O documento descreve a Guerra de Canudos, uma revolta popular na Bahia no século 19 liderada por Antônio Conselheiro. A guerra ocorreu devido ao conflito entre os seguidores pobres e miseráveis de Conselheiro e as elites locais e o governo, que via o grupo como uma ameaça à ordem estabelecida. A guerra terminou com a derrota dos seguidores de Conselheiro após várias expedições militares contra o seu assentamento em Canudos.
1. O LEGADO DA GUERRA DE
CANUDOS
Pintura retratando a comunidade de Canudos no interior do estado da Bahia, antes da guerra. Fonte: Wikmedia Commons.
2.
3.
4.
5. • A Guerra de Canudos está incluída entre as revoltas
populares ocorridas na Primeira República Brasileira
(1889 -1930).
• Esta é uma fase regida pela primeira Constituição
republicana brasileira e marcada pelo poder de
grupos oligárquicos que estavam ligados ao cultivo
de café e às grandes propriedades de terra.
• O regime político era o presidencialismo e as
eleições eram caracterizadas pelo chamado voto de
cabresto. Os coronéis, grandes proprietários de
terra, controlavam os votos de seus subordinados e
definiam os rumos políticos de acordo com seus
interesses. A votação não era secreta e fraudes nas
eleições eram corriqueiras.
8. • Antônio Vicente Mendes Maciel, apelidado mais tarde de
Antônio Conselheiro, nasceu na cidade de Quixeramobim, no
Ceará, em 13 de março de 1830. Foi comerciante, professor e
advogado.
• É importante ressaltar que parte de seus argumentos tocavam
diretamente à população pobre da época: condenação da
cobrança abusiva de impostos; repúdio ao casamento
apenas no civil; separação entre Estado e Igreja; Todos
esses pontos faziam parte da pregação messiânica de
Conselheiro e utilizada como provas do final dos tempos.
• Foram 25 anos de andança até chegar a Canudos, um arraial
localizado no interior do norte da Bahia. Ele chegou em 1893.
Junto dele vieram milhares de seguidores atraídos pela
pregação religiosa.
• No total, cerca de 25 mil pessoas passaram a viver em Belo
Monte, nome que Conselheiro deu a Canudos.
10. Por que um grupo de “miseráveis”
incomodou tanto a República?
• As populações de uma região de poucos recursos
naturais é abandonada a sua própria sorte – fome, seca,
miséria, violência e abandono político. Quando esta
mesma população se organiza para resolver seu
problema passa a ser vista como uma ameaça ao
Estado.
• Não demorou para que Antônio Conselheiro fosse
identificado como inimigo da Igreja Católica e dos
coronéis. Os religiosos estavam insatisfeitos com a
quantidade de fieis que passaram a seguir um falso
profeta e os proprietários de terra reclamavam da perda
de mão-de-obra e dos saques em suas propriedades.
11. Expedições
• 1896, quando houve um confronto no município de Uauá
entre um destacamento policial do governo baiano e
canudenses. O destacamento policial deslocava-se para
Canudos quando foi surpreendido e derrotado pelos
seguidores de Conselheiro.
• 1897, em janeiro e março; derrotadas.
• O Ministro da Guerra do governo Prudente de Morais, Carlos
Machado Bittencourt, recrutou cerca de 10 mil soldados para
uma quarta expedição. A investida começou em junho e em
setembro os soldados cercaram o arraial de Canudos.
• Antônio Conselheiro faleceu no dia 22 deste mesmo mês em
1897, vítima de disenteria. Mesmo assim, parte dos seus
seguidores manteve a resistência que durou até o dia 5 de
outubro.
12. • "A Guerra das Caatingas"
"Ao passo que as caatingas são um aliado incorruptível do sertanejo em revolta.
Entram também de certo modo na luta. Armam-se para o combate; agridem.
Trançam-se, impenetráveis, ante o forasteiro, mas abrem-se em trilhas multívias
para o matuto que ali nasceu e cresceu. E o jagunço faz-se o guerrilheiro-tugue,
intangível...
As caatingas não o escondem apenas, amparam-no. Ao avistá-las, no verão, uma
coluna em marcha não se surpreende. Segue pelos caminhos em torcicolos,
aforradamente. E os soldados, decassando com as vistas o matagal sem folhas,
nem pensam no inimigo. Reagindo à canícula e com o desalinho natural às
marchas, prosseguem envoltos no vozear confuso das conversas travadas em
toda a linha, virguladas de tinidos de armas, cindidas de risos joviais mal
sofreados. [...] De repente, pelos seus flancos, estoura, perto, um tiro...
A bala passa, rechinante, ou estende, morto, em terra, um homem. Sucedem-se,
pausadas, outras, passando sobre as tropas, em sibilos longos. Cem, duzentos
olhos, mil olhos perscrutadores, volvem-se, impacientes, em roda. Nada veem.
Há a primeira surpresa. Um fluxo de espanto corre de uma a outra ponta das
fileiras. E os tiros continuam raros, mais insistentes e compassados, pela
esquerda, pela direita, pela frente agora, irrompendo de toda a banda...
Então estranha ansiedade invade os mais provados valentes, ante o antagonista
que vê e não é visto. Forma-se claramente em atiradores uma companhia, mal
destacada da massa de batalhões constritos na vereda estreita. Distende-se pela
orla da caatinga. Ouve-se uma voz de comando; e um turbilhão de balas rola
estrugidoramente dentro das galhadas..."
("Os Sertões" de Euclides da Cunha)
13. Mulheres e crianças seguidoras de Antônio Conselheiro.
O grupo foi preso durante os últimos dias da guerra. Fonte: Flávio de Barros/Wikmedia Commons