Este documento discute temas relacionados à alimentação e nutrição no Brasil. Aborda o diagnóstico da situação nutricional de escolares da rede municipal do Rio de Janeiro, que apontou altas taxas de obesidade e anemia. Também analisa tendências na alimentação brasileira, como substituição de alimentos in natura por industrializados, e o papel da mídia na promoção de produtos nem sempre saudáveis.
3. APRESENTAÇÃO
No início do ano 2000 lançamos o projeto COM GOSTO DE SAÚDE como 16,8% com excesso de peso e 10,5% com anemia.
integrante da iniciativa PROMOÇÃO DE SAÚDE NA ESCOLA. Ele enfoca a Estes dados demonstram que os principais agravos nutricionais dos
alimentação/nutrição como componente fundamental da promoção de alunos da rede municipal de ensino são a obesidade e a anemia. Entre os
saúde e tem como pressupostos básicos: menores de 10 anos, o resultado de obesidade representa quase três vezes
a alimentação como direito humano; o esperado (quando se compara com uma população de referência, isto é,
a segurança alimentar e nutricional como requisito básico para a afir- uma população com padrões de crescimento e desenvolvimento satis-
mação plena do potencial de desenvolvimento físico, mental e social de fatórios). Dos 16,8% adolescentes com excesso de peso, 6,4% apresentavam
todo ser humano; obesidade. A anemia foi mais importante entre os menores de 7 anos, pos-
o reconhecimento de que a alimentação está situada em um contexto sivelmente por uma deficiência de ferro iniciada na primeira infância, e
de vida, em um processo histórico e é parte da cultura de um povo; em meninas maiores de 14 anos, provavelmente por hábitos alimentares
a participação ativa do sujeito e da comunidade no controle de suas inadequados associados às perdas regulares de sangue na menstruação. Os
condições de alimentação e saúde. casos de déficit nutricional (seja de peso ou de altura) não foram signi-
Este material de apoio sobre "Obesidade e Desnutrição" complementa o ficativos em termos coletivos, mas individualmente merecem toda atenção
último filme da fita de vídeo que já foi distribuída para todas as escolas uma vez que crianças desnutridas apresentam maior risco de adoecer.
municipais, encerrando o primeiro bloco de temas do projeto "Com Gosto Este diagnóstico justifica a escolha deste tema, bastante atual, e a aborda-
de Saúde" que, além deste, abrangeu os temas: Alimentação e Cultura, Ali- gem sobre as implicações que o aumento do número de casos de obesidade
mentação Saudável e Aleitamento Materno. Seguindo a estrutura dos ma- e anemia e a diminuição dos casos de desnutrição têm na saúde da popula-
teriais anteriores, é apresentado um texto para aprofundamento do tema ção, chamando atenção para o fato de que a prevenção é a forma mais efi-
e, em seguida, sugestões de atividades e de textos que podem ser utiliza- caz para lidar com estes agravos nutricionais.
dos para sistematizar a discussão com os alunos. Portanto, neste material queremos valorizar a idéia de que a alimenta-
Em 1999 foi realizado um diagnóstico da situação nutricional dos esco- ção saudável também pode ser prazerosa e que, ao contrário do senso co-
lares da rede municipal de ensino do Rio de Janeiro. Para este estudo foi se- mum, nem tudo que é gostoso engorda, enfatizando a idéia de que cuidar
lecionada uma amostra representativa do total de alunos de nossas esco- da saúde inclui respeito às diferenças, valorizando o melhor que cada um
las, apontando os seguintes resultados: pode ser e a busca de equilíbrio nas opções cotidianas que fazemos.
entre os menores de 10 anos, 1,4% encontravam-se com baixo peso,
7% com excesso de peso e 16,1% com anemia;
entre os maiores de 10 anos, 7,3% encontravam-se com baixo peso, Rio de Janeiro, outubro de 2004.
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4.
5. A ALIMENTAÇÃO EM NOSSA VIDA
NOSSAS ESCOLHAS ALIMENTARES Uma das peculiaridades da alimentação humana é que
o homem se alimenta não só para satisfazer suas neces-
O direito humano à alimentação é reconhecido como sidades biológicas, mas também para atender aspectos
fundamental para uma vida digna e se expressa pela sociais, culturais, econômicos, simbólicos e afetivos.
garantia, a todos os cidadãos, de acesso diário a alimen- Cada um pode contar uma história sobre seu hábito
tos em quantidade e qualidade suficientes para atender alimentar: "não come porque a mãe obrigava a comer
às necessidades nutricionais, condição básica para uma quando era pequeno", "come porque dá prazer", "come
vida saudável. Só há escolha alimentar quando há aces- porque os amigos comem", "não come porque faz mal",
so ao alimento! "não come porque é muito caro", "come para não jogar VOCÊ SABIA QUE...
fora", "come para consolar", "quando está nervoso não
comer carne de cachorro ou
come" ou "se está nervoso come muito"... de cavalo é comum em algu-
O "gosto" é construído e transmitido socialmente. Ao mas culturas? Isso pode pare-
observarmos a história da alimentação humana, po- cer repugnante ou mesmo ab-
surdo para culturas como a
demos perceber como certos hábitos e tipos de alimentos, nossa, mas na Coréia do Sul é
valorizados anteriormente, foram sendo substituídos de habitual o consumo de carne
acordo com o contexto sócio-econômico e tecnológico de de cachorro e, na Itália, há
uma iguaria feita à base de
cada época. O alimento também precisa ser culturalmen- carne de caça e de cavalo.
te comestível!
Nesta perspectiva, a alimentação pode ser compre- os restaurantes surgiram na
mesma época que os mercados
endida como uma forma de comunicação e expressão de e as feiras? O comércio de ali-
um povo. Como vimos no material de apoio sobre o tema mentos obrigava camponeses e
"Alimentação e Cultura", nossa cultura está presente no artesãos a deixarem seus domi-
cílios por vários dias e, portan-
que comemos e a alimentação varia de um país para ou- to, a se alimentarem fora de
tro. Em relação ao Brasil, vimos que ela também varia re- casa enquanto estabeleciam ou
gionalmente. Por exemplo, nordestinos e gaúchos possuem mantinham relações sociais, de
amizade ou de negócios.
hábitos alimentares totalmente diferentes. A opção por um
ou outro alimento revela, muitas vezes, a que grupo social,
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6. étnico ou de idade se pertence ou se deseja pertencer. cada vez mais presente em nosso cotidiano. "Faz bem co-
Ao longo dos últimos vinte anos, observamos as mer isso?" "Esse alimento engorda?" "Faz mal ao coração?"
seguintes tendências na alimentação do brasileiro: Mas será que precisamos consumir tudo que a publi-
diminuição do consumo de cereais (arroz, milho, cidade apresenta? O acesso à informação e o espírito
trigo, centeio) e de suas farinhas, de feijão e de tubércu- crítico são fundamentais para agir com autonomia e fa-
los (batata, inhame, mandioca); zer escolhas coerentes frente às "tentações" do consumo.
substituição das gorduras animais (banha de porco, O público infantil é o principal alvo das propagandas
toucinho e manteiga) por gorduras vegetais, principal- de alimentos que apelam para desenhos coloridos, "bichi-
mente óleo de soja e margarina; nhos" carinhosos, músicas animadas, artistas simpáticos e
aumento do consumo de proteínas de origem animal coleção de brindes para chamar a atenção das crianças e
em relação às de origem vegetal, principalmente pelo au- estimular o consumo permanente de certos produtos. Por
mento do consumo de carnes, ovos, leite e derivados. ser uma fase da vida onde a referência familiar é funda-
Logo, a principal característica do comportamento mental na formação dos hábitos alimentares, os pais
alimentar atual é a substituição de alimentos in natura devem ficar atentos à influência da propaganda sobre a
por produtos industrializados e processados, o que pode alimentação da família. Muitas vezes, os pais reclamam
gerar sérias conseqüências à saúde da população. que as crianças adoram comer "besteiras", e se esquecem
A mídia tem sido uma grande aliada da indústria em que, na maioria das vezes, são eles próprios que tornam
VOCÊ SABIA QUE... agregar valores simbólicos, como prestígio, status social, essas guloseimas acessíveis às crianças.
praticidade e prosperidade econômica a produtos que A alimentação pode ser fonte de muitas descobertas
o processo de industrializa-
ção, muitas vezes, aumenta o nem sempre são nutritivos. Valendo-se de diversos artifí- para a criança e também uma forma de demonstrar cari-
teor de gordura dos alimen- cios é capaz de construir uma necessidade vital sobre um nho e cuidado, mas também pode servir para chanta-
tos? Por exemplo, o macarrão alimento totalmente dispensável à manutenção de nosso gens e desafios ou para preencher carências e falta de
tipo lamen é frito por imersão
para que mantenha o formato bem-estar físico, pois consegue criar motivações pessoais atenção. A alimentação infantil merece ser cuidada e
em que é vendido e por isso para a incorporação ou mudança de hábitos de con- isso não significa oferecer aos filhos tudo o que eles vêem
apresenta maior teor de gor- sumo. Os modismos alimentares e as dietas, na maioria em propagandas.
dura do que outras massas
que não tenham sofrido este das vezes prejudiciais à saúde, também são divulgados Os adolescentes, por sua grande vulnerabilidade à in-
processo. freqüentemente para um mercado consumidor que alme- corporação de novos hábitos, também são alvo da
ja um padrão de beleza quase sempre inatingível. publicidade, pois, além de modificarem facilmente seus
publicidade é a arte de exercer
uma ação psicológica sobre o Não resta dúvida de que os veículos de comunicação hábitos individuais, também têm um grande poder de in-
público com fins comerciais são fundamentais para a divulgação de informações, fluência na vida familiar. Eles têm sido desafiados pela
ou políticos? experiências e novos comportamentos. Em grande parte ditadura da estética atual: com a expectativa de aumen-
devido à mídia, a relação entre alimentação e saúde está tar sua aceitação nos grupos em que estão inseridos, al-
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7. guns meninos fazem uso indiscriminado dos suplemen- instituições para que resultem em mudanças concretas.
tos nutricionais e das famosas "bombas" para desenvol- Alimentar-se bem depende de acesso, informação e esco-
ver a musculatura o mais rápido possível e algumas me- lha e a escola desempenha papel fundamental em apre-
ninas praticamente deixam de se alimentar em busca de sentar e aproximar a comunidade escolar a estratégias de
corpos perfeitos. Por outro lado, aqueles que não conse- promoção de saúde e alimentação saudável.
guem se enquadrar nestes padrões acabam, muitas ve-
zes, desvalorizando os cuidados com o corpo e se isolan-
do em frente à televisão ou ao computador. OS NUTRIENTES E O NOSSO CORPO
Nesta fase, é muito comum a imposição de rótulos à-
queles que são "diferentes". No entanto, como o vídeo Obe- No material de apoio sobre o tema "Alimentação Saudá-
sidade e Desnutrição apresenta, "a graça está na diferen- vel" do Projeto "Com Gosto de Saúde", vimos que os ali-
ça", na diversidade entre as pessoas e por isso, este vídeo mentos fornecem energia para as atividades diárias como
veicula tantas mensagens de estímulo à auto-estima como andar, estudar, trabalhar, brincar, dançar; proteínas para VOCÊ SABIA QUE...
"o mais importante é ser o melhor que você pode", valori- formação, manutenção e reparação de todos os nossos os-
a ANVISA (Agência Nacional
zando justamente a idéia de respeito às diferenças e reco- sos, músculos, órgãos, pele etc; e vitaminas e minerais, pa- de Vigilância Sanitária) estabe-
nhecimento dos limites de cada um. ra favorecer uma série de funções orgânicas necessárias ao lece regras para a elaboração
A adolescência é um momento de busca por autono- crescimento normal e manutenção da saúde. dos rótulos de bebidas e ali-
mentos embalados? Os rótulos
mia também em relação à alimentação. O imediatismo Mas qual a quantidade necessária de energia, proteí- devem indicar a composição
e a procura pelo prazer e pela novidade são marcas do na, vitaminas e minerais para manter a saúde? Qual é a nutricional e o percentual de
comportamento nesta fase da vida. Nesse contexto, os nossa necessidade de nutrientes? A evolução das pesqui- atendimento às necessidades
nutricionais diárias. Porém, é
"fast food", por serem rápidos e práticos e amplamente sas na área de Nutrição Humana nos permite conhecer preciso ter cuidado ao interpre-
veiculados pela mídia, passaram a fazer parte do cotidi- cada vez melhor a contribuição de cada nutriente para tar esta informação, pois os
ano dos jovens. A incorporação dessa prática tem torna- um estado nutricional adequado, sendo possível, por e- valores de ingestão diária são
referentes à média recomenda-
do a alimentação monótona, altamente calórica e pobre xemplo, estimar as necessidades nutricionais diárias (de da para adultos (2000 kcal).
em vitaminas e minerais. energia, de proteínas, das principais vitaminas e mine-
Na busca por práticas alimentares mais saudáveis, ca- rais) para diferentes faixas etárias e sexo. As necessi- como o metabolismo dos ali-
mentos produz uma grande
be a todos nós - familiares, profissionais de saúde e edu- dades nutricionais também variam para atender os dife- quantidade de calorias, em
cadores - desenvolver e estimular um olhar crítico frente rentes momentos do ciclo da vida como crescimento, Nutrição utiliza-se a medida
aos apelos da propaganda a fim de reconhecer nossas gravidez, amamentação e envelhecimento. No quadro 1, quilocaloria (Kcal). Uma Kcal
equivale a 1.000 calorias, mas
reais necessidades de consumo e gostos alimentares. em anexo, podemos observar a variação de necessidade é comum as pessoas usarem as
As opções saudáveis precisam ser viáveis e aceitas pelo energética ao longo da vida. duas palavras como sinônimo.
grupo e também estimuladas, protegidas e apoiadas por Para nutrir o corpo e manter o peso adequado, a ali-
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8. mentação deve atender às necessidades nutricionais de com o sexo e com a composição corporal (quantidade de
forma equilibrada, sem excesso ou carência de energia gordura, músculos, ossos e água) de cada pessoa.
ou outros nutrientes. Em Nutrição, usamos a unidade Assim como as pessoas são diferentes por fora (cor do
quilocaloria para medir a energia que os alimentos cabelo, cor da pele etc), também são diferentes "por den-
fornecem para o corpo humano e também para medir a tro", isto é, a composição e o funcionamento do organis-
quantidade de energia que o corpo utiliza para desem- mo também dependem da herança genética de cada um
penhar suas funções. Detalharemos a seguir os aspectos e, por isso, o metabolismo basal das pessoas também é di-
que influenciam a manutenção de um peso saudável, ferente. Por exemplo, algumas pessoas vão gastar mais ou
que dependem basicamente da relação entre o consumo menos energia para realizar a mesma atividade ou vão
e o gasto de energia. ter mais ou menos facilidade para armazenar energia sob
a forma de gordura. Por isso, é muito comum ouvirmos
comentários do tipo: "...algumas pessoas comem a mesma
GASTO ENERGÉTICO quantidade de comida e umas engordam, outras não!",
"...algumas pessoas comem pouco e engordam e outras
Gastamos energia, constantemente, até quando estamos comem muito e não engordam!" Isso realmente acontece,
dormindo ou comendo. O gasto energético irá variar ao pois como vimos no vídeo, "cada pessoa é única!"
longo da vida e de pessoa para pessoa, isto porque o Ao longo da vida, o metabolismo basal se altera e, com
gasto de energia depende: (a) do metabolismo basal de isso, o gasto energético também irá variar. Durante a in-
cada organismo; (b) do tipo, da intensidade e da fre- fância, o ritmo de crescimento do corpo é intenso e este
qüência da atividade física que cada pessoa desempenha
e (c) do efeito térmico do alimento que foi consumido.
A seguir, veremos a influência de cada um destes as-
VOCÊ SABIA QUE... pectos no aumento ou na diminuição do gasto de energia.
comparando homens e mu-
lheres com o mesmo peso, altu- a. Metabolismo basal
ra e idade, os homens gastam
mais energia do que as mulhe- Quando estamos em repouso, nosso corpo está em meta-
res, pois possuem mais massa bolismo basal, isto é, está gastando energia somente pa-
muscular? Comparada com a ra desempenhar as funções vitais, como por exemplo res-
massa adiposa, a massa mus-
cular requer mais energia para piração, batimentos cardíacos, funcionamento dos rins e
o desempenho de suas funções. fígado, entre outros.
A quantidade de energia gasta para o metabolismo
basal vai variar de acordo com a altura, com a idade,
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9. ritmo de crescimento torna-se mais lento durante os anos lizar os nutrientes e excretar os produtos finais da di-
pré-escolares e escolares até a puberdade, quando o ado- gestão são etapas do processo de transformação do ali-
lescente entra no estirão de crescimento. Na adolescência, mento em nutrientes e este processo requer gasto de ener-
o gasto de energia é maior para o crescimento dos ossos, gia. O efeito térmico dos alimentos corresponde à quanti-
ganho de massa muscular, entre outros. Ao entrar na fase dade de energia que o organismo precisa gastar para rea-
adulta, o corpo não cresce mais e, com o processo de enve- lizar este processo. Este efeito é maior para os alimentos
lhecimento, o metabolismo basal decai, principalmente, ricos em proteínas do que para os alimentos ricos em gor-
pela perda gradual e progressiva de massa muscular. duras ou açúcares, pois o processo de digestão e absorção
Outros momentos do ciclo da vida em que há altera- das proteínas é mais complexo.
ções significativas no metabolismo basal são a gravidez
e a amamentação, quando o gasto energético está au-
mentado em função da formação do feto, da placenta, CONSUMO ENERGÉTICO
do líquido amniótico e da produção do leite materno.
O metabolismo basal também se altera quando o cor- A água e os alimentos são indispensáveis à vida. Desde
po necessita produzir defesas para reagir a doenças infec- que somos concebidos precisamos nos alimentar. A par-
ciosas ou a outros agravos à saúde como fraturas e tir da ingestão dos alimentos, desencadeia-se um com-
queimaduras. plexo processo de transformação da energia fornecida
pelos alimentos - a qual será utilizada em nossas ativi-
b. Atividade física dades físicas e mentais - e também uma série de reações
A atividade física influencia, de forma importante, o visando utilizar os nutrientes para o pleno funciona-
gasto diário de energia. Este gasto será maior ou menor mento do nosso organismo.
dependendo do tipo, da freqüência e da intensidade da Alguns alimentos fornecem mais energia que outros
atividade física que cada pessoa realiza. Por exemplo, os e, por isso, dizemos que são mais calóricos: um grama de
atletas têm um gasto energético elevado em função dos gordura fornece 9 quilocalorias ao corpo, enquanto um VOCÊ SABIA QUE...
exercícios, treinamentos e competições. No quadro 2, em grama de carboidrato ou de proteína fornece 4 quilocalo-
durante o processo de envelhe-
anexo, podemos ver o gasto médio de energia de um rias, logo, os alimentos ricos em gordura são mais calóri- cimento podemos perder de 1 a
adulto e de uma criança em diversas atividades diárias. cos que os alimentos ricos em carboidratos ou proteínas. 2 cm de altura por década de vi-
É possível comer um grande volume de alimentos e in- da? Isto acontece em função da
compressão da coluna verte-
c. Efeito térmico dos alimentos gerir poucas calorias ou comer uma pequena porção de a- bral, mudanças nos discos in-
Além do metabolismo basal e do nível de atividade físi- limentos e ingerir muitas calorias, dependendo da densi- tervertebrais, perda do tônus
ca, o efeito térmico dos alimentos também influencia o dade energética de cada alimento. A densidade energética muscular e alterações posturais.
gasto energético. Mastigar, engolir, digerir, absorver, uti- pode ser entendida como a razão entre a quantidade de
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10. calorias e o volume ou massa de um determinado ali- após o almoço ou o jantar, pois o cálcio compete com o
mento preparado. Por exemplo, 100 gramas de arroz ferro para ser absorvido, prejudicando a absorção deste
branco fornecem 164 calorias, enquanto 100 gramas de mineral. As fibras dietéticas (cascas de frutas, cascas de
bacon fornecem 661 calorias, portanto podemos dizer que cereais, verduras...) não são absorvidas pelo corpo
o bacon tem uma densidade energética maior que o arroz. porque não temos enzimas para fazer a digestão, mas
A quantidade de carboidratos, proteínas e gorduras são muito importantes para estimular o movimento in-
presentes nos alimentos é que determina a densidade en- testinal e diminuir a absorção de colesterol. Por outro
ergética do alimento ou da refeição. Geralmente, os ali- lado, o consumo em excesso das fibras pode diminuir a
mentos com maior densidade energética desequilibram a absorção de alguns micronutrientes (cálcio, zinco, ferro).
alimentação de duas maneiras: são muito calóricos e são Quando o organismo se encontra debilitado, os pro-
pobres em vitaminas e minerais. No quadro 3, em anexo, cessos de digestão dos alimentos, absorção e eliminação
apresentamos diversas refeições e a quantidade de calo- de nutrientes também podem ficar prejudicados. Mesmo
rias que fornecem. que a pessoa se alimente adequadamente, o aproveita-
O mesmo alimento também pode ser mais ou menos mento dos nutrientes não será o mesmo de uma pessoa
calórico dependendo da forma como o preparamos ou sadia. Por exemplo, quando uma criança está com diar-
dos ingredientes que utilizamos. Observe o quadro 4, em réia, além de perder água, vitaminas e minerais pelas fe-
anexo, e confira. zes, deixa de absorver nutrientes porque a mucosa intes-
Após o processo de digestão, os alimentos consumidos tinal está alterada, aumentando o risco de desnutrição.
fornecem os nutrientes para serem utilizados pelo orga- Um último aspecto também importante é a interferên-
nismo. A absorção de nutrientes pode ser influenciada cia de alguns medicamentos, como a aspirina e os laxan-
pela interação entre eles, pela condição biológica do or- tes, no processo de absorção de nutrientes, pois o uso ex-
ganismo e pela interação com medicamentos. cessivo dos mesmos pode alterar a mucosa intestinal. Ou-
Um aspecto que influencia esse aproveitamento é a tros medicamentos agem aumentando a eliminação de
biodisponibilidade dos alimentos, isto é, nem tudo o que nutrientes, como é o caso de alguns diuréticos, que au-
ingerimos pode ser digerido e absorvido pelo corpo. Por mentam a eliminação de potássio.
exemplo, o ferro presente em alimentos de origem vege-
tal, para ser melhor absorvido, necessita ser consumido
junto com alimentos ricos em vitamina C, presente nas BALANÇO ENERGÉTICO
frutas cítricas. Além disso, a combinação dos alimentos
também pode interferir no processo de digestão e ab- Assim como um banco, o corpo realiza um balanço entre
sorção. Por exemplo, não devemos consumir alimentos o "crédito" e o "débito" de energia. Ao longo do tempo, a
ricos em cálcio (leite, queijos, iogurtes...) junto ou logo relação entre a quantidade de calorias ingeridas e de ca-
10
11. lorias gastas na realização das nossas atividades físicas e
mentais resulta no balanço energético. Quando a inges-
tão de calorias for maior que o gasto energético com a
realização de atividades, teremos um balanço energéti-
co positivo, ou seja, há um "crédito" de energia que, se
"poupado" continuamente, será acumulado como gordu-
ra, levando ao ganho de peso. Quando a ingestão de
calorias for menor que o gasto, teremos um balanço ener-
gético negativo e, nesse caso, o "débito" contínuo de ener-
gia levará o organismo a utilizar suas reservas energéti-
cas, podendo causar a perda de peso. Caso essas situações
sejam duradouras, poderão resultar num quadro de obesi-
dade ou desnutrição, respectivamente. Para evitar estes
dois agravos nutricionais, o balanço energético deverá ser
equilibrado, isto é, a ingestão e o gasto energético devem
ser equivalentes ao longo do tempo.
Tão importante quanto a quantidade de calorias é a
variedade dos alimentos que ingerimos. Uma alimenta-
ção monótona (composta diariamente pelos mesmos ali-
mentos) poderá ocasionar a falta ou o excesso de alguns
nutrientes, facilitando o aparecimento de doenças caren-
ciais como a anemia (falta de ferro), a hipovitaminose A
(falta de vitamina A) ou o bócio (falta de iodo); ou o
aparecimento de doenças resultantes do consumo exces-
sivo de alguns nutrientes como colesterol (hipercoles-
terolemia), triglicerídeos (hipertrigliceridemia) ou glicose
(diabetes).
11
12.
13. AVALIANDO O ESTADO NUTRICIONAL
O estado nutricional é a condição expressa pelo corpo re- entes (necessidades nutricionais) estão sendo alcançadas
sultante da relação entre a quantidade e a qualidade dos e é determinado por fatores como renda, acesso a serviços
alimentos ingeridos (ingestão alimentar), a capacidade de saúde e educação, hábitos culturais... Portanto, está
do organismo em aproveitar os alimentos consumidos e correlacionado a hábitos e estilo de vida, que podem ser
o gasto de energia frente às necessidades nutricionais das mais ou menos saudáveis, bem como ao ambiente e às
pessoas em cada fase do ciclo da vida. Ele expressa em condições sócio-econômicas em que as pessoas vivem.
que medida as nossas necessidades fisiológicas de nutri- Diferentes fatores influenciam o crescimento: em uma
desenvolvimento
econômico
e social
comportamento ambiente
alimentar emocional
VOCÊ SABIA QUE...
ingestão padrão a antropometria teve origem
doença de alimentos nas artes? Acredita-se que o
cultural
primeiro a utilizar as medidas
crescimento do corpo humano foi um artis-
gestação ta italiano chamado Alberti,
medicamento absorção infecção ainda no século XV. Em seu
amamentação manutenção
doença do organismo trabalho, intitulado De Statua,
febre e bem-estar as partes do corpo humano
interação são representadas numerica-
entre nutrientes
mente e uma correlação é feita
necessidade entre as partes e em relação ao
ingestão de estado nutricional ótimo de nutrientes estresse comprimento total do corpo. O
nutrientes para uma que pode ser observado através
saúde ótima deste trabalho é a preocupa-
ção com a proporcionalidade
atividade das partes do corpo em relação
física ao todo.
Fatores que influenciam o equilíbrio entre a ingestão e a necessidade de nutrientes.
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14. turma escolar, por exemplo, percebemos crianças da Os índices mais comumente utilizados correlacionam da-
mesma faixa etária mais baixas que outras e umas mais dos de peso, altura, idade e sexo. Para crianças com até
magras que outras, expressando uma grande variabili- cinco anos de idade, o mais utilizado é o peso para a ida-
dade na compleição física. Esta variabilidade depende do de. Este indicador compõe o gráfico de crescimento inse-
sexo, da altura dos pais, do peso dos ossos, da proporção rido no Cartão da Criança, distribuído em hospitais e uni-
de massa muscular etc. Isto pode ser observado até entre dades de saúde, visando facilitar o acompanhamento do
irmãos, pois a carga genética de cada um é única. crescimento pelos responsáveis e profissionais de saúde.
Quando o ambiente é favorável, principalmente quan- Atualmente, o índice mais utilizado para avaliar a
to à nutrição, todo esse potencial genético se manifestará adequação do peso de crianças maiores de cinco anos, de
acarretando o desenvolvimento pleno do indivíduo. Caso adolescentes e de adultos é o Índice de Massa Corporal
contrário, o organismo criará mecanismos de adaptação (IMC). Esse índice expressa a razão entre o peso (em qui-
ao meio-ambiente e o crescimento não será pleno. los) e a altura ao quadrado (em metros), conforme exem-
Há uma variação do peso ou da altura esperados para plificado abaixo.
a idade que é normal, isto é, há limites de normalidade de
peso e de altura, entre crianças e entre adultos. Nem toda
criança "magrinha" é desnutrida, nem todo adolescente peso (quilogramas)
IMC =
"cheinho" é obeso. altura2 (metros)
O método mais utilizado para avaliação do estado
nutricional é a antropometria, que pode ser definida co- Por exemplo, um adulto que pese 70 quilos e
mo a medição das dimensões corporais. A massa corpo- meça 1,75 metro terá um IMC de 22,9.
ral, popularmente conhecida como peso, é a medida an-
VOCÊ SABIA QUE... tropométrica mais utilizada e também uma das mais fá- Veja: IMC = 70 (kg) = 22,9 kg/m2.
ceis de ser acompanhada. As outras medidas mais co- 1,75 (m) x 1,75 (m)
que o belga Adolphe Quetelet
(1796-1874) criou o Índice de muns são: estatura, perímetros de partes do corpo (da ca-
Massa Corporal, conhecido beça, muito utilizado para avaliar o crescimento de be-
inicialmente como Índice de bês; do braço, da cintura etc.) e pregas cutâneas, que a- Para avaliar a adequação do estado nutricional de crian-
Quetelet? Físico, astrônomo,
matemático e biólogo, ele me- valiam a quantidade e a proporção de gordura no corpo. ças e adolescentes comparamos os dados de uma pessoa
diu sistematicamente a estatu- As variações, esperadas ou não, das medidas corporais ou de um determinado grupo com uma população sadia
ra de seus filhos e dos amigos dependem fundamentalmente das condições nutricionais que se desenvolveu em condições sócio-econômicas satis-
deles, ano após ano, acompa-
nhando o crescimento com o e, portanto, as medidas antropométricas são de grande fatórias e, por isso, teve a chance de expressar todo seu
objetivo de avaliação estética. importância no diagnóstico de agravos nutricionais. Es- potencial de crescimento e desenvolvimento saudável.
tas medidas são combinadas em índices antropométricos. Para adultos, os limites de IMC que indicam se o peso
14
15. corporal está ou não adequado foram definidos a partir
de estudos que observaram a relação entre valores de
IMC e a ocorrência de doenças e morte, por isso atual-
mente o "peso normal" está sendo denominado "peso
saudável", isto é, aquele peso ou faixa de peso em que há
menor associação com doenças ou morte.
Nos quadros 5, 6 e 7, em anexo, podem ser encon-
trados os valores de IMC esperados para cada
faixa etária. No entanto, o diagnóstico nutricional
não deve ser baseado somente no cálculo de um
único índice antropométrico. É necessário avaliar
outros aspectos referentes às condições de alimen-
tação e nutrição da pessoa e, em alguns casos, uti-
lizar outros indicadores do estado nutricional.
Especialmente quanto aos adolescentes, a avali-
ação do estágio de maturação sexual é funda-
mental para interpretar o valor do índice encon-
trado para cada um. O ideal é que esse diagnósti-
co seja realizado por um profissional de saúde.
Os agravos nutricionais, como os que vamos abordar
neste material - obesidade, desnutrição e anemia - ocor-
rem quando as variações no estado nutricional ultrapas-
sam os limites da normalidade.
É neste ponto que encontramos a interseção entre obe-
sidade, desnutrição e anemia: são agravos que se carac-
terizam pelo desequilíbrio no atendimento às necessida-
des nutricionais, desequilíbrio este que pode ser determi-
nado por múltiplos fatores como veremos mais à frente.
15
16.
17. OBESIDADE
O QUE É OBESIDADE? obesidade foi maior entre os grupos de menor renda da
população, principalmente entre mulheres, o que faz
A obesidade é definida como o acúmulo excessivo de gor- com que esse agravo, antes associado a boas condições
dura corporal que acarreta prejuízos à saúde da pessoa. de vida, esteja cada vez mais associado à pobreza. No
Até recentemente, a obesidade era considerada somente município do Rio de Janeiro, o sobrepeso e a obesidade
como um fator de risco para a saúde, isto é, indivíduos atingem cerca de 1,5 milhões de pessoas.
obesos deveriam perder peso senão teriam mais chances Entre crianças maiores de cinco anos e adolescentes,
de desenvolver algumas doenças, como por exemplo di- nos últimos vinte anos, a obesidade praticamente tripli- VOCÊ SABIA QUE...
abetes, hipertensão arterial, artrite, doenças cardíacas. cou. Os casos de obesidade iniciados neste período ten-
sobrepeso é diferente de obesi-
Atualmente, além de fator de risco, a obesidade já é con- dem a persistir na vida adulta, aumentando as chances dade? O excesso de peso ocorre
siderada uma doença. do surgimento de doenças associadas, como diabetes e quando a pessoa apresenta um
doenças cardiovasculares. peso corporal acima do espera-
do para sua idade, altura e
sexo. O sobrepeso pode acon-
QUAL A SITUAÇÃO DA OBESIDADE NO PAÍS? tecer por diferentes motivos co-
QUAIS AS CAUSAS DA OBESIDADE? mo desenvolvimento da massa
muscular (por exemplo, atletas
Na grande maioria dos países, a obesidade vem au- esportivos), doenças que levem
mentando de forma sinificativa, principalmente entre A obesidade é uma doença multifatorial determinada, ao aparecimento de edemas
adultos. No Brasil, no período de 1974 a 1997, a fre- basicamente, pela influência de fatores genéticos e com- (por exemplo, doenças renais) e
pelo acúmulo de gordura. As-
qüência percentual da obesidade, que variava entre 2,5% portamentais (abrangendo aspectos psicológicos, sociais sim, todo quadro de obesidade
(homens) e 6,9% (mulheres), aumentou para 7% e e culturais) sobre a alimentação e o nível de atividade significa sobrepeso, mas nem
12,2%, respectivamente, demonstrando que há mais física das pessoas. As causas da obesidade, na maioria todo quadro de sobrepeso signi-
fica obesidade.
mulheres obesas, embora o ritmo de crescimento de casos das vezes, estão associadas entre si. As principais são:
seja maior entre os homens. Esse aumento foi observado Predisposição genética - se a mãe ou o pai for obeso, a obesidade é um problema
em todas as regiões e faixas de renda, exceto entre mu- o filho tem até 50% de chances de desenvolver obesidade. muito mais freqüente que a
desnutrição, mesmo em países
lheres de maior renda da Região Sudeste, onde se obser- Se os dois forem obesos, o risco sobe para 80%. Quando com grande desigualdade so-
vou diminuição da proporção desse agravo. Nesse perío- nem pai nem mãe são obesos, o risco de o filho desen- cial como o Brasil?
do, observou-se que, em geral, o ritmo de aumento da volver obesidade passa a ser menor que 10%. O fator
17
18. genético pode facilitar os processos do organismo para Alimentação inadequada - o consumo calórico ex-
armazenar gordura, dificultar os processos de oxidação cessivo ou a composição inadequada da alimentação
("queima") de gorduras, ou regular de maneira menos contribui de forma decisiva para o aumento de peso e
eficiente o mecanismo biológico de controle das sensa- para o acúmulo de gorduras. A ingestão desequilibrada
ções de fome e saciedade. Apesar da contribuição do fator de alimentos pode ser caracterizada pelo alto consumo de
VOCÊ SABIA QUE... genético, a ocorrência da obesidade vai depender diretamente preparações ricas em açúcares e gorduras, principalmente
do estilo de vida e do ambiente em que cada pessoa vive. As as de origem animal; de alimentos industrializados pron-
a determinação genética para
armazenar energia foi um me- pessoas com maior determinação genética para a obesi- tos ou semiprontos e pelo baixo consumo de hortaliças e
canismo importante para a dade necessitarão ter maior controle sobre a qualidade frutas. Um hábito pouco saudável freqüente em nossa
sobrevivência do homem nos de sua alimentação e seu nível de atividade física para população é a substituição do almoço ou do jantar por
primórdios da civilização? Na-
quela época, o acesso aos ali- evitarem o ganho de peso. lanches como batata frita, sanduíches, tortas, sorvetes,
mentos era muito instável e o Redução da atividade física e sedentarismo - a modi- pizzas e outros que são altamente calóricos e não
homem passava por grandes ficação do modo de vida nos últimos tempos gerou uma fornecem todos os nutrientes necessários ao bom fun-
períodos de escassez, sendo
necessário armazenar o máxi- diminuição importante do gasto de energia com ativida- cionamento do organismo. Assim como em outros âm-
mo de energia que conse- des cotidianas, favorecendo o ganho de peso. Alguns bitos da vida moderna, a falta de tempo tem marcado a
guisse. Por isso, quando as avanços da tecnologia que geram conforto e praticidade relação das pessoas com a alimentação e o prazer com a
pessoas fazem dietas muito
restritivas - período de ”escas- (industrialização dos alimentos, elevadores, carro, apare- alimentação tem sido um prazer cada vez mais "fast", de
sez de alimentos” - e depois lhos eletrodomésticos, computador) condicionam uma consumo imediato, dificultando até a atuação do meca-
voltam a se alimentar nor- "economia" de energia para nos alimentar, nos abrigar, nismo de saciedade e permitindo que a pessoa coma
malmente, o organismo acio-
na um mecanismo para arma- realizar atividades cotidianas, nos aquecer, nos divertir etc. quantidades exageradas de alimentos altamente calóri-
zenar energia se preparando Por exemplo, para lavar roupa, há 60 anos, era necessário cos. As crianças têm sido expostas cada vez mais cedo a
para um outro possível perío- ir até um riacho, ficar abaixado esfregando vigorosa- este tipo de alimentação por diversos fatores como o au-
do de escassez, dando origem
ao "efeito sanfona". mente os tecidos. Há 50 anos atrás, a vantagem era ter um mento na jornada de trabalho dos pais, o bombardeio de
tanque em casa. Hoje equipamentos como lavadoras e propagandas que estimulam o hábito de comer "petiscos"
pessoas com a mesma idade e secadoras estão cada vez mais acessíveis. Esta mudança de entre as refeições etc. Na relação entre pais e filhos, fre-
altura às vezes devem ingerir
uma quantidade de calorias gasto de energia no dia-a-dia também aconteceu entre as qüentemente o alimento é utilizado para demonstrar amor,
diferente? Isto porque, geneti- crianças. Quando comparamos as atividades de lazer das para suprir períodos de ausência, para amenizar frus-
camente, umas têm mais facili- crianças de hoje com as de gerações anteriores, percebe- trações... Quando os doces ou outras guloseimas são ofere-
dade para armazenar gordura
que outras. Por isso, alguns in- mos que os passeios de bicicleta, o futebol no quintal e cidos às crianças como forma de recompensa, inconscien-
divíduos que comem menos outras brincadeiras como pula-corda, amarelinha, pega- temente estamos demonstrando que a comida é uma forma
engordam mais que outros. pega e roda foram substituídas por televisão, jogos de de aumentar a auto-estima e estimulando a ingestão de ali-
computador, videogames, internet e carrinhos elétricos. mentos além das necessidades nutricionais. O prêmio por
18
19. ingerir alimentos nutritivos valoriza mais a recompensa com quatro ou mais gestações;
do que o próprio alimento. Frases como "coma toda a Abandono do fumo - ao parar de fumar, algumas
refeição para ganhar a sobremesa", "coma as verduras e pessoas comem mais para compensar o estímulo oral do
legumes e você poderá sair para brincar" são exemplos cigarro ou porque sentem melhor o sabor dos alimentos.
disso. Faz parte da nossa cultura esse tipo de troca que Além disso, há indícios de que, quando um indivíduo
pode colaborar para o desenvolvimento da obesidade, pára de fumar, seu metabolismo basal diminui, facilitan-
uma vez que as crianças vão associando alimentos às do o ganho de peso. Porém, entre perder peso e deixar de
sensações que eles proporcionam. Essas associações po- fumar, a prioridade deve ser deixar de fumar, pois alguns
dem se perpetuar até a vida adulta, sendo comum o uso estudos revelam que fumar tem impacto pior sobre a
da alimentação como forma de compensar sentimentos saúde do que um pequeno aumento na massa corporal;
negativos, facilitando o aumento de peso. Uso de medicamentos - alguns medicamentos favo-
Distúrbios hormonais (responsáveis por menos de 5% recem o ganho de peso, como por exemplo, a cortisona,
dos casos de obesidade) - nosso sistema nervoso possui pílulas anti-concepcionais (em algumas mulheres) e al-
uma complexa rede de transmissores com a função de en- guns tipos de anti-depressivos (cerca de 1/3 dos pacientes
viar mensagens ao cérebro para que os hormônios que engordam);
geram as sensações de fome ou de saciedade sejam libera- Aposentadoria - devido à drástica redução de ativi-
dos. O desequilíbrio dos hormônios envolvidos nessa regu- dade física, quando as pessoas não desenvolvem outras
lação pode levar a um consumo excessivo de alimentos. atividades além da profissional. VOCÊ SABIA QUE...
as crianças nascem com capa-
É comum que o desencadeamento dos fatores que cau- cidade para regular sua inges-
sam a obesidade, citados acima, estejam associados a al- QUAIS AS CONSEQÜÊNCIAS DA OBESIDADE? tão diária de alimentos? Al-
guns momentos ou eventos que acontecem nas vidas das guns estudos revelaram que as
crianças "sabem" o quanto de-
pessoas, como por exemplo: Apesar de a obesidade acometer ricos e pobres, entre as vem comer, com base no teor
Casamento - mais freqüente entre os homens, a pessoas de baixa renda as complicações desta doença energético dos alimentos. Isso
obesidade nesta fase deve-se, basicamente, à diminuição tendem a se apresentar de forma mais grave, em função explica por que algumas
crianças comem mais ou
da atividade física e à programação de atividades de do menor acesso à informação e aos serviços de saúde, menos em certos períodos do
lazer em torno da alimentação (churrascos, almoço em condições básicas para a promoção da saúde e para o dia. No entanto, ao longo do
família...); controle de doenças. tempo, outras motivações vão
interferir nessa capacidade
Gravidez - a ocorrência da obesidade deve-se, em As conseqüências mais comuns da obesidade são: como os hábitos familiares, a
grande parte, à dificuldade em retornar ao peso anterior Doenças cardiovasculares - a hipertensão arterial, propaganda de alimentos, as
à gestação, principalmente entre mulheres que não ama- ou pressão alta, é a conseqüência mais comum da obesi- influências dos colegas etc.
mentam ou o fazem por pouco tempo e entre mulheres dade e ocorre pelo aumento da força que o coração faz
19
20. para que o sangue circule nos vasos sangüíneos do corpo. muito difícil para algumas crianças ou adolescentes obe-
Outras doenças, como o infarto do miocárdio (músculo sos a convivência com outros sem esse tipo de problema.
do coração) e as doenças coronarianas (causadas por Muitas vezes, o obeso é discriminado dentro do grupo so-
problemas nos vasos que alimentam o coração, as coro- cial, que pode ser a própria família, a escola, os vizinhos
nárias) também são problemas cardiovasculares fre- e os amigos, levando a um isolamento cada vez maior e
qüentes em pessoas obesas; à busca por preencher seu sentimento de insatisfação
Dislipidemias - são decorrentes de alterações nos através da comida.
níveis de gorduras no sangue, principalmente de coleste-
rol e de triglicerídeos que, quando em excesso na circu-
lação, tendem a se depositar no interior dos vasos, preju- COMO IDENTIFICAR A OBESIDADE?
dicando a circulação e aumentando o risco de ateros-
clerose e infarto; Nos quadros 5, 6 e 7, em anexo, são apresentados os valo-
Diabetes - elevação da glicose (açúcar) no sangue; a res de IMC utilizados para o diagnóstico do excesso de peso
obesidade aumenta a resistência das células à ação da in- corporal. No entanto, há variações individuais que pre-
sulina, que é o hormônio responsável pela entrada da gli- cisam ser avaliadas por profissionais de saúde.
cose nas mesmas;
Osteoartrites - os problemas mais comuns são dores
VOCÊ SABIA QUE... na coluna, no quadril, nos joelhos e nas pernas pela so- COMO PREVENIR A OBESIDADE?
tão importante quanto o acú- brecarga de peso sobre as articulações, dificultando a
mulo de gordura é a sua dis- movimentação da pessoa e diminuindo ainda mais sua Atualmente, quase metade dos óbitos que ocorrem no
tribuição no corpo? Tendo co-
mo referência a linha do umbi- atividade física; país se dá em decorrência de doenças crônicas, que têm
go, a gordura pode estar locali- Câncer - na mulher, os mais associados à obesidade a obesidade como um dos seus principais fatores de risco.
zada na metade superior (obe- são o câncer de mama, de útero e de ovário. Nos homens, Assim, a prevenção da obesidade é uma ação estratégica
sidade em forma de "maçã") ou
na metade inferior (obesidade são os tumores de intestino (cólon e reto) e de próstata; para a diminuição da mortalidade no país e melhoria da
em forma de "pêra"). A pri- Diminuição da auto-estima e comprometimento das qualidade de vida da população.
meira oferece maior risco para relações sociais - a obesidade pode acarretar problemas Outro aspecto que faz da prevenção da obesidade
o desenvolvimento de doenças
crônicas, pois significa que a psicológicos como baixa auto-estima, insatisfação com o uma ação prioritária é o fato de ser muito difícil reverter
gordura poderá estar arma- próprio corpo, depressão e outros distúrbios alimentares, um quadro de obesidade. Muitas vezes o ganho de peso
zenada próxima a órgãos vitais como anorexia e bulimia. Estas questões podem se tornar é pequeno e gradual e o organismo vai desenvolvendo
para o funcionamento do orga-
nismo, como por exemplo, co- ainda mais graves nos casos de obesidade na adolescên- uma série de mecanismos de adaptação ao novo peso.
ração, fígado etc. cia, sendo esta uma fase de definição da personalidade Esse ganho de peso, ao longo do tempo, faz com que as
e de grande necessidade de aceitação social. Pode ser células do nosso corpo desenvolvam um tipo de "memó-
20
21. ria" e o excesso de peso tende a ser preservado. Por isso, A escola, portanto, constitui-se como um espaço pri-
a obesidade é persistente e difícil de ser tratada. Além da vilegiado para a prevenção da obesidade porque de-
dificuldade natural em manter a perda de peso, as con- sempenha papel fundamental na formação de atitudes e
seqüências do ganho de peso nem sempre desaparecem opiniões dos escolares quanto aos mais variados aspec-
quando o peso diminui. Portanto, prevenir é a melhor tos da vida, dentre eles a relação entre alimentação,
opção! saúde e prazer. Além disso, demarca o início das relações
As ações de prevenção da obesidade têm como objeti- sociais fora do ambiente familiar, colocando desafios
vos gerais: diários de convivência e crescimento pessoal. As ações
incentivar a manutenção do peso atual, se este for desenvolvidas na escola também se destacam pelo seu
adequado; potencial de atingir a comunidade escolar e os familiares
evitar o ganho de peso, no caso de pessoas que já ap- das crianças.
resentem algum nível de excesso de peso; Uma criança ou adolescente não se interessa muito
evitar o aparecimento ou as complicações das por um problema de saúde que possa surgir no futuro, na
doenças associadas à obesidade; terceira década de sua vida. Pelo contrário, nesta fase da
promover a perda de peso. vida os riscos são atraentes, por isso abordagens que en-
Estas ações podem estar direcionadas aos grupos de focam a alimentação inadequada ou o risco de adoecer
risco (filhos de pais obesos, hipertensos, diabéticos...), aos tendem a ser desvalorizadas. No entanto, abordagens
indivíduos já obesos ou à população em geral, com en- que sugerem como se alimentar para ter uma pele mais
foque nos hábitos alimentares e na prática regular de bonita, um cabelo mais sedoso ou um corpo mais em
atividade física. Assim, diversas ações podem ser desen- forma e que valorizem a autonomia do adolescente no
volvidas em vários segmentos, por diferentes instituições preparo de refeições podem ter mais impacto em seus
ou pessoas. comportamentos alimentares. As crianças e adolescentes
De acordo com a Política Nacional de Alimentação e também têm direito a escolhas, mas é preciso que lhes
Nutrição, os escolares apresentam-se como um grupo es- sejam oferecidas opções saudáveis.
VOCÊ SABIA QUE...
tratégico para a prevenção da obesidade, sendo premente A seguir, alguns aspectos a serem considerados nas aproximadamente 30% das
a definição de ações de valorização do Programa de Ali- ações de prevenção da obesidade e promoção da saúde: crianças obesas podem se tor-
nar adultos obesos?
mentação do Escolar (PAE), que favorece o consumo de o combate aos preconceitos - obesidade não é um
alimentos "in natura" e outros alimentos saudáveis; de re- problema de falta de caráter ou relaxamento. É funda- o risco de um indivíduo seden-
gulamentação do funcionamento das cantinas escolares; mental fomentar uma atitude includente em relação aos tário tornar-se obeso é aproxi-
madamente 3,5 vezes maior
de incentivo à prática regular de atividade física e de dis- obesos nos grupos, jogos e brincadeiras, respeitando as do que um indivíduo fisica-
seminação de informações sobre práticas alimentares aptidões de cada um; mente ativo?
saudáveis. os conceitos e mitos sobre "alimentação saudável" -
21
22. o maior consumo de alimentos saudáveis leva à redução com energia suficiente para enfrentar estes períodos con-
do consumo de alimentos que devem ser evitados; os turbados, para procriar e para proteger sua família.
hábitos alimentares saudáveis devem ser valorizados em Atualmente, é crescente a insatisfação das pessoas
contraposição às dietas radicais de emagrecimento, ao com a própria aparência. O implacável desfile de figuras
uso de alimentos dietéticos ou ao uso de medicamentos de jovens, com corpos esqueléticos ou musculosos, em re-
para tratamento da obesidade; alimentação saudável e vistas, cartazes, filmes e comerciais torna muito difícil,
comida gostosa não são excludentes, ou seja, "nem tudo principalmente para os jovens, encarar a beleza como
que é gostoso engorda"; a alimentação saudável não é um componente individual, sem se prender a esses
cara, pode-se comer melhor com o mesmo orçamento padrões estéticos.
familiar; alimentação variada é fundamental, a grande Como a adolescência é uma fase onde a busca pela
maioria dos alimentos ou das formas de preparação pode aceitação social é intensa, os adolescentes tornam-se pre-
ter seu lugar numa alimentação saudável; sas fáceis das regras da estética, desejando manter o
a multicausalidade da obesidade - não é só a in- corpo bonito e magro como símbolo de status social. A
gestão excessiva de alimentos que causa obesidade; exis- mídia cria no jovem o desejo e a necessidade de corres-
tem fatores biológicos, comportamentais e ambientais ponder a estes padrões, tendo como estratégia de sedu-
que também contribuem para a ocorrência da doença; ção, artistas com corpos perfeitamente delineados, cabe-
os conceitos e mitos sobre "peso saudável" - o peso los sempre arrumados, maquiagem e roupas da moda.
corporal adequado não pode comprometer a saúde; o Quando não conseguem alcançar essa imagem ideal, as
padrão estético que privilegia a magreza leva a compor- pessoas tendem a se sentir inferiores, diminuem sua
tamentos alimentares totalmente inadequados; o peso auto-estima, o que pode levar a um descaso com a apa-
VOCÊ SABIA QUE... saudável não é o peso das modelos internacionais; o de- rência e até mesmo o desencadeamento de um quadro de
sejo de emagrecimento rápido leva as pessoas a bus- obesidade ou de transtornos alimentares.
o incentivo ao aleitamento ma-
terno exclusivo até os 6 meses carem dietas como se fossem fórmulas mágicas ou, ainda Enfim, ao desenvolver abordagens positivas na pre-
é uma importante ação de pre- pior, ao uso de medicamentos, desconsiderando o risco venção da obesidade, é também fundamental prevenir
venção da obesidade tanto à saúde e a possibilidade da perda de peso lenta, mas outros tipos de comportamentos alimentares inadequa-
para mãe quanto para o bebê?
sustentável e mais saudável. No quadro 8 apresentamos dos. Os enfoques centrados no medo de engordar ou na
no dia 11 de outubro é come- alguns exemplos destes modismos e uma avaliação necessidade de emagrecer a qualquer custo podem propi-
morado o Dia Nacional de sucinta do risco que oferecem à saúde. ciar o aparecimento de transtornos alimentares como a
Prevenção da Obesidade? Esta
data foi instituída a partir da Ao longo do tempo o conceito de corpo "saudável" ou anorexia nervosa e a bulimia.
Portaria nº 144/GM, de 24 de "bonito" tem mudado bastante. Na época pré-industrial,
fevereiro de 1999. os períodos de carência alimentar eram freqüentes e a
mulher de peso excessivo simbolizava uma mulher forte,
22
23. ANOREXIA NERVOSA res no estômago e fraqueza. Nas mulheres, é comum
ausência da menstruação que, muitas vezes, precede a
É uma enfermidade que ocorre predominantemente entre magreza extrema.
adolescentes e mulheres adultas jovens. Caracteriza-se
pela limitação da ingestão de alimentos devido à obses-
são pela magreza e ao medo do ganho excessivo de peso. BULIMIA
A perda de peso é obtida, principalmente, através da re-
dução do consumo alimentar total, sendo que alguns in- Este distúrbio alimentar é caracterizado pelo rápido e
divíduos podem iniciar "o regime" excluindo da sua dieta descontrolado consumo de uma grande quantidade de
os alimentos mais calóricos. A grande maioria adere a alimentos em um curto período de tempo com posterior
uma dieta extremamente restritiva, limitando-se a con- vômito auto-induzido ou o uso de laxantes com o desejo
sumir poucos tipos de alimentos e em pouca quantidade. de se "livrar" do excesso ingerido. A grande freqüência de
Nos casos mais graves, a pessoa adota outros métodos vômitos pode provocar irritação do esôfago (esofagite) ou
para atingir a perda de peso, como a auto-indução de outras conseqüências mais graves.
vômito, uso indevido de laxantes ou diuréticos e a práti- A pessoa pode seguir dietas rigorosas intercalando
ca de exercícios intensos. com episódios de consumo compulsivo. Estes episódios
Quem desenvolve anorexia nervosa tem uma imagem costumam ocorrer às escondidas, pois são acompanha-
corporal distorcida. Normalmente, o indivíduo anoréxi- dos de sentimentos de vergonha, culpa e desejo de auto-
co mantém um peso corporal abaixo de um nível normal punição. O indivíduo come sem prestar atenção ao gosto
mínimo para sua idade e altura. Ele não percebe que está ou à quantidade do que ingere, preferindo alimentos de
perdendo peso nem que está comendo pouco. Sente-se alto teor de gorduras. A quantidade de calorias ingeridas VOCÊ SABIA QUE...
gordo ou acredita que a gordura esteja localizada so- num episódio desses varia muito, podendo chegar a 5 mil
são necessários cuidados es-
mente em algumas partes do seu corpo, particularmente quilocalorias num tempo menor que 2 horas. peciais ao se adotar alguma
abdome, glúteos e coxas, tendendo a reduzir cada vez Assim como na anorexia nervosa, o bulímico também dieta para perda de peso? Pa-
mais o consumo de alimentos ou a parar de comer para apresenta distúrbios da imagem corpórea, mas geral- ra uma perda de peso saudá-
vel, a redução calórica deve ser
alcançar um peso cada vez menor. mente se mantém próximo ao peso normal porque não equilibrada entre os diferentes
Muitos anoréticos apresentam sintomas como baixa consegue deixar de comer. A preocupação com o peso e nutrientes e deve sofrer avalia-
auto-estima, humor deprimido, retraimento social, irrita- a imagem corporal também é excessiva. Faz uso de laxa- ções regulares de adequação.
Não faça dieta sem o acom-
bilidade, insônia e pouco interesse por sexo, que podem tivos e/ ou diuréticos para emagrecer, assim como prati- panhamento de um nutricio-
ser causados pelas próprias alterações no organismo cau- ca atividade física intensa. Tende a ter idéias não realis- nista ou outro profissional de
sadas pela desnutrição. Podem apresentar também desi- tas sobre os alimentos e sobre o que é necessário para saúde habilitado para isto.
dratação, desmaios, tonturas, constipação intestinal, do- sustentar seu organismo. É um sério distúrbio quando o
23
24. hábito se torna obsessivo e interfere no aproveitamento
escolar ou no trabalho.
Quanto mais precocemente estes casos puderem ser
detectados, maiores as chances de sucesso no tratamen-
to. É fundamental o acompanhamento por profissionais
especializados e a participação da família, da escola e
dos amigos apoiando, acolhendo e encorajando a pessoa
VOCÊ SABIA QUE... em sua recuperação.
a diferença entre o peso das
modelos e o das mulheres em
geral é cada vez maior? Há 20
anos atrás, as modelos pesa-
vam 8% menos que a média
das mulheres da época; hoje
tal diferença é de aproxima-
damente 23%. Essa diferença
se dá tanto pela diminuição
do peso das modelos quanto
pelo aumento do peso das
mulheres em geral.
existem serviços de saúde
especializados para o atendi-
mento de pessoas com anore-
xia ou bulimia? No Rio de
Janeiro podemos citar:
NESA - Núcleo de Estudos da
Saúde do Adolescente, Av. 28
de Setembro, 109 fundos -
Vila Isabel - CEP:20551-030 -
Tel.: 25876570 / 22642082 /
22844183.
SOMA - Serviço de Orientação
Multiprofissional ao Adoles-
cente, Av. Brigadeiro Trom-
powsky, s/nº - Instituto de
Puericultura e Pediatria Ma-
garão Gesteira.
24
25. DESNUTRIÇÃO
O QUE É DESNUTRIÇÃO? A desnutrição pode ser definida como um distúrbio em
que ocorre desaceleração (casos leves), interrupção (casos
A desnutrição é um estado de carência nutricional. No nú- moderados), ou involução (casos graves) do processo de
mero do Projeto Com Gosto de Saúde sobre Alimentação crescimento e desenvolvimento, nas crianças e adoles-
Saudável, vimos que os alimentos fornecem energia, sob a centes, ou perda de peso, nos adultos, com prejuízos bio-
forma de açúcar ou gordura, proteínas, vitaminas e mine- químicos, funcionais e anatômicos que podem ser ou não
rais para o corpo humano. A desnutrição pode ocorrer pela reversíveis, chegando a ser fatais em alguns casos.
carência de energia, de proteína ou, nos casos mais freqüen- É muito comum encontrarmos a ocorrência do binô-
tes, de energia e proteína - desnutrição energético-protéica. mio desnutrição-infecção, principalmente nas infecções
É importante diferenciar desnutrição de magreza. Nem respiratórias e intestinais. Geralmente, o estado infeccio-
todo magro é desnutrido. Um indivíduo é considerado so está associado à falta de apetite, grande perda de
magro (ou de baixo peso) quando seu peso é inferior ao da nutrientes (através de vômitos, febre e diarréias) e ao au-
maioria da população e se encontra abaixo dos valores mento das necessidades energéticas, deflagrando ou
esperados para a idade (no caso de crianças menores de 5 agravando a desnutrição. Por outro lado, o desnutrido
anos) ou para a altura (no caso de crianças maiores de 5 tem sua resistência imunológica diminuída, ficando
anos, adolescentes e adultos). A magreza pode ocorrer mais susceptível à ocorrência de infecções.
como conseqüência:
do potencial genético do indivíduo, não representan-
do, portanto, um comprometimento de sua saúde QUAL A SITUAÇÃO DA DESNUTRIÇÃO NO PAÍS?
VOCÊ SABIA QUE...
(magreza ou baixo peso constitucional); a estatura média da popula-
de um processo agudo ou crônico de desequilíbrio Entre as décadas de 70 e 90, o percentual de casos de ção do Norte e Nordeste é infe-
rior à estatura média do Sul e
entre a necessidade e o consumo efetivo de energia e pro- desnutrição infantil no Brasil diminuiu de 20% para 5%. Sudeste? Além da carga gené-
teína, que resulta na desnutrição. A desnutrição aguda é Em relação aos adultos, também se tem observado uma tica, a população do Norte e
resultado de uma perda de peso recente e intensa devido redução importante nos casos de baixo peso no país (de Nordeste é mais afetada pela
desnutrição, cuja conseqüên-
a algum episódio de doença, como diarréia, desidratação, 8,6% para 4,2%). cia a longo prazo é o déficit de
infecções e outras. A desnutrição crônica reflete uma per- Entretanto, apesar da redução da desnutrição no país, ela estatura.
da ou ganho insuficiente de peso por um longo período. ainda é um agravo importante. No meio rural, mais atingi-
25
26. do pela pobreza e pela fome, o consumo médio de ali- ficiente para atender às necessidades nutricionais e o apro-
mentos está abaixo da média nacional e o acesso às condi- veitamento deficiente dos alimentos consumidos decorrente
ções básicas de vida ainda é muito restrito. O nível de ativi- de doenças (diarréia, infecção respiratória, AIDS etc.);
dade física nessas áreas é bem mais intenso do que nas á- intermediário, que reúne os fatores que determinam
reas urbanas, provocando maior gasto energético (ativida- o padrão de consumo alimentar e o estado de saúde, co-
des de plantio e colheita agrícolas, criação de animais, ativi- mo renda, ocupação, condições de moradia, saneamen-
dades de rotina doméstica sem aparelhos elétricos, movi- to, atenção à saúde, escolaridade, composição familiar,
mentação através de caminhadas), que, associado a um hábitos alimentares, cuidado da família com a criança;
consumo limitado de alimentos, favorece o déficit de peso. básico, referente às condições de desenvolvimento
social, econômico, cultural e político que são determina-
das pela forma como são produzidos e distribuídos os
QUAIS OS DETERMINANTES DA DESNUTRIÇÃO? bens e serviços na sociedade.
Em áreas urbanas, como o Rio de Janeiro, os casos de
Pode-se dizer que a desnutrição é resultado da interação de desnutrição, em sua grande maioria, estão restritos aos bol-
fatores sociais, econômicos, ambientais e biológicos. O es- sões de miséria. Nestes casos, a principal causa da desnutri-
tado nutricional guarda relação com a renda, com a com- ção é a pobreza e os fatores a ela relacionados que, além
posição familiar, com o preço dos alimentos, com as crenças de restringirem o acesso à alimentação adequada, falici-
e os costumes, com o acesso a serviços de saúde e de infra- tam a desestruturação do núcleo familiar: a drogadição e
estrutura (como água encanada, coleta de lixo e rede de es- o alcoolismo entre os responsáveis pela criança, fraco vín-
goto), com o valor nutricional da alimentação disponível e culo afetivo e ocorrência de violência doméstica.
com a situação de saúde do indivíduo. A pobreza, a fome
e a desnutrição são faces da mesma moeda e constituem,
provavelmente um dos principais problemas sociais e políti- QUAIS AS CONSEQÜÊNCIAS DA DESNUTRIÇÃO?
cos a serem enfrentados mundialmente. Por estar rela-
VOCÊ SABIA QUE... cionada às condições de vida da população, a proporção de As conseqüências da desnutrição vão depender da idade
casos de desnutrição em um país ou cidade também repre- da pessoa no início da doença e do tempo de duração e
a desnutrição pode afetar as
crianças até mesmo antes do senta importante indicador de desigualdade social. da gravidade desta carência nutricional.
nascimento? Este tipo de des- As causas da desnutrição interagem em efeito cascata, Quando a alimentação não é capaz de suprir as necessi-
nutrição é denominado desnu- isto é, uma circunstância propicia a ocorrência de outra, dades individuais, principalmente de energia e proteínas, o
trição intra-uterina e está rela-
cionado à condições de vida e tendo como desfecho a desnutrição. Os determinantes da organismo lança mão de uma série de mecanismos para
saúde da mãe. desnutrição podem ser hierarquizados em três níveis: compensar a carência alimentar e minimizar suas reper-
imediato, no qual se situam a ingestão alimentar insu- cussões no corpo. Uma das primeiras estratégias é utilizar
26
27. as reservas de energia e, por isso, o emagrecimento é um corporal. No entanto, há variações individuais que pre-
sinal em crianças ou adultos. Nas crianças, por exemplo, cisam ser avaliadas por profissionais de saúde.
quando o estado de carência nutricional é prolongado, o
organismo se adapta à menor oferta de alimentos dimin-
uindo ou anulando o crescimento estatural. Em alguns COMO PREVENIR A DESNUTRIÇÃO?
casos, esse mecanismo não é suficiente para compensar a
carência e o organismo passa a consumir seu tecido mus- A prevenção da desnutrição é bastante complexa e requer
cular para gerar energia, agravando-se, assim, o quadro de medidas de garantia de acesso à alimentação adequada, de
desnutrição. Dessa forma, começam a aparecer os sinais prevenção de infecções e de cuidado infantil, tanto de ca-
clínicos mais característicos: alterações na pele (resseca- ráter estrutural quanto específicas para grupos vulneráveis.
mento, descamação, enrugamento e manchas) e nos cabe- Além da distribuição de alimentos ou do auxílio financeiro
los (ressecamento e queda); edema (acúmulo de líquido no à população de risco, são também fundamentais a pro-
corpo); maior susceptibilidade a infecções que, por sua vez, moção do cuidado infantil e a prevenção de infecções, uma
pioram o estado nutricional; enfim, repercussões de inten- vez que, a ocorrência destas dificulta que a criança ganhe
sidades variáveis sobre todos os órgãos e sistemas do or- ou recupere o peso adequado. As principais ações de cuida-
VOCÊ SABIA QUE...
ganismo. Casos muito graves podem levar à morte, porém, do integral à saúde da criança e prevenção da desnutrição segundo a OMS, a quantidade
atualmente, isso é muito mais raro em nosso país do que infantil desenvolvidas na rede de saúde são o incentivo ao de alimentos produzidos em
nível mundial seria suficiente
há vinte anos atrás. aleitamento materno, o controle das infecções respiratórias para alimentar toda a popula-
Na adolescência, o ritmo de crescimento é intenso e, agudas, o controle de diarréias, a imunização, o acompan- ção? A fome não é um proble-
portanto, há grande demanda energético-protéica. Uma hamento do crescimento e do desenvolvimento psico-motor, ma de escassez de alimentos e
sim de distribuição e acesso.
alimentação insuficiente ou inadequada pode gerar o cuidado diferenciado aos grupos em risco nutricional e a
grandes repercussões na saúde, como retardo de cresci- identificação precoce de casos de baixo peso. O olhar aten- a prática do aleitamento ma-
mento (baixa estatura) e atraso da maturação sexual. to e vigilante de educadores, de profissionais de saúde e de terno exclusivo até os seis me-
ses de vida é fundamental pa-
Em adultos, o baixo peso em graus extremos está as- familiares é fundamental na detecção de crianças em ra a prevenção da desnutrição
sociado a casos de tuberculose, AIDS, câncer pulmonar processo de perda de peso e na prevenção da desnutrição. energético-protéica na infân-
e doença pulmonar obstrutiva crônica. Para que o controle e a prevenção da desnutrição se- cia? O leite materno garante
ao bebê o acesso a todos os
jam efetivos, estas ações específicas devem estar combi- nutrientes de que ele necessita
nadas a medidas de caráter estrutural voltadas à promo- em qualidade e quantidade
COMO IDENTIFICAR A DESNUTRIÇÃO? ção da eqüidade social, como programas de geração de adequadas para o crescimen-
to e desenvolvimento saudá-
emprego e renda, políticas agrícolas, agrárias e de co- veis, protege contra doenças e
Nos quadros 5, 6 e 7, em anexo, são apresentados os va- mercialização de alimentos, reorganização do sistema de fortalece o vínculo mãe-filho.
lores de IMC utilizados para o diagnóstico de baixo peso saúde e saneamento básico.
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