Trabalho apresentado como tema livre no XI Congresso Brasileiro de Psicomotricidade: Dias 6, 7 e 8 de setembro de 2010
UERJ - Universidade do Estado do Rio de Janeiro Teatro Odylo Costa, filho Rua São Francisco Xavier, 524 - Maracanã - RJ. Publicado nos anais do congresso.
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BULLYING NA ADOLESCÊNCIA – A TERAPIA PSICOMOTORA COMO FORMA
DE INTERVENÇÃO.
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RAPHAELA QUEIROZ MARQUES
Psicomotricista (IBMR)
1. OBJETIVO
Desenvolver, através da Terapia Psicomotora e da orientação familiar, o
resgate das dificuldades relacionais como o desenvolvimento do equilíbrio
emocional, da aprendizagem e da reestruturação familiar com adolescentes vítimas
e autores de bullying.
2. JUSTIFICATIVA
A relevância do estudo encontra-se na necessidade de resgatar os jovens que
apresentam transtornos de comportamento nas escolas antes que estes se
transformem em importantes distúrbios de conduta decorrente do agravamento e
persistência dos atos.
A proposta do trabalho consiste num estudo que visa descrever através da
análise dos casos os efeitos da terapia psicomotora, relacionando-a com o
desenvolvimento escolar e a reestruturação da família através do acompanhamento
em paralelo das relações com os pais.
O impacto social do estudo decorre da própria freqüência com que
atualmente estes comportamentos - bullying - estão sendo expressos no meio
estudantil.
Espera-se que com o desenrolar do processo terapêutico os adolescentes
apresentem uma reestruturação de suas relações interpessoais, resgatando sua
relação familiar, corroborado pela melhora no seu desenvolvimento escolar.
3. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
3.1 ADOLESCÊNCIA E BULLYING – BREVE INTRODUÇÃO
A adolescência é uma fase conturbada na vida do indivíduo, na qual ocorre a
mudança da mentalidade infantil para a mentalidade adulta. De acordo com a
Organização Mundial de Saúde, a adolescência situa-se entre os 10 e os 19 anos de
idade.
A evolução da imaturidade para a maturidade configura um período
fundamental da maturação psicológica da pessoa. As estruturas da personalidade
não se encontram completamente sedimentadas e é nesse período que ela se
moldará.
Alterações físicas e psíquicas corroboram para um período de instabilidade
emocional e de conflitos pessoais. É uma época marcada pela falta de aceitação
pessoal e de avaliação do seu papel nas relações interpessoais e na sociedade.
Diante desse turbilhão de emoções e mudanças, o adolescente necessita de
modelos com os quais se identifiquem, mas nem sempre os encontram na família.
Núcleos familiares desestruturados com pais opressores, agressivos e muitas vezes
violentos, produzem adolescentes agressivos na medida em que os modelos se
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copiam. Na busca da identidade física e psicológica, muitos adolescentes encontram
na agressão uma forma de afirmação de poder interpessoal – o bullying.
O Termo bullying é utilizado para qualificar comportamentos violentos no
âmbito escolar, ocorrendo principalmente dentro de sala de aula e no recreio.
Corresponde a um conjunto de atitudes de violência física e/ou psicológica, de
caráter intencional e repetitivo, praticado por um agressor contra uma ou mais
vítimas que se encontrem impossibilitadas de se defender.
A escola representa um dos principais ambientes sociais em que o jovem está
inserido. Diante disto é de fácil observação acompanhar o surgimento ou o
fortalecimento de atitudes ligadas ao bullying. Normalmente, conforme o transtorno
se apresenta, o nível de sociabilidade do aluno decai seguido de um rápido declínio
em seu rendimento escolar. (TEIXEIRA, 2006)
Apesar de ser um fenômeno antigo, no Brasil o tema só agora começa a
ganhar atenção de forma mais enfática. Desde 2001 a Associação Brasileira
Multiprofissional de Proteção à Infância e à Adolescência (Abrapia) se dedica a
estudar, pesquisar e divulgar o bullying. Um estudo realizado no estado do Rio de
Janeiro em 2003 pela Abrapia aponta um cenário alarmante: 40,5% dos
entrevistados admitiram ter tido algum tipo de envolvimento direto na prática do
bullying, seja como vítima, seja como agressor. Os estudos mostram também que
ambos os sexos se envolvem nos comportamentos de bullying. O que difere é que
as meninas tendem a praticar agressões na forma de terror psicológico, enquanto os
meninos tendem a utilizar a força física para firmarem seu poder sobre os demais.
(SILVA, op cit.)
O tema é complexo, existe muita dificuldade em produzir consenso; entretanto
pode-se inferir que nas intra e inter-relações familiares encontram-se,
indubitavelmente, as explicações para os mais diversos tipos de transtornos de
comportamento onde as relações sociais se estruturam.
3.2 A TERAPIA PSICOMOTORA
A Psicomotricidade é um complexo mosaico de práticas e vertentes teóricas
interligadas. Estuda o psiquismo e a motricidade num todo global e individual. De
acordo com a Sociedade Brasileira de Psicomotricidade, “é a ciência que tem como
objeto de estudo o homem através do seu corpo em movimento e em relação ao seu
mundo interno e externo. Está relacionada ao processo de maturação, onde o corpo
é a origem das aquisições cognitivas, afetivas e orgânicas. É sustentada por três
conhecimentos básicos: o movimento, o intelecto e o afeto. Psicomotricidade,
portanto, é um termo empregado para uma concepção de movimento organizado e
integrado, em função das experiências vividas pelo sujeito cuja ação é resultante de
sua individualidade, sua linguagem e sua socialização.”
Aucouturier define o psicomotricista como um especialista da ajuda à
maturação psicológica pela via da expressividade motora a partir do prazer de agir.
A Terapia Psicomotora é uma prática de mediação corporal e abordagem relacional
que foca nas potencialidades da pessoa, auxilia o indivíduo a elaborar novas
estratégias e soluções próprias para enfrentar os problemas, reforçando a confiança
em si mesmo e favorecendo uma melhor atuação na vida cotidiana. Favorece os
aspectos físico, mental, afetivo-emocional e sócio-cultural, buscando estar sempre
condizente com a realidade do ser.
Por ter o bullying uma repercussão corporal, seja no âmbito do agressor ou
da vítima, a Terapia Psicomotora faz-se pertinente, possibilitando através da via
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motora a expressão da agressividade e de suas angústias relacionadas. O processo
terapêutico favorecerá o encontro do indivíduo, seja o agressor, seja a vítima, com
seu próprio “eu”, ajudando-o a melhor definir suas emoções, seus desejos e seus
medos, viabilizando uma melhor expressão destes sem que com isso precise ferir o
outro.
4. CONCLUSÃO
As relações humanas estão cada vez mais descartáveis, gerando um
isolamento social quase patológico. Nas escolas e nos relacionamentos afetivos a
intolerância e a indiferença ganham cada vez mais espaço. O mundo
contemporâneo diz que para você ser feliz precisa ostentar bens materiais e te incita
a buscar uma felicidade externa. Quanto mais vamos em busca dessa felicidade,
menos a encontramos e fica um vazio. Ficamos tão hipnotizados pelo poder
oferecido pelos altos padrões que nos esquecemos de olhar para dentro, de prestar
atenção aos nossos sentimentos e inevitavelmente às pessoas que nos cercam.
Mas não é apenas isso. Além de trabalhar exaustivamente para conquistar o
padrão exigido pela mídia, temos que ser bons pais, maridos, esposas, filhos. Pais e
filhos reclamam da falta de tempo juntos e entram num jogo de chantagem e
permissividade para compensar essa falta que nem se dão conta do mal que estão
fazendo uns com os outros. Insatisfação, revolta, desejo de chamar atenção, falta de
limites, agressividade entre outros são características da adolescência que se não
forem devidamente cuidadas podem transformar-se em bullying e futuramente em
graves distúrbios de conduta.
É preciso dar atenção aos nossos adolescentes e em suas estruturas
familiares. A escola deve ser parte atuante nesse processo. É possível através de
medidas simples como debates e dramatizações sobre o tema diminuir os casos que
chegam aos consultórios. Mas os que chegam precisam ser ouvidos com atenção e
sem julgamentos, independente do seu papel no drama escolar e familiar.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.
Aramis, A. Lopes Neto.Bullying: comportamento agressivo entre estudantes. Jornal
de Pediatria (RJ) vol 81 n.5 suppl 0. Porto Alegre Nov 2005 – www.scielo.br
Aucouturier, B. O Método Aucouturier: fantasmas de ação e prática psicomotora.
Aparecida, SP: Idéias & Letras, 2007.
Castillo, G. Violência Escolar. http://educacao.aaldeia.net/violencia-escolar/, ativo em
16/08/10.
Lira, F. C. Etapas da Adolescência. http://educacao.aaldeia.net/etapas-
adolescencia/, ativo em 16/08/10
Medipédia: www.medipedia.pt, ativo em 16/08/10
Organização Mundial de Saúde: www.who.int, ativo em 16/08/10.
Sei Centro de Desenvolvimento e Aprendizagem: http://sei-
online.net/especialidades/psicologia-psicomotora.html
Silva, Ana Beatriz B. Bullying: mentes perigosas nas escolas. Rio de Janeiro:
Objetiva, 2010.