1. Introdução aos Estudos
Geográficos
Fundamentos da Geografia
Prof. Dr. Carlos Henrique Costa da Silva
2. 1. Ao longo da história, a natureza foi
sendo transformada pelo trabalho do
homem, que passou a produzir um
espaço com o objetivo de garantir sua
subsistência. Esse processo de
humanização tornou a natureza cada vez
mais artificializada, graças ao
desenvolvimento de técnicas.
3. • 2. Expandiram-se as áreas agrícolas,
desenvolveram-se as cidades e as
indústrias, construíram-se estradas,
enfim, cada vez mais novas técnicas
foram sendo incorporadas ao espaço
geográfico, transformando-o.
4. • Poucos lugares da superfície terrestre ainda não
sofreram transformações. Porém, mesmo esses
lugares, como no interior da Floresta Amazônica
ou nas calotas polares, o território está
delimitado, existe ingerência política, estão
sujeitos a acordos internacionais e neles atuam
interesses, ligados aos que buscam sua
preservação e aos que desejam explorá-los de
forma predatória. Ou seja, mesmo em um meio
natural, aparentemente intocado, existem muitas
relações políticas, econômicas, culturais e
ambientais que não são visíveis na paisagem.
5. • 3. Assim, a paisagem é somente a
aparência da realidade, aquilo que nossa
percepção capta. Embora as paisagens
estejam impregnadas das relações
sociais, econômicas e políticas travadas
entre os homens, essas relações não são
facilmente percebidas por todas as
pessoas, sendo necessário desvendá-las
para que o espaço geográfico possa ser
apreendido em sua essência. Isso requer
estudos, pesquisas.
6. • 4. Desde a Antiguidade muitos autores elaboraram
estudos que podem ser considerados geográficos,
embora o conhecimento fosse disperso e desarticulado,
vinculado à filosofia, à matemática e às ciências da
natureza.
• Na Grécia Antiga, Heródoto, Hipócrates e Aristóteles,
entre outros, analisaram a dinâmica dos fenômenos
naturais, elaboraram descrições de paisagens e
estudaram a relação homem-natureza.
• Na Idade Média, Cláudio Ptolomeu fez importantes
estudos geográficos e cartográficos registrados em sua
obra Síntese Geográfica. A expansão marítima européia
também proporcionou grandes avanços aos estudos
geográficos.
7. • No entanto, somente em meados do
século XIX, dois pesquisadores alemães _
Alexander Von Humboldt (1769-1859) e
Karl Ritter (1779-1859) _ fundaram a
geografia como ciência, ou seja, uma área
do conhecimento que passou a ser
pesquisada e ensinada nas
universidades, com a gradativa
sistematização de seu arcabouço teórico-metodológico.
8. • No final do século XIX, outro importante
pesquisador alemão _ Friedrich Ratzel
(1844-1904) _ definiu a geografia como
ciência humana, embora na prática a
tenha tratado como ciência natural.
Considerou a influência que as condições
naturais exercem sobre a humanidade
como objeto de estudo da disciplina,
dando origem ao “determinismo
geográfico”, influenciado pelas teorias de
Lamarck e de Darwin.
9. • No início do século XX, um geógrafo francês _
Paul Vidal de La Blache (1845-1918) – passou a
criticar o método puramente descritivo e a
defender que a geografia se preocupasse com a
relação sociedade-natureza, posicionando os
seres humanos como agentes que sofrem
influência do meio, mas também agem sobre
ele, transformando-o. Inaugurava, em
contraposição ao “determinismo”, uma corrente
conhecida como “possibilismo”, ambas
posteriormente rotuladas como “geografia
tradicional”.
10. • 5. Assim, até meados do século XX a grande
maioria dos geógrafos se limitava a descrever
as características físicas, humanas e
econômicas das diversas formações
socioespaciais, procurando estabelecer
comparações e diferenciações entre elas.
Embora tenha tido um importante papel no
desenvolvimento da geografia como ciência, a
geografia tradicional nos legou um ensino
escolar centrado na memorização de mapas e
dados estatísticos sobre população e
economia, juntamente com as características
físicas de clima, relevo, vegetação e
hidrografia.
11. • Essa estrutura perdurou até a segunda
metade do século XX, quando a descrição
das paisagens, com seus fenômenos
naturais e sociais, passou a ser realizada
de forma mais eficiente e atraente pela
televisão, e os geógrafos se viram
obrigados a buscar novos objetos de
estudo que permitissem à geografia
sobreviver como disciplina escolar no
ensino básico e como ramificação das
ciências humanas em nível universitário.
12. • 6. Nesse período, o processo de
mudança do objeto de pesquisa da
disciplina teve seu marco principal na
década de 1970, quando a geografia
passou por um efervescente
processo de renovação em suas
bases teóricas e nos seus métodos
de análise.
13. • Esse processo transformador teve como um dos
pioneiros o geógrafo francês Yves Lacoste. Em
1976 ele publicou A geografia - isso serve, em
primeiro lugar, para fazer a guerra, livro que viria a
balançar as estruturas da geografia tradicional.
Criticava seu conteúdo ideológico a serviço dos
interesses dominantes – político e econômico – e
apontava caminhos para a renovação crítica. No
Brasil um dos pioneiros nesse processo foi o
geógrafo Milton Santos, em seu livro Por uma
geografia nova, publicado em 1978.
14. • Enquanto na França e no Brasil a renovação
teve forte influência do pensamento de
esquerda, sobretudo do marxismo, nos Estados
Unidos à contraposição à corrente tradicional foi
à quantitativa ou pragmática, que criticava a
falta de pragmatismo, o atraso tecnológico da
geografia tradicional e passou a utilizar sistemas
matemáticos e computacionais para interpretar
o espaço geográfico. Essa corrente tecnicista e
utilitarista da renovação, que mascarava os
conflitos e as contradições sociais denunciados
pelos geógrafos críticos, era uma perspectiva
conservadora, a serviço do status quo.
15. • 7. O fim do socialismo real contribuiu para
reduzir a influência do marxismo nas
ciências humanas, o que abriu caminho
para a difusão de outras correntes teórico-metodológicos
na geografia crítica, como
a fenomenologia e o existencialismo, ao
mesmo tempo que as correntes críticas
passaram a valorizar as novas
tecnologias – computadores, satélites etc.
– na interpretação do espaço geográfico.
16. • 8. Atualmente, depois de três décadas de
renovação e com o avanço da
globalização, o crescimento de problemas
como os conflitos étnicos, a questão
ambiental, os movimentos terroristas, as
crises financeiras etc., consolida-se a
certeza de que a geografia é uma
disciplina fundamental para a
compreensão do mundo contemporâneo
nas escalas local, nacional e mundial.