PROJETO DE EXTENSÃO I - AGRONOMIA.pdf AGRONOMIAAGRONOMIA
Comunidade cristã_nova de VNFoz_Côa
1.
2. Prefácio
A obra nasceu em função da autora habitar em Vila
Nova de Foz Côa e fazer um Mestrado em História das
Populações (U.M.), onde procedeu ao estudo da popula-
ção fozcoense, deparandose-lhe então a possibilidade
de fixar a pesquisa na minoria cristã-nova local,
saltando assim das fontes demográficas para as inquisi-
toriais, de cujo cruzamento e do engenho da autora
brotou este livro.
E "Brotar" é o termo apropriado, já que, mesmo se nos
últimos anos se tem publicado algo sobre os cristãos-
novos portugueses, a sua história está ainda por fazer e
as várias centenas de metros de documentação inquisi-
torial do arquivo da Torre do Tombo continuam por
desvendar. Esta situação criou algumas dificuldades à
autora, impedindo-a de avançar mais nas conclusões,
que a profunda pesquisa realizada certamente traria, se
tivesse referências para a região da época, permitindo
ligações e entrosamentos de conhecimentos a vários
níveis.
Como obra pioneira sobre judaizantes da região, esta
possibilitou constatar que a tradição de Foz Côa como
terra de judeus é relativamente recente, visto que, e isto
é sabido, não só nunca lá existiu uma comuna judaica,
como a própria comunidade cristã-nova emerge só em
pleno séc. XVII.
3. Foi certamente a crescente repressão inquisitorial ao
longo dos sécs. XVI e XVII a mola que desencadeou a
dispersão de cristãos-novos pelo interior profundo do
país, aqueles que não tiveram capacidade económica ou
audácia suficiente para emigrar.
Com efeito, nas últimas décadas do séc. XVI, o Santo
Ofício de Coimbra devasta Trás-os-Montes, começando
a penetrar no Porto, mercê de ligações várias entre
cristãos-novos transmontanos e portuenses.
O perdão geral de 1605 marca uma pequena paragem
na acção inquisitorial, oportunamente aproveitada pelo
Santo ofício para se remodelar e consolidar, elaborando
um novo Regimento (1613), que permitia uma maior
margem de manobra dos inquisidores e, portanto, uma
acção mais rápida, agressiva e eficaz. Em consonância,
efectuam-se praticamente em simultâneo visitas
inquisitorais a todo o país, pressionando assim a popu-
lação a colaborar, através do método habitual um "com-
pellere intrare", ou seja, uma catequização pelo medo,
que passava pela punição severa, pela repressão,
conducente à sua regeneração.
A visita realizada ao Norte (1618-1620), abarcando o
litoral (Aveiro, Porto, Vila do Conde, Viana, Caminha,
Valença), o Minho (Monção, Ponte de Lima, Barcelos,
Braga e Guimarães) e parte do Douro (Amarante, Vila
Real, Lamego) pautou-se pela agressividade e eficácia
proveitosa, já que foi dirigida inteligentemente, de
4. modo a incidir no estrato sócio-económico mais
elevado da minoria cristã-nova.
Foram as denominadas "grandes prisões" que fizeram
estremecer a economia da região e marcaram esta
época de apogeu da Inquisição, donde resultou
também, novas ondas de migração e o derrame camu-
flado pelo país. Daí, provavelmente uma fixação em Foz
Côa, onde os primeiros judaizantes apanhados surgem
no século XVII, essencialmente como reflexo da
"entrada" inquisitorial na zona; a incidência no século
XVIII é fruto do declínio do número de judaizantes e
sobretudo da instituição, o que viria a permitir a
primeira machadada dada na Inquisição pela mão do
Marquês de Pombal, em 1773, ao abolir a distinção
entre cristãos-velhos e novos.
Os cristãos-novos fozcoenses, tal como acontecia
noutras localidades, tenderam a habitar próximos uns
dos outro, o que em Foz Côa se verificou junto da Praça
principal, junto da Igreja Matriz e nas ruas do Relógio,
Barca e no sítio da Lameira, embora lá também moras-
sem cristãos-velhos, como se vê por algumas denún-
cias. A enorme distância que separava uns dos outros
era essencialmente de carácter sócio-cultural, mas em
pequenas localidades como esta ia diminuindo, pois,
como denota a autora "os limites da comunidade judai-
zante foram permeáveis, constituindo áreas de inter-
acção com a comunidade cristã-velha na escolha do
5. cônjuge. Mas, nem sempre os casamentos mistos lhes
permitiram usufruir de um clima de acalmia ou vieram
atenuar a vigilância a mulheres e homens judaizantes
que consumaram a sua aliança matrimonial com um/a
cristão/a-velho/a".
Para manter uma identidade religiosa e cultural os
secularmente denominados cristãos-novos permanece-
ram exactamente "novos", na resistência a uma religião
e cultura imposta, pelo que o seu quotidiano, como bem
descreve a autora, mesmo na pacata Foz Côa, foi
revolto, pleno de escolhos, imprevisível, tal como era
então o Douro no Inverno.
Elvira Azevedo Mea
6. Uma palavra
O Concelho de Vila Nova de Foz Côa tem sido objecto de
estudos variados, mormente de índole histórica, que
procuram demonstrar a riqueza do seu potencial arque-
ológico, que vai do Paleolítico Superior à Idade Média, e
dos seus valores paisagísticos e arquitectónicos, onde
se distinguem rios e vales, castelos e miradouros,
igrejas, capelas e solares, sem falarmos de muitas ruas
e casas de interessante tipologia. Quer em revistas para
o mundo especializado, como a "Côavisão", quer em
livros de autores aqui nascidos ou afectivamente
ligados ao Concelho, Vila Nova de Foz Côa e o seu
Concelho têm sido exaustivamente apreciados por
vários e distintos especialistas, enaltecidos por mestres
consagrados e cantados por inspirados poetas.
Persistia, porém, a nosso ver, um ângulo que não vinha
conseguindo a atenção que poderia merecer, talvez por
falta de material de investigação, porque outros moti-
vos prenderiam mais agradavelmente a atenção dos
estudiosos, ou, talvez, porque o tema, não obstante ser
apaixonante, exija uma denodada persistência na
investigação, a que se somará o esforço das indispen-
sáveis sistematização e exposição.
Trata-se da presença da gente de nação em terras de
Foz Côa, mais precisamente na sede deste Concelho,
sobre a qual - íamos também pensando - valeria a pena
7. ser feito aprofundado estudo, abrindo caminhos nessa
floresta virgem e desvendando clareiras que permitis-
sem descortinar outros espaços.
Foi nesta expectativa e com verdadeiro comprazimento
que tivémos conhecimento que a Srª Drª Aida Carvalho.
dedicara a sua dissertação de Mestrado em História das
Populaçôes, do Instituto de Ciências Sociais da Univer-
sidade do Minho, a um tema que nos diz muito: A comu-
nidade cristã-nova de Vila Nova de Foz Côa - Rupturas e
continuidades - Séculos XVII - XVIII.
Tratando-se de alguém que se tornara fozcoense pelo
coração, a quem não faltam as qualidades necessárias e
uma vez que o seu trabalho não deixaria de ter o nível
científico e o desenvolvimento habitualmente reque-
rido para a obtenção daquele grau, além do mais com o
prestígio da Universidade do Minho, era certo e sabido
que a sua dissertação faria incidir novas luzes sobre
uma grande lacuna da nossa história local. A perspec-
tiva, aliás, em que se colocava, pondo em relevo a
dinâmica das respectivas populações, já nos deixava
antever quanto nos seria grato vermos em letra de
forma e termos ao nosso alcance o fruto de tanto e tão
dedicado labor.
O Município, que vem dando todo o seu apoio à edição
de um número já razoável de publicações, tem o maior
gosto em que esta obra venha à luz do dia, pois é com
trabalhos deste quilate que se aprofunda o nosso
8. conhecimento e melhor descobrimos a nossa identi-
dade.
Os fozcoenses, em particular, terão uma belíssima opor-
tunidade para se deleitarem na leitura destas páginas,
descobrindo situações menos conhecidas da sua
própria história.
Agradecemos à distinta Autora este substancial e
gracioso contributo, e, de antemão, lhe auguramos que
ao nosso reconhecimento se juntará o de muitos e
interessados leitores.
Sotero Prancisco Mariano Ribeiro
Presidente da Câmara Municipal
Manuel Joaquim Pires Daniel
Presidente da Assembleia Municipal
9. A Autora
Aida Maria Oliveira Carvalho, natural
de Fragoso, concelho de Barcelos e
residente em Vila Nova de Foz Côa, é
funcionária do Parque Arqueológico
Vale do Côa, desde 1996.
Em Setembro de 2000 finaliza o Mestrado em História
das Populações no Instituto de Ciências Sociais da
Universidade do Minho, com a defesa de uma disserta-
ção versando o tema da comunidade cristã-nova de Vila
Nova de Foz Côa, nos séculos XVII-XVIII.
Os trabalhos de investigação que desenvolve tem
priveligiado a análise e a reconstituição da paróquia de
Vila Nova de Foz Côa, o enquadramento da comunidade
judaizante no contexto local e regional, assim, como as
redes de sociabilidade com as comunidades cristãs-
novas vizinhas.
10. Ficha Técnica
Título: A Comunidade Cristã-Nova de
Vila Nova de Foz Côa - Rupturas
e Continuidades, Séculos
XVII-XVIII
Autor: Aida Maria Oliveira Carvalho
Edição: C. M. Vila Nova de Foz Côa
Design: Elias Marques
Pré-Impressão: Loja das Ideias
Produção: Loja das Ideias
Tiragem: 1500 exemplares
Depósito Legal: 157 118/00
ISBN: 972 -97320-7-8