O documento discute as vantagens e desvantagens do capital de risco como uma forma de financiamento para pequenas e médias empresas. As vantagens incluem não ter um plano de reembolso rígido, participação no risco e retorno, e aconselhamento de gestão. As desvantagens incluem taxas de retorno elevadas que podem retirar controle do empreendedor e objetivos conflitantes entre investidores e empreendedores.
1. Capital de risco: vantagens e desvantagens
Parte 1 - Vantagens
O Capital de Risco tem por objetivo financiar pequenas e médias empresas, em início
de atividade ou transformação e expansão, apoiando o seu desenvolvimento e
crescimento, tendo por finalidade o sucesso empresarial e o lucro.
Mesmo que o capital de risco possa parecer a melhor solução de financiamento para o
seu negócio, é muito importante ter em atenção as vantagens e as desvantagens desta
estratégia de financiamento; comparando-a com as estratégias utilizadas face às
opções de financiamento, noutras empresas com uma situação financeira semelhante,
e/ou num nível de desenvolvimento equiparável.
Só assim estará minimamente confortável para tomar uma decisão, financiamento
bancário ou capital de risco, ou ainda um mix ou nada disso e vai encontrar uma outra
forma de financiar o seu projeto.
De uma forma resumida as vantagens do capital de risco são as seguintes:
Uma vez que o capital de risco é um financiamento sem um plano de reembolso;
o que significa que o empreendedor não tem que pagar a dívida de acordo com
um plano de reembolso ao longo de um determinado período, os capitais têm
uma estabilidade superior aos empréstimos – bank loan.
O capital de risco é diferente do financiamento bancário, este não tem qualquer
participação no risco empresarial. O direito ao retorno do capital investido num
financiamento bancário e a remuneração do capital – juro, são garantidos,
independentemente do sucesso ou insucesso da empresa. O Capital de Risco,
pelo contrário, participa diretamente no capital social das empresas, apoiando a
sua gestão e tentando maximizar o lucro, uma vez que o retorno do seu
investimento está dependente dos resultados obtidos.
Os bancos exigem garantias reais, sendo os empréstimos garantidos por bens
transacionáveis, principalmente imóveis, da própria empresa ou dos avalistas.
Se os pagamentos do capital falharem, o credor pode acionar diversos
mecanismos legais, até à insolvência da empresa e penhora dos bens do
avalista. O capital de Risco não é garantido.
A SCR encontra-se na posição de acionista, assumindo uma efetiva parceira de
negócios, sendo o retorno do investimento o resultado dos ganhos decorrentes
da alienação da participação ou desinvestimento.
Mas o Capital de Risco não é um lender of last resort. O objetivo do capital de
risco é realizar uma entrada de dinheiro como contrapartida de uma participação
e intervindo diretamente na gestão da empresa, implementar soluções
profissionais, desenvolver estratégias de eficiência na produção e distribuição,
marketing e promoção, e assim contribuir para a valorização do negócio.
Outro aspeto importante a ter em conta é o grau de intervenção na gestão.
Muitas empresas de capital de risco tem consultoria e profissionais com grande
know-how. Estes profissionais podem ajudar na gestão da start-up e evitar desta
forma um conjunto de problemas que podem no limite inviabilizar a rentabilidade
de um negócio.
2. Ser um bom empreendedor não significa automaticamente que se seja um bom
empresário. A partir do momento em que uma sociedade de capital de risco
(SCR) realize uma percentagem do capital de um negócio, ficarão definidos os
termos de partilha da gestão de cada parte interessada. Se o empreendedor não
for um bom gestor, essa partilha pode vir a ser um benefício significativo para o
projeto.
Na medida em que a SCR pretende a maximização do retorno do investimento
efetuado estas sociedades têm frequentemente consultores de RH (que são
especialistas em contratação de talentos) para contratar os melhores
funcionários para o negócio. Isso pode ajudar o empreendedor a evitar a
contratação de pessoas erradas.
Atendendo a que as empresas de capital de risco estão sob rigorosa supervisão
por organismos reguladores, existe uma segurança sobre a credibilidade e as
condições de solvabilidade destas entidades.
Atendendo à regulação e supervisão das SCR, fica claro para todos qual a sua
estrutura de capitais, quais os limites de intervenção, as suas contas têm que
ser supervisionadas e existe um quadro legal específico para as atividades que
estas sociedades podem exercer.
3. Quadro resumo das vantagens do capital de risco face ao endividamento tradicional. Foi escolhido o endividamento tradicional como seria
possível fazê-lo relativamente a outro instrumento de financiamento.
Capital de risco Endividamento
Prazo Médio e longo prazo Prazo de acordo com as necessidades de financiamento
Posição face ao
risco
Financiamento com o objetivo de crescimento e valorização do
negócio. Análise do risco feita à cabeça. Perspetiva de altos
lucros futuros.
Salvaguarda do risco. Análise da situação patrimonial e financeira da
empresa determina a concessão de crédito ou não, assim como os
termos e condições do empréstimo, inclusive as salvaguardas a exigir.
Gestão do risco
A SCR tem sempre por objetivo a valorização máxima do
negócio. Face a situações de alto risco irá trabalhar como
qualquer sócio para encontrar as melhores soluções.
Face a situações de eventuais problemas numa empresa financiada,
os financiadores tradicionais tentarão renegociar a dívida, impondo
mais garantias ou antecipando, no limite, o reembolso, para
salvaguardar a sua posição.
Relação com a
empresa
intervencionada
A SCR é um parceiro de negócio, que partilha os riscos e que
contribui para a sua gestão e valorização. A SCR apoia a
gestão e a inovação, sustentando as ações que possam
contribuir para a sua valorização.
Objetivo principal é o cumprimento dos planos de pagamento e o
reembolso do empréstimo.
Posição credora
A SCR é sócia/acionista nos mesmos termos dos outros
sócios/acionistas. Não existem garantias especiais.
As garantias conferem aos financiadores uma posição privilegiada.
Contrapartidas
financeiras
Pagamento de dividendos e amortização de capital
dependentes dos resultados das empresas intervencionadas.
Planos pré-definidos de reembolso e pagamento de juros.
Grau na
intervenção na
gestão
Colaboração total, intervenção na gestão.
Análise do risco de solvabilidade e exigência de garantias
patrimoniais. Não há intervenção direta na gestão.
Rentabilidade
do investimento
A rentabilidade do investimento em capital de risco depende
dos resultados do negócio.
O retorno depende do cumprimento do plano de pagamento e da
continuidade da situação patrimonial, apresentada como garantia.
4. Capital de risco: vantagens e desvantagens
Parte 2 - Desvantagens
Algumas SCR, face ao elevado risco que assumem, exigem taxas de retorno muito elevadas. Em muitos casos, podem acabar por exigir
o controlo patrimonial do negócio, retirando ao empreendedor qualquer margem para gerir o seu projeto.
Muitas vezes as SCR exigem que as equipas de gestão tenham pelo menos um membro escolhido pela sociedade. Este membro vai
estar essencialmente focado na obtenção do retorno desejado pelo novo acionista. Isso pode trazer alguns problemas internos por
incompatibilidade de objetivos ou perspetivas distintas de gestão do negócio.
Ainda dos problemas a referir e de acordo com o mencionado no ponto anterior, qualquer decisão estratégica que o empreendedor,
pretenda fazer, nomeadamente, internacionalização das operações, parcerias estratégicas operacionais, comerciais ou técnicas,
alavancagem de operações, ou outra decisão que impacte nos objetivos estratégicos e financeiros do projeto pode obter da parte da SCR
uma recusa, se estes não estiverem de acordo com os objetivos iniciais, ou seja, os objetivos definidos à data da entrada no capital feito
pela SCR.
As SCR de uma forma geral respeitam as informações confidenciais de negócio, no entanto geralmente estas sociedades recusam
assinar acordos de não divulgação devido às implicações legais. Isso pode colocar em risco alguns projetos.
A maioria das SCR não liberta todos os fundos necessários à cabeça. Em vez disso, libertam os fundos de acordo com um plano de
expansão e os estágios de desenvolvimento do projeto. O empreendedor tem de avaliar se essa é a melhor forma de financiar o seu
projeto.
Normalmente, as SCR querem fechar o negócio e reaver o seu investimento num prazo relativamente curto - três a cinco anos. Se o
plano de negócios do empreendedor contempla um calendário mais alargado antes de fornecer liquidez, e se o empreendedor tiver a
noção de que, no final do período de investimento da SCR, ele não terá capacidade para negociar empréstimos, junto doutras entidades,
nomeadamente banca, esta pode ser, no início do projeto, uma má solução.