírem compartilhando conteúdos falsos.
O que se procurou abordar nesse estudo foi, principalmente, como as
postagens

feitas

por

quem

participou

das

manifestações

noticiaram

os

acontecimentos, narrando-os diretamente do local em que estavam ocorrendo,
publicando depoimentos, emitindo opiniões, ou, ainda, questionando o que havia
sido mostrado pela grande mídia e dizendo o que de fato tinha ocorrido.
É esse o jornalismo colaborativo e participativo ao qual o trabalho se refere.
O jornalista e os grandes veículos, por razões comerciais e/ou ideológica, nem
sempre podem ou querem divulgar realmente o que gostariam, enquanto um
cidadão tem toda a liberdade de se expressar, colocando seus pontos de vista
políticos e se posicionando.
49

Com a Internet e as redes sociais, todas as pessoas que possuem um
computador conectado ou mesmo um smartphone com tecnologia 3G, que está a
cada dia mais acessível, passaram a ter, também, os meios para fazer isso, de
forma a alcançar um número cada vez maior de pessoas. E em determinados
acontecimentos inesperados, pode acontecer de não ter nenhum profissional
fazendo a cobertura jornalística, mas sim algumas pessoas que passavam pelo local
e, munidos de seus aparelhos, conseguiram flagrar momentos que podem se tornar
notícia.
Por ser um tema ainda muito novo, focado em acontecimentos recentes, é
difícil afirmar com certeza como será daqui para frente e que novas mudanças as
redes sociais poderão ainda gerar. O que já se sabe é que, com as possibilidades
que surgiram para que o jornalismo colaborativo seja exercido, os jornalistas
profissionais e os grandes veículos, mesmo os on-line, precisarão estar cada vez
mais atentos a todas essas mudanças que a tecnologia trouxe. Além disso,
precisarão aprender como usá-las a seu favor, buscando novos ângulos, novos
enredos, e novas fontes de conteúdo.
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53

SAKAMOTO, Leonardo. Cheque a informação antes de divulgar algo sério via redes
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O papel das redes sociais no engajamento cívico e no jornalismo colaborativo

  • 1. UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ PÓS-GRADUAÇÃO EM COMUNICAÇÃO E MARKETING EM MÍDIAS DIGITAIS MARIANA BUENO NETTO ENGAJAMENTO CÍVICO E JORNALISMO COLABORATIVO NAS REDES SOCIAIS RIO DE JANEIRO 2013
  • 2. MARIANA BUENO NETTO ENGAJAMENTO CÍVICO E JORNALISMO COLABORATIVO NAS REDES SOCIAIS Monografia apresentada como pré-requisito para a conclusão do curso de pós-graduação em Comunicação e Marketing em Mídias Digitais da Universidade Estácio de Sá, sob a supervisão do professor Márcio Gonçalves. RIO DE JANEIRO 2013
  • 3. AGRADECIMENTOS Agradeço acima de tudo a Deus, pela vida; Aos meus pais, por terem me proporcionaram as melhores oportunidades que puderam; Aos que conheci ao longo da minha caminhada, em especial aos que se tornaram verdadeiros amigos, com os quais pude e posso contar nas horas boas e ruins; Aos queridos colegas da pós-graduação, por transformarem as manhãs de sábado em momentos de muita amizade e diversão; Às redes sociais, que me possibilitam o contato com os que não estão próximos geograficamente; E aos meus anjos da guarda, pela proteção constante.
  • 4. RESUMO Esta pesquisa tem como objetivo principal analisar o papel desempenhado pelas redes sociais no engajamento e na mobilização das pessoas que foram às ruas protestar em todo o Brasil nas manifestações ocorridas em junho de 2013. Para isso, é feita uma retomada da história das manifestações populares nos séculos passados, chegando à década atual, quando a Internet se mostrou uma figura importante para a organização, realização e cobertura dos protestos em diversos países. A pesquisa questiona, ainda, o novo papel do jornalista diante das redes sociais, que se tornaram um canal para o desenvolvimento do jornalismo colaborativo, possibilitando que cada leitor se torne também criador e distribuidor de notícias. Partindo do surgimento dos primeiros jornais na imprensa brasileira até a chegada a Internet e o advento das redes sociais, é possível observar como a forma de se comunicar mudou e como o leitor passivo se transformou num possível produtor de conteúdo. Palavras-chave: redes sociais, mobilização, jornalismo colaborativo.
  • 5. ABSTRACT This research intends to analyze the role of social networks at the mobilization of people who were at the popular protests in Brazil in June 2013. For that, there is a resumption of the popular protests history in past centuries, reaching the current decade, when the Internet has proved an important figure for organization, realization and announces of protests in many countries. The research also questions the new journalist’s role face of social networks, which became a way to the development of collaborative journalism, allowing each person becomes creators and distributors of news. Starting from the first newspapers in the Brazilian press until the arrival of Internet and the advent of social networks, it’s possible to observe how the way we communicate has changed and how the reader can become a content producer. Key words: social network, mobilization, collaborative journalism.
  • 6. LISTA DE ILUSTRAÇÕES Figura 1.1 – Queda da Bastilha – Revolução francesa..............................................12 Figura 1.2 – Protestos no Egito – Primavera Árabe...................................................13 Figura 1.3 – Occuppy Wall Street, nos Estados Unidos.............................................14 Figura 1.4 – Passeata dos 100 mil, em 1968.............................................................16 Figura 1.5 – Diretas Já, em 1984...............................................................................17 Figura 1.6 – Caras pintadas, em 1992.......................................................................18 Figura 2.1 – Os primeiros jornais brasileiros..............................................................19 Figura 2.2 – Crescimento do número de internautas até 2011, segundo IBGE.........21 Figura 2.3 – Rede Social The Globe..........................................................................24 Figura 2.4 – Rede Social Classmates........................................................................24 Figura 2.5 – Spokesman-Review, primeiro veículo escrever com participação dos leitores........................................................................................................................28 Figura 2.6 – Página do Voz da Comunidade no Twitter.............................................29 Figura 3.1 - Manifestação na Candelária, Rio de Janeiro..........................................35 Figura 4.1 - Cartaz "Nós somos a rede social"...........................................................40
  • 7. SUMÁRIO INTRODUÇÃO.............................................................................................................8 1. MOVIMENTOS SOCIAIS POPULARES................................................................11 1.1 História dos movimentos sociais populares.....................................................11 1.2 Movimentos sociais populares no mundo........................................................12 1.3 Movimentos sociais populares no Brasil..........................................................15 2. JORNALISMO E INTERNET.................................................................................19 2.1 Jornalismo digital.............................................................................................22 2.2 Redes sociais...................................................................................................23 2.3 Jornalismo colaborativo...................................................................................27 3. AS REDES SOCIAIS E AS MANIFESTAÇÕES....................................................32 3.1 Papel das redes sociais nas manifestações....................................................32 3.2 Compartilhamento de informações nas redes.................................................36 4. O NOVO PAPEL DO JORNALIS DIANTE DAS REDES SOCIAIS......................39 4.1 Jornalismo colaborativo nas redes sociais.......................................................40 4.2 O novo papel do jornalista...............................................................................43 CONSIDERAÇÕES FINAIS.......................................................................................47 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..........................................................................50
  • 8. 8 INTRODUÇÃO O objetivo deste trabalho, baseado em pesquisa bibliográfica, é mostrar como as redes sociais criaram uma nova maneira de comunicação entre as pessoas. Para isso, foram analisados os acontecimentos durante as manifestações populares que tomaram as ruas de diversas cidades do Brasil em junho de 2013 e que tiveram as redes sociais como personagem principal. Foi através delas que as pessoas se mobilizaram, estabeleceram debates e se organizaram para que o movimento realmente acontecesse. O engajamento cívico brasileiro se deu por meio das redes, da mesma forma que já vinha acontecendo há algum tempo em outras manifestações e protestos pelo mundo. A população de países do Oriente Médio foi a primeira a se valer das tecnologias para se mobilizar e buscar, de fato, mudanças concretas e melhorias. A ideia se espalhou e logo chegou também aos Estados Unidos e a alguns países da Europa. No Brasil, as redes – especialmente Twitter e Facebook – foram fundamentais na mobilização da população e nos chamados para irem às ruas. A hashtag #vemprarua foi uma das mais usadas e se de tornou o grito de guerra dos protestantes. Mas esse não foi o único papel desempenhado pelas redes sociais. Elas fizeram com que uma nova forma de produzir e consumir informação ganhasse força: o jornalismo colaborativo, caracterizado pela presença do leitor (e, agora, também produtor) na construção da notícia. Com a Internet, não só o acesso à informação já havia se tornado maior do que em qualquer outro momento da história, como também haviam aumentado as possibilidades de produzir informação. Com a popularização das redes sociais isso ficou ainda mais fácil e rápido. Um post pode ser compartilhado e atingir um número cada vez maior de pessoas. Esse trabalho se propõe a analisar o papel das redes sociais no engajamento da população e o jornalismo colaborativo durante as manifestações. Para isso, se divide em quatro partes. O capítulo 1 começa contando a história dos movimentos sociais e mostrando como as pessoas são capazes de se organizarem e transformarem a
  • 9. 9 estrutura do sistema. São abordados desde os mais antigos, como a Revolução Francesa, no século XVIII, que foi um marco na história mundial, até os mais recentes, especialmente os que ocorreram nos países do Oriente Médio, na chamada Primavera Árabe. Aborda, ainda, os grandes movimentos ocorridos na história do Brasil, como a Marcha dos 100 mil, durante a ditadura, as Diretas já, em 1984, as passeatas dos caras pintadas pedindo o impeachment do presidente Fernando Collor, em 1992 e, recentemente, as manifestações que, por todo o país, pediam melhorias na saúde, na educação e o fim da corrupção entre os políticos. No capítulo 2 são apresentadas teorias que explicam o jornalismo digital e o que mudou na comunicação com a chegada da Internet. Desde o surgimento dos primeiros jornais do Brasil, em 1808, até os dias de hoje, as mudanças foram constantes, mas nunca tão grandes como agora. Com a Internet, surgiram novas possibilidades para complementar as notícias, com vídeos, fotos, hipertextos e outros recursos, criando novas formas de narrativas. A Internet se tornou o meio de comunicação utilizado pela maioria dos brasileiros (53%) na hora de se informarem, e possibilitou, também, que os leitores criassem seus próprios canais de comunicação, como os blogs, onde podem divulgar notícias e publicar seus textos. A Internet foi usada também para mobilizar a população nas manifestações recentes, como mostra o capítulo 3. Durante os protestos no Oriente Médio e também no Brasil, as redes sociais tiveram um papel fundamental no engajamento. E, depois de tomarem as ruas, foi através das redes que os manifestantes divulgaram notícias, postando fotos, vídeos e relatos dos acontecimentos, um exemplo de jornalismo colaborativo, que está mudando a forma de se fazer jornalismo. Uma análise do novo papel do jornalista diante desse quadro e das redes sociais é o que mostra o capítulo 4. Com o jornalismo colaborativo, tornou-se constante a participação dos leitores que não só compartilham notícias da grande mídia, mas também produzem e divulgam suas próprias notícias, relatando acontecimentos que presenciaram ou dos quais participaram. As redes sociais abriram espaço para que o leitor se tornasse também produtor de conteúdo e emissor de informações. Durante as últimas manifestações, foi possível observar de forma nítida esse novo papel desempenhado pelo público. Eles participavam das manifestações, mas não viam na mídia tradicional um relato fiel do que tinham
  • 10. 10 vivenciado. Começaram, então, a contar suas próprias histórias que, nas redes sociais, se propagam de forma mais rápida e têm um grande alcance. Os jornalistas profissionais, por sua vez, deixaram de ter o monopólio da informação e perceberam que há uma necessidade de mudar a forma de produzir conteúdo. Os veículos já estão começando a dar mais espaço aos leitores e muitos já estão se pautando pelas notícias que surgem nas mídias sociais. É preciso ter cuidado, porém, com as inverdades que, nas redes sociais, também são divulgadas e compartilhadas mais facilmente. Por isso o jornalista continua sendo essencial, para analisar os conteúdos noticiosos e filtrar o que é realmente verdadeiro e relevante. Mas o poder está na mão dos leitores.
  • 11. 11 1. MOVIMENTOS SOCIAIS POPULARES A luta pelos direitos da população, por melhores condições de vida e por descontentamentos com a política e a economia são os principais fatores que, ao longo da história, despertaram nas pessoas a vontade de se manifestarem. Para Castells (2013), esses movimentos são sistemas de práticas sociais contraditórias de acordo com a ordem social urbana/rural, cuja natureza é a de transformar a estrutura do sistema, seja através de ações revolucionárias ou não, numa correlação classista e, em última instância, o poder estatal. “O conceito de movimento social se refere à ação coletiva de um grupo organizado que tem como objetivo alcançar mudanças sociais por meio do embate político, dentro de uma determinada sociedade e de um contexto específico.” (MOVIMENTOS..., 2012) 1.1 História dos movimentos sociais populares Desde a Revolução Francesa, no século XVIII (1789-1799) – quando trabalhadores foram às ruas com o lema "Liberdade, Igualdade e Fraternidade" para manifestarem a insatisfação, tentarem tomar o poder do governo monarca do rei Luis XVI e instaurarem um governo democrático – chegando à chamada Primavera Árabe – onda de protestos no Oriente Médio, que começou em 2010 e derrubou ditadores em quatro países – muitos grupos se formaram e tomaram as ruas em movimentos sociais populares em todo o mundo, lutando pelo cumprimento das suas reivindicações. Para o teórico Herbert Blumer (1951, apud GOHN, 2007, p. 30), os movimentos sociais surgem de uma situação de inquietação social, derivando suas ações dos seguintes pontos: insatisfação com a vida atual, desejo e esperança de novos sistemas e programas de vida. Rudolf Herbele (1951, apud GOHN, 2007, p. 38) diz que eles seriam sintomas de descontentamento dos indivíduos com a ordem social vigente e seus objetivos principais seriam a mudança dessa ordem. Os movimentos mais antigos eram analisados pelos autores clássicos como ciclos evolutivos em que o surgimento, crescimento e propagação ocorriam por intermédio de um processo de comunicação que abrangia contatos, rumores, reações circulares, difusão das ideias, etc. As insatisfações que geravam as reivindicações eram vistas como respostas às rápidas mudanças sociais e à
  • 12. 12 desorganização social subsequente. E a adesão aos movimentos seria uma resposta cega e irracional de indivíduos desorientados pelo processo de mudança que a sociedade industrial gerava. Nessas abordagens dava-se, portanto, grande importância à reação psicológica dos indivíduos diante das mudanças, considerada como comportamento não-racional ou irracional. No passado, os comportamentos coletivos eram considerados como frutos de tensões sociais. Já os movimentos recentes, para Castells (2012, p. 8), espalharam-se por contágio num mundo ligado pela Internet sem fio e caracterizado pela difusão rápida e viral de imagens e ideias. 1.2 Movimentos sociais populares no mundo A Revolução Francesa é considerada, ainda hoje, o movimento mais importante da história contemporânea. O Estado Absolutista, com um governo que fazia diversas intervenções econômicas e sociais, tinha mais de 200 mil pessoas vivendo nos campos em condições precárias e uma população urbana com desempregados ou assalariados com baixa renda. Os impostos eram altos e uma pequena burguesia, composta pelo alto clero, alta nobreza e a família real, vivia com luxo e riqueza. Figura 1.1 – Queda da Bastilha – Revolução Francesa Fonte: Wikipédia
  • 13. 13 Revoltada, a população de Paris se reuniu no dia 14 de julho de 1789, foi até a Bastilha, onde funcionava a prisão política, e espancou o carcereiro até a morte. Os camponeses também se rebelaram e começaram a invadir castelos e executar famílias da nobreza. Alguns partidos políticos incentivaram a população a lutarem contra a Assembleia, o que deu início a uma fase ainda mais radical, mas também mais popular, do movimento, que continuou mesmo após a queda da Monarquia Francesa, em 1792, quando a burguesia tirou o poder do rei Luis XVI e o transferiu para si. Munida de armas, a população continuou as manifestações. O rei e a rainha Maria Antonieta foram decapitados em praça pública. Uma nova constituição foi criada, mas um golpe de Estado da alta burguesia financeira finalizou a participação popular no movimento. Na história recente, as manifestações populares mais marcantes aconteceram no Oriente Médio, onde a população enfrenta sérios problemas sociais, especialmente em países com governos ditatoriais, sejam civis, militares ou monárquicos. Figura 1.2 – Manifestações no Egito – Primavera Árabe Fonte: www.geoensino.net O primeiro país a tomar as ruas foi o Egito, o que motivou outros países a fazerem o mesmo. Castells (2012, p. 119) diz que: “O eco das revoltas árabes foi amplificado pelas notícias provenientes da Europa, em particular da Espanha, propondo novas formas de mobilização e organização, com base na experiência da democracia
  • 14. 14 direta, como maneira de aprofundar a demanda por uma verdadeira democracia. Num mundo conectado ao vivo pela Internet, cidadãos comprometidos ficaram imediatamente a par de lutas e projetos com os quais podiam se identificar.” As manifestações também aconteceram em outros países da região. Na Tunísia, a Revolução do Jasmim derrubou o ditador que estava há mais de 20 anos no poder. Na Jordânia os manifestantes exigiam limites nos poderes do rei, reformas constitucionais e nova eleição parlamentar. Na Argélia, a luta foi por reformas políticas. E, no Egito, o ditador Mubarack também deixou o cargo em que estava há 30 anos, após pressões populares. Nos Estados Unidos, em setembro de 2011 teve início o Occupy Wall Street, protestos contra a desigualdade social e econômica entre a população do país. “No dia 13 de julho de 2011, a Adbusters, revista de crítica cultural com sede em Vancouver, postou no blog a seguinte convocação: #occupywallstreet.” (CASTELLS, 2012, p. 119) A convocação inicial para a ocupação queria restaurar a democracia, tornando o sistema político independente do poder do dinheiro. Foi um movimento que nasceu digital e a revista Time atribuiu ao “Manifestante” o título de personalidade do ano. (ibid., p. 9) Figura 1.3 – Occupy Wall Street, nos Estados Unidos Fonte: www.newsamericasnow.com
  • 15. 15 A primeira manifestação aconteceu em Nova York, mais especificamente em Wall Street, o centro financeiro da cidade. A estratégia era manter uma ocupação constante no local até que as demandas fossem atendidas. Aos poucos o movimento foi se espalhando por mais de 100 cidades, como Boston, Los Angeles, Chicago, e ecoou até mesmo em outros países, despertando a população para os protestos. Em algumas capitais da Europa houve uma série de manifestações contra a corrupção, as políticas recessivas e o corte de gastos sociais em tempos de crise. Os protestos aconteceram em 86 países e 952 cidades. Na Espanha, a estimativa foi de mais de um milhão de pessoas nas ruas, divididos entre Barcelona e Madri. Na Itália os protestos foram marcados pela violência no confronto com a polícia. “Esses movimentos sociais em rede são novos tipos de movimento democrático – de movimentos que estão reconstruindo a esfera pública no espaço de autonomia constituído em torno da interação entre localidades e redes da Internet, fazendo experiências com as tomadas de decisão com base em assembleias e reconstituindo a confiança como alicerce da interação humana”. (CASTELLS, 2012, p. 177) As tecnologias digitais viabilizaram as redes sociais on-line, que são as ferramentas fundamentais para organização das manifestações que têm surgido no mundo desde 2008 – Revolução do Panelaço na Islândia (2008), Revolução de Jasmim na Tunísia (2010), os Indignados na Espanha (2011) e Occupy Wall Street nos Estados Unidos (2011). “As tecnologias em si não fazem revolução – quem faz revolução são as pessoas. Mas as tecnologias modificam a estrutura de poder social”. (GABRIEL, 2013)

 1.3 Movimentos sociais populares no Brasil A história do Brasil também é marcada por alguns movimentos populares que tiveram como objetivo mostrar o descontentamento da população com a política, a economia e as condições sociais do país. 
Alguns exemplos são a Guerra dos Mascates, Balaiada, Cabanagem, Guerra dos Farrapos, Canudos, entre outros. De Norte a Sul, do período colonial ao século 20, o Brasil teve rebeliões populares de características variadas. Na história mais recente, o primeiro grande movimento aconteceu em 1968. Foi o chamado Marcha dos 100 mil. Quatro anos após a Ditadura Militar ser
  • 16. 16 instalada no Brasil, em 1964, a população se revoltou com a forma arbitrária e até mesmo violenta como o governo se comportava. O movimento estudantil foi quem tomou frente, organizando manifestações que eram sempre reprimidas violentamente pela polícia, resultando na prisão de diversos estudantes, além de um número considerável de mortos e feridos. Uma passeata realizada na Cinelândia, centro do Rio de Janeiro, reuniu aproximadamente 100 mil pessoas. Jovens de outros estados do país também se mobilizaram. Mas a repressão policial crescia proporcionalmente ao aumento das manifestações. Até que, no fim daquele ano, o governo instaurou o AI -5, Ato Inconstitucional nº 5, que marcou o início da era mais pesada da Ditadura Militar, chamada de Anos de Chumbo. Figura 1.4 – Marcha dos 100 mil, em 1968 Fonte: www.ebc.com.br Em 1984 foi a vez das Diretas Já. Depois de muitos anos sob o regime ditatorial, os brasileiros se mobilizaram para exigir a redemocratização do país e reivindicar o direito às eleições diretas para presidente, que não aconteciam desde 1961, quando Jânio Quadros foi eleito. A emenda constitucional Dante de Oliveira, que previa a volta das eleições diretas para a Presidência, foi rejeitada, deixando a população frustrada e dando início às primeiras manifestações. São Paulo e Rio de Janeiro foram as cidades com o maior número de pessoas participando das Diretas Já – respectivamente 1,5 milhão no Vale do
  • 17. 17 Anhangabaú e um milhão na Candelária. Os movimentos começaram quando membros do PMDB, PT e PDT passaram a organizar grandes comícios, em que a população se mostrava a favor da escolha direta. Esses comícios repercutiram nos meios de comunicação e se transformaram no movimento popular, que contou com a participação de artistas, intelectuais, lideranças sindicais e vários partidos políticos de oposição ao regime ditatorial. O movimento ganhou cada vez mais força em todo o país e outras manifestações aconteceram em diversas capitais. Figura 1.5 – Diretas já, em 1984 Fonte: www.veja.abril.com.br/30anos Uma vitória parcial foi conquistada com a possibilidade de o Colégio Eleitoral eleger um presidente. O eleito foi Tancredo Neves, que faleceu antes da posse e foi substituído por seu vice, José Sarney. Mas só em 1985 o poder civil realmente voltou a valer e em 1988 saiu a nova Constituição Federal. Em 1989 aconteceu a primeira eleição direta para presidente, marcada pela disputa no segundo turno entre os candidatos Luis Inácio Lula da Silva e Fernando Collor de Mello, que foi eleito. Já na era democrática, em 1992, após a insatisfação popular com as medidas econômicas e diversas denúncias por corrupção contra o então presidente Collor veiculadas na grande mídia, incluindo uma entrevista bombástica com seu irmão, Pedro Collor, que comprovava uma série de irregularidades, a população foi às ruas. Os jovens pintaram seus rostos de verde e amarelo, motivo que deu ao
  • 18. 18 movimento o nome de Caras Pintadas. Eles pediram o impeachment do Presidente da República. Em São Paulo ocorreu a maior das manifestações, que chegou a reunir cerca de 750 mil pessoas. Para evitar o impeachment, Collor renunciou ao cargo pouco antes do seu julgamento pelo Senado, que iria cassar seu mandato e seus direitos políticos. Ele deixou o Planalto no dia 2 de outubro de 1992. Figura 1.6 – Caras pintadas, em 1992 Fonte: www.acervo.estadao.com.br Em 2013, a população se mobilizou através das redes sociais e tomou as ruas em 120 cidades do Brasil para reivindicar contra a violência, os serviços públicos ruins (especialmente saúde e educação) e os altos gastos com construção e reformas de estádios para a Copa do Mundo. Ao longo da história, segundo Castells (2012, p. 12) os movimentos sociais ajudaram a construir novos valores e objetivos, que servem como base para as transformações da sociedade, que cria novas normas para organizar a vida social.
  • 19. 19 2. JORNALISMO E INTERNET Ao contrário dos principais países da América Latina, o Brasil entrou no século XIX sem tipografia, sem jornais e sem universidades, que contribuiriam para a formação do público leitor. Só a partir de 1808, com a chegada da família real portuguesa ao Brasil e a abertura dos portos, os primeiros jornais começaram a surgir. Ainda em 1808, duas datas diferentes foram consideradas como marcos fundadores da imprensa no país: o lançamento do Correio Braziliense, em Londres, dia 1º de junho, e a criação da Gazeta do Rio de Janeiro, dia 10 de setembro, ambos considerados publicações independentes. Figura 2.1 – Os primeiros jornais brasileiros Fonte: www.historiativanet.wordpress.com/www.tipografos.net Desde então, foram inúmeras as mudanças pelas quais a imprensa brasileira passou, tanto em relação aos meios de veiculação das notícias quanto à própria forma das notícias. No início, as restrições impostas pelas Cortes Portuguesas ao que era publicado eram muito fortes, e só diminuíram em 1821. Entre 1822, ano em que D. João VI retornou a Portugal, e 1840, ano em que D. Pedro II, seu herdeiro, foi coroado imperador do Brasil, proliferaram as tipografias, panfletos e jornais por todo o país.
  • 20. 20 De acordo com a Associação Nacional de Jornais (ANJ), o desenvolvimento dos jornais brasileiros intensificou-se na segunda metade do século XIX. Em 1852 o telégrafo elétrico foi introduzido no país, permitindo que os jornais das grandes cidades recebessem informações sobre os principais acontecimentos em todo o mundo no mesmo dia em que ocorriam. Ainda segundo a ANJ, o rádio só chegou ao Brasil em 1923, trazido por Edgard Roquette-Pinto. Mas, por um grande período, a programação limitava-se ao entretenimento e só mais tarde passou a veicular notícias. Enquanto isso, com a chegada das máquinas de escrever às redações, os jornais impressos cresceram ainda mais. Com o cinema mudo em desenvolvimento e o rádio dando os primeiros sinais de possíveis transmissões de coberturas jornalísticas, começaram a surgir grandes repórteres no cenário nacional. (FERRARI, 2012, p. 27) E após a Segunda Guerra Mundial, foi a vez dos conglomerados na imprensa brasileira, com uma mesma empresa controlando jornais, revistas, rádios e, a partir dos anos 50, também emissoras de televisão. (ibid., p. 27) Mas, ao longo de sua história, nunca o jornalismo sofreu mudanças tão radicais e tão aceleradas quanto as que estão acontecendo por conta da Internet. (CASTILHO, 2007, p.6) Drucker (2000, apud PUCCINI, 2010, p. 51) diz que "a máquina a vapor foi para a primeira Revolução Industrial aquilo que o computador vem sendo para a Revolução da Informação: seu gatilho, mas também e, sobretudo, seu símbolo". Contando de sua chegada ao Brasil, a Internet levou quatro anos para atingir uma audiência de 50 milhões de pessoas. Um crescimento muito rápido, especialmente se comparado ao rádio e à TV, que levaram, respectivamente, 38 anos e 16 anos para atingirem esse mesmo número. E a quantidade de pessoas que acessa a Internet no país não para de crescer. Segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), entre 2005 e 2011 o número de internautas brasileiros cresceu 143,8%. Ou seja, em seis anos houve um aumento de 45,8 milhões de pessoas, chegando a um total de 77,7 milhões de internautas com 10 anos ou mais de idade.
  • 21. 21 Figura 2.2 – Crescimento do número de internautas até 2011 Fonte: www.saladeimprensa.ibge.gov.br A Internet surgiu nos Estados Unidos em 1969 com o nome original de ARPA (Advanced Research Projects Agency), uma rede do departamento de defesa norte-americano que tinha a função de interligar centros de pesquisas. E o WWW, ou World Wide Web, surgiu em 1991, desenvolvido por Tim Bernes-Lee, e baseada numa interface que permite o acesso a dados diversos, como textos, músicas, animações, e muitos outros. A facilidade oferecida por sua interface fez com que a Web passasse, desde então, a crescer de uma forma vertiginosa. (LEÃO, 2005, p. 22, 23) Com a Internet, mensagens escritas por diferentes pessoas, em diferentes situações e locais, podem ser compartilhadas e divulgadas o tempo todo, atingindo um número crescente de pessoas. "O ciberespaço encoraja um estilo de relacionamento quase independente dos lugares geográficos e da coincidência de tempos e permitem que os membros de um grupo humano se coordenem, cooperem, alimentem e consultem uma memória em comum, e isto em tempo quase real, apesar da distribuição geográfica e da diferença de horários". (LÉVY, 1999, p. 49) Lévy (ibid., p. 17) chama de "ciberespaço" ou "rede" o novo meio de comunicação que surge da interconexão mundial de computadores. O termo foi descrito pela primeira vez por Willian Gibson, no romance Neuromancer, em 1984.
  • 22. 22 Hoje, especifica não só a infra-estrutura material da comunicação digital, mas também o universo de informações que ela abriga, assim como os seres humanos que navegam e alimentam esse universo. A Internet se tornou a plataforma mais importante para o consumo de notícias no Brasil. Segundo dados de uma pesquisa realizada pelo Reuters Institute for the Study of Journalism, órgão vinculado à Universidade de Oxford, 53% dos brasileiros se informam pela Internet, que ficou à frente da TV (38%), rádio (2%) e impresso (6%). (RIBEIRO, 2013) 2.1 Jornalismo digital O jornalismo sempre passou por inúmeras transformações, especialmente quando uma nova tecnologia surgia. A Internet, além de mais possibilidades na apuração e nas pesquisas, trouxe também uma interatividade maior com o leitor, que deixou de ser apenas um receptor passivo das informações jornalísticas e se tornou também um produtor de notícias. Com a Internet, criou-se uma outra dinâmica na produção, distribuição e consumo das notícias, proporcionando um acesso à informação de maneira única (FERRARI, 2012, p. 79). A mídia tradicional precisou se adaptar a uma nova era comunicacional e, por isso, realizou e continua realizando experiências para explorar os conceitos e recursos trazidos pelo avanço tecnológico. (PERRET, 2012, p. 15) Para Ferrari (2012, p. 93), “o efeito transformador da comunicação por meio da tecnologia atingiu um patamar sem igual desde a popularização da Internet.” As informações no ambiente digital podem e devem estar amarradas por meios de links, que permitem que o usuário avance em sua leitura na ordem que desejar, de uma forma única e pessoal. (LEÃO, 2005, p. 15) São os chamados hipertextos, compostos por diferentes blocos de informações interconectadas. A Internet chegou para ficar, não é uma moda passageira e não haverá retrocesso. (FERRARI, 2012, p. 23) Ela altera todos os paradigmas comunicacionais à medida que coloca à disposição de qualquer pessoa com conhecimentos e recursos necessários a possibilidade de se comunicar, de um ponto a outro qualquer, com qualquer usuário do planeta. Forma-se o que Dowobor (2001, p. 48) chama de “sociedade em rede”.
  • 23. 23 Ferrari (2012, p. 57) aponta como a grande diferença entre a mídia tradicional impressa e a digital o fato de que a tradicional tem como objetivo falar com uma grande quantidade de pessoas, enquanto a digital consegue atingir cada indivíduo. Outra diferença, segundo ela, é que o público on-line tende a ser mais ativo do que os leitores de veículos impressos ou que os espectadores de televisão. Eles optam por buscar mais informações e não se contentam em aceitar passivamente o que lhe é apresentado. (ibid., p. 51) Para conquistar a atenção desse leitor, a cobertura jornalística na Internet não se limita a textos, fotos e gráficos, ao contrário do que acontece na mídia tradicional, especialmente na mídia impressa. Há outros elementos que compõem o conteúdo on-line, como arquivos de áudio, vídeo ou imagem, e até mesmo um email ou comentários de leitores podem mostrar um novo ponto de vista e se tornar parte da notícia. O leitor on-line precisa clicar e escolher o que quer ler, precisa estar realmente interessado pelo assunto (FERRARI, 2012, p. 55). Ramonet (2012, p. 56) diz que, se a imprensa era o “quarto poder”, que permitiu a aparição da opinião pública, que não existia antes do desenvolvimento das mídias de massa no final do século XIX, a Internet deu voz aos sem-vozes e possibilitou a criação de um “quinto poder”, para denunciar o superpoder de alguns grupos midiáticos que, em certas circunstâncias, deixaram de defender os cidadãos e passaram a agir contra eles. (ibid., p. 60) A saída para os jornais é se adaptarem rapidamente a um mundo extremamente conectado, onde as informações fluem a velocidades inimagináveis e os fatos estão cada vez mais complexos e interdependentes. A relação entre público e veículo, na Internet, é intensa e participativa, diferente daquela experimentada entre leitor e jornal, branda e unilateral. (PERRET, 2012, p. 27) 2.2 Redes Sociais Alguns serviços para conectar pessoas e possibilitar interação começaram a surgir na década de 60, mas o mais marcante aconteceu em 1985, quando a America Online (AOL) passou a fornecer ferramentas para que as pessoas criassem perfis virtuais, descrevendo a si mesmas e criando comunidades para discussões sobre diversos assuntos.
  • 24. 24 Dez anos depois, em 1995, dois novos serviços com características mais claras de conectividade entre os usuários foram lançados: o The Globe, que possibilitava publicações pessoais e interação com pessoas de interesses comuns, e o Classmates, para reunir grupos de antigos colegas de escola e faculdade. Figura 2.3 – Página inicial do The Globe Fonte: globe.com.ph Figura 2.4 – Página inicial do Classmates Fonte: classmates.com
  • 25. 25 Sem essas primeiras comunidades, todas as outras talvez nunca tivessem existido. Um sonho libertário que, hoje, apesar de todas as tentativas de controle, continua dando frutos. (LORENZOTTI, 2013) O "boom" veio nos anos 2000, quando surgiram o Fotolog, o Friendster, LinkedIn, MySpace, Flickr, Orkut, Facebook e Twitter. As duas redes sociais mais conhecidas e mais usadas atualmente, o Facebook e o Twitter, surgiram, respectivamente, em 2004, criado pelos estudantes da Universidade de Harvard Mark Zuckerberg, Eduardo Saverin, Chris Hughes e Dustin Moskovitz, para manter contatos e trocar fotos com colegas e amigos mais próximos; e em 2006, por Jack Dorsey, como uma mistura de rede social e mensagens instantâneas, com postagens de até 140 caracteres. Com o advento da complexificação das redes sociais foram aparecendo novos fluxos de informação, que passou a ser difundida de forma mais rápida e mais interativa. Tal mudança criou novos canais e, ao mesmo tempo, uma pluralidade de novas informações circulando nos grupos sociais. (RECUERO, 2012, p. 54) “Nós passamos da era das mídias de massa para a era da massa de mídias e os imensos recursos da Internet e das redes sociais representam uma democratização da informação” (RAMONET, 2012, p. 23), muitas delas difundidas de forma quase epidêmica, alcançando grandes proporções tanto on-line quanto off-line. (RECUERO, 2012, p. 54) A liberdade de expressão proporcionada pela Internet jamais foi vista em nenhum outro meio de comunicação de massa. As pessoas se relacionam, trocam experiências e valiosas informações sobre os mais variados assuntos. É essa junção de vários ao redor de um tema ou interesse que forma uma rede social. (FERNANDES e ROSSENO, 2013, p. 15) Para traçar um perfil desse internauta que compartilha conteúdos é preciso, segundo Santaella (2004, p. 181), não apenas caracterizar os processos inferenciais e mentais que guiam as escolhas do cibernauta, mas também explicar de onde vem a agilidade perspectiva e a prontidão de respostas que esse leitor exibe na interação com o fluxo incessante de signos que se apresentam nas interfaces da hipermídia. “A grande marca deste tipo de leitor, está dentro das interfaces da interatividade. Não é a toa que este tema vem sendo tratado com tanta intensidade nos últimos anos”. (ibid., p. 181)
  • 26. 26 O consumo de notícias pela Internet e mídias sociais também é crescente. Em pesquisa do Reuters Institute da Universidade de Oxford, realizada em janeiro/fevereiro de 2013 e divulgada em junho (JORNALISMO..., 2013), 51% dos brasileiros (população urbana) disseram se informar por meio de blogs ou mídias sociais. Na mesma pesquisa, 38% dos brasileiros disseram comentar o noticiário em mídias sociais. E quando a pergunta foi qual o principal meio on-line para encontrar notícias, os brasileiros também deram prioridade às mídias sociais, como nenhum outro povo: 60%. Foi também nas redes sociais que tiveram início as mais recentes manifestações populares no Brasil e no mundo. As redes sociais, segundo Castells (2012, p. 18), são espaços de autonomia, muito além do controle de governos e empresas, que, ao longo da história, haviam monopolizado os canais de comunicação como alicerces de seu poder. Compartilhando dores e esperanças no livre espaço público da Internet, conectando-se entre si e concebendo projetos a partir de múltiplas fontes do ser, indivíduos formaram redes, a despeito de suas opiniões pessoais ou filiações organizacionais. A adesão de um número cada vez maior de pessoas às redes sociais fez com que a ideia de que “informação é poder” se tornasse real. A noção de informação hierárquica e unidirecional deu lugar a uma versão contemporânea muito mais explosiva: bidirecional, sincrônica e, o mais importante, em rede. “Três novas características que mudam tudo, desde como se estrutura o poder no topo do Estado, a como se articula o descontentamento social na rua". (BEAS, 2011) As diferenças estruturais das redes sociais, já que elas não são todas iguais, interferem diretamente na difusão de informação através de suas conexões. (RECUERO, 2012, p. 54) As interações mediadas pelo computador como formadoras de laços sociais só podem ser compreendidas na medida em que esses sites e sistemas de comunicação permitem que os atores criem perfis individualizados no ciberespaço. (ibid., p. 47) “Atualmente, é por meio das redes sociais que se dão as atividades mais importantes da Internet. Elas se tornaram plataformas para todos os tipos de atividade, não apenas para amizades ou bate-papos pessoais, mas para marketing, e-commerce, educação, criatividade cultural, distribuição de mídia e entretenimento, aplicações de saúde e, sim, ativismo sociopolítico”. (CASTELLS, 2012, p. 169)
  • 27. 27 Além disso, as redes e a Internet permitiram uma nova forma de organização e deram poder aos cidadãos, tirando a capacidade de controle de informação do Estado. A natureza ubíqua e descentralizada da rede, seus múltiplos nós (que quase sempre encontram uma forma de contornar a censura) e sua capacidade para estabelecer conexões entre milhões de pessoas em tempo real, estão criando novos mecanismos que subvertem o poder do Estado ao mesmo tempo em que dotam o cidadão de novos canais para exercer a cidadania. (BEAS, 2011) 2.3 Jornalismo colaborativo Castilho (2007, p. 7) diz que o jornalismo on-line e sua versão 2.0 formam a base da transição para o processo de produção colaborativa on-line de notícias. Os leitores não são mais apenas receptores passivos de mensagens. Eles criam, compartilham e comentam. (BRIGGS, 2007, p.34) "A produção de informações aumenta, impulsionada pelo incremento de novas tecnologias que permitem o acesso e a publicação das mesmas" (PUCCINI, 2010, p. 51), processo que se tornou ainda mais fácil com a popularização dos smartphones e da tecnologia 3G. As redes sociais, mais do que possibilitar a interação entre os usuários, modificaram a forma como as informações são tratadas. As pessoas que antes eram meras usuárias de computadores passaram a ser potenciais produtoras de conteúdo. Todos podem agora criar a sua própria mídia. (TORRES, 2013) A popularização da Internet e seu grande alcance fazem dela uma ferramenta influente, que cria o duplo fluxo e contínuo da informação. Alguns fatos não seriam notícia sem as mídias sociais. Emissor e receptor, que antes tinham funções claras e definidas, hoje se misturam. Mídia tradicional e mídias sociais passam a desempenhar papéis complementares. Quando as mídias ainda não eram assim tão sociais, o emissor tinha como única alternativa enviar a informação para seus receptores. Eles recebiam o conteúdo de forma passiva. Mas então as mídias tornaram-se sociais e os receptores da informação ganharam poderosas ferramentas não só para devolver ao emissor suas percepções e opiniões, mas também para contribuir com novos conteúdos gerados a partir delas. Isso se chama colaboração. Ou, um termo que surge, o crowdsourcing. (LOMBARDI, 2013)
  • 28. 28 O termo crowdsourcing é relativamente novo, criado por Jeff Howe num artigo publicado em 2006, no serviço on-line de notícias Wired News. Muitos o consideram quase um sinônimo de investigação ou reportagem compartilhada, colaborativa, distribuída ou em código aberto. (BRIGGS, 2007, p.49) Mas, embora o termo usado para descrever a produção coletiva de reportagens seja novo, o processo em si já existe há vários anos. De acordo com Briggs (ibid., p. 51), em 2001 o Spokesman-Review, em Washington, começou a fazer reportagens compartilhadas com um banco de dados de endereços de e-mail – que foi chamado de “rede de leitores” – com os quais ele se comunicava enquanto estava elaborando as matérias. E em 2006, o News-Press, em Fort Myers, na Flórida, pediu aos leitores que ajudassem na investigação sobre o aumento nos gastos públicos. A audiência respondeu com números surpreendentes, dando subsídios para um artigo e deixando até mesmo o jornal surpreso com o volume de ligações telefônicas e e-mails recebidos. (ibid., p.49) Figura 2.5 - Spokesman-Review, primeiro veículo escrever com participação dos leitores Fonte: spokesman.com Lévy (2013) diz que há uma nova geração de pessoas bem educadas, trabalhadores com conhecimento, usando a Internet e que querem suas vozes ouvidas. E há uma proliferação de fontes e formatos de conteúdo jornalístico e de novas tecnologias para consumo de informações, que possibilitam a participação do consumidor na disseminação e produção de notícias ao compartilhar conteúdos em
  • 29. 29 mídias sociais, fazer comentários, blogar e postar fotos e arquivos de áudio e vídeo na Internet, personalizando o fluxo de notícias que chega ao indivíduo via e-mail, aplicativos para plataformas móveis e redes sociais. (ADLER, 2013, p. 26) Por isso, para Lombardi (2013), é possível afirmar que nunca se fez tanto jornalismo de verdade como na era da colaboração. Mesmo os veículos tradicionais já estabelecidos estão utilizando de informações, fotografias e notícias produzidas por pessoas em todo o mundo, aproveitando a proximidade dos cidadãos com os fatos e acontecimentos urgentes. (FERREIRA, 2012, p. 91) A Internet vem possibilitando novas práticas na produção de informação. Hoje, a capacidade de narrar a história pertence a todos. Um dos casos mais conhecidos no Brasil aconteceu em 2011, durante a ocupação do Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro, quando policiais e traficantes entraram em conflito. O adolescente Rene Silva, morador local, então com 17 anos, fez uso da Internet, especialmente do Twitter, para narrar os acontecimentos. De sua casa, no Morro do Adeus, Rene se comunicava com outros colegas do jornal comunitário "Voz da Comunidade", criado por ele em 2005, e postava essas informações. Em poucos dias, se tornou uma das fontes mais seguras para quem queria se informar sobre os acontecimentos no local. Pessoas famosas e jornalistas passaram a retuitar os posts de Rene, consolidando e dando ainda mais credibilidade ao perfil do jornal. Seis meses após a ocupação policial, ele acumulava 50 mil seguidores no Twitter. (ABREU e SILVA, 2013, p. 56) Figura 2.6 – Página do Voz da Comunidade no Twitter Fonte: twitter.com/vozdacomunidade
  • 30. 30 Alguns anos antes, um acontecimento histórico também foi marcado pelo jornalismo participativo. Nos atentados de 11 de setembro, em 2001, os blogs de moradores de Nova York passaram a ser fontes de informações, pois eram acessados de forma mais rápida e transmitiam as notícias com uma linguagem diferente, com as emoções de quem vivenciou o atentado. (PERRET, 2012, p. 22) Esse acontecimento é apontado como evento fundador da recessão da mídia e da crise do jornalismo, já que a atenção do usuário – leitor, telespectador ou ouvinte – esteve, em boa parte, durante o atentado, fragmentada em veículos que não somente os das corporações midiáticas. (MALINI e ANTOU, 2013, p. 128) Dois tipos diferentes de jornalismo colaborativo podem ser identificados: a cobertura emergente, marcada pela produção de pautas independentes ainda sem presença no noticiário da imprensa, e a programada, que é a do acontecimento já pautado por perfis com forte capital social nas redes sociais, fazendo-as funcionarem como plataformas de promoção e reforço de suas ideias ou atos. São as coberturas associadas às celebridades, às campanhas políticas, aos eventos aguardados ou às causas movimentadas por grupos. (ibid., p. 245) O jornalismo colaborativo vem crescendo principalmente porque a nova geração quer decidir por si só, e não apenas confiar a decisão sobre o que é ou não notícia aos editores de um jornal ou outro meio de comunicação tradicional. (ADLER, 2013, p. 30) “Se antigamente uns poucos meios tinham o poder de ditar a pauta, com a profusão de hoje começamos a ver um número quase infinito de gente capaz de definir qual será o grande assunto do dia”. (ibid., p. 28) Do seu lado, as mídias dominantes também encorajam os internautas a se tornarem “jornalistas”, pedindo constantemente que coloquem em seu site fotos, vídeos ou comentários sobre os assuntos mais diversos que tenham testemunhado. (RAMONET, 2012, p. 22) Malini e Antou (2013, p. 113) acreditam que até mesmo os grandes jornais estão se abrindo à participação dos usuários, criando “canais de jornalismocidadão”, uma forma de ter conteúdos mais personalizados que, com frequência, geram audiência e complementam as informações. As empresas jornalísticas passaram a contar com a pulverização de fontes de imagens e informações, mesmo onde não haja qualquer jornalista ou repórter-fotográfico. (FERREIRA, 2012, p. 87) Na “sociedade de redes”, os internautas continuam buscando acesso às mídias tradicionais, principalmente as publicações consideradas as mais sérias da
  • 31. 31 imprensa escrita e seus sites de informação on-line. O fato novo é que as pessoas que acessam os conteúdos dos jornais por essa via desejam, de sua parte, serem lidas e escutadas. A informação não circula mais em sentido único. “A lógica “vertical” que caracterizava a relação mídia-leitor torna-se, de agora em diante, cada vez mais ‘horizontal’, ou ‘circular’”. (RAMONET, 2012, p. 19) Para Brambilla (2012, p. 41), a principal motivação de quem produz e envia notícias aos veículos de mídia tradicional é o desejo de ver socializada uma informação que até então estava sob seu poder e que pode ser útil para outras pessoas. E essa participação dos leitores na construção de conteúdos e comunidades em torno de um veículo ou canal de comunicação pode definitivamente mudar a dinâmica entre os veículos e seus consumidores. (FERREIRA, 2012, p. 83)
  • 32. 32 3. AS REDES SOCIAIS E AS MANIFESTAÇÕES Foi a partir da luta contra a ditadura nos países árabes que começou a se falar no papel desempenhado pelas redes sociais nos movimentos populares, pois, sem os recursos tecnológicos, a dimensão não teria sido a mesma e, possivelmente, os resultados também não. Das redes da Internet, o chamado à ação se espalhou pelas redes sociais de amigos, famílias e associações de todo tipo (CASTELLS, 2012, p. 47), mobilizando milhares de pessoas que foram às ruas em diversos países e marcando a ascensão de novas formas de transformação social. A história dos movimentos – que são, simultaneamente, locais e globais – foi contada com múltiplas vozes, de um modo que transcende o tempo e o espaço. (ibid., p. 137) Começaram em contextos específicos, por motivos próprios, constituíram suas próprias redes e construíram seu espaço público ao ocupar o espaço urbano e se conectar com o mundo inteiro através das redes da Internet. (ibid., p. 161) Estamos ao mesmo tempo aqui e lá, graças às técnicas de comunicação. (LÉVY, 1996, p. 27) 3.1 Papel das redes sociais nas manifestações As redes sociais, especialmente Twitter e Facebook, estão frequentemente lançando novas funcionalidades. Nos movimentos sociais recentes em todo o mundo, elas tiveram um papel fundamental, sendo utilizadas como meio de comunicação de massa para a realização de manifestações. (FERNANDES e ROSSENO, 2013, p. 36) "Organização, trabalho em rede, acesso a ideias e informações proibidas, debates, são alguns dos bônus que a mídia social está proporcionando à população". (COHEN, 2011) No Egito, um dos primeiros países a tomar as ruas depois de uma convocação pelas redes sociais, a fundadora do Movimento da Juventude postou: “Vão para as ruas, enviem SMS, façam seus posts na rede, levem consciência às pessoas”. (CASTELLS, 2012, p. 47) Assim, em 25 de janeiro, dezenas de milhares de pessoas convergiram para a praça Tahrir (praça da Liberdade), um lugar simbólico e central. (ibid., p. 47)
  • 33. 33 Além da mobilização, as redes sociais também tiveram um papel importante na cobertura dos fatos durante a revolução egípcia. Com câmeras fotográficas e telefones celulares, os manifestantes fizeram fotos e vídeos dos acontecimentos e compartilharam pelo YouTube e Facebook. (ibid., p. 50) No Brasil, o movimento popular mais recente também teve a Internet e as redes sociais como personagens importantes. “Os inúmeros relatos, vídeos, fotografias e mensagens acabaram sendo a faísca que faltava para criar uma mobilização de grandes proporções”. (A ESCALADA..., 2013) Tudo começou no início do mês de junho de 2013, mais exatamente no dia 6, uma quinta-feira, quando moradores de São Paulo foram às ruas se manifestar contra o aumento nas tarifas de ônibus. A manifestação foi convocada pelo Movimento Passe Livre (MPL), criado em 2005 por estudantes durante o Fórum Social Mundial em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul. O MPL se inspira nos movimentos de jovens que nos últimos anos tomaram espaços públicos no Oriente Médio, na Europa e nos Estados Unidos (QUEM..., 2013, p. 34). Seus integrantes utilizaram o Twitter e o Facebook para trocarem informações sobre as ações que estavam acontecendo. Alguns dias depois, em 10 de junho, estimulados pelo movimento paulista, moradores do Rio de Janeiro também resolveram se manifestar contra o preço do transporte público. Os protestos se transformaram em um fenômeno. Com a ajuda das redes sociais, o movimento foi crescendo, ampliou o seu foco e se espalhou por todo o país, tornando-se nacional. Foi na conexão entre as redes sociais e as redes pessoais que se forjou o protesto. A precondição para as revoltas foi a existência de uma cultura da Internet, constituída de blogueiros, redes sociais e ciberativismo. (CASTELLS, 2012, p. 29) De imediato, alguns estados como Rio de Janeiro e São Paulo baixaram os preços das passagens de ônibus, mas novas reivindicações que já estavam em pauta fizeram com que o movimento continuasse tendo força e acontecendo nas ruas e nas redes. O pavio já estava aceso. “Pela primeira vez na história do Brasil, um movimento social foi capaz de percorrer o território nacional em apenas 15 dias, mantendo-se nas capitais, no interior e nas periferias, sem que houvesse líderes, somente representantes que se alternavam.” (FERNANDES e ROSSENO, 2013, p. 13)
  • 34. 34 Para Castells (2012, p. 166), o papel da Internet e da comunicação sem fio nos atuais movimentos sociais em rede foi fundamental. Twitter e Facebook passaram a ser usados não só para organização e motivação dos ativistas, mas, principalmente, para compartilhar informações, fotos e vídeos feitos por quem estava participando das manifestações, além de terem se tornado um palanque de debates políticos. As hashtags #vemprarua e #ogiganteacordou eram usadas para identificar postagens referentes aos protestos. De acordo com Fernandes e Rosseno (2013, p. 53), estima-se que as duas hashtags tenham impactado, respectivamente, 80 milhões e 62 milhões de pessoas. Através das redes, os manifestantes mostravam cenas não divulgadas pela grande mídia, transformando-as num dos principais meios para que os brasileiros se informassem sobre o que estava acontecendo. Com o tempo, os usuários perceberam que estavam com dois poderes nas mãos: produzir e distribuir informações. “Trata-se do primeiro movimento social a usar, no país, táticas modernas de ocupação urbana com o uso intensivo de ferramentas digitais. Tais ações visíveis ganham um impacto muito maior.” (DA INTERNET..., 2013, p. 81) As redes sociais digitais baseadas na Internet e nas plataformas sem fio são ferramentas decisivas para mobilizar, organizar, deliberar, coordenar e decidir. Mas o papel da Internet ultrapassa a instrumentalidade: ela cria as condições para uma forma de prática comum que permite a um movimento sem liderança sobreviver, deliberar, coordenar e expandir-se. (CASTELLS, 2012, p. 167) O ápice das manifestações aconteceu no dia 19 de junho, quando mais de um milhão de pessoas foram às ruas em todo o Brasil, com cartazes e gritos de ordem, protestando por diversos motivos. Em algumas cidades, minorias radicais provocaram cenas de vandalismo e os protestos acabaram se transformando em confronto com a polícia, o que tomou uma proporção muito maior do noticiário do que as manifestações pacíficas. Pesquisa realizada pelo Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística (Ibope) e exibida no Fantástico (Rede Globo) do dia 23 de junho, mostrou que quase 80% dos que foram às ruas no dia 19 se organizaram para as passeatas por meio das redes sociais. Fernandes e Rosseno (2013, p. 38) citam pesquisa realizada pela Ideas Scup, segundo a qual houve dois milhões de menções nas redes Twitter, Facebook, Youtube e Google, com mais de 132 milhões de pessoas impactadas por
  • 35. 35 essas postagens, criadas por 941 mil usuários únicos. “A rede foi o ponto de ligação entre as várias tribos. Ficou tão sobrecarregada que mal conseguia se mover e chegou a cair algumas vezes em alguns lugares.” (RONAI, 2013) Figura 3.1 – Manifestação na Candelária, Rio de Janeiro, junho de 2013 Fonte: www.noticias.uol.com.br/album Castells (2013) diz que a Internet é uma condição necessária, mas não suficiente para que existam movimentos sociais. "Não basta um manifesto no Facebook para mobilizar milhares de pessoas. Isso depende do nível de descontentamento popular e da capacidade de mobilização de imagens e palavras". Para Morozov (2011): “É importante fazer uma distinção entre “ativismo on-line” – pessoas que fazem abaixo-assinados, pedem doações ou mudam a foto de seu perfil para apoiar uma causa – daquelas que usam a Internet para falar de protestos que estão acontecendo no mundo real. São dois tipos diferentes de ativismo. E o último é apenas o bom e velho ativismo se apropriando dos novos canais de comunicação”. Para que se forme um movimento social, a ativação emocional dos indivíduos deve conectar-se a outros indivíduos. Isso exige um processo de comunicação de uma experiência individual para outras. (CASTELLS, 2012, p. 19) E a condição para que essas experiências individuais se encadeiem e formem um movimento é a existência de um processo de comunicação que propague os eventos e as emoções a eles associadas. “Quanto mais rápido e interativo for o
  • 36. 36 processo de comunicação, maior será a probabilidade de formação de um processo de ação coletiva”. (ibid., p. 19) 3.2 Compartilhamento de informações nas redes A grande maioria dos veículos midiáticos sempre abriu espaço para o conteúdo cidadão, possibilitando a interação através de cartas, telefonemas e emails, em que o público leitor/telespectador podia expor suas opiniões sobre os fatos noticiados. Mas, mais do que a interação, o que se vê atualmente, segundo Cavalcanti (2012, p. 2) é uma participação efetiva do receptor no que será consumido por todos em um ambiente de imenso alcance. 
 A Internet proporcionou um acesso à informação de maneira única, mudando a forma de comunicação, causando impacto na mídia tradicional e também no comportamento social da população. (FERRARI, 2012, p. 84) 
A voz dos até então apenas receptores passou a ser ouvida em gigantescas proporções e suas participações no processo de construção do conteúdo de um jornal passaram a ser exploradas. (CAVALCANTI, 2012, p. 3) A maneira como o conteúdo jornalístico é produzido e oferecido mudou (TORRES, 2012) A informação não circula mais como antes, em unidades controladas, bem corrigidas e formatadas. “Tornada imaterial, ela se apresenta agora sob a forma de um fluido, que circula em segmentos abertos da Internet quase à velocidade da luz”. (RAMONET, 2012, p. 17) Para Ferrari (2012, p. 84), a comunicação tem a ver com conteúdos e a informação refere-se ao modo como os conteúdos entram em circulação, ou seja, na rede. Da segurança do ciberespaço, pessoas de todas as idades e condições passaram a ocupar o espaço público e a reivindicar seu direito de fazer história. (CASTELLS, 2012, p. 8) Antes de compartilhar um texto ou vídeo, o indivíduo para e reflete sobre a mensagem que o material em questão passará. Adler (2013, p. 28) diz que “compartilhar em redes sociais tem a ver com a própria identidade, é um jeito de dizer: 'vejam, sou inteligente, sou bonzinho, sou engraçado'.” A disseminação da Internet fez com que centenas de milhões de cidadãos passassem a se sentir (talvez ilusoriamente) com poder real, e lhes permitiu (comprovadamente) trocar informações e pontos de vista entre si sem a
  • 37. 37 necessidade de intermediários. (JORNALISMO..., 2013) As redes sociais ajudam a mudar o modo como as pessoas se comunicam e fazem fluir informação, alterando, consequentemente, as estruturas tradicionais de poder. Mas se elas ajudam a furar bloqueios e informar, também desinformam. (SAKAMOTO, 2013) "Em razão de sua explosão, de sua multiplicação, a informação encontra-se contaminada, envenenada por toda espécie de mentira, poluída pelos rumores, pelas deformações, pelas distorções e manipulações”. (RAMONET, 2012, p. 64) Com a Internet, a forma como o jornalismo vê seu produto ser adquirido e compartilhado também mudou drasticamente. Para Torres (2012), criar um conteúdo noticioso não depende mais apenas de boas pautas e fontes, mas sim de uma forma em que seja possível identificar como o usuário digital irá receber, encontrar, compartilhar, avaliar, criticar e, acima de tudo, modificar a mensagem, analisando o contexto, tempo e cenário. O compartilhamento de informações esteve fortemente presente nas manifestações que ocorreram no Brasil. Em sua grande maioria, elas tiveram como ponto de origem as redes sociais, onde estudantes se encontravam para falar de política e dos problemas sociais. No ambiente virtual, eles discutiam suas expectativas sendo frustradas no Brasil, como o desemprego, os baixos salários e o aumento dos preços dos serviços e produtos, principalmente do transporte público, meio de locomoção essencial para estudantes. “Foi então que eles se emanciparam e iniciaram uma série de protestos pelo Brasil”. (FERNANDES e ROSSENO, 2013, p. 10) Foi também por conta das manifestações que os brasileiros começaram a prestar mais atenção na informação que vem das mídias sociais. (DÓRIA, 2013) Durantes o período dos protestos, ao se conectar à Internet era possível acompanhar, minuto a minuto, a movimentação dos usuários nas mídias sociais. As mensagens falando de protestos surgiam de todos os lados e se multiplicavam. Posts eram publicados e fóruns se formavam para discutir o cenário da política brasileira. Para Fernandes e Rosseno (2013, p. 20), as redes sociais tornaram-se um palanque de discussões e uma ferramenta eficaz para a convocação de manifestações. No Facebook, a timeline dos usuários estava o tempo todo cheia de fotos, textos, notícias, opiniões e mensagens sobre os protestos, além de eventos convidando para as manifestações que ainda iriam acontecer. O Twitter tinha
  • 38. 38 atualizações em tempo real sobre os acontecimentos. E, no Youtube, filmes eram postados. Segundo pesquisa do Ibope, 78% dos manifestantes em todo o país foram mobilizados pela Internet. (ibid., p. 17) A força das redes sociais foi tão grande que, segundo reportagem publicada no site G1 (GOVERNO..., 2013), a Secretaria Nacional da Juventude, ligada à Presidência da República, informou que o governo iria lançar um canal de diálogo com jovens por meio das redes sociais, em que cada um poderia criar seu próprio usuário e interagir com os demais.
  • 39. 39 4. O NOVO PAPEL DO JORNALISTA DIANTE DAS REDES SOCIAIS A sociedade está mudando e os jornais já perceberam a necessidade de dialogar com o leitor. Houve uma mudança radical de todo o “ecossistema midiático” (RAMONET, 2012, p. 15) e saímos definitivamente da sociedade da mídia para entrarmos na sociedade da informação. (FERRARI, 2012, p. 7) Para Ferrari (2012, p. 79), o poder de transformação causado pelo uso das redes sociais também pode ser colocado como um dos grandes avanços da Internet nesse começo de século XXI. A mídia social engoliu a comunicação digital. (ibid., p. 93, 94) E a mídia hoje é um meio para o leitor se comunicar, não só consumir conteúdo. (ADLER, 2013, p. 28) Não é necessário ser jornalista para perceber a virada que a tecnologia vem provocando na comunicação humana há alguns anos. Basta entender o princípio básico da rede para notar que a colaboração é uma condição sine qua non para existir. “O que é a rede, senão uma infinidade de nós – não por acaso, nós (pronome) somos os nós (substantivo) – que interligam realidades múltiplas, mundos, culturas e identidades traduzidos em informação? Portanto, como isolar jornalistas e demais públicos nesse manancial de informantes e informações?” (BRAMBILLA, 2012, p. 29) O jornalista perdeu o monopólio da novidade, da produção e da disseminação da informação. Novos sujeitos passaram a disputar o cenário da informação e fez surgir o que Ramonet (2012, p. 10) chama de “prodsumidor”, que não só consome a informação, mas também constrói com base nela. Novas possibilidades de construção de informação estão se abrindo a cada dia. “A Internet possibilitou que uma legião de pessoas se tornassem editoras de si mesmas. Hoje em dia é muito fácil criar um canal na web, expor sua opinião, produzir um conteúdo interessante e, de quebra, ganhar credibilidade profissional e reconhecimento do mercado, podendo até mesmo se tornar uma fonte de renda caso seu "veículo" conquiste um público considerável. Isso não ameaça os grandes conglomerados midiáticos, mas preocupa”. (TORRES, 2013) Durante as manifestações, a multidão, com seus gritos de protesto, deu um "looping" nas certezas e deixou evidente que os canais da imprensa são insuficientes para captar as mudanças de humor na sociedade. (SINGER, 2013) Os veículos de comunicação perceberam de vez a força dos usuários, compreenderam
  • 40. 40 os caminhos naturais da informação e tornaram-se público de seu público. (CAVALCANTI, 2012, p. 4) As novas mídias proporcionam o surgimento do que Castells (2012, p. 12) chama de autocomunicação: o uso da Internet e das redes sem fio como plataformas da comunicação digital. É comunicação de massa porque processa mensagens de muitos para muitos, com o potencial de alcançar uma multiplicidade de receptores e de se conectar a um número infindável de redes que transmitem informações digitalizadas pela vizinhança ou pelo mundo. É autocomunicação porque a produção da mensagem é decidida de modo autônomo pelo remetente, a designação do receptor é autodirecionada e a recuperação de mensagens das redes de comunicação é autosselecionada. 4.1 Jornalismo colaborativo nas redes sociais Nos movimentos que tomaram as ruas em todo o Brasil, manifestantes diziam “Nós somos a rede social”. Cada cidadão, segundo Adler (2013, p. 28) era um jornalista em potencial, pois, ao postar observações e argumentos em todo lugar, todos são, de certo modo, jornalistas amadores. Figura 4.1 – Faixa exibida nas manifestações em 2013 Fonte: www.fotografia.folha.uol.com.br
  • 41. 41 A Internet quebrou o monopólio da narração e possibilitou, através de suas interfaces, que qualquer usuário pudesse tornar atualizável uma informação, liberando sua comunicação. (MALINI e ANTOU, 2013, p. 177) Com as redes sociais, o leitor se torna também uma espécie de jornalista e passa a ter a possibilidade não só de compartilhar o que leu, mas de questionar, criticar e colocar a sua própria versão dos fatos, como aconteceu durante as manifestações. (ibid., p. 10) O ambiente digital vem gerando uma nova maneira de as pessoas se relacionarem, se organizarem e participarem da vida social e política. Para Cohen (2011), “a liberdade de conectar-se é uma ferramenta de libertação – e poderosa”. A transparência possibilitada pelas redes sociais colocou em xeque a mídia de massas. Enquanto telejornais e jornais impressos mostravam uma versão dos acontecimentos, os próprios manifestantes publicavam em suas páginas pessoais fotos, vídeos e comentários relatando o que estava acontecendo, muitas vezes em tempo real. O jornalismo colaborativo surgiu em meio à crise do jornalismo de massas, que deixou de ser a única fonte de informação. Nas manifestações brasileiras foram utilizados vídeos, posts, associados a hashtags, tweets e memes on-line, para criar ondas de intensa participação em experiência de tempo e de espaço, a partilha do sensível, a intensidade da comoção e engajamento construídos num complexo sistema de espelhamento, potencialização entre redes e ruas. (MALINI e ANTOU, 2013, p. 14) A imprensa chegou a se tornar também alvo das manifestações, acusada de manipuladora. "As pessoas iam para a rua e viam uma coisa, depois voltavam pra casa e viam outra na cobertura da imprensa. Começaram a perceber que a mídia tradicional manobrava suas posições de acordo com seus interesses, de forma mais ou menos velada. As pessoas não se veem na mídia, naquelas informações tão editorializadas dos veículos de comunicação de massa". (EKMAN, apud FRAGA, 2013) A troca do espaço físico pelo espaço ideal, que muitas vezes pode ser apenas espaço virtual, faz com que a informação seja divulgada muito mais rapidamente do que antes. (FERRARI, 2012, p. 20) O Facebook, o Twitter e, numa escala menor, o YouTube, foram os pontos de observação ideais para acompanhar o movimento. “Não há forma de mídia tradicional que consiga ficar de olho em tantas paisagens simultaneamente, ou ecoar tantas vozes ao mesmo tempo”. (RONAI, 2013)
  • 42. 42 Para Ferrari (2012, p. 91), a participação dos leitores em busca de informações políticas, culturais ou prestação de serviços começou a se misturar com o chamado jornalismo cidadão. Os veículos passaram a incentivar a participação de leitores que se disponham a escrever matérias, enviar fotografias e vídeos, numa fusão entre o jornalismo profissional e o cidadão. “Não é mais o mundo interior do autor que aflora no meio digital e nem a rede que invade os mass media tradicionais. Pois vivemos em uma era na qual não existe mais diferença entre espaço público e privado”. (ibid., p. 89) Um simples RT, como informam Malini e Antou (2013, p. 234), pode fazer com que uma informação seja ampliada e também ajuda a criar novas conexões, interferindo nas já existentes, motivando discussões e ideias diferentes e produzindo até mesmo uma ação coletiva na rede. O poder está nas mãos do leitor, agora também produtor ou divulgador de conteúdos. Por outro lado, a facilidade e a rapidez com que as informações se proliferam na rede podem acabar espalhando também notícias falsas e inverdades. É um ponto negativo, que, segundo Moretzsohn (2013), reflete o comportamento das pessoas na vida cotidiana, cuja característica é precisamente o automatismo, a reação irrefletida. “Por isso não é possível, simplesmente, substituir a informação jornalística pelo que circula na Internet, por mais que as redes também sejam uma riquíssima fonte de informação e expressão da criatividade e da irreverência diante da brutalidade e da opressão.” (ibid., 2013) Outro ponto prejudicial ao jornalismo colaborativo nas redes sociais é a instabilidade da conexão da Internet no Brasil, especialmente em meio a multidões. “Quando muitas pessoas utilizam as mesmas antenas simultaneamente, a velocidade da transmissão de dados cai e, assim, dificulta o compartilhamento de informações e imagens. Por isso, durante os protestos em São Paulo, os manifestantes pediam que as pessoas retirassem as senhas da Internet sem fio (wi-fi) de suas casas para liberar o acesso a todos”. (O GRANDE..., 2013) Mas, mesmo com os pontos negativos, é nítido que o futuro tende a estar cada vez mais aberto ao jornalismo colaborativo ou participativo, num novo ecossistema de informação que ameaça o papel dos meios de comunicação tradicionais. Beas (2011) diz que agora eles se veem obrigados a escolher: ou rompem seus pactos com o poder ou novos canais roubarão sua legitimidade para informar.
  • 43. 43 “A diferença-chave no novo modelo é a democratização da emissão unida à velocidade permitida pelas novas ferramentas. A praça pública fica ao mesmo tempo mais acelerada e mais plana. É o poder de ter acesso à informação adequada no momento adequado. Não importa a plataforma, mas o conjunto da rede e as sinergias que ela provoca é que emanam esta nova forma de poder”. (ibid.) A narrativa noticiosa, que sempre esteve atrelada à imprensa, que detinha a capacidade de irradiar informação, hoje está em todos os lugares virtuais, que se comportam cada vez mais como mídias cujas produções se dão de forma articulada e cooperativa, cujo produto final é exibido de forma pública e livre (MALINI e ANTOU, 2013, p. 185) Mas a cobertura colaborativa nas redes sociais só se torna um gênero jornalístico quando veicula e mostra em detalhes algum fato alternativo ao que foi veiculado diretamente na imprensa que, por algum motivo, não o pode veicular. (ibid., p. 246) Quem já não acredita no que a grande imprensa diz, busca gente em quem confia para tentar formar uma opinião. (ADLER, 2013, p. 30), já que tornou-se possível narrar os acontecimentos sem a intermediação da mídia tradicional. “Sem levar a fundo questões como a exigência de diploma e de registro jornalístico – no Brasil – para exercício da profissão, cada um, mesmo sem técnica e sem perceber, pode acabar publicando uma verdadeira reportagem”. (CAVALCANTI, 2012, p. 2) As redes sociais deram voz às pessoas que se sentiam sem poder de fala. A Internet se revelou um megaespaço público onde qualquer um tem voz e pode falar por si mesmo (MALINI e ANTOU, 2013, p. 174) e a informação perdeu sua característica unívoca, de relação de um para um, para transformar-se em dado com múltiplos significados e leituras. (FERRARI, 2012, p. 13) De acordo com pesquisa do Reuters Institute for the Study of Journalism (JORNALISMO..., 2013), o Brasil é o país onde mais se acessa redes sociais e blogs e onde há o maior índice de compartilhamento de notícias nessas redes, com 44%, acima de Itália e Espanha. Os brasileiros também se destacam nos comentários de links de notícias nas redes (38%). 4.2 O novo papel do jornalista As narrativas compartilhadas na Internet fazem parte de um movimento social que se recusa a deixar para a mídia tradicional o poder de dizer o que
  • 44. 44 pertence ou não ao acontecimento. (MALINI e ANTOU, 2013, p. 249) Hoje, cada internauta possui o poder de se comunicar, enviar textos e imagens, trocar informações, redistribuí-las, misturá-las a diversos documentos, colocar suas próprias fotos e vídeos na rede, onde massas de pessoas vão vê-las e, por sua vez, discutir, contribuir, e fazê-las circular. (RAMONET, 2012, p. 28) Durante as manifestações populares em todo o Brasil, a imprensa foi também alvo de protestos, acusada de manipulação por muitos. As pessoas viam uma coisa nas ruas e outra coisa diferente na imprensa. Enquanto a mídia tradicional mostrava as cenas do alto de seus helicópteros, pessoas e jornalistas compartilhavam outras imagens das ruas, mostrando especialmente a violência nos confrontos, que quase sempre começava com pequenos grupos de vândalos e se alastrava pela multidão. (FERNANDES e ROSSENO, 2013, p. 20) Internautas questionavam nas redes sociais a razão de parte da mídia tradicional destacar mais a violência do que as manifestações populares pacíficas. Essa discussão percorria a mídia social. (ibid., p. 55) e os manifestantes protagonizam uma grande novidade na cobertura dessas manifestações e na alternativa à mídia tradicional. (LORENZOTTI, 2013) Num processo inverso do que normalmente acontecia, as redes sociais começaram a pautar a mídia tradicional. Com isso, o foco mudou e o poder de escolha passou para as mãos do leitor. Ele é agora o sujeito da ação. (FERRARI, 2012, p. 12) Um dos grandes destaques que simbolizou a emergência de uma mídia da multidão nos protestos em junho e julho de 2013 foi a “Mídia Ninja” (Narrativas Independentes Jornalismo e Ação) que cobriu colaborativamente as manifestações em todo o Brasil (MALINI e ANTOU, 2013, p. 15) Para Lorenzotti (2013) trata-se de uma cobertura com lado, mas quem não tem? Os meios tradicionais de comunicação balançaram. A imprensa estava à mercê das redes sociais e dos manifestantes. A televisão, o rádio e o jornal não tinham mais controle sobre a situação que havia surgido nas mídias sociais. (FERNANDES e ROSSENO, 2013, p. 56) Manifestantes diziam que não precisavam deles para veicular os protestos, porque as redes sociais já haviam feito o papel que eles não fizeram. (ibid., p. 91) “Às experiências de jornalismo participativo dentro dos grupos tradicionais de mídia, somam-se ainda uma infinidade de experiências que atuam de
  • 45. 45 forma independente através de modelo aberto (sem a presença de jornalistas profissionais) ou híbrido (usuários e jornalistas profissionais), inventando um conjunto de novas práticas para a produção noticiosa”. (MALINI e ANTOU, 2013, p. 115) Brambilla (2012, p. 37) diz que é preciso admitir que os leitores podem saber muito mais do que os próprios jornalistas em determinadas pautas. Organizações de mídia hoje estão dispostas a deixar o público ajudar na cobertura dos fatos. (ADLER, 2013, p. 38) A participação de repórteres amadores tem crescido nas seções editoriais, seja com notícias de última hora, flagras, opiniões, comentários em blogs e outras modalidades de colaboração. (FERREIRA, 2012, p. 85) O resultado é que o oligopólio da imprensa tradicional virou uma força a mais – e só – na hora de decidir o que é “notícia” e a importância que vai ter uma matéria ou imagem. (ADLER, 2013, p. 26) “Além de chacoalhar as diferentes instâncias de poder, a moçada do #vemprarua deu um nó na cabeça dos jornalistas”. (SINGER, 2013)
Mas quem se informou sobre as manifestações apenas pelas redes, porém, recebeu um misto de suposições, verdades, mentiras. Quem filtra o todo? O excesso de informação vinda de tantas mídias acabou criando um sentimento chamado por Ramonet (2012, p. 108, 109) de “insegurança informacional”. O chamado ao “leitor jornalista” ou à “testemunha de um evento” o incita a colocar on-line, no website do jornal, em seu blog, suas fotos ou seus vídeos, aumentando o risco de difundir falsas informações. O leitor, o telespectador, o ouvinte ou o internauta não sabe, ao receber uma informação, se ela não vai finalmente se revelar falsa algumas horas mais tarde. (ibid, p. 133) Moretzsohn (2013) acredita que, por tudo isso, os jornais e o jornalismo são cada vez mais necessários. Para Dória (2013), o jornalismo tradicional não morrerá, já que, sem rigor informativo, nenhuma democracia se sustenta. “O jornalista profissional nunca foi tão importante quanto neste modelo de noticiário, produzido por uma variedade tão grande de perfis identitários”. (BRAMBILLA, 2012, p. 33) E “todo projeto colaborativo de produção de informações só pode ser chamado de “jornalístico” se contar com o trabalho de jornalistas profissionais”. (ibid., p. 34) Mas os profissionais precisarão aprender, segundo Ramonet (2012, p. 137) a elaborar de outra maneira as informações para difundi-las sob diversas formas nas redes sociais. Sairá vitorioso quem compreender e souber gerir esse processo de mudança, quem for mais inteligente na disseminação de conteúdos informativos e
  • 46. 46 na busca de parcerias para a criação de novas tecnologias e novos produtos. A mídia é nova e está em mutação, por isso o papel do jornalista é fundamental. (FERRARI, 2012, p. 23) “O que é irreversível no Brasil como no mundo é o empoderamento dos cidadãos, sua autonomia comunicativa e a consciência dos jovens de que tudo que sabemos do futuro é que eles o farão. Móbil-izados”. (CASTELLS, 2012, p. 182)
  • 47. 47 CONSIDERAÇÕES FINAIS O que se pode concluir deste estudo é que a Internet e, mais recentemente, as redes sociais, mudaram a forma de se comunicar. Mais do que isso, mudaram a forma de se fazer jornalismo. E isso, durante as manifestações, foi observado no engajamento e na divulgação dos fatos. As redes sociais possibilitaram, ainda, uma nova forma de mobilização social. Como foi mostrado na parte histórica da pesquisa, muitas manifestações aconteceram antes que houvesse a Internet e todas elas conseguiram mobilizar milhares de pessoas. A diferença agora é como essa mobilização se dá, facilitada pelas novas tecnologias, que permitem um alcance maior num período de tempo menor. Elas favorecem, ainda, a troca de ideias em tempo real e a organização dos atos de uma forma mais otimizada, permitindo que pessoas com os mesmos ideais e objetivos se comuniquem e consigam fazer com que seus pontos de vista cheguem de forma mais rápida e direta a seus amigos que, por sua vez, irão divulgar a novos amigos, criando, assim, uma rede de engajamento, que pode posteriormente se concretizar em um manifesto, como já aconteceu no Oriente Médio, nos Estados Unidos e em diversas cidades do Brasil. Outro ponto a ser destacado é o fato de a Internet ter ampliado as formas de conhecimento das pessoas. Hoje em dia é muito mais fácil se informar, acessar notícias, buscar vídeos ou outras postagens que as complemente. E, na medida em que a informação se tornou mais acessível, aumenta o senso crítico, o que desperta a vontade de lutar para que as coisas sejam diferentes. Mas, como lembrado por diversos autores, as redes não fazem revolução. Quem a faz são as pessoas. As redes sociais e a Internet são apenas um dos meios que ajudam isso a acontecer. As redes sociais estão ajudando, ainda, a mudar a forma como se faz e como se consome jornalismo. Essas mudanças já vêm acontecendo desde o surgimento da Internet. Os textos passaram a contar com diferentes recursos, como vídeos e hiperlinks, para se tornarem mais atrativo para o leitor, já que as possibilidades de formas para se informar, ficaram mais amplas. Já não era mais preciso esperar o horário em que um telejornal vai ao ar, ou o impresso chegar às bancas no dia seguinte, nem mesmo a atualização de um site de notícias.
  • 48. 48 Os blogs pessoais foram outra mudança que a Internet gerou. Qualquer pessoa poderia criar seu próprio espaço virtual para divulgar o que quisesse, desde notícias reproduzidas da mídia, ou mesmo suas próprias notícias. Todas essas mudanças se ampliaram com as redes sociais. E durante as manifestações recentes no Brasil essa nova forma de informar e de se informar ficou bem clara. Mesmo quem não foi para a rua pôde acompanhar cada instante como se estivesse presente, graças aos registros de fotos, vídeos e posts de quem estava nos locais dos protestos. Quem não tinha tempo para acompanhar um telejornal, pôde ter acesso, pelo Twitter ou Facebook, através de seus celulares, à cobertura feita pelos próprios manifestantes, em tempo real. Na contramão do que costumava acontecer, os veículos de comunicação começaram a divulgar notícias que haviam sido publicadas inicialmente nas redes sociais. As narrativas das pessoas foram citadas em diversos jornais e programas de televisão. É claro que é preciso haver um filtro e saber quais dessas informações são verídicas antes de divulgá-las. Ao falar de conteúdo colaborativo, não se está levando em consideração o fato de que um grande número de pessoas, talvez a maioria dos usuários das redes sociais, não serem totalmente politizadas e não terem uma educação política que as torne aptas a serem chamadas de produtoras de conteúdo. Nesses casos, o que ocorreu e continua ocorrendo é uma série de compartilhamentos de notícias falsas, frases não ditas em montagens com fotos de políticos, vídeos antigos postados como se fossem dos acontecimentos atuais, entres outros. Cabe, também, a cada um, saber quais fontes são ou não confiáveis, antes de saírem compartilhando conteúdos falsos. O que se procurou abordar nesse estudo foi, principalmente, como as postagens feitas por quem participou das manifestações noticiaram os acontecimentos, narrando-os diretamente do local em que estavam ocorrendo, publicando depoimentos, emitindo opiniões, ou, ainda, questionando o que havia sido mostrado pela grande mídia e dizendo o que de fato tinha ocorrido. É esse o jornalismo colaborativo e participativo ao qual o trabalho se refere. O jornalista e os grandes veículos, por razões comerciais e/ou ideológica, nem sempre podem ou querem divulgar realmente o que gostariam, enquanto um cidadão tem toda a liberdade de se expressar, colocando seus pontos de vista políticos e se posicionando.
  • 49. 49 Com a Internet e as redes sociais, todas as pessoas que possuem um computador conectado ou mesmo um smartphone com tecnologia 3G, que está a cada dia mais acessível, passaram a ter, também, os meios para fazer isso, de forma a alcançar um número cada vez maior de pessoas. E em determinados acontecimentos inesperados, pode acontecer de não ter nenhum profissional fazendo a cobertura jornalística, mas sim algumas pessoas que passavam pelo local e, munidos de seus aparelhos, conseguiram flagrar momentos que podem se tornar notícia. Por ser um tema ainda muito novo, focado em acontecimentos recentes, é difícil afirmar com certeza como será daqui para frente e que novas mudanças as redes sociais poderão ainda gerar. O que já se sabe é que, com as possibilidades que surgiram para que o jornalismo colaborativo seja exercido, os jornalistas profissionais e os grandes veículos, mesmo os on-line, precisarão estar cada vez mais atentos a todas essas mudanças que a tecnologia trouxe. Além disso, precisarão aprender como usá-las a seu favor, buscando novos ângulos, novos enredos, e novas fontes de conteúdo.
  • 50. 50 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS A ESCALADA dos protestos no Brasil. 2013. Disponível em: <http://www.raquelrecuero.com/arquivos/2013/06/ars-a-escalada-dos-protestos-nobrasil.html> A HISTÓRIA das redes sociais: como tudo começou. 2012. Disponível em: <http://www.tecmundo.com.br/redes-sociais/33036-a-historia-das-redes-sociaiscomo-tudo-comecou.htm#ixzz2g6su5Zlc> ABREU, Sabrina; SILVA, Rene. A voz do Alemão. São Paulo: nVersos. 2013. 184 p. ADLER, Ben. Juventude Transmídia. Revista de Jornalismo da ESPM, São Paulo, Jul.Ago.Set. 2013, p. 24. BEAS, Diego. A rua conectada com a rede. O Globo, Rio de Janeiro, 12 Fev. 2013, Mundo, p. 6. BRAMBILLA, Ana M. Olhares sobre o jornalismo colaborativo. In: CAVALCANTI, Mário L. Eu, Mídia. Rio de Janeiro: OPVS, 2012. cap.3, p 29-44 CASTELLS, Manuel. Não basta um manifesto nas redes sociais para mobilizar as pessoas: depoimento. [3 de junho, 2013]. São Paulo: Folha de São Paulo. Entrevista concedida a Roberto Dias. CASTELLS, Manuel. Redes de indignação e esperança. Rio de Janeiro: Zahar, 2012. 272 p. CASTILHO, Carlos. Prefácio. In: BRIGGS, Mark. Jornalismo 2.0: como sobreviver e prosperar. 2007. 130 p. Disponível em: https://knightcenter.utexas.edu/Jornalismo_20.pdf COHEN, Roger. Os jovens árabes e o poder da rede social. O Globo, Rio de Janeiro, 29 Jan. 2011, Opinião, p. 7. DA INTERNET para o asfalto. Revista Época, São Paulo, n. 787, p. 80, jun. 2013. DÓRIA, Pedro. Mentiras Sociais. Disponível <http://oglobo.globo.com/economia/mentiras-sociais-9498265> em: DOWBOR, Ladislau. Desafios da Comunicação. Edição 2. Rio de Janeiro: Vozes, 2003. 344 p. ESSENFELDER, Renato. Mais jornalismo, por favor. Disponível em: <http://www.observatoriodaimprensa.com.br/news/view/_ed752_mais_jornalismo_po r_favor> FERNANDES, Edson; ROSSENO, Ricardo F. Protesta Brasil: das redes sociais às manifestações de rua. São Paulo: Prata Editora, 2013. 96 p. FERRARI, Pollyana. Jornalismo digital. São Paulo: Contexto, 2012. 128 p.
  • 51. 51 FERRARI, Pollyana. O impacto da hipermídia na democracia digital. In: CAVALCANTI, Mário L. Eu, Mídia. Rio de Janeiro: OPVS, 2012. cap.1, p 5-14 FERREIRA, Paulo H. Jornalismo participativo móvel. In: CAVALCANTI, Mário L. Eu, Mídia. Rio de Janeiro: OPVS, 2012. cap.6, p 83-92 FRAGA, Isabela. Protestos no Brasil acendem debate sobre qualidade da cobertura da grande mídia. Disponível em: <https://knightcenter.utexas.edu/pt-br/blog/0014102-protestos-no-brasil-acendem-debate-sobre-qualidade-da-cobertura-dagrande-midia> GABRIEL, Marta. Manifestações e transformações. Disponível em: <http://idgnow.uol.com.br/blog/plural/2013/06/25/manifestacoes-transformacoes/> GOHN, Maria da Glória M. Teorias dos movimentos sociais: paradigmas clássicos e contemporâneos. São Paulo: Edições Loyola, 2007. 385 p. GOVERNO anuncia diálogo com jovens por meio de redes sociais. G1. 2013. Disponível em: <http://g1.globo.com/politica/noticia/2013/06/governo-anunciadialogo-com-jovens-por-meio-de-redes-sociais.html> IMPRENSA brasileira - dois séculos de história. Disponível <http://www.anj.org.br/a-industria-jornalistica/historianobrasil/arquivos-empdf/Imprensa_Brasileira_dois_seculos_de_historia.pdf> em: JORNALISMO se descola do público e paga o preço.Revista de Jornalismo da ESPM, São Paulo, n. 6, p. 8, Jul.Ago.Set. 2013. LEÃO, Lúcia. O labirinto da hipermídia - arquitetura e navegação no ciberespaço. São Paulo: Iluminuras, 2005. 163 p. LÉVY, Pierre. O que é virtual?. São Paulo: Editora 34, 1996. 160 p. LÉVY, Pierre. Pierre Lévy comenta os protestos no Brasil: depoimento. [26 de junho, 2013]. Rio de Janeiro: Jornal O Globo. Entrevista concedida a André Miranda. LÉVY. Pierre. Cibercultura. São Paulo: Editora 34, 1999. 264 p. LOMBARDI, Augusto. Crowdsourcing: o futuro da comunicação. Disponível em: <http://blog.comuniquese.com.br/Show.aspx?idMateria=tAIDXDnc+8MOgyPc9s5gmA==> LORENZOTTI, Elizabeth. A revolução será pós-televisionada. Disponível em: <http://www.observatoriodaimprensa.com.br/news/view/a_revolucao_sera_pos_televi sionada> LORENZOTTI, Elizabeth. POSTV, de pós-jornalistas para pós-telespectadores. Disponível em: <http://www.observatoriodaimprensa.com.br/news/view/postv_de_pos_jornalistas_pa ra_pos_telespectadores> MALINI, Fábio. Imprensa nas redes sociais: autoridade sem centralidade. Disponível em: <http://www.labic.net/sem-categoria/imprensa-nas-redes-sociais-autoridadesem-centralidade/>
  • 52. 52 MALINI, Fábio; ANTOU, Henrique. A internet e a rua: ciberativismo e mobilização nas redes sociais. Porto Alegre: Sullina, 2013. 278 p. MORETZSOHN, Sylvia D. Redes Sociais, boatos e Jornalismo. Disponível em: <http://www.observatoriodaimprensa.com.br./news/view/_ed751_redes_sociais_boat os_e_jornalismo> MOROZOV, Evgeny. Graças à internet regimes fracos vão morrer mais rápido: depoimento. [26 de fevereiro, 2011]. São Paulo: Revista Época. Entrevista concedida a Letícia Sorg. MOVIMENTOS sociais resumo. Disponível <http://guiadoestudante.abril.com.br/estudar/atualidades/movimentos-sociaisresumo-675966.shtml> em: O GRANDE líder. Revista Istoé, São Paulo, n. 2275, jun. 2013. Disponível em: http://istoe.com.br/reportagens/309017_O+GRANDE+LIDER PERRET, Raphael. Os blogs e a multiplicação das vozes. In: CAVALCANTI, Mário L. Eu, Mídia. Rio de Janeiro: OPVS, 2012. cap.2, p 15-28 PESQUISA revela perfil dos manifestantes brasileiros. Revista Época, São Paulo, 24 jun. 2013. Disponível em: <http://revistaepoca.globo.com//Sociedade/noticia/2013/06/pesquisa-revela-perfildos-manifestantes-brasileiros.html?folder_id=171> PNAD: De 2005 para 2011, número de internautas cresce 143,8% e o de pessoas com celular, 107,2%. Disponível em: <http://saladeimprensa.ibge.gov.br/noticias?view=noticia&id=1&busca=1&idnoticia=2 382> PUCCINI, Henrique. Redes sociais e inteligência de mercado. In: AYRES, Marcel; CERQUEIRA, Renata; DOURADO, Danila; SILVA, Tarcízio (rogas). Mídias Sociais: perspectivas, tendências e reflexões. 2010. 150 p. Disponível em: <http://issuu.com/papercliq/docs/ebookmidiassociais> QUEM são eles? Revista Época, São Paulo, n. 786, p. 34, jun. 2013. RAMONET, Ignácio. Das mídias de massa à massa de mídias. São Paulo: Publisher, 2012. 144 p. RECUERO, Raquel. Redes sociais, capital social e a difusão de informações. In: CAVALCANTI, Mário L. Eu, Mídia. Rio de Janeiro: OPVS, 2012. cap.4, p 45-62 RIBEIRO, Igor. Pesquisa revela que Brasil consome mais notícias online. Disponível em: <http://www.proxxima.com.br/home/negocios/2013/06/26/Pesquisa-revela-queusu-rios-brasileiros-consomem-mais-noticias-online> ROCHA, José Antônio M. Comunidades geoespaciais e o jornalismo digital. In: CAVALCANTI, Mário L. Eu, Mídia. Rio de Janeiro: OPVS, 2012. cap.5, p 63-82 RONAI, Cora. Páginas da revolução. Disponível <http://cronai.wordpress.com/2013/06/22/paginas-da-revolucao/> em:
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