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Capítulo 1
O Menino e o Mar

   Rumo ao oeste, jovem, rumo ao o oeste!
   Esse lema orientou o povo colonial dos Estados Unidos a ir além do
litoral atlântico e seguir em direção ao pôr-do-sol. As primeiras
comunidades americanas eram sempre mais tradicionais do que as
seguintes, formadas por pessoas que não conseguiam se adaptar aquele
meio de vida.
   E este foi o padrão histórico da colonização americana – a parcela
mais estranha da população migrava para o oeste desconhecido,
fundando suas próprias cidades e vilas.
   De fato, quanto mais longe do atlântico, mais distantes dos costumes
britânicos estavam as novas comunidades, que criavam pouco a pouco,
sua própria identidade. Poucos lugares desse país são tão estranhos
quanto Seattle, berço do movimento grunge, lar de um sem número de
ufólogos e adeptos do movimento New Age e refúgio final do controverso
psiquiatra Timothy Leary.
   Mas Seattle reserva mais esquisitices do que a maioria das pessoas
imaginam...
   Entretanto, nossa história começa com eventos normais, na
exuberante mansão da família Seacrusher. Foi ali que o despertador
tocou pontualmente as sete e meia da manhã. Alex acordou com os
olhos comichando, frustrado com o cotidiano nada emocionante que
viria pela frente.
   Era um dia como qualquer outro, apesar do radiante céu azul naquela
primavera de abril. Alex freqüentava o St. Shelton College, a escola
particular mais conceituada da cidade. Apenas os filhos bem-nascidos
da aristocracia eram matriculados ali; aspirantes a burgueses e futuras
dondocas infestavam os corredores. Alex os detestava.
   Os Seacrusher eram uma das famílias mais influentes de Seattle –
Maxuel Seacrusher era dono de quase todas as patentes de
transportadoras marítimas, um homem de negócios extremamente bem-
sucedido e de grande tino comercial. A maioria das importações e
exportações ocorriam pelo mar, e a maioria das transações acabavam
rendendo lucros para a família.
   Alex só o notou o círculo vermelho em volta do pequeno seis de abril
no calendário quando se espreguiçava. E naquele momento a realidade
lhe caiu sobre a cabeça como um raio; havia um teste de matemática
hoje.
   A prova fora esquecida completamente por ele, pois os jornalistas e
fotógrafos da Garden & Houses estiveram ali ontem. Pelo terceiro ano
seguido, os Seacrusher ganhavam o concurso da “casa mais bonita de
Seattle” e sua mãe fez questão de que a família toda estivesse presente
para a sessão de fotos.
   Flashes não eram estranhos para Alex. Freqüentava todo tipo de
evento social desde que podia se lembrar e conhecia muitas das pessoas
mais importantes da cidade (que para ele eram também as mais
enfadonhas). Embora fosse obrigado a estar nesses lugares, o garoto
sempre se sentia alheio em meio essa gente bem-nascida e
endinheirada.
   Água fria encheu suas mãos e ele lavou o rosto na elegante pia do
banheiro que havia em seu quarto. Calçou as pantufas e abriu a porta.
Ao longe, podia ouvir as músicas brasileiras que Socorro gostava.
Sentiu o cheiro delicioso das panquecas invadindo o corredor e desceu
as escadas pulando os degraus de dois em dois, como sempre. Correu
até a cozinha cheio de fome:
   - Bom dia, Socorro! – sorriu discretamente lembrando-se que a
empregada lhe dissera uma vez que seu nome significava Help. Socorro
era brasileira, mas vivia nos Estados Unidos há muitos anos. Dizia que
as mulheres brasileiras tinham grande beleza e Socorro era a prova viva
desse boato; mesmo seus quarenta e poucos anos não haviam lhe tirado
a formosura.
[Pode descrever melhor a forma física da Socorro]
   - Fiz aquelas panquecas que você gosta – sorriu ela de volta, tomando
a expressão do garoto como uma gentileza. Alex adorava Socorro e
sempre parecia que a casa estava vazia quando era seu dia de folga.
   - Cadê minha mãe? – foi apenas por desencargo de consciência que o
garoto perguntou. Tinha certeza que sua mãe estava no quarto devido a
noite de ontem.
   - Está com enxaqueca... – “ressaca mudou de nome?” pensou Alex
com seus botões. Não era apenas a fortuna e o belo jardim que dava
fama aos Seacrusher. Helena tinha merecida reputação de bêbada
ilustre e jogadora incurável. Quase todas as noites os cassinos de
Seattle mordiam sua parte na fortuna da família através das cifras
exorbitantes que a Sra. Seacrusher fazia nas roletas e cavalos.
   - Meu pai vem tomar café com a gente? – Socorro apenas fez que não
com a cabeça. Seu pai passava a maior parte do tempo em viagens de
negócio, fazendo acordos com outros homens que possuíam monopólios
semelhantes ao longo da costa. Na verdade, foi um milagre que ele
passasse a tarde anterior em casa e quase sempre o Sr. Seacrusher era
presente apenas por sua ausência.
   Com sua rotina inalterada, Alex saboreava distraidamente as
panquecas, mas Socorro fez com que as preocupações daquele dia
mordessem novamente seu calcanhar – Vá se trocar, menino – falou
enquanto olhava para o relógio – ou vai se atrasar pra escola...
   Levantou-se apressado, embora quisesse ficar sentado ali pra sempre.
“Odeio matemática” pensou contrariado enquanto subia a escada “Pi
igual a Delta ao quadrado vezes a raiz de Gama, por que eles tem que
ensinar matemática em grego?”. Alex não se preocupava em
decepcionar seus pais, afinal eles raramente notavam seus sucessos ou
fracassos. Apenas não queria repetir aquele ano escolar; isso
significaria mais um ano preso em St. Shelton.
   Uma das poucas partes interessantes em ir para escola eram os
minutos que passava com Jake, o motorista negro que conduzia a
limusine. Fazia dois anos que trabalhava para a família, mas o único
motivo por qual fora contratado é que Jake era amigo de Socorro. Como
todo americano branco e bem-sucedido, Sr. Seacrusher era um racista
inveterado e se recusou categoricamente a assinar um contrato com a
Pepsi. [confuso a citação sobre racismo]
   - E aí, carinha da mansão? – cumprimentou Jake virando a aba do
chapéu para trás. Obviamente, o motorista se permitia tal regalia
apenas quando dirigia somente para o garoto. Sorrindo de volta, Alex
acenou com a cabeça e sentou no banco da frente. Seguiram a caminho
da escola ouvindo rap, como sempre.
   - Sempre Icecube, Icecube... – reclamou Alex – vamos ouvir Fifth
Cents!
   - Nada disso, carinha – retrucou Jake – esse cara faz jus ao nome e só
vale mesmo cinqüenta centavos...
   - Por que a gente sempre tem que ouvir o que você quer? – protestou.
   - Por que eu sou o motorista...
   Chegaram na escola antes que Alex percebesse – Boa aula, carinha –
Jake ajeitava o boné olhando o retrovisor enquanto o garoto abria a
porta do carro. Outros automóveis luxuosos paravam em frente ao
portão, descarregando jovens burgueses para receberem uma instrução
privilegiada. Sem cumprimentar ninguém, Alex atravessou o pátio e
seguiu discretamente até o seu armário.
   - Ei, Seacrusher! – o grito veio do outro lado do corredor. Viu Todd
Darden, um garoto orgulhoso e arrogante. Era forte, bonito, popular e,
de longe, a pessoa que Alex menos gostava.
   - E aí, Darden? – respondeu.
   - Ouvi dizer que vai tentar o campeonato estadual, é verdade? – o
sorriso petulante de Todd despertou a raiva de Alex. Era verdade, ele
iria tentar o estadual juvenil de esgrima naquele ano. Há três anos
vinha se preparando para isso, esperançoso por uma chance de se
testar. A esgrima era uma válvula de escape para sua constante
frustração e uma das poucas coisas que fazia a vida valer à pena.
   - Vou sim, e você, Darden?
   - Claro que vou! Como você sabe, nos últimos cinco anos a academia
Spener venceu em quase tudo – havia uma grande rivalidade entre as
escolas de esgrima do estado de Washington. Cada uma delas realizava
um campeonato interno onde um aluno era selecionado para cada
modalidade. Spener ganhara renome vencendo quase todas as provas
nos últimos anos, enquanto Zower, a academia de Alex, esperava uma
chance de sobrepor a rival – vai perder pra Zower esse ano, Seacrusher?
   - Vou tirar esse sorriso nojento da sua cara, Darden!
   - Isso se um frangote como você conseguir passar pelas eliminatórias,
não é?
   Antes que pudesse responder, o sinal ecoou pela escola e o incômodo
Todd foi embora com seus amigos irritantes. Sem se importar com
aqueles desaforos, Alex caminhou desanimado, muito consciente de que
teria de enfrentar a horripilante prova de matemática.
   Os ponteiros do relógio se arrastaram vagarosamente e finalmente
(um finalmente muito demorado), as três da tarde indicaram libertação
daqueles muros cinzentos. Jake não vinha buscá-lo, Alex gostava de
voltar pra casa andando pela praia. Desde pequeno, o oceano tinha um
poder calmante e libertador sobre ele, que fazia de seu retorno pra casa
uma espécie de terapia.
  Naquela tarde de céu aberto, Alex se permitiu sentar por um
momento na areia branca. Pensou sobre sua vida, sobre o pai que lhe
fora roubado pelo dinheiro, sobre a mãe que lhe fora roubada pelo vício
e sobre o fútil e tirânico universo inevitavelmente burguês ao qual
estava acorrentado.
  E mais uma vez desejou ser qualquer outra pessoa que não fosse ele...
  Perdido em sua tristeza e melancolia, Alex sequer percebeu que o sol
tocou as águas do Pacífico, mas um incomum badalar de sinos lhe
chamou a atenção. Não haviam igrejas perto da praia e o som parecia
ecoar do oceano.
  Mas é claro que isso não era possível, ele devia estar imaginando
coisas...[muito óbivio]- conversaremos! rs.
  Blém!
  Mais uma vez os sinos tocavam. Alex procurou a origem do som, mas
novamente parecia vir do mar. “Que coisa estranha”, Alex não
conseguiu entender.
  Blém!
  E pela terceira vez, o sino tocou. Alex se levantou e, com passos
vacilantes, aproximou-se do mar. Subitamente, algo emergiu das águas
azuis e começou a flutuar acima da superfície. Era um peixe. Mas
assim como o som, aquilo não era possível. Peixes não podiam voar.
[descrever melhor o cenário]
  Sem aviso, outro peixe saiu do mar.
  Será que Alex estava ficando louco?
  E mais um peixe surgiu.
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  “Não pode ser real”.
  E, um a um, dezenas, talvez centenas de peixes começaram a
aparecer, formando um excêntrico cardume voador de cores vibrantes.
  Alex parou de se preocupar com sua sanidade. Pedira uma realidade
diferente ao oceano infinito. E o Pacífico lhe presenteara mais do que à
altura. Naquele momento nada mais importava, pois Alex percebeu que
tudo era possível.

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O Menino e o Mar

  • 1. Capítulo 1 O Menino e o Mar Rumo ao oeste, jovem, rumo ao o oeste! Esse lema orientou o povo colonial dos Estados Unidos a ir além do litoral atlântico e seguir em direção ao pôr-do-sol. As primeiras comunidades americanas eram sempre mais tradicionais do que as seguintes, formadas por pessoas que não conseguiam se adaptar aquele meio de vida. E este foi o padrão histórico da colonização americana – a parcela mais estranha da população migrava para o oeste desconhecido, fundando suas próprias cidades e vilas. De fato, quanto mais longe do atlântico, mais distantes dos costumes britânicos estavam as novas comunidades, que criavam pouco a pouco, sua própria identidade. Poucos lugares desse país são tão estranhos quanto Seattle, berço do movimento grunge, lar de um sem número de ufólogos e adeptos do movimento New Age e refúgio final do controverso psiquiatra Timothy Leary. Mas Seattle reserva mais esquisitices do que a maioria das pessoas imaginam... Entretanto, nossa história começa com eventos normais, na exuberante mansão da família Seacrusher. Foi ali que o despertador tocou pontualmente as sete e meia da manhã. Alex acordou com os olhos comichando, frustrado com o cotidiano nada emocionante que viria pela frente. Era um dia como qualquer outro, apesar do radiante céu azul naquela primavera de abril. Alex freqüentava o St. Shelton College, a escola particular mais conceituada da cidade. Apenas os filhos bem-nascidos da aristocracia eram matriculados ali; aspirantes a burgueses e futuras dondocas infestavam os corredores. Alex os detestava. Os Seacrusher eram uma das famílias mais influentes de Seattle – Maxuel Seacrusher era dono de quase todas as patentes de transportadoras marítimas, um homem de negócios extremamente bem- sucedido e de grande tino comercial. A maioria das importações e exportações ocorriam pelo mar, e a maioria das transações acabavam rendendo lucros para a família. Alex só o notou o círculo vermelho em volta do pequeno seis de abril no calendário quando se espreguiçava. E naquele momento a realidade lhe caiu sobre a cabeça como um raio; havia um teste de matemática hoje. A prova fora esquecida completamente por ele, pois os jornalistas e fotógrafos da Garden & Houses estiveram ali ontem. Pelo terceiro ano seguido, os Seacrusher ganhavam o concurso da “casa mais bonita de Seattle” e sua mãe fez questão de que a família toda estivesse presente para a sessão de fotos. Flashes não eram estranhos para Alex. Freqüentava todo tipo de evento social desde que podia se lembrar e conhecia muitas das pessoas mais importantes da cidade (que para ele eram também as mais enfadonhas). Embora fosse obrigado a estar nesses lugares, o garoto
  • 2. sempre se sentia alheio em meio essa gente bem-nascida e endinheirada. Água fria encheu suas mãos e ele lavou o rosto na elegante pia do banheiro que havia em seu quarto. Calçou as pantufas e abriu a porta. Ao longe, podia ouvir as músicas brasileiras que Socorro gostava. Sentiu o cheiro delicioso das panquecas invadindo o corredor e desceu as escadas pulando os degraus de dois em dois, como sempre. Correu até a cozinha cheio de fome: - Bom dia, Socorro! – sorriu discretamente lembrando-se que a empregada lhe dissera uma vez que seu nome significava Help. Socorro era brasileira, mas vivia nos Estados Unidos há muitos anos. Dizia que as mulheres brasileiras tinham grande beleza e Socorro era a prova viva desse boato; mesmo seus quarenta e poucos anos não haviam lhe tirado a formosura. [Pode descrever melhor a forma física da Socorro] - Fiz aquelas panquecas que você gosta – sorriu ela de volta, tomando a expressão do garoto como uma gentileza. Alex adorava Socorro e sempre parecia que a casa estava vazia quando era seu dia de folga. - Cadê minha mãe? – foi apenas por desencargo de consciência que o garoto perguntou. Tinha certeza que sua mãe estava no quarto devido a noite de ontem. - Está com enxaqueca... – “ressaca mudou de nome?” pensou Alex com seus botões. Não era apenas a fortuna e o belo jardim que dava fama aos Seacrusher. Helena tinha merecida reputação de bêbada ilustre e jogadora incurável. Quase todas as noites os cassinos de Seattle mordiam sua parte na fortuna da família através das cifras exorbitantes que a Sra. Seacrusher fazia nas roletas e cavalos. - Meu pai vem tomar café com a gente? – Socorro apenas fez que não com a cabeça. Seu pai passava a maior parte do tempo em viagens de negócio, fazendo acordos com outros homens que possuíam monopólios semelhantes ao longo da costa. Na verdade, foi um milagre que ele passasse a tarde anterior em casa e quase sempre o Sr. Seacrusher era presente apenas por sua ausência. Com sua rotina inalterada, Alex saboreava distraidamente as panquecas, mas Socorro fez com que as preocupações daquele dia mordessem novamente seu calcanhar – Vá se trocar, menino – falou enquanto olhava para o relógio – ou vai se atrasar pra escola... Levantou-se apressado, embora quisesse ficar sentado ali pra sempre. “Odeio matemática” pensou contrariado enquanto subia a escada “Pi igual a Delta ao quadrado vezes a raiz de Gama, por que eles tem que ensinar matemática em grego?”. Alex não se preocupava em decepcionar seus pais, afinal eles raramente notavam seus sucessos ou fracassos. Apenas não queria repetir aquele ano escolar; isso significaria mais um ano preso em St. Shelton. Uma das poucas partes interessantes em ir para escola eram os minutos que passava com Jake, o motorista negro que conduzia a limusine. Fazia dois anos que trabalhava para a família, mas o único motivo por qual fora contratado é que Jake era amigo de Socorro. Como todo americano branco e bem-sucedido, Sr. Seacrusher era um racista
  • 3. inveterado e se recusou categoricamente a assinar um contrato com a Pepsi. [confuso a citação sobre racismo] - E aí, carinha da mansão? – cumprimentou Jake virando a aba do chapéu para trás. Obviamente, o motorista se permitia tal regalia apenas quando dirigia somente para o garoto. Sorrindo de volta, Alex acenou com a cabeça e sentou no banco da frente. Seguiram a caminho da escola ouvindo rap, como sempre. - Sempre Icecube, Icecube... – reclamou Alex – vamos ouvir Fifth Cents! - Nada disso, carinha – retrucou Jake – esse cara faz jus ao nome e só vale mesmo cinqüenta centavos... - Por que a gente sempre tem que ouvir o que você quer? – protestou. - Por que eu sou o motorista... Chegaram na escola antes que Alex percebesse – Boa aula, carinha – Jake ajeitava o boné olhando o retrovisor enquanto o garoto abria a porta do carro. Outros automóveis luxuosos paravam em frente ao portão, descarregando jovens burgueses para receberem uma instrução privilegiada. Sem cumprimentar ninguém, Alex atravessou o pátio e seguiu discretamente até o seu armário. - Ei, Seacrusher! – o grito veio do outro lado do corredor. Viu Todd Darden, um garoto orgulhoso e arrogante. Era forte, bonito, popular e, de longe, a pessoa que Alex menos gostava. - E aí, Darden? – respondeu. - Ouvi dizer que vai tentar o campeonato estadual, é verdade? – o sorriso petulante de Todd despertou a raiva de Alex. Era verdade, ele iria tentar o estadual juvenil de esgrima naquele ano. Há três anos vinha se preparando para isso, esperançoso por uma chance de se testar. A esgrima era uma válvula de escape para sua constante frustração e uma das poucas coisas que fazia a vida valer à pena. - Vou sim, e você, Darden? - Claro que vou! Como você sabe, nos últimos cinco anos a academia Spener venceu em quase tudo – havia uma grande rivalidade entre as escolas de esgrima do estado de Washington. Cada uma delas realizava um campeonato interno onde um aluno era selecionado para cada modalidade. Spener ganhara renome vencendo quase todas as provas nos últimos anos, enquanto Zower, a academia de Alex, esperava uma chance de sobrepor a rival – vai perder pra Zower esse ano, Seacrusher? - Vou tirar esse sorriso nojento da sua cara, Darden! - Isso se um frangote como você conseguir passar pelas eliminatórias, não é? Antes que pudesse responder, o sinal ecoou pela escola e o incômodo Todd foi embora com seus amigos irritantes. Sem se importar com aqueles desaforos, Alex caminhou desanimado, muito consciente de que teria de enfrentar a horripilante prova de matemática. Os ponteiros do relógio se arrastaram vagarosamente e finalmente (um finalmente muito demorado), as três da tarde indicaram libertação daqueles muros cinzentos. Jake não vinha buscá-lo, Alex gostava de voltar pra casa andando pela praia. Desde pequeno, o oceano tinha um
  • 4. poder calmante e libertador sobre ele, que fazia de seu retorno pra casa uma espécie de terapia. Naquela tarde de céu aberto, Alex se permitiu sentar por um momento na areia branca. Pensou sobre sua vida, sobre o pai que lhe fora roubado pelo dinheiro, sobre a mãe que lhe fora roubada pelo vício e sobre o fútil e tirânico universo inevitavelmente burguês ao qual estava acorrentado. E mais uma vez desejou ser qualquer outra pessoa que não fosse ele... Perdido em sua tristeza e melancolia, Alex sequer percebeu que o sol tocou as águas do Pacífico, mas um incomum badalar de sinos lhe chamou a atenção. Não haviam igrejas perto da praia e o som parecia ecoar do oceano. Mas é claro que isso não era possível, ele devia estar imaginando coisas...[muito óbivio]- conversaremos! rs. Blém! Mais uma vez os sinos tocavam. Alex procurou a origem do som, mas novamente parecia vir do mar. “Que coisa estranha”, Alex não conseguiu entender. Blém! E pela terceira vez, o sino tocou. Alex se levantou e, com passos vacilantes, aproximou-se do mar. Subitamente, algo emergiu das águas azuis e começou a flutuar acima da superfície. Era um peixe. Mas assim como o som, aquilo não era possível. Peixes não podiam voar. [descrever melhor o cenário] Sem aviso, outro peixe saiu do mar. Será que Alex estava ficando louco? E mais um peixe surgiu. “Que diabos é isso?” E outro. “Não pode ser real”. E, um a um, dezenas, talvez centenas de peixes começaram a aparecer, formando um excêntrico cardume voador de cores vibrantes. Alex parou de se preocupar com sua sanidade. Pedira uma realidade diferente ao oceano infinito. E o Pacífico lhe presenteara mais do que à altura. Naquele momento nada mais importava, pois Alex percebeu que tudo era possível.