Este documento fornece três exemplos curtos que ilustram a existência de Deus. O primeiro exemplo mostra como um árabe analfabeto conhecia a existência de Deus através dos sinais da criação. O segundo exemplo mostra como uma criança convence seu tio a não roubar laranjas ao apontar que Deus os está vendo. O terceiro exemplo resume que o documento fornece exemplos simples, mas sábios, sobre a existência de Deus.
2. PREFÁCIO
I
EXISTÊNCIA DE DEUS
Conta-se que um velho árabe analfabeto orava com tanto
fervor e carinho, todas as noites, que, certa vez, o rico chefe
de uma grande caravana chamou-o à sua presença e
perguntou-lhe:
- Por que oras com tanta fé? Como sabes que Deus existe,
quando nem ao menos sabes ler?
O crente fiel respondeu:
- Grande Senhor, conheço a existência do Nosso Pai Celeste
pelos sinais dele.
- Como? - indagou o chefe, admirado. O servo humilde
explicou-se:
- Quando o senhor recebe uma carta de uma pessoa ausente,
como reconhece quem a escreveu?
- Pela letra.
- Quando o senhor recebe uma jóia, como é que se informa
quanto ao autor dela?
- Pela marca do ourives.
O empregado sorriu e acrescentou:
- Quando ouve passos de animais ao redor da tenda, como
sabe, depois, se foi um carneiro, um cavalo ou um boi?
3. - Pelos rastos - respondeu o chefe, surpreendido.
Então, o velho crente convidou-o para fora da barraca e,
mostrando-lhe o céu, onde a Lua brilhava cercada por multi-
dões de estrelas, exclamou, respeitosamente:
- Senhor! Aqueles sinais não podem ser dos homens.
Nesse momento, o orgulhoso caravaneiro, de olhos lacrime-
jantes, ajoelhou-se na areia e começou a orar.
Do livro PAI NOSSO
Pelo espírito Meimei e psicografia de Chico Xavier
II
PRESENÇA DIVINA
Um homem, ignorando ainda as leis de Deus, caminhava ao
longo de um enorme pomar, acompanhado por uma criança
de seis anos.
Eram Antoninho e seu tio, em passeio na vizinhança da casa
em que residiam.
Contemplavam, com água na boca, as laranjas maduras e
respiravam, a bom respirar, o ar leve e puro da manhã.
A certa altura da estrada, o velho colocou uma sacola sobre a
relva verde e macia e começou a enchê-la com os frutos que
se encontravam em grandes caixas abertas, ao mesmo tempo
4. que lançava olhares medrosos, em todas as direções.
Preocupado com o que via, Antoninho dirigiu-se ao compan-
heiro e indagou:
- Que fazes, titio?
Colocando o indicador da mão direita nos lábios entreaber-
tos, o velho respondeu:
- Psiu!. .. psiu!. ..
Em seguida, acrescentou em voz baixa: - Aproveitemos
agora, enquanto ninguém nos vê, para apanharmos algumas
laranjas.
O menino, contudo, muito admirado, apontou com um dos
peque¬nos dedos para o céu e exclamou:
- Mas o senhor não sabe que Deus está vendo?
Muito espantado, o velho empalideceu e voltou a recolocar
os frutos na caixa, de onde os retirara, murmurando:
- Obrigado, meu Deus, por despertares a minha consciência,
pelos lábios de uma criança.
E, desde esse momento, o tio de Antoninho passou a ser outro
homem.
Do livro PAI NOSSO
Pelo espírito Meimei e psicografia de Chico Xavier
III
Exemplos muito simples, mas transbordando de sabedoria e
profundo sig-nificado, cuja autenticidade poderá ser reco-
5. nhecida através de uma leitura criteriosa e desprovida de
quaisquer preconceitos, no decorrer desta obra.
Finalmente, Kardec coloca à nossa disposição os fundamen-
tos existenciais do homem, respondendo às ancestrais
perguntas que jamais soubera responder:
De onde viemos, por que viemos e para onde iremos.
Por motivos de ordem particular, chegamos ao Espiritismo,
através da dor e do sofrimento. Ficamos extasiados em ter
acesso ao esclarecimento maior, que atribui uma finalidade
objetiva e concreta ao nosso existir.
Como preito de gratidão resolvemos elaborar uma nova
tradução, homenageando o grande obreiro dessa dádiva, pela
passagem dos cento e cinquenta anos da outorga desse
patrimônio universal. (18/04/2007)
Nesse sentido, a nossa tradução apresenta-se da seguinte
maneira:
As perguntas numeradas seqüencialmente, em negrito, foram
elaboradas e feitas por Allan Kardec aos espíritos superiores.
As respostas foram dadas pelos espíritos encarregados dessa
tarefa. Os textos em itálico são da autoria de Allan Kardec.
Os destaques em itálico, negrito ou os dois em simultâneo, ao
longo de toda a obra, são da nossa autoria, por julgarmos o
seu conteúdo de relevante significado.
Que esta obra possa contribuir decisivamente para o desper-
tar de todos aqueles que, de uma ou de outra maneira, encon-
trem no Espiritismo, o sentido tranquilizador da sua existên-
cia, sobretudo, quanto à libertação do medo da morte, incul-
6. cando no íntimo de cada um, a plena consciência de que, só
através do respeito pela dignidade alheia, poderemos ajudar a
estancar a onda de barbárie e arbitrariedades que o homem
vem cometendo desde todas as épocas e, quase sempre,
leviana e arrogantemente em nome de Deus ...
Que ela possa ser respeitada também, pelos que ainda não se
encora-jaram a dar o passo decisivo de mudança e aceitação.
Enfim! Sejamos dignos, fraternos e tolerantes.
Ribeirão Preto, 9 de março de 2008
Alberto Cardoso
7. SÍNTESE BIOGRÁFICA
DE ALLAN KARDEC
Allan Kardec nasceu em Lyon (França), a 3 de outubro de
1804 e foi registrado sob o nome de Hippolyte Leon Denizard
Rivail. Foram seus pais o juiz Jean Baptiste Antoine Rivail e
Jeanne Duhamel.
Ainda que filho e neto de advogados, pertencente a uma
antiga família que se distinguiu na magistratura e no foro, de
forma alguma seguiu essa carreira, dedicando-se desde cedo
ao estudo das ciências e da filosofia. Freqüentou a célebre
escola de Pestallozzi em Yverdun, na Suíça, o que marcou
profundamente sua vida futura. Tornou-se um respeitável
educador e grande entusiasta do ensino, várias vezes convi-
dado por Pestallozzi para assumir a direção da escola, na sua
ausência. Durante 30 anos (1824-1854), dedicou-se inteira-
mente ao ensino no seu país, sendo autor de várias obras
didáticas de grande contributo para o progresso da educação.
Foi um dos maiores pedagogos do seu tempo, além de grande
lingüista, traduzindo obras inglesas e alemãs. Organizou
também, na sua própria casa, cursos gratuitos de Química,
Física, Astronomia e Anatomia Comparada.
Em 1855, o professor Rivail depara-se pela primeira vez com
o "fenômeno" das mesas que giravam, saltavam e corriam, em
condições tais, que não deixavam lugar para quaisquer
dúvidas. Convidado por alguns amigos, pela sua reputação,
para o estudo e averiguação desses "fenômenos", recusa-se
8. inicialmente, não acreditando na sua autenticidade. Porém,
perante nova insistência, resolve-se então pela observação e
pesquisa dos mesmos e, graças ao seu espírito de investiga-
ção, que sempre lhe fora peculiar, não elabora qualquer teoria
infundada, persistindo na descoberta das causas. Através do
método experimental, com o qual já estava familiarizado na
função de educador, constata os efeitos, remonta às causas e
acaba reconhecendo a autenticidade desses "fenômenos".
Convenceu-se da existência dos espíritos e da sua comunica-
ção com os homens. A partir daí, grande transformação se
desencadearia na vida do professor Rivail. Convicto da sua
condição de espírito encarnado, adota um nome já usado em
existência anterior, no tempo dos druidas: nascia assim Allan
Kardec.
De 1855 a 1869, consagrou a sua existência ao estudo do
Espiritismo, sob a assistência dos espíritos superiores e, tendo
como principal mentor o Espírito da Verdade, estabe-lece os
princípios da Codificação Espírita.
Nascia assim o Espiritismo, através da primeira publicação
sobre este assunto, a 18 de abril de 1857, de "O Livro dos
Espíritos". Iniciava-se, assim, uma nova e importante página
da história existencial do homem. Com efeito, este livro
constituirá, para sempre, um marco histórico, no desenrolar
da evolução cultural e espiritual da humanidade. Outras obras
importantes se lhe seguiriam, tais como: O Livro dos Médiuns
(J 861), O Evangelho Segundo o Espiritismo(J 864), O Céu e
o Inferno (I865), A Gênese (J 868) e Obras Póstumas (J 890),
(publicado após a sua morte com base em apontamentos
9. diversos de sua autoria). Acrescente-se também a essas obras
a Revista Espírita, de estudos psicológicos, lançada no dia
Iode janeiro de 1858, sob a sua direçâo até o seu desencarne.
Foi também da sua iniciativa a fundação da Sociedade
Parisiense de Estudos Espíritas, no dia Iode abril de 1858,
primeira instituição regularmente concebida com o objetivo
de promover pesquisas que favorecessem o estudo do Espirit-
ismo.
Com a máxima: " ... fora da caridade não há salvação",
procura ressaltar a igualdade entre os homens perante Deus, a
tolerância, a liberdade de consciência e a benevolência mútua.
É da sua autoria outro grande princípio: " ... fé inabalável é
aquela que pode encarar a razão, face a face, em todas as
épocas da humanidade". Esclarece Allan Kardec: a fé racio-
nal que se apóia nos fatos e na lógica não deixa quaisquer
dúvidas: "acreditamos quando temos a certeza e só temos a
certeza quando compreendemos".
Denominado “o bom senso encarnado” pelo célebre
astrônomo espírita Camille Flammarion, Allan Kardec partiu
para a pátria espiritual aos 65 anos, em 31 de março de 1869,
legando à humanidade um patrimônio de eterno reconheci-
mento: a revelação da razão existencial do homem, que em
vão tentara descortinar desde os primórdios da civilização.
No seu túmulo, no cemitério Pêre Lachaise, em Paris, uma
inscrição sintetiza a concepção evolucionista do Espiritismo:
“... nascer, morrer, renascer e progredir sempre, tal é a lei”.
Alberto Cardoso