1) A economia europeia está em risco de recessão devido à fraqueza das suas principais economias como o Reino Unido e a Espanha.
2) A austeridade exacerbou os problemas econômicos na Europa e pode levar ao fim da prosperidade europeia.
3) Sinais políticos como uma possível mudança na presidência francesa dão esperança, mas são frágeis.
1. OPINIÃO Recessão e austeridade
João Ferreira do Amaral
Economista
Depois da Espanha, é a economia do Reino Unido grave; em terceiro lugar, a Europa não tem hoje
que acaba de entrar em recessão. Uma recessão, “locomotivas” ou seja, economias que pela sua
é certo, por enquanto, aparentemente benigna, dimensão e o seu bom desempenho puxem pe-
uma vez que, para já, pouco vai abaixo da es- las outras. Nada disso existe hoje na Europa. E
tagnação. Mas o problema é que hoje, na econo- mesmo a Alemanha, que é muito elogiada, tem
mia europeia, não há recessões há muito tempo um crescimen-
benignas. No estado em que a A austeridade pela to económico muito insatisfa-
Europa está do ponto de vista austeridade numa tório, não arrasta ninguém e
económico, qualquer recessão, está ela própria em risco de
PÁG. mesmo que supostamente suave
situação destas e com os recessão.
no início pode dar origem, mais factores negativos que
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Outros factores poderíamos
tarde, a uma queda muito in- hoje afectam a economia juntar. Mas estes bastam para
tensa da actividade económica. europeia é um completo mostrar como é absurda a po-
Porquê esta situação perigosa contra-senso e pode bem lítica económica europeia. A
da economia europeia? Os fac- austeridade pela austeridade
tores que a tornam perigosa são
ser o caminho para o fim numa situação destas e com
múltiplos: em primeiro lugar, as da prosperidade europeia os factores negativos que hoje
economias da Europa ainda não afectam a economia europeia
tinham saído verdadeiramente é um completo contra-senso e
da crise de 2008-09 quando são afectadas por pode bem ser o caminho para o fim da prosperi-
novas quedas da actividade económica. Histori- dade europeia. É certo que, recentemente, sur-
camente, há exemplos de uma situação destas se giram alguns ténues sinais políticos de esperan-
transformar numa depressão muito prolongada ça, como sejam a possibilidade de mudança de
da actividade; em segundo lugar, a grande maio- presidente na França e a recusa dos Holandeses
ria das economias europeias está muito endivi- em praticar mais austeridade. Mas são muito té-
dada através do endividamento das famílias das nues ainda. Temo que, infelizmente só uma si-
empresas e do respectivo Estado. Uma recessão tuação catastrófica no sul da Europa possa levar
numa economia, à partida, muito endividada a uma mudança da política europeia. Provavel-
pode facilmente tornar-se num problema muito mente, tarde de mais.
Resultado: os idosos evitam os hospitais holande-
Holanda, destino perigoso ses e muitos refugiam-se em lares do outro lado da
Atenção: se tem mais de 60 anos e for passear até fronteira. É que na Alemanha sentem-se protegi-
à Holanda; se aí tiver um grave problema de saúde dos, porque ali a memória das práticas nazis ainda
e for para o hospital, pode ficar sujeito à eutaná- está viva. Pelo menos, por enquanto.
sia. .
Com a liberalização desta prática, há médicos que
Aura Miguel
a propõem a pacientes crónicos com diabetes, com
esclerose múltipla, sida ou cancro. Há mesmo ci-
dadãos que, em autodefesa, transportam consigo
um cartão contra a eutanásia chamado “passapor-
te para a vida” ou “não-me-matem”.
Com os idosos, o risco ainda é mais flagrante. É
que, para além da falta de confiança nos médicos,
a família também pode ser uma ameaça: um re-
cente estudo da Universidade de Göttingen revela
que em sete mil casos de eutanásia praticada na
Holanda, 41% foram a pedido dos familiares. Mui-
tos deles justificaram-se incapazes de lidar com a
situação…
r/com renascença comunicação multimédia, 2012