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FILOSOFIA
"Por que, pergunto, tão poucos conhecem e compreendem o poder
interno?
... Aquele que em si mesmo vê todas as coisas é todas as coisas."
~ Giordano Bruno ~
~ O Caminho da Filosofia ~
O mundo é um livro no qual o eterno Juízo
Escreveu os seus pensamentos; o templo vivo onde
Em si mesmo pintando belas figuras
Ornamentou inteiramente a imensa circunferência.
Aqui, pois, todo homem deveria ler, com o olhar descobrir
Como viver, governar, e temer
A impiedade; e ao ver em toda parte Deus,
Ser usado e compreender a mente universal.
Mas nós nos vinculamos aos livros e templos mortos
Copiados com erros sem conta do que é vivo
Esses, mais nobres que aquela escola, dita sublime.
Oh, possam nossas desajuizadas almas ser conduzidas
À verdade, através da dor, do pesar, da angústia e da luta!
Voltemo-nos e leiamos o único original.
(Soneto de Campanella, escrito em sua prisão de Nápoles)
~ A Filosofia da Lógica ~
~ Gibran Kahlil Gibran ~
Salem Effandy meditava sobre o que lia e sentia-se tomado de
admiração pelos filósofos e sábios do Leste e do Oeste.
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"Conhece-te a ti mesmo" — ele repetia Sócrates, quando deu um salto
de sua cadeira, estendeu os braços e exclamou: — "Na verdade, devo
conhecer a mim mesmo e penetrar na parte secreta de meu coração;
assim ter-me-ei livrado da dúvida e da ansiedade. Minha dúvida
suprema consiste em separar meu ser ideal de meu ser material e,
depois, transmitir os segredos de minha existência abstrata."=
Tocado por um raro fervor, seus olhos brilharam de interesse pelo
conhecimento, pelo autoconhecimento.
Depois, Daybis dirigiu-se ao quarto contíguo e postou-se de pé como
uma estátua em frente a um espelho, contemplando seu aspecto
espectral e analisando o formato de sua cabeça e de seu rosto, o tronco
e os membros do corpo.
Permaneceu nessa atitude por meia hora, como se o Saber Celestial se
estivesse derramando sobre ele como maravilhosos e exaltados
pensamentos nos quais os segredos de sua alma estivessem sendo
revelados e enchendo seu coração de luz. Então, Daybis lentamente
abriu a boca e dirigiu-se a si mesmo: — "Sou pequeno em estatura, mas
pequenos também eram Napoleão e Victor Hugo. Tenho uma testa
estreita, mas também Sócrates e Spinoza tinham traços semelhantes.
Sou careca, como Shakespeare. Meu nariz é grande e torto como os de
Voltaire e George Washington. Tenho olhos fundos, mas também
Paulo, o Apóstolo, e Nietzsche os tinham. Tenho os lábios grossos de
Luís XIV e meu sólido pescoço é exatamente como os de Aníbal e
Marco Antônio."
Depois de uma pausa, Salem Effandy continuou:
— "Minhas orelhas são longas e deveriam adornar a cabeça de um
animal, mas Cervantes tinham tais orelhas. Apesar das maçãs
protuberantes, minhas faces são encovadas; mas assim também eram as
de Lafayette e Lincoln. Meu queixo é recuado, semelhante aos de
William Pitt e Goldsmith. Um de meus ombros é mais alto que o outro,
mas os de Gambetta tinham idêntico formato. As plantas de minhas
mãos são grossas demais e meus dedos também curtos em excesso, e
nisso me pareço com Eddington."
"Meu corpo está entre os magros, mas esta é uma característica comum
aos grandes pensadores. Parece estranho que não me possa acomodar
para escrever ou ler sem ter minha cafeteira por perto, como Balzac.
Além disso, tenho inclinação para relacionar-me com pessoas vulgares
e, nesse particular, lembro Tolstoi. Às vezes, fico três ou quatro dias
sem lavar as mãos e o rosto. Desse modo se comportavam Beethoven e
Walt Whitman. Também parece estranho que eu tenha tempo para me
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distrair ouvindo as tagarelices das mulheres sobre seu comportamento
quando os maridos estão ausentes. Isto é exatamente o que fazia
Boccaccio. Minha sede de vinho excede as de Marlowe, Abi Nowas e
Noé, e minha gulodice ultrapassa as do Emir Bashee e de Alexandre, o
Grande."
Depois de outra pausa, Salem Effandy tocou a testa com a ponta dos
dedos sujos e prosseguiu:
— "Este sou eu, esta, a minha realidade. Possuo todas as qualidades dos
grandes homens, do começo da História aos contemporâneos. Um
jovem com tais predicados está destinado a grandes realizações."
"A essência da sabedoria é o autoconhecimento. De hoje em diante,
devo começar o grande trabalho para o qual fui destinado pelo Grande
Pensamento deste universo que plantou nas profundezas de meu
coração certos elementos visíveis. Acompanhei os grandes homens do
tempo, de Noé a Sócrates, passando por Boccaccio a Ahmad Farris
Shidyak.
Não sei por que grande feito devo começar, mas um homem que tem
unidas em seu ser místico e em sua pessoa verdadeira todas estas
qualidades místicas amoldadas pelas mãos dos dias e inspiração das
noites é, indubitavelmente, capaz de realizar grandes coisas.
Tomei conhecimento profundo de mim mesmo; sim, e a divindade me
conheceu. Longa vida para minha alma, a vida longa para mim. Que o
universo dure para sempre, de modo que eu possa realizar os meus
propósitos."
E Salem Effandy andava para um lado e outro no quarto, a face feia
brilhante de alegria; e, num tom de voz que se assemelhava ao miado
de um gato mesclado a um ranger de ossos, ele repetia este verso de
Abi'Al-Ala' Al-Ma'rri:
Apesar de ser o último destes tempos
Devo levar avante aquilo que
os patriarcas não conseguiram.
E, logo, nosso amigo recostou-se na cama imunda e adormeceu, ainda
vestido com suas roupas amarrotadas, e o seu roncar era tão alto quanto
o ruído da mó de um moinho.
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~ Concordância e Axiomas ~
Sócrates, grande filósofo ateniense, condenado a morrer pela ingestão
de cicuta,
porque ensinara a sabedoria interior que libertava a mente dos homens.
~ Platão ~
Nasceu em Atenas, em 427 a.C. Morreu em 347 a.C. Sua mãe,
Perictione, remontava sua ascendência a Solon. Recebeu ele o nome de
Platão por causa de sua compleição robusta, em substituição a seu
nome original, que era Aristocles, nome de seu avô. Alguns afirmaram
que ele recebeu o nome de Platão devido à liberalidade do seu estilo, ou
à amplitude de sua testa, como sugeriu Neanthes.
Conta-se que Sócrates, em sonho, viu um pequeno cisne em seu colo, o
qual logo adquiriu penas e saiu voando, emitindo um canto alto e
harmonioso. No dia seguinte, Platão foi introduzido como discípulo e
Sócrates nele reconheceu o cisne do sonho.
E quando falou sobre a tirania, sustentando que o interesse exclusivo do
soberano não era o melhor objetivo, a menos que ele fosse
preeminentemente virtuoso, ofendeu a Dionísio (o Soberano), que,
irritado, exclamou: "Tu falas como um velho caduco". "E tu como um
tirano", retorquiu Platão.
Após ter percorrido todo o país, ele finalmente se estabeleceu na
província de Sais (Faraó Egípcio), aprendendo com os sábios o que eles
tinham a dizer sobre o universo; se este tivera começo e se isto seria
então, no todo ou em parte, conforme com a razão.
Alguém afirmou que "Platão copiou de Hermes Trismegistus a parte
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mística de sua filosofia, especialmente no que concerne à Bondade
Divina".
Platão distinguia princípio de elementos. "Princípio é aquilo que não
depende de coisa alguma, anterior, de que possa ter sido gerado.
Elementos são produtos."
Observando a extravagância de algumas pessoas, disse ele: "Estas
pessoas constroem como se fossem viver para sempre, e comem como
se fossem morrer logo depois".
A Filedônio, que o criticava por ser tão diligente para aprender quanto
para ensinar, e lhe perguntou por quanto tempo pretendia ser discípulo,
respondeu Platão: "Enquanto não sentir vergonha de me aprimorar e me
tornar mais sábio".
— "A verdade, ó estranho, é uma coisa bela e desejável, porém, é uma
coisa de que é difícil persuadir os homens."
Aristóteles e Platão
~ Aristóteles ~
Nasceu em Stagira, cidade da Trácia, em 384 a.C., 44 anos após o
nascimento de Platão. Era descendente de uma longa família de
médicos. Morreu em 322 a. C.
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Os pais de Aristóteles faleceram quando ele era ainda muito jovem; em
conseqüência, ele foi criado e educado por Proxenus. Em gratidão por
Proxenus ter cuidado de sua educação, Aristóteles não só educou o
filho de Proxenus, do mesmo modo, mas, adotou-o como seu filho e,
juntamente com seus bens, legou-lhe sua filha.
Aos dezessete anos, Aristóteles tornou-se discípulo de Platão, em
Atenas, e com ele estudou durante vinte anos. Platão gostava muito
dele e admirava sua agudeza de compreensão e sua diligência nos
estudos, chamando-o de a "mente da escola". Com a morte de Platão,
seus discípulos separaram-se em dois grupos; os Peripatéticos da
Academia e os Peripatéticos do Liceu. Aristóteles tornou-se o líder dos
últimos.
No Liceu, Aristóteles ensinava e discursava sobre filosofia para aqueles
que o procuravam, caminhando constantemente, todos os dias, até o
momento da sagração, que os gregos praticavam antes das refeições. Os
discursos, as doutrinações que ele pregava aos seus discípulos eram de
duas espécies: exotericke acroatick. Aristóteles ensinava a disciplina
acroatick no Liceu, pela manhã, não admitindo que qualquer pessoa
assistisse, mas, somente aquelas cuja inteligência, cuja disposição de
aprender e diligência no estudo, ele tivesse antes testado. Suas
conferências exoterick eram realizadas à tarde e à noite; estas ele fazia
para os jovens em geral, chamando as últimas de passeios noturnos e,
as primeiras, de passeios matinais.
Quando lhe perguntaram por que ensinava os outros a falar e vivia
calado, respondeu: "Uma pedra de amolar não pode cortar, mas afia
espadas". E ao lhe perguntarem quem seria capaz de guardar um
segredo: "aquele que fosse capaz de manter uma brasa na boca". E
quanto à maneira como alguém poderia enriquecer: "sendo pobre em
desejo".
Tendemos a pensar em Aristóteles como um intelecto encarnado; no
entanto, seu testamento é a mais clara prova de uma natureza
agradecida e afetuosa.
Quando lhe pediram que definisse a esperança, replicou: "Um sonho
em estado desperto". À pergunta, "Que é um amigo?" respondeu: "uma
única alma habitando dois corpos".
Consta que Aristóteles teria dito, num momento de dificuldade:
"quando as coisas não acontecem como preferiríamos, temos de preferir
conforme elas acontecem."
Três coisas considerava ele indispensáveis à educação: dom natural,
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estudo e prática constante.
~ Sócrates ~
Nasceu em Atenas, em 469 a.C. Era filho de Sophroniscus, um
escultor. Morreu em 399 a.C. Disse ele que "A Filosofia é o caminho
para a verdadeira felicidade, e suas funções são duas: contemplar a
Deus e abstrair a alma da percepção sensorial."
— "A alma é imortal, pois, aquilo que é sempre móvel é imortal; mas,
aquilo que move outra coisa, ou é movido por outra coisa, deixa de ter
movimento e vida."
Ele se admirava "daqueles que esculpiam imagens de pedra, pois, muito
se empenhavam em fazer com que as pedras se assemelhassem aos
homens, enquanto negligenciavam a si mesmos e se tornavam
semelhantes a pedras."
Perguntado sobre qual seria a mais forte cidade, respondeu, "aquela
que tivesse bons homens". Inquirido sobre qual seria a mais ordeira
cidade, disse, "aquela cujos magistrados concordassem
amigavelmente". E sobre qual seria a melhor cidade, disse, "aquela que
oferecesse mais recompensas para a virtude". Perguntado sobre qual a
cidade que viveria melhor, respondeu, "aquela que vivesse conforme a
lei e punisse os injustos".
A vestimenta de Sócrates era a mesma no inverno e no verão, e ele
usava essa roupa o ano inteiro; não usava sapatos e se alimentava com
frugalidade. Às vezes cobria o rosto, enquanto discursava, para que não
fosse distraído por qualquer coisa que visse.
Era tão religioso que nunca fazia alguma coisa sem primeiro se
aconselhar com os deuses, e nunca se ouviu dizer que ele tivesse
pronunciado alguma irreverência.
— Quando lhe perguntaram qual era seu país de origem, respondeu:
"Nem Atenas, nem a Grécia, e sim, o mundo".
— Observando a grande variedade de coisas expostas à venda, pensava:
"Quantas coisas existem de que eu não necessito".
— A outros que pediram sua opinião sobre o casamento, disse: "... um
peixe apanhado numa rede tenta sair, e os que estão fora tentam entrar.
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Cuidado, meu jovem, para que não te aconteça o mesmo".
— Não damos mais valor ao milho que cresce no solo mais belo, e sim,
àquele que mais alimenta; nem consideramos uma boa pessoa, ou um
bom amigo, aquele que nasce no mais rico berço, mas, aquele que tem
as mais nobres qualidades".
— "Um navio não deve depender de uma só âncora, nem a vida de uma
só esperança."
~ Demócrito ~
Nasceu em 460 a.C., em Abdera. Foi discípulo de certos Magos e
Caldeus. Morreu em 357 a.C. Demócrito viajou para o Egito, a fim de
aprender geometria com os sacerdotes, e também para a Pérsia. Consta
que esteve associado aos gimnosofistas da Índia e viajou também para a
Etiópia. Era versado em todos os campos da filosofia, pois, instruiu-se
em física, ética, e nos tópicos comuns de educação, e era proficiente em
teologia, astronomia e nas artes.
Hipócrates* maravilhava-se da exatidão de suas observações.
Demócrito exercitava-se por vários meios, para testar suas impressões
sensoriais, às vezes buscando a solidão e freqüentando túmulos. Sua
capacidade de predizer eventos futuros foi se intensificando e, com ela,
sua fama, até que o povo passou a considerá-lo digno das honras
tributadas a um deus.
Seu caráter pode ser inferido da seguinte declaração: "Alguns existem
que, por não prestarem atenção ao que acontece com outras pessoas,
perecem por suas próprias más ações, atentando para as coisas
manifestas não mais do que se elas não fossem manifestas, e, no
entanto, eles dispõem de um vasto passado, de coisas feitas e não feitas,
pelo qual poderiam orientar sua vida e pelo qual todos podemos prever
o futuro".
Quando Hipócrates lhe perguntou por que ele estava sempre tendo
crises de riso, Demócrito respondeu: "Tu pensas que existem duas
coisas que provocam meu riso, as boas e as más, porém, na verdade, eu
rio de uma só coisa: dos homens, cheios de insensatez, incapazes de
ações corretas, viajando para os confins da terra e deparando-se com
profundezas insondáveis, para conseguir prata e ouro, nunca cessando
de acumulá-los e, com seu tesouro aumentando seus próprios
problemas, para evitar que, por não terem essas coisas, sejam
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considerados infelizes".
Desprezava a fama e era grande admirador de Pitágoras, visto que
muitas de suas idéias parecem ter sido inspiradas neste filósofo.
— "Assim como um corpo gordo corre maior risco de adoecer, um
Estado poderoso corre maior perigo de cair; as grandes mentes se
revelam nos momentos críticos."
— "Ninguém ri de sua própria loucura e, sim, da loucura dos outros."
__________
* Discípulo de Demócrito
~ Pitágoras ~
Nasceu em 582 a.C. Pitágoras era filho de um gravador de jóias, de
Samos. Morreu em 500 a.C., aos 82 anos de idade. Pitágoras deu início
à filosofia da Itália. Era tão sequioso de conhecimento que, ainda
jovem, deixou seu país e se fez iniciar em todos os mistérios e ritos,
não só da Grécia, mas, também de nações estrangeiras, passando vinte
e dois anos no Egito e doze na Babilônia. Consta que foi o primeiro a
declarar "que a alma, ora presa nessa criatura, ora naquela, segue assim
um ciclo, necessariamente determinado".
Pitágoras usava uma estola branca imaculada, um manto branco de lã,
turbante e veste amarelo-ouro. Dada sua dieta frugal, conservava o
corpo em constante boa forma; dir-se-ia, por sua fisionomia, que sua
alma conservava a mesma constância. Não estava sujeito a alegria nem
a pesar; nunca foi visto regozijando-se nem se lamentando. Pretendia
que seus discípulos alcançassem comunhão com os deuses, por meio de
visões e sonhos, o que não pode ocorrer com uma alma perturbada pelo
ódio ou o prazer, ou qualquer outra excitação inarmônica, ou pela
sensualidade ou uma rígida ignorância de tudo isto. Ele purificava
perfeitamente a alma de todas essas coisas, inflamava sua parte divina e
a preservava, e nela dirigia a divina visão intelectual, que é melhor do
que mil olhos físicos, porque somente por meio dessa visão pode a
verdade ser compreendida; deste modo empenhava-se Pitágoras na
purificação do intelecto.
Pitágoras sustentava que o primeiro rudimento de sabedoria consistia
em aprender a meditar e a não falar. Durante cinco anos, seus
discípulos tinham de manter silêncio, limitando-se a escutar seus
discursos, sem vê-lo. A finalidade desse silêncio era de que a alma se
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voltasse para si mesma, desviando-se das coisas externas, das paixões
irracionais que nela se manifestassem, bem como do corpo, dirigindo-
se inteiramente para sua própria vida, que deverá persistir para sempre;
ou de que seus discípulos, alheados às coisas tangíveis, pudessem
buscar a Deus com mente pura. Assim, nada ensinava a seus discípulos
antes do silêncio, a primeira meditação.
Quando eles haviam aprendido estas coisas, as mais difíceis, ou seja, a
permanecer quietos e escutar, e estavam já desenvolvidos no silêncio,
era-lhes permitido falar, levantar questões e escrever o que escutavam
ou o que concebiam. Pitágoras não determinava a mesma duração do
silêncio para todos; os discípulos mais circunspectos tinham o tempo de
silêncio reduzido.
Pitágoras entregava-se a práticas matutinas, extravasando sua própria
alma ao som da lira, entoando algumas canções de Tales, bem como
versos de Homero, para com isto serenar ainda mais a sua mente. Além
disso, executava algumas danças, que concebera para manter a
agilidade e a saúde física. Descobriu as pausas musicais, ao
monocórdio, e aperfeiçoou a Geometria.
Um pitagórico não se levantava da cama antes que recordasse as ações
do dia anterior, na ordem de ocorrência. E, se após ter-se levantado
dispusesse de algum tempo livre, do mesmo modo esforçava-se para
relembrar tudo o que lhe ocorrera três dias antes. Assim exercitavam os
pitagóricos principalmente a memória; pois, concebiam que nada
poderia levar mais eficientemente a ciência, experiência e prudência, do
que recordar coisas. Pitágoras aconselhava todo mundo a repetir para si
mesmo os seguintes versos, antes de dormir:
"Não feche os olhos à noite, para dormir,
Antes que três vezes teus atos tenhas repassado;
Que erros cometeste? Que atos praticaste? Que dever não
cumpriste?"
E, antes de levantar-se:
"Tão logo acordes, em ordem deves pôr
As ações a serem praticadas durante o dia."
~ Empédocles ~
Nasceu em Agrigentum, aproximadamente em 490 a.C. Morreu cerca
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de 424 a.C. Consta que seu avô era um homem nobre. Aristóteles
qualificou Empédocles como inventor da retórica. Este pertencia à
Escola Homérica; era extremamente eloqüente e proficiente no uso de
metáforas e outros recursos poéticos.
Empédocles foi discípulo de Anaxágoras e Pitágoras e imitava, o
primeiro, em sua conduta e sobriedade e, o segundo, em sua
organização. Foi ainda considerado terapeuta e excelente orador, e
consta que realizou proezas mágicas. Tornou-se famoso por ter curado
uma mulher que fora desenganada por todos os médicos. Mas a cura
mais notável que efetuou foi a de uma mulher que estava acamada fazia
dias, sem respiração e sem pulso, em nada diferindo de um cadáver,
exceto por um ligeiro calor na região abdominal. Empédocles informou
Pausanias da natureza do estado da mulher e explicou que esta poderia
sobreviver por trinta dias, sem respirar nem comer. Com isto, tornou-se
ele conhecido como terapeuta e profeta.
Sustentava Empédocles que existiriam quatro elementos e que sua
contínua transformação, como ele próprio afirmava, "nunca cessa, ora
unificando-se todas as coisas pelo Amor, ora sendo elas impelidas em
diferentes direções pelo ódio nascido da discórdia".
Conta-se que, quando o povo de Selinus estava sofrendo uma
pestilência, devido aos odores fétidos emanados do rio, e morriam
muitas pessoas, Empédocles concebeu o plano de desviar dois rios
próximos para aquele lugar, a sua própria custa, e que, com a mistura
dos rios, purificou as águas.
Valendo-se de seus grandes recursos, Empédocles concedia dotes a
muitas moças da cidade que não os tinham. Eram sem dúvida os
mesmos recursos que lhe permitiam usar uma veste púrpura com cinto
dourado, sandálias cor de bronze, uma coroa de louros délfica, e manter
um grupo de jovens criados. Estava sempre circunspecto e mantinha
esta atitude inabalável. Ao encontrá-lo em público, os cidadãos
reconheciam em seu porte um sinal de realeza.
Empédocles foi um paladino da liberdade, opondo-se a qualquer
espécie de dominação; ele próprio recusou a realeza, quando esta lhe
foi oferecida, obviamente por preferir uma vida modesta.
~ Tales ~
Consta que Tales nasceu em Mileto em 585 a.C., o ano do eclipse. Era
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descendente de uma família nobre e foi o primeiro a receber o título de
"Sábio", que foi atribuído aos Sete Sábios. Morreu aos noventa anos de
idade, quando assistia aos jogos de um festival.
Ele passava a maior parte do tempo viajando; foi para Creta, a fim de
aprender os mistérios de sua religião. Sua última viagem (já em idade
avançada) foi para o Egito (conforme ele próprio informou em sua
epístola a Perécides), com o fim de conferenciar com sacerdotes e
astrônomos.
Ali estava ele (no Egito), no reino de Amasis, por quem era muito
favorecido e admirado, por muitos motivos, especialmente por ter
medido a altura das pirâmides em função de sua sombra.
Quando Molpágoras, eminente personalidade da Jônia, perguntou-lhe
qual fora a coisa mais estranha que ele já vira, respondeu: "Um tirano
senil". Perguntado sobre o que seria Deus, respondeu Tales: "Aquilo
que não tem começo nem fim".
Quando lhe perguntaram se um homem poderia fazer um mal e ocultá-
lo a Deus, respondeu: "Ora, quando um homem pensa nisso, já não
pode ocultá-lo".
— "O mais antigo de todos os seres é Deus, porque ele não foi gerado;
a mais bela de todas as coisas é o mundo, porque é obra de Deus."
Afirmou Tales que o mundo é animado e Deus é a sua alma, difusa por
toda parte e cuja virtude movente penetra através do elemento água.
Declarou, também, que a matéria é fluída e variável, e que o
movimento é produzido pela composição dos elementos.
Asseverou que não há diferença entre a vida e a morte; quando então
lhe perguntaram por que não morrera, disse: "Porque não faz
diferença". A alguém que perguntou qual era o mais velho, a noite ou o
dia, respondeu: "A noite, por um dia".
E quando lhe perguntaram o que era difícil, respondeu: "Conhecer a si
mesmo"; o que era fácil, "ser dirigido por outro"; o que era agradável,
"seguir a própria vontade"; e o que era divino, "aquilo que não tem
começo nem fim".
— "É difícil, porém bom, conhecermos a nós mesmos, pois, isto é viver
conforme a natureza."
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Conta-se que, quando sua mãe tentou forçá-lo a se casar, replicou que
era cedo demais, e, quando ela voltou a pressioná-lo, um tempo depois,
respondeu que era tarde demais.
Hieronimus de Rodes, no segundo tomo de suas notas esparsas, conta
que, para mostrar como era fácil enriquecer, Tales, prevendo uma boa
safra de azeitonas, arrendou todos os moinhos de azeite e ganhou uma
fortuna.
~ Heráclito ~
Nasceu em Éfeso, durante a 69.ª Olimpíada, ou seja, aproximadamente
em 536 a.C. Desde a infância, revelou-se excepcional. Morreu aos
sessenta anos de idade, após ter sofrido de hidropisia.
Respondendo a um convite do Rei Dario, da Pérsia, para passar algum
tempo no palácio do monarca, expondo sua filosofia, disse Heráclito:
"Todos os homens da Terra mantêm-se alheios à verdade e à justiça, ao
mesmo tempo que, por sua pecaminosa insensatez, devotam-se à
avareza e à sede de popularidade. Eu, porém, estranho a toda
corrupção, esquivando-me à saciedade geral que está intimamente
associada à inveja, e porque tenho horror ao esplendor, não poderia ir à
Pérsia, contentando-me com pouco, segundo a minha própria opinião."
— "Ó vós, homens ignorantes, dizei-nos primeiro o que é Deus, a fim
de que, quando nos chamardes de ímpios, mereçais crédito. Onde está
Deus? Trancados em templos? Ó homens piedosos, que colocais Deus
nas trevas! É um insulto a um homem, dizer-lhe que ele é pedra; mas de
Deus professais, como verdade e em Seu louvor, que ele nasceu da
pedra. Gente ignorante! Não sabeis que Deus não é feito por mãos, nem
tem qualquer alicerce por onde tenha começado; nem está limitado,
mas o mundo inteiro, adornado com seres vivos, plantas e estrelas, é a
sua mansão."
— "O estudo profuso não ensina discernimento; ... isto é sabedoria,
entender o pensamento como aquilo que rege o mundo em toda parte."
— "Há mais necessidade de extinguir a insolência do que a irrupção de
um incêndio."
— "Da alma nunca encontrareis os confins, mesmo que a sigais por
todos os caminhos; tão profunda é a sua origem."
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~ Arnaldo Poesia ~
Não deixe de ver:
A Escola de Atenas
© Arnaldo Poesia, Le Monde de Paris, Quinzaine Littéraire, 1997/2008.
Tous droits de traduction et d’adaptation réservés pour tous pays.
Bibliografia: Yates, Frances A., Giordano Bruno e A Tradição Hermética – Editora
Cultrix – São Paulo, 1964.
Gibran, Gibran Kahlil, Mensagens Espirituais – Distribuidora Record – Rio de
Janeiro, 1974.
Arnaldo Poesia, Leituras de Filosofia – Edição do Autor – Niterói, 1985.
Copyright © Starnews 2001
All rights reserved.
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