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UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIRO
  DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA

  INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS

  CURSO DE HISTÓRIA VESPERTINO




      DISCIPLINA 000000:TEORIA E METODOLOGIA DA HISTÓRIA




 Resenha do capítulo “A observação histórica” do livro Apologia da História
                          escrito por Marc Bloch.




Matheus Monteiro Feitosa – 201231526-5
Resenha do capítulo “A observação histórica” do livro Apologia da História escrito
                                    por Marc Bloch.



   1) Apresente o autor compondo uma breve biografia intelectual assim como um
       comentário sobre suas obras mais relevantes.



       Historiador, fundador da Escola de Annales, Marc Léopold Benjamim Bloch
deixou inacabado um trabalho de metodologia histórica. Ele era judeu e se escondia sob
o regime de Vichy, participou das duas grandes guerras, e na segunda guerra ele foi
preso e morto, assim deixando Apologia da História inacabada. Neste livro, Bloch não
se limita em definir o trabalho do historiador e definir a história, mas ele também
mostra como a história deve ser e como o historiador deve trabalhar. Considerado o
maior medievalista de todos os tempos, ele foi considerado um dos grandes
responsáveis por inovações no campo do pensamento histórico. O primeiro livro do
historiador, Os reis taumaturgos, considerado obra muito original, trás estudos
históricos, sociológicos e psicológicos. Outra obra, considerada a mais importante, é Os
caracteres originais da história rural francesa, se baseia na interpretação da paisagem
rural e tipos de campos. E o último livro publicado por Bloch que trás um novo conceito
de história é A sociedade feudal.



   2) Destaque os argumentos principais de Marc Bloch e a forma como ele constrói seu
       texto.

       No capítulo II Bloch fala sobre observação histórica, de conceitos gerais de
observação do passado e construção do passado. Vestígios, testemunhos, relatos,
narrativas, inúmeras características encontradas no presente que proporcionam ao
historiador contato indireto com o passado, já que é impossível ele mesmo constatar os
fatos que estuda, como diz logo no primeiro parágrafo do texto. Muitas vezes
características descritas, faladas por testemunhas, como Bloch mesmo diz nesse trecho:
“O historiador, por definição, está na impossibilidade de ele próprio constatar os fatos
que estuda. Nenhum egiptólogo viu Ramsés; nenhum especialista das guerras
napoleônicas ouviu o canhão de Austerlitz. Das eras que nos precederam, só poderíamos
[portanto] falar segundo testemunhas.”(página 69) Podemos concluir disto e como ele
mesmo diz, que ao historiador cabe o papel de um investigador de tudo que foi
levantado, pois muitas vezes a história pode conter favorecimentos criados pela
testemunhas. Em outro trecho ele diz: “todo conhecimento da humanidade, qualquer
que seja, no tempo, seu ponto de aplicação, irá beber sempre nos testemunhos dos
outros uma grande parte da sua substância.” (página 70) Todo dado, informação, não
importando o tempo, vai absorver dos testemunhos parte da sua importância, pois o
indivíduo vê e abrange pouco, em relação a grande quantidade de acontecimentos.
Bloch argumenta no capítulo falando da primeira característica que é: “o conhecimento
de todos os fatos humanos no passado, da maior parte deles no presente, deve ser
[segundo a feliz expressão de François Simiand,] um conhecimento através de
vestígios.”(página 73) Ou seja, por mais que o fato seja recente, o historiador não
consegue fazê-lo se repetir ou investiga-lo por ele mesmo, a única forma é por vestígios
que podem ser materiais, testemunhais e narrativas.
       Em um trecho essencial para compreensão de outro argumento, Bloch fala que o
passado não tem como ser mudado, já o conhecimento é algo que não só pode, como
está em transformação e aperfeiçoamento.       Inclusive novos modos de pesquisa e
investigação surgem ajudando no avanço do conhecimento.
Os testemunhos, documentos postos pelo passado a disposição dos historiadores, Marc
fala dos não voluntários e vai bem fundo dando exemplos dos do primeiro grupo, que
são os testemunhos voluntários. Nesse trecho por exemplo: “...a fim de que as coisas
feitas pelos homens não sejam esquecidas com o tempo e que grandes e maravilhosas
ações, realizadas tanto pelos gregos como pelos bárbaros, nada percam de seu brilho.
Assim começa o mais antigo livro de história que, no mundo ocidental, chegou até nós
sem ser no estado de fragmentos. Ao lado dele, coloquemos, por exemplo, um desses
guias de viagem que os egípcios [, na época dos faraós,] introduziam nos
túmulos.”(página 76) Ao mesmo tempo que os testemunhos tem a sua dúvida sobre a
autenticidade,   veracidade e se vestígios ficaram pelos caminhos, o historiador
desempenha o papel de tirar proveito do que tem, não deixando que buracos o atrapalhe,
mas “eles afastam de nossos estudos um perigo mais mortal do que a ignorância ou a
inexatidão: o de uma esclerose.” (página 77) Mesmo que fiquemos tão presos a esses
relatos do passado, ao mesmo tempo somos livres no sentido de que por meio dos
vestígios podemos conhecer muito mais daquilo que os testemunhos queriam nos falar.
Um trecho importantíssimo explica melhor: Mas, a partir do momento em que não nos
resignamos mais a registrar [pura e] simplesmenteas palavras de nossas testemunhas, a
partir do momento em que tencionamos fazê-las falar [mesmo, a contragosto], mais do
que nunca impõe-se um questionário. Esta é, com efeito, a primeira necessidade de que
qualquer pesquisa histórica bem conduzida.” (página 78) O historiador então não pode
se ver preso a investigar sem procurar questionar cada vestígio, em vez de apenas
registrar aquilo que foi dito pelas testemunhas. Textos ou documentos arqueológicos
também são considerados por Bloch difíceis de se estudar, a não ser que seja feita uma
análise completa e minuciosa, como Bloch mesmo diz: “...senão quando sabemos
interroga-los.”(página 79) Essa dificuldade Bloch mostra ser relativa, pois existe uma
infinita diversidade de testemunhos, pois tudo que o homem fez no passado pode se
tornar para o futuro um fato ou vestígio que auxilia no entendimento do passado.
       Como terceira e última parte do capítulo, Bloch trás para nós argumentos da
dificuldade que ele destaca ser uma das mais difíceis, que é levantar documentos que o
historiador estima ser necessário. Ele também apresenta a ajuda trazida de
“...inventários de arquivos ou de bibliotecas, catálogos de museus, repertórios
bibliográficos de toda sorte.”(página 82) É lamentável a falta de instrumentos, e a
atualização tenha sido abandonada. E ele completa: “A ferramenta [,decerto,] não faz a
ciência. Mas uma sociedade que pretende respeitar as ciências não deveria se
desinteressar de suas ferramentas.” (página 82)
       Bloch finaliza apontando a desvantagem que o historiador está em relação a sua
carência das confidências involuntárias. E diz que será assim até que haja organização
racional, por parte das sociedades, do conhecimento delas mesmas. Lutando contra os
dois principais responsáveis pelo esquecimento e pela ignorância, que são: a
negligência, que some com documentos, eo sigilo diplomático, sigilo das famílias que
escondem ou destroem. Quando nossa sociedade dar lugar merecido, valorizar, a
informação, nossa sociedade dará um grande passo ao progresso.

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  • 2. Resenha do capítulo “A observação histórica” do livro Apologia da História escrito por Marc Bloch. 1) Apresente o autor compondo uma breve biografia intelectual assim como um comentário sobre suas obras mais relevantes. Historiador, fundador da Escola de Annales, Marc Léopold Benjamim Bloch deixou inacabado um trabalho de metodologia histórica. Ele era judeu e se escondia sob o regime de Vichy, participou das duas grandes guerras, e na segunda guerra ele foi preso e morto, assim deixando Apologia da História inacabada. Neste livro, Bloch não se limita em definir o trabalho do historiador e definir a história, mas ele também mostra como a história deve ser e como o historiador deve trabalhar. Considerado o maior medievalista de todos os tempos, ele foi considerado um dos grandes responsáveis por inovações no campo do pensamento histórico. O primeiro livro do historiador, Os reis taumaturgos, considerado obra muito original, trás estudos históricos, sociológicos e psicológicos. Outra obra, considerada a mais importante, é Os caracteres originais da história rural francesa, se baseia na interpretação da paisagem rural e tipos de campos. E o último livro publicado por Bloch que trás um novo conceito de história é A sociedade feudal. 2) Destaque os argumentos principais de Marc Bloch e a forma como ele constrói seu texto. No capítulo II Bloch fala sobre observação histórica, de conceitos gerais de observação do passado e construção do passado. Vestígios, testemunhos, relatos, narrativas, inúmeras características encontradas no presente que proporcionam ao historiador contato indireto com o passado, já que é impossível ele mesmo constatar os fatos que estuda, como diz logo no primeiro parágrafo do texto. Muitas vezes características descritas, faladas por testemunhas, como Bloch mesmo diz nesse trecho: “O historiador, por definição, está na impossibilidade de ele próprio constatar os fatos que estuda. Nenhum egiptólogo viu Ramsés; nenhum especialista das guerras napoleônicas ouviu o canhão de Austerlitz. Das eras que nos precederam, só poderíamos
  • 3. [portanto] falar segundo testemunhas.”(página 69) Podemos concluir disto e como ele mesmo diz, que ao historiador cabe o papel de um investigador de tudo que foi levantado, pois muitas vezes a história pode conter favorecimentos criados pela testemunhas. Em outro trecho ele diz: “todo conhecimento da humanidade, qualquer que seja, no tempo, seu ponto de aplicação, irá beber sempre nos testemunhos dos outros uma grande parte da sua substância.” (página 70) Todo dado, informação, não importando o tempo, vai absorver dos testemunhos parte da sua importância, pois o indivíduo vê e abrange pouco, em relação a grande quantidade de acontecimentos. Bloch argumenta no capítulo falando da primeira característica que é: “o conhecimento de todos os fatos humanos no passado, da maior parte deles no presente, deve ser [segundo a feliz expressão de François Simiand,] um conhecimento através de vestígios.”(página 73) Ou seja, por mais que o fato seja recente, o historiador não consegue fazê-lo se repetir ou investiga-lo por ele mesmo, a única forma é por vestígios que podem ser materiais, testemunhais e narrativas. Em um trecho essencial para compreensão de outro argumento, Bloch fala que o passado não tem como ser mudado, já o conhecimento é algo que não só pode, como está em transformação e aperfeiçoamento. Inclusive novos modos de pesquisa e investigação surgem ajudando no avanço do conhecimento. Os testemunhos, documentos postos pelo passado a disposição dos historiadores, Marc fala dos não voluntários e vai bem fundo dando exemplos dos do primeiro grupo, que são os testemunhos voluntários. Nesse trecho por exemplo: “...a fim de que as coisas feitas pelos homens não sejam esquecidas com o tempo e que grandes e maravilhosas ações, realizadas tanto pelos gregos como pelos bárbaros, nada percam de seu brilho. Assim começa o mais antigo livro de história que, no mundo ocidental, chegou até nós sem ser no estado de fragmentos. Ao lado dele, coloquemos, por exemplo, um desses guias de viagem que os egípcios [, na época dos faraós,] introduziam nos túmulos.”(página 76) Ao mesmo tempo que os testemunhos tem a sua dúvida sobre a autenticidade, veracidade e se vestígios ficaram pelos caminhos, o historiador desempenha o papel de tirar proveito do que tem, não deixando que buracos o atrapalhe, mas “eles afastam de nossos estudos um perigo mais mortal do que a ignorância ou a inexatidão: o de uma esclerose.” (página 77) Mesmo que fiquemos tão presos a esses relatos do passado, ao mesmo tempo somos livres no sentido de que por meio dos vestígios podemos conhecer muito mais daquilo que os testemunhos queriam nos falar. Um trecho importantíssimo explica melhor: Mas, a partir do momento em que não nos
  • 4. resignamos mais a registrar [pura e] simplesmenteas palavras de nossas testemunhas, a partir do momento em que tencionamos fazê-las falar [mesmo, a contragosto], mais do que nunca impõe-se um questionário. Esta é, com efeito, a primeira necessidade de que qualquer pesquisa histórica bem conduzida.” (página 78) O historiador então não pode se ver preso a investigar sem procurar questionar cada vestígio, em vez de apenas registrar aquilo que foi dito pelas testemunhas. Textos ou documentos arqueológicos também são considerados por Bloch difíceis de se estudar, a não ser que seja feita uma análise completa e minuciosa, como Bloch mesmo diz: “...senão quando sabemos interroga-los.”(página 79) Essa dificuldade Bloch mostra ser relativa, pois existe uma infinita diversidade de testemunhos, pois tudo que o homem fez no passado pode se tornar para o futuro um fato ou vestígio que auxilia no entendimento do passado. Como terceira e última parte do capítulo, Bloch trás para nós argumentos da dificuldade que ele destaca ser uma das mais difíceis, que é levantar documentos que o historiador estima ser necessário. Ele também apresenta a ajuda trazida de “...inventários de arquivos ou de bibliotecas, catálogos de museus, repertórios bibliográficos de toda sorte.”(página 82) É lamentável a falta de instrumentos, e a atualização tenha sido abandonada. E ele completa: “A ferramenta [,decerto,] não faz a ciência. Mas uma sociedade que pretende respeitar as ciências não deveria se desinteressar de suas ferramentas.” (página 82) Bloch finaliza apontando a desvantagem que o historiador está em relação a sua carência das confidências involuntárias. E diz que será assim até que haja organização racional, por parte das sociedades, do conhecimento delas mesmas. Lutando contra os dois principais responsáveis pelo esquecimento e pela ignorância, que são: a negligência, que some com documentos, eo sigilo diplomático, sigilo das famílias que escondem ou destroem. Quando nossa sociedade dar lugar merecido, valorizar, a informação, nossa sociedade dará um grande passo ao progresso.