A revista apresenta:
1) A Canaoeste prepara uma série de ações para comemorar seus 70 anos em julho, incluindo reportagens na Revista Canavieiros e TV Canaoeste sobre sua história.
2) Um vídeo comemorativo com depoimentos de pais e filhos que ajudaram a construir a força da Canaoeste ao longo das gerações será lançado.
3) O presidente da Canaoeste, Manoel Ortolan, completa 40 anos na associação e 15 anos como presidente.
3. Revista Canavieiros - Junho de 2015
3
Editorial
A Canaoeste prevê uma série
de ações para comemorar seus 70
anos de história, no próximo dia 22
de julho. Entre elas, reportagens até
o final de 2015 sobre a trajetória da
associação e perspectivas para os
próximos anos, a serem publicadas
na Revista Canavieiros e veicula-
das na TV Canaoeste. Um vídeo
comemorativo, com depoimentos
de pais que ajudaram a construir a força da Canaoeste e filhos
que perseveraram no segmento agrícola, será lançado no evento
que vai marcar o aniversário: um seminário de mecanização que
está sendo planejado em parceria com a STAB (Sociedade dos
Técnicos Açucareiros e Alcooleiros do Brasil).
Este é um dos destaques desta edição, que irá trazer, tam-
bém, uma entrevista com o presidente da associação, Manoel
Ortolan, que completa, neste ano, 40 anos de Canaoeste e 15
à frente da entidade. Ele analisa o trabalho de todo esse perí-
odo, faz projeções e convoca os produtores a fortalecerem o
associativismo, por meio de uma aproximação maior com a
esfera governamental.
Já a reportagem de capa mostra que o uso dos VANTs/
drones para gestão e levantamento de propriedades agrícolas
avança cada vez e usinas como as do Grupo Raízen e forne-
cedores, como a Agropastoril Paschoal Campanelli S/A apos-
taram na nova tecnologia com investimentos feitos no último
ano. A edição de junho traz ainda um especial sobre irrigação
e cobertura de eventos como o Clube Plantar, do CTC (Centro
de Tecnologia Canavieira) e 14º Herbishow, entre outros.
Entrevistas com o presidente da Copercana,Antonio Eduardo
Tonielo, sobre a 11ª edição doAgronegócios Copercana.Afeira
será realizada entre os dias 23 e 26
de junho e mais uma vez irá propor-
cionar aos cooperados e associados
a possibilidade de realizar bons ne-
gócios através do acesso a produtos,
serviços, condições de pagamentos
facilitados, linhas de financiamen-
tos, dentre outros serviços, criando
condições para que o produtor possa
investir em sua lavoura.
"Estamos trabalhando para
conseguir um volume de recur-
sos que possa atender todos os
nossos cooperados. Sabemos que
o aumento dos juros anunciado
recentemente pelo Governo, não
foi bom. Porém, a Copercana
trabalhará para ajudar os coope-
rados no que for preciso", disse
o diretor da Copercana, Pedro
Esrael Bighetti.
Além da Coluna Caipirinha, assinada pelo professor Mar-
cos Fava Neves opinam no “Ponto de Vista”, Antonio César
Salibe, presidente executivo da UDOP; Alexandre Enrico S.
Figliolino, diretor de Agronegócios do Itaú BBA; Erotildes
Gil Bosshard, especialista em Direção de Recursos Humanos
e Antonio Carlos de Oliveira Freitas, advogado, especialista
em Processo Civil.
As notícias do Sistema Copercana, Canaoeste e Sicoob
Cocred, assuntos legais, informações setoriais, classificados
e dicas de leitura e de português também podem ser conferi-
dos na revista de junho.
70 anos da Canaoeste e o
11º Agronegócios Copercana
Boa leitura!
Conselho Editorial
RC
Expediente:
Conselho Editorial:
Antonio Eduardo Tonielo
Augusto César Strini Paixão
Clóvis Aparecido Vanzella
Manoel Carlos de Azevedo Ortolan
Manoel Sérgio Sicchieri
Oscar Bisson
Editora:
Carla Rossini - MTb 39.788
Projeto gráfico e Diagramação:
Rafael H. Mermejo
Equipe de redação e fotos:
Andréia Vital, Fernanda Clariano, Igor Saven-
hago e Rafael H. Mermejo
Comercial e Publicidade:
Marília F. Palaveri
(16) 3946-3300 - Ramal: 2208
atendimento@revistacanavieiros.com.br
Impressão: São Francisco Gráfica e Editora
Revisão: Lueli Vedovato
Tiragem DESTA EDIçÃO:
22.000 exemplares
ISSN: 1982-1530
A Revista Canavieiros é distribuída gratuitamente
aos cooperados, associados e fornecedores do
Sistema Copercana, Canaoeste e Sicoob Cocred.
As matérias assinadas e informes publicitários
são de responsabilidade de seus autores. A
reprodução parcial desta revista é autorizada,
desde que citada a fonte.
Endereço da Redação:
A/C Revista Canavieiros
Rua Augusto Zanini, 1591
Sertãozinho – SP - CEP:- 14.170-550
Fone: (16) 3946.3300 - (ramal 2008)
redacao@revistacanavieiros.com.br
www.revistacanavieiros.com.br
www.twitter.com/canavieiros
www.facebook.com/RevistaCanavieiros
Boa leitura!
Conselho Editorial
RC
4. Revista Canavieiros - Junho de 2015
4
Ano IX - Edição 108 - Junho de 2015 - Circulação: Mensal
Índice:
E mais:
Capa - 38
Drones:
Monitoramento feito das alturas
O uso dos VANTs para gestão e le-
vantamento de propriedades agrí-
colas avança cada vez mais
26 - Notícias Copercana
- Reuniões técnicas Copercana
34 - Notícias Sicoob Cocred
70 - Artigo Técnico
74 - Irrigação
- Jovem Agricultor do Futuro recebe doação de ferramentas da Sicoob Cocred
- Balancete Mensal
Plantas Daninhas: Controlar no período seco?
Área irrigada no Brasil pode crescer em até
10 vezes
Pontos de Vista
Alexandre Enrico S. Figliolino
.....................página 14
Antonio Cesar Salibe
.....................página 16
Erotides Gil Bosshard
.....................página 18
Antonio C. de Oliveira Freitas
.....................página 20
Coluna Caipirinha
.....................página 22
Informações Setoriais
.....................página 42
Eventos:
Agronegócios Copercana
.....................página 45
Destaque:
Ajuste fiscal e o futuro do setor
sucroenergético
.....................página 52
Clube Plantar - CTC
.....................página 54
Toque feminino no universo
canavieiro
.....................página 56
Biocana passa por mudanças
.....................página 59
Seminário Tereos/Guarani
.....................página 60
Pragas e Doenças:
II Simpósio STAB - Plantas Daninhas
.....................página 66
14º Herbishow
.....................página 68
Controle da Ferrugem Alaranjada
.....................página 72
Assuntos Legais
.....................página 84
Acompanhamento de Safra
.....................página 88
Classificados
.....................página 90
Cultura
....................página 94
Foto:IgorSavenhago
05 - Canaoeste 70 Anos
Canaoeste prepara série de ações para comemorar
70 anos de história
Revista Canavieiros e TV Canaoeste farão reportagens até o fi-
nal deste ano; vídeo terá depoimentos de pais e filhos que man-
têm a força da associação por diferentes gerações
- Canaoeste e LL Cultivar promovem reunião técnica sobre nutrição de cana
- Presidente da Canaoeste e Orplana participa de reunião com Secretaria do Meio
Ambiente
- Gestor da Canaoeste terá artigo apresentado em congresso de Economia
28 - Notícias Canaoeste
Foto: Samuel Vasconcelos
5. Revista Canavieiros - Junho de 2015
5
Canaoeste 70 Anos
Especial
Canaoeste prepara série de ações para
comemorar 70 anos de história
P
ara marcar seus 70 anos de história, a serem
completados no próximo dia 22 de julho, a
Canaoeste prepara uma série de ações co-
memorativas. Reportagens especiais, eventos
e um vídeo institucional irão mostrar como a
associação se tornou uma das mais respeitadas
do País no setor sucroenergético e destacar o
trabalho de produtores que entenderam o espí-
rito do associativismo e, por meio dele, incenti-
varam novas gerações.
A Revista Canavieiros e a TV Canaoeste
farão matérias especiais até dezembro, com
temas variados: desde aspectos históricos da
atuação da associação, passando por depoimentos de
gestores, colaboradores e fornecedores associados, até pro-
jeções para as próximas décadas. Serão elaborados, ainda,
informes publicitários para veiculação em jornais de Sertão-
zinho-SP, onde está localizada a matriz, e outros municípios
ou regiões com filiais da Canaoeste.
Um vídeo comemorativo está em fase final de edição e deve
ser divulgado já no início de julho. Além de um breve histórico
da associação – surgimento e trajetória –, o foco será a transmis-
são, a uma nova geração de agricultores, dos valores que nortea-
ram a criação da Canaoeste, em 1945, e o seu desenvolvimento.
Pais que contribuíram para o fortalecimento da cadeia
produtiva da cana-de-açúcar foram entrevistados ao
lado de filhos que seguiram na atividade.
Aproduçãotraráumdepoimentodopresidente
da associação, Manoel Ortolan, para quem 2015
também é um ano significativo, já que completa
40 anos de Canaoeste – entrou em 1975 no depar-
tamento técnico – e está há 15 à frente da entidade.
Atuação que rendeu a ele, em 2001, o comando da
Orplana(OrganizaçãodosPlantadoresdeCana
da Região Centro-Sul), que congrega 33 asso-
ciações de produtores.
A divulgação de imagens e trechos de algumas entrevistas
será feita nos estandes da Revista Canavieiros e da Canaoeste
(que será personalizado com o tema 70 anos), durante oAgrone-
gócios Copercana, feira realizada de 23 a 26 de junho no Centro
de Eventos Copercana. O vídeo completo será divulgado nos
sites e nas fanpages da Canaoeste e da Revista Canavieiros,
além de ser apresentado, oficialmente, no evento que marcará o
aniversário da associação. A exibição será feita justamente em
22 de julho, no auditório da Canaoeste, durante um seminário de
mecanização que está sendo planejado em parceria com a STAB
(Sociedade dos Técnicos Açucareiros e Alcooleiros do Brasil) e
cuja abertura será feita por Manoel Ortolan.
Igor Savenhago
Carla Rossini
Revista Canavieiros e TV Canaoeste farão reportagens até o final deste ano; vídeo terá
depoimentos de pais e filhos que mantêm a força da associação por diferentes gerações
Em defesa dos produtores
A ideia de montar a Associação dos
Fornecedores e Lavradores de Cana
de Sertãozinho, antigo nome da Cana-
oeste, surgiu em maio de 1945. Dois
meses depois, o ideal associativista
dos sócios-fundadores viraria realida-
de. Eram eles: Alexandre Balbo, João
Mendes, Attílio Magon, Orestes Mói,
Antônio Bombonato, Hércules Bono-
ni, João Batista Sverzut, José Paulino
Simões, Florindo Storto, Jaime Gomes
Duarte, José P. Martinez, José Rodri-
gues Valente, Francisco Lopes Ortiz,
Antônio Zambiano, Emílio Belezzini,
Olívio Rossanez, Eugênio Mazzer, José
Dandaro, TicianoVanzela e Edgar Sil-
veira Pagnano. Vinte destemidos, que
apostaram na união para defender direi-
tos e interesses dos produtores junto às
indústrias e ao Governo.
O “Documentário Histórico de Ser-
tãozinho 1896/1956”, editado pelo
saudoso Antônio Furlan Júnior, aponta
que, 11 anos depois da fundação da Ca-
naoeste, a cana-de-açúcar já predomi-
nava nesta região, que, em outros tem-
pos, havia se destacado pelas lavouras
do café, cultura que entrou em decadên-
cia com a quebra da Bolsa de Valores
de Nova York, no final da década de
1920. Em 1956, a cana ocupava 49,3%
da área plantada em Sertãozinho, ten-
do sido responsável, naquele ano, pela
produção de mais de 600 mil sacas de
açúcar e quase três milhões de litros de
álcool. No ano seguinte, os números
saltaram para 1,2 milhão de sacas de
açúcar, 5,3 milhões de litros de álcool e
914 mil litros de aguardente.
O primeiro presidente da nova asso-
ciação, de 1945 a 1950, foi Alexandre
Balbo, que se desligou para se dedicar
a atividades da família. Em 1947, o pai
de Alexandre, Attílio, havia fundado a
Usina SantoAntônio, que cresceu e exi-
giu maior envolvimento na administra-
ção. Com o sucesso do empreendimen-
to, a família Balbo comprou, também,
em 1956, a Usina São Francisco.
6. Revista Canavieiros - Junho de 2015
6
JOSÉ DANDARO JOSÉ P. MARTINEZ ANTÔNIO
ZAMBIANCO
ATTÍLIO MAGON JAIME GOMES
DUARTE
ALEXANDRE BALBO EMÍLIO BELEZINIHÉRCULES BONONI
EUGÊNIO MAZZER EDGAR SILVEIRA
PAGNANO
TICIANO VANZELA OLÍVIO ROSSANEZ ORESTES MÓI
JOÃO BATISTA
SVERZUT
ANTÔNIO
BOMBONATO
FLORINDO
STORTO
JOSÉ RODRIGUES
VALENTE
JOÃO MENDES
FUNDADORES
Canaoeste 70 Anos
Especial
7. Revista Canavieiros - Junho de 2015
7
Quem assumiu a associação foi Eugênio Mazzer, um dos sócios-
-fundadores, que ficou no comando até 1954. Foi durante a gestão
dele que a entidade obteve, em 10 de dezembro de 1951, sua per-
sonalidade jurídica. Naquele ano, surgiu, ainda, a ideia de construir
um hospital, tarefa que ficou nas mãos dos diretores João Mendes e
Clóvis Magon. A pedra fundamental fora lançada em 28 de agosto.
Em 10 de maio de 1953, a associação alterou sua razão social
para Associação Regional dos Fornecedores e Lavradores de Cana,
ampliando sua área de atuação. Em janeiro de 1955, o Hospital dos
Fornecedores, como era conhecido, entrou em operação e passou a
se chamar Netto Campello – em homenagem a um ex-presidente do
IAA (Instituto do Açúcar e do Álcool). A unidade teve, como primei-
ro diretor clínico, o médico Olidair Ambrósio.
Expansão
Em 1956, chegou a Sertãozinho, vin-
do do Rio de Janeiro, José Gabriel Pinto,
até então fiscal do IAA. O instituto, que
foi extinto na gestão de Fernando Collor
de Mello, era o braço de intervenção do
Governo Federal no setor sucroenergéti-
co. Gabriel, que tinha a missão de ser os
olhos do IAA na administração do Net-
to Campello, acabou virando secretário
executivo da associação, incentivando
mais fornecedores de cana a aderir à prá-
tica do associativismo.
Foi em 1957, sob a presidência de
José Marchesi, que a associação passou
a ter a razão social que conserva até hoje:
Associação dos Plantadores de Cana do
Oeste do Estado de São Paulo. Dois
anos mais tarde, já com Pedro Strini
como presidente, foi definida a compra
do terreno para a construção da sede, na
Rua Dr. Pio Dufles, área que pertencia à
Igreja Matriz de Sertãozinho. A primeira
assembleia na nova casa elegeu Silvio
Borsari, que presidiu a associação até
meados de 1964, quando, por motivos
particulares, deixou o cargo para o vice
em exercício, Oswaldo Ortolan, até que
Arlindo Sicchieri assumisse em 1965.
Três anos depois começaria o manda-
to mais longo da história da Canaoeste.
A presidência passou a ser ocupada por
Fernandes dos Reis, em meio a uma
grave crise no setor, que havia começa-
do em 1964. Reeleito várias vezes, ele
ficou no cargo por 31 anos, até sua mor-
te, em 25 de fevereiro de 1999. Tinha,
como companheiros na diretoria, Pedro
Canesin Filho, Antonio Eduardo Tonielo
e Décio Rosa.
Já em 1969, a Canaoeste colaborou
para a fundação da Cocred (cooperativa
de crédito), com a finalidade de assegu-
rar recursos importantes para a lavoura,
por meio de financiamentos para custeio
e investimento.
Em 6 de fevereiro de 1972, Fernan-
des falou, pela primeira vez, sobre sua
ideia de implantar uma biblioteca vol-
tada para os associados e suas famílias,
bem como para estudantes de Sertãozi-
nho e região. No mesmo ano, em 14 de
dezembro, foi inaugurada a Biblioteca
da Canaoeste, batizada com o nome do
presidente do IAA na época, General
Álvaro Tavares do Carmo.
Em 1974 e 75, nova crise. A queda de
US$ 9,3 no valor da tonelada de açúcar
para exportação, ocasionada pelo choque
internacional do petróleo, em 73, deixou
o setor canavieiro sob o risco de se tor-
nar insustentável. Pressionado pelos se-
tores da economia produtiva, o Governo
Federal lançou um programa de recursos
subsidiados, visando a um crescimento
da demanda interna, sobretudo para o ál-
cool hidratado: o Pro-álcool.
Na virada da década de 80, os resul-
tados da iniciativa já podiam ser notados
no volume de carros em circulação com
o chamado “combustível verde”. Com
o aumento da procura, a produção de
cana-de-açúcar teve um salto explosivo,
passando de 9,6 milhões de toneladas no
país no triênio 74-76 para 23,5 milhões
uma década mais tarde. Em 1986, o Bra-
sil respondia por 25% da oferta mundial
de cana, contra 14% no início do progra-
ma. Nesse período, a Canaoeste partici-
pou ativamente de todos os projetos de
melhoramento genético.
A gestão de Fernandes dos Reis pro-
moveu, também, a modernização do
Hospital Netto Campello, com a am-
pliação do número de leitos para 100
Atual sede da Biblioteca da Canaoeste Hospital Netto Campello
8. Revista Canavieiros - Junho de 2015
8
Manoel Ortolan,
presidente da Canaoeste
Fernandes dos Reis
e da área de serviços e a instalação de
aparelhos de última geração. A sede da
Canaoeste passou por reforma e amplia-
ção, principalmente da área técnica, para
melhorar a assistência aos associados.
Um laboratório de análises foi adequa-
damente equipado, por exigência da
implantação do sistema de remuneração
da cana pelo teor de sacarose, defendido
pela associação como um benefício e um
direito dos produtores.
Em 1984, a Canaoeste, ao lado de
seus associados, atuou decisivamente
em movimentos que exigiam o cumpri-
mento das determinações do IAA para
o pagamento dos fornecedores. As usi-
nas resistiam e não cumpriam valores e
prazos estabelecidos. Na ata de reunião
no dia 17 de agosto daquele ano, a dire-
toria da associação aprovou a proposta
de elaborar um manifesto público sobre
a situação da agroindústria canavieira e
publicá-lo nos principais jornais do Es-
tado de São Paulo.
A Canaoeste participou de comis-
sões nacionais e estaduais sobre o teor
de sacarose, integrando, posteriormente,
o Sistema Consecana. E sempre se pre-
ocupou em incentivar a pesquisa, con-
tribuindo com a UFSCar (Universidade
Federal de São Carlos), o IAC (Instituto
Agronômico) e o CTC (Centro de Tec-
nologia Canavieira), antiga Copersucar,
na busca por variedades mais produtivas
e resistentes. Em parceria com a Coper-
cana, fomentou a rotação de culturas e
conseguiu recursos junto ao FUNPRO-
ÇUCAR para financiamentos de cami-
nhões, tratores e carregadeiras de cana,
que trouxeram grande avanço no manejo
da cultura.
Década de 90 e anos 2000
No início da
década de 90, em
função da queda na
produção provoca-
da pela desconfian-
ça dos produtores
em relação à falta
do álcool combus-
tível e da extinção
do IAA, o clima de
incertezas pairava
sobre o setor. Era preciso trabalhar nos
bastidores para garantir preço justo. Foi
isso o que fez a Canaoeste. Dialogou
com autoridades, públicas e privadas,
para que a defasagem de 22% no valor
da cana fosse corrigida. O reajuste foi
além: 32,1%. Paralelamente, a associa-
ção continuou incentivando programas
de melhoramento genético, buscando
incremento na produtividade.
Com a morte repentina de Fernandes
dos Reis, em 1999, o vice-presidente,
Pedro Canesin Filho, assumiu a en-
tidade e a superintendência do Netto
Campello, até a convocação de uma
nova eleição. Um ano antes, a taxa de
recolhimento de cana, que era compul-
sória, passou a ser facultativa. Por isso,
a direção dos trabalhos da Canaoeste
precisava passar por novas mudanças.
O principal objetivo, a partir daquele
momento, era mostrar a importância de
manter os produtores unidos em asso-
ciações de classe, a fim de garantir re-
presentação política e institucional nas
esferas públicas municipal, estadual e
federal, nas organizações e federações
e no Consecana. Por outro lado, tinha
que evoluir, também, na prestação de
serviços de consultoria, planejamento
e controle de safra, assistência social,
comunicação, além de ensaios de labo-
ratório e fiscalização nas usinas.
Esses foram os principais desafios
de Manoel Carlos de Azevedo Ortolan,
eleito como novo presidente em 25 de
fevereiro de 2000. Coube a ele conso-
lidar a integração da Canaoeste com a
Orplana, bem como atender à expecta-
tiva dos produtores por preços melho-
res – conforme pode ser conferido em
entrevista nesta edição.
Ao longo desses 15 anos, Ortolan fir-
mou sua posição como um dos maiores
nomes do País na defesa dos fornecedo-
res e do associativismo, permanecendo,
também, até hoje, como líder da Orpla-
na. E a Canaoeste, antenada com as ne-
cessidades do planeta por energia limpa
e renovável, chega a 2015 como uma
das maiores associações de fornecedo-
res de cana do mundo. Com 70 anos,
se sente jovem, disposta a continuar fa-
zendo história.
Uma das manifestações
coordenadas pela Canaeoste
RC
10. Revista Canavieiros - Junho de 2015
10
Revista Canavieiros: São 15 anos
à frente da Presidência da Canaoeste.
Quais foram seus principais desafios
desse período?
Manoel Ortolan: Logo que assumi a
Canaoeste, no ano 2000, a primeira coisa
que tinha em mente era integrar a Canao-
este à Orplana.Até então, por vários anos,
a Canaoeste apoiava, mas não fazia parte
da Orplana. Já de longa data, eu acom-
panhava, juntamente como o Dr. Clóvis
Vanzela e por delegação da presidência
(da Canaoeste), as reuniões da Orplana.
Eu já estava, de certa forma, entrosado
com todos. Houve um ano entre os man-
datos dos senhores Fernandes dos Reis e
Pedro Canesin (ex-presidentes da Canao-
este) que, por orientação da diretoria, eu
fui assumindo as atividades da Canaoeste
e ficou muito claro que o primeiro com-
promisso assim que eu assumisse a pre-
sidência da associação seria colocar a Ca-
naoeste como membro da Orplana, como
foi feito. Logo após, o desafio era traba-
lhar para corresponder às expectativas
dos produtores, pois eu estive na Canao-
este de 1975 até 2000 como agrônomo,
Manoel Ortolan
70 ANOS DA CANAOESTE
“É muito importante estarmos próximos aos centros
onde as decisões acontecem”
No próximo dia 22 de julho, a Canaoeste completa 70 anos de existência, o que faz de 2015 um ano
representativo não só para a associação. Seu presidente, Manoel Ortolan, comemora 40 anos de casa –
entrou no departamento técnico em 1975 – e 15 na liderança dos anseios dos produtores. A presidência
da Canaoeste, que assumiu em 2000, foi um degrau para que fosse convidado a ocupar, também, o cargo
máximo da Orplana (Organização dos Plantadores de Cana da Região Centro-Sul), que congrega 33 asso-
ciações, entre elas a própria Canaoeste.
Engenheiro agrônomo formado em 1969, pela ESALQ-USP (Escola Superior de Agricultura “Luiz de Quei-
roz), participou, à frente das duas entidades, de mudanças importantes no setor sucroenergético, como a
mecanização da colheita, que decretou o fim das queimadas e do corte manual nos canaviais paulistas, e
o desenvolvimento de tecnologias para a cogeração de energia elétrica a partir do bagaço. Hoje, conduz
grupos de produtores no enfrentamento de um grande desafio, mais um entre os muitos da carreira: a crise
que afeta o setor e gera consequências como o aumento da concentração na indústria e no campo, o que
dificulta a sobrevivência dos pequenos.
Diante disso, diz que o principal foco das associações nos próximos anos precisa ser a busca de maior
aproximação com o poder público. “É preciso que a Canaoeste e o sistema como um todo se fortaleçam
mais na representatividade política”.
Igor Savenhago
Canaoeste 70 Anos
Especial
11. Revista Canavieiros - Junho de 2015
11
sempre à frente do departamento técnico,
onde tivemos um crescimento acentuado.
De início, éramos em dois, três, que par-
ticipávamos. Eu fui o primeiro. Depois
veio o Antônio Roberto Verri, já falecido.
Em seguida, o Augusto Strini Paixão. E
assim fomos constituindo o departamen-
to. Mas foi em 1983, com a implantação
do pagamento de cana pelo teor de saca-
rose, que ampliamos significativamente
o departamento. Na ocasião apresentei
um plano para a diretoria, para que pu-
déssemos cobrir toda a área, entendendo
que, uma vez que a cana ia ser remune-
rada pela qualidade, cabia trabalharmos a
orientação, a assistência técnica, para fa-
zer com que o produtor conseguisse uma
cana que melhor pudesse remunerá-lo.
Contratamos agrônomos para ir fazen-
do as regiões, cobrir toda a nossa área e,
com isso, o departamento técnico ganhou
um grande impulso. Tínhamos reuniões,
encontros, participávamos ativamente
deles. E era sabido que era uma coisa
meio que natural, na hora em que houves-
se uma oportunidade ou que algum dos
diretores deixasse de participar, já que
havia quase que um anseio dos produto-
res, de que a próxima presidência fosse
entregue a mim. Eu sempre vi nos diri-
gentes até então bastante competência.
Eles vinham fazendo tanto a Canaoeste
como a Copercana e a Cocred crescerem
significativamente. Eu entendia que ca-
bia a eles a direção até que, por alguma
circunstância, tivesse que haver uma mu-
dança. Então, fiquei aguardando a minha
hora, minha oportunidade, como de fato
chegou. Abracei com muito carinho, de-
terminação, para corresponder à expecta-
tiva que eu sabia existir. Comecei o traba-
lho em 2000 e, logo em 2001, veio outro
grande desafio. Para surpresa minha, um
grupo me procurou para que eu assumis-
se também a Orplana, em função das cir-
cunstâncias. A Orplana ficou muitos anos
com um presidente só, depois teve mais
dois, mas com passagens rápidas. E ha-
via a necessidade de alguém que pudesse
unir a turma toda em torno de um mesmo
objetivo. Como eu era recém-chegado e,
segundo o pessoal desse grupo, tinha um
perfil mais conciliador, me convenceram
de que, com o apoio deles, eu poderia fa-
zer um trabalho tranquilo, colocando esse
sentido de união, de coesão entre todas
as associações, para que a Orplana fos-
se fortalecida. Começamos ali, acredito,
uma etapa nova para a Orplana. Primei-
ro, fui eu na presidência, depois o Ismael
Perina e retornei mais tarde. A partir do
ano que vem, vamos ter novo presidente
lá. Então, foram dois grandes desafios. O
primeiro, de corresponder a essa expecta-
tiva dos produtores da Canaoeste e, logo
em seguida, assumir a Orplana. Procurei
fazer as coisas dentro da expectativa de-
les. Falei: “Concordo em assumir, mas
queria o apoio de todo mundo. Vou fazer
uma visita em todas as associações e con-
versar com todos, sobre como eles veem
esse processo de eu assumir a presidên-
cia, uma vez que sou recém-chegado”. E
fiz isso. Caminhei por todas, conversan-
do, e vi que havia uma aceitação. Fomos,
com isso, para o processo de eleição. Não
houve disputa, não houve nada. Saiu um
presidente, entrou o presidente novo e co-
meçamos o trabalho.
Revista Canavieiros: Ter Manoel
Ortolan como presidente da Canaoes-
te e da Orplana por tantos anos é um
indicativo da liderança que o senhor
exerce até hoje no setor?
Manoel Ortolan: Eu não colocaria
dessa forma. Acho que somos um grupo
bom. Esse grupo que iniciou a mudança
na Orplana, que veio me procurar, conti-
nua trabalhando junto até hoje. E temos
conseguido algumas transformações. A
Orplana vem evoluindo, o sistema vem
evoluindo. De acordo com o tempo,
com cada época, é preciso seguir cami-
nhos diferentes, mudar um pouquinho
o rumo das coisas. Hoje, por exemplo,
estamos vivendo um processo de con-
centração no setor. E a Orplana vem se
preparando para essa nova etapa. A Ca-
naoeste também. Trabalhávamos com
um grande número de unidades indus-
triais, mas estão havendo fusões. Temos
na região da Canaoeste, por exemplo,
praticamente quatro grupos que res-
pondem por boa parcela das unidades.
Isso muda um pouco a forma de agir,
temos que ir nos adequando a essas si-
tuações. A mecanização também é um
processo que favorece a concentração,
já que você precisa de escala para tra-
balhar. Então, significa que vai ter bas-
tante trabalho, para buscar com que os
pequenos e os médios produtores con-
tinuem participando, mas numa forma
que teremos que organizar para atender
também às necessidades das unidades
industriais. Não vejo, portanto, como
algo pessoal. É realmente o trabalho
de um grupo e que precisa ter alguém
à frente. Entenderam, no momento, que
a pessoa indicada seria eu. No caso da
Orplana, assumi, fiz minha parte, passei
para outra pessoa, que também trabalha
junto nesse grupo, que foi o Ismael Pe-
rina. Depois entendemos que eu deveria
voltar por mais um período. Também
não fui eu quem buscou isso. Foi uma
solicitação da própria entidade, que eu
participasse de mais uma gestão. Nesse
tempo, houve uma boa renovação nas
associações, temos novas lideranças,
novos presidentes. Acho que a coisa
está melhorando no contexto. Ano que
vem, vamos deixar a presidência da Or-
plana e, se Deus quiser, numa situação
de liderança boa, que vai dar sequência
ao trabalho que vem sendo feito.
Revista Canavieiros: Qual o lega-
do que a Canaoeste tem deixado para
a região em que atua e para o País?
Manoel Ortolan: Acho que a asso-
ciação teve duas fases. Uma enquanto
tínhamos o hospital (Netto Campelo,
em Sertãozinho-SP), um recolhimento
de taxa obrigatório por parte do Gover-
no e direitos que a legislação nos asse-
gurava. Tinha, também, quem punia as
indústrias se não cumprissem suas obri-
gações. Daí para a frente, com o livre
mercado, houve o entendimento de que
essas obrigações não se faziam mais por
lei. Participava quem queria. Mas como
tínhamos um regramento, um histórico
das associações junto às unidades in-
dustriais, nos unimos, industriais e for-
necedores, e criamos um sistema que
12. Revista Canavieiros - Junho de 2015
12
regulava minimamente o setor, um ba-
lizador dos negócios, do preço da cana.
Com isso, conseguimos seguir pratica-
mente com as mesmas estruturas. Logo,
vimos que a parte da assistência social
ficaria muito pesada. Várias associações
já haviam repassado seus hospitais. Re-
lutamos um pouco, mas para focar na
rentabilidade do produtor acabamos fa-
zendo a mesma coisa. Terceirizamos o
nosso hospital para uma empresa, o gru-
po São Francisco, e buscamos dar mais
foco na produção. Hoje, é preciso que a
Canaoeste e o sistema como um todo se
fortaleçam mais na representatividade
política.Aquestão da orientação técnica,
do agrônomo estar junto ao proprietário,
não é mais o primeiro plano. Não é isso
que vai garantir ao produtor uma vida
melhor. É muito importante estarmos
próximos aos centros onde as decisões
acontecem. Teremos trabalho, um pou-
co, na esfera municipal, um pouco mais
na esfera estadual e muito trabalho na
esfera federal. Por isso, entidades como
a Orplana, mesmo a Canaoeste e outras
que têm peso na Orplana, precisam es-
tar mais presentes junto à classe política,
ajudando a construir aquilo que entende-
mos que é certo. De nada adianta con-
seguir ganhos de produtividade, de efi-
ciência, se, numa canetada em Brasília,
são tiradas essas vantagens que se têm
conseguido de outra forma. Fiquei muito
feliz com o trabalho que as entidades fi-
zeram quando do Código Florestal, ago-
ra na regulamentação do CAR (Cadas-
tro Ambiental Rural) e quando fizemos
o projeto do Protocolo Agroambiental,
que teve um resultado
muito bom. A própria
Secretaria (Estadual de
Meio Ambiente) hoje
elogia o que foi feito e
o fato de que chegamos
a estar à frente daquilo
que o protocolo determi-
nava, sinal da conscien-
tização, da evolução, da
profissionalização do
setor. Também está na
hora de pensar em for-
mar uma sucessão para o
nosso trabalho. Já se vão
15 anos de Canaoeste e
quase isso de Orplana. É
preciso pensar que preci-
samos sempre de um time, um aqui, ou-
tro lá, para que possamos compartilhar
atividades e dar conta. É muita coisa,
muita reunião e, para isso, é necessária
uma equipe competente, com mais as-
sociações, mais gente participando, para
que seja possível comparecer a todos os
fóruns de discussão. É imensa a gama de
atividades em que podemos influir com
nossos técnicos e diretores. Por exem-
plo: não tínhamos na Canaoeste um de-
partamento voltado para meio ambiente.
Mas essa questão ganhou uma ênfase
tal que entendi que era a hora de termos
um departamento com profissionais es-
pecializados, capacitados para dar ao
produtor uma orientação firme, segu-
ra. Contratamos advogado, agrônomos
e técnicos para esta área, profissionais
que ajudam, também, na Orplana. Eles
atuam junto às secretarias estaduais e
ministérios de Meio Ambiente e Agri-
cultura. Cuidaram de implementar o
CAR, do qual a Canaoeste fez mais de
dois mil projetos. Agora, participam da
regulamentação do PRA (Programa de
Regularização Ambiental). É procurar
andar pari passu para estar influindo e
não ser pego de surpresa com as toma-
das de decisão. Por isso, digo que hoje
mudou um pouco o cenário. Esse é um
trabalho do qual, muitas vezes, os for-
necedores de cana não se apercebem.
Não visualizam isso como visualizam
um agrônomo na sua fazenda. A assis-
tência técnica é uma coisa e esse outro
lado, da participação, que era de menos
relevância, é outra, que precisa ganhar
um embalo grande e ser forte.
Revista Canavieiros: O senhor fa-
lou de mudanças, citando o Protocolo
Agroambiental. Antes delas, o setor ti-
nha uma imagem negativa, associada
a queimadas e às condições do traba-
lho rural. Hoje, quando se fala em ca-
na-de-açúcar, a relação mais comum é
com tecnologias limpas e renováveis,
capazes de atender às demandas mun-
diais. Como a Canaoeste contribuiu
para a mudança desse conceito?
Manoel Ortolan: Em função do
porte da associação, pudemos contratar
bons profissionais, desenvolver setores,
como o ambiental, e dar oportunidade
para que os técnicos estudassem mais,
se aperfeiçoassem, progredissem. Dian-
te do que você citou, lembro-me do
cheiro de vinhaça nas cidades, porque
ela era jogada em rios ou áreas urbanas.
Era vista como um subproduto, um lixo
para as usinas. De repente, conforme o
enfoque ambiental e a legislação, virou
fertilizante. E seu uso passou a interes-
sar, em substituição aos fertilizantes
químicos. Depois veio a ação em cima
das queimadas. Também relutávamos
muito, porque, até então, era o siste-
ma adotado. Normalmente, você relu-
ta para deixar uma coisa e entrar num
mundo novo. Mas começaram a vir so-
luções, como a energia elétrica através
do bagaço. Se as usinas já produziam
energia para consumo próprio, por que
não cogerar com o excedente, uma vez
que o País precisava? Agora, vem a
questão do uso da palha. Cortar cana
crua, substituir mão-de-obra foram
grandes passos para um grande grupo
de trabalhadores, que foi trabalhar nas
colheitadeiras, comboios, oficinas, fá-
bricas de implementos e de máquinas.
Você tirou gente do campo para ganhar
mais e uma condição de trabalho mais
digna. Se alguns foram deslocados,
muitos se beneficiaram. Até que re-
lutávamos contra isso também, já que
todo processo de mudança é traumáti-
co. Você deixa um sistema para entrar
em outro completamente diferente. O
interessante é que, com o desenrolar do
processo, vão aparecendo novidades,
algumas boas, outras nem tanto, como
o aumento de pragas nos canaviais. Mas
você supera isso também, com tecnolo-
gia, com pesquisa. O fato é que a gente
vai dançando de acordo com a música
13. Revista Canavieiros - Junho de 2015
13
ou com a época. Quando é tango, é tan-
go. Quando é samba, é samba. E vamos
caminhando. Felizmente, temos estru-
tura e gente que possibilitam fazer as
mudanças de rumo.
Revista Canavieiros: No cenário
nacional, o senhor falou sobre maior
aproximação com a esfera política. E
no internacional? Que tipo de imagem
é possível construir para o setor?
Manoel Ortolan: Lembro-me que,
quando iniciei a carreira, muito se fa-
lava que tudo de melhor que se queria
ver sobre cana estava na Austrália. As
viagens eram para lá. O exterior pro-
porcionava muito conhecimento. Hoje,
nós é que somos referência na produção
agrícola. Tivemos aqui o programa do
etanol. Foi um período muito rico em
intercâmbios, porque veio gente do
mundo inteiro. Eram delegações che-
gando todo mês, fazendo visitas, tanto a
nós, na Orplana, como na Unica. Te-
mos essa dianteira na tecnologia da pro-
dução de etanol a partir da cana-de-açú-
car. Agora, tem a cogeração entrando
também, o aproveitamento da palha...
E o processo de produção de cana vai
sendo modificado, alterado para me-
lhor. Quem imaginava lá atrás plantar
cana de mudinha? Hoje, é uma tecnolo-
gia que vem sendo dominada. Acredito
que, em breve, vamos estar plantando
muita cana a partir desse sistema de
muda pré-brotada. Começou aqui no
IAC (Instituto Agronômico) e muitas
empresas entraram nessa parte. É uma
evolução fantástica, outro mundo se
você pensar como se plantava cana há
20 anos. Acho que conseguimos tudo
isso em função das nossas entidades.
Não fossem as associações, não tería-
mos chegado aonde chegamos com os
produtores de cana.
Revista Canavieiros: Isso mostra
que o associativismo vai continuar
exercendo um papel preponderante na
economia do País?
Manoel Ortolan: Sem dúvida. E,
como você havia perguntado, procu-
ramos integrar a comunidade interna-
cional ao setor canavieiro. Existe uma
entidade, que é a WABCG (Associação
Mundial dos Produtores de Cana e Be-
terraba Açucareira) e, ainda durante
a minha primeira gestão na Orplana,
fomos convidados para nos associar.
Fizemos a adesão e passamos a partici-
par de todos os encontros, realizados a
cada três anos. Vários países se reúnem,
apresentando as soluções para os pro-
blemas que cada um vem enfrentando.
É um grande intercâmbio. Tivemos a
oportunidade de fazer um desses en-
contros aqui em Ribeirão Preto, tam-
bém na minha primeira gestão. É uma
panorâmica do mundo todo açucareiro,
canavieiro, que temos nesses encontros.
É muito bom estar participando.
Revista Canavieiros: Pensando no
futuro da Canaoeste, quais as possí-
veis projeções que podem ser feitas
para a associação?
Manoel Ortolan: Acredito que va-
mos ter que mudar um pouco o perfil.
Por quê? Vejo que o setor [sucroenergé-
tico] está concentrando. Nas indústrias,
temos grandes grupos que vão se con-
solidar ainda mais. Em contrapartida,
uma gama de unidades que ainda vão
fechar. Das que estão em recuperação
judicial, em torno de 70, praticamente
metade fecha também. A concentração
também acontece entre os produtores de
cana. Há uma grande dificuldade de so-
brevivência dos pequenos, porque, com
a mecanização, é preciso escala. Numa
propriedade de 300, 400 alqueires, você
prepara a máquina para colher. Agora,
quando são dez, 15 alqueires, a máqui-
na não tem rendimento. Se ela colhe lá
600 toneladas por dia, aqui vai colher
250, 300. Isso impacta o custo. Quem
empresta o serviço vai cobrar isso. E o
pequeno vai ser sempre um tomador de
serviço, porque ele não tem, nem vai
ter, recursos para comprar maquinário.
Lidar com grandes grupos, oferecer so-
luções para os pequenos, mesmo os mé-
dios produtores, significam uma dificul-
dade maior para as entidades de classe.
Nesse sentido, precisamos ter cada vez
mais cérebros trabalhando. Mas não é
questão de volume. Falo de qualidade,
de competência, para propor, encontrar
as melhores soluções para a nossa si-
tuação e, dessa forma, possamos pros-
seguir no sistema. A mecanização está
aí, o fim das queimadas, graças a Deus,
está decretado. E temos esses grandes
grupos chegando. Acho que o setor, se
não encolher, deve dar meio que uma
paralisada. Claro que vai depender mui-
to do que acontecer na esfera governa-
mental. Não podemos continuar com a
situação atual, um caos político que es-
tamos vivendo. E o que vem pela frente
não sabemos ainda. Vai continuar esse
Governo? O fato é que precisamos de
mudanças. Não dá para ficar nessa in-
segurança. Diante disso, é preciso fazer
a nossa parte. Trabalhar pensando no
futuro do país, das próximas gerações e
do nosso setor.
Revista Canavieiros: A Canaoeste
cumpriu o que os fundadores imagi-
navam? Ou foi além?
Manoel Ortolan: Este é um traba-
lho que precisa ser feito de forma con-
junta. Se não estamos melhores, talvez
seja porque tem gente que não está aju-
dando muito. Precisaria ajudar mais. A
pessoa não pode ficar fora da entidade.
Precisa participar. Essa história de que
“não está me atendendo, então vou fun-
dar outra associação” não é o caminho.
Vejo que as associações deveriam fazer
o mesmo que outros setores fizeram. O
bancário fez, o industrial está fazendo.
Temos muitas associações. Nesse caso,
o ideal seria dar uma encolhida e forta-
lecer as regiões. Então, não é questão
de estarmos melhores ou piores. Acho
que a Canaoeste caminhou bem e que a
associação está em condições de conti-
nuar seu trabalho, prestando seus servi-
ços aos produtores de cana.RC
14. Revista Canavieiros - Junho de 2015
14
Mais um ano nada brilhante vai se desenhando
para o setor sucroenergético,
o que fará prolongar a situação de crise e agravar
sobremaneira a situação de uma parte mais exposta à crise
Alexandre Enrico S. Figliolino*
Alexandre Enrico S. Figliolino
A
qui na instituição onde traba-
lho, no Itaú BBA, dividimos o
setor sucroenergético, que ain-
da está operando normalmente, em três
grupos. No primeiro, que chamamos de
A, encontramos aquelas empresas que
possuem operações extremamente bem
estruturadas – fruto de anos e anos de
boa gestão -, endividamento dentro de
certos limites razoáveis e que apresen-
tam elevada produção e comercializa-
ção de energia elétrica. Nesse grupo, as
empresas conseguem, mesmo diante da
crise, gerar fluxo de caixa livre e baixar
endividamento, desde que não façam
elevados investimentos.
No segundo grupo, que chamamos
de B, temos empresas que se mantêm
equilibradas, apresentando fluxo de cai-
xa livre ligeiramente acima ou abaixo
de zero, mas cuja dívida não explode,
e, portanto, possuem todas as condições
de atravessarem a crise desde que as
condições não piorem ainda mais. No
entanto, precisam manter um rigoroso
controle de custos e investir exclusiva-
mente na reposição da depreciação.
Já no terceiro grupo, o C, o fluxo de
caixa livre ainda é fortemente negati-
vo e o endividamento cresce em níveis
elevados de uma safra para outra. Isso
ocorre em função de uma dívida eleva-
da e, consequentemente, altas despesas
financeiras; e/ou em função de estarem
operacionalmente desestruturadas e
possuírem um mix pobre de produtos,
sem cogeração de energia. Este grupo
pode estar com sua sobrevivência seria-
mente ameaçada caso nada de novo que
seja relevante aconteça. Pelos nossos
cálculos, este grupo chega a aproxima-
damente 25% da produção do Centro-
-Sul, o que é bastante significativo.
Somente para fazer uma comparação,
esse volume de cana corresponde a uma
Tailândia e meia, o segundo maior ex-
portador de açúcar do mundo.
Portanto, se não quisermos perder
no médio prazo uma parcela produtiva
relevante do setor, é recomendável que
rapidamente um conjunto de medidas
estruturantes seja adotado para salvar o
grupo C da falência e animar novamen-
te aquelas empresas do grupo A e B a
retomarem os investimentos. Isso viria
ao encontro do crescimento da deman-
da de etanol hidratado e nos pouparia
de dispêndios elevados de divisas com
importação de gasolina em um mo-
mento que precisamos melhorar nosso
saldo de balança comercial, importante
fundamento aos olhos dos investidores
estrangeiros e agências de rating. Além
disso, estaríamos retomando o cresci-
mento de um setor capaz de gerar em-
pregos numa vasta cadeia que dele de-
pende – inclusive o de bens de capitais
– em um momento em que o País passa
por recessão econômica.
*diretor de agronegócio do Itaú BBA RC
Ponto de Vista I
16. Revista Canavieiros - Junho de 2015
16
Ponto de Vista II
Depois não fala que eu não avisei...
Antonio Cesar Salibe*
M
uito se tem discutido sobre o
futuro dos combustíveis lí-
quidos e como as economias
e os países de todo o mundo estão tra-
balhando suas estratégias para médio e
longo prazos no que tange ao energéti-
co que movimentará o futuro próximo,
e sua garantia de suprimento.
Recordo-me, por exemplo, da
apresentação de um representan-
te do MME (Ministério de Minas e
Energia) durante o Ethanol Summit
de 2013, há exatos dois anos, com o
tema “Viabilizando o crescimento:
medidas de longo prazo para o setor
sucroenergético”.
Na oportunidade, este represen-
tante do MME destacou ao público
perplexo de empresários do setor que
para 2022 o governo trabalhava com
a ideia de crescimento de gasolina
importada para atender à demanda
crescente de veículos no País, de 3,4
bilhões de litros que eram importados
em 2013, para 23,5 bilhões de litros
em 2022, um salto próximo a sete ve-
zes o que o País já importava do deri-
vado do petróleo.
Ao final da apresentação, esse
mesmo executivo demonstrava
ainda que o atendi-
mento dessa
demanda
crescente, que poderia chegar a 30 bi-
lhões de litros em 2022, se somada ao
crescimento projetado da produção de
etanol, seria suprido pelo combustível
que representasse uma melhor econo-
micidade.
Passados dois anos desse prognósti-
co, hoje percebemos muito bem que os
números reescalonados dessa equação
mostram que os impactos da recessão
porque passa o Brasil interferiram di-
retamente no futuro dos combustíveis
do ciclo Otto. O próprio MME já tra-
balha com projeções de 26 bilhões de
litros de gasolina equivalente, confor-
me apresentação recente do ministro
Eduardo Braga.
O grande problema é que em 2013,
enquanto o governo deixava em
branco qual seria o combustível
que preencheria essa “nova” de-
manda, hoje já há uma certeza:
o etanol, na atual condição
de crise, não conseguirá
atender a esta nova
demanda e a pro-
dução de gasolina,
talvez por erro de estratégia do próprio
governo, está estagnada há anos.
Então, pergunto: será que estamos
preparados para importar até 2022 o
equivalente a mais de 20 bilhões de li-
tros de gasolina, fora o que já importa-
mos hoje? Vou além: quanto vai custar
à balança comercial do País a impor-
tação desse combustível? E quem vai
pagar por ele?
Numa análise até mais aprofunda-
da, podemos questionar, inclusive, se
o Brasil está preparado para receber
essa gasolina e fazê-la chegar aos cen-
tros de distribuição e consumo. Temos
portos suficientes para essa demanda?
Dutos e ferrovias ociosas ou em cons-
trução, para levar este combustível dos
portos aos centros de distribuição, ou
ainda rodovias preparadas para um
fluxo crescente de caminhões-tanque
necessários para esse escoamento?
Quando defendemos que energia
é estratégica, é disso que estamos
falando. Num país sério, as decisões
sobre energia são estrategicamente
colocadas em pauta e a história re-
Antonio Cesar Salibe
17. Revista Canavieiros - Junho de 2015
17
cente já nos mostrou como este ponto
faz toda a diferença.
Não distante me recordo também
quando o então presidente Luiz Inácio
Lula da Silva, durante a inauguração
da usina de biodiesel do Grupo Bertin,
na cidade paulista de Lins, exaltava a
tecnologia de ponta da Petrobras, que
tinha capacidade de buscar petróleo
numa profundidade tão grande que ele
temia que qualquer dia junto à broca
trariam um “japonesinho” para a su-
perfície brasileira e que hoje perce-
bemos tratar-se de mera propaganda,
uma vez que toda essa tecnologia não
nos tornou menos dependentes do pe-
tróleo externo.
E ainda, na mesma inauguração,
Lula finalizava, sob aplausos extasia-
dos, que milho era para encher o papo
de galinha e que etanol era a energia
do futuro, produzido no Brasil com
cana-de-açúcar, abundante e em franca
expansão, num claro ataque aos nos-
sos irmãos norte-americanos que en-
gatinhavam, à época, na produção de
etanol de milho.
Pois bem! Hoje, os “bobinhos” da
terra do Tio Sam, com sua visão es-
tratégica, produzem mais que o dobro
do etanol brasileiro, ainda usando o
milho, e avançam, a passos largos,
rumo ao etanol de segunda geração,
deixando-nos para trás com toda nos-
sa expertise.
Falar de combustíveis sem planejar
o futuro é dar um tiro no pé e abater,
num só golpe, tanto a galinha quanto
os ovos de ouro. Vejam o exemplo da
energia elétrica, que incentivada pelo
governo foi amplamente subsidiada
no passado recente e hoje se tornou o
próprio tendão de Aquiles do governo,
pressionando a inflação que tem tei-
mosamente fugido da meta e que tira o
sono de milhões de brasileiros.
Quem sabe se o setor bioenergético
não tivesse sido incentivado com polí-
ticas mais claras, sem o represamento
artificial dos preços da gasolina, que
solapou o emprego de milhares de bra-
sileiros nas dezenas de usinas fechadas
com a atual crise, não pudéssemos,
neste momento, estar comemorando
o crescimento vertiginoso desse setor
gerador de renda e de divisas nos mi-
lhares de municípios direta ou indire-
tamente envolvidos com esta cadeia.
Talvez o governo não estaria, igual-
mente, preocupado com o futuro dos
combustíveis do País, e os brasileiros,
que ainda não estão cientes dessa crise
que se avizinha a cada dia, poderiam
até continuar dormindo sossegados
sabendo que não faltará combustível
para o abastecimento de seu automó-
vel comprado com o suor de seu traba-
lho e que pode vir a sucatear, se nada
for feito a tempo.
E agora José? O que será de nosso
País? Depois não digam que eu não
avisei...
*presidente executivo da UDOP RC
18. Revista Canavieiros - Junho de 2015
18
Ponto de Vista III
A importância da terceirização regulamentada
para o agronegócio canavieiro
Erotides Gil Bosshard*
Erotides Gil Bosshard
O
s maiores problemas existen-
tes hoje na terceirização e a
imagem negativa que se for-
mou em torno dessa atividade nascem
das contratações sob parâmetros errô-
neos em todas as esferas. São contra-
tações malfeitas, nas quais se busca
incansavelmente o menor preço, nunca
o melhor preço. A partir dessa visão
obtusa, escancaram-se as portas para
empresários de má-fé, cuja desonesti-
dade, via de regra, resulta em consequ-
ências nefastas para os trabalhadores.
Em razão do número de reclama-
ções trabalhistas e prevendo a sua re-
dução, o que na prática não ocorreu,
mesmo não existindo lei proibindo a
contratação de empresas interpostas,
em 25 de maio de 2011 o Tribunal Su-
perior do Trabalho editou a Súmula
331 pelo qual declara ilegal a con-
tratação de trabalhadores por empresa
interposta, salvo no caso de trabalho
temporário (Lei n. 6019 de 3.1.74)
como também não haver vínculo de
emprego com o tomador a contra-
tação de serviços de vigilância, de
conservação e limpeza, bem como de
serviços especializados ligados à ati-
vidade meio do tomador, desde que
inexistentes a pessoalidade e a subor-
dinação direta. Esse único parâmetro
para a solução de conflitos decorren-
tes da relação trabalhista proibia a
contratação de terceiros para a ativi-
dade fim do contratante, liberando as
contratações de terceiros para ativi-
dade meio. Pela falta de clareza na
distinção entre atividade fim e ativi-
dade meio, criou-se enorme insegu-
rança jurídica para a recomendável,
moderna e economicamente benéfica
divisão do trabalho.
Talvez por uma questão de prestígio
da classe pela manutenção dessa Súmu-
la, a maioria dos magistrados trabalhis-
tas tem se manifestado contra o projeto
que regulamenta a terceirização.
Apesar disso, demonstrando não es-
tar tão afinado assim, em 19 de maio
de 2014, o recurso extraordinário com
agravo da empresa Celulose Nipo-
-Brasileira S.A. (Cenibra) levou o STF
(Supremo Tribunal Federal) a se posi-
cionar sobre a constitucionalidade da
Súmula 331 do TST (Tribunal Supe-
rior do Trabalho). Na sua manifestação
inicial, o ministro Luiz Fux considerou
que a restrição imposta pela referida
súmula é matéria de índole constitu-
cional, pois fere a liberdade de contra-
tar, violando inclusive o Inciso II do
artigo 5.º da Constituição Federal, que
diz que “ninguém será obrigado a fazer
ou deixar de fazer alguma coisa senão
em virtude de lei”. Decisões semelhan-
tes foram emitidas pelos ministros do
STF em outros processos.
Pelo lado sindical, documento do
DIEESE encomendado pela CUT,
com base em casos de terceirização
precarizada, alega que o terceirizado
trabalha 3 horas a mais por semana,
ganha 24,7% menos que o trabalha-
dor contratado diretamente e que a
rotatividade dos trabalhadores dire-
tos é 22% em média enquanto que os
terceirizados é 44% em média, indo
mais além ao alegar que o projeto de
terceirização é um retrocesso até para
tempos anteriores à CLT.
Essa visão aumenta a oposição
que os dirigentes sindicais fazem
ao projeto da terceirização, apesar
de que sua verdadeira motivação
é a insatisfação com uma eventual
fragmentação das bases sindicais,
porque se a atividade principal das
empresas terceirizadas não for a
mesma das empresas contratantes,
os trabalhadores das terceirizadas
serão representados por outros sin-
dicatos e consequentemente os atu-
ais representantes profissionais per-
deriam contribuições. O caso está
mais para a autoproteção econômica
dos sindicatos do que a proteção aos
trabalhadores.
Tais bandeiras têm grande apelo po-
pular. São fáceis de serem comunicadas.
E, assim entendidas, criam grave inse-
gurança entre os trabalhadores. Como
todo slogan, elas mexem mais com o
emocional do que com o racional.
Ao examinar o PL 4.330 com isen-
ção, porém, verifica-se o contrário. O
projeto busca exatamente “desprecari-
zar” o que ainda está precarizado. Tra-
ta-se de um projeto de proteção, e não
de “desproteção” dos trabalhadores.
Como terceirização é uma ativi-
dade de parceria entre contratante e
contratada, o PL coloca os dois lados
como reais parceiros. A contratante
será co-responsável pelo pagamento
de todas as verbas trabalhistas e pre-
videnciárias dos empregados da con-
tratada referentes ao contrato firmado,
será diretamente responsável por criar
um ambiente de trabalho que garan-
ta condições de higiene e segurança
para todos os empregados da contra-
tada, respeitadas as normas regula-
mentadoras nesse campo além da sua
responsabilidade direta de atender os
19. Revista Canavieiros - Junho de 2015
19
RC
empregados da contratada nos seus
ambulatórios, assim como será obri-
gada a oferecer a estes as facilidades
de alimentação e transporte que desti-
na aos seus próprios empregados.
É falso, portanto, o argumento de
que a nova lei, se aprovada, precariza-
rá mais a contratação de serviços ter-
ceirizados. Nenhuma das exigências
acima mencionadas existe na situação
atual onde a empresa contratada é do
tipo faz tudo e não a especializada
naquele serviço a ser prestado, como
previsto na regulamentação.
O agronegócio canavieiro é um dos
setores da economia que se beneficia-
ria com a terceirização regulamentada,
sem essa dicotomia entre atividade
fim e atividade meio. Em razão das
características especiais de produção
do agronegócio canavieiro, a terceiri-
zação pode ser aplicada a quase todas
as operações do setor, com enormes
ganhos de produtividade e aprovei-
tamento das estruturas das empresas
contratadas. Sem a regulamentação do
projeto de terceirização, a contratação
das atividades operacionais oferece
grande risco pela insegurança jurídica.
A possibilidade de virem a ser consi-
deradas atividade fim é muito grande e
daí a inoportunidade e o prejuízo.
Ao permitir a contratação de em-
presas especializadas nas atividades
operacionais do agronegócio cana-
vieiro, os produtores, toda a cadeia
produtiva e a economia como um todo
seriam beneficiados. Os contratantes,
como os fornecedores de cana, não
precisariam disponibilizar recursos
com suas estruturas atuais de pessoal
e equipamentos, pois as empresas es-
pecializadas cuja estrutura disponível
seria aproveitada e dinamizada, lhes
prestaria os serviços independente-
mente de quem fosse o contratante no
tempo necessário para a conclusão da
tarefa.
No momento em que os produtores
sofrem com os elevados custos de pro-
dução que inviabilizam sua atividade e
levam milhares a desistir da atividade,
a divisão do trabalho proporcionada
pela terceirização regular e segura re-
vitalizaria toda a cadeia produtiva do
agronegócio canavieiro, proporcio-
nando garantia de economia ao con-
sumidor. Toda sociedade se beneficia
com a terceirização regulamentada.
*jornalista, advogado com pós-
-graduação em Direito do Trabalho,
especialista em Direção de Recursos
Humanos, pela Escola de Administra-
ção de Empresas de São Paulo - FGV.
Doutor em Administração de Empre-
sas. Tem mais de 30 anos de serviços
prestados ao setor bioenergético.
O NOVO HERBICIDA PARA CANA-DE-AÇÚCAR.
MAIOR PROTEÇÃO, MAIS ECONÔMICO.
CHEGOU TRACTOR
O herbicida com o melhor
custo-benefício do mercado
que vai reforçar o portfólio
para cana-de-açúcar da Nufarm.
f3agência/tricot
ATENÇÃO
Este produto é perigoso à saúde humana, animal e ao
meio ambiente. Leia atentamente e siga rigorosamente as
instruções contidas no rótulo, na bula e na receita. Utilize
sempre os equipamentos de proteção individual. Nunca
permita a utilização do produto por menores de idade.
PRODUTO PARA USO AGRÍCOLA. VENDA SOB
RECEITUÁRIO AGRONÔMICO. CONSULTE SEMPRE
UM ENGENHEIRO AGRÔNOMO.
20. Revista Canavieiros - Junho de 2015
20
Ponto de Vista IV
Lei de recuperação judicial é usada para salvar
patrimônio e prejudicar credores
*Antonio Carlos de Oliveira Freitas
Antonio Carlos de Oliveira Freitas
A
Lei nº 11.101/2005 completa 10
anos de vigência e, nesta déca-
da, há pouco a comemorar. Isso
porque, ao contrário do que se imagi-
nava, poucas são as empresas efetiva-
mente recuperadas após o trâmite desse
tipo de processo. Não se pode imputar
somente à legislação o problema, mas,
em especial no setor sucroalcooleiro,
à falta de uma política consistente de
manutenção do setor em patamares de
sustentabilidade.
A lei, cujo objetivo maior é viabili-
zar a superação da crise econômico-fi-
nanceira da empresa, não vingou. Hoje
é uma ferramenta mais utilizada para
salvar patrimônio e prejudicar credores.
Vale, ainda, e em paralelo, buscar,
dentro do possível, outro ângulo de
análise, o do setor sucroalcooleiro pro-
priamente dito. Se num mundo em bus-
ca de matrizes energéticas sustentáveis,
diante da confiança em que o Brasil
conseguirá cumprir com seu papel de
potência fundamental na tarefa de pro-
duzir alimentos para aplacar a fome do
planeta, então é natural perguntar: as
terras agricultáveis brasileiras devem
focar na produção de biocombustíveis
ou de alimentos? Não há dilema. Ape-
nas algo em torno de 1% das terras bra-
sileiras dedicadas à produção agrícola
é utilizada pelo setor sucroalcooleiro.
Ou seja, o plantio de cana-de-açúcar de
nenhum modo constitui ameaça ou en-
trave ao plantio de alimentos.
Houve, sem dúvida, uma conjunção
nociva de fatores – política governa-
mental de bloqueio do aumento do pre-
ço de combustíveis; aumento de custos
de produção; baixa internacional do
preço do açúcar; entre outros –, conjun-
ção esta que obstou o esperado desen-
volvimento do setor.
A atual crise – tida como uma das
maiores da história do setor - levou ao
fechamento de tradicionais usinas pelo
país afora, trazendo a reboque a perda
de milhares de empregos. Decretou-se
a falência de mais de dez usinas desde
2000, e meia centena tenta se reerguer
por meio de recuperação judicial.
Assim, enquanto a recuperação do
setor não chega de forma definitiva,
as empresas do segmento se valem do
Judiciário, a fim de salvar o que resta.
Entretanto, e isso envolve todas as re-
cuperações judiciais, não apenas aque-
las do setor sucroalcooleiro, os planos
de recuperação são aprovados sem que
seja exercido o devido controle de le-
galidade de suas disposições. O juiz
não é, nem pode ser considerado como
mero “homologador” das decisões da
Assembleia de Credores.
O juízo da recuperação judicial deve
exercer, sempre necessária e obriga-
toriamente, o controle de legalidade
material ou substancial. Tal controle
foi objeto de discussão e aprovação do
Enunciado nº 44, da “I Jornada de Di-
reito Comercial CJF/STJ” (Bra-
sília, março/2013).
Entendimento contrário
prestigia a insegurança jurídica
nas Instituições que integram
o Poder Judiciário, acabando
por legitimar os anseios nefas-
tos daqueles que adotam con-
dutas travestidas de legalidade
com o objetivo de exterminar o
princípio previsto no art. 47, da Lei nº
11.101/2005. A interpretação equivo-
cada do princípio em questão permite
que oportunistas dele se valham para
dar verdadeiro “calote” visando, so-
bretudo, proteger o patrimônio pessoal
dos sócios, desvirtuando a essência da
legislação.
Assim, a interpretação escorreita dos
dispositivos legais contidos na Lei nº
11.101/2005, aliada a mudanças essen-
ciais na referida legislação, a fim de di-
minuir as brechas na lei existentes, é fator
que contribuirá para que as empresas real-
mente se tornem viáveis e se recuperem.
De nada adianta ter boa vontade se,
para aqueles que militam no cotidiano
das atividades forenses, há nítidos gar-
galos nessa lei, cujo aniversário não é
para comemoração, mas sim para refle-
xão e ações ágeis, a fim de buscar mo-
tivos para regozijo nessa próxima dé-
cada. O que se busca é simples: apenas
algo prático e que funcione para todos.
*Advogado, especialista em Proces-
so Civil. Membro do IASP e da Comis-
são de Agronegócios da OAB-SP. Sócio
do escritório Luchesi Advogados.RC
22. Revista Canavieiros - Junho de 2015
22
O que acontece com nossa cana?
Temos que destacar o efeito do
câmbio no setor de cana. Uma des-
valorização de cerca de 35% no real
frente ao dólar faz com que em reais,
mesmo os baixos preços do açúcar, te-
nham alguma compensação, encarece a
gasolina no mercado interno e dá mais
competitividade às exportações de eta-
nol, inibindo também a entrada de eta-
nol americano. Uma importante injeção
não só no setor, mas no agro brasileiro.
Para a UNICA (União da Indús-
tria de Cana-de-Açúcar), a safra será de
590 milhões de toneladas (3,27% maior
que em 2014/15), com produção 4,33%
maior de etanol (27,27 bilhões de litros,
sendo o hidratado 6,1% a mais com 16,33
bilhões de litros e o anidro 1,8% maior,
com 10,94 bilhões de litros). A safra será
mais alcooleira, com 58,1% destinada ao
etanol. A produção de açúcar deve ficar
ao redor de 32 milhões de toneladas.
O processamento em abril de
2015 foi 11,54% maior que o de 2014.
Safra vem vindo firme!
Em termos de políticas, segundo
a UNICA, ainda temos que facilitar a
recuperação de créditos tributários da
desoneração do PIS/COFINS (reten-
ções de R$ 2 bilhões por ano), a descon-
tinuidade do programa de financiamen-
to à estocagem do etanol e o programa
de incentivo ao ganho de eficiência dos
motores.
Apesar da crise, a BP (British
Petroleum) prevê processar em 15/16,
10 milhões de toneladas de cana, 43%
a mais que na safra anterior. A Glencore
(trading suíça) prevê moer ao redor de
2,7 milhões de toneladas, cerca de 20%
acima que na última safra. Já a Guarani
deve moer ao redor de 20 milhões de
toneladas, sendo 40% para o etanol.
O que acontece com nosso açúcar?
Relatório trimestral da OIA pre-
vê deficit de açúcar de 2,3 milhões de
toneladas em 2015/16 e ainda maior em
2016/17 se não houver investimentos em
produção, que foi desestimulada em al-
guns países, pelos preços baixos da com-
modity. Estima que o deficit poderia che-
gar até a 6 milhões de toneladas. Pode ser
uma luz no final do longo túnel do açúcar.
Para a safra 2014/15, prevê supe-
ravit de 2,2 mi ton, com produção mun-
dial crescendo para 173,63 mi ton, pu-
xada principalmente por safras boas na
Índia e Tailândia, que surpreenderam.
Interessante como as consulto-
rias internacionais que fazem previsão
de safras e produções são surpreendidas
em curto intervalo de tempo. Uma que
projetava no trimestre anterior um defi-
cit de mais de 100 mil t de açúcar para
esta safra, reviu para um superavit de
mais de 3,2 milhões de toneladas. Ape-
nas em um trimestre...
Segundo a UNICA, subsídios à
produção de açúcar na Índia e Tailân-
dia podem ter custado mais de US$ 1,2
bilhão ao Brasil, e estudamos contestá-
-los na OMC (Organização Mundial do
Comércio). Devemos sim ameaçar e ir
em frente caso não haja retrocesso por
parte destes países.
Já o consumo de açúcar também
apresenta boa recuperação, com cresci-
mento de 2,14% (média dos últimos 5
anos foi de 2,06%) e alcançará o recor-
de de 171,42 milhões de toneladas. A
relação estoque consumo ainda perma-
nece elevada, próxima a 48%.
A título de curiosidade, as impor-
tações do Iraque vêm aumentando e de-
vem atingir mais de 1 milhão de tone-
ladas em 2015, provando a importância
dos mercados emergentes no açúcar.
Ainda sobre os efeitos do dólar,
algumas usinas estão fixando o açúcar
que vem sendo produzido em 2015/16
em mais de R$ 1050/tonelada, acima
dos preços de 2014/15, permitindo, no
caso das usinas mais eficientes, retor-
nos acima de 10%.
O que acontece com nosso etanol?
Com a escalada nos preços in-
ternacionais do petróleo, é muito pro-
vável que tenhamos novo aumento do
preço da gasolina no Brasil, que pode
chegar a 10%. A gasolina já está dan-
do prejuízo à Petrobras novamente, e o
problema grave do caixa da empresa e
uma promessa que os preços seguirão o
mercado dão alento ao etanol.
Coluna Caipirinha
Marcos Fava Neves*
Caipirinha
O etanol hidratado como uma injeção na Veia
23. Revista Canavieiros - Junho de 2015
23
Após o fechamento dessa coluna o
homenageado veio a falecer.
O consumo do hidratado segue
firme, e podemos chegar ao final do ano
entre 14 a 15 bilhões de litros. Estamos
consumindo mais de 1,3 bilhão de li-
tros por mês, contra menos de 1 bilhão
nestes primeiros meses, em 2014. Se o
consumo seguir firme e com rentabili-
dade, com a perspectiva dos preços che-
garem a patamares entre 1,40 a 1,50/l
na usina, pode-se retirar mais de 1 mi-
lhão de toneladas de açúcar do mercado
internacional, beneficiando os preços.
Em abril, as usinas do Centro-Sul
venderam 1,46 bilhões de litros, simples-
mente 49% a mais que em abril de 2014.
Estamos vendendo hidratado como água,
uma verdadeira injeção na veia do setor!
Falta ainda o aumento de 0,5%
na mistura de anidro na gasolina, apro-
vada, e que hoje está em 27%. Como
os testes da ANFAVEA (Associação
Nacional dos Fabricantes de Veículos
Automotores) aparentemente não apre-
sentaram problemas nos automóveis,
resta esperar por este aumento.
Estimativa de Alexandre Figlio-
lino, do Itau-BBA, é que a retirada da
CIDE (Contribuição de Intervenção no
Domínio Econômico) na gasolina em
2012 até sua volta neste ano impactou
em R$ 16 bilhões o setor de cana. Ve-
jam o desastre causado pela política po-
pulista do governo.
Oqueacontececomnossacogeração?
A UNICA estima que a capacida-
de instalada para cogeração nas usinas
atingiu 10 mil megawatts, representan-
do 7% da matriz energética brasileira,
atrás apenas da fonte hidroelétrica e de
gás natural. Em 2014, o uso desta fonte
energética evitou a emissão de mais de
8 milhões de toneladas de CO2
. Porém,
o ritmo de crescimento vem diminuindo,
e em 2015 devem ser instalados apenas
36% do que foi investido em 2010.
Com um pouco mais de luz na
política energética brasileira, é muito
provável que as fontes renováveis ga-
nhem impulso.
Há interesse crescente de fun-
dos na aquisição de ativos de coge-
ração e mesmo de investimentos no
setor. No leilão os preços foram de
R$ 270 por megawatt/h e preços de
mercado acima disto.
Penso que a coleção de notícias que
coloquei acima mostram boas luzes!
Quem é o homenageado do mês?
Todos os meses esta coluna homena-
geia uma personagem do setor de cana.
Este mês faremos uma homenagem ao
amigo Nehemias Alves de Lima, diretor
da Coopercitrus, e um grande entusiasta
da educação no Brasil. Estamos juntos
na luta, amigo!
RC
Haja Limão:
O Brasil caiu mais posições no
ranking de competitividade mundial,
no recente relatório publicado pelo
IMD. Estamos na posição 56. Éramos
em 2010 o País número 38 em competi-
tividade. Eu imaginei que a experiência
do Brasil com a esquerda seria muito
negativa, mas não imaginava um desas-
tre dessa dimensão. Haja limão.
Marcos Fava Neves é professor titular
da FEA/USP, Campus de Ribeirão Preto.
Em 2013 foi professor
visitante Internacional da Purdue
University (EUA)
26. Revista Canavieiros - Junho de 2015
26
Notícias Copercana
Reuniões técnicas Copercana
Com o intuito de capacitar a equipe
de engenheiros agrônomos que reali-
zam atendimento aos seus cooperados,
a Copercana firma parcerias com mul-
tinacionais de agroquímicos e realiza
reuniões técnicas.
FMC
No dia 22 de maio, em parceria com
a FMC, foi realizado um treinamento
exclusivo com o objetivo de aprimorar
e discutir os principais tratamentos do
mercado de cana-de-açúcar. Na ocasião
foram apresentadas as performances
dos Produtos FMC.
Vinícius Batista, representante técnico
comercial da FMC, explicou que “para o
controle de ervas daninhas, destacamos a
excelência do Boral na época seca para
Da redação
Parceria com as multinacionais capacita a equipe técnica
o controle de mamona, mucuna e cordas
em geral e de Gamit CS no controle das
principais gramíneas. Para o controle de
pragas e doenças, focamos no novo pro-
duto biológico da FMC: Nemix C, um
promotor de crescimento composto por
duas espécies de Bacillus que atuam de
forma sinérgica melhorando a sanidade e
produtividade da planta.Além deste, tam-
bém apresentamos os resultados do novo
fungicida da FMC: Evos. Esta ação refor-
ça nosso compromisso com o agricultor
em levar conjuntamente com a Coperca-
na sempre os melhores tratamentos, para
que eles conquistem ganhos de produtivi-
dade e prosperidade”.
NORTOX
No dia 8 de maio, a Nortox proporcio-
nou, à equipe técnica da Copercana, um
evento motivacional. O palestrante, José
Borges Filho, falou sobre a iniciação ao
Coaching. A reunião terminou com uma
almoço servido no Cred Clube.
Palestra realizada
em parceria com a FMC
Palestra realizada
em parceria com a Nortox
26
RC
28. Revista Canavieiros - Junho de 2015
28
Notícias Canaoeste
Canaoeste e LL Cultivar promovem reunião
técnica sobre nutrição de cana
A
umentar a produtividade do
canavial melhorando a nutri-
ção da planta. Este foi um dos
principais tópicos discutidos na reunião
técnica sobre “Tecnologia de Nutrição
em Cana-de-Açúcar”, promovida no
último dia 2 de junho, no auditório da
Canaoeste, em Sertãozinho-SP.
O evento, realizada pela Canaoeste
por meio de uma parceria que já tem um
ano e meio com o Grupo LL Cultivar,
empresa especializada em adubação,
contou com a presença de técnicos e
produtores da área de cobertura da as-
sociação e palestras do professor Godo-
fredo César Vitti, da ESALQ-USP (Es-
cola Superior de Agricultura “Luiz de
Queiroz”), do consultor Fábio Vale, da
Adubai, e do agrônomo Aparecido dos
Santos da Silva, que representou a LL.
Os três fazem experimentos conjuntos
de campo, cujos resultados também fo-
ram apresentados.
“O objetivo é levar informação sobre
novas tecnologias ao nosso produtor,
para que, dessa forma, ele consiga ma-
nejar o seu canavial adequadamente e
obter resultados mais favoráveis”, disse
Igor Savenhago
Evento, no dia 2 de junho em Sertãozinho-SP, teve três palestras que apresentaram
tecnologias para aumentar a produtividade, como a agricultura de precisão
a gestora técnica da Canaoeste, Ales-
sandra Durigan. “Pudemos contar com
profissionais que têm muita experiência
no assunto e foi um dia bastante pro-
veitoso em que conseguimos esclarecer
muitas dúvidas”.
O primeiro a falar durante o evento
foi o professor Vitti. Ele alertou para a
importância de uma adubação correta
no enfrentamento de pragas, doenças
e problemas climáticos que afetam o
setor sucroenergético. “Não quere-
mos canavial de quatro, cinco cortes,
mas de dez. E, com manejo adequado,
isso é possível. Uma cana bem adu-
bada aumenta o sistema radicular e,
com isso, a água em profundidade,
permitindo enfrentar até o problema
do déficit hídrico”.
Segundo ele, a nutrição é o fator
mais rápido e barato contra momentos
de crise. “Estamos numa situação, seja
política, seja climática, insustentável
para o fornecedor de cana sobreviver.
Somente com o manejo isso vai ser
possível. Com nutrição adequada, vão
melhorar a produtividade, a qualidade e
a longevidade do canavial”.
Aparecido dos Santos da Silva, da LL Cultivar demonstrou os principais
resultados dos experimentos feitos em campo
Professor Godofredo César Vitti,
da ESALQ-USP
Fábio Vale,
da Adubai Consultoria
Alessandra Durigan,
gestora técnica da Canaoeste
29. Revista Canavieiros - Junho de 2015
29
Fábio Vale, da Adubai Consultoria,
expôs as vantagens da agricultura de pre-
cisão. Ele explicou que um trabalho fei-
to em parceria com a LL tem avançado
no monitoramento das necessidades da
planta, não apenas do solo. “Atualmen-
te, o conceito que existe para agricultura
de precisão é o de trabalhar com amos-
tragens de solo e definir correções de
calcário, gesso e fosfatagem. Os experi-
mentos que temos feito são para envolver
a planta nesse processo. Utilizando-se de
imagens, é possível definir o potencial de
produtividade de cada talhão e, juntando
isso com as amostragens de solo feitas an-
teriormente, podemos melhorar também
a adubação, repondo, principalmente, ni-
trogênio e potássio nas soqueiras”.
A reunião terminou com Apareci-
do dos Santos da Silva, da LL Cul-
Leonardo Leal Lopes,
diretor-proprietário da LL Cultivar
tivar. Ele demonstrou os principais
resultados obtidos em campo com
a aplicação, em diferentes áreas, de
produtos à base de nitrogênio, boro,
zinco, molibdênio e bioestimulantes.
“O queremos trazer para os agricul-
tores são informações privilegiadas
de quem estudou a vida inteira. A LL
procura estar sempre ao lado deles,
tentando fazê-los produzir mais”, dis-
se o diretor-proprietário da empresa,
Leonardo Leal Lopes. RC
30. Revista Canavieiros - Junho de 2015
30
Presidente da Canaoeste e Orplana participa
de reunião com Secretaria do Meio Ambiente
O
presidente da Canaoeste e Or-
plana, Manoel Ortolan, partici-
pou no dia 20 de maio, em São
Paulo, de uma reunião com represen-
tantes da Secretaria Estadual do Meio
Ambiente. Ele esteve acompanhado de
advogados e técnicos das duas entida-
des, além de membros da ABAG-RP
(Associação Brasileira do Agronegócio
em Ribeirão Preto), como o diretor exe-
cutivo, Marcos Mattos.
Em pauta, a regulamentação do PRA
(Programa de Regularização Ambien-
tal), aprovado em dezembro do ano
passado na Assembleia Legislativa e
sancionado no dia 14 de janeiro pelo
governador Geraldo Alckmin, o sis-
tema eletrônico de preenchimento do
CAR (Cadastro Ambiental Rural) –
cujo prazo venceria no dia 6 de maio,
mas que teve a prorrogação por um ano
autorizada pelo Governo Federal – e as
queimadas criminosas de canaviais no
Estado. A discussão sobre esses aspec-
tos marcou o primeiro contato entre as-
sociações ligadas ao setor sucroenergé-
tico e a equipe da pasta, que assumiu no
início deste ano juntamente com a nova
secretária, Patrícia Iglecias.
Igor Savenhago
Durante o encontro realizado em São Paulo, Manoel Ortolan esteve acompanhado de
advogados e técnicos de entidades que compõem a Orplana e a ABAG-RP
Ortolan e os demais representantes
da cadeia produtiva da cana-de-açúcar
foram recebidos pela secretária adjun-
ta, Cristina Maria do Amaral Azevedo.
Ela afirmou que o PRA ainda passa por
análise política e técnica no Palácio
dos Bandeirantes porque a Secretaria
de Meio Ambiente participou pouco
da elaboração da lei e, por isso, “tem
se debruçado sobre o assunto para que
chegue logo a um consenso”.
Em fevereiro, durante reunião na
Canaoeste, em Sertãozinho-SP, o secre-
tário da Agricultura, Arnaldo Jardim,
admitiu haver divergências de opiniões
sobre o programa no Governo Estadual,
mas afirmou também que estava bus-
cando um entendimento. Na época, ele
pediu que as entidades representativas
dos produtores enviassem sugestões
para as próximas etapas da discussão. A
ausência de uma regulamentação preo-
cupa as associações, que temem perder
conquistas recentes. Jardim prometeu
trabalhar por uma aproximação entre o
setor e a Secretaria do Meio Ambiente.
Outro problema enfrentado com a
ausência da regulamentação são as dú-
vidas que aparecem no preenchimento
do CAR (Cadastro Ambiental Rural),
obrigatório para todos os proprietários
rurais do país e imprescindível para o
funcionamento do PRA. Algumas ques-
tões previstas na legislação ainda não
foram inseridas no sistema eletrônico
do cadastro. Durante a reunião na secre-
taria, o assunto foi exposto a Cristina.
Foi cobrado dela que haja um maior es-
treitamento da comunicação com a pas-
ta para que eventuais problemas sejam
sanados com rapidez.
A adesão ao CAR deveria ter sido
feita até o início do último mês de maio,
mas, por causa das dificuldades enfren-
tadas, o Governo Federal anunciou a
prorrogação, por um ano, conforme
previsto em lei. A Secretaria de Meio
Ambiente pede que, apesar da decisão,
as associações continuem estimulando
os produtores a fazer o preenchimento,
já que o prazo só pode ser estendido
uma vez. Até a data da reunião, cerca de
67% das propriedades paulistas haviam
sido inseridas no sistema.
Queimadas criminosas
Os advogados Juliano Bortoloti, da
Canaoeste, e Helena Pinheiro Della
Torre Vasques, da Orplana, pediram,
Notícias Canaoeste
Cristina Maria do Amaral Azevedo, secretária
adjunta do Meio Ambiente e Manoel Ortolan,
presidente da Orplana e Canaoeste
31. Revista Canavieiros - Junho de 2015
31
durante o encontro, que a secretaria leve
em conta os avanços do setor sucroe-
nergético na mecanização da colheita
e na eliminação da queima da palha da
cana durante eventuais fiscalizações, no
intuito de não aplicar sanções nos casos
de inexistência de nexo causal no uso
do fogo em canaviais. Segundo Helena,
“o setor eliminou os riscos da ativida-
de e gostaria que a secretaria visse isso
com bons olhos”.
Conforme o novo Código Florestal,
em vigor desde fevereiro de 2012, as
autoridades responsáveis por fiscalizar
devem “comprovar o nexo de causa-
lidade entre a ação do proprietário ou
qualquer preposto e o dano efetivamen-
te causado”. A lei prevê, ainda, que é
preciso “estabelecer o nexo causal na
verificação das responsabilidades por
infração pelo uso irregular do fogo em
terras públicas e particulares”, o que
significa que se deve encontrar o infra-
tor e não apenas multar o proprietário
pelo incêndio.
Pense bem antes de renovar o seu canavial
Cana produtiva para mais cortes
Anúncio Canavieiros - 20,5 x 13,5 cm.pdf 1 10/06/2015 14:49:32
Isso, no entanto, nem sempre acon-
tece. Para se defender de possíveis
ações administrativas e judiciais e con-
seguir uma autorização extraordinária
de colheita em casos de incêndios
criminosos no seu canavial, o produ-
tor deve tomar uma série de medidas,
como fazer um requerimento junto à
Cetesb (Companhia de Tecnologia de
Saneamento Ambiental), acompanha-
do de boletim de ocorrência, tirar fotos
do plantio e dos aceiros existentes na
área, para provar obediência à legis-
lação, demonstrar, com testemunhas e
laudo pericial, que a propriedade está
preparada para o corte mecânico e, por
isso, dispensa o uso do fogo, e apre-
sentar laudo técnico – que demonstre
que a origem do incêndio é desconhe-
cida – e histórico da colheita mecani-
zada nas últimas três safras.
Técnicos da secretaria elogiaram
a disposição do setor em cumprir o
Protocolo Agroambiental, que pre-
via a substituição total, até o final do
ano passado, da mão de obra manual
em áreas planas do Estado. Dados da
Conab (Companhia Nacional de Abas-
tecimento), apresentados ao final da
reunião, mostram que, dos 343 mi-
lhões de toneladas de cana colhidas no
território paulista em 2014, 90% foram
por máquinas, que só não entraram em
terrenos com declividade acentuada.
Pelo levantamento, nove mil hecta-
res deixaram de ser queimados desde o
início da aplicação do protocolo – que
contou com a adesão de 27 associa-
ções, das quais 25 estão ativas, e 5.500
fornecedores, de um total de 16.500
propriedades, sendo 55% próprias e
45% arrendadas. Todas essas áreas
têm, juntas, mais de sete mil nascentes.
Outra informação divulgada foi
que a energia elétrica excedente pro-
duzida pelas usinas paulistas a partir
do bagaço da cana seria suficiente
para suprir 25% do consumo residen-
cial do Estado.RC
32. Revista Canavieiros - Junho de 2015
32
Gestor da Canaoeste terá artigo apresentado
em congresso de Economia
O
gestor de Relacionamentos,
Recursos e Projetos da Canao-
este, Almir Torcato, teve artigo
científico aprovado para apresentação
no 53º Congresso da Sober (Sociedade
Brasileira de Economia, Administração
e Sociologia Rural), que será realizado
de 26 a 29 de julho na UFPB (Universi-
dade Federal da Paraíba), em João Pes-
soa, capital do Estado.
A produção, intitulada “O reflexo
na mecanização da colheita da cana-
-de-açúcar na remuneração aos forne-
cedores independentes da região de
Sertãozinho”, é derivada da dissertação
defendida por Almir para a conclusão
do curso de Especialização em Ges-
tão Estratégica do Agronegócio, pela
ESALQ-USP (Escola Superior de Agri-
cultura “Luiz de Queiroz”). A orienta-
dora dele, Angel dos Santos Fachinelli,
doutoranda em Economia Aplicada
pela mesma instituição, será a respon-
sável pela apresentação no congresso.
Igor Savenhago
Estudo, que usou dados de Sertãozinho-SP, questiona o impacto gerado pela imposição
emergencial da mecanização na qualidade da matéria-prima
O gestor diz que ficou surpreso com
o resultado. “Inscrevemos o traba-
lho pensando em uma publicação nos
anais do congresso e, no entanto, ele
foi selecionado para a apresentação. O
assunto é bem delicado e gera muita
discussão. Por isso, fiquei muito feliz
com a oportunidade de apresentar para
o Nordeste a realidade na nossa região.
Vejo positivamente esse intercâmbio
de informações”.
O estudo discute o problema da
queima da cana e a colheita mecani-
zada sob aspectos legais e questiona o
impacto gerado pela imposição emer-
gencial da mecanização na qualidade
da matéria-prima. As informações re-
ferentes à região de Sertãozinho-SP,
usada como estudo de caso, foram ob-
tidas junto à Canaoeste.
Resumidamente, a conclusão foi de
que os fornecedores de cana deixaram
de receber, nas safras de 2009 a 2014,
um total de R$ 384 milhões. Já as uni-
dades industriais deixaram de produzir
493 mil toneladas de açúcar branco e
205 mil metros cúbicos de etanol hidra-
tado, o que denota reflexos financeiros
inferiores na comparação com a colhei-
ta de cana queimada.RC
Almir Torcato, gestor de
Relacionamentos, Recursos e Projetos
Notícias Canaoeste
34. Revista Canavieiros - Junho de 2015
34
Notícias Sicoob Cocred
Jovem Agricultor do Futuro recebe doação de
ferramentas da Sicoob Cocred
C
om dois centros de formação,
um em Brodowski-SP e outro
em Batatais-SP, o Programa
Jovem Agricultor do Futuro recebeu da
Sicoob Cocred, no dia 19 de maio, uma
grande doação de ferramentas. Foram
entregues enxadas, martelos, alicates,
facões, peneiras, pás, carriolas, garra-
fões, entre outros, que serão usados pe-
los alunos até o final deste ano.
Mantido por uma parceria entre o
Senar-SP (Serviço Nacional de Apren-
dizagem Rural), ligado à FAESP (Fede-
ração da Agricultura do Estado de São
Paulo), o Sindicato Rural de Batatais,
que tem uma extensão em Brodowski,
as Prefeituras de Batatais e Brodowski,
além da Usina Batatais, o projeto é
apoiado desde 2007, ano de sua funda-
ção, pela Sicoob Cocred, que destina
todos os equipamentos necessários para
a realização do curso.
A cada ano, o programa atende 140
estudantes, de 14 a 17 anos, divididos
em quatro turmas com 35 – duas em Ba-
tatais, de manhã e à tarde, e outras duas
em Brodowski, nos mesmos moldes.
Independente do turno, os participantes
têm direito a duas refeições diárias.
Os interessados passam por um pro-
cesso seletivo, que inclui prova escrita,
testes psicológicos e entrevistas. Outra
exigência é que eles tenham
bom rendimento escolar, já
que o Jovem Agricultor do Futuro
funciona em períodos alternativos
aos das aulas regulares dos Ensi-
nos Fundamental e Médio.
Só em Batatais, a seleção de
2015 contou com 530 ins-
critos. “É um curso que está
tendo uma procura imensa.
Acreditamos que é devido à
qualidade daquilo que ofere-
Igor Savenhago
Programa de capacitação atende, a cada ano, 140 jovens de 14 a 17 anos, que têm contato
com todas as competências ligadas ao trabalho no campo
cemos”, afirma Julio Eduardo Marques
Pereira, coordenador do Senar-SP em
Batatais e Brodowski.
Segundo Fernando Cavatan, geren-
te do Posto de Atendimento da Sicoob
Cocred em Batatais, a cooperativa
acredita no projeto porque ele visa à
formação de cidadãos. “Todo o pro-
cesso é educativo. Fico muito feliz
e orgulhoso de participar e
ver que tem disciplina, or-
dem, instrução. É uma ini-
ciativa que vale a pena”.
Integram a grade curricu-
lar atividades em classe, onde
os alunos participam de dinâ-
micas de grupo, e aplicações
práticas, experimentais, do
conteúdo abordado. A instru-
tora pedagógica, Roseli Mar-
Sicoob Cocred doa todas as ferramentas usadas nas aulas práticas
Fernando Cavatan, gerente da
Sicoob Cocred em Batatais
Julio Eduardo Marques Pereira,
coordenador do Senar-SP
35. Revista Canavieiros - Junho de 2015
35
RC
Roseli Martins Caramori,
instrutora pedagógica
André Scavazza, presidente
do Sindicato Rural de Batatais
tins Caramori, explica que, na primeira
etapa, em vez de aulas teóricas, são or-
ganizadas “sessões de aprendizagem”,
que permitem constante troca de conhe-
cimentos sobre ética e cidadania, proje-
tos de vida, missões e valores, empreen-
dedorismo, tecnologia da informação e
promoção de saúde, em que os assuntos
em pauta vão desde sexualidade até o
risco do uso de drogas na adolescência.
“Buscamos desenvolver o senso crí-
tico, a capacidade criativa dos jovens.
É uma experiência única, na qual traba-
lhamos a capacidade de comunicar, de
se relacionar, não ter preconceitos, lidar
com dificuldades. Uma vivência grande
esses oito meses que ficamos juntos”. As
dinâmicas, segundo ela, também facili-
tam uma aproximação com as demandas
dos adolescentes. “Aprendemos, todos
os dias, que cada um é um, cada um tem
sua particularidade, que deve ser res-
peitada. Quando termina o curso, eles
ligam, informam se entraram na faculda-
de e até voltam para tirar dúvidas. É uma
construção mesmo de relacionamento”.
Parcerias
De acordo com o presidente do Sin-
dicato Rural de Batatais, André Scava-
zza, as parcerias são fundamentais para
o funcionamento do programa. “Temos
uma estrutura, viabilizada pela FAESP,
pelo Senar-SP e pelo Sindicato Rural,
mas, para que fique melhor, contamos
com parcerias como a da Sicoob Co-
cred. Sem parceiros, o curso não teria o
brilhantismo que tem”.
As ferramentas doadas pela Sicoob
Cocred são utilizadas na segunda fase
do programa, que prevê atividades prá-
ticas. O conhecimento adquirido em sala
de aula é aplicado na ordenha bovina, no
cultivo hidropônico de verduras, na mi-
nhocultura, na horticultura, na fruticul-
tura, na compostagem – processo pelo
qual resíduos orgânicos viram adubo –,
no manejo do cafezal e na pecuária de
pequenos animais. Neste caso, o ins-
trutor técnico João Francisco Lombardi
conta que é a própria turma de alunos,
formada por filhos de produtores e traba-
lhadores rurais e de funcionários da Usi-
na Batatais, que escolhe com que tipo de
criação quer trabalhar, como avicultura
de corte, poedeira e até coelhos.
A área de experimentos na sede do
Jovem Agricultor em Batatais, onde
foi feita a entrega do maquinário, tem
sete hectares. Tudo o que é desenvol-
vido ali, segundo Lombardi, leva em
conta o conceito da sustentabilidade.
“Na hidroponia, por exemplo, podemos
produzir o alimento com economia de
água e controle de pragas e plantas da-
ninhas. E, pela compostagem, tudo o
que é descartado por outras atividades
vira um fertilizante natural, que é desti-
nado para a nossa horta”.
Exemplos como estes cativam os
estudantes Jennifer Marcela Barreira
Eduardo e Caio Aparecido Garcia Duar-
te, ambos com 15 anos. Antes do curso,
eles quase não haviam tido contato com
o ambiente rural. “Meu pai fornece mar-
mitas para o programa e falou que ia ser
legal para mim. O que mais me chama a
atenção é que a agricultura pode ser sus-
tentável, desde o plantio até o alimento
chegar para gente”, afirma Jennifer.
“Conhecia algumas coisas apenas por
curiosidade, por observação. Quando vi
que estava sendo lançada a proposta do
curso, fiz a inscrição para me aprimorar.
Aqui, a gente trabalha, também, concei-
tos da vida social e a necessidade de se
adaptar ao meio em que vive e às pessoas.
Gostei bastante”, completa Duarte.
João Francisco Lombardi,
instrutor técnico
Jennifer Marcela Barreira Eduardo
Caio Aparecido Garcia Duarte
36. Revista Canavieiros - Junho de 2015
36
Notícias Sicoob Cocred
Balancete Mensal - (prazos segregados)
Cooperativa De Crédito Dos Produtores Rurais e Empresários do
Interior Paulista - Balancete Mensal (Prazos Segregados)
-Abril/2015 - “valores em milhares de reais”
Sertãozinho/SP, 30 de Abril de 2015.
38. Revista Canavieiros - Junho de 2015
38
jado e, com esse sistema, temos um
maior detalhamento da área, pois antes
do seu uso, eu não andava com a moto
em 100% do meu terreno e com o Vant
consigo fazer isso”, elucidou, contando
que a resolução das imagens é muito
precisa, oferecendo a informação de 10
cm do talhão, o que possibilita maior
precisão nas práticas conservacionistas,
ou seja, no manejo e conservação do
solo e água.
Drones:
Monitoramento feito das alturas
O uso dos VANTs para gestão e levantamento de propriedades agrícolas avança cada vez mais
Andréia Vital
Foto:SamuelVasconcelos
Reportagem de Capa
38
Embora o céu não seja de brigadeiro
para o setor sucroenergético, voos em
busca de alternativas para obter uma
safra promissora têm sido o diferencial
das empresas do setor que tem conse-
guido escapar da crise. Uma das opções
apontadas é o foco no campo, identifi-
cando e sanando problemas das lavou-
ras em face de uma melhor qualidade e
produtividade da matéria-prima. Neste
contexto, os VANTs (Veículos Aéreos
Não-Tripulados) ou drones têm con-
quistado cada vez mais espaço devido à
agilidade e precisão no monitoramento
dos canaviais.
O Grupo Raízen é um dos que apos-
taram nesta nova tecnologia. De acor-
do com o diretor de produção agrícola
do Grupo, Antônio Fernando Pinto de
Lima, investimentos no novo sistema
vêm sendo feito desde o ano passado.
Anteriormente uma equipe de campo
fazia o levantamento fotográfico para
medir as áreas. Com o tempo, houve
a necessidade de novos detalhes, entre
eles, descobrir o que fazer para a conser-
vação do solo. “Devido à esta demanda,
nós evoluímos usando um quadriciclo
ou motos com GPS que gerenciava as
áreas e fazia o levantamento planialti-
métrico. Isso, além de ser demorado,
tem alguns riscos de acidentes. Então,
há dois anos começamos a aprender a
usar a tecnologia do VANTs”, contou o
diretor, explicando que o equipamento
agora faz todo o levantamento topo-
gráfico em muito menos tempo. “Este
trabalho é importantíssimo para a hi-
drologia dos córregos. Eu preciso saber
onde essa água caminha para fazer uma
maior conservação do solo”, analisou.
Com a moto era feito levantamento
em 500 hectares por dia, passando para
1200 hectares com o uso dos drones. O
planialtimétrico é feito antes de cada
renovação das lavouras e as imagens
geradas pelos drones são essenciais
para organizar o plano de renovação
dos canaviais. “A vantagem é que o
equipamento já sai com o voo plane-
Antônio Fernando Pinto de Lima, diretor
de produção agrícola do Grupo Raízen
39. Revista Canavieiros - Junho de 2015
39
Associados da Canaoeste
também utilizam a tecnologia
39
Lima frisa que ainda estão aprenden-
do outros usos para o drone e desenvol-
vendo ferramentas para interpretá-las,
mas os benefícios da tecnologia foram
tão expressivos que a empresa adquiriu
seis novos equipamentos recentemente,
vislumbrando novas possibilidades de
uso, como no caso do levantamento de
falhas de plantio. “A empresa tinha um
sistema de medições por amostragem
de falha do canavial e, com a amostra-
gem ao acaso, o talhão poderia não re-
presentar bem toda a fazenda. E assim
nossa equipe desenvolveu um sistema
que nos mostra a imagem, sua interpre-
tação e quantifica as falhas do canavial.
Através dessas informações, se tiver
falhas, corrige e faz um plano em rela-
ção ao começo, isso é feito em 100% da
área de plantio”, explicou o engenheiro.
A Raízen tem um plantio de 80 mil
hectares de renovação anual e o moni-
toramento é feito em toda área para o
preparo do solo e pós-plantio. Recente-
mente também passaram a utilizar o dro-
ne para levantar a soqueira. “O equipa-
mento mostra a situação das falhas e de
ervas daninhas. Agora nossa equipe está
aprendendo como tratar essas imagens e
refletir isso para o nosso uso, com mais
precisão na avaliação, pois monitorando
100% do nosso canavial, não corremos
o risco no caso de uma amostragem de
praga de solo, coincidentemente ir em
uma área que não tenha praga”, alegou.
De acordo com o diretor, a nova meto-
dologia só não é usada em quatro das 24
unidades do Grupo Raízen, que não têm
a parte agrícola.
A empresa não revelou quanto inves-
tiu nos novos equipamentos, que foram
produzidos na Suíça e adquiridos com
representantes no Brasil, mas ressaltou
que o aporte já resultou em redução de
custos. “Porque eu estou dobrando mi-
nha capacidade de levantamento, mas o
principal é que agora temos um maior
detalhamento das áreas, são ganhos
qualitativos que o equipamento forne-
ce nas informações, o que possibilita
planejar melhor meu canavial, como
vou fazer meu traçado, a sistematiza-
ção é importantíssima: conhecer o que
está acontecendo quais são os pontos
de declividade que possam correr risco
e enxergar o que está acontecendo em
100% na minha área, pensando no que
vai acontecer para que tenha o máximo
de qualidade da cana”, argumentou.
Lima também lembrou que o treina-
mento é fundamental para implantação
do sistema, tanto que a empresa tem
uma equipe de tecnologia para tratar as
imagens fornecidas pelos drones e as
customiza para a Raízen.
A Agropastoril Paschoal Campa-
nelli S/A, empresa agrícola referência
em utilização de tecnologia na cultu-
ra da cana-de-açúcar, localizada nos
municípios de Severínia, Bebedouro,
Olímpia e Altair, do interior de São
Paulo, começou a usar a tecnologia em
agosto de 2014. “Adquirimos o drone
com o intuito de monitorar a lavoura,
pois depois do fechamento dos talhões
é complicado verificar se há erva da-
ninha, pragas ou falhas no desenvolvi-
mento da planta”, explicou Fábio Ce-
sar Consentino Campanelli, gerente de
produção da empresa.
Segundo ele, o monitoramento, an-
tes feito por funcionários, rua a rua do
canavial, ganhou agilidade com o sis-
tema. “Ao detectar uma mancha nas
imagens captadas pelo drone, nossa
equipe de inspeção vai até o local
exato para verificar o que está acon-
tecendo. Essa leitura facilitou muito
a entrada nos talhões e a solucionar
mais rapidamente os problemas”, ad-
mitiu Campanelli.
Embora ainda seja um projeto pilo-
to, a intenção é ampliar o investimento
na tecnologia com a aquisição de no-
vos VANTs “E uma ferramenta muito
interessante e pretendemos sim inves-
tir em equipamentos com maior alcan-
ce e que ofereça melhores imagens”,
disse o engenheiro agrônomo, consta-
tando que o uso da tecnologia no setor
agrícola ainda é tímido, mas tem muito
potencial para se desenvolver, princi-
palmente com relação a preços.
Fundada em 1982, a Agropastoril
é uma empresa familiar e começou a
plantar cana em 2001, em substituição
à cultura da laranja. Além da cana-de-
-açúcar, que a empresa fornece para
usinas de açúcar e álcool do interior de
São Paulo, a Agropastoril também cria
gado de confinamento e planta milho,
base da ração dos animais. Atualmen-
te, tem canaviais em uma área de oito
mil hectares e produz cerca de 700 mil
toneladas tendo uma produtividade
média de 95 toneladas por hectare.