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Final de Século
- 2. - VIRTUDES
- LIMITES
- NESTAS ESQUINAS 2
- REVOLTALHA
- SEM TEMPO PRA SONHAR
- CORPO FERIDO
- RECRIAR NOSSO LAR
- DESABAFANDO
- UM HOMEM
Final de Século 1987 © Paulo Maia. Todos os direitos reservados. 2
- 3. VIRTUDES
Não me conte sua história se me faz chorar
Eu sinto sua glória em seu olhar
O seu sacrifício me fez perceber
Que esse nosso vício é nosso viver
Sua casa é morada da compreensão
Seus atos são verdades de seu coração
A sua vaidade me faz pensar
Que a realidade é de matar
Mas não chore não, a vida não é em vão
Tudo o que nós não queremos ver
É tudo o que queremos entender
Talvez não nos demos conta de nossa dor
Dessa fome tão louca em busca do amor
A água é pura e pura é a flor
Não importa a loucura, importa é seu valor
Não nos deixe por nada sem aproveitar
De tudo que viu, de tudo que sentiu
Viver não é fácil, é acreditar
Na força da palavra sem se machucar
Tudo isso são virtudes ao meu modo de pensar
Pensamentos do meu mundo, tirados do ar
Você me olha e diz: é isso o bastante?
Não se questione mais, pense no instante
Final de Século 1987 © Paulo Maia. Todos os direitos reservados. 3
- 4. LIMITES
Trancado no quarto escuto, os gritos de horror
A escuridão apagou as cenas de amor
E o meu passado esperou
E o meu tempo se acabou
A rosa não se abriu, murchou: acabou-se o instante
Há sempre um vazio no interior dos livros da estante
E a paciência se esgotou
E o mundo todo se entregou
Vivendo e correndo eu vou aprendendo a mentir
Os caminhos que me ensinaram, vivo a omitir
Mas o que me leva é a canção
E o meu corpo é todo vibração
Quando espero algo acontecer, o tédio me dói
As lembranças do meu saber, a cidade constrói
A fonte de energia é meu viver
O futuro poesia, quem vai saber?
E o passado agora, o que importa?
Passou-se ass horas, fecha-se a porta
Final de Século 1987 © Paulo Maia. Todos os direitos reservados. 4
- 5. NESTAS ESQUINAS 2 (O outro lado)
Estive lá e de repente senti que estavam tão felizes
Naquele espaço elegante no meio de tantas meretrizes
E deixava ao acaso, acontecer um fato qualquer
Queriam tanto o prazer de uma bela mulher
E nesse estranho lugar
O mundo é mais que vulgar
Ninguém está para julgar
Um homem faz o seu lugar
Mas toda a euforia não durava mais que alguns abraços
E acabava a rebeldia quando enfim chegava o cansaço
E rola todo o momento em que todos deixam o lugar
Pra elas só o tormento e a vontade de os acompanhar
Nestas esquinas correm perigo as pobres das meninas
Mas ninguém se importa tanto, pois o mundo não é das felinas
Amanhece outro dia em que o sol brilha intensamente
E brilha também as esperanças dessas que buscam um rosto sorridente
Final de Século 1987 © Paulo Maia. Todos os direitos reservados. 5
- 6. REVOLTALHA
1. Acabamos mais uma etapa da nossa missão
Seguiremos pela estrada resgatando a união
E que todo o nosso passado, que passe sem parar
Portanto esse espaço será sempre o nosso lugar
2. Os estúpidos humanóides que vivem da guerra
Pregam a paz com cinismo por toda a face da terra
E no velho além-mar, exclusos aliados, fazem festas
pedem glórias por seu estúpido passado
3. Todo o ar que respiramos, infestado de poeira
Fere o corpo, objeto orgânico, mas tudo isso é besteira
Na planície bem central, sentados os figurões
Tomam seu núcleo social para suas belas decisões
4. E matar para viver torna-se cada vez normal
É impossível ver crescer um objetivo social
A história não tem fim, é um processo constante
E os nossos valores se renovam a todo e a cada instante
E as vozes do povo cantam seus protestos
Na forma de rock’n’roll
Tudo sem mistério, vaga no ministério
Carruagens de fogo, abrindo contra o povo
O pão de cada dia, velha ideologia
Final de Século 1987 © Paulo Maia. Todos os direitos reservados. 6
- 7. SEM TEMPO PRA SONHAR
Estou sentado aqui vendo o sol se pôr
Enquanto o mundo grita toda a sua dor
Os carros passam longe de onde eu estou
Por perto só a grama onde meu corpo repousou
Ah! quem me dera ser livre
Estar de fora de tudo que existe
Mas não tenho tempo pra sonhar
A vã filosofia na qual se acreditou
Acabou com a alegria de tudo que ficou
Todos os nossos valores em dúvida estão
Também nossos conceitos sem raízes no chão
Ah! quem me dera ser mágico
Para acabar com tudo que é trágico
Mas não tenho tempo pra sonhar
Resolvo os meus problemas usando o que sei
De todo esse sistema em que faço a minha lei
E só pra definir, eu vejo o sol nascer
Enquanto o mundo exige o direito de vencer
Ah! quem me dera ser imortal
Acompanhar todo o processo social
Mas não tenho tempo pra sonhar
Sem tempo pra sonhar
Final de Século 1987 © Paulo Maia. Todos os direitos reservados. 7
- 8. CORPO FERIDO
O que eu posso dizer a você ? Tudo é cinza e nada é seguro
Minha vida se prontificou a desenhar todo o meu futuro
Minha promessa de Paz e Espírito, é transporte ao meu pensamento
Dou-lhe todos os meus sentidos: claro, auditivo e atento
É o corpo ferido e nada mais
Faça seu tempo (enquanto há tempo)
Faça viver!
Estou no fim das últimas linhas de mais uma página da minha história
Sentimentos, amores, verdades, fazem parte de toda a memória
Eu conheço todo o infinito que para mim não surpreendeu
É o traço da minha vontade em aceitar tudo o que não é meu
É o corpo ferido e nada mais
Faça seu tempo (se houver tempo)
Faça viver!
Corro, eu morro, eu vivo, eu canto
O mundo precisa de mais um poeta
O discurso é o que importa para toda a minha coleta
Na verdade eu não posso dizer o que sinto nesse universo
Dar sentido a quem entender por mais longe que se esteja perto
É o corpo ferido e nada mais
Faça seu tempo (dentro do tempo)
Faça viver!
Final de Século 1987 © Paulo Maia. Todos os direitos reservados. 8
- 9. RECRIAR NOSSO LAR
É sentindo a solidão que se toma uma decisão
É vendo a flor murchar que resolvemos mudar
As intrigas, as multidões
Nunca saberão das canções
Tirar as portas, fechar os trincos, resistiremos aos instintos?
Há outra alvorada?
Sempre o mesmo estágio e as mesmas pessoas
Precisamos mudar, recriar nosso lar
É buscando o rosto no espelho
Que veremos as marcas do desespero
Dentro nós há um a dizer: Será possível isso acontecer?
É recriando que se percebe os erros que cometemos
Desse oceano tudo se bebe, até o amor que merecemos
Final de Século 1987 © Paulo Maia. Todos os direitos reservados. 9
- 10. DESABAFANDO
Eu já fiquei muito tempo angustiado
Já perdi noites tão longas preocupado
E não percebi que o tempo passou por mim
Nem me deu esperanças de que tudo chegasse ao fim
Foi tão triste
Hoje sinto o clima mais leve, mais sossegado
Apesar das pessoas irritadas, atormentadas
Só o barulho dos carros me traz silêncio
Bebo o veneno tão calmo, tão desatento
Coisa tão normal
Sento à mesa de um bar, tomo cerveja
Nada melhor que fumar toda a inocência
Já assisti muita coisa, ando quebrado
Mas não abro mão dos meus erros tão acertados
Muito bom lembrar
Quando eu amar serei dono dos meus sentimentos
Nada de explorar ou forjar falsos momentos
E quanto à palavra, terá a sua função
Mas não me importa o que eu quero é sentir tesão
Quantas emoções
Agora resgatar todo o tempo perdido em vão
Esperando os milagres que nunca virão
Sei que o falo choca o romantismo
Mas assistimos à queda do otimismo
Muito natural
Final de Século 1987 © Paulo Maia. Todos os direitos reservados. 10
- 11. UM HOMEM
Um homem caminhou demais, sentiu o cansaço, se abateu
Caminhou demais, olhou seu passado e sofreu
Não agüenta mais
Que fim o levou?
Um homem urrou demais, a dor o abalou, caiu
Gritou demais, chorou, secou seus poros
Não agüenta mais
Que fim o levou?
Depois na calmaria recitou dois versos de amor a uma mulher
Sua amada
E declarou paz à vida
Mesmo sem nada a viver!
Um homem que lutou demais, viveu e viveu
Não se esqueceu jamais das grades da ilusão
Da estrada, da paixão
Que fim o levou?
Bebeu o sangue negro de todos os anos e disse não à solidão
Uniu-se à mulher
Mesmo sem nada a viver!
Este homem amou demais e olhou para o futuro e cuspiu
Sonhou demais, morreu mesmo assim, neste fim
Mesmo sem nada a viver!
Final de Século 1987 © Paulo Maia. Todos os direitos reservados. 11
- 12. final de século
Todas as Composições são de autoria de Paulo Maia
São Paulo, Setembro de 1987
1987 © Paulo Maia. Todos os direitos reservados.