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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO SUL
         FACULDADE DE COMUNICAÇÃO SOCIAL




  A INFLUÊNCIA DA MAÇONARIA NO JORNALISMO
   GAÚCHO DO SÉCULO XIX: CORREIO DO POVO




          PEDRO MARQUES DO NASCIMENTO




                     Porto Alegre
                         2004
A INFLUÊNCIA DA MAÇONARIA NO JORNALISMO  GAÚCHO DO SÉCULO XIX: CORREIO DO POVO
PEDRO MARQUES DO NASCIMENTO




A INFLUÊNCIA DA MAÇONARIA NO JORNALISMO
 GAÚCHO DO SÉCULO XIX: CORREIO DO POVO




                        Trabalho de conclusão, curso de Jornalismo,
                        Faculdade dos Meios de Comunicação Social,
                        Pontifícia Universidade Católica do Rio
                        Grande do Sul.




        Orientador: Prof. Celso Schröder




                  Porto Alegre
                     2004
PEDRO MARQUES DO NASCIMENTO




 A INFLUÊNCIA DA MAÇONARIA NO JORNALISMO
  GAÚCHO DO SÉCULO XIX: CORREIO DO POVO




                               Trabalho de conclusão, curso de Jornalismo,
                               Faculdade dos Meios de Comunicação Social,
                               Pontifícia Universidade Católica do Rio
                               Grande do Sul.


Aprovado em 30 de novembro de 2004, pela Banca Examinadora.


                  BANCA EXAMINADORA:


              ___________________________
              Prof. Celso Schröder - Orientador


              ___________________________
             Prof. Dr. Juremir Machado da Silva


              ___________________________
              Prof. Dr. Antonio Carlos Hohlfeldt
AGRADECIMENTOS



     - A minha esposa, que esteve ao meu lado nas horas de estresse e

desespero.


     - Ao meu orientador, professor Celso Schröder, que apostou no meu

trabalho, mesmo sabendo das dificuldades para a realização do mesmo.


     - A todos que, direta ou indiretamente, ajudaram na confecção deste

trabalho.
SUMÁRIO



INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 7

1 MAÇONARIA, SOCIEDADE E PODER ................................................................. 9
1.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS ............................................................................... 9
1.2 ORIGENS DA MAÇONARIA.................................................................................10
1.3 A INFLUÊNCIA MAÇÔNICA EM QUESTÕES POLÍTICAS ...............................13
1.4 PEDREIROS-LIVRES NO RIO GRANDE DO SUL .............................................15
1.4.1 Maçonaria, sociedades secretas e Revolução Farroupilha.........................17
1.4.2 As relações entre a maçonaria e a Igreja Católica no Rio Grande do Sul no
     século XIX..........................................................................................................19
1.4.3 A solidariedade interna maçônica: o auxílio mútuo protegendo os
     pedreiros............................................................................................................21

2 AS RELAÇÕES ENTRE JORNALISMO E PODER...............................................24
2.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS................................................................................24
2.2 O PAPEL DO JORNALISMO COMO EDUCADOR COLETIVO..........................24
2.3 PODER, APARELHOS IDEOLÓGICOS E JORNALISMO ..................................27

3 JORNALISMO COMO OCUPAÇÃO PREFERENCIAL DOS PEDREIROS-LIVRES
  GAÚCHOS...............................................................................................................31
3.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS .............................................................................31
3.2 OS MAÇONS E SUA ESCOLARIDADE ..............................................................31
3.3 OCUPAÇÕES INTELECTUAIS E CULTURAIS DOS MAÇONS GAÚCHOS .....33
3.4 A UTILIZAÇÃO DA IMPRENSA POR PARTE DOS INTEGRANTES DA
    MAÇONARIA ........................................................................................................35
3.4.1 A Imprensa maçônica de língua alemã no Rio Grande do Sul...................38

4 CORREIO DO POVO E AS RELAÇÕES COM A MAÇONARIA...........................45
4.1 CALDAS JR. E A SUA LIGAÇÃO MAÇÔNICA ..................................................45
4.2 MATÉRIAS DE INTERESSE MAÇÔNICO NO CORREIO DO POVO.................47
4.3 CORREIO DO POVO E O MAÇONISMO APÓS A MORTE DE SEU
    PATRIARCA..........................................................................................................50

CONSIDERAÇÕES FINAIS........................................................................................55


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS E LOCAIS DE PESQUISA..............................59
RESUMO



        Este trabalho apresenta uma parte da trajetória do jornal gaúcho Correio do
Povo e as relações entre seu fundador e a maçonaria, assim como possível ligação
desta no periódico. História do Rio Grande do Sul, da maçonaria gaúcha e do
periódico fazem parte da narrativa, que tenta explicar a relação entre as duas
instituições que têm mais de cem anos de história. As relações entre o poder e o
jornalismo também são abordados. São tratados ainda a abrangência dos meios de
comunicação, como modo de diminuir o controle exercido por outras instituições.


Palavras-chave: Correio do Povo - Maçonaria - Caldas Júnior
ABSTRACT



        This work presents a part of the gaucho newspaper Correio do Povo's
trajectory and the relationships between his founder and Freemasonry as well as its
participation in the newspaper. Rio Grande do Sul, freemasonry e newspaper's
history are part of the narrative which tries to explain the connection among the two
institutions, which have more than a hundred years of history. The relationships with
the newspaper's founder and the freemasonry are fundamental to understand if there
are clues of institution's participation in the journal. The work is an attempt to
explaining the masonic influence in the journal whiz is considered the first impartial
newspaper of the state.


Key-words: Correio do Povo - Freemasonry - Caldas Júnior
INTRODUÇÃO



     Este trabalho foi realizado com o intuito de se estudar a influência da

maçonaria gaúcha da segunda metade do século XIX na imprensa do Rio Grande do

Sul, em especial, o Correio do Povo do mesmo período. O jornal teve como seu

fundador um maçom respeitado e admirado dentro da Ordem. Essas relações entre

jornalismo e maçonaria que Caldas Júnior possuía dá margem para uma

averiguação histórica de indícios de seu papel nesses dois assuntos que permeiam

as relações de poder da época e se ele os usava como formas paralelas de poder.


     O trabalho inicia com as origens da maçonaria e os fatos lendários que

perpassam a mesma; a influência da instituição em questões políticas, a chegada

dos pensadores maçons no Estado, a participação da ordem na Revolução

Farroupilha; o seu caráter secreto e a desconfiança dos clérigos que viam com

desprezo àqueles homens com idéias liberais, racionalistas, positivistas e, deveras,

anticlericais. Por essa razão de desconfiança, os maçons criaram meios de

proteção. Além dos sinais secretos, o mais conhecido entre os profanos, era a

solidariedade interna maçônica: o auxílio mútuo entre os pedreiros-livres que

caracteriza a Ordem.


     A seguir, são debatidas as relações entre o jornalismo e as esferas do poder. O

papel que o jornalista desempenha, ao mesmo tempo, informante das mazelas da

população e dos danos, ocasionalmente, causados pelo Estado. O jornalista educa e
8


ensina as camadas mais humildes da sociedade, devido aos problemas do ensino

pedagógico e de outros fatores. A ideologia usada como meio de dominação

também é tratada nesta parte do trabalho.


     Além disso, são apresentados o grau de escolaridade de alguns dirigentes

maçons, do período delimitado no trabalho, e suas profissões, mostrando indícios da

ocupação cultural preferencial dos obreiros. A imprensa maçônica de língua alemã

no Rio Grande do Sul está em destaque neste trecho da monografia, bem como a

utilização dos jornais, maçônicos ou não, como em alguns casos, porta-vozes da

Ordem.


     Vestígios das relações do Correio do Povo com a maçonaria, da segunda

metade do século XIX, são analisados no decorrer do trabalho. Também a condição

de maçom de Caldas Júnior e os seus feitos, realizados enquanto membro vivo da

Ordem. Indícios de notícias relacionadas à Instituição publicadas no Correio do

Povo, enquanto em vida de seu fundador. Também, após a morte de seu patriarca

são revelados sinais de matérias relativas à maçonaria e assuntos relevantes para a

Ordem. Essa, que tem mais de 300 anos de história comprovada cientificamente, e

mais de mil em fábulas e lendas a respeito da mesma e seu passado nebuloso.


     Para a obtenção de informações de dirigentes maçons e da Ordem, no Rio

Grande do Sul, foi necessária uma pesquisa em documentos históricos e atas dos

templos e lojas maçônicas. A metodologia usada utilizou-se da Técnica da Pesquisa

Bibliográfica e Técnica de Pesquisa Documental. Um trabalho com embasamento na

história do Rio Grande do Sul, da maçonaria gaúcha e na história do Correio do

Povo.
1 MAÇONARIA, SOCIEDADE E PODER




       1.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS


     No decorrer deste capítulo, são abordadas as relações de poder da maçonaria

com a sociedade, durante o século XIX, e sua influência em fatos históricos no país.

Um desses fatos, que teve a participação da Ordem, foi a Revolução Farroupilha.


     Nas palavras de Eliane Colussi:


                             No Rio Grande do Sul, muitos foram farroupilhas em 1835, e alguns
                      lutaram ao lado das forças legalistas; em 1893, alguns aderiram às forças
                      revolucionárias, aos maragatos, e muitos, a maioria, foram cooptados pelo
                      castilhismo positivista1.



     A presença da maçonaria no Brasil, durante o século XIX foi marcada por uma

forte atuação política, principalmente na sua primeira metade do século e, mais

tarde, por uma atuação no campo do pensamento liberal e cientificista, na sua

segunda metade. Assim, no período de abrangência deste trabalho, a importância

da ordem maçônica está vinculada especialmente à divulgação e propaganda do

anticlericalismo, utilizando a imprensa como porta-voz dos discursos maçônicos.




1
COLUSSI, Eliane. Plantando ramas de acácia: a maçonaria gaúcha na segunda metade do século
XIX. Porto Alegre, 1998, p. 249.
10


       1.2 ORIGEM DA MAÇONARIA


     Os historiadores maçons pesquisados não são unânimes, quando se trata de

analisar as origens da instituição, ocorrendo freqüentemente uma fusão de fatos

lendários com fatos reais para se dar conta de tal questão.


     Para a historiadora F.A.Yates:


                                     A origem da maçonaria é um dos assuntos mais discutidos, e
                              discutíveis, em todo o campo da investigação histórica. Temos que
                              diferenciar entre a história lendária da maçonaria, e o problema de
                              quando ela realmente foi iniciada como uma instituição organizada.
                              De acordo com a lenda maçônica, a maçonaria é tão antiga quanto a
                              própria arquitetura, retrocedendo até a construção do Templo de
                              Salomão, e às corporações dos maçons medievais que construíram
                              as catedrais. [...] Na mitologia maçônica, a autêntica antiga sabedoria
                              estava encerrada na geometria do Templo construído por Salomão
                              com auxílio de Hiram, rei de Tiro. Constava que o arquiteto do
                              Templo foi um certo Hiram Abif, cujo martírio compõe o tema do
                              estatuto simbólico do ritual maçônico2.



     Todavia, grande parte dos historiadores concorda que as feições da maçonaria

moderna remontam a 1717, marco da formação da Grande Loja de Londres, que

converteu a Ordem em uma espécie de escola de formação humana de caráter

cosmopolita e secreto, reunindo homens de diferentes raças, religiões e línguas,

com o objetivo de alcançar a perfeição por meio do simbolismo de natureza mística

e/ou racional, da filantropia e da educação3. Neste período, a maçonaria abandonou

sua origem ligada às velhas confrarias de pedreiros da época medieval, permitindo a

admissão de novos elementos, sem a obrigatoriedade de serem ligados às

corporações de ofício ou às sociedades de construtores. Os mesmos foram

denominados de “maçons aceitos”4.

2
 YATES, Frances Amelia. O Iluminismo Rosa-Cruz, Paris: Dervy, 1996, p. 269-70.
3
 BENIMELI, J.A Ferrer. A Inquisição frente a Maçonaria e o Iluminismo. São Paulo: Paulinas,
1983.
4
 BARATA, Alexandre Mansur. Luzes e Sombras: a ação dos pedreiros-livres brasileiros (1870-1910).
Niterói: Universidade Federal Fluminense, 1992, p. 29.
11


     Em 24 de junho de 1717, quatro lojas de Londres, cujos nomes derivam das

tabernas onde se reuniam, O Pato e a Grelha, A Coroa, A Macieira e O Copo e as

Uvas, construíram uma organização unificada sob o nome de Grande Loja de

Londres, e elegeram um grão-mestre com autoridade sobre todos os membros da

Ordem. Um ano mais tarde, foi iniciado um trabalho de todos os escritos que

interessavam à maçonaria, sendo publicado, em 1723, o livro das Constituições de

James Anderson que continha, ao mesmo tempo, a história lendária da instituição e

seus preceitos básicos.


     Naquele mesmo período, foi admitido um grande número de indivíduos

pertencentes à alta nobreza inglesa, e instaladas novas lojas. Este crescimento

chegou a ponto de, em 1730, existirem 100 oficinas filiadas à Grande Loja de

Londres. Estas oficinas passaram a identificar a organização maçônica como uma

sociedade de pensamento, fundamentada na defesa do racionalismo, da tolerância e

marcada por um caráter não confessional5.


     Segundo Alexandre Mansur Barata, entretanto, algumas lojas reagiram às

transformações    operadas     pelas    lojas   londrinas.   Estes       núcleos   refratários

constituíram, em 1751, a Grande Loja dos Antigos Maçons. Esta divergência de

opiniões perdurou até 1813, data em que as duas Grandes Lojas fundiram-se e

formaram a Grande Loja Unida da Inglaterra, que passou a advogar, desde então, o

estatuto da Loja Mãe da Maçonaria Universal6.


     O rápido crescimento da instituição não se limitou ao território inglês. Apesar

das perseguições por parte dos governos e da Igreja Católica, causada pelo caráter



5
NEVILLE, B. Cryer. A Maçonaria e maçons. London: Logman, 1987, p. 102.
6
BARATA, Alexandre Mansur. Op. cit., p. 30.
12


secreto e não católico da associação, ela se difundiu por toda a Europa e pelo

continente americano.


     Contudo, essa expansão não ocorreu de modo uniforme, sendo de menor

intensidade nas regiões onde o poder do aparato persecutório da Igreja Católica era

incontestável, como em Portugal e na Espanha. Isso porque, desde setembro de

1738, duas décadas após a formação da Grande Loja de Londres, o papa Clemente

XII, na sua carta apostólica In Eminenti, instituiu a primeira condenação pontifícia da

maçonaria. Em 1751, o papa Bento XIV reforçaria esta condenação, com a

Constituição Apostólica Providas.


     Empenhada na preservação de seu status quo cultural e confessional, a Igreja

estava atenta ao crescimento do número de lojas maçônicas no continente europeu.

Segundo Barata, a preocupação da Igreja estava no fato de que essas lojas

exerciam um certo atrativo sobre setores importantes da nobreza e da burguesia, ao

veicular idéias que ameaçavam a sua hegemonia, como a tolerância religiosa e o

racionalismo. Assim, desde meados do século XVIII, a maçonaria tornou-se

sinônimo de perigo para a segurança da Igreja e dos Estados católicos, devido à

sensação de insegurança que sentia a Igreja Católica e o Estado.


     No que diz respeito à forma de penetração da maçonaria em determinados

países, não foi uniforme.


     Segundo Barata,


                              se na Inglaterra ficou evidente uma maior aliança com o Estado, isso
                       não ocorreu nos países latinos, onde a perseguição intensa fez com que a
                       Maçonaria assumisse uma posição mais identificada com a luta pela
                       liberdade de pensamento e contra o absolutismo monárquico, geralmente
                       aliado à Igreja7.
7
BARATA, Alexandre Mansur. Op. cit.,p. 31.
13


     Para o historiador, essas considerações exemplificam a necessidade de

romper com a perspectiva de análise, tão característica do senso comum, que se

baseia em uma visão monolítica da realidade maçônica.



       1.3 INFLUÊNCIA MAÇÔNICA EM QUESTÕES POLÍTICAS


     A influência da maçonaria na esfera da política é mencionada com uma quase

naturalidade. Em certa medida, o senso comum relaciona maçonaria e política, a

partir da idéia propagandeada por muito tempo por “autores maçons e antimaçons,

que supervalorizaram uma possível influência da instituição nesse âmbito”8. A

tradição de explicar a participação maçônica a partir da tese do padre Augustin

Barruel, revelado na análise da Revolução Francesa de 1789, pode ser assim

sintetizado:

                              O ex-jesuíta procura demonstrar que o terremoto político de 89 foi a
                       resultante de uma conjura monstro, em que a incredulidade, a rebelião e a
                       anarquia trabalharam em conjunto. E na exposição do esforço conspiratório,
                       apresenta-nos de mãos dadas os enciclopedistas, os maçons e os
                       iluminados da Baviera. Barruel fez escola nas fileiras contra-revolucionárias,
                       quanto à responsabilização da maçonaria (em curso com o filosofismo)
                       pelo avanço das forças ‘subversivas’ no século XVIII [...]. Importa
                       acrescentar, no entanto, que, responsabilização da maçonaria à parte, a
                       denúncia e exorcizarão do liberalismo não foi apanágio dos círculos
                       ‘apostólicos’ e legitimistas. Cooperaram nela homens intelectualmente de
                       esquerda, senão até afetos ao maçonismo9.



     Barata, analisando a participação de maçons junto ao parlamento brasileiro e

em postos da administração pública no período de 1870 a 1910, constatou que ela

foi bastante expressiva. Segundo os dados apresentados:


                             Durante o segundo Reinado, uma análise da relação dos 85 nomes
                       que compuseram os gabinetes ministeriais, entre 1870 e 1889, revelou que
                       aproximadamente 13% deles pertenciam ou pertenceram à Maçonaria. Já
                       no Conselho de Estado este percentual aumentava para 30% dos 48

8
 BARATA, Alexandre Mansur. Op. cit.,p. 78.
9
 DIAS, Graças. Os primórdios da maçonaria em Portugal. Lisboa: Imprensa de Coimbra, 1980, p.
156-57
14

                        Conselheiros no mesmo período, por sua vez, a relação dos 77 senadores
                        vitalícios das seis províncias mais importantes do império – Rio de Janeiro,
                        Minas Gerais, Rio Grande do Sul, São Paulo, Bahia e Pernambuco –
                        revelou um percentual aproximado de 21% de maçons10.



      Para o mesmo autor, essa realidade se repetiu no período da República Velha,

quando a primeira geração de republicanos possuía um contato estreito com a

ordem maçônica. Apesar de não apresentar os dados, a respeito dessa conclusão, o

autor, relaciona o nome de vários republicanos identificados como maçons.


      No Rio Grande do Sul, “os maçons participaram ativamente dos círculos

políticos e das relações de poder visto que se constituía numa província, depois

estado, periférica e de pouca expressão política nacional”11.


      Para Colussi,


                               a origem social dos integrantes da maçonaria esteve ligada à elite
                        econômica regional, ou pela fortuna e patrimônio familiar, ou pela ocupação
                        profissional. Da mesma forma, a perspectiva política apontou para uma forte
                        presença desse grupo também na composição da elite política regional12.



      A expressiva participação de dirigentes maçons, principalmente na esfera

regional e local da política parlamentar no Rio Grande do Sul, demonstra uma

proximidade e intimidade no âmbito das relações de poder.


      A autora revela que a maçonaria pode ter influenciado de duas maneiras a

política brasileira e, posteriormente, a gaúcha.

                              Por meio de um tipo de poder indireto exercido por dirigentes maçons
                        e pelo poder simbólico representado pela instituição. No primeiro caso,
                        como o maçonismo não pressupõe um projeto político mais ou menos
                        uniforme para a sociedade nem um conjunto de teses filosóficas e políticas
                        acabadas, como, por exemplo, o positivismo, seria difícil afirmar o que
                        exatamente pretendiam maçons-políticos. O poder indireto que
                        circunscreveu a ordem, pelo menos no Rio Grande do Sul, esteve
10
  BARATA, Alexandre Mansur. Op. cit., p. 164.
11
  COLUSSI, Eliane. Op. cit., p.281.
12
  Ibidem, p. 281.
15

                      relacionado às facilidades, benefícios e privilégios que seus membros
                      adquiriam estando próximos à burocracia estatal e sendo integrantes da
                      elite política parlamentar13.



     No caso gaúcho, numa economia periférica e agropecuarista, portanto pouco

urbanizada no período, isso significava maiores facilidades na obtenção de rendas

suplementares, ou até mesmo principais, em muitos casos. Assim, a par de que

muitos políticos, independentemente da condição de maçons, alcançariam posições

importantes no cenário regional e alguns poucos na política nacional, a maioria

deles, principalmente os da esfera municipal, dependia, muitas vezes, dessas

posições. A maçonaria, por meio da solidariedade interna, era um meio auxiliar para

que obtivessem tais benefícios.



      1.4 PEDREIROS-LIVRES NO RIO GRANDE DO SUL


     A introdução da instituição maçônica no Rio Grande do Sul de forma

organizada e regular ocorreu somente a partir da década de 1830. Como no restante

do Brasil, a presença de sociedades políticas e/ou literárias, muitas delas de caráter

secreto, aliada à difusão de órgãos de imprensa, comprometidos com o ideário

iluminista e liberal, portanto de caráter político, geraram as condições para as

primeiras iniciativas que resultariam na instalação de lojas maçônicas na Província14.


     O atraso do movimento maçônico no estado pode estar vinculado às

características próprias de um espaço geográfico incorporado tardiamente ao

território nacional. O Nordeste litorâneo e o Centro-Sul minerador não só




13
 COLUSSI, Eliane. Op. cit., p. 282.
14
 REVERBEL, Carlos. Evolução da imprensa rio-grandense (1827-1845). Porto Alegre: Sulina,
1968, p. 256-57.
16


concentraram as principais atividades econômicas como também receberam as

repercussões de movimentos políticos e culturais que abalariam os laços coloniais15.


     Segundo Colussi, na época da germinação da maçonaria no Estado, ficou

evidenciado o atraso cultural que determinou a chegada tardia da Ordem em terras

gaúchas16. O clima de agitação e efervescência política e cultural vivenciado por

nordestinos, mineiros e cariocas, receptores das influências ideológicas vinda da

Europa, principalmente do ideário iluminista francês, não envolveu de imediato “a

singular elite regional”17.


     Nesse sentido, entre as razões do retardamento da chegada regular da

maçonaria ao Rio Grande do Sul, estão relacionadas as dificuldades da elite regional

em se integrar à elite política nacional. José Murilo de Carvalho apresenta um

argumento da pequena representatividade dos gaúchos no cenário nacional durante

o Império brasileiro.




     Segundo Carvalho,


                              as únicas unidades importantes com considerável déficit de
                        estudantes em relação à população são: o Rio Grande do Sul e São Paulo.
                        No caso de São Paulo, o fato foi compensado pela proximidade com o Rio
                        de Janeiro e, para efeito de seu comportamento durante o processo de
                        independência, pela presença de figuras dominantes como José Bonifácio.
                        No que se refere ao Rio Grande do Sul, a relativa ausência de gaúchos em
                        Coimbra foi certamente uma razão adicional para o isolamento da província
                        e seu sempre problemático relacionamento com o governo central18.



1.4.1 Maçonaria, sociedades secretas e Revolução Farroupilha
15
  COLUSSI, Eliane. Op. cit., p. 152.
16
  Ibidem, p. 156.
17
  FÉLIX, Loiva Otero. Coronelismo, borgismo e cooptação política. Porto Alegre:
Universidade/UFRGS, 1996, p. 34-44.
18
  CARVALHO, José Murilo de. A construção da ordem: a elite política imperial; Teatro de Sombras:
a política imperial. 2. ed. Rio de Janeiro: UFRJ: Relume-Dumará, 1996, p. 132-33.
17


     A primeira loja maçônica instalada no Rio Grande do Sul de forma regular de

que se tem notícia foi a Filantropia e Liberdade, fundada em 25 de dezembro de

1831, na cidade de Porto Alegre.


     Um indicador de que a maçonaria se fez presente na Revolução Farroupilha -

senão como articuladora ou como organizadora, ou menos como fonte de inspiração

- é a existência de alguns documentos maçônicos que dão conta de algum tipo de

relacionamento. A incumbência que recebeu o líder Bento Gonçalves de regularizar

e filiar lojas e maçons nos locais percorridos pelos revolucionários é um exemplo.

Em relação a isso, foi localizada uma ata da primeira loja instalada regularmente na

Província, a Filantropia e Liberdade, de Porto Alegre, datada de 24 de fevereiro de

1833, registra:

                             Resolvemos conferir ao Ir... SUCRE, C... R... + ..., profanamente Bento
                      Gonçalves da Silva, os poderes em direito necessários a promover, por
                      todos os modos possíveis, a execução dos artigos seguintes: Art. 1º -
                      Procurará instalar na Vila do Rio Grande ou São Francisco de Paula, um
                      quadro Maç... filiado ao Or... de Porto Alegre. Art. 2º - Fará subir ao
                      conhecimento da Aug... Loj... o regulamento e rituais Maç... por que se
                      regeram. Art. 3º - Proverá a eleição de um Ir... que deve representar a Loj...
                      na qualidade de seu representante junto a Aug... Loj... devendo a Loj... muni-
                      lo de plenos e amplos poderes19.



     A incumbência recebida por Bento Gonçalves, comprovada por um documento

de uma loja regular, revela a preocupação de ser intensificada a atividade maçônica

através de contatos com o interior do estado.


     Assim, o movimento farroupilha contribuiu para a expansão de um tipo de

pensamento que aproximou parcela da elite regional à causa maçônica; de outro

modo, esse mesmo movimento impediu uma expansão maior, no sentido de

possibilitar estruturas maçônicas devidamente legitimadas por corpos maçônicos


19
 DIENSTBACH, Carlos. A maçonaria gaúcha – história da maçonaria e das lojas do Rio Grande
do Sul. Londrina: A Trolha, 1993, p. 479.
18


superiores. A fragilidade em termos de formação maçônica mais intelectualizada,

mais próxima dos padrões de princípios, rituais e símbolos, marcou essa fase da

história da maçonaria e correspondeu também ao clima político que se desenvolveu

na pós-revolução. Assim, nessa fase, um aspecto que deve ser ressaltado é o da

indefinição entre os grupos políticos nos quais a elite dominante local esteve

envolvida. Nesse sentido, o quadro político é importante, pois a atividade maçônica

esteve estreitamente vinculada à esfera da política, e os maçons, via de regra, eram

recrutados no grupo social dominante.


     É Importante assinalar, nesse contexto, a presença de maçons em ambos os

lados do conflito. Os posicionamentos contraditórios, nesse caso, irão aparecer em

outros momentos da história política do Rio Grande do Sul. No caso da Revolução

Farroupilha, para Colussi,


                                a unidade de pensamento político nunca se constituiu em
                         característica da atuação da maçonaria em qualquer tempo e espaço; ao
                         contrário, esse aspecto esteve sempre presente como demonstração de que
                         os princípios maçônicos de conferir liberdade de pensamento e de religião
                         aos seus membros foram, de fato, absorvidos pela instituição20.



1.4.2 As relações entre Maçonaria e a Igreja Católica no Rio Grande do Sul no

     século XIX


     A presença da maçonaria no Brasil, durante o século XIX, foi marcada por

fortes atuações políticas, principalmente na sua primeira metade e, mais tarde, no

campo do pensamento liberal, na sua segunda metade. Assim, a importância da

ordem maçônica esteve vinculada especialmente à divulgação e à propaganda do

anticlericalismo. As permanentes cisões entre os organismos maçônicos nacionais e

regionais, que geraram diversos grandes orientes e supremos conselhos, em fases
20
 COLUSSI, Eliane. Op. cit., p. 183.
19


diferentes da história da maçonaria brasileira, não impediram que, do ponto de vista

ideológico, o anticlericalismo se tornasse o seu ponto unificador.


     O polêmico e conturbado relacionamento entre maçonaria e Igreja Católica

desde o século XVIII, em termos internacionais, quando das primeiras condenações

pontificiais, agravou-se no transcorrer do século XIX. No Brasil, o conflito entre as

duas instituições foram mais intensos entre as décadas de 1870 e 1910. Nesse

período, e especialmente antes da proclamação da República, em 1889, Igreja

Católica e maçonaria foram protagonistas de uma questão de fundo que envolvia o

Império brasileiro: a questão religiosa e o debate em torno da separação

Estado/Igreja. Roque Spencer de Barros inseriu essa questão conjuntural em um

processo mais amplo: o confronto entre as diferentes matrizes do pensamento

brasileiro do século XIX e início do século XX.


     Nesse sentido, a intelectualidade brasileira poderia ser dividida em três

vertentes que estavam em consonância com o ideário europeu: o embate entre o

pensamento católico-conservador, e os pensamentos liberal e cientificista21.                     O

conservadorismo político e o ecletismo intelectual não impediram que a elite política

e intelectual brasileira fosse, em sua maioria, receptora e divulgadora do liberalismo

e do cientificismo, uma herança da influência do pensamento francês no Brasil. Por

sua vez, o pensamento católico-conservador conquistou poucos espaços e

defensores entre a intelectualidade e políticos do Império. Na opinião de Antônio

Carlos Villaça,

                             não tivemos pensamento católico no Brasil, nem ao longo dos dois
                       séculos de influência escolástica, nem muito menos ao longo do século XIX,
                       de presença quase exclusivamente francesa até a publicação dos “Estudos
                       Alemães”, em 1882, com que Tobias Barreto abre o período de influência
                       germânica na cultura brasileira22.
21
 BARROS, Roque. A ilustração brasileira e a idéia de universidade. Difel. 1985, p. 50-60.
22
 VILLAÇA, Antônio Carlos. O pensamento católico no Brasil. Rio de Janeiro: Zahar, 1984, p. 10.
20


     Em outras palavras, no século XIX, mesmo com a confirmação da religião

católica como oficial na Constituição de 1824, um dos conflitos permanentes foi

exatamente entre o Estado e a Igreja Católica. Tal conflito tomaria novas dimensões

a partir da questão religiosa de 1872 e seria resolvido, definitivamente, com a

separação dessas instituições no advento da República. Na origem dessa situação,

esteve a contradição de o Brasil ser um país oficialmente católico e, por outro lado,

de ter se gerado uma classe dirigente - políticos e intelectuais - e um estado cada

vez mais secularizado. Entre esses políticos e intelectuais se encontravam os

maçons que pressionavam o Império brasileiro nas questões anticlericais.


     No Brasil do século XIX, a Igreja Católica não se constituía numa instituição

estruturada e presente em todo o território nacional; ela era frágil, desorganizada e

desvinculada das necessidades de uma população católica, na realidade, pouco

afeita às suas práticas religiosas.

     No Rio Grande do Sul, a situação do catolicismo era grave, visto que a tardia

colonização portuguesa, o isolamento e o abandono por parte da administração

eclesiástica e a subordinação a uma diocese distante, fragilizavam ainda mais as

práticas religiosas e as convicções católicas. No mesmo século, o XIX, nas décadas

de 1830 e 1840, a maçonaria gaúcha deu seus primeiros passos, consolidando-se a

partir da segunda metade, em praticamente todos os vilarejos e cidades gaúchas. O

crescimento irregular da maçonaria, a partir de 1850 não impediu, no entanto, que

ela se tornasse uma instituição com influência na sociedade gaúcha daquele

período.


     Aliados e integrantes dos grupos políticos e intelectuais liberais, os maçons

adquiriram prestígio e influência em várias esferas da política e da vida social no Rio
21


Grande do Sul. A fragilidade da Igreja Católica, tanto em nível nacional quanto

regional, conferiu expressão a esses grupos liberais e maçônicos, especialmente na

formação e divulgação de um tipo de pensamento predominantemente laico,

anticlerical e racionalista nos meios políticos e intelectuais, no caso da imprensa.

Nessa perspectiva, a política de romanização católica, implementada a partir do

papado de Pio IX, tentou reverter o quadro do catolicismo mundial no embate direto

com o liberalismo e com a maçonaria.




1.4.3 A solidariedade interna maçônica: o auxílio mútuo protegendo os

      pedreiros


     A filantropia interna maçônica ou auxílio mútuo é também uma finalidade

intrínseca das atividades maçônicas. Quando há a presença maçônica na esfera

política, a capacidade de indicar ou nomear maçons para cargos burocráticos ou

políticos gerava uma clara zona de influência maçônica. A esse poder indireto

agregava-se a nomeação para cargos como um fator de sobrevivência para os

mesmos. O auxílio mútuo serviu também como instrumento de cooptação de novos

membros e de consolidação do seu quadro de filiados, visto que a perspectiva de

alguma garantia, ou benefício material ou financeiro servia, em muitos casos, como

convencimento para que novos iniciados ou maçons se mantivessem na instituição.


     Para Barata,
22

                               na realidade, o ideal de fraternidade, traduzido na prática da
                        solidariedade e da beneficência, traz consigo uma dinâmica equalizadora,
                        na medida em que ele deve ser estendido a todos os homens. A todos os
                        irmãos. Busca-se, através dele, estabelecer a igualdade real e não apenas
                        jurídica entre os homens, acrescentando aos direitos individuais um direito
                        social. Contudo, para os maçons, a fraternidade não pode existir apenas
                        nas palavras, pois a solidez da instituição encontra-se justamente na
                        solidariedade entre seus membros. O conteúdo afetivo intrínseco ao
                        juramento de fraternidade fortalece os laços de estreita união, dando aos
                        maçons um sentimento de segurança e de força23.



     No transcorrer do século XIX, ainda não havia sido criado no Brasil um projeto

de auxílio mútuo maçônico de forma organizada, sistemática e eficiente; o que

existia eram iniciativas e ações espontâneas, que se desenvolviam de acordo com

determinadas situações. Até aquele momento, a maior parte das preocupações

dirigia-se aos irmãos empobrecidos por falência ou desemprego, assim como às

viúvas e órfãos. Exemplos dos moldes da solidariedade interna no período estão

noticiados na imprensa maçônica: em Pelotas, ocorrera o falecimento de José

Monteiro, antigo membro da loja Comércio e Indústria, que estava na miséria,

quando a loja pagara todas as despesas com o funeral24.


     As ações isoladas de auxílio mútuo se dirigiam, preferencialmente, às viúvas e

filhos de maçons. A coleta de donativos entre membros da loja à qual pertencia o

morto, muitas vezes apelando-se também para donativos de outras oficinas,

objetivava solucionar os problemas imediatos causados pelo falecimento: as dívidas

com médicos e medicamentos, o pagamento de outras dívidas, a manutenção da

família e, em muitos casos, a compra de um imóvel para a viúva.




23
 BARATA, Alexandre Mansur. Op. cit., p.161-62.
24
 A Acácia-folha maçônica, 1876, ano 1, n. 9, p. 4.
A INFLUÊNCIA DA MAÇONARIA NO JORNALISMO  GAÚCHO DO SÉCULO XIX: CORREIO DO POVO
2 AS RELAÇÕES ENTRE JORNALISMO E O PODER




         2.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS


     Nas sociedades contemporâneas, o conhecimento constitui um princípio de

hierarquização social tão importante quanto a propriedade, principalmente, pelo que

a informação representa um poder enorme. Os jornalistas, e as suas fontes, são

uma das formas utilizadas para contribuir, conjuntamente, para articular e definir os

contornos da sociedade do conhecimento, reproduzindo as estruturas do poder e do

saber.



         2.2 O PAPEL DO JORNALISMO COMO EDUCADOR COLETIVO


     A educação dos trabalhadores - entendida como acesso ao conhecimento,

desde a alfabetização até a capacitação para o exercício profissional e intelectual -

constitui um passo importante. Mesmo que esteja sendo influenciada pelos

mecanismos de direção ideológica inerente ao saber, ela representa condição

indispensável para o exercício da cidadania. Por isso, a oportunidade da educação

formal tem sido negada ou então dificultada aos contingentes que formam a base da

pirâmide social. No entanto, essas pessoas, localizadas à margem da sociedade,

não possuem alternativas senão procurar a fuga da ignorância nos meios de
25


comunicação. Mesmo que esse meio de educação coletivo também esteja sob a

égide das classes dominantes. Sobre essa questão, Melo explica:


                              Resta-lhes, contudo a possibilidade de participar do processo de
                       educação informal que se opera através dos meios de comunicação de
                       massa, dependendo naturalmente do estágio econômico em que se localiza
                       cada cidadão. De alguma maneira o fluxo dos "mass media" acaba por
                       atingir todos os indivíduos, excetuando aqueles bolsões de marginalidade
                       que substituem ao largo da sociedade nacional. Nesse sentido é que o
                       sistema de comunicação de massa desempenha o papel de educador
                       coletivo, permitindo o acesso a um certo tipo de conhecimento que vincula
                       os indivíduos à sua contemporaneidade, mas ao mesmo tempo orienta a
                       sua percepção para apreender significados compatíveis com a ideologia
                       dominante25.



     Ainda, segundo o autor, esse processo de educação informal que ocorre

através dos meios de comunicação “conduz de forma determinista as pessoas que

dele participam para uma adesão incondicional aos valores hegemônicos”26.


     Roberto Ramos, utilizando os conceitos de Gramsci, sobre hegemonia cultural,

explica que “através dela, a classe dominante se impõe ao proletariado e garante o

poder de Estado. A hegemonia tende a uma filosofia positivista de mundo. É

absolutista. Não permite qualquer espécie de mudança social”27.


     Para Thompson, assim como para Gramsci, a cultura ou poder simbólico é

responsável na atividade da produção, da transmissão e da recepção das formas

simbólicas. “As ações simbólicas podem provocar reações, liderar respostas de

determinado teor, sugerir caminhos e decisões, induzir a crer e a descrer, apoiar os

negócios do estado ou sublevar as massas em revolta coletiva” 28. Com isso, obtém-

se a capacidade de intervir no curso dos acontecimentos, de influenciar as ações


25
  MELO, José Marques de. Para uma leitura critica da comunicação. São Paulo: Paulinas, 1985, p.
10.
26
  Ibidem, p. 10.
27
  RAMOS, Roberto. Futebol: ideologia e poder. Petrópolis: Vozes, 1988, p. 22.
28
  THOMPSON, John B. A mídia e a modernidade: uma teoria social da mídia. 5. ed. Petrópolis:
Vozes, 2002, p. 24
26


dos outros e produzir eventos por meio da produção e da transmissão de formas

simbólicas.


     “Informação significa poder, e no jogo com sua utilização estão implícitas

relações de dominação”29. Segundo Guareschi, os meios de comunicação “estão

sempre presentes e são fator indispensável tanto na criação quanto na transmissão,

mudança, legitimação e reprodução de determinada cultura”30. Guareschi vê o

crescimento e a abrangência dos meios de comunicação como um modo de diminuir

o controle exercido por outras instituições, como a escola, as igrejas e a família.


     Assim como Guareschi, Thompson acredita que há uma grande variedade de

instituições que assumem o papel importante na difusão das informações e de

comunicação.


                               Estas incluem instituições religiosas, que se dedicam essencialmente
                       à produção e difusão de formas simbólicas associadas à salvação, aos
                       valores espirituais e crenças transcendentais; instituições educacionais, que
                       se ocupam com a transmissão de conteúdos simbólicos adquiridos (o
                       conhecimento) e com o treinamento de habilidades e competências; e
                       instituições da mídia, que se orientam para a produção em larga escala e a
                       difusão generalizada de formas simbólicas no espaço e no tempo. Estas e
                       outras instituições culturais forneceram bases para a acumulação dos meios
                       de informação e comunicação, como também os recursos materiais e
                       financeiros, e forjaram os meios com os quais a informação e o conteúdo
                       simbólico são produzidos e distribuídos pelo mundo social31.




29
  MARCONDES, Ciro. O capital da notícia: jornalismo como produção social da segunda natureza.
São Paulo: Ática, 1989, p. 24
30
  GUARESCHI, Pedrinho. Comunicação e controle social. Petrópolis: Vozes, 1991, p. 16.
31
  THOMPSON, John B. Op. cit., p. 25
27


       2.3 PODER, APARELHOS IDEOLÓGICOS E O JORNALISMO


     O poder, segundo Thompson, caracteriza-se por:

                             No sentido mais geral, é a capacidade de agir para alcançar os
                      próprios objetivos ou interesses, a capacidade de intervir no curso dos
                      acontecimentos e em suas conseqüências. No exercício do poder, os
                      indivíduos empregam os recursos que lhes são disponíveis; recursos são os
                      meios que lhes possibilitam alcançar efetivamente seus objetivos e
                      interesses. Ao acumular recursos dos mais diversos tipos, os indivíduos
                      podem aumentar seu poder [...] indivíduos que ocupam posições
                      dominantes dentro de grandes instituições podem dispor de vastos recursos
                      que os tornam capazes de tomar decisões e perseguir objetivos que têm
                      conseqüências de longo alcance32.



     O tratamento que sofre a notícia, antes de chegar ao receptor, é o principal

modo de se operar a chamada manipulação/dominação jornalística. Entre a

ocorrência de um fato social relevante, o acontecimento objetivo e sua apresentação

ao público, surgem diversas formas de intervenção que alteram sensivelmente o

caráter e, principalmente, o efeito dessas notícias. Segundo Marcondes Filho, “é

nessa altura que se opera a adaptação ideológica, a estruturação da informação

com fins de valorização e de interesse de classe”33.


     Para Guareschi, os aparelhos ideológicos, além dos meios de comunicação,

são: a família, a escola e os partidos, que formam os aparelhos ideológicos do

Estado. “Eles reproduzem as relações de produção capitalista, que é feito de várias

formas, seja por intermédio da manipulação do nacionalismo, liberalismo, seja pelo

entretenimento”34.


     “A ideologia, como um sistema de representações, é inseparável da

experiência vivencial cotidiana dos indivíduos.”35 Isso significa afirmar que a

32
  THOMPSON, John B. Op. cit., p. 21.
33
  MARCONDES, Ciro. Op. cit., p. 39.
34
  GUARESCHI, Pedrinho. Comunicação e poder. A presença e o papel dos meios de comunicação
de massa estrangeiros na América Latina.Petrópolis: Vozes, 1981, p. 16.
35
  GUARESCHI, Pedrinho (1981, p. 19).
28


ideologia impregna os hábitos, os desejos, os reflexos das pessoas; significa,

também, afirmar que a grande maioria das pessoas atravessa a vida sem, talvez,

nunca se dar conta dos verdadeiros fundamentos dessas representações.

     A ideologia dominante cumpre uma função prática: ela permite a inserção de

indivíduos de uma forma natural nas atividades que eles desempenham no interior

do sistema e, desta maneira, capacita-os a participar na reprodução do aparato de

dominação, sem que se dêem conta de que eles próprios são cúmplices e autores

de sua própria exploração. “Para o indivíduo inserido no sistema capitalista, a

ideologia é experiência que alguém vive sem conhecer as verdadeiras forças

motoras que a ideologia coloca em movimentação”36.


     Segundo Marcondes Filho, sobre a questão da atuação dos meios de

comunicação sobre a sociedade,


                             o Jornalismo, via de regra, atua junto com grandes forças econômicas
                      e sociais: um conglomerado jornalístico raramente atua sozinho. Ele é ao
                      mesmo tempo a voz de outros conglomerados econômicos ou grupos
                      políticos que querem dar às suas opiniões subjetivas e particularistas o foro
                      da objetividade37.



     A comunicação e a informação passam a ser alavancas poderosas para

expressar e universalizar a própria vontade e os próprios interesses dos que detém

os meios de comunicação. O monopólio da propriedade privada da terra os

latifúndios prolongam-se no do poder político como dominação, e passam a

abranger, logicamente, o monopólio dos meios de comunicação social, a serviço da

dominação ideológica.


     A posse da comunicação e a informação torna-se instrumento privilegiado de

dominação, pois cria a possibilidade de dominar a partir da interioridade da
36
 GUARESCHI, Pedrinho (1981, p. 20).
37
 MARCONDES, Ciro. Op. cit., p. 11.
29


consciência do outro, criando evidências e adesões, que “interiorizam e introjetam

nos grupos destituídos a verdade e a evidência do mundo do dominador”38, deixando

o grupo dominado sem alternativa.


      Segundo Guareschi,



                               os que detêm a comunicação chegam até a definir os outros, definir
                         determinados grupos sociais como sendo melhores ou piores, confiáveis ou
                         não-confiáveis, tudo de acordo com os interesses dos detentores do poder,
                         quem tem a palavra constrói identidades pessoais ou sociais39.



      A identificação das relações de poder em qualquer sistema de comunicação

significa elemento fundamental para se avaliar a conexão dos interesses políticos e

econômicos que estão por detrás das suas mensagens, programas e campanhas.


      Logo, no entendimento de Melo,



                               não basta saber quem controla um determinado veículo, mas torna-se
                         importante desvendar a teia de compromissos dos seus proprietários, pois
                         assim é possível analisar com maior precisão o seu comportamento
                         comunicativo40.



      Assim, os meios de comunicação contribuem para a criação de uma

determinada ordem social resultante da divulgação de um tipo de conhecimento que

emerge das suas relações com determinadas fontes de informação. Os

comunicadores, com isso, produzem um tipo de pensamento que se torna

predominante na sociedade.




38
  GUARESCHI, Pedrinho (1991, p. 19).
39
  Ibidem, p. 15.
40
  MELO, José Marques de. Op. cit., p. 96.
A INFLUÊNCIA DA MAÇONARIA NO JORNALISMO  GAÚCHO DO SÉCULO XIX: CORREIO DO POVO
3 JORNALISMO COMO OCUPAÇÃO PREFERENCIAL DOS

  PEDREIROS-LIVRES GAÚCHOS




       3.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS


     A imprensa, principal centro das atividades intelectuais na segunda metade do

século XIX, no Rio Grande do Sul, foi um espaço de atuação de importantes

dirigentes maçons. No decorrer deste capítulo, além de ver a utilização do meio de

comunicação impresso por parte dos integrantes da Ordem,              fez-se   necessário

contextualizar o nível de escolaridade da sociedade gaúcha e, por conseguinte, dos

dirigentes maçons do período delimitado.



       3.2 OS MAÇONS E SUA ESCOLARIDADE


     Paralelamente às ocupações propriamente profissionais e políticas, que

categorizavam o grupo de dirigentes maçons como um segmento da elite regional, a

formação escolar e ocupações intelectuais e culturais reafirmaram essa condição

social. Contudo, nesse aspecto, abriu-se uma brecha para os jovens oriundos de

setores intermediários, para que se projetassem social e politicamente. A

inteligência gaúcha foi, portanto, fruto das iniciativas dos filhos da elite tradicional do

Rio Grande do Sul, aliados àqueles jovens ilustrados sem berço, mas que acabariam

se aproximando do poder. Até o início da segunda metade do século XIX, a
32


presença de um setor agregando letrados e intelectuais era quase imperceptível e,

mesmo, dispensável.


     Nas palavras de Sergius Gonzaga,


                              eles emergiram apenas em meados do século XIX. E, como era de se
                       esperar, em face do atraso e pobreza cultural do meio, em face da ausência
                       de uma tradição de ensino, fosse leiga ou eclesiástica, e em que face
                       principalmente da exígua rede de relações sociais e da horizontalidade
                       econômica do espaço urbano, as primeiras manifestações literárias seriam
                       insignificantes, seja do ponto de vista quantitativo, seja do qualitativo41.



     Independentemente, porém, do grau de desenvolvimento de uma vida cultural

e artística que se comparasse à do centro do país, observam-se no estado, a partir

do início da segunda metade do século XIX, diversas iniciativas que viriam alterar

significativamente esse quadro.


     Na colocação de Colussi,


                              tais evidências podem ser constatadas na crescente preocupação
                       com o ensino, nas iniciativas de criação de órgãos de imprensa, na difusão
                       de casas de teatro na capital e no interior no número de publicações, a
                       princípio incipientes, mas que, gradualmente foi tomando destaque. Cabe
                       salientar, a título de exemplo, que, em termos de escolaridade, a província,
                       em comparação ao restante do Brasil do período em estudo, já se
                       apresentava com números bastante positivos42.



     Foi nesse quadro, em principio desanimador e próprio de uma região de

ocupação e desenvolvimento econômico tardio e periférico, que a maçonaria se

integrou e ocupou seu espaço. A grande maioria dos maçons, principalmente seus

dirigentes, “podem ser enquadrados na categoria de homens cultos letrados”43. O

grupo maçônico construiu um tipo particular de padrão cultural, que se articulava

com o pensamento político-ideológico típico do século XIX, mas que possuía um
41
  GONZAGA, Sergius. As mentiras sobre o gaúcho: primeiras contribuições da literatura. FREITAS,
Décio (org.). In: RS: ideologia e cultura, p. 123.
42
  COLUSSI, Eliane. Op. cit., p. 299-300.
43
  Ibidem, p.300.
33


conjunto de significados corporizados em símbolos, um sistema de concepções

herdadas e expressas em formas simbólicas.


     Foram pesquisados dirigentes maçons pertencentes as lojas do Estado no

século XIX. Os dados sobre o nível de escolaridade dos dirigentes maçons

pesquisados confirmam, primeiramente, o perfil da alta instrução de seus

integrantes. Frente ao processo de ampliação e consolidação de uma vida urbana e

cultural no Rio Grande do Sul, os pedreiros-livres, homens cultos e letrados,

destacaram-se em muitas das iniciativas nesse âmbito. Foram localizadas

informações biográficas, fornecidas pelo Grande Oriente do Rio Grande do Sul,

sobre esse item, de 123 integrantes maçons. Desse número, foi constatada a

maioria deles sendo de advogados (48) e, em segundo lugar, de jornalistas (24).


     O nível de escolaridade dos membros da maçonaria dá indícios de um padrão

intelectual relativamente homogêneo. Devido a essa uniformidade, em termos de

nível escolar dos membros da maçonaria, a população marginal não tinha meios de

se inserir na Ordem. No entanto, Colussi, sobre esse assunto, explica como os

iletrados conseguiam manter algum tipo de contato com a maçonaria:


                                Dessa forma, os maçons produziram e foram receptadores de uma
                         cultura elitista, tanto por sua origem social como por exclusão de uma
                         maioria de analfabetos, visto que, via de regra, esses não eram convidados
                         a participar da instituição. No mesmo sentido, os iletrados ou analfabetos
                         também não possuíam meios ou condições intelectuais para serem
                         receptadores do discurso e da visão do mundo da maçonaria. Contudo,
                         atento a essa realidade, os porta-vozes da maçonaria, assim como seus
                         produtores intelectuais, construíram e dirigiram discursos variados para
                         atender a demandas sociais também diferentes44.




           3.3 OCUPAÇÕES INTELECTUAIS DOS INTEGRANTES DA MAÇONARIA

           NO RIO GRANDE DO SUL

44
 COLUSSI, Eliane. Op. cit., p. 302.
34


      Foram pesquisados os dados relativos às informações sobre a presença

maçônica em atividades ou ocupações intelectuais ou culturais no período de 1850 a

1900. Dos maçons pesquisados, a maioria, 44 membros, preferiu o jornalismo.


      O âmbito da cultura a que se vincularam preferencialmente os maçons gaúchos

foi, fundamentalmente, o ligado ao contexto do pequeno desenvolvimento intelectual

e cultural no Rio Grande do Sul, no período delimitado. Assim, a imprensa e a

literatura, isto é, o mundo da palavra escrita e lida, foram o universo disponível e de

atuação para uma geração da inteligência gaúcha que produziu e reproduziu

conhecimentos, opiniões e posicionamentos. As iniciativas anteriores, que não

devem ser esquecidas, sofreram sobremaneira com o quadro geral do atraso e

segregação rio-grandense, principalmente com a carência de escolas, a falta de

professores e a pequena difusão da literatura45.


      A   imprensa      já   tinha    dado    seus     primeiros     passos     no    Rio   Grande

pós-independência; a difusão de jornais, sobretudo a partir de 1827, e no período

farroupilha, criara uma certa tradição, em especial da imprensa política46. Aliás,

durante a primeira metade do século XIX, foi o principal, senão o único veículo

dedicado à produção intelectual entre os gaúchos.


      A imprensa e a literatura que interessam na compleição deste trabalho são as

da segunda metade do século XIX, período de fundação do Correio do Povo e da
45
   Conforme CESAR, Guilhermino. História da literatura no Rio Grande do Sul (1737-1902). Porto
Alegre: Globo, 1971, p. 18-20, a literatura rio-grandense viveu sete períodos, sendo eles: 1º, de 1737
a 1834, fase da luta instintiva pela conquista de uma expressão nacional; 2º, de 1834 a 1856,
marcada pela assimilação consciente dos valores integrantes da cultura nacional maturadas nas
antigas capitanias do Centro; 3º, de 1856 a 1869, período da floração romântica através do grupo da
revista O Guaíba; 4º, de 1869 a 1884, fase que teve início com o Partenon Literário até os rebates
iniciais do parnasianismo; 5º, 1884 a 1902, marcado pelo abandono ideário romântico e adoção de
formas próximas ao realismo; 6º, de 1902 a 1925, que vais oscilar entre o espiritual do simbolismo e o
neo-realismo e, por último, o 7º, de 1925 em diante, com a constituição de uma nova geração de
literatos, por um lado regionalista e, de outro, universalista.
46
   REVERBEL, Carlos. Evolução da imprensa rio-grandense (1827-1845). In: Enciclopédia
rio-grandense, 1968, p. 241-264.
35


morte de seu patrono que, pela periodização de Guilhermino César, perpassam pelo

terceiro, quarto e quinto períodos (1856-1902). Foi nesse período, e nessas duas

áreas de aglutinação intelectual - a imprensa e a literatura - que a presença

maçônica foi marcante.



           3.4 A UTILIZAÇÃO DA IMPRENSA POR PARTE DOS INTEGRANTES

           DA MAÇONARIA


     A imprensa gaúcha do século XIX se desenvolveu de maneira a superar

obstáculos de variadas origens, os quais iam desde problemas de infra-estrutura

material (recursos, local ou sede) até àqueles ligados à distribuição e legislação

coercitiva. Mesmo assim, e em condições precárias durante praticamente todo o

século passado, pequenos e grandes jornais se instalaram e prosperaram no Rio

Grande do Sul. A característica mais destacada da imprensa durante o período foi a

sua íntima relação com os debates político-partidários.


     Francisco Neves Alves, tratando dessa questão, afirma:


                              A evolução da imprensa acompanharia, assim, o processo de
                       formação histórica-política rio-grandense: durante a Revolução Farroupilha,
                       serviu para defender os princípios tanto de rebeldes quanto de legalistas;
                       com a pacificação, contribuiu na busca de estabilidade e na afirmação do
                       espírito de ‘brasilidade’ e, posteriormente, a partir da consolidação do
                       Império, refletiu os debates entre liberais e conservadores e os conflitos
                       entabulados no Prata; propagou os ideais republicanos e, com o advento da
                       nova forma de governo, veiculou as idéias e práticas dos grupos, cujo
                       confronto resultaria na Revolução Federalista, guerra civil que deixaria
                       marcas por toda a República Velha47.




47
 ALVES, Francisco Neves. Uma introdução à imprensa rio-grandina. Rio Grande: Universidade do
Rio Grande, 1995, p.16.
36


     Foi especialmente nessa imprensa de caráter extremamente politizado48 que se

localiza uma forte atuação de dirigentes e lideranças maçônicas, demonstrando que

a imprensa rio-grandense foi um espaço de ampla e abrangente participação e

influência maçônica. Como intelectuais e letrados integrantes da elite regional, os

maçons ocuparam um espaço privilegiado num dos poucos meios de informação

disponíveis no período. A imprensa gaúcha era, então, produzida e dirigida a um

grupo social bastante restrito, excluindo a maior parte da sociedade, composta por

analfabetos. Além da imprensa propriamente maçônica, a grande e pequena

imprensa foi espaço de ampla participação de maçons.


     Barata observou essa expressiva presença em termos nacionais, da seguinte

forma:


                            Começando com Hipólito da Costa e Gonçalves Ledo, no início do
                     século XIX, vários foram os maçons que fizeram da imprensa uma
                     verdadeira tribuna em defesa das idéias maçônicas. Pode-se destacar:
                     Henrique Valladares, Alexandrino do Amaral, C. Bracante, Luiz Corrêa de
                     Azevedo, Luiz Antônio Pinto Mendes, Mário Behring, todos redatores do
                     Boletim do Grande Oriente do Brasil; Quintino Bocaiúva, Venâncio de
                     Oliveira Aires; João Franklin da Silveira Távora; Ubaldino do Amaral
                     Fontoura; entre outros49.



     Os dirigentes maçons atuaram de diversas formas no universo da imprensa,

seja como proprietários de jornais na capital ou no interior, seja como diretores e,

editores, redatores ou, ainda, em muitos casos, simplesmente como colaboradores.

     Reverbel, sobre a formação dos jornais surgidos no século XIX no estado,

afirma:

                           A grande difusão de jornais, de circulação periódica e em língua
                     portuguesa, que apareceram na capital e no interior na segunda metade do
                     século XIX, muitos deles foi fruto de iniciativas de dirigentes maçons,
                     homens com capital e cultura típicos da elite gaúcha. Nesse tipo de
48
  RÜDIGER, Francisco Ricardo. O nascimento da imprensa no rio Grande do Sul. Revista do
Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da UFRGS, p. 116
49
  BARATA, Alexandre Mansur. Op. cit., p. 163.
37

                              imprensa, a predominância de órgãos vinculados a agrupamentos e partidos
                              políticos demarcou a atuação dos dirigentes maçons50.



       O Quadro 1 revela uma relação de dirigentes maçons que atuaram no âmbito

do jornalismo no século XIX.

                  Quadro 1: Dirigentes maçons/ jornalistas/ órgãos de imprensa

                 NOME                           JORNAL                 CIDADE                     FUNÇÃO/ANO
Antônio Pinto Palmeiro da Fontoura   A Resistência               São Gabriel            Diretor/1886
Aparício Mariense da Silva           13 de janeiro               São Borja              Redator/1896
Aristides Epaminondas de Arruda      O Osório                    S. Vitória do Palmar   Redator/1890-1894
Carlos Von Koseritz                  Koseritz Deutsche Zeitung   Porto Alegre           Proprietário e redator/ 1881-1890
Emil Wiedemann                       Deutsche Zeitung            Porto Alegre           Proprietário/1864
Ernesto Augusto Gerngross            Diário de Pelotas           Pelotas                Proprietário/1884
Ernesto Reinhold Ludwig              Koseritz Deutsche           Porto Alegre           Diretor e redator/ 1890
                                     Zeitung
Francisco Antônio Caldas Júnior      Correio do Povo             Porto Alegre           Proprietário
Gavino Machado da Silveira           Gazeta Pedritense           D. Pedrito             Diretor e proprietário/1881
Germano Hasslocher                   A Federação                 Porto Alegre           Colaborador
João Batista Taloni                  O Fígaro                    Porto Alegre           Colaborador/1879
José Carlos Sperb                    O Puritano                  São Leopoldo           Colaborador/1905
José Celestino Prunes                Gazeta de Alegrete          Alegrete               Redator/1882
Pedro Bernardino de Moura            Echo do Sul                 Pelotas/Rio Grande     Redator/1857
Pedro Moacyr                         A Federação                 Porto Alegre           Colaborador
Ramiro Barcelos                      A Federação                 Porto Alegre           Colaborador
Venâncio Aires                       A Federação                 Porto Alegre           Redator
Fonte: Pesquisa do autor.


       A pesquisa revela indícios de uma presença importante de dirigentes maçons

nos principais órgãos de imprensa no Rio Grande do Sul, principalmente nos jornais

de cunho político-partidário e na imprensa dirigida à comunidade alemã. Assim, é

possível explicar as razões pelas quais diversos intelectuais, também maçons,

assumiram um posicionamento radicalmente anticlerical.


       Colussi reconhece a participação maçônica em matérias jornalísticas, mesmo

que indiretamente:

                                     Contudo, indiretamente, a maior parte dos maçons pertencentes à
                              inteligência gaúcha defendiam princípios do pensamento        liberal e

50
 REVERBEL,Carlos. Evolução da imprensa rio-grandense, p. 110.
38

                       cientificista em contraposição ao pensamento católico-conservador. Nesse
                       ponto, atacavam prioritariamente o clericalismo e os jesuítas,
                       responsabilizando-os pelo obscurantismo e atraso cultural brasileiro. Assim,
                       a defesa de uma sociedade laica, com a separação definitiva entre Estado e
                       Igreja, esteve sempre na ordem do dia para os maçons-jornalistas51.




3.4.1 Imprensa maçônica de língua alemã no Rio Grande do Sul


     Além da presença marcante de dirigentes maçons, atuando como jornalistas na

imprensa gaúcha no século XIX, a sua participação na imprensa de língua alemã

não foi menos importante. Aliás, essa proximidade é indicativa de um

relacionamento mais intenso entre maçonaria e imigrantes, ou descendentes

alemães.


     A importância da comunidade alemã no Rio Grande do Sul, com uma

população em torno de 15 mil pessoas, em 1850; a dificuldade de entrosamento

cultural e lingüístico desses; a falta de escolas e professores nas regiões onde

haviam se fixado, o quase isolamento das comunidades, aliado à necessidade de

verem expressos os seus interesses explicariam, a princípio, o surgimento de

veículos de imprensa dirigidos especificamente ao grupo e escritos em língua alemã.


     Klaus Becker vincula o desenvolvimento da imprensa de língua alemã ao fim

do período farroupilha, quando se iniciou novamente o movimento de imigração

alemã (agora para as chamadas colônias novas) e ocorreu a chegada dos brummer:


                             Esta situação somente mudou depois de 1851, quando os primeiros
                       mercenários contratados na Alemanha para servirem na guerra contra
                       Rosas, apelidados de ‘Brummer’, radicaram-se na Capital e no interior do
                       Rio Grande do Sul. Alguns deles eram intelectuais que muito se destacaram
                       na defesa dos interesses e na vida da colônia. Basta lembrar os nomes de
                       Carlos Von Koseritz, Frederico Haensel, Barão de Kahlden, Carlos Jansen e
                       outros52.
51
  COLUSSI, Eliane. Op. cit., p. 332.
52
  BECKER, Klaus. Imprensa em língua alemã (1852-1889). In: Enciclopédia Rio-Grandense. Op. cit.
v. 2, p. 268.
39


      Dois maçons de origem alemã tiveram uma atuação importante nesse sentido.

O primeiro foi Carlos Jansen53, que atuou como redator, pelo período de um ano, do

Der Deutsche Einwanderer (O Imigrante Alemão), de propriedade de Theobaldo

Jaeger. O semanário fora lançado, inicialmente, no Rio de Janeiro, em 1853, tendo

sido transferido para Porto Alegre, em 185454.

      Além de jornalista, Jansen atuou como professor particular, escritor, tendo sido

um dos fundadores do Partenon Literário; foi inspetor geral das Colônias do Rio

Grande do Sul e redator em Buenos Aires em 1871. Em 1878, transferiu-se para o

Rio de Janeiro, onde fundou o Colégio Jansen; foi também professor do Colégio D.

Pedro II, na mesma cidade, onde faleceu em 1889. Da sua trajetória maçônica

pouco ficou registrado, sabendo-se apenas que pertenceu à loja Zur Eintracht, de

Porto Alegre, no ano de 1876. Contudo, chama a atenção sua presença na

maçonaria, visto que foi sempre um homem de convicções religiosas e um

combatente do materialismo e do cientificismo. De qualquer maneira, esse professor

alemão não deixa de ser representativo do perfil de atuação dos dirigentes maçons,

pois a liberdade religiosa e política permitiam tal posicionamento.


      Diferentemente de Jansen, e certamente de posições minoritárias no seio da

maçonaria gaúcha do período, foi a figura de Carlos Von Koseritz, introduzido no

jornalismo de língua alemã a partir do terceiro jornal que circulou no Rio Grande do

Sul depois de 1861, o Deutsche Zeitung (Jornal Alemão). A trajetória de vida desse

53
  Nascido na Alemanha em 1829 e falecido no Rio de Janeiro em 1889, chegou ao Brasil em 1851
como voluntário, servindo no 2º Regimento de Artilharia Montada, sediado no Rio Grande do Sul. Foi
jornalista, professor e escritor, com atuação no Rio Grande do Sul e depois no Rio de Janeiro, para
onde se transferiu em 1878. Nessa última cidade, publicou, ainda em 1878, na Revista Brasileira, a
novela “O Patuá”. Além dessa novela [...], publicou ainda regular número de traduções de obras
didáticas e a tese O pronome da língua alemã (1883) apresentada e defendida em concurso para
lente de alemão no Colégio D. Pedro II. SPALDING, Walter. Itinerário da literatura rio-grandense. In:
Enciclopédia Rio-Grandense, v. 2, p. 217.
54
  O primeiro jornal impresso em língua alemã no Brasil e da América Latina foi lançado em Porto
Alegre, Der Colonist, de propriedade do brasileiro José Cândido Gomes, e circulou de 10-08-1852 a
17-3-1853.
40


político, líder da comunidade alemã e dirigente maçom convicto, merece ser traçada,

principalmente pela importância que ele assumiu como um dos principais intelectuais

do estado. Sua chegada ao Rio Grande do Sul se deu da mesma forma de Jansen,

isto é, foi também brummer, desembarcando no Brasil em 1851, aos 21 anos de

idade. Antes de se estabelecer em Porto Alegre, após ter abandonado o veleiro que

o trazia à cidade do Rio Grande, estabeleceu-se em Pelotas, “onde passou

privações até ser recolhido à Santa Casa de Misericórdia, socorrido por Telêmaco

Bouliech que o empregou como guarda-livros e professor particular”55.


     Certamente foi nesse período que ocorreu a introdução de Koseritz na

maçonaria, pois Telêmaco era dirigente da loja Honra e Humanidade daquela

cidade, já em 1855. Ainda em Pelotas, Koseritz iniciou sua atividade como professor,

fundando um colégio para meninos, e atuando paralelamente como jornalista; em

1856, trabalhou no jornal O Noticiador e, em 1858, aparece como resenhista do

jornal político, comercial e industrial O Brado do Sul. Transferiu-se depois para Rio

Grande, mantendo as mesmas ocupações profissionais e trabalhando como redator

de O Povo.


     Em Porto Alegre, em 1864, assumiu o cargo de redator-chefe do Deutsche

Zeitung em substituição a Theodor Freiherr von Varnbuhler. Esse jornal pertencia a

uma sociedade de abastados comerciantes alemães, entre eles o dirigente maçom

Emil Wiedmann. A folha de língua alemã, sob sua direção, “teve rápido e notável

desenvolvimento, tornando-se por muito tempo, o mais importante jornal do país

naquela língua”56.



55
 FLORES, Moacyr. Dicionário de História do Brasil. Porto Alegre: Edipucrs, 1996, p. 295.
56
 BECKER, Klaus. Imprensa em língua alemã. In: Enciclopédia Rio-Grandense. Porto Alegre:
Sulina, 1968, v. 2, p. 272.
41


     Koseritz se envolveu nas principais questões da sociedade gaúcha do período,

principalmente falando como porta-voz dos interesses políticos de alemães

tornando-se notável pelo seu combate ao jesuitismo.

     Becker, em relação a isso, informa:


                               Carlos Von Koseritz foi, sem dúvida, o maior jornalista de origem
                        alemã, no século XIX, em todo o Brasil [...]. Autodidata, de espírito
                        combativo e extraordinário talento, jornalista por vocação e integrado
                        perfeitamente no ambiente gaúcho, não podia deixar de ingressar na
                        política, tornando-se um dos mais fervorosos defensores do elemento de
                        origem germânica, principalmente o da colônia. Excedeu-se, porém, em sua
                        luta anticlerical, especialmente contra os padres jesuítas, influenciado pelo
                        ‘kulturkampf’, ocorrido na Alemanha, e pela abundante literatura dos livres-
                        pensadores da segunda metade do século que se precedeu ao nosso57.




     Nesse sentido, chama a atenção a sua permanente defesa da brasilidade dos

colonos fixados no estado, incentivando-os a uma integração consistente com a

cultura brasileira, mas sem esquecerem as suas origens germânicas. Especialmente

através da imprensa, fazia campanha para que o governo providenciasse escolas

para as regiões de colônias alemãs e defendia o voto aos não-católicos, quase

sempre imigrantes alemães e protestantes.


     Koseritz defendia o desenvolvimento da instrução popular sobre a base do

critério positivo e, entre outras coisas, a liberdade religiosa absoluta, com

fiscalização de todas as associações religiosas por parte do estado.


     Em 6 de janeiro de 1876, lançou a folha maçônica A Acácia, órgão oficial da

maçonaria gaúcha até 1879, sob os auspícios da Grande Loja Provincial de São

Pedro do Rio Grande do Sul e ligada ao Grande Oriente Unido, portanto, a vertente

mais radicalizada da maçonaria brasileira. Foi seu proprietário, diretor e principal,

senão único, redator; substituiu o Maçom, de propriedade e direção de João

57
 BECKER, Klaus. Op. cit., p. 273.
42


Carvalho de Barcelos, que deixara de circular após a sua morte. A maçonaria se

constituiu, então, numa frente de atuação a que Koseritz se dedicou com afinco.


     Foi um dos fundadores da loja Zur Eintracht, na cidade de Porto Alegre,

regularizada em dezembro de 1875, cujo templo foi construído em 1876, junto à

igreja protestante, sendo o lançamento da pedra fundamental “a primeira solenidade

pública da maçonaria de Porto Alegre”58. A proximidade entre maçonaria e

protestantes se evidencia, então, não só pela localização do templo, mas também

pelo fato de ter sido a primeira oficina maçônica a realizar seus trabalhos em língua

alemã; além disso, tinha entre seus membros um grande número de evangélicos.


     A Acácia fez guerra permanente a dois veículos da imprensa católica do

período, O Apóstolo, publicado no Rio de Janeiro, e o Deutsche Volksblatt, de São

Leopoldo. A disputa ou conflito entre maçonaria e Igreja Católica teve na imprensa a

sua mais forte representação, e Koseritz utilizou-se tanto da imprensa maçônica

como da profana para alcançar seus objetivos. Até 1881, trabalhou no Deutsche

Zeitung59 e, depois, no período de 1881 a 1890, no seu próprio jornal Koseritz

Deutsche Zeitung (Folha Alemã de Koseritz). Após sua morte, em 1890, Ernesto

Reinhold Ludwig, também alemão e dirigente maçom, assumiu a redação da folha

de Koseritz.


     O discurso de Koseritz foi, via de regra, o mesmo, baseando-se em princípios e

argumentos muitos semelhantes. No A Acácia, em coluna regular, denominada de

“Nós e eles”, tecia os seus principais ataques:

                                O Volksblatt é uma folha impressa em São Leopoldo em língua
                         alemã. Ela é um órgão dos padres da Ordem de Jesus que em número de
                         trinta e tantos assenhoram-se da consciência dos colonos católicos e
                         monopolizam todas as vigárias e curatos nas colônias. Não satisfeitos com
58
 A Acácia – folha maçônica, 1876. Ano 1, n.º, 1, p. 3.
59
 Entre 1893 e 1917, foi redator desse jornal o dirigente maçom Arno Philipp.
43

                            isso mandaram vir cerca de vinte freiras e de parceria com estas,
                            apoderam-se do ensino da mocidade católica nos núcleos coloniais [...]. Na
                            questão dos bispos não teve essa folha mãos a medir em ataques ao
                            Estado e à Coroa. Os maçons são diariamente apresentados aos colonos
                            como assassinos e salteadores60.



         Do ponto de vista da sua postura teórica, Koseritz, um liberal e materialista,

acabou por assumir e divulgar as concepções evolucionistas e darwinianas no Rio

Grande do Sul.


         Como jornalista e intelectual foi, provavelmente, o mais destacado dirigente

maçom do período, o que não se deveu somente ao espaço que ocupou na direção

da maçonaria no Rio Grande do Sul, mas principalmente à influência que exerceu




junto à formação da intelectualidade gaúcha, sempre utilizando a imprensa escrita

como sua porta-voz.




60
     A Acácia – folha maçônica. 1876, ano 1. n.º 3. p. 1.
A INFLUÊNCIA DA MAÇONARIA NO JORNALISMO  GAÚCHO DO SÉCULO XIX: CORREIO DO POVO
4 CORREIO DO POVO E AS RELAÇÕES COM A MAÇONARIA




       4.1 CALDAS JR. A SUA LIGAÇÃO MAÇÔNICA


     O maçom mais importante ligado ao jornalismo, pela sua atuação profissional,

foi, sem dúvida, Francisco Antônio Caldas Júnior. Filho do desembargador Francisco

Antônio Vieira Caldas, Caldas Jr. nasceu em 1868, em Sergipe (tendo falecido em

1913, aos 44 anos) e aos três anos passou a residir em Santo Antônio da Patrulha

onde seu pai já atuava como juiz de direito. Iniciou sua carreira jornalística

trabalhando como revisor e, depois, como redator e editorialista para o Jornal do

Comércio, dirigido por Aquiles de Porto Alegre, permanecendo ali até 1895, quando

fundou o Correio do Povo.61


     A posição de neutralidade política assumida pelo jornal Correio do Povo nos

seus primórdios, causou curiosidade ao meio intelectual gaúcho, pois a tradição que

ligava a grande imprensa a facções político-partidárias foi, de certa forma, rompida

por Caldas Jr. Essa neutralidade, vista sob a ótica do contexto do final da Revolução

Federalista, pode também ser explicada por posicionamentos da própria maçonaria

gaúcha, abalada pela guerra.


     Segundo Dillenburg,




61
 DILLENBURG, Sérgio R. Correio do Povo: história e memórias. Passo Fundo: Ediupf, 1997, p. 21.
46

                             não foi sem motivo, portanto, que o surgimento do Correio do Povo,
                       por obra de Caldas Júnior, com sua proposta de jornalismo independente,
                       alcançou tanta expectativa e, mesmo, incredulidade entre os gaúchos.
                       Bastaram, no entanto, poucas edições do novo jornal para que os leitores
                       percebessem que a proposta do Correio do Povo, de não ser vinculado a
                       nenhuma facção partidária, era para valer62.


     O caráter de alegada imparcialidade política do novo jornal teve, pois, uma

relação, mesmo que indireta, com a condição maçônica de seu fundador, um dos

principais dirigentes da instituição na época. O princípio da tolerância e da liberdade

política, um dos pilares da maçonaria internacional, era fundamental para a

recuperação do prestígio e da boa convivência entre os irmãos que haviam lutado

em lados opostos. No entanto, segundo Galvani, mesmo possuindo alguns

princípios maçônicos, o jornal necessitou de ajuda financeira da Ordem, para ser

criado:

                             Passar pela luta intensa daqueles três (Francisco Antônio Caldas
                       Júnior, José Paulino de Azurenha e Mário Totta) e dos demais que se foram
                       somando, como os “irmãos da Maçonaria”, Eugênio du Pasquier e Antônio
                       Mostardeiro Filho, que repassaram-lhe o primeiro financiamento, por ele
                       honrado, como sua viúva o faria, pouco adiante, em 1913, quando a morte
                       prematura o arrancou do negócio, com apenas 43 anos, e os compromissos
                       eram imensos63.


     Galvani salienta que, ao mesmo tempo em que se tinha uma idéia da busca

pela isenção política e imparcialidade, no Correio do Povo, lia-se o entusiasmo

numa notícia sobre a seção maçônica em homenagem ao senador Pinheiro

Machado, o grande líder do Partido Republicano Federalista64.


     A primeira referência de Caldas Júnior em atividade maçônica aparece em

1893, como filiado à loja Orientação de Porto Alegre 65, que, coincidentemente, foi

uma das fundadas para dar legitimidade ao Grande Oriente do Rio Grande do Sul.

62
  DILLENBURG, Sérgio R. Op. cit., p. 21.
63
  GALVANI, Walter. Um século de poder: os bastidores da Caldas Júnior. 2. Porto Alegre: Mercado
Aberto, 1995, p. 12.
64
  Ibidem, p. 107.
65
  DIENSTBACH, Carlos. Op. cit., p. 479.
47


Foi o primeiro deputado eleito por essa loja para a Assembléia Maçônica de

fundação do Gorgs, cuja tendência republicana pode ser reveladora da posição

política de Caldas Júnior. Também foi localizada uma notícia dando conta de que,

para o Congresso dos Veneráveis de 1902, Caldas Jr. representou a loja União

Fraternal da cidade de Encruzilhada.66


      A principal contribuição de Caldas Júnior à maçonaria gaúcha, no entanto,

ocorreu durante sua gestão como “ministro das finanças” do Grande Oriente do Rio

Grande do Sul (Gorgs), com um projeto proposto em 1902. Esse consistia em um

plano econômico para a organização definitiva da potência autônoma gaúcha, tendo

sido aprovado através da Lei nº 52, denominada Contribuição Solidária. Na sua

proposta, estavam contempladas desde a política financeira de proteção de seus

membros e familiares, passando pela perspectiva das necessidades médicas, de

remédios e jurídicas, o mútuo auxílio, até a assistência permanente. Assim, houve

um aprofundamento da previdência maçônica, que providenciava até auxílio para as

famílias quando ocorresse a morte de um integrante da instituição67.



       4.2 MATÉRIAS DE INTERESSE MAÇÔNICO NO CORREIO DO POVO


      Devido à influência maçônica por parte do fundador do Correio do Povo, o

periódico revela indícios em algumas notícias de interesse da maçonaria.


      Segundo Guareschi,


                              as idéias dominantes em uma sociedade são as idéias da classe
                        dominante, que, conseqüentemente, determina o que é importante nessa
                        situação histórica. A classe que possui o poder material dominante de uma
66
  Ibidem, p. 258. O reconhecimento da vida maçônica de Caldas Júnior pode ser observado pelo fato
de, em 1979, ter sido fundada uma loja maçônica em Porto Alegre, com o seu nome.
67
  Plano Econômico. Boletim do Grande Oriente do Rio Grande do Sul. 1902, ano 11, n.º 2, p.
121-24.
48

                        sociedade possui, outrossim, o poder espiritual dominante: as idéias
                        dominantes não são nada mais do que a expressão espiritual (ideológica,
                        imaterial) das relações materiais, dominantes, apreendidas como idéias.
                        Portanto, elas são as expressões das relações materiais dominantes
                        apreendidas como idéias; e, em assim sendo, são as expressões das
                        relações que fazem de uma classe a dominante; em outras palavras, são as
                        idéias de sua dominância68.



      O Correio do Povo até a morte de Caldas Júnior, possuía sinais de uma

ligação com a maçonaria, em homenagens fúnebres a maçons ilustres, festas e

cerimônias, banquetes realizados à imprensa e a conflitos enfrentados entre o

Estado e a Igreja Católica.


      Em 7 de maio de 1911, publica-se:


                               São convidados os membros deste quadro, as offic... da sede do
                        Poder Central, todos os maçons avulsos e os profanos com suas exmas.
                        famílias para assistirem a sessão de Pompa Fúnebre que, em homenagem
                        a memória do Saudoso maçom Felice Guerrieri, esta loj... realista no dia 8
                        do corrente, às 7 ½ horas da noite, no templo à rua Jeronymo coelho nº 469.



      No dia 10 de maio de 1911, o periódico transcreveu uma matéria sobre

assistência maçônica:


                              A loja maçônica Acácia Victoriense, de santa Victoria do Palmar,
                        inaugurou, em abril findo, um consultório policlinico gratuito, que ficou a
                        cargo do Dr. Ivo Banac. Por essa ocasião, realisaram-se, ali, festas
                        commemorativas, com grande e selecta assistência. Foi orador official o
                        capitão aristides E.de. Arruda, discursando, também, os drs. Guilherme de
                        Souza e Castro, Abilio Fuão e outros. Entre os presentes, estavam o Juiz de
                        Comarca, dr. Carneiro Pereira, o consul oriental, Aurélio Susini y Nuñes, o
                        consul da Itália, Luiz Brundo, o coronel Egydio da Silveira Borges, os drs.
                        Jayme Poggi e Bernardo Pericas, officiaes do Exército e representantes da
                        imprensa local70.



      A matéria no dia 25 de maio de 1911, era esta:

                              Realizar-se-á hoje no templo da rua General Camara, uma sessão
                        extraordinária da Loja maçônica Progresso da Humanidade, para a

68
  GUARESCHI, Pedrinho (1981, p. 19-20).
69
  Correio do Povo, Porto Alegre, 07/05/1911, p.7.
70
  Ibidem, 10/05/1911, p.4.
49

                         discussão da These – as greves do proletariado podem ser evitadas?
                         Como? Sabemos que diversos maçons ocupar-se-ão deste assunto71.



      Em 1912, ano da morte do senador Quintino Bocaiúva, o Correio do Povo

salientou o maçonismo do senador e das pompas fúnebres realizadas nas lojas

maçônicas do estado em homenagem ao ilustre irmão.


      Em 21 de julho de 1912, outra nota:


                                Rio Grande, 20, em reunião hoje, realizado, dos veneráveis das lojas
                         maçônicas desta cidade, ficou resolvido comemorar-se o 30º dia do
                         passamento do Senador Quintino Bocayuva. Haverá uma sessão de pompa
                         fúnebre na loja União Constante, sob a presidência do Dr. Guahyba Rocha.
                         Os veneráveis das demais lojas ocuparão os outros cargos do ritual Para
                         essa sessão, serão convidados os maçons, autoridades civis e militares e
                         famílias. Diversos oradores falarão por essa ocasião72.



      Em 15 de julho de 1912, se lê:


                                Rio Grande, 14, teve grande imponência a sessão de pompa fúnebre,
                         hontem levada a effeito, no templo da loja União Constante, em
                         homenagem a Quintino Bocayuva. Estiveram representados as autoridades
                         civis e militares, funcionalismo público, altas dignidades maçônicas, famílias
                         e imprensa. Usaram da palavra o Tenente Coronel Paes Barreto, Alberto
                         Müller Barbosa e Edmundo Francisco dos Santos. Antes de encerrada a
                         sessão, ocorreo o tronco de beneficência cujo o producto foi entregue a
                         comissão encarregada do levantamento da herma ao Barão do Rio
                         Branco73.



      Além disso, há vestígios de publicações no periódico sobre banquetes

realizados pelas lojas maçônicas para homenagear figuras civis e militares ilustres.

No dia 10 de agosto de 1912, lê-se: “a imprensa foi convidada para um banquete na

loja Philantropia, em Rio Grande, em homenagem ao major Corrêa de Britto”74.




71
  Correio do Povo, Porto Alegre, 25/05/1911, p. 4.
72
  Ibidem.
73
  Ibidem, 21/07/1912, p. 7
74
  Ibidem, 15/07/1012, p. 7
50


       4.3 CORREIO DO POVO E O MAÇONISMO APÓS A MORTE DE SEU

       PATRIARCA


     O periódico, depois da morte de seu patriarca, revela vestígios de notíciass

sobre a Ordem. A posse do jornalista Breno Caldas, em 1935, um não-maçom, não

rompeu as ligações dos pedreiros-livres com o jornal. A falência do Correio do

Povo em junho de 1984, e a reabertura do impresso, pelo fazendeiro Renato Ribeiro

também não ocasionou nenhum problema à Ordem. A mesma sempre esteve

presente nas páginas do periódico.


     De 1999 a 2004, foram localizadas 775 matérias referentes à maçonaria. A

maioria das notícias foram encontradas na editoria de geral, (454) , e

variedades/cultura (110). Foram encontradas 19 notícias, de janeiro de 2004 a

outubro do mesmo ano, que continham as palavras: maçom(ns), maçônico(as),

pedreiros-livres e maçonaria. Destas 19 matérias, as de maior relevância para este

trabalho são expostas no decorrer do capítulo.


     No dia 2 de junho, o periódico escreveu, em suas páginas, na editoria de

cultura, a matéria sobre a peça do Grupo de Ópera de Bolso, A flauta mágica:


                               A estréia do grupo Ópera de Bolso acontece amanhã, às 21h, no
                        Teatro Renascença (Erico Verissimo, 307), com a execução de trechos de
                        'A flauta mágica', última ópera escrita por Wolfgang Amadeus Mozart, em
                        1791 e que enfoca a maçonaria. Com a proposta de levar o espetáculo ao
                        público em geral, o grupo montou uma apresentação em formato simples,
                        com acompanhamento somente de piano, substituindo a orquestra, e com
                        alguns elementos cênicos. Tudo para facilitar a sua execução e torná-lo
                        acessível a um número maior de espaço físicos e de pessoas,
                        principalmente escolas públicas e privadas75.




75
 Correio do Povo, Porto Alegre, 02/06/2004, p. 20.
51


      Segundo Mattelart, o modus operandi que caracteriza o processo ideológico

consiste em fazer com que essas forças motoras sejam esquecidas; ou, em outras

palavras, em fazer com que as verdadeiras origens da ordem social existente

desapareçam de vista, de tal modo que as pessoas sejam capazes de viver nesta

ordem natural76.


      A maçonaria, sempre onde esteve, criou raízes sobre o solo. No Rio Grande

Sul, quando da sua chegada com seus primeiros pensadores, a Revolução

Farroupilha estava no seu auge e, como se viu nos capítulos anteriores,                           a

maçonaria crescia no estado. Hoje, existem indícios de notícias maçônicas no

periódico Correio do Povo.


                               Juracy Vilela de Souza, grão-mestre do Grande Oriente do Rio
                         Grande do Sul, associado à Confederação Maçônica do Brasil, recebe
                         homenagem hoje, na Câmara Municipal de Porto Alegre, com o título de
                         Cidadão Honorário da Capital. A cerimônia de entrega do título, cuja
                         proposta é de autoria do vereador Nereu D'Ávila, ocorre às 19h, no plenário
                         da Câmara Municipal da Capital, na av. Loureiro da Silva, 25577.



      Em matéria publicada no dia 9 de junho:


                                Em homenagem ao Dia da Imprensa, celebrado em 1º de junho, foi
                         outorgada ontem à noite a medalha Caldas Júnior ao jornalista Walter
                         Galvani da Silveira. A Sessão Magna Branca é promovida pela organização
                         Grande Oriente do RS (Gorgs) e pela Associação Riograndense de
                         Imprensa (ARI). O ato ocorreu no Templo Nobre Caldas Júnior (rua
                         Jerônimo Coelho, 116). Segundo Juracy Vilela de Sousa, grão-mestre do
                         Gorgs, Galvani é um jornalista muito reconhecido. A comemoração do Dia
                         da Imprensa remete a 1º de junho de 1808, data da fundação do Correio
                         Braziliense, considerado o primeiro periódico brasileiro. O presidente da
                         ARI, Ercy Pereira Torma, e o arcebispo metropolitano, dom Dadeus Grings,
                         também estiveram presentes à cerimônia. Neste ano, a escolha do
                         homenageado coube à ARI78.




76
  GUARESCHI, Pedrinho (1981, p. 20).
77
  Correio do Povo. Porto Alegre, 23/09/2004, p. 8.
78
  Ibidem, 09/06/2004, p. 8.
A INFLUÊNCIA DA MAÇONARIA NO JORNALISMO  GAÚCHO DO SÉCULO XIX: CORREIO DO POVO
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A INFLUÊNCIA DA MAÇONARIA NO JORNALISMO GAÚCHO DO SÉCULO XIX: CORREIO DO POVO

  • 1. PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO SUL FACULDADE DE COMUNICAÇÃO SOCIAL A INFLUÊNCIA DA MAÇONARIA NO JORNALISMO GAÚCHO DO SÉCULO XIX: CORREIO DO POVO PEDRO MARQUES DO NASCIMENTO Porto Alegre 2004
  • 3. PEDRO MARQUES DO NASCIMENTO A INFLUÊNCIA DA MAÇONARIA NO JORNALISMO GAÚCHO DO SÉCULO XIX: CORREIO DO POVO Trabalho de conclusão, curso de Jornalismo, Faculdade dos Meios de Comunicação Social, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. Orientador: Prof. Celso Schröder Porto Alegre 2004
  • 4. PEDRO MARQUES DO NASCIMENTO A INFLUÊNCIA DA MAÇONARIA NO JORNALISMO GAÚCHO DO SÉCULO XIX: CORREIO DO POVO Trabalho de conclusão, curso de Jornalismo, Faculdade dos Meios de Comunicação Social, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. Aprovado em 30 de novembro de 2004, pela Banca Examinadora. BANCA EXAMINADORA: ___________________________ Prof. Celso Schröder - Orientador ___________________________ Prof. Dr. Juremir Machado da Silva ___________________________ Prof. Dr. Antonio Carlos Hohlfeldt
  • 5. AGRADECIMENTOS - A minha esposa, que esteve ao meu lado nas horas de estresse e desespero. - Ao meu orientador, professor Celso Schröder, que apostou no meu trabalho, mesmo sabendo das dificuldades para a realização do mesmo. - A todos que, direta ou indiretamente, ajudaram na confecção deste trabalho.
  • 6. SUMÁRIO INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 7 1 MAÇONARIA, SOCIEDADE E PODER ................................................................. 9 1.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS ............................................................................... 9 1.2 ORIGENS DA MAÇONARIA.................................................................................10 1.3 A INFLUÊNCIA MAÇÔNICA EM QUESTÕES POLÍTICAS ...............................13 1.4 PEDREIROS-LIVRES NO RIO GRANDE DO SUL .............................................15 1.4.1 Maçonaria, sociedades secretas e Revolução Farroupilha.........................17 1.4.2 As relações entre a maçonaria e a Igreja Católica no Rio Grande do Sul no século XIX..........................................................................................................19 1.4.3 A solidariedade interna maçônica: o auxílio mútuo protegendo os pedreiros............................................................................................................21 2 AS RELAÇÕES ENTRE JORNALISMO E PODER...............................................24 2.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS................................................................................24 2.2 O PAPEL DO JORNALISMO COMO EDUCADOR COLETIVO..........................24 2.3 PODER, APARELHOS IDEOLÓGICOS E JORNALISMO ..................................27 3 JORNALISMO COMO OCUPAÇÃO PREFERENCIAL DOS PEDREIROS-LIVRES GAÚCHOS...............................................................................................................31 3.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS .............................................................................31 3.2 OS MAÇONS E SUA ESCOLARIDADE ..............................................................31 3.3 OCUPAÇÕES INTELECTUAIS E CULTURAIS DOS MAÇONS GAÚCHOS .....33 3.4 A UTILIZAÇÃO DA IMPRENSA POR PARTE DOS INTEGRANTES DA MAÇONARIA ........................................................................................................35 3.4.1 A Imprensa maçônica de língua alemã no Rio Grande do Sul...................38 4 CORREIO DO POVO E AS RELAÇÕES COM A MAÇONARIA...........................45 4.1 CALDAS JR. E A SUA LIGAÇÃO MAÇÔNICA ..................................................45 4.2 MATÉRIAS DE INTERESSE MAÇÔNICO NO CORREIO DO POVO.................47 4.3 CORREIO DO POVO E O MAÇONISMO APÓS A MORTE DE SEU PATRIARCA..........................................................................................................50 CONSIDERAÇÕES FINAIS........................................................................................55 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS E LOCAIS DE PESQUISA..............................59
  • 7. RESUMO Este trabalho apresenta uma parte da trajetória do jornal gaúcho Correio do Povo e as relações entre seu fundador e a maçonaria, assim como possível ligação desta no periódico. História do Rio Grande do Sul, da maçonaria gaúcha e do periódico fazem parte da narrativa, que tenta explicar a relação entre as duas instituições que têm mais de cem anos de história. As relações entre o poder e o jornalismo também são abordados. São tratados ainda a abrangência dos meios de comunicação, como modo de diminuir o controle exercido por outras instituições. Palavras-chave: Correio do Povo - Maçonaria - Caldas Júnior
  • 8. ABSTRACT This work presents a part of the gaucho newspaper Correio do Povo's trajectory and the relationships between his founder and Freemasonry as well as its participation in the newspaper. Rio Grande do Sul, freemasonry e newspaper's history are part of the narrative which tries to explain the connection among the two institutions, which have more than a hundred years of history. The relationships with the newspaper's founder and the freemasonry are fundamental to understand if there are clues of institution's participation in the journal. The work is an attempt to explaining the masonic influence in the journal whiz is considered the first impartial newspaper of the state. Key-words: Correio do Povo - Freemasonry - Caldas Júnior
  • 9. INTRODUÇÃO Este trabalho foi realizado com o intuito de se estudar a influência da maçonaria gaúcha da segunda metade do século XIX na imprensa do Rio Grande do Sul, em especial, o Correio do Povo do mesmo período. O jornal teve como seu fundador um maçom respeitado e admirado dentro da Ordem. Essas relações entre jornalismo e maçonaria que Caldas Júnior possuía dá margem para uma averiguação histórica de indícios de seu papel nesses dois assuntos que permeiam as relações de poder da época e se ele os usava como formas paralelas de poder. O trabalho inicia com as origens da maçonaria e os fatos lendários que perpassam a mesma; a influência da instituição em questões políticas, a chegada dos pensadores maçons no Estado, a participação da ordem na Revolução Farroupilha; o seu caráter secreto e a desconfiança dos clérigos que viam com desprezo àqueles homens com idéias liberais, racionalistas, positivistas e, deveras, anticlericais. Por essa razão de desconfiança, os maçons criaram meios de proteção. Além dos sinais secretos, o mais conhecido entre os profanos, era a solidariedade interna maçônica: o auxílio mútuo entre os pedreiros-livres que caracteriza a Ordem. A seguir, são debatidas as relações entre o jornalismo e as esferas do poder. O papel que o jornalista desempenha, ao mesmo tempo, informante das mazelas da população e dos danos, ocasionalmente, causados pelo Estado. O jornalista educa e
  • 10. 8 ensina as camadas mais humildes da sociedade, devido aos problemas do ensino pedagógico e de outros fatores. A ideologia usada como meio de dominação também é tratada nesta parte do trabalho. Além disso, são apresentados o grau de escolaridade de alguns dirigentes maçons, do período delimitado no trabalho, e suas profissões, mostrando indícios da ocupação cultural preferencial dos obreiros. A imprensa maçônica de língua alemã no Rio Grande do Sul está em destaque neste trecho da monografia, bem como a utilização dos jornais, maçônicos ou não, como em alguns casos, porta-vozes da Ordem. Vestígios das relações do Correio do Povo com a maçonaria, da segunda metade do século XIX, são analisados no decorrer do trabalho. Também a condição de maçom de Caldas Júnior e os seus feitos, realizados enquanto membro vivo da Ordem. Indícios de notícias relacionadas à Instituição publicadas no Correio do Povo, enquanto em vida de seu fundador. Também, após a morte de seu patriarca são revelados sinais de matérias relativas à maçonaria e assuntos relevantes para a Ordem. Essa, que tem mais de 300 anos de história comprovada cientificamente, e mais de mil em fábulas e lendas a respeito da mesma e seu passado nebuloso. Para a obtenção de informações de dirigentes maçons e da Ordem, no Rio Grande do Sul, foi necessária uma pesquisa em documentos históricos e atas dos templos e lojas maçônicas. A metodologia usada utilizou-se da Técnica da Pesquisa Bibliográfica e Técnica de Pesquisa Documental. Um trabalho com embasamento na história do Rio Grande do Sul, da maçonaria gaúcha e na história do Correio do Povo.
  • 11. 1 MAÇONARIA, SOCIEDADE E PODER 1.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS No decorrer deste capítulo, são abordadas as relações de poder da maçonaria com a sociedade, durante o século XIX, e sua influência em fatos históricos no país. Um desses fatos, que teve a participação da Ordem, foi a Revolução Farroupilha. Nas palavras de Eliane Colussi: No Rio Grande do Sul, muitos foram farroupilhas em 1835, e alguns lutaram ao lado das forças legalistas; em 1893, alguns aderiram às forças revolucionárias, aos maragatos, e muitos, a maioria, foram cooptados pelo castilhismo positivista1. A presença da maçonaria no Brasil, durante o século XIX foi marcada por uma forte atuação política, principalmente na sua primeira metade do século e, mais tarde, por uma atuação no campo do pensamento liberal e cientificista, na sua segunda metade. Assim, no período de abrangência deste trabalho, a importância da ordem maçônica está vinculada especialmente à divulgação e propaganda do anticlericalismo, utilizando a imprensa como porta-voz dos discursos maçônicos. 1 COLUSSI, Eliane. Plantando ramas de acácia: a maçonaria gaúcha na segunda metade do século XIX. Porto Alegre, 1998, p. 249.
  • 12. 10 1.2 ORIGEM DA MAÇONARIA Os historiadores maçons pesquisados não são unânimes, quando se trata de analisar as origens da instituição, ocorrendo freqüentemente uma fusão de fatos lendários com fatos reais para se dar conta de tal questão. Para a historiadora F.A.Yates: A origem da maçonaria é um dos assuntos mais discutidos, e discutíveis, em todo o campo da investigação histórica. Temos que diferenciar entre a história lendária da maçonaria, e o problema de quando ela realmente foi iniciada como uma instituição organizada. De acordo com a lenda maçônica, a maçonaria é tão antiga quanto a própria arquitetura, retrocedendo até a construção do Templo de Salomão, e às corporações dos maçons medievais que construíram as catedrais. [...] Na mitologia maçônica, a autêntica antiga sabedoria estava encerrada na geometria do Templo construído por Salomão com auxílio de Hiram, rei de Tiro. Constava que o arquiteto do Templo foi um certo Hiram Abif, cujo martírio compõe o tema do estatuto simbólico do ritual maçônico2. Todavia, grande parte dos historiadores concorda que as feições da maçonaria moderna remontam a 1717, marco da formação da Grande Loja de Londres, que converteu a Ordem em uma espécie de escola de formação humana de caráter cosmopolita e secreto, reunindo homens de diferentes raças, religiões e línguas, com o objetivo de alcançar a perfeição por meio do simbolismo de natureza mística e/ou racional, da filantropia e da educação3. Neste período, a maçonaria abandonou sua origem ligada às velhas confrarias de pedreiros da época medieval, permitindo a admissão de novos elementos, sem a obrigatoriedade de serem ligados às corporações de ofício ou às sociedades de construtores. Os mesmos foram denominados de “maçons aceitos”4. 2 YATES, Frances Amelia. O Iluminismo Rosa-Cruz, Paris: Dervy, 1996, p. 269-70. 3 BENIMELI, J.A Ferrer. A Inquisição frente a Maçonaria e o Iluminismo. São Paulo: Paulinas, 1983. 4 BARATA, Alexandre Mansur. Luzes e Sombras: a ação dos pedreiros-livres brasileiros (1870-1910). Niterói: Universidade Federal Fluminense, 1992, p. 29.
  • 13. 11 Em 24 de junho de 1717, quatro lojas de Londres, cujos nomes derivam das tabernas onde se reuniam, O Pato e a Grelha, A Coroa, A Macieira e O Copo e as Uvas, construíram uma organização unificada sob o nome de Grande Loja de Londres, e elegeram um grão-mestre com autoridade sobre todos os membros da Ordem. Um ano mais tarde, foi iniciado um trabalho de todos os escritos que interessavam à maçonaria, sendo publicado, em 1723, o livro das Constituições de James Anderson que continha, ao mesmo tempo, a história lendária da instituição e seus preceitos básicos. Naquele mesmo período, foi admitido um grande número de indivíduos pertencentes à alta nobreza inglesa, e instaladas novas lojas. Este crescimento chegou a ponto de, em 1730, existirem 100 oficinas filiadas à Grande Loja de Londres. Estas oficinas passaram a identificar a organização maçônica como uma sociedade de pensamento, fundamentada na defesa do racionalismo, da tolerância e marcada por um caráter não confessional5. Segundo Alexandre Mansur Barata, entretanto, algumas lojas reagiram às transformações operadas pelas lojas londrinas. Estes núcleos refratários constituíram, em 1751, a Grande Loja dos Antigos Maçons. Esta divergência de opiniões perdurou até 1813, data em que as duas Grandes Lojas fundiram-se e formaram a Grande Loja Unida da Inglaterra, que passou a advogar, desde então, o estatuto da Loja Mãe da Maçonaria Universal6. O rápido crescimento da instituição não se limitou ao território inglês. Apesar das perseguições por parte dos governos e da Igreja Católica, causada pelo caráter 5 NEVILLE, B. Cryer. A Maçonaria e maçons. London: Logman, 1987, p. 102. 6 BARATA, Alexandre Mansur. Op. cit., p. 30.
  • 14. 12 secreto e não católico da associação, ela se difundiu por toda a Europa e pelo continente americano. Contudo, essa expansão não ocorreu de modo uniforme, sendo de menor intensidade nas regiões onde o poder do aparato persecutório da Igreja Católica era incontestável, como em Portugal e na Espanha. Isso porque, desde setembro de 1738, duas décadas após a formação da Grande Loja de Londres, o papa Clemente XII, na sua carta apostólica In Eminenti, instituiu a primeira condenação pontifícia da maçonaria. Em 1751, o papa Bento XIV reforçaria esta condenação, com a Constituição Apostólica Providas. Empenhada na preservação de seu status quo cultural e confessional, a Igreja estava atenta ao crescimento do número de lojas maçônicas no continente europeu. Segundo Barata, a preocupação da Igreja estava no fato de que essas lojas exerciam um certo atrativo sobre setores importantes da nobreza e da burguesia, ao veicular idéias que ameaçavam a sua hegemonia, como a tolerância religiosa e o racionalismo. Assim, desde meados do século XVIII, a maçonaria tornou-se sinônimo de perigo para a segurança da Igreja e dos Estados católicos, devido à sensação de insegurança que sentia a Igreja Católica e o Estado. No que diz respeito à forma de penetração da maçonaria em determinados países, não foi uniforme. Segundo Barata, se na Inglaterra ficou evidente uma maior aliança com o Estado, isso não ocorreu nos países latinos, onde a perseguição intensa fez com que a Maçonaria assumisse uma posição mais identificada com a luta pela liberdade de pensamento e contra o absolutismo monárquico, geralmente aliado à Igreja7. 7 BARATA, Alexandre Mansur. Op. cit.,p. 31.
  • 15. 13 Para o historiador, essas considerações exemplificam a necessidade de romper com a perspectiva de análise, tão característica do senso comum, que se baseia em uma visão monolítica da realidade maçônica. 1.3 INFLUÊNCIA MAÇÔNICA EM QUESTÕES POLÍTICAS A influência da maçonaria na esfera da política é mencionada com uma quase naturalidade. Em certa medida, o senso comum relaciona maçonaria e política, a partir da idéia propagandeada por muito tempo por “autores maçons e antimaçons, que supervalorizaram uma possível influência da instituição nesse âmbito”8. A tradição de explicar a participação maçônica a partir da tese do padre Augustin Barruel, revelado na análise da Revolução Francesa de 1789, pode ser assim sintetizado: O ex-jesuíta procura demonstrar que o terremoto político de 89 foi a resultante de uma conjura monstro, em que a incredulidade, a rebelião e a anarquia trabalharam em conjunto. E na exposição do esforço conspiratório, apresenta-nos de mãos dadas os enciclopedistas, os maçons e os iluminados da Baviera. Barruel fez escola nas fileiras contra-revolucionárias, quanto à responsabilização da maçonaria (em curso com o filosofismo) pelo avanço das forças ‘subversivas’ no século XVIII [...]. Importa acrescentar, no entanto, que, responsabilização da maçonaria à parte, a denúncia e exorcizarão do liberalismo não foi apanágio dos círculos ‘apostólicos’ e legitimistas. Cooperaram nela homens intelectualmente de esquerda, senão até afetos ao maçonismo9. Barata, analisando a participação de maçons junto ao parlamento brasileiro e em postos da administração pública no período de 1870 a 1910, constatou que ela foi bastante expressiva. Segundo os dados apresentados: Durante o segundo Reinado, uma análise da relação dos 85 nomes que compuseram os gabinetes ministeriais, entre 1870 e 1889, revelou que aproximadamente 13% deles pertenciam ou pertenceram à Maçonaria. Já no Conselho de Estado este percentual aumentava para 30% dos 48 8 BARATA, Alexandre Mansur. Op. cit.,p. 78. 9 DIAS, Graças. Os primórdios da maçonaria em Portugal. Lisboa: Imprensa de Coimbra, 1980, p. 156-57
  • 16. 14 Conselheiros no mesmo período, por sua vez, a relação dos 77 senadores vitalícios das seis províncias mais importantes do império – Rio de Janeiro, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, São Paulo, Bahia e Pernambuco – revelou um percentual aproximado de 21% de maçons10. Para o mesmo autor, essa realidade se repetiu no período da República Velha, quando a primeira geração de republicanos possuía um contato estreito com a ordem maçônica. Apesar de não apresentar os dados, a respeito dessa conclusão, o autor, relaciona o nome de vários republicanos identificados como maçons. No Rio Grande do Sul, “os maçons participaram ativamente dos círculos políticos e das relações de poder visto que se constituía numa província, depois estado, periférica e de pouca expressão política nacional”11. Para Colussi, a origem social dos integrantes da maçonaria esteve ligada à elite econômica regional, ou pela fortuna e patrimônio familiar, ou pela ocupação profissional. Da mesma forma, a perspectiva política apontou para uma forte presença desse grupo também na composição da elite política regional12. A expressiva participação de dirigentes maçons, principalmente na esfera regional e local da política parlamentar no Rio Grande do Sul, demonstra uma proximidade e intimidade no âmbito das relações de poder. A autora revela que a maçonaria pode ter influenciado de duas maneiras a política brasileira e, posteriormente, a gaúcha. Por meio de um tipo de poder indireto exercido por dirigentes maçons e pelo poder simbólico representado pela instituição. No primeiro caso, como o maçonismo não pressupõe um projeto político mais ou menos uniforme para a sociedade nem um conjunto de teses filosóficas e políticas acabadas, como, por exemplo, o positivismo, seria difícil afirmar o que exatamente pretendiam maçons-políticos. O poder indireto que circunscreveu a ordem, pelo menos no Rio Grande do Sul, esteve 10 BARATA, Alexandre Mansur. Op. cit., p. 164. 11 COLUSSI, Eliane. Op. cit., p.281. 12 Ibidem, p. 281.
  • 17. 15 relacionado às facilidades, benefícios e privilégios que seus membros adquiriam estando próximos à burocracia estatal e sendo integrantes da elite política parlamentar13. No caso gaúcho, numa economia periférica e agropecuarista, portanto pouco urbanizada no período, isso significava maiores facilidades na obtenção de rendas suplementares, ou até mesmo principais, em muitos casos. Assim, a par de que muitos políticos, independentemente da condição de maçons, alcançariam posições importantes no cenário regional e alguns poucos na política nacional, a maioria deles, principalmente os da esfera municipal, dependia, muitas vezes, dessas posições. A maçonaria, por meio da solidariedade interna, era um meio auxiliar para que obtivessem tais benefícios. 1.4 PEDREIROS-LIVRES NO RIO GRANDE DO SUL A introdução da instituição maçônica no Rio Grande do Sul de forma organizada e regular ocorreu somente a partir da década de 1830. Como no restante do Brasil, a presença de sociedades políticas e/ou literárias, muitas delas de caráter secreto, aliada à difusão de órgãos de imprensa, comprometidos com o ideário iluminista e liberal, portanto de caráter político, geraram as condições para as primeiras iniciativas que resultariam na instalação de lojas maçônicas na Província14. O atraso do movimento maçônico no estado pode estar vinculado às características próprias de um espaço geográfico incorporado tardiamente ao território nacional. O Nordeste litorâneo e o Centro-Sul minerador não só 13 COLUSSI, Eliane. Op. cit., p. 282. 14 REVERBEL, Carlos. Evolução da imprensa rio-grandense (1827-1845). Porto Alegre: Sulina, 1968, p. 256-57.
  • 18. 16 concentraram as principais atividades econômicas como também receberam as repercussões de movimentos políticos e culturais que abalariam os laços coloniais15. Segundo Colussi, na época da germinação da maçonaria no Estado, ficou evidenciado o atraso cultural que determinou a chegada tardia da Ordem em terras gaúchas16. O clima de agitação e efervescência política e cultural vivenciado por nordestinos, mineiros e cariocas, receptores das influências ideológicas vinda da Europa, principalmente do ideário iluminista francês, não envolveu de imediato “a singular elite regional”17. Nesse sentido, entre as razões do retardamento da chegada regular da maçonaria ao Rio Grande do Sul, estão relacionadas as dificuldades da elite regional em se integrar à elite política nacional. José Murilo de Carvalho apresenta um argumento da pequena representatividade dos gaúchos no cenário nacional durante o Império brasileiro. Segundo Carvalho, as únicas unidades importantes com considerável déficit de estudantes em relação à população são: o Rio Grande do Sul e São Paulo. No caso de São Paulo, o fato foi compensado pela proximidade com o Rio de Janeiro e, para efeito de seu comportamento durante o processo de independência, pela presença de figuras dominantes como José Bonifácio. No que se refere ao Rio Grande do Sul, a relativa ausência de gaúchos em Coimbra foi certamente uma razão adicional para o isolamento da província e seu sempre problemático relacionamento com o governo central18. 1.4.1 Maçonaria, sociedades secretas e Revolução Farroupilha 15 COLUSSI, Eliane. Op. cit., p. 152. 16 Ibidem, p. 156. 17 FÉLIX, Loiva Otero. Coronelismo, borgismo e cooptação política. Porto Alegre: Universidade/UFRGS, 1996, p. 34-44. 18 CARVALHO, José Murilo de. A construção da ordem: a elite política imperial; Teatro de Sombras: a política imperial. 2. ed. Rio de Janeiro: UFRJ: Relume-Dumará, 1996, p. 132-33.
  • 19. 17 A primeira loja maçônica instalada no Rio Grande do Sul de forma regular de que se tem notícia foi a Filantropia e Liberdade, fundada em 25 de dezembro de 1831, na cidade de Porto Alegre. Um indicador de que a maçonaria se fez presente na Revolução Farroupilha - senão como articuladora ou como organizadora, ou menos como fonte de inspiração - é a existência de alguns documentos maçônicos que dão conta de algum tipo de relacionamento. A incumbência que recebeu o líder Bento Gonçalves de regularizar e filiar lojas e maçons nos locais percorridos pelos revolucionários é um exemplo. Em relação a isso, foi localizada uma ata da primeira loja instalada regularmente na Província, a Filantropia e Liberdade, de Porto Alegre, datada de 24 de fevereiro de 1833, registra: Resolvemos conferir ao Ir... SUCRE, C... R... + ..., profanamente Bento Gonçalves da Silva, os poderes em direito necessários a promover, por todos os modos possíveis, a execução dos artigos seguintes: Art. 1º - Procurará instalar na Vila do Rio Grande ou São Francisco de Paula, um quadro Maç... filiado ao Or... de Porto Alegre. Art. 2º - Fará subir ao conhecimento da Aug... Loj... o regulamento e rituais Maç... por que se regeram. Art. 3º - Proverá a eleição de um Ir... que deve representar a Loj... na qualidade de seu representante junto a Aug... Loj... devendo a Loj... muni- lo de plenos e amplos poderes19. A incumbência recebida por Bento Gonçalves, comprovada por um documento de uma loja regular, revela a preocupação de ser intensificada a atividade maçônica através de contatos com o interior do estado. Assim, o movimento farroupilha contribuiu para a expansão de um tipo de pensamento que aproximou parcela da elite regional à causa maçônica; de outro modo, esse mesmo movimento impediu uma expansão maior, no sentido de possibilitar estruturas maçônicas devidamente legitimadas por corpos maçônicos 19 DIENSTBACH, Carlos. A maçonaria gaúcha – história da maçonaria e das lojas do Rio Grande do Sul. Londrina: A Trolha, 1993, p. 479.
  • 20. 18 superiores. A fragilidade em termos de formação maçônica mais intelectualizada, mais próxima dos padrões de princípios, rituais e símbolos, marcou essa fase da história da maçonaria e correspondeu também ao clima político que se desenvolveu na pós-revolução. Assim, nessa fase, um aspecto que deve ser ressaltado é o da indefinição entre os grupos políticos nos quais a elite dominante local esteve envolvida. Nesse sentido, o quadro político é importante, pois a atividade maçônica esteve estreitamente vinculada à esfera da política, e os maçons, via de regra, eram recrutados no grupo social dominante. É Importante assinalar, nesse contexto, a presença de maçons em ambos os lados do conflito. Os posicionamentos contraditórios, nesse caso, irão aparecer em outros momentos da história política do Rio Grande do Sul. No caso da Revolução Farroupilha, para Colussi, a unidade de pensamento político nunca se constituiu em característica da atuação da maçonaria em qualquer tempo e espaço; ao contrário, esse aspecto esteve sempre presente como demonstração de que os princípios maçônicos de conferir liberdade de pensamento e de religião aos seus membros foram, de fato, absorvidos pela instituição20. 1.4.2 As relações entre Maçonaria e a Igreja Católica no Rio Grande do Sul no século XIX A presença da maçonaria no Brasil, durante o século XIX, foi marcada por fortes atuações políticas, principalmente na sua primeira metade e, mais tarde, no campo do pensamento liberal, na sua segunda metade. Assim, a importância da ordem maçônica esteve vinculada especialmente à divulgação e à propaganda do anticlericalismo. As permanentes cisões entre os organismos maçônicos nacionais e regionais, que geraram diversos grandes orientes e supremos conselhos, em fases 20 COLUSSI, Eliane. Op. cit., p. 183.
  • 21. 19 diferentes da história da maçonaria brasileira, não impediram que, do ponto de vista ideológico, o anticlericalismo se tornasse o seu ponto unificador. O polêmico e conturbado relacionamento entre maçonaria e Igreja Católica desde o século XVIII, em termos internacionais, quando das primeiras condenações pontificiais, agravou-se no transcorrer do século XIX. No Brasil, o conflito entre as duas instituições foram mais intensos entre as décadas de 1870 e 1910. Nesse período, e especialmente antes da proclamação da República, em 1889, Igreja Católica e maçonaria foram protagonistas de uma questão de fundo que envolvia o Império brasileiro: a questão religiosa e o debate em torno da separação Estado/Igreja. Roque Spencer de Barros inseriu essa questão conjuntural em um processo mais amplo: o confronto entre as diferentes matrizes do pensamento brasileiro do século XIX e início do século XX. Nesse sentido, a intelectualidade brasileira poderia ser dividida em três vertentes que estavam em consonância com o ideário europeu: o embate entre o pensamento católico-conservador, e os pensamentos liberal e cientificista21. O conservadorismo político e o ecletismo intelectual não impediram que a elite política e intelectual brasileira fosse, em sua maioria, receptora e divulgadora do liberalismo e do cientificismo, uma herança da influência do pensamento francês no Brasil. Por sua vez, o pensamento católico-conservador conquistou poucos espaços e defensores entre a intelectualidade e políticos do Império. Na opinião de Antônio Carlos Villaça, não tivemos pensamento católico no Brasil, nem ao longo dos dois séculos de influência escolástica, nem muito menos ao longo do século XIX, de presença quase exclusivamente francesa até a publicação dos “Estudos Alemães”, em 1882, com que Tobias Barreto abre o período de influência germânica na cultura brasileira22. 21 BARROS, Roque. A ilustração brasileira e a idéia de universidade. Difel. 1985, p. 50-60. 22 VILLAÇA, Antônio Carlos. O pensamento católico no Brasil. Rio de Janeiro: Zahar, 1984, p. 10.
  • 22. 20 Em outras palavras, no século XIX, mesmo com a confirmação da religião católica como oficial na Constituição de 1824, um dos conflitos permanentes foi exatamente entre o Estado e a Igreja Católica. Tal conflito tomaria novas dimensões a partir da questão religiosa de 1872 e seria resolvido, definitivamente, com a separação dessas instituições no advento da República. Na origem dessa situação, esteve a contradição de o Brasil ser um país oficialmente católico e, por outro lado, de ter se gerado uma classe dirigente - políticos e intelectuais - e um estado cada vez mais secularizado. Entre esses políticos e intelectuais se encontravam os maçons que pressionavam o Império brasileiro nas questões anticlericais. No Brasil do século XIX, a Igreja Católica não se constituía numa instituição estruturada e presente em todo o território nacional; ela era frágil, desorganizada e desvinculada das necessidades de uma população católica, na realidade, pouco afeita às suas práticas religiosas. No Rio Grande do Sul, a situação do catolicismo era grave, visto que a tardia colonização portuguesa, o isolamento e o abandono por parte da administração eclesiástica e a subordinação a uma diocese distante, fragilizavam ainda mais as práticas religiosas e as convicções católicas. No mesmo século, o XIX, nas décadas de 1830 e 1840, a maçonaria gaúcha deu seus primeiros passos, consolidando-se a partir da segunda metade, em praticamente todos os vilarejos e cidades gaúchas. O crescimento irregular da maçonaria, a partir de 1850 não impediu, no entanto, que ela se tornasse uma instituição com influência na sociedade gaúcha daquele período. Aliados e integrantes dos grupos políticos e intelectuais liberais, os maçons adquiriram prestígio e influência em várias esferas da política e da vida social no Rio
  • 23. 21 Grande do Sul. A fragilidade da Igreja Católica, tanto em nível nacional quanto regional, conferiu expressão a esses grupos liberais e maçônicos, especialmente na formação e divulgação de um tipo de pensamento predominantemente laico, anticlerical e racionalista nos meios políticos e intelectuais, no caso da imprensa. Nessa perspectiva, a política de romanização católica, implementada a partir do papado de Pio IX, tentou reverter o quadro do catolicismo mundial no embate direto com o liberalismo e com a maçonaria. 1.4.3 A solidariedade interna maçônica: o auxílio mútuo protegendo os pedreiros A filantropia interna maçônica ou auxílio mútuo é também uma finalidade intrínseca das atividades maçônicas. Quando há a presença maçônica na esfera política, a capacidade de indicar ou nomear maçons para cargos burocráticos ou políticos gerava uma clara zona de influência maçônica. A esse poder indireto agregava-se a nomeação para cargos como um fator de sobrevivência para os mesmos. O auxílio mútuo serviu também como instrumento de cooptação de novos membros e de consolidação do seu quadro de filiados, visto que a perspectiva de alguma garantia, ou benefício material ou financeiro servia, em muitos casos, como convencimento para que novos iniciados ou maçons se mantivessem na instituição. Para Barata,
  • 24. 22 na realidade, o ideal de fraternidade, traduzido na prática da solidariedade e da beneficência, traz consigo uma dinâmica equalizadora, na medida em que ele deve ser estendido a todos os homens. A todos os irmãos. Busca-se, através dele, estabelecer a igualdade real e não apenas jurídica entre os homens, acrescentando aos direitos individuais um direito social. Contudo, para os maçons, a fraternidade não pode existir apenas nas palavras, pois a solidez da instituição encontra-se justamente na solidariedade entre seus membros. O conteúdo afetivo intrínseco ao juramento de fraternidade fortalece os laços de estreita união, dando aos maçons um sentimento de segurança e de força23. No transcorrer do século XIX, ainda não havia sido criado no Brasil um projeto de auxílio mútuo maçônico de forma organizada, sistemática e eficiente; o que existia eram iniciativas e ações espontâneas, que se desenvolviam de acordo com determinadas situações. Até aquele momento, a maior parte das preocupações dirigia-se aos irmãos empobrecidos por falência ou desemprego, assim como às viúvas e órfãos. Exemplos dos moldes da solidariedade interna no período estão noticiados na imprensa maçônica: em Pelotas, ocorrera o falecimento de José Monteiro, antigo membro da loja Comércio e Indústria, que estava na miséria, quando a loja pagara todas as despesas com o funeral24. As ações isoladas de auxílio mútuo se dirigiam, preferencialmente, às viúvas e filhos de maçons. A coleta de donativos entre membros da loja à qual pertencia o morto, muitas vezes apelando-se também para donativos de outras oficinas, objetivava solucionar os problemas imediatos causados pelo falecimento: as dívidas com médicos e medicamentos, o pagamento de outras dívidas, a manutenção da família e, em muitos casos, a compra de um imóvel para a viúva. 23 BARATA, Alexandre Mansur. Op. cit., p.161-62. 24 A Acácia-folha maçônica, 1876, ano 1, n. 9, p. 4.
  • 26. 2 AS RELAÇÕES ENTRE JORNALISMO E O PODER 2.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS Nas sociedades contemporâneas, o conhecimento constitui um princípio de hierarquização social tão importante quanto a propriedade, principalmente, pelo que a informação representa um poder enorme. Os jornalistas, e as suas fontes, são uma das formas utilizadas para contribuir, conjuntamente, para articular e definir os contornos da sociedade do conhecimento, reproduzindo as estruturas do poder e do saber. 2.2 O PAPEL DO JORNALISMO COMO EDUCADOR COLETIVO A educação dos trabalhadores - entendida como acesso ao conhecimento, desde a alfabetização até a capacitação para o exercício profissional e intelectual - constitui um passo importante. Mesmo que esteja sendo influenciada pelos mecanismos de direção ideológica inerente ao saber, ela representa condição indispensável para o exercício da cidadania. Por isso, a oportunidade da educação formal tem sido negada ou então dificultada aos contingentes que formam a base da pirâmide social. No entanto, essas pessoas, localizadas à margem da sociedade, não possuem alternativas senão procurar a fuga da ignorância nos meios de
  • 27. 25 comunicação. Mesmo que esse meio de educação coletivo também esteja sob a égide das classes dominantes. Sobre essa questão, Melo explica: Resta-lhes, contudo a possibilidade de participar do processo de educação informal que se opera através dos meios de comunicação de massa, dependendo naturalmente do estágio econômico em que se localiza cada cidadão. De alguma maneira o fluxo dos "mass media" acaba por atingir todos os indivíduos, excetuando aqueles bolsões de marginalidade que substituem ao largo da sociedade nacional. Nesse sentido é que o sistema de comunicação de massa desempenha o papel de educador coletivo, permitindo o acesso a um certo tipo de conhecimento que vincula os indivíduos à sua contemporaneidade, mas ao mesmo tempo orienta a sua percepção para apreender significados compatíveis com a ideologia dominante25. Ainda, segundo o autor, esse processo de educação informal que ocorre através dos meios de comunicação “conduz de forma determinista as pessoas que dele participam para uma adesão incondicional aos valores hegemônicos”26. Roberto Ramos, utilizando os conceitos de Gramsci, sobre hegemonia cultural, explica que “através dela, a classe dominante se impõe ao proletariado e garante o poder de Estado. A hegemonia tende a uma filosofia positivista de mundo. É absolutista. Não permite qualquer espécie de mudança social”27. Para Thompson, assim como para Gramsci, a cultura ou poder simbólico é responsável na atividade da produção, da transmissão e da recepção das formas simbólicas. “As ações simbólicas podem provocar reações, liderar respostas de determinado teor, sugerir caminhos e decisões, induzir a crer e a descrer, apoiar os negócios do estado ou sublevar as massas em revolta coletiva” 28. Com isso, obtém- se a capacidade de intervir no curso dos acontecimentos, de influenciar as ações 25 MELO, José Marques de. Para uma leitura critica da comunicação. São Paulo: Paulinas, 1985, p. 10. 26 Ibidem, p. 10. 27 RAMOS, Roberto. Futebol: ideologia e poder. Petrópolis: Vozes, 1988, p. 22. 28 THOMPSON, John B. A mídia e a modernidade: uma teoria social da mídia. 5. ed. Petrópolis: Vozes, 2002, p. 24
  • 28. 26 dos outros e produzir eventos por meio da produção e da transmissão de formas simbólicas. “Informação significa poder, e no jogo com sua utilização estão implícitas relações de dominação”29. Segundo Guareschi, os meios de comunicação “estão sempre presentes e são fator indispensável tanto na criação quanto na transmissão, mudança, legitimação e reprodução de determinada cultura”30. Guareschi vê o crescimento e a abrangência dos meios de comunicação como um modo de diminuir o controle exercido por outras instituições, como a escola, as igrejas e a família. Assim como Guareschi, Thompson acredita que há uma grande variedade de instituições que assumem o papel importante na difusão das informações e de comunicação. Estas incluem instituições religiosas, que se dedicam essencialmente à produção e difusão de formas simbólicas associadas à salvação, aos valores espirituais e crenças transcendentais; instituições educacionais, que se ocupam com a transmissão de conteúdos simbólicos adquiridos (o conhecimento) e com o treinamento de habilidades e competências; e instituições da mídia, que se orientam para a produção em larga escala e a difusão generalizada de formas simbólicas no espaço e no tempo. Estas e outras instituições culturais forneceram bases para a acumulação dos meios de informação e comunicação, como também os recursos materiais e financeiros, e forjaram os meios com os quais a informação e o conteúdo simbólico são produzidos e distribuídos pelo mundo social31. 29 MARCONDES, Ciro. O capital da notícia: jornalismo como produção social da segunda natureza. São Paulo: Ática, 1989, p. 24 30 GUARESCHI, Pedrinho. Comunicação e controle social. Petrópolis: Vozes, 1991, p. 16. 31 THOMPSON, John B. Op. cit., p. 25
  • 29. 27 2.3 PODER, APARELHOS IDEOLÓGICOS E O JORNALISMO O poder, segundo Thompson, caracteriza-se por: No sentido mais geral, é a capacidade de agir para alcançar os próprios objetivos ou interesses, a capacidade de intervir no curso dos acontecimentos e em suas conseqüências. No exercício do poder, os indivíduos empregam os recursos que lhes são disponíveis; recursos são os meios que lhes possibilitam alcançar efetivamente seus objetivos e interesses. Ao acumular recursos dos mais diversos tipos, os indivíduos podem aumentar seu poder [...] indivíduos que ocupam posições dominantes dentro de grandes instituições podem dispor de vastos recursos que os tornam capazes de tomar decisões e perseguir objetivos que têm conseqüências de longo alcance32. O tratamento que sofre a notícia, antes de chegar ao receptor, é o principal modo de se operar a chamada manipulação/dominação jornalística. Entre a ocorrência de um fato social relevante, o acontecimento objetivo e sua apresentação ao público, surgem diversas formas de intervenção que alteram sensivelmente o caráter e, principalmente, o efeito dessas notícias. Segundo Marcondes Filho, “é nessa altura que se opera a adaptação ideológica, a estruturação da informação com fins de valorização e de interesse de classe”33. Para Guareschi, os aparelhos ideológicos, além dos meios de comunicação, são: a família, a escola e os partidos, que formam os aparelhos ideológicos do Estado. “Eles reproduzem as relações de produção capitalista, que é feito de várias formas, seja por intermédio da manipulação do nacionalismo, liberalismo, seja pelo entretenimento”34. “A ideologia, como um sistema de representações, é inseparável da experiência vivencial cotidiana dos indivíduos.”35 Isso significa afirmar que a 32 THOMPSON, John B. Op. cit., p. 21. 33 MARCONDES, Ciro. Op. cit., p. 39. 34 GUARESCHI, Pedrinho. Comunicação e poder. A presença e o papel dos meios de comunicação de massa estrangeiros na América Latina.Petrópolis: Vozes, 1981, p. 16. 35 GUARESCHI, Pedrinho (1981, p. 19).
  • 30. 28 ideologia impregna os hábitos, os desejos, os reflexos das pessoas; significa, também, afirmar que a grande maioria das pessoas atravessa a vida sem, talvez, nunca se dar conta dos verdadeiros fundamentos dessas representações. A ideologia dominante cumpre uma função prática: ela permite a inserção de indivíduos de uma forma natural nas atividades que eles desempenham no interior do sistema e, desta maneira, capacita-os a participar na reprodução do aparato de dominação, sem que se dêem conta de que eles próprios são cúmplices e autores de sua própria exploração. “Para o indivíduo inserido no sistema capitalista, a ideologia é experiência que alguém vive sem conhecer as verdadeiras forças motoras que a ideologia coloca em movimentação”36. Segundo Marcondes Filho, sobre a questão da atuação dos meios de comunicação sobre a sociedade, o Jornalismo, via de regra, atua junto com grandes forças econômicas e sociais: um conglomerado jornalístico raramente atua sozinho. Ele é ao mesmo tempo a voz de outros conglomerados econômicos ou grupos políticos que querem dar às suas opiniões subjetivas e particularistas o foro da objetividade37. A comunicação e a informação passam a ser alavancas poderosas para expressar e universalizar a própria vontade e os próprios interesses dos que detém os meios de comunicação. O monopólio da propriedade privada da terra os latifúndios prolongam-se no do poder político como dominação, e passam a abranger, logicamente, o monopólio dos meios de comunicação social, a serviço da dominação ideológica. A posse da comunicação e a informação torna-se instrumento privilegiado de dominação, pois cria a possibilidade de dominar a partir da interioridade da 36 GUARESCHI, Pedrinho (1981, p. 20). 37 MARCONDES, Ciro. Op. cit., p. 11.
  • 31. 29 consciência do outro, criando evidências e adesões, que “interiorizam e introjetam nos grupos destituídos a verdade e a evidência do mundo do dominador”38, deixando o grupo dominado sem alternativa. Segundo Guareschi, os que detêm a comunicação chegam até a definir os outros, definir determinados grupos sociais como sendo melhores ou piores, confiáveis ou não-confiáveis, tudo de acordo com os interesses dos detentores do poder, quem tem a palavra constrói identidades pessoais ou sociais39. A identificação das relações de poder em qualquer sistema de comunicação significa elemento fundamental para se avaliar a conexão dos interesses políticos e econômicos que estão por detrás das suas mensagens, programas e campanhas. Logo, no entendimento de Melo, não basta saber quem controla um determinado veículo, mas torna-se importante desvendar a teia de compromissos dos seus proprietários, pois assim é possível analisar com maior precisão o seu comportamento comunicativo40. Assim, os meios de comunicação contribuem para a criação de uma determinada ordem social resultante da divulgação de um tipo de conhecimento que emerge das suas relações com determinadas fontes de informação. Os comunicadores, com isso, produzem um tipo de pensamento que se torna predominante na sociedade. 38 GUARESCHI, Pedrinho (1991, p. 19). 39 Ibidem, p. 15. 40 MELO, José Marques de. Op. cit., p. 96.
  • 33. 3 JORNALISMO COMO OCUPAÇÃO PREFERENCIAL DOS PEDREIROS-LIVRES GAÚCHOS 3.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS A imprensa, principal centro das atividades intelectuais na segunda metade do século XIX, no Rio Grande do Sul, foi um espaço de atuação de importantes dirigentes maçons. No decorrer deste capítulo, além de ver a utilização do meio de comunicação impresso por parte dos integrantes da Ordem, fez-se necessário contextualizar o nível de escolaridade da sociedade gaúcha e, por conseguinte, dos dirigentes maçons do período delimitado. 3.2 OS MAÇONS E SUA ESCOLARIDADE Paralelamente às ocupações propriamente profissionais e políticas, que categorizavam o grupo de dirigentes maçons como um segmento da elite regional, a formação escolar e ocupações intelectuais e culturais reafirmaram essa condição social. Contudo, nesse aspecto, abriu-se uma brecha para os jovens oriundos de setores intermediários, para que se projetassem social e politicamente. A inteligência gaúcha foi, portanto, fruto das iniciativas dos filhos da elite tradicional do Rio Grande do Sul, aliados àqueles jovens ilustrados sem berço, mas que acabariam se aproximando do poder. Até o início da segunda metade do século XIX, a
  • 34. 32 presença de um setor agregando letrados e intelectuais era quase imperceptível e, mesmo, dispensável. Nas palavras de Sergius Gonzaga, eles emergiram apenas em meados do século XIX. E, como era de se esperar, em face do atraso e pobreza cultural do meio, em face da ausência de uma tradição de ensino, fosse leiga ou eclesiástica, e em que face principalmente da exígua rede de relações sociais e da horizontalidade econômica do espaço urbano, as primeiras manifestações literárias seriam insignificantes, seja do ponto de vista quantitativo, seja do qualitativo41. Independentemente, porém, do grau de desenvolvimento de uma vida cultural e artística que se comparasse à do centro do país, observam-se no estado, a partir do início da segunda metade do século XIX, diversas iniciativas que viriam alterar significativamente esse quadro. Na colocação de Colussi, tais evidências podem ser constatadas na crescente preocupação com o ensino, nas iniciativas de criação de órgãos de imprensa, na difusão de casas de teatro na capital e no interior no número de publicações, a princípio incipientes, mas que, gradualmente foi tomando destaque. Cabe salientar, a título de exemplo, que, em termos de escolaridade, a província, em comparação ao restante do Brasil do período em estudo, já se apresentava com números bastante positivos42. Foi nesse quadro, em principio desanimador e próprio de uma região de ocupação e desenvolvimento econômico tardio e periférico, que a maçonaria se integrou e ocupou seu espaço. A grande maioria dos maçons, principalmente seus dirigentes, “podem ser enquadrados na categoria de homens cultos letrados”43. O grupo maçônico construiu um tipo particular de padrão cultural, que se articulava com o pensamento político-ideológico típico do século XIX, mas que possuía um 41 GONZAGA, Sergius. As mentiras sobre o gaúcho: primeiras contribuições da literatura. FREITAS, Décio (org.). In: RS: ideologia e cultura, p. 123. 42 COLUSSI, Eliane. Op. cit., p. 299-300. 43 Ibidem, p.300.
  • 35. 33 conjunto de significados corporizados em símbolos, um sistema de concepções herdadas e expressas em formas simbólicas. Foram pesquisados dirigentes maçons pertencentes as lojas do Estado no século XIX. Os dados sobre o nível de escolaridade dos dirigentes maçons pesquisados confirmam, primeiramente, o perfil da alta instrução de seus integrantes. Frente ao processo de ampliação e consolidação de uma vida urbana e cultural no Rio Grande do Sul, os pedreiros-livres, homens cultos e letrados, destacaram-se em muitas das iniciativas nesse âmbito. Foram localizadas informações biográficas, fornecidas pelo Grande Oriente do Rio Grande do Sul, sobre esse item, de 123 integrantes maçons. Desse número, foi constatada a maioria deles sendo de advogados (48) e, em segundo lugar, de jornalistas (24). O nível de escolaridade dos membros da maçonaria dá indícios de um padrão intelectual relativamente homogêneo. Devido a essa uniformidade, em termos de nível escolar dos membros da maçonaria, a população marginal não tinha meios de se inserir na Ordem. No entanto, Colussi, sobre esse assunto, explica como os iletrados conseguiam manter algum tipo de contato com a maçonaria: Dessa forma, os maçons produziram e foram receptadores de uma cultura elitista, tanto por sua origem social como por exclusão de uma maioria de analfabetos, visto que, via de regra, esses não eram convidados a participar da instituição. No mesmo sentido, os iletrados ou analfabetos também não possuíam meios ou condições intelectuais para serem receptadores do discurso e da visão do mundo da maçonaria. Contudo, atento a essa realidade, os porta-vozes da maçonaria, assim como seus produtores intelectuais, construíram e dirigiram discursos variados para atender a demandas sociais também diferentes44. 3.3 OCUPAÇÕES INTELECTUAIS DOS INTEGRANTES DA MAÇONARIA NO RIO GRANDE DO SUL 44 COLUSSI, Eliane. Op. cit., p. 302.
  • 36. 34 Foram pesquisados os dados relativos às informações sobre a presença maçônica em atividades ou ocupações intelectuais ou culturais no período de 1850 a 1900. Dos maçons pesquisados, a maioria, 44 membros, preferiu o jornalismo. O âmbito da cultura a que se vincularam preferencialmente os maçons gaúchos foi, fundamentalmente, o ligado ao contexto do pequeno desenvolvimento intelectual e cultural no Rio Grande do Sul, no período delimitado. Assim, a imprensa e a literatura, isto é, o mundo da palavra escrita e lida, foram o universo disponível e de atuação para uma geração da inteligência gaúcha que produziu e reproduziu conhecimentos, opiniões e posicionamentos. As iniciativas anteriores, que não devem ser esquecidas, sofreram sobremaneira com o quadro geral do atraso e segregação rio-grandense, principalmente com a carência de escolas, a falta de professores e a pequena difusão da literatura45. A imprensa já tinha dado seus primeiros passos no Rio Grande pós-independência; a difusão de jornais, sobretudo a partir de 1827, e no período farroupilha, criara uma certa tradição, em especial da imprensa política46. Aliás, durante a primeira metade do século XIX, foi o principal, senão o único veículo dedicado à produção intelectual entre os gaúchos. A imprensa e a literatura que interessam na compleição deste trabalho são as da segunda metade do século XIX, período de fundação do Correio do Povo e da 45 Conforme CESAR, Guilhermino. História da literatura no Rio Grande do Sul (1737-1902). Porto Alegre: Globo, 1971, p. 18-20, a literatura rio-grandense viveu sete períodos, sendo eles: 1º, de 1737 a 1834, fase da luta instintiva pela conquista de uma expressão nacional; 2º, de 1834 a 1856, marcada pela assimilação consciente dos valores integrantes da cultura nacional maturadas nas antigas capitanias do Centro; 3º, de 1856 a 1869, período da floração romântica através do grupo da revista O Guaíba; 4º, de 1869 a 1884, fase que teve início com o Partenon Literário até os rebates iniciais do parnasianismo; 5º, 1884 a 1902, marcado pelo abandono ideário romântico e adoção de formas próximas ao realismo; 6º, de 1902 a 1925, que vais oscilar entre o espiritual do simbolismo e o neo-realismo e, por último, o 7º, de 1925 em diante, com a constituição de uma nova geração de literatos, por um lado regionalista e, de outro, universalista. 46 REVERBEL, Carlos. Evolução da imprensa rio-grandense (1827-1845). In: Enciclopédia rio-grandense, 1968, p. 241-264.
  • 37. 35 morte de seu patrono que, pela periodização de Guilhermino César, perpassam pelo terceiro, quarto e quinto períodos (1856-1902). Foi nesse período, e nessas duas áreas de aglutinação intelectual - a imprensa e a literatura - que a presença maçônica foi marcante. 3.4 A UTILIZAÇÃO DA IMPRENSA POR PARTE DOS INTEGRANTES DA MAÇONARIA A imprensa gaúcha do século XIX se desenvolveu de maneira a superar obstáculos de variadas origens, os quais iam desde problemas de infra-estrutura material (recursos, local ou sede) até àqueles ligados à distribuição e legislação coercitiva. Mesmo assim, e em condições precárias durante praticamente todo o século passado, pequenos e grandes jornais se instalaram e prosperaram no Rio Grande do Sul. A característica mais destacada da imprensa durante o período foi a sua íntima relação com os debates político-partidários. Francisco Neves Alves, tratando dessa questão, afirma: A evolução da imprensa acompanharia, assim, o processo de formação histórica-política rio-grandense: durante a Revolução Farroupilha, serviu para defender os princípios tanto de rebeldes quanto de legalistas; com a pacificação, contribuiu na busca de estabilidade e na afirmação do espírito de ‘brasilidade’ e, posteriormente, a partir da consolidação do Império, refletiu os debates entre liberais e conservadores e os conflitos entabulados no Prata; propagou os ideais republicanos e, com o advento da nova forma de governo, veiculou as idéias e práticas dos grupos, cujo confronto resultaria na Revolução Federalista, guerra civil que deixaria marcas por toda a República Velha47. 47 ALVES, Francisco Neves. Uma introdução à imprensa rio-grandina. Rio Grande: Universidade do Rio Grande, 1995, p.16.
  • 38. 36 Foi especialmente nessa imprensa de caráter extremamente politizado48 que se localiza uma forte atuação de dirigentes e lideranças maçônicas, demonstrando que a imprensa rio-grandense foi um espaço de ampla e abrangente participação e influência maçônica. Como intelectuais e letrados integrantes da elite regional, os maçons ocuparam um espaço privilegiado num dos poucos meios de informação disponíveis no período. A imprensa gaúcha era, então, produzida e dirigida a um grupo social bastante restrito, excluindo a maior parte da sociedade, composta por analfabetos. Além da imprensa propriamente maçônica, a grande e pequena imprensa foi espaço de ampla participação de maçons. Barata observou essa expressiva presença em termos nacionais, da seguinte forma: Começando com Hipólito da Costa e Gonçalves Ledo, no início do século XIX, vários foram os maçons que fizeram da imprensa uma verdadeira tribuna em defesa das idéias maçônicas. Pode-se destacar: Henrique Valladares, Alexandrino do Amaral, C. Bracante, Luiz Corrêa de Azevedo, Luiz Antônio Pinto Mendes, Mário Behring, todos redatores do Boletim do Grande Oriente do Brasil; Quintino Bocaiúva, Venâncio de Oliveira Aires; João Franklin da Silveira Távora; Ubaldino do Amaral Fontoura; entre outros49. Os dirigentes maçons atuaram de diversas formas no universo da imprensa, seja como proprietários de jornais na capital ou no interior, seja como diretores e, editores, redatores ou, ainda, em muitos casos, simplesmente como colaboradores. Reverbel, sobre a formação dos jornais surgidos no século XIX no estado, afirma: A grande difusão de jornais, de circulação periódica e em língua portuguesa, que apareceram na capital e no interior na segunda metade do século XIX, muitos deles foi fruto de iniciativas de dirigentes maçons, homens com capital e cultura típicos da elite gaúcha. Nesse tipo de 48 RÜDIGER, Francisco Ricardo. O nascimento da imprensa no rio Grande do Sul. Revista do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da UFRGS, p. 116 49 BARATA, Alexandre Mansur. Op. cit., p. 163.
  • 39. 37 imprensa, a predominância de órgãos vinculados a agrupamentos e partidos políticos demarcou a atuação dos dirigentes maçons50. O Quadro 1 revela uma relação de dirigentes maçons que atuaram no âmbito do jornalismo no século XIX. Quadro 1: Dirigentes maçons/ jornalistas/ órgãos de imprensa NOME JORNAL CIDADE FUNÇÃO/ANO Antônio Pinto Palmeiro da Fontoura A Resistência São Gabriel Diretor/1886 Aparício Mariense da Silva 13 de janeiro São Borja Redator/1896 Aristides Epaminondas de Arruda O Osório S. Vitória do Palmar Redator/1890-1894 Carlos Von Koseritz Koseritz Deutsche Zeitung Porto Alegre Proprietário e redator/ 1881-1890 Emil Wiedemann Deutsche Zeitung Porto Alegre Proprietário/1864 Ernesto Augusto Gerngross Diário de Pelotas Pelotas Proprietário/1884 Ernesto Reinhold Ludwig Koseritz Deutsche Porto Alegre Diretor e redator/ 1890 Zeitung Francisco Antônio Caldas Júnior Correio do Povo Porto Alegre Proprietário Gavino Machado da Silveira Gazeta Pedritense D. Pedrito Diretor e proprietário/1881 Germano Hasslocher A Federação Porto Alegre Colaborador João Batista Taloni O Fígaro Porto Alegre Colaborador/1879 José Carlos Sperb O Puritano São Leopoldo Colaborador/1905 José Celestino Prunes Gazeta de Alegrete Alegrete Redator/1882 Pedro Bernardino de Moura Echo do Sul Pelotas/Rio Grande Redator/1857 Pedro Moacyr A Federação Porto Alegre Colaborador Ramiro Barcelos A Federação Porto Alegre Colaborador Venâncio Aires A Federação Porto Alegre Redator Fonte: Pesquisa do autor. A pesquisa revela indícios de uma presença importante de dirigentes maçons nos principais órgãos de imprensa no Rio Grande do Sul, principalmente nos jornais de cunho político-partidário e na imprensa dirigida à comunidade alemã. Assim, é possível explicar as razões pelas quais diversos intelectuais, também maçons, assumiram um posicionamento radicalmente anticlerical. Colussi reconhece a participação maçônica em matérias jornalísticas, mesmo que indiretamente: Contudo, indiretamente, a maior parte dos maçons pertencentes à inteligência gaúcha defendiam princípios do pensamento liberal e 50 REVERBEL,Carlos. Evolução da imprensa rio-grandense, p. 110.
  • 40. 38 cientificista em contraposição ao pensamento católico-conservador. Nesse ponto, atacavam prioritariamente o clericalismo e os jesuítas, responsabilizando-os pelo obscurantismo e atraso cultural brasileiro. Assim, a defesa de uma sociedade laica, com a separação definitiva entre Estado e Igreja, esteve sempre na ordem do dia para os maçons-jornalistas51. 3.4.1 Imprensa maçônica de língua alemã no Rio Grande do Sul Além da presença marcante de dirigentes maçons, atuando como jornalistas na imprensa gaúcha no século XIX, a sua participação na imprensa de língua alemã não foi menos importante. Aliás, essa proximidade é indicativa de um relacionamento mais intenso entre maçonaria e imigrantes, ou descendentes alemães. A importância da comunidade alemã no Rio Grande do Sul, com uma população em torno de 15 mil pessoas, em 1850; a dificuldade de entrosamento cultural e lingüístico desses; a falta de escolas e professores nas regiões onde haviam se fixado, o quase isolamento das comunidades, aliado à necessidade de verem expressos os seus interesses explicariam, a princípio, o surgimento de veículos de imprensa dirigidos especificamente ao grupo e escritos em língua alemã. Klaus Becker vincula o desenvolvimento da imprensa de língua alemã ao fim do período farroupilha, quando se iniciou novamente o movimento de imigração alemã (agora para as chamadas colônias novas) e ocorreu a chegada dos brummer: Esta situação somente mudou depois de 1851, quando os primeiros mercenários contratados na Alemanha para servirem na guerra contra Rosas, apelidados de ‘Brummer’, radicaram-se na Capital e no interior do Rio Grande do Sul. Alguns deles eram intelectuais que muito se destacaram na defesa dos interesses e na vida da colônia. Basta lembrar os nomes de Carlos Von Koseritz, Frederico Haensel, Barão de Kahlden, Carlos Jansen e outros52. 51 COLUSSI, Eliane. Op. cit., p. 332. 52 BECKER, Klaus. Imprensa em língua alemã (1852-1889). In: Enciclopédia Rio-Grandense. Op. cit. v. 2, p. 268.
  • 41. 39 Dois maçons de origem alemã tiveram uma atuação importante nesse sentido. O primeiro foi Carlos Jansen53, que atuou como redator, pelo período de um ano, do Der Deutsche Einwanderer (O Imigrante Alemão), de propriedade de Theobaldo Jaeger. O semanário fora lançado, inicialmente, no Rio de Janeiro, em 1853, tendo sido transferido para Porto Alegre, em 185454. Além de jornalista, Jansen atuou como professor particular, escritor, tendo sido um dos fundadores do Partenon Literário; foi inspetor geral das Colônias do Rio Grande do Sul e redator em Buenos Aires em 1871. Em 1878, transferiu-se para o Rio de Janeiro, onde fundou o Colégio Jansen; foi também professor do Colégio D. Pedro II, na mesma cidade, onde faleceu em 1889. Da sua trajetória maçônica pouco ficou registrado, sabendo-se apenas que pertenceu à loja Zur Eintracht, de Porto Alegre, no ano de 1876. Contudo, chama a atenção sua presença na maçonaria, visto que foi sempre um homem de convicções religiosas e um combatente do materialismo e do cientificismo. De qualquer maneira, esse professor alemão não deixa de ser representativo do perfil de atuação dos dirigentes maçons, pois a liberdade religiosa e política permitiam tal posicionamento. Diferentemente de Jansen, e certamente de posições minoritárias no seio da maçonaria gaúcha do período, foi a figura de Carlos Von Koseritz, introduzido no jornalismo de língua alemã a partir do terceiro jornal que circulou no Rio Grande do Sul depois de 1861, o Deutsche Zeitung (Jornal Alemão). A trajetória de vida desse 53 Nascido na Alemanha em 1829 e falecido no Rio de Janeiro em 1889, chegou ao Brasil em 1851 como voluntário, servindo no 2º Regimento de Artilharia Montada, sediado no Rio Grande do Sul. Foi jornalista, professor e escritor, com atuação no Rio Grande do Sul e depois no Rio de Janeiro, para onde se transferiu em 1878. Nessa última cidade, publicou, ainda em 1878, na Revista Brasileira, a novela “O Patuá”. Além dessa novela [...], publicou ainda regular número de traduções de obras didáticas e a tese O pronome da língua alemã (1883) apresentada e defendida em concurso para lente de alemão no Colégio D. Pedro II. SPALDING, Walter. Itinerário da literatura rio-grandense. In: Enciclopédia Rio-Grandense, v. 2, p. 217. 54 O primeiro jornal impresso em língua alemã no Brasil e da América Latina foi lançado em Porto Alegre, Der Colonist, de propriedade do brasileiro José Cândido Gomes, e circulou de 10-08-1852 a 17-3-1853.
  • 42. 40 político, líder da comunidade alemã e dirigente maçom convicto, merece ser traçada, principalmente pela importância que ele assumiu como um dos principais intelectuais do estado. Sua chegada ao Rio Grande do Sul se deu da mesma forma de Jansen, isto é, foi também brummer, desembarcando no Brasil em 1851, aos 21 anos de idade. Antes de se estabelecer em Porto Alegre, após ter abandonado o veleiro que o trazia à cidade do Rio Grande, estabeleceu-se em Pelotas, “onde passou privações até ser recolhido à Santa Casa de Misericórdia, socorrido por Telêmaco Bouliech que o empregou como guarda-livros e professor particular”55. Certamente foi nesse período que ocorreu a introdução de Koseritz na maçonaria, pois Telêmaco era dirigente da loja Honra e Humanidade daquela cidade, já em 1855. Ainda em Pelotas, Koseritz iniciou sua atividade como professor, fundando um colégio para meninos, e atuando paralelamente como jornalista; em 1856, trabalhou no jornal O Noticiador e, em 1858, aparece como resenhista do jornal político, comercial e industrial O Brado do Sul. Transferiu-se depois para Rio Grande, mantendo as mesmas ocupações profissionais e trabalhando como redator de O Povo. Em Porto Alegre, em 1864, assumiu o cargo de redator-chefe do Deutsche Zeitung em substituição a Theodor Freiherr von Varnbuhler. Esse jornal pertencia a uma sociedade de abastados comerciantes alemães, entre eles o dirigente maçom Emil Wiedmann. A folha de língua alemã, sob sua direção, “teve rápido e notável desenvolvimento, tornando-se por muito tempo, o mais importante jornal do país naquela língua”56. 55 FLORES, Moacyr. Dicionário de História do Brasil. Porto Alegre: Edipucrs, 1996, p. 295. 56 BECKER, Klaus. Imprensa em língua alemã. In: Enciclopédia Rio-Grandense. Porto Alegre: Sulina, 1968, v. 2, p. 272.
  • 43. 41 Koseritz se envolveu nas principais questões da sociedade gaúcha do período, principalmente falando como porta-voz dos interesses políticos de alemães tornando-se notável pelo seu combate ao jesuitismo. Becker, em relação a isso, informa: Carlos Von Koseritz foi, sem dúvida, o maior jornalista de origem alemã, no século XIX, em todo o Brasil [...]. Autodidata, de espírito combativo e extraordinário talento, jornalista por vocação e integrado perfeitamente no ambiente gaúcho, não podia deixar de ingressar na política, tornando-se um dos mais fervorosos defensores do elemento de origem germânica, principalmente o da colônia. Excedeu-se, porém, em sua luta anticlerical, especialmente contra os padres jesuítas, influenciado pelo ‘kulturkampf’, ocorrido na Alemanha, e pela abundante literatura dos livres- pensadores da segunda metade do século que se precedeu ao nosso57. Nesse sentido, chama a atenção a sua permanente defesa da brasilidade dos colonos fixados no estado, incentivando-os a uma integração consistente com a cultura brasileira, mas sem esquecerem as suas origens germânicas. Especialmente através da imprensa, fazia campanha para que o governo providenciasse escolas para as regiões de colônias alemãs e defendia o voto aos não-católicos, quase sempre imigrantes alemães e protestantes. Koseritz defendia o desenvolvimento da instrução popular sobre a base do critério positivo e, entre outras coisas, a liberdade religiosa absoluta, com fiscalização de todas as associações religiosas por parte do estado. Em 6 de janeiro de 1876, lançou a folha maçônica A Acácia, órgão oficial da maçonaria gaúcha até 1879, sob os auspícios da Grande Loja Provincial de São Pedro do Rio Grande do Sul e ligada ao Grande Oriente Unido, portanto, a vertente mais radicalizada da maçonaria brasileira. Foi seu proprietário, diretor e principal, senão único, redator; substituiu o Maçom, de propriedade e direção de João 57 BECKER, Klaus. Op. cit., p. 273.
  • 44. 42 Carvalho de Barcelos, que deixara de circular após a sua morte. A maçonaria se constituiu, então, numa frente de atuação a que Koseritz se dedicou com afinco. Foi um dos fundadores da loja Zur Eintracht, na cidade de Porto Alegre, regularizada em dezembro de 1875, cujo templo foi construído em 1876, junto à igreja protestante, sendo o lançamento da pedra fundamental “a primeira solenidade pública da maçonaria de Porto Alegre”58. A proximidade entre maçonaria e protestantes se evidencia, então, não só pela localização do templo, mas também pelo fato de ter sido a primeira oficina maçônica a realizar seus trabalhos em língua alemã; além disso, tinha entre seus membros um grande número de evangélicos. A Acácia fez guerra permanente a dois veículos da imprensa católica do período, O Apóstolo, publicado no Rio de Janeiro, e o Deutsche Volksblatt, de São Leopoldo. A disputa ou conflito entre maçonaria e Igreja Católica teve na imprensa a sua mais forte representação, e Koseritz utilizou-se tanto da imprensa maçônica como da profana para alcançar seus objetivos. Até 1881, trabalhou no Deutsche Zeitung59 e, depois, no período de 1881 a 1890, no seu próprio jornal Koseritz Deutsche Zeitung (Folha Alemã de Koseritz). Após sua morte, em 1890, Ernesto Reinhold Ludwig, também alemão e dirigente maçom, assumiu a redação da folha de Koseritz. O discurso de Koseritz foi, via de regra, o mesmo, baseando-se em princípios e argumentos muitos semelhantes. No A Acácia, em coluna regular, denominada de “Nós e eles”, tecia os seus principais ataques: O Volksblatt é uma folha impressa em São Leopoldo em língua alemã. Ela é um órgão dos padres da Ordem de Jesus que em número de trinta e tantos assenhoram-se da consciência dos colonos católicos e monopolizam todas as vigárias e curatos nas colônias. Não satisfeitos com 58 A Acácia – folha maçônica, 1876. Ano 1, n.º, 1, p. 3. 59 Entre 1893 e 1917, foi redator desse jornal o dirigente maçom Arno Philipp.
  • 45. 43 isso mandaram vir cerca de vinte freiras e de parceria com estas, apoderam-se do ensino da mocidade católica nos núcleos coloniais [...]. Na questão dos bispos não teve essa folha mãos a medir em ataques ao Estado e à Coroa. Os maçons são diariamente apresentados aos colonos como assassinos e salteadores60. Do ponto de vista da sua postura teórica, Koseritz, um liberal e materialista, acabou por assumir e divulgar as concepções evolucionistas e darwinianas no Rio Grande do Sul. Como jornalista e intelectual foi, provavelmente, o mais destacado dirigente maçom do período, o que não se deveu somente ao espaço que ocupou na direção da maçonaria no Rio Grande do Sul, mas principalmente à influência que exerceu junto à formação da intelectualidade gaúcha, sempre utilizando a imprensa escrita como sua porta-voz. 60 A Acácia – folha maçônica. 1876, ano 1. n.º 3. p. 1.
  • 47. 4 CORREIO DO POVO E AS RELAÇÕES COM A MAÇONARIA 4.1 CALDAS JR. A SUA LIGAÇÃO MAÇÔNICA O maçom mais importante ligado ao jornalismo, pela sua atuação profissional, foi, sem dúvida, Francisco Antônio Caldas Júnior. Filho do desembargador Francisco Antônio Vieira Caldas, Caldas Jr. nasceu em 1868, em Sergipe (tendo falecido em 1913, aos 44 anos) e aos três anos passou a residir em Santo Antônio da Patrulha onde seu pai já atuava como juiz de direito. Iniciou sua carreira jornalística trabalhando como revisor e, depois, como redator e editorialista para o Jornal do Comércio, dirigido por Aquiles de Porto Alegre, permanecendo ali até 1895, quando fundou o Correio do Povo.61 A posição de neutralidade política assumida pelo jornal Correio do Povo nos seus primórdios, causou curiosidade ao meio intelectual gaúcho, pois a tradição que ligava a grande imprensa a facções político-partidárias foi, de certa forma, rompida por Caldas Jr. Essa neutralidade, vista sob a ótica do contexto do final da Revolução Federalista, pode também ser explicada por posicionamentos da própria maçonaria gaúcha, abalada pela guerra. Segundo Dillenburg, 61 DILLENBURG, Sérgio R. Correio do Povo: história e memórias. Passo Fundo: Ediupf, 1997, p. 21.
  • 48. 46 não foi sem motivo, portanto, que o surgimento do Correio do Povo, por obra de Caldas Júnior, com sua proposta de jornalismo independente, alcançou tanta expectativa e, mesmo, incredulidade entre os gaúchos. Bastaram, no entanto, poucas edições do novo jornal para que os leitores percebessem que a proposta do Correio do Povo, de não ser vinculado a nenhuma facção partidária, era para valer62. O caráter de alegada imparcialidade política do novo jornal teve, pois, uma relação, mesmo que indireta, com a condição maçônica de seu fundador, um dos principais dirigentes da instituição na época. O princípio da tolerância e da liberdade política, um dos pilares da maçonaria internacional, era fundamental para a recuperação do prestígio e da boa convivência entre os irmãos que haviam lutado em lados opostos. No entanto, segundo Galvani, mesmo possuindo alguns princípios maçônicos, o jornal necessitou de ajuda financeira da Ordem, para ser criado: Passar pela luta intensa daqueles três (Francisco Antônio Caldas Júnior, José Paulino de Azurenha e Mário Totta) e dos demais que se foram somando, como os “irmãos da Maçonaria”, Eugênio du Pasquier e Antônio Mostardeiro Filho, que repassaram-lhe o primeiro financiamento, por ele honrado, como sua viúva o faria, pouco adiante, em 1913, quando a morte prematura o arrancou do negócio, com apenas 43 anos, e os compromissos eram imensos63. Galvani salienta que, ao mesmo tempo em que se tinha uma idéia da busca pela isenção política e imparcialidade, no Correio do Povo, lia-se o entusiasmo numa notícia sobre a seção maçônica em homenagem ao senador Pinheiro Machado, o grande líder do Partido Republicano Federalista64. A primeira referência de Caldas Júnior em atividade maçônica aparece em 1893, como filiado à loja Orientação de Porto Alegre 65, que, coincidentemente, foi uma das fundadas para dar legitimidade ao Grande Oriente do Rio Grande do Sul. 62 DILLENBURG, Sérgio R. Op. cit., p. 21. 63 GALVANI, Walter. Um século de poder: os bastidores da Caldas Júnior. 2. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1995, p. 12. 64 Ibidem, p. 107. 65 DIENSTBACH, Carlos. Op. cit., p. 479.
  • 49. 47 Foi o primeiro deputado eleito por essa loja para a Assembléia Maçônica de fundação do Gorgs, cuja tendência republicana pode ser reveladora da posição política de Caldas Júnior. Também foi localizada uma notícia dando conta de que, para o Congresso dos Veneráveis de 1902, Caldas Jr. representou a loja União Fraternal da cidade de Encruzilhada.66 A principal contribuição de Caldas Júnior à maçonaria gaúcha, no entanto, ocorreu durante sua gestão como “ministro das finanças” do Grande Oriente do Rio Grande do Sul (Gorgs), com um projeto proposto em 1902. Esse consistia em um plano econômico para a organização definitiva da potência autônoma gaúcha, tendo sido aprovado através da Lei nº 52, denominada Contribuição Solidária. Na sua proposta, estavam contempladas desde a política financeira de proteção de seus membros e familiares, passando pela perspectiva das necessidades médicas, de remédios e jurídicas, o mútuo auxílio, até a assistência permanente. Assim, houve um aprofundamento da previdência maçônica, que providenciava até auxílio para as famílias quando ocorresse a morte de um integrante da instituição67. 4.2 MATÉRIAS DE INTERESSE MAÇÔNICO NO CORREIO DO POVO Devido à influência maçônica por parte do fundador do Correio do Povo, o periódico revela indícios em algumas notícias de interesse da maçonaria. Segundo Guareschi, as idéias dominantes em uma sociedade são as idéias da classe dominante, que, conseqüentemente, determina o que é importante nessa situação histórica. A classe que possui o poder material dominante de uma 66 Ibidem, p. 258. O reconhecimento da vida maçônica de Caldas Júnior pode ser observado pelo fato de, em 1979, ter sido fundada uma loja maçônica em Porto Alegre, com o seu nome. 67 Plano Econômico. Boletim do Grande Oriente do Rio Grande do Sul. 1902, ano 11, n.º 2, p. 121-24.
  • 50. 48 sociedade possui, outrossim, o poder espiritual dominante: as idéias dominantes não são nada mais do que a expressão espiritual (ideológica, imaterial) das relações materiais, dominantes, apreendidas como idéias. Portanto, elas são as expressões das relações materiais dominantes apreendidas como idéias; e, em assim sendo, são as expressões das relações que fazem de uma classe a dominante; em outras palavras, são as idéias de sua dominância68. O Correio do Povo até a morte de Caldas Júnior, possuía sinais de uma ligação com a maçonaria, em homenagens fúnebres a maçons ilustres, festas e cerimônias, banquetes realizados à imprensa e a conflitos enfrentados entre o Estado e a Igreja Católica. Em 7 de maio de 1911, publica-se: São convidados os membros deste quadro, as offic... da sede do Poder Central, todos os maçons avulsos e os profanos com suas exmas. famílias para assistirem a sessão de Pompa Fúnebre que, em homenagem a memória do Saudoso maçom Felice Guerrieri, esta loj... realista no dia 8 do corrente, às 7 ½ horas da noite, no templo à rua Jeronymo coelho nº 469. No dia 10 de maio de 1911, o periódico transcreveu uma matéria sobre assistência maçônica: A loja maçônica Acácia Victoriense, de santa Victoria do Palmar, inaugurou, em abril findo, um consultório policlinico gratuito, que ficou a cargo do Dr. Ivo Banac. Por essa ocasião, realisaram-se, ali, festas commemorativas, com grande e selecta assistência. Foi orador official o capitão aristides E.de. Arruda, discursando, também, os drs. Guilherme de Souza e Castro, Abilio Fuão e outros. Entre os presentes, estavam o Juiz de Comarca, dr. Carneiro Pereira, o consul oriental, Aurélio Susini y Nuñes, o consul da Itália, Luiz Brundo, o coronel Egydio da Silveira Borges, os drs. Jayme Poggi e Bernardo Pericas, officiaes do Exército e representantes da imprensa local70. A matéria no dia 25 de maio de 1911, era esta: Realizar-se-á hoje no templo da rua General Camara, uma sessão extraordinária da Loja maçônica Progresso da Humanidade, para a 68 GUARESCHI, Pedrinho (1981, p. 19-20). 69 Correio do Povo, Porto Alegre, 07/05/1911, p.7. 70 Ibidem, 10/05/1911, p.4.
  • 51. 49 discussão da These – as greves do proletariado podem ser evitadas? Como? Sabemos que diversos maçons ocupar-se-ão deste assunto71. Em 1912, ano da morte do senador Quintino Bocaiúva, o Correio do Povo salientou o maçonismo do senador e das pompas fúnebres realizadas nas lojas maçônicas do estado em homenagem ao ilustre irmão. Em 21 de julho de 1912, outra nota: Rio Grande, 20, em reunião hoje, realizado, dos veneráveis das lojas maçônicas desta cidade, ficou resolvido comemorar-se o 30º dia do passamento do Senador Quintino Bocayuva. Haverá uma sessão de pompa fúnebre na loja União Constante, sob a presidência do Dr. Guahyba Rocha. Os veneráveis das demais lojas ocuparão os outros cargos do ritual Para essa sessão, serão convidados os maçons, autoridades civis e militares e famílias. Diversos oradores falarão por essa ocasião72. Em 15 de julho de 1912, se lê: Rio Grande, 14, teve grande imponência a sessão de pompa fúnebre, hontem levada a effeito, no templo da loja União Constante, em homenagem a Quintino Bocayuva. Estiveram representados as autoridades civis e militares, funcionalismo público, altas dignidades maçônicas, famílias e imprensa. Usaram da palavra o Tenente Coronel Paes Barreto, Alberto Müller Barbosa e Edmundo Francisco dos Santos. Antes de encerrada a sessão, ocorreo o tronco de beneficência cujo o producto foi entregue a comissão encarregada do levantamento da herma ao Barão do Rio Branco73. Além disso, há vestígios de publicações no periódico sobre banquetes realizados pelas lojas maçônicas para homenagear figuras civis e militares ilustres. No dia 10 de agosto de 1912, lê-se: “a imprensa foi convidada para um banquete na loja Philantropia, em Rio Grande, em homenagem ao major Corrêa de Britto”74. 71 Correio do Povo, Porto Alegre, 25/05/1911, p. 4. 72 Ibidem. 73 Ibidem, 21/07/1912, p. 7 74 Ibidem, 15/07/1012, p. 7
  • 52. 50 4.3 CORREIO DO POVO E O MAÇONISMO APÓS A MORTE DE SEU PATRIARCA O periódico, depois da morte de seu patriarca, revela vestígios de notíciass sobre a Ordem. A posse do jornalista Breno Caldas, em 1935, um não-maçom, não rompeu as ligações dos pedreiros-livres com o jornal. A falência do Correio do Povo em junho de 1984, e a reabertura do impresso, pelo fazendeiro Renato Ribeiro também não ocasionou nenhum problema à Ordem. A mesma sempre esteve presente nas páginas do periódico. De 1999 a 2004, foram localizadas 775 matérias referentes à maçonaria. A maioria das notícias foram encontradas na editoria de geral, (454) , e variedades/cultura (110). Foram encontradas 19 notícias, de janeiro de 2004 a outubro do mesmo ano, que continham as palavras: maçom(ns), maçônico(as), pedreiros-livres e maçonaria. Destas 19 matérias, as de maior relevância para este trabalho são expostas no decorrer do capítulo. No dia 2 de junho, o periódico escreveu, em suas páginas, na editoria de cultura, a matéria sobre a peça do Grupo de Ópera de Bolso, A flauta mágica: A estréia do grupo Ópera de Bolso acontece amanhã, às 21h, no Teatro Renascença (Erico Verissimo, 307), com a execução de trechos de 'A flauta mágica', última ópera escrita por Wolfgang Amadeus Mozart, em 1791 e que enfoca a maçonaria. Com a proposta de levar o espetáculo ao público em geral, o grupo montou uma apresentação em formato simples, com acompanhamento somente de piano, substituindo a orquestra, e com alguns elementos cênicos. Tudo para facilitar a sua execução e torná-lo acessível a um número maior de espaço físicos e de pessoas, principalmente escolas públicas e privadas75. 75 Correio do Povo, Porto Alegre, 02/06/2004, p. 20.
  • 53. 51 Segundo Mattelart, o modus operandi que caracteriza o processo ideológico consiste em fazer com que essas forças motoras sejam esquecidas; ou, em outras palavras, em fazer com que as verdadeiras origens da ordem social existente desapareçam de vista, de tal modo que as pessoas sejam capazes de viver nesta ordem natural76. A maçonaria, sempre onde esteve, criou raízes sobre o solo. No Rio Grande Sul, quando da sua chegada com seus primeiros pensadores, a Revolução Farroupilha estava no seu auge e, como se viu nos capítulos anteriores, a maçonaria crescia no estado. Hoje, existem indícios de notícias maçônicas no periódico Correio do Povo. Juracy Vilela de Souza, grão-mestre do Grande Oriente do Rio Grande do Sul, associado à Confederação Maçônica do Brasil, recebe homenagem hoje, na Câmara Municipal de Porto Alegre, com o título de Cidadão Honorário da Capital. A cerimônia de entrega do título, cuja proposta é de autoria do vereador Nereu D'Ávila, ocorre às 19h, no plenário da Câmara Municipal da Capital, na av. Loureiro da Silva, 25577. Em matéria publicada no dia 9 de junho: Em homenagem ao Dia da Imprensa, celebrado em 1º de junho, foi outorgada ontem à noite a medalha Caldas Júnior ao jornalista Walter Galvani da Silveira. A Sessão Magna Branca é promovida pela organização Grande Oriente do RS (Gorgs) e pela Associação Riograndense de Imprensa (ARI). O ato ocorreu no Templo Nobre Caldas Júnior (rua Jerônimo Coelho, 116). Segundo Juracy Vilela de Sousa, grão-mestre do Gorgs, Galvani é um jornalista muito reconhecido. A comemoração do Dia da Imprensa remete a 1º de junho de 1808, data da fundação do Correio Braziliense, considerado o primeiro periódico brasileiro. O presidente da ARI, Ercy Pereira Torma, e o arcebispo metropolitano, dom Dadeus Grings, também estiveram presentes à cerimônia. Neste ano, a escolha do homenageado coube à ARI78. 76 GUARESCHI, Pedrinho (1981, p. 20). 77 Correio do Povo. Porto Alegre, 23/09/2004, p. 8. 78 Ibidem, 09/06/2004, p. 8.