1. O documento discute as dinâmicas de inclusão e exclusão em redes sociais online, com foco no Orkut. 2. É analisado como grupos "estabelecidos" tendem a excluir "outsiders" para reafirmar sua própria identidade. 3. A internet pode amplificar atos de exclusão, mas a alteridade ainda é essencial para a constituição do sujeito.
1. Favela: Outsiders no
Orkut
Letícia Ribeiro Schinestsck
Orientadora: Raquel Recuero
Universidade Católica de Pelotas - UCPEL
2. Sociedade em Rede
• A presença na rede ou a ausência dela e a dinâmica de
cada rede em relação às outras são fontes cruciais de
dominação e transformação de nossa sociedade: uma
sociedade que, portanto, podemos apropriadamente
chamar de sociedade em rede, caracterizada pela primazia
da morfologia social sobre a ação social. (CASTELLS, 1999 p.565)
Mudança dos suportes de informação
• Com os rastros deixados nas redes é possível entender, também, os
novos valores construídos, fluxos de informações divididos e as
mobilizações que emergem no ciberespaço (RECUERO, 2009)
3. • Site de relacionamento baseado na interação
• Idealizado por Orkut Buyukokkten e lançado pelo
Google em 2004
• Perfil - personalidade, gostos, preferências, hobby
• Álbum de fotografias, Comunidades
4. Análise do Discurso
A linguagem não é transparente – Como aquele texto significa?
O indivíduo é interpelado em sujeito pela ideologia e é assim
que a língua faz sentido. Não existe discurso sem sujeito e nem
sujeito sem ideologia. (PECHÊUX,1975)
Não se divide a forma e o conteúdo, mas busca-se aprofundar a
língua não só como uma estrutura, mas como um
acontecimento.
Efeito de sentido entre locutores (ORLANDI,1999)
5. Alteridade
• Antigos Gregos – O homem é constituído através
do olhar do outro. Visão horizontal.
• Sociedade contemporânea – o outro é aquele que
eu discrimino, coisifico e excluo. É tudo aquilo que
eu não sou. Visão vertical.
• Bauman(1994) Teoria da inclusão/exclusão
6. Estabelecidos e Outsiders
A ideia é perceber o par inclusão/exclusão como eixo a
partir do qual as identidades determinam-se e
movimentam-se no Orkut. Entender:
“[...]como e por que os indivíduos percebem uns aos
outros como pertencentes a um mesmo grupo e se
incluem mutuamente dentro das fronteiras grupais
que estabeleceram ao dizer ‘nós’, enquanto que, ao
mesmo tempo, excluem outros seres humanos a
quem percebem como pertencentes a outro grupo e a
quem se referem coletivamente como ‘eles’.
(ELIAS;SCOTSON, 2000, p.37-38)
7. Os quatro pontos
1. A coesão dos estabelecidos gera uma sensação de superioridade até mesmo
no mais miserável entre eles, os outsiders. Excluindo o sujeito, essa coesão
grupal promove a imersão de indivíduos desiguais em um estilo de vida comum,
em normas e condutas coletivas que anarquizam as possíveis resistências
individuais contra a estigmatização dos outsiders.
2. A visibilidade de ambos faz com que as fronteiras fiquem bem definidas, os
lugares demarcados, mesmo que isso tudo esteja longe do que os olhos podem
ver.
3. Sentimentos morais bem definidos são capazes de distinguir-se do outro. O
outsider normalmente é representado e visto como sujo e desprezível, desordeiro
e deficiente.
4. Existe possibilidade entre os espaços para que um grupo outsider venha a se
estabelecer, com o tempo – caso da classe operária – e designar, por sua vez,
outros indivíduos como os seus outsiders.
8.
9. • Coesão dos estabelecidos predomina em todo o texto
• Pronomes possessivos desenham a fronteira entre o ‘eu’ e o ‘outro’, o
estabelecido e o outsider
• Olhar vertical (Bauman 1994) – inclusão/exclusão
• Negrito como reafirmação da frase
10. • Luta de classes e intolerância à inclusão
• Sociedade em rede
• Tentativa de estabelecer o outro como seu outsider
11. Conclusão
Percebemos que, paralelamente ao exercício de promover a inclusão daqueles que
estão às margens, existe uma força contrária vinda do próprio semelhante, atuando para
que o processo inverso aconteça, ou seja, que não prevaleçam as mesmas
oportunidades e a tentativa de compreender o outro, mas que se sobreponha a eles e
os designe tarefas.
Além de amplificar o efeito e multiplicar as consequências, a internet causa a falsa
sensação de proteção, normalmente usada como escudo para tripudiar em cima de
pessoas e reafirmar a soberania ao próprio ego.
O ato de excluir não é novo, mas a internet aparece como uma ferramenta tentadora
para externar pensamentos interiorizados e não precisar arcar com diretamente ou
pessoalmente com as consequências daquele seu ato-pensamento. Como as
reverberações passam a ser primeiramente no espaço online, fica confortável dar um
tapa e esconder a mão. Entretanto, mesmo em uma realidade fria e individualista como
é a contemporânea, a alteridade ainda se faz um requisito indispensável para a
constituição do sujeito.
Mas, ao contrário dos gregos, aqui o olhar é localizado na fronteira de inclusão
onde é preciso estabelecer-se a qualquer custo. As redes sociais estão repletas de
outsiders que saíram do espaço físico para compartilhar com uma sociedade
amplamente conectada, as frustrações corriqueiras que são frutos de um olhar para
o outro que vai, mas não volta.
12. Referencial Teórico
BAUMAN, Zigmunt. Modernidade e Ambivalência. In: FEATHERSTONE, M. Cultura global.
Nacionalismo, globalização, modernidade. Tradução de Attilio Brunetta. Petrópolis: Vozes, 1994
BAUMAN, Zigmunt. Vidas desperdiçadas. Traduçao de C. Alberto Medeiros. Rio de Janeiro:
J.Zahar, 2005.
CASTELLS, Manuel. A sociedade em rede.São Paulo: Paz e Terra, 1999.
ELIAS,Norbert;SCOTSON, John L. Os estabelecidos outsiders. Traduçao de Vera Ribeiro. Rio
de Janeiro: J. Zahar, 2000
PÊCHEUX, M. Semântica e discurso: uma crítica à afirmação do óbvio. Tradução de Eni P.
Orlandi. 2. ed. Campinas, SP: Unicamp, 1995 [1975].
RECUERO, Raquel. Redes sociais na Internet. Porto Alegre: Sulina, 2009. Coleção
Cibercultura.