3. Prefeito do Recife Equipe Técnica
João da Costa Coordenação
Vice-prefeito do Recife Zélia Sales
Milton Coelho Supervisão
Secretaria Especial de Relações Mário Ribeiro dos Santos
com a Imprensa Entrevistas e Pesquisa de Campo
Ceça Britto Graça Xavier, Paulinho Mafe e Perácio Gondim
Diretoria de Jornalismo Guimarães Junior
Fábio Araújo Textos
Secretaria de Comunicação Mário Ribeiro dos Santos
Ceça Britto (Interina) Revisão de Textos
Diretoria de Propaganda e Criação Karolina Ferreira
Kássia Araújo Design Gráfico
Secretaria de Cultura Ana Helena S. Cavalcanti
Renato L Lúcia Helena N. Rodrigues
Fundação de Cultura Cidade do Recife Colaboração
Presidente Anderson Carlos, Dionísia, Leandro Souza
Luciana Félix e Vera Regina Marques
Coordenação Geral do São João Fotografias
Bode Valença Paulinho Mafe e acervo das quadrilhas
Diretoria de Desenvolvimento e Descentrali-
zação Cultural Agradecimentos
Luciana Veras Alexandre Macedo, Brito (Catirina), Carlos
Gerência de Artes Cênicas Varella, Carmem Lélis, Carminha Lins,
Conceição Camarotti, Didha Pereira, Eduardo
Albemar Araújo
Pinheiro, Eliane Meireles, Fernando Augusto
Gerência de Formação Cultural Santos, Galeana Brasil, Geraldo Vital, Graça
Zélia Sales Xavier, Haja Teatro, Ivan (Mateus), José Cleto
Gerência de Serviços Pedagógicos Machado, Leda Alves, Magdalena Almeida,
Mário Ribeiro dos Santos Marco Camarotti, Patrícia Reis, Prazeres Barros,
Gerente de Serviços de Produção Gráfica Normando Roberto Santos, Rosana, Rosival
Santos (Mano), Rudimar Constâncio, Sesc
Lúcia Helena N. Rodrigues
Piedade, Sônia Medeiros, Telma Nunes, Tiago
Lopes de Andrade Lima, Uel Silva e a todos os
quadrilheiros consultados.
Apoio
Sesc Piedade
4. Deveras - 1993 Truaka - 1992
São João na Roça - 1990 Dona Sinhá - 1991
Flor do Abacate Mirim - 1995
Pelo Avesso - 1993 Boko Moko - 1990
5. Lumiar - 1995 Explosão Pernambucana - 2004
Truaka Origem Nordestina - 1998
Quarenta Graus - 1997 Dona Matuta - 2007
Boa Vista Show
6. As Quadrilhas Juninas constituem uma das manifestações culturais mais
representativas do São João do Recife. Elas ocupam os diferentes espaços
da festa, transformando o cotidiano da cidade com a singularidade de es-
petáculos artísticos que dizem de nós, o que somos e fomos, reafirmando
as nossas riquezas e diversidade cultural.
Nos Arraiais da Memória: as quadrilhas juninas escrevem diferentes histórias
é um trabalho que documenta o nosso reconhecimento, a valorização e a
perpetuidade de uma expressão cultural, que particulariza as festividades
juninas e a história da nossa cidade.
Essa publicação dialoga com o que acreditamos ser importante para o re-
gistro da memória de um bem cultural. É um trabalho que apresenta um
diferencial: o ineditismo da escrita da história do Festival Pernambucano
promovido pela Prefeitura do Recife, juntamente com a trajetória de qua-
renta e uma quadrilhas juninas. Aqui, são contadas peculiaridades dos gru-
pos, costumes em comum, além do reconhecimento de numerosos talentos
que se revelam e se superam a cada São João.
Que essa pesquisa se multiplique nos encontros dos quadrilheiros pelos
arraiais da cidade, que tome novo fôlego nas conversas dos moradores das
comunidades de origem dos grupos; que estimule a concretização dos so-
nhos e a formação de novas quadrilhas, na esperança de que novas histórias
sejam escritas.
João da Costa
Prefeito do Recife
8. “Olha pro céu, meu amor, veja como ele está lindo...”. Foi em noites de São
João, com os versos de Luiz Gonzaga e José Fernandes a embalar casais nos
bairros recifenses, que uma brincadeira praticada em todos os arraiais se
afirmou como legítima manifestação cultural. Assim como não se pensa
o Carnaval sem os blocos e troças que o mantêm vivo, não existe o ciclo
junino sem a criatividade e a tradição das quadrilhas.
Observar a apresentação dos pares requer a mesma atenção e, por que não?,
reverência que se devota a um espetáculo teatral. Há uma dramaturgia pró-
pria no enredo, há uma narrativa coesa nas coreografias e há uma estética
peculiar nos adereços, da mesma maneira que há um modo particular de
cada quadrilha se descortinar ao público.
À plateia, ora empolgada com a evolução da dança, ora surpresa com as
revoluções propostas e incorporadas ao longo dos anos, cabe o prazer de
apreciar aquela encenação e reter na memória os personagens, o casamento
e os passos da montagem. Impossível não associar o anavantu, anarriê e o
balancê de uma quadrilha à lembranças acalentadas por todos nós, como os
ecos de “foi numa noite igual a esta que tu me deste o teu coração...”.
“Havia balões no ar, xote e baião no salão” e as quadrilhas juninas se multi-
plicaram, renovaram-se e potencializaram seu alcance, tornando cada noi-
te de São João uma festa multicultural, colorida, democrática e plural. A
Prefeitura do Recife, por meio da Fundação de Cultura Cidade do Recife,
orgulha-se de registrar essa história. Nossa cidade é a gente quem faz. E
nossa cultura é a gente quem faz questão de preservar.
Luciana Félix
Presidente
Fundação de Cultura Cidade do Recife
10. Sumário
Ai que saudade que eu tenho das noites de São João ... 13
Festival Pernambucano de Quadrilhas Juninas 17
Histórico das Quadrilhas Juninas
Anarriê Junina 32
Arraialzinho do Cordeiro 34
Boa Vista Show 36
Brigões de Suape 39
Brincant’s Show 42
Cambalacho 45
Chiclete com Banana 48
Deveras 52
Dona Matuta 56
Dona Sinhá 60
Fogo na Noite 63
Flor do Abacate 64
Forró Moderno 66
Geração 000 69
Junina Tradição 71
Lumiar 77
Matutinho Dançante 81
Moderna Fuzarca 83
Nóis Sofre Mais Nóis goza 86
Olodum Mirim 88
Origem Nordestina 91
Pé Dentro, Pé Fora 94
Pelo Avesso na Roça e na Raça 97
Pingo D’Água 101
Pisa na Fulô 103
Pisa no Espinho 105
0 Graus 108
Raio de Sol 111
Raízes do Pinho 116
Rancho Alegre de Camaragibe 118
Rosa Linda, Linda Rosa 122
Sanfona Branca 125
Sempre Kita 127
Tradição City 129
Trapiá Pernambucana 131
Traque de Massa 132
Truaka 135
Vai-Vai na Roça 137
Xique Xique no Remelexe 142
Xilindró de Ritmos 144
Zabumba 148
12. Ai que saudade que eu tenho das noites de São João ...
“Ai que saudade que eu tenho
Das noites de São João
Das noites tão brasileiras das fogueiras
Sob o luar do sertão
Meninas brincando de roda
Velhos soltando balões
Moços envolta fogueira
Brincando com o coração
Eita São João dos meus sonhos
Eita saudoso sertão ai ai”
(Luiz Gonzaga e Zé Dantas)
A lembrança nos traz à memória a mais remota passagem que temos da
festa de São João quando ouvimos essa música de Luiz Gonzaga e Zé Dan-
tas. Quantas imagens vêm na tela da mente? Lembranças do cheiro de fu-
maça no ar; do gosto de milho cozido, do sabor da canjica, que se mistura
ao cravo e à canela do bolo pé de moleque... Versos, que propõem uma
profusão de sentidos, que não se curvam às definições de um dicionário
limitado. As histórias das quadrilhas juninas também esbanjam muitos
sentidos. Elas não se revelam completamente... Dormem no mais íntimo
das memórias dos quadrilheiros; repousam nos bairros, nas ruas e nos
arraiais, onde meninas brincam de roda e velhos soltam balões em noites
tão brasileiras das fogueiras...
Nos Arraiais da Memória nasce, portanto, com um primeiro desafio:
relacionar, num mesmo trabalho, história e memória, considerando suas
múltiplas temporalidades, visto que, nos depoimentos dos entrevistados,
falam os jovens do passado pela voz dos adultos, ou dos idosos do tempo
presente. Quadrilheiros que revelam as memórias de suas experiências e
também lembranças a eles repassadas; pessoas que falam de um tempo
sobre um outro tempo; que registram sentimentos e interpretações
entrecortadas pelas emoções do ontem, renovadas ou ressignificadas pelas
emoções do hoje.
13. Nas páginas que seguem, identificamos como história e memória se co-
nectam e se misturam, numa relação na qual se entrelaçam o passado e o
presente; a lembrança e o esquecimento; o pessoal e o coletivo; o público e
o privado; o sagrado e o profano.
Nesse diálogo entre memória e história existe uma relação de poder, que
tanto revela como oculta. Talvez, esse tenha sido o nosso segundo desafio,
quando adotamos (pelas próprias circunstâncias da pesquisa) o método
da história oral como procedimento para o desenvolvimento do trabalho.
Nesse sentido, entre as pessoas que foram entrevistadas (testemunhas dos
acontecimentos vividos pelos grupos), muitas lembranças foram reveladas
de forma explícita, outras vezes de forma velada, chegando em alguns casos
a ocultá-las, talvez para se proteger dos traumas e das emoções que marca-
ram as suas vidas.
Depoimentos únicos e fascinantes em sua singularidade e potencialidade
de revelar emoções. Momentos, que não se reduzem ao simples ao ato de
recordar, mas que revela o mais íntimo dos referenciais de um grupo social
sobre o seu passado e presente, fornecendo significados e evitando que seus
membros percam as suas raízes e identidades. Apesar de compreendermos
a memória como um fenômeno coletivo e social, submetido a flutuações e
mudanças constantes, identificamos nos relatos, a existência de marcos ou
pontos relativamente invariáveis, imutáveis. Um desses marcos é o Festival
Pernambucano de Quadrilhas Juninas, que aparece em todas as falas como
uma história de vida individual, algo relativamente íntimo, como se fizesse
parte da própria essência da pessoa.
Nos Arraiais da Memória também registra o reconhecimento, na sua justa me-
dida, da contribuição de muitas pessoas que participaram do processo de escrita
da história das quadrilhas juninas em Pernambuco. Nomes de quadrilheiros,
gestores, jurados, professores, entre outros personagens, que são encontrados ao
longo da narrativa e se misturam na busca de interesses comuns.
Paralelamente a essas pessoas, cujas lembranças alimentam a construção
desse trabalho, destacamos os diferentes lugares da memória que se reve-
lam durante a pesquisa. Lugares dotados de significados, particularmente
14. ligados a uma lembrança pessoal: os arraiais de bairro, o Sítio Trindade, a
festa de São João, o Festival Pernambucano, os outros concursos.... Espaços
múltiplos e comuns, que ficam nas memórias, empiricamente fundados em
fatos concretos.
Uma leitura mais atenta do trabalho possibilita, ainda, identificar as mu-
danças que ocorreram na forma de fazer quadrilha junina no Estado nas úl-
timas três décadas. Percebemos que elas iniciam como uma brincadeira de
São João entre vizinhos do mesmo bairro e se transformam em espetáculos
artísticos com uma ética própria, técnica e profissionalismo. Outras trans-
formações identificadas dizem respeito ao próprio formato dos trabalhos
dos grupos, como por exemplo: a criação de novos passos e movimentos
coreográficos; as mudanças nos estilos musicais adotados; novos forma-
tos, texturas e pigmentações dos figurinos; a gravação dos casamentos; a
importância atribuída ao tema, novos personagens, entre outras inovações
consideradas comuns quando se trata de uma manifestação cultural em
contínuo processo de mudanças e permanências.
A pesquisa também revela ao leitor, como se configura a geografia da festa
de São João no Recife e Região Metropolitana, desde a organização dos
arraiais de bairro, onde as quadrilhas e a própria Prefeitura do Recife pro-
moviam concursos nos anos 0, até o formato atual de descentralização
do Festival Pernambucano nas seis RPAs.
Considerando as evidências reveladas, a Gerência de Formação Cultural
da Fundação de Cultura Cidade do Recife certifica-se de que apresenta à
sociedade, pela primeira vez, um trabalho que registra e atribui valor cien-
tífico à história das quadrilhas juninas e do Festival Pernambucano Adulto
e Infantil. Uma produção de credibilidade, construída a partir dos depoi-
mentos e das experiências de quem faz a manifestação cultural quadrilha
junina ter histórias importantes, que agora se encontram documentadas.
Contribuições singulares que possibilitam a construção de novas fontes,
que subsidiarão pesquisas, qualificando acervos de bibliotecas públicas, es-
colares, museus, ONGs e centros de documentação, pesquisa e memória
histórica do Recife e Região Metropolitana.
15. Nos Arraiais da Memória possibilita também novos desdobramentos que
se fazem pertinentes. Dos sessenta grupos selecionados para esta primeira
edição, apenas quarenta e um tiveram suas histórias documentadas. A au-
sência dos outros textos deve-se a dois fatores: a dificuldade de encontrar os
representantes e/ou componentes das quadrilhas que não mais participam
do São João e a inexistência de documentos que comprovem empiricamen-
te momentos da história de vida dos grupos atuantes (situação comum no
universo das manifestações de cultura popular). Essa realidade dificultou a
concretização da ideia inicial do trabalho, porém, contribuiu para estimu-
lar a organização da segunda edição dessa pesquisa, contemplando outras
quadrilhas que igualmente contribuem para o enriquecimento da história
cultural dessa cidade.
Mário Ribeiro dos Santos
Gerente Pedagógico (GOFC / FCCR)
Zélia Sales
Gerente de Formação Cultural (GOFC / FCCR)
17. Meados dos anos 0, a sociedade civil se reúne (entidades de classe, sin-
dicatos), num movimento histórico de reivindicação por eleições presiden-
ciais diretas, que devolva ao Brasil a liberdade de expressão política depois
de um longo período de censura oficial. Nesse clima efervescente que do-
mina o cenário nacional, cresce no Recife outro movimento, também civil,
protagonizado por jovens, que encontra nas expressões culturais do Ciclo
Junino, uma forma de se manifestar publicamente por meio da arte de brin-
car quadrilha junina.
Os grupos são formados, na sua maioria, por pessoas da mesma família ou
moradores da mesma rua, que desejam se reunir, congregar amigos, fami-
liares e vizinhos numa animada festa de São João. Um modelo de diversão
que tem como cenário principal um arraial, enfeitado com bandeirolas, ba-
lões, palhas de coqueiro, fogueiras, entre outras estruturas, que se repete em
diversos bairros dos subúrbios do Recife. Cada qual com sua programação
própria, maneiras específicas de dialogar com as estruturas sociais vigentes,
de despertar emoções e reações, expressando-se livremente e disseminan-
do para a sociedade o que de fato querem através da brincadeira.
Os arraiais de bairro ocupam o espaço da festa na cidade e dão visibilida-
de às expressões culturais existentes nos bairros. As quadrilhas juninas se
revestem de maior importância, revelando talentos, estreitando as relações
de troca com a comunidade, além de gerar trabalho, renda e promover,
por meio da arte, crianças, jovens e adultos, moradores de áreas de grande
vulnerabilidade social.
Consciente das potencialidades que emanam dessa manifestação e da sua
popularidade na cidade, a Prefeitura do Recife organiza, em , um con-
curso de quadrilhas juninas, que visa, sobretudo, ampliar a participação
popular, valorizar e estimular as diferenças culturais das festas juninas na
capital. Sob a coordenação da historiadora Sônia Medeiros, o Festival Per-
nambucano de Quadrilhas Juninas (nome oficial do evento), acontece pela
primeira vez no Ginásio de Esportes Geraldo Magalhães, popularmente co-
nhecido como Geraldão, no bairro da Imbiribeira. Entre dezenas de grupos
que participaram, consagra-se a primeira campeã do concurso a quadrilha
18. São João do Carneirinho (Engenho do Meio) e, em segundo lugar, a Xique
Xique no Remelexe (Brasília Teimosa).
Em , o Pernambucano (forma popular de chamar o concurso) assume
um formato descentralizado, realizado nos dias de São João, em diferentes
arraiais espalhados pelo Recife e Região Metropolitana. “O concurso era re-
alizado nos arraiais das quadrilhas Boko Moko (UR ), Kokota (Associação
dos Moradores da UR ), Pelo Avesso (UR ), Deixa Meu Pé Quieto (Ipsep),
no Vasco da Gama, em Brasília Teimosa, no Encanta Moça (Pina), Centro
Social Urbano Bidu Krause (Totó). A etapa final acontecia no Pátio de São
Pedro”, diz Graça Xavier, na época, integrante da equipe do concurso.
Kokota na Roça
O Festival adota um formato, que obedece aos dois modelos de quadrilhas
da época: as tradicionais e as estilizadas, avaliadas por duas comissões jul-
gadoras formadas por indicação direta dos organizadores. Entre os jurados
que percorrem os arraiais assistindo às apresentações das quadrilhas (cerca
de oitenta) nesse período, destacam-se: Carlos Varella, Alfredo Borba, Ci-
rinéia Amaral, Jurandir Austtermann, Lula Gonzaga, Liane Borba, Hermó-
genes Araújo, Paulo Fernando, Albemar Araújo, Osvaldo Araújo, entre ou-
tros, que se dividiam no julgamento dos itens: entrada e saída da quadrilha,
marcador, animação, alinhamento e figurino.
19. Não demora e o Pernambucano se consolida como o principal concurso de
Quadrilhas Juninas do Estado, cujo modelo repercute e estimula empre-
sas e associações particulares a estruturarem os seus próprios concursos, a
exemplo do Festival de Quadrilhas Juninas da Rede Globo Nordeste ()
e o concurso do Sesc, em .
Testemunha do processo de mudanças e permanências dos grupos, a coor-
denação do Pernambucano, em acordo com os dirigentes das quadrilhas,
decide organizar um único concurso, extinguindo as categorias tradicional
e estilizada. Essa nova fase do concurso () é coordenada por Carlos
Varella e tem como principal cenário o arraial do Sítio Trindade, em Casa
Amarela. É o início da construção do sentimento de identidade dos qua-
drilheiros com o local, considerado referência pelos seguidores da mani-
festação.
A popularidade alcançada pelo Festival entre o universo dos quadrilheiros
leva a coordenação do concurso a organizar a primeira reunião geral com
os grupos. O encontro, coordenado pelo arte-educador Carlos Varella, em
, contou com a participação de quadrilheiros e integrantes da equipe
organizadora do concurso, os quais analisaram os diferentes itens de julga-
mento. Dessa maneira, ficaram estabelecidos os seguintes itens: marcador,
casamento, vestuário, música, coreografia e conjunto. “Esse momento foi
muito importante para a história do concurso, pois registrou-se em docu-
mento (o regulamento) os principais aspectos que caracterizam a manifes-
tação cultural quadrilha junina. As várias coordenações que teve o Pernam-
bucano (Graça Xavier (); Paulinho Mafe (-); Telma Nunes
(-000); Zélia Sales (00 e 00) e Albemar Araújo juntamente com
Zélia, a partir de 00, seguiram como parâmetro esse modelo de análise
para nortear o trabalho da comissão julgadora”, diz Paulinho Mafe.
Após catorze anos de realização do Festival Adulto, a Fundação de Cultura
cria, em , o Festival Pernambucano de Quadrilhas Juninas Infantis.
“Nós fizemos o concurso na época com R$ .000,00. Foi muito importante.
Logo no primeiro ano, concorreram 0 quadrilhas, consagrando-se a ª
campeã do Pernambucano a quadrilha Rancho Alegre”, diz Paulinho Mafe,
0
20. idealizador e coordenador da ação durante oito anos. Assim como no con-
curso adulto, no infantil as quadrilhas são avaliadas por uma comissão jul-
gadora, composta por três membros. Entre os nomes que fizeram parte da
primeira comissão do infantil, citamos: Carmem Lélis, Rogério Fernandes
de Castro e Verônica Ferreira.
Xilindro de Ritmos
O novo milênio inicia e outras mudanças contribuem para transformar a
escrita da história das quadrilhas juninas. Em junho de 000, o Departa-
mento de Documentação e Formação Cultural publica a plaquete Quadri-
lha Junina: história e atualidade. Um movimento que não é só imagem, um
estudo preliminar com vinte e duas quadrilhas, destacando a importância
da manifestação como formadora de mão de obra na área cultural. A pes-
quisa coordenada por Zélia Sales e organizada pela historiadora Magdalena
Almeida resultou em vários momentos de reflexão com os quadrilheiros,
entre os quais se destaca o seminário realizado no Teatro Barreto Junior, em
agosto do mesmo ano.
21. Nesse encontro, organizado pelos dirigentes de quadrilha com o apoio da
Fundação de Cultura, discutiu-se, entre outros assuntos, sobre os aspectos
históricos da manifestação; mudanças e permanências; a existência de um
concurso, suas potencialidades e dificuldades e a importância de sistema-
tizar os trabalhos desenvolvidos pelos grupos. Desse primeiro momento,
participaram alguns representantes de quadrilhas como: Dayvison Bandei-
ra (Vem Que Tem Nordeste), Fábio Andrade (Lumiar), Itamar Coutinho
(Flor do Abacate), Ivanildo Plínio (Brigões de Suape), entre outros, junta-
mente com os palestrantes: Zélia Sales, Magdalena Almeida, Carmem Lélis,
José Manoel, Didha Pereira, Paulinho Mafe e Willams Santana.
O encontro resultou na criação da Federação de Quadrilhas Juninas de Per-
nambuco (FEQUAJUPE), em 0 de agosto de 000 (registrada oficialmente
dois anos após). Uma entidade civil sem fins lucrativos, que nasce com o
intuito de valorizar e fortalecer o movimento junino no Estado. Entre os
quadrilheiros que se afirmaram como defensores dos interesses dos grupos
na luta pelo reconhecimento público e pela conquista do espaço político do
segmento, destacamos aqueles que presidiram a entidade: Fábio Andrade
(000-00); Antônio Amorim (00-00); Rejane Santana (00-00);
Gilcley Paiva (00- atual). Outros nomes (membros da diretoria) também
deixaram suas marcas na história da Federação. São eles: Francisco Santa-
na, Hugo Menezes, Manoel Alexandre, Sérgio de Barros, Ivanildo Plínio,
Dayvison Bandeira, Itamar Coutinho, Gustavo Medeiros, Patrícia Babalu,
Fábio Jardel, André Perreli, Michele Miguel, Sérgio Murilo (estes três últi-
mos integrantes da atual gestão).
As discussões entre a Fequajupe e a Prefeitura do Recife avançaram e um
conjunto de ações foi estabelecido, a partir do estreitamento do pensamen-
to comum. Segundo Albemar Araújo, entre os trabalhos realizados em
parceria com a Federação, podemos destacar: “I Seminário Junino de Per-
nambuco com discussões de temas como empreendedorismo, marketing
das quadrilhas, captação de recursos, elaboração de projetos e subvenção.
Esse encontro aconteceu em 00, no auditório da Universidade Salgado de
Oliveira (UNIVERSO) e contou com a participação de aproximadamente
duzentas pessoas, entre quadrilheiros, representantes da Prefeitura do Re-
22. cife, Governo do Estado e Sesc. Outra atividade relevante foi a primeira ca-
pacitação dos jurados dos Arraiais Comunitários, em junho desse mesmo
ano, lá no Museu de Arte Moderna Aloísio Magalhães (MAMAM). Mais
de cinquenta pessoas estiveram presentes. Outra atividade foi a palestra
que participamos (Rivalidade não Rima com Violência), no Teatro Hermi-
lo Borba Filho. Além de outras ações como o Pré-Junino, o Quadrilhão, o
Festival Pernambucano de Quadrilhas Juninas da FEQUAJUPE (Adulto e
Infantil), organização de Cartões Postais das Quadrilhas, exposições como
a realizada na Casa do Carnaval, em novembro de 00, Quadrilha Junina:
do fazer cotidiano ao espetáculo.”
Nesse contexto de aproximação entre a política cultural da cidade e os pro-
dutores diretos das manifestações de cultura popular, a Casa do Carnaval
(na época uma divisão do Departamento de Documentação e Formação
Cultural/ FCCR) abre as suas portas para as quadrilhas juninas interes-
sadas em desenvolver trabalhos fundamentados em estudos e pesquisas.
Em pouco tempo, a Casa torna-se um reduto dos quadrilheiros. “As visitas
eram constantes, principalmente quando se aproximava o período junino.
Os grupos iam lá, marcavam uma reunião com Carmem Lélis e ela atendia
a todos, sugerindo leituras, documentários, imagens, outras ideias. Era de
fato um dos trabalhos de formação de grande visibilidade da Fundação de
Cultura”, diz Zélia Sales (na época Chefe do Departamento de Formação
Cultural e Coordenadora Geral do Festival de Quadrilhas).
A demanda contribui para a qualificação e ampliação do acervo do espaço,
o qual passa a atender diferentes grupos em busca de material para consulta
(livros, periódicos, DVD’S, Fitas VHS, fotografias, entre outros documen-
tos). Outras formas de garantia de visibilidade da manifestação quadrilha
junina são as exposições temáticas, realizadas no período junino, no espaço
térreo da Casa do Carnaval. Entre as exposições do espaço, destacam-se:
Fogo é Louvor, fogueira é símbolo (00); Quadrilha Junina: tradição, arte e
ousadia (00), São João: festa da fertilidade da terra e do homem (00),
São João: manifestação de fé, celebração da alegria (00); Quadrilha Juni-
na: do fazer cotidiano ao espetáculo (parceria com a Fequajupe, 00). “As
exposições, visitadas por mais de duas mil pessoas, serviam de inspiração
23. para as quadrilhas e também como um instrumento de pesquisa não só
para os quadrilheiros, mas para os estudantes, pesquisadores e outras pes-
soas interessadas que passavam pelo Pátio de São Pedro e eram atraídas
pelos textos, objetos e sons oriundos do espaço. Produzíamos também um
folder, que o visitante levava para casa um resumo da exposição; além de
emprestar para instituições de ensino da cidade, os materiais produzidos
(banners principalmente) de exposições anteriores”, diz Conceição Fragôso
(na época, estagiária da Casa do Carnaval).
O interesse pela pesquisa e a carência de material para estudo, que desse
subsídio às quadrilhas produzirem os seus espetáculos, leva o Departamen-
to de Formação Cultural em parceria com a Casa do Carnaval e o Depar-
tamento de Artes Cênicas elaborarem um programa de formação cultural
focado nas quadrilhas juninas. “Publicamos a segunda edição da plaquete
Quadrilha Junina: história e atualidade. Um movimento que não é só imagem
Exposição Quadrilha Junina: do fazer cotidiano ao espetáculo, 2005
24. (atualizada e organizada por Carmem Lélis; realizamos a primeira oficina de
Casamento Matuto (em parceria com a Fequajupe), com material didático
(apostila) e aulas práticas no Pátio de São Pedro. Nesse primeiro trabalho,
tivemos como professores Carmem Lélis (história do ciclo junino); Albemar
Araújo (Dramaturgia e Interpretação); Willams Santana (Técnica Vocal);
Pedro Souza e Henrique (Artes Plásticas)”, recorda Zélia Sales.
As descobertas levam os grupos a ampliarem as suas necessidades e novos
cursos são organizados pela Fundação de Cultura. “Realizamos o curso de
elaboração de projetos e captação de recursos para as quadrilhas, em 00.
No ano seguinte, continuamos com esse trabalho e realizamos no Centro
Cultural Inácia Raposo, na Boa Vista, quatro oficinas: Casamento (minis-
trada pelo ator Carlos Varella), coreografia (ministrada pelo coreógrafo
Valdir Nunes), Figurino e Adereços (ministrada pelos artistas plásticos
Américo Barreto e Fábio Costa) e Técnica Vocal (ministrado pela produ-
tora cultural Isolda Virgínia). A procura pelas oficinas refletia a lacuna na
cidade de espaços que promovessem esse tipo de atividade, indo de encon-
tro aos desejos e necessidades dos quadrilheiros”, reforça Zélia Sales, que
completa: “Desses trabalhos, muitos alunos se profissionalizaram e até hoje
atuam vigorosamente na área. Entre alguns nomes que recordo, destaco:
Perácio Gondim, Leilane Nascimento, Welligton Gomes (China), Tarcísio
Xavier, Lenildo Carvalho (Suelane), Gildo Alencar, Anderson Gomes, Sér-
gio de Barros, Cléo, Carola, Edicley, Adgelson Soares (Alegria), Andreza,
Gabriela, Epaminondas (Nondas), Elon, entre outros”.
Os trabalhos de formação ampliam a ideia primeira do Festival pautado
num espaço de concorrência e disputas acirradas entre os grupos. O Per-
nambucano consiste agora no ponto de culminância de todo o trabalho de
pesquisa desenvolvido ao longo de cinco ou sete meses pela quadrilha. “É a
apresentação do resultado final de pesquisa diluído nos adereços, figurino,
no texto do casamento, na coreografia, na música, no conjunto como um
todo. Ficamos muito gratificados quando identificamos no arraial, várias
passagens dos assuntos apresentados nas oficinas”, diz Albemar Araújo (Ge-
rente de Artes Cênicas e Coordenador Geral do Festival de Quadrilhas).
25. Compreendendo o Festival como um sistema em processo, a Fundação de
Cultura amplia o seu olhar até a outra extremidade da situação: a comissão
Oficina Casamento Matuto, 2004
Oficina Casamento, 2006
26. julgadora. A ideia consiste em preparar o jurado, do ponto de vista teórico,
para os diferentes discursos apresentados pelas quadrilhas nos arraiais. Um
espaço, que na pluralidade de temas diversos, dialoga de forma integra-
da com todas as áreas que compõem o espetáculo. “O primeiro seminário,
de fato, aconteceu, em 00, no Auditório da Prefeitura para mais de 0
participantes. Estiveram presentes jurados, representantes do Orçamen-
to Participativo e quadrilheiros. Em 00, retomamos com esse trabalho,
dessa vez no Teatro de Santa Isabel, onde se discutiu, durante quatro dias,
com mais de 0 candidatos (historiadores, jornalistas, atores, músicos, pro-
fessores, pesquisadores de cultura popular, figurinistas e quadrilheiros),
os itens de julgamento do Festival (coreografia, marcador, música, casa-
mento, figurino e conjunto). Passamos pela Livraria Cultura (00 e 00)
e somente em 00, já na Faculdade Maurício de Nassau, adotamos uma
nova metodologia: separamos os itens por sala e os alunos passaram a se
inscrever de acordo com a afinidade do assunto. Esse diálogo com todas
as áreas do conhecimento aprimora o processo de formação, qualifica a
comissão julgadora e o próprio Festival, que não apresenta uma nota fria
ao quadrilheiro, mas sim, com uma análise que justifica a nota atribuída.
Esse é o nosso diferencial”, diz Zélia Sales. Entre os jurados que contribuem
para a qualificação do Festival, destacamos: Geraldo Vital, Ivone Cordeiro,
Rudimar Constâncio, Galeana Brasil, Mônica Cordeiro, José Cleto Macha-
do, Ana Miranda, Luiz Souza, Hermógenes Araújo (in memorian), Willams
Santana, Alexandre Macedo, Carlos Varella, Odilex, Socorro Almeida, Ge-
raldo Berardinelli, Carlos Sales, Roberto Carlos, Ester Monteiro, Eduardo
Pinheiro, Sérgio Barros, Antônio Fernando, Vado Luz, Patrícia Breda, Ivo-
nete Melo, Anderson Gomes, Perácio Gondim, Carlos Melo (in memorian)
entre outros.
O ano de 00 trouxe mais uma modificação para o Festival: as quadrilhas
adultas se dividem em grupos Um e Dois. De acordo com Paulinho Mafe,
“essa divisão foi estabelecida pela classificação do ano anterior, passando
para o Grupo Um as trinta quadrilhas mais pontuadas. Com essa inovação,
a primeira campeã do Grupo Dois foi a Quadrilha Junina Moderna Fuzar-
ca (Campina Barreto), depois foi a vez da Dona Matuta (San Martin, em
27. I Seminário Junino de Pernambuco, UNIVERSO, 2005
00); Pisa no Espinho (Rio Doce, 00) e Sanfona Branca (Areias, 00)”.
Ainda em 00, destacamos o curso de figuras do casamento (com dezoi-
to quadrilheiros e a participação da fonoaudióloga Leila Freitas, no Teatro
de Santa Isabel) e o trabalho de consultoria sobre Casamento Matuto com
trinta quadrilhas do Recife e Região Metropolitana.
Na vigésima segunda edição do Festival Adulto, o Pernambucano volta a
ser realizado de forma descentralizada. Os locais escolhidos para a monta-
gem dos polos espalham-se entre quatro RPAs (Região Política Adminis-
trativa): a dois (Nascedouro de Peixinhos), a três (Sítio Trindade), a cinco
(San Martin) e a seis (Ibura). Em 00, entre outras novidades do concurso,
destacamos o desdobramento do item conjunto para a criação de um novo
item – tema, a partir de um seminário realizado com os quadrilheiros no
Recife Praia Hotel. Ainda nesse ano, trinta e duas quadrilhas se apresenta-
ram em noventa e sete polos comunitários.
No ano seguinte (00), após um estudo de avaliação do São João ante-
rior (infraestrutura, equipe, segurança, acessibilidade etc), novas mudanças
marcam a história do Festival: a criação dos polos da RPA um ( Colégio
IEP) e da RPA quatro (Escola Diná de Oliveira, no Barbalho). “Esse ano foi
um desafio para a Fundação de Cultura: garantir a qualidade do trabalho
de forma igualitária em todos os polos. Para a eficácia do São João de 00,
28. Seminário - Recife Praia Hotel, 2008
contamos com a contribuição de toda uma equipe especializada, principal-
mente dos nossos coordenadores dos polos: Normando Roberto (RPA ),
André Luiz Ferreira da Paz (RPA ), Graça Xavier (RPA ), Telma Nunes
(RPA ), Mário Ribeiro (RPA ), Cristiana Lopes (RPA ) e Paulinho Mafe
(Infantil, na RPA )”, ressalta Albemar Araújo.
Zabumba RPA 5 - Praça Noel Rodrigues , San Martin, 2009
29. 00 se inicia com reuniões entre quadrilheiros e representantes da Fun-
dação de Cultura, para elaboração do novo regulamento do Festival e a
escolha de novos polos. “Nos últimos anos, o Festival ganhou uma dimen-
são diferenciada. O polo da Escola Diná de Oliveira foi transferido para a
Escola Helena Lubienska (Torre) e em 00 para o Espaço Via-Show (Pra-
do). O mesmo aconteceu com o polo da Escola IEP, que foi transferido em
00 para a Praça do Arsenal (Bairro do Recife). Estreitamos também nesse
período, a nossa relação com os quadrilheiros e a Fequajupe, construindo
juntos os regulamentos (desde 00), negociando valores de premiação, a
escolha da comissão julgadora, dos polos das eliminatórias e da final (este
ano voltaremos para o Geraldão realizar a final do concurso), avaliação do
São João, entre outras ações”, diz Zélia Sales.
Para 00, ao completar vinte e seis anos do Festival Adulto e doze do In-
fantil, o Pernambucano e as Quadrilhas Juninas terão pela primeira vez as
suas histórias registradas numa publicação, que certamente entrará para
a coleção dos trabalhos mais relevantes da Fundação de Cultura, no que
compete ao processo de salvaguarda de uma das manifestações culturais
mais representativas das festividades juninas em Pernambuco: as Quadri-
lhas Juninas.
0
31. Anarriê Junina
A ideia primeira de fundar a quadrilha Anarriê Junina foi do professor de
Educação Física e coreógrafo Walmir Souza, em de março de 00, na
comunidade do Parque Capibaribe, município de São Lourenço da Mata. A
iniciativa logo teve o apoio de duas importantes mulheres: Zenaide Rodri-
gues (tia Zenaide) e Iracilda da Silva (vovó Zilda).
Com o propósito de reunir e ocupar o tempo ocioso dos jovens da locali-
dade, a Anarriê desenvolve um trabalho de formação pedagógica, através
da dança. Essa preocupação com o papel social da quadrilha transparece
na fala do marcador e presidente do grupo Walmir Souza: “Para dançar
na quadrilha o brincante tinha que estar matriculado e frequentando
uma rede oficial de ensino. Com isso, houve uma aceitação muito grande
por parte da comunidade. Essa iniciativa ajudou muitas pessoas que esta-
vam fora da escola ou mesmo aquelas que estavam matriculadas a levar a
sério os estudos, dando prioridade ao processo de formação profissional
e educacional”.
32. A identificação da comunidade com o trabalho da quadrilha refletia na
procura dos jovens para fazer parte do grupo. No último ano da Anarriê,
participaram 0 pessoas, das quais, 0% eram moradoras da localidade.
Essa popularidade era visivelmente identificada nos ensaios, que aconte-
ciam na praça da Rua , Rua e na Escola Leonor Porto, a partir do mês
de março, e nas oficinas de formação cultural desenvolvidas pelo grupo
ao longo do ano. Segundo Walmir,“no decorrer desses cinco anos foram
realizadas várias atividades, entre elas, oficinas de teatro, ministrada pelo
professor Jorge Gomes de Fonseca; cabelo e maquiagem ministrada pela
estilista Bárbara Finsking; criação do vestuário feita em parceria com An-
dré de Biasy e Bárbara Finsking; criação de cenário e produção em geral
pelos integrantes que direta ou indiretamente colaboraram para a constru-
ção dessa quadrilha, mas em especial a Anderson Costa (Negão), Garbson,
Diogo, Carlos Marques, Edson (Buda), Gabriela (Gabicha), Andreza Costa,
Gláucia (Chinha) Marcílio, Jhonatan, Marcelinho, Dayvison (Day), Bruno
Henrique, Alisson (Ninho), George (Binho), Lery, Junior (Boy), Acácio,
Klebson, Genildo Machado e Gilberto Monteiro.”
O esforço e a dedicação de todos que fizeram a Anarriê Junina resultaram
na conquista de vários títulos, entre eles: campeã do Concurso Municipal
de Quadrilhas Juninas de São Lourenço da Mata (00); º lugar no Festival
Pernambucano da Prefeitura do Recife, grupo Dois, em 00,conquistando
os seguintes prêmios: melhor marcador (Walmir Souza), melhor Trilha So-
nora (Marcelinho, Marcilio, Chinha), melhor Maria Bonita, Gláucia (Chi-
nha), melhor Rainha, (Ceça); em 00, o grupo é campeão do primeiro
Concurso de Quadrilhas Juninas do Sesc São Lourenço, classificada para
final do grupo Um do Festival Pernambucano. Por motivos diversos, em
00, a Anarriê deixa de se apresentar no São João, levando grande parte
dos seus integrantes a organizarem outro grupo com o nome “Anavantu”.
33. Arraialzinho do Cordeiro
“A quadrilha junina mais antiga em funcionamento no Recife”. Assim é co-
nhecida a quadrilha Arraialzinho do Cordeiro, criada, em de maio de
, pelo núcleo de duas famílias – Caboclo e Vicente – moradoras do
Bairro do Cordeiro. A iniciativa partiu de Seu Francisco Agostinho Cabo-
clo, o popular Chico, que reuniu a criançada, “ordenando” o seu genro, Re-
ginaldo Vicente da Silva (Regi), a marcar a brincadeira. Em comum acordo
dos dois, decidem batizar a quadrilha de Arraialzinho do Cordeiro, pelo
fato de seus “dançarinos serem pequenos e vão se apresentar em arraial, daí
colocamos o arraial no diminutivo e fica arraialzinho e Cordeiro porque é
nosso bairro”, diz Reginaldo Vicente, atual presidente.
A quadrilha se populariza na comunidade e a procura dos dançarinos au-
menta a cada ensaio, causando no grupo o desejo de aperfeiçoar o trabalho
e participar dos principais concursos do gênero na cidade. Assim, em
participa pela primeira vez do concurso da Rádio Globo (Bairro de São
34. José), consagrando-se campeã. No ano seguinte, no mesmo concurso, con-
quista o bi-campeonato. Em , é a vez de Seu Regi receber uma home-
nagem da TV Jornal do Commercio como o melhor marcador, fato que se
repete em , na cidade de Chã de Alegria – interior de Pernambuco.
Nos anos 0, a conquista de vários títulos nos concursos dos arraiais de
bairros torna a Arraialzinho conhecida como “a Fera do Cordeiro”, além
de contribuir para a o reconhecimento da comunidade local, que passa a
investir no grupo de diferentes maneiras: organizam bingos, rifas, piqueni-
ques, festas, entre outras formas de captar recursos.
Entre os títulos conquistados pela quadrilha nos últimos anos, destacam-se:
º lugar na Rádio Globo (); º lugar no arraial do Córrego do Euclides
(00); º lugar nos municípios de Camaragibe e Escada (00); º lugar
do concurso de Carpina (00); Melhor Marcador em Belo Jardim (00);
º lugar no concurso de Palmares (00); º lugar nos arraiais do Alto do
Cajueiro, Sítio dos Pintos, Detran (00).
35. Boa Vista Show
Comunidade dos Coelhos, no Bairro da Vista, centro do Recife. Essa é a
referência da localização, onde Clóvis Costa (conhecido por Nino), João
Gomes (Joãozinho da Mocidade) e outros líderes, decidem criar, em março
de , a Quadrilha Boa Vista Show. A ideia era organizar uma brincadei-
ra que animasse a festa de São João da localidade, mas que também levasse
o nome do bairro para os principais concursos do gênero que existiam na
cidade e no Estado.
Homenageando o bairro de origem no seu nome, a Quadrilha Boa Vista
Show apresentou-se no seu primeiro ano de forma simples, com figurinos
custeados pelos próprios componentes. Bingos e rifas foram organizados
para conseguir dinheiro e suprir as despesas com o aluguel de caminhão-
baú, pois “não tínhamos dinheiro para alugar ônibus e éramos a única qua-
drilha que chegava nesse transporte”, diz Clóvis Costa.
36. Em , duas pessoas contribuíram decisivamente para a montagem do
espetáculo da Boa Vista Show, os artistas plásticos Fábio Costa e Américo
Barreto, profissionais da cidade pioneiros no processo de inovação de uma
quadrilha junina, com temas diferentes e irreverentes. Partindo dessa pers-
pectiva, a Boa Vista foi a primeira quadrilha de Pernambuco a colocar o
casamento matuto gravado para que toda a plateia pudesse escutar o texto.
Em , mais outra inovação patrocinada pela quadrilha dos Coelhos.
Com o tema Santo Antônio Casamenteiro, Fábio, Américo e Nino decidem
que o marcador iria se apresentar no arraial vestido de noiva, fato marcante
na história do movimento. A frase emblemática: “Boa Vista Show, tá lindo!”
também ficou por muito tempo nas mentes dos apaixonados por quadrilha.
A ousadia reservou para o grupo o º lugar nos Festivais da Rede Globo
Nordeste e Pernambucano. Neste último, a Boa Vista conquista os prêmios
de “Quadrilha Revelação do Pernambucano”, a Rainha das Quadrilhas, o
melhor marcador e o melhor casamento. Nos arraiais dos bairros, também
muitos títulos de campeã foram conquistados.
37. O ano de para o grupo foi marcado por muitas dificuldades financei-
ras, fato que refletiu nos dois anos seguintes, quando a quadrilha não se
apresentou no São João. A chegada do novo milênio reacendeu a chama de
participar novamente da festa junina, e um grupo de antigos componentes
(Nino, Eliezer, Wesley e outros) decide se organizar e colocar a quadrilha
mais uma vez nas ruas. Apesar do empenho e da dedicação dos integrantes,
as dificuldades financeiras foram crescendo a cada novo espetáculo, fato
que leva a diretoria da Boa Vista Show, a encerrar suas atividades no ano
de 00.
38. Brigões de Suape
Praia de Suape, Cabo de Santo Agostinho. Coqueiros, mar, sol, calor, pes-
cadores, jovens com muitos sonhos e desejos. Esse é o cenário onde nasceu,
em 0 de abril de , a quadrilha Brigões de Suape, antiga Brigões do Bu-
raco de Dentro. A ideia de criar a quadrilha nasceu de um grupo de amigos
formado por José Rildo Plínio da Silva, Ivanildo Plínio, Zildo Plínio, Maria
José de Santana, Jurandir dos Santos, Vanusa Mª de Santana, entre outros,
que, preocupados em unir os moradores da comunidade, divididos em dois
grupos rivais (os seguidores do Grus e do Estrela, dois blocos carnavalescos
da região, hoje inexistentes), decidem organizar uma quadrilha junina.
Inicialmente animando as festas de São João da localidade, a Brigões passa
a disputar em diferentes concursos do Cabo a partir de , quando de-
senvolve o seu primeiro espetáculo temático: O mar e o pescador. Apresen-
tando-se com um estilo diferente, agora recriado, a quadrilha leva para o
arraial o cotidiano dos pescadores e a sua relação com o mar. Esse trabalho
marca o início dos títulos de campeã no concurso do Cabo, onde a Brigões
destaca-se como a quadrilha tetra campeã (-). Em , ganha
como Quadrilha Revelação, no arraial do Bira no Janga. Em , conquis-
ta o campeonato no concurso de Escada e o º lugar no arraial do Ibura. No
ano seguinte, classifica-se em º lugar no arraial de Areias.
Três anos após participando dos concursos em diversos arraiais de bairro,
a quadrilha firma uma parceria com uma Rede Hoteleira do Cabo de Santo
Agostinho, e passa a fazer parte da programação cultural do espaço. Em
, por solicitações de alguns dirigentes dos hotéis, a Quadrilha Matuta
Brigões do Buraco de Dentro passa a se chamar Quadrilha Junina Brigões
de Suape. Com a nova denominação, a quadrilha conquista o vice campeo-
nato no concurso do Córrego do Joaquim (), Quadrilha Revelação do
arraial da Tribuna (), campeã no arraial Urso Pé de Lã ().
Os trabalhos da Brigões aumentam em proporção e, em , o grupo participa
pela primeira vez dos dois grandes concursos do gênero, o Festival da Rede Glo-
bo Nordeste e o Pernambucano da Fundação de Cultura Cidade do Recife.
39. A chegada do novo milênio trouxe para a quadrilha o º lugar no Festival
Pernambucano da Prefeitura do Recife, além de títulos de campeão nos
arraiais de bairro. Em 00, a Brigões participa pela primeira vez do con-
curso do Sesc, levando para o arraial todos os componentes vestidos de
noivos e noivas, numa alusão as festas de Santo Antônio, São João e São
Pedro, tendo em cada momento, a entrada de um andor com um desses
personagens vivo. Em 00, foi a ª colocada do Festival Pernambucano.
O nome do grupo passa a fazer parte das programações culturais da festa em
diferentes cidades do estado, aumentando a responsabilidade dos diretores
com o aperfeiçoamento dos trabalhos, a qualidade dos ensaios, da escolha
dos temas, montagem do figurino, adereços etc. A comunidade contribui
de todas as formas, as casas dos componentes se transformam em ateliês; a
costureira, Dona Maria José Maciel, aumenta o ritmo de trabalho, entrando
pela madrugada, numa dedicação constante ao sucesso da quadrilha. Essa
relação com a comunidade extrapola o período do ciclo junino, levando os
moradores a participar de outras ações organizadas pela quadrilha, como o
Grupo de Dança Popular e o Projeto Arte em Geral.
0
40. Ousadia é a palavra, que talvez marque o perfil dos trabalhos que a Brigões
realiza. Em 00, leva, pela primeira vez, na história das quadrilhas, um
ônibus e um painel eletrônico para os arraiais. No ano seguinte, com o tema
Olha pro céu meu amor, chocou o público com o beijo de dois homens e
duas mulheres em pleno casamento no arraial. A ousadia garantiu o prêmio
de “Melhor Casamento” no Festival Pernambucano.
Festa de São Pedro foi o tema de 00, uma homenagem ao padroeiro da
quadrilha, que lhe rendeu a classificação, pela primeira vez, para a etapa
final do concurso da Rede Globo Nordeste. A conquista funciona como es-
tímulo para a criação de espetáculos mais elaborados, como, por exemplo,
os trabalhos realizados nos últimos quatro anos: São João nas cores de um
balão (00); Quadrilha é francesa, e junina é brasileira (00); O compadre
de São João (00) e São João para turista ver (00).
É importante destacar na trajetória da Brigões a formação de jovens pro-
fissionais qualificados para o mercado de trabalho por meio da quadrilha
junina, fato que garante ao grupo o respeito e a admiração dos moradores
do Cabo, assim como dos diferentes lugares onde a quadrilha se apresenta.
41. Brincant’s Show
Em janeiro de 00, surgiu um projeto de Animação Cultural na Escola
Municipal Eng. Guilherme Diniz, na UR-0, Ibura, oferecido pela Prefeitu-
ra do Recife. Foi o início do mundo de fantasias e de desejos de uma comu-
nidade marcada pela violência e marginalidade. Nascia, timidamente, um
movimento cultural na localidade, ainda sem nome, mas com o propósito
principal de satisfazer, por meio das manifestações culturais, as necessida-
des das crianças e dos adolescentes.
Inexperiente, o grupo que se deparou com o seu primeiro desafio: a esco-
lha do nome para a iniciativa. Segundo Kátia Marinho, presidente da qua-
drilha, “fomos influenciados pelo espírito de todas as crianças que partici-
pam, fizemos pesquisas que permitiram a nós lermos de forma mais clara
a cultura que está arraigada em nós. O marcador, também cooperador do
projeto, é de fato um brincalhão e junto com as crianças formam um time
perfeito. Então esse título caiu como uma luva para o que queríamos”. As-
42. sim, após dois anos de existência, o grupo recebe o nome de Brincant’s. En-
tre as pessoas idealizadoras desse projeto, destacam-se: Maria de Lourdes
Nunes; Kátia Marinho; Geovana; Giselly Santos; Delmo Jefferson, Alberto
Almeida, Daniel Silva, Ramon Milanês, Marcella Navarro, Alessandra Pa-
trícia, Reginaldo Salles, Rafael Henrique, Alexandre Magno, entre outras,
que direta ou indiretamente contribuíram para o grupo avançar nos seus
objetivos e conquistas.
Sem uma sede própria, a Brincant’s faz do espaço disponível da Escola Mu-
nicipal Engenheiro Guilherme Diniz (dentro do projeto Escola Aberta) o
seu local de ensaios e reuniões, estendendo-se até as casas dos seus dire-
tores, muitas vezes transformadas em verdadeiros ateliês de produção de
cenários, de figurinos e de adereços.
É interessante ressaltar na história do grupo o trabalho desenvolvido cons-
tantemente na comunidade com os moradores. Segundo Kátia Marinho, “a
Brincant’s não para quando o ciclo junino passa, na verdade, ele é celebrado.
Um dos fundadores que ocupa a função de marcador da quadrilha aprovei-
43. ta os espetáculos durante o São João para analisar e fomentar o que já vem
sendo formulado em seus registros. Nesse ritmo, a comunidade reage com
muita força, cabendo a nós organizadores promover eventos na intenção
de capitação de recursos para fortalecer esse vínculo, traçando metas in-
dispensáveis na utilização desses recursos advindos de eventos, tais como:
bingos temáticos com prêmios doados pela própria comunidade; festas
com bilheteria que favorecem a integração do grupo e comunidade (dia da
criança, folclore, halloween, Dia da Consciência Negra, festa natalina, entre
outras); Rifa pela Loteria Federal. [...] a dimensão é muito grande quando
se trata de quadrilha junina [...] a tradição nas comunidades da UR-0 e
UR- é muito forte diante de muitos exemplos que temos, como a KoKota
na Roça; Pelo Avesso; Picuí; Formiga; Boko Moko,... Por isso que o envol-
vimento do povo, posso dizer, é quase impossível não acontecer”.
O trabalho coletivo e o espírito guerreiro das crianças que fazem a Brincant’s
resultaram, nesses nove anos de atuação, em títulos muito importantes para
o segmento, tais como: º lugar no Festival Pernambucano de Quadrilhas
Juninas Infantis (00); campeã do Arraial do Verdura, em Águas Compri-
das; campeã do Festival de Quadrilhas Juninas Infantis de Jaboatão, º lugar
no Pernambucano (00); Bi campeã do Arraial do Verdura, campeã do
Pernambucano, campeã do Festival do Alto José do Pinho, em Casa Ama-
rela, campeã do arraial de João Dino, em Casa Amarela, º lugar no Arraial
de Ouro Preto (Tostão), º lugar no Festival de Quadrilhas da FEQUAJUPE
(00); campeã no Arraial da Praça do ABC na Mustardinha, vice - campeã
do Arraial do Verdura, º lugar no Pernambucano, campeã no Arraial do Ca-
beça, º lugar no º Festival de Quadrilhas Juninas da Globo, º lugar no Fes-
tival de Quadrilhas do Sesc, vice-campeã do Festival em Santo Amaro, vice-
campeã do Arraial do Cabeça, na Bomba do Hemetério (00); bi- campeã
do Pernambucano, campeã do º Festival de Quadrilhas Juninas da Globo,
vice-campeã do Festival de Quadrilhas do Sesc, vice - campeã do Arraial do
Verdura, participação no Regional, em Campina Grande – PB (00); º lu-
gar no Festival de Quadrilhas da Globo e no Sesc (00); bi- campeã do
Festival de Quadrilhas da Globo, bicampeã do Festival de Quadrilhas Infantis
de Jaboatão, º lugar no Pernambucano (00).
44. Cambalacho
A Quadrilha Junina Cambalacho foi fundada em 0 de março de pelas
irmãs Gecilene e Gecijane Lopes Barbosa. A ideia era formar uma quadrilha
de familiares para animar a Rua da Campina, em Goiana, PE. Inicialmente
uma quadrilha formada só por mulheres, incluindo a marcadora – fato que
causou admiração, popularizou o trabalho do grupo e resultou na conquis-
ta de muitos prêmios como melhor marcadora. A origem do nome está
vinculada ao nome de uma novela que passava na televisão, fazendo muito
sucesso nas conversas das mulheres da quadrilha.
No São João de , a Quadrilha Cambalacho conquista o seu primeiro
título de campeã goianense no arraial da Rua da Conceição. No município,
tem a fama de ser a Quadrilha Casamenteira, pois “geralmente quem dan-
çava nela, no ano seguinte, tinha no mínimo 0% do seu elenco casados e
outro noivos”, diz Maria do Socorro Lopes da Cruz, presidente e dona da
Quadrilha.
45. A relação da quadrilha com a comunidade extrapola o ciclo junino, dia-
logando com as experiências do cotidiano dos seus integrantes, a maioria
filhos, sobrinhos, primos, netos e bisnetos das fundadoras, que, somados
com os componentes da vizinhança, transformam os ensaios e as apresen-
tações num ambiente, particularmente, familiar.
Na história da Cambalacho, o ano de marcou a memória dos seus
integrantes, que deixaram o seu figurino “matuto” e se apresentaram pela
primeira vez como uma quadrilha recriada. Em 00, aderem ao formato
de quadrilha estilizada, permanecendo assim até a atualidade.
No Festival Pernambucano de Quadrilhas realizado pela Prefeitura do Re-
cife, a Cambalacho participa desde 00, trazendo para o arraial a garra de
um grupo, formado por quase cem pessoas, entre brincantes e profissionais
em geral que se envolvem na produção do espetáculo. Em 00, conquistou
o tricampeonato no concurso de Goiana, o º lugar nos festivais de Caaporã
(PB) e Condado (PE).
46. A seriedade do trabalho ultrapassou o período junino e conquistou a cre-
dibilidade da comunidade, que procura e participa ativamente do Grupo
de Artes e Produções de Eventos Cambalacho, o (GAPEC), o ano inteiro.
A partir desse grupo, a quadrilha promove aulas de computação e recur-
sos humanos para os jovens da redondeza, oficinas de chapéus e flechas
(parceria com os grupos de caboclinhos da localidade – uma das marcas
culturais de Goiana), entre outras atividades destinadas a arrecadar verba
para ajudar nas despesas, como rifas, bingos e shows de pagode, brega, for-
ró, entre outros.
47. Chiclete com Banana
A Quadrilha Chiclete com Banana foi fundada em de abril de no
Bairro da Vila Rica/Cohab - Jaboatão dos Guararapes. A ideia de organizar
o grupo nasceu com Manoel Andrade (Pato), Wildo Lucena, Joseane da Sil-
va, Jeilton da Silva, Quitéria e Marcus, que insatisfeitos com as discórdias de
uma quadrilha que existia no bairro, resolvem criar uma nova brincadeira.
O nome foi sugerido por Pato, marcador do grupo no seu primeiro ano,
em referência a música de Jackson do Pandeiro: Chiclete com Banana. Esse
período também era marcado pelo sucesso das músicas baianas no país,
em especial, o grupo Chiclete com Banana, cujo LP com músicas do ritmo
junino (Sonhei que eu era balão dourado, Riacho do navio corre pro Pajeú...)
inspirou o repertório de toda quadrilha.
No período de a , a quadrilha ficou sem sair devido à falta de
componentes, estes atraídos pelo trabalho de outro grupo da comunidade
de Vila Rica. Em , Chiclete volta aos arraiais com casais, deixando
48. seu estilo matuto e adotando uma forma mais moderna de fazer quadrilha.
Desde então, passam a adotar um formato de trabalho diferenciado, modi-
ficando o modelo tradicional de trilha sonora, colocando músicas baianas
no repertório (Daniela Mercury, Netinho, entre outros), figurinos com co-
res vibrantes em tons de verde-limão, amarelo-limão e laranja-limão.
Entre os nomes responsáveis por essas mudanças, o casal de noivos Rejane
Santana e Michel Kleber, Wildo Lucena e Alexandre Mórmon (conhecido
como Alexandre Baluarte), marcador, coreógrafo e estilista, destacam-se
na condução do grupo que ganhou o seu primeiro concurso fora do bairro
de origem, conquistando espaço na programação dos principais festivais
de quadrilhas juninas do Recife e Região Metropolitana: o Pernambucano
(Sítio Trindade, pela Prefeitura do Recife) e o da Rede Globo Nordeste.
49. O ano de foi marcante para o grupo. Chiclete com Banana conquistou
o ° lugar do concurso de Quadrilhas Juninas da Rede Globo e seu casal
de noivos ganhou suas primeiras medalhas como melhores noivos do Per-
nambucano. Desse ano em diante, muitas conquistas marcaram a história
do grupo. Em , Alexandre Baluarte ganhou como melhor marcador,
Fabiana Teixeira foi eleita a primeira Rainha das Quadrilhas Juninas de
Pernambuco, pelo Festival da Prefeitura do Recife; Rejane e Michel con-
quistaram mais um prêmio de melhor casal de noivos, além de muitos ou-
tros títulos nos arraiais de bairros como Casa Amarela, Ibura e Olinda. Dos
concursos que participaram, ganharam o ° lugar vezes. Com nove
anos de existência, Chiclete com Banana perde um dos seus fundadores:
Alexandre Baluarte deixa o grupo devido a discordâncias entre a diretoria,
desestruturando a equipe. O tempo prossegue e a Chiclete volta a conquis-
tar títulos. O grupo cresce, reúne jovens de diversas localidades carentes
do Recife e Região Metropolitana, como Curado, Cavaleiro, Casa Amarela,
Moreno. Determinados, transformam o desejo de mudança da condição
social na qual vivem, em atitude no arraial, na hora de dançar quadrilha,
de sair do anonimato, mesmo que seja por alguns momentos. Em ,
recebem, pelo º lugar no Palhoção de Tia Lú, um troféu com . cm – o
maior de sua coleção –, além de muitas medalhas de destaques, a exemplo
de Fagner Luiz de Souza como melhor cigano, Batgirl (Jairo Miguel do Nas-
cimento) como melhor intérprete de casamento, Mário Aiala como melhor
componente e Michel Kleber como melhor noivo do Pernambucano.
é mais uma data significativa para a Chiclete: conquista a medalha de “Res-
gate a Cultura” no Festival Pernambucano de Quadrilhas Juninas.
No novo milênio, o que se observa é o crescimento entre os grupos, pelo
interesse em pesquisar e estudar temas relacionados ao ciclo junino, os quais
passam a elaborar e desenvolver projetos de pesquisas, que determinam to-
das as etapas do processo de criação de uma quadrilha. A Chiclete com Ba-
nana não faz diferente. Ela cria equipes e sistematiza a divisão dos trabalhos:
uns ficam responsáveis pela concepção do tema; outros elaboram o desenho
do figurino, estudam as diferentes tonalidades das cores, escolhem tecidos;
outro grupo se responsabiliza pela trilha sonora, articulada ao coreógrafo,
0
50. que junto com o marcador desenvolve os passos, amarrando tudo com a
história do casamento – mote maior para a festa acontecer no arraial.
Entre os temas trabalhados pela Chiclete, destacam-se: “Aboios e Vaqueja-
das (), Um vôo nas asas dos quatro pássaros do Sertão: acauã, carcará,
assum preto e asa branca (), São João: festa da fogueira e balão, faz
a festa só no meu coração (), Eu vou contar pra você... homenagem a
Luiz Gonzaga (), Quadrilha: tradição que se renova (), Viva São
João (000), Uma Viagem pela Cultura Popular (00), São João das minhas
tradições (00), Noite de São João (00), O Ciclo Junino e suas Tradições
(00), Festa Junina: vou cair na brincadeira (00), Eu quero ver, vocês vão
ver: 20 anos de Chiclete com você (00). Neste último espetáculo, a quadri-
lha levou para o arraial um enorme bolo humano, cuja primeira fatia foi
oferecida ao público, em sinal de agradecimento pelo reconhecimento de
todo o trabalho durante as duas décadas. Uma retrospectiva da trajetória
da Chiclete e uma homenagem a todos os marcadores (Pato, Rivaldo, Ale-
xandre Falcão, Angelus Guilherme, Wagner Macklayton, Ednaldo (Nanau),
Anderson (Black), Marquinhos, Marcelo (Miau), Wildo Lucena), compo-
nentes, amigos e familiares da quadrilha, encheu de emoção todo o arraial,
que se despediu com muitas lágrimas assistindo ao último espetáculo da
Quadrilha Chiclete com Banana.
51. Deveras
Fundado na comunidade de Brasília Teimosa - Recife, em 0, o balé Deve-
ras surge com o propósito de dar visibilidade às danças populares de Pernam-
buco e formar profissionais para atuar no mercado da dança no Estado.
Utilizando a dança como instrumento de inclusão social, o “Deveras”, du-
rante anos, montou vários espetáculos de dança com jovens da comu-
nidade praieira de Brasília Teimosa. Conquistou espaço e reconhecimento
social apresentando seus trabalhos (resultados de estudos e pesquisas sobre
as manifestações populares) em teatros do Recife e em outras cidades, em
eventos turísticos promovidos pela EMPETUR, no Programa FREVANÇA
da Rede Globo Nordeste, do qual participou durante uma década, além de
outros festivais de dança organizados pela Prefeitura do Recife.
52. Em , monta o espetáculo “Bandeira de São João”, baseado no disco de
Antônio Brito e Zoca Madureira. O espetáculo montado para teatro, mas
com desenhos coreográficos em forma de quadrilha recebe o incentivo da
produtora cultural Thelma Chase para transformá-lo numa quadrilha juni-
na e concorrer nos concursos realizados no Recife.
Acompanhando o movimento de quadrilhas estilizadas que crescia no
Bairro do Ibura - Recife e os trabalhos do Balé Popular do Recife, através do
qual dizia recriar a danças populares, o diretor e coreógrafo do espetáculo,
Mika Silva, percebe que o trabalho montado relacionava-se com uma nova
proposta de quadrilha junina, e decide criar, em , a Primeira Quadrilha
Junina Recriada.
Segundo Mika Silva, “a Deveras iria apresentar a história do Matuto que
deixa sua cidade de origem (o interior) e vem para a cidade grande tentar
uma vida melhor, sem deixar suas origens e seus brinquedos (a quadrilha
junina). Chegando à cidade grande, encontra outra realidade, onde o rit-
mo de vida é mais acelerado e as músicas juninas ganham outros arranjos.
A dança receberia complemento de outros brinquedos populares, como: o
coco, o xaxado, a ciranda, o bumba meu boi, o cavalo marinho, entre outras
danças típicas do ciclo junino.”
53. Obedecendo ao formato a quatro (quadrilha), mas tendo a liberdade de va-
riar, o grupo trouxe para o espetáculo algumas inovações, como: a liberdade
do marcador no arraial que assume a função de animar e incentivar a ale-
gria dos componentes, uma vez que os movimentos estão coreograficamen-
te ensaiados; as músicas utilizadas também trazem um diferencial, são mais
eletrizantes, no estilo do ritmo baiano (Chiclete com Banana); os figurinos
não traziam aquele matuto caricato do interior com pedaços de retalhos, es-
tereotipado pelo olhar urbano, mas sim, representado com todos os brilhos
possíveis e fazendo referência ao tema proposto; adereços eram utilizados o
tempo todo; trocar figurinos dentro do arraial era a marca da Deveras, pro-
vocando no público um sentimento de identificação com o brinquedo.
A Quadrilha Deveras sempre trouxe para os arraiais muitas inovações. Na
sua primeira apresentação, trouxe uma mudança na concepção de rei e rai-
nha do milho, apresentando um dos primeiros casais de reis negros; ino-
vando também com a criação de coreografias específicas para os destaques.
A frente da quadrilha, no lugar de uma faixa com o nome do grupo, apre-
sentava as Gêmeas Siamesas, simbolizando a união das Quadrilhas Tradi-
cional e Estilizada, que resultou na Quadrilha Recriada. As gêmeas traziam
no figurino o nome da quadrilha, anunciando a sua chegada. Figuras como
São João, São Pedro e Santo Antônio sempre apareciam como personagens
do espetáculo, interagindo com o público e com os próprios brincantes.
Em , colocou em cena, pela primeira vez, um transformista no casa-
mento. Orama, uma transexual, fazia o papel da irmã da noiva, que tentava
roubar o noivo. “Nossos casamentos, desde o início, eram montados com
histórias do cotidiano das pessoas, mas fazendo referência às brincadeiras
populares, e utilizávamos trechos de músicas conhecidas”.
Como toda forma de inovação, a proposta da Deveras despertou opiniões
divergentes no segmento das quadrilhas juninas, porém, a expectativa dos
quadrilheiros, mesmo os não afeiçoados com o modelo, aumentava a cada
dois anos, quando o grupo trazia à rua um novo espetáculo. “Sempre saía-
mos um ano sim outro não. O propósito dessa parada era para não repetir
as mesmas coisas e poder respirar e pesquisar para o próximo trabalho”.
54. Entre os títulos conquistados, destacam-se: os vários anos em que se classi-
ficou entre as três quadrilhas mais pontuadas do Festival de Quadrilha Juni-
nas da Rede Globo Nordeste; campeã do concurso do Sesc (); campeã
do concurso da Brahma (); campeã do concurso do Arraial Zé da Sopa
(Ibura); campeã do Festival Pernambucano de Quadrilhas Juninas da Pre-
feitura do Recife (); campeã de diversos arraiais espalhados pelo Recife
e Região Metropolitana; além da conquista da medalha de reconhecimento
pelo melhor marcador do São João do Recife, entregue pela Fundação de
Cultura a Ladimir Ferreira da Silva (Mika Silva), em . No ano seguinte,
a Deveras decide continuar com as atividades do balé (grupo existente até
hoje), não se apresentando como quadrilha junina há anos.
55. Dona Matuta
Fundada em de maio de 00, no bairro de San Martin - Recife, Dona
Matuta nasceu da união de jovens “veteranos” em quadrilha, que tinham
como objetivo brincar o São João. Dos desejos e sentimentos joaninos de Sérgio
Trindade (presidente e marcador), George Araújo, Vivia Amanda (Katuxa), Sér-
gio Barros, André Perreli, Henrique Tenório, Edilze Belo, Cezar Augusto, entre
outros, numa conversa no bar Dona Matuta (Ipsep), nasceu a ideia de criar uma
quadrilha que reunisse amigos e contribuísse para a preservação dessa manifes-
tação da cultura popular em Pernambuco.
Os sonhos não demoraram em se concretizar. A conversa se estendeu até
a casa do marcador, em San Martin, que até hoje funciona como a sede da
quadrilha. Um espaço onde inexiste as fronteiras entre o público e o priva-
do. A calçada e a rua constituem uma extensão da casa, onde se conversa e
se respira São João o ano inteiro. Um clima festivo, regado de bolo, bolachas
e café, vinho, cerveja, risadas e muitas conversas descontraídas atravessan-
do a madrugada.
56. Estabelecida uma relação de identidade da rua e do bairro com a quadrilha,
dois nomes talvez se destaquem como os personagens, que, apesar de não
aparecerem em público, constituem verdadeiros destaques. É o casal Dona
Lúcia Trindade e Seu Basta, moradores antigos do bairro e pais do marca-
dor da quadrilha, que se tornou conhecido na localidade pelo movimento
festivo, que agita cotidianamente a frente de sua casa. “É a casa da quadri-
lha”, dizem os moradores da vizinhança que passam pelo animado trecho
da Rua Pedro Melo.
O slogan do grupo “Aqui é só Alegria” é a mola mestra dos trabalhos que
tem duração o ano inteiro. A diretoria (formada por pessoas) se reúne
sistematicamente uma vez por mês no período entre julho e dezembro. A
partir de janeiro, os encontros passam a ser semanais, envolvendo agora
um grupo mais amplo, os dançarinos, cuja procura aumenta a cada ensaio
nas ruas e escolas do bairro.
Em 00, Dona Matuta conquista o seu primeiro título: campeã do Grupo
do Festival Pernambucano de Quadrilhas Juninas promovido pela Prefei-
tura do Recife. No ano seguinte, já integrando a programação de quadrilhas
do grupo Um, com o tema A Grande Festa de Santa Fé conquista a ª posi-
ção no Pernambucano e o º lugar no Festival da Rede Globo.
57. A originalidade do seu figurino, artesanalmente confeccionado pelas cos-
tureiras do grupo e alguns integrantes, é a marca da Matuta. Filé, fuxico,
favos de mel, juta, estão sempre presentes no seu visual. Outra referência é
a trilha sonora. A maioria, composições do seu marcador, Sérgio Trindade,
autor de mais de 0 músicas, que integram o repertório da Dona Matuta em
seus recentes quatro anos.
Em 00, Dona Matuta entra para a história das quadrilhas campeãs de um
dos concursos mais esperados pelos quadrilheiros: o Festival de Quadrilhas
da Rede Globo Nordeste. Com o tema A Festa do Pau da Bandeira, seus
integrantes levaram o resultado de um trabalho de pesquisa para Fortaleza,
onde ganhou o título de melhor marcador e melhor destaque com o padre
no Concurso Regional, e conquistou alguns títulos nos arraiais do Recife e
Região Metropolitana.
Uma marca da Dona Matuta, que segue o modelo corriqueiro no interior
do movimento quadrilheiro nos últimos cinco anos, são as festas que orga-
niza para arrecadar dinheiro para pagamento das despesas do grupo (com-
pra de tecidos, aviamentos, material para cenários, gravação das músicas,
do cd do casamento, comprar sapatos das damas e cavalheiros, arranjos de
58. cabeça, traque de massa, chapéus, alugar os ônibus e caminhões-baús para
transportar a produção). Essas festas também funcionam como espaços de
sociabilidade entre a comunidade de quadrilheiros. Jovens de diferentes
grupos que se encontram e falam de quadrilha. Relembram fatos engraça-
dos, alguns cômicos, outros trágicos, mas que existiram e ficaram registra-
dos em suas memórias individuais e coletivas.
Entre as festas promovidas pela Matuta, destacam-se o Baile à Fantasia da
Matuta batizado com o tema Aqui todo mundo faz, em 00, realizado du-
rante as prévias carnavalescas na sede do Bloco do Batutas de São José, em
Afogados. Esse baile marcou a história do movimento e a sua importante
atuação no Carnaval da cidade. Foi o º baile do gênero organizado por
uma quadrilha. Nos últimos tempos, muitas quadrilhas juninas são contra-
tadas pelas agremiações carnavalescas para compor alas nas troças, clubes,
maracatus e escolas de samba. Ainda em 00, a festa da Quadrilha rea-
lizada no Armazém - Bairro do Recife foi mais um sucesso do grupo,
que reuniu no mesmo espaço mais de 00 pessoas, que se divertiram até as
primeiras sete horas do dia.
59. Dona Sinhá
A Quadrilha Dona Sinhá da comunidade do Encanta Moça – Pina – nasceu
de uma brincadeira de criança “no quintal de Dona Anita”, no dia de
abril de . A escolha do nome remete à influência de uma personagem
de novela muito popular na época. Como a maioria dos grupos, Dona Sinhá
começou com poucos casais da própria vizinhança, amigos da rua, que nos
intervalos das brincadeiras decidem dançar quadrilha. Entre os primeiros
componentes do grupo, destacam-se: “Nadjane, Andréa, Ceça e Robson”,
recorda Dona Marileide Almeida de Lucena, uma das fundadoras.
Dona Sinhá cresce e passa a atrair outro tipo de público, com novos desejos
e sonhos. “O espaço ficou pequeno para a quantidade de pessoas que queria
dançar. Então, aterramos um terreno cheio de buraco na frente da casa de
seu José Felix Cavalcanti (meu sogro) e fizemos um arraial com a ajuda
de um político”, comenta Sílvio Marques de Lucena, também fundador do
grupo.
0
60. A animação dos ensaios atrai a população da redondeza para a Rua Itaiçuba,
no Pina, e o grupo inicialmente “inexperiente”, formado por familiares e
vizinhos, organiza a sua primeira diretoria. Assim, para prosseguir com
os trabalhos da quadrilha, foram eleitos: “José Anchieta de Melo para
presidente; como vice, Ornilo Galdino de Aguiar; Silvio Marques de Lucena
(ª tesoureiro); Marileide Almeida de Lucena (ª tesoureira) e Lucy Maria
de Aguiar (a secretária). Como primeiro marcador, escolhemos Geraldo”,
lembra Sílvio Lucena.
Em , Dona Sinhá participa do primeiro concurso do gênero,
conquistando o primeiro troféu de campeã no concurso de quadrilhas
realizado pela Igreja Católica do Pina. Foi o início de uma trajetória com
muitos campeonatos. Com um estilo próprio, nos moldes tradicional de
quadrilha junina, Dona Sinhá deixa a sua marca nos arraiais do Estado. “A
nossa quadrilha era muito tradicional, com passos das danças regionais. Foi
assim que Dona Sinhá ficou conhecida, como a quadrilha mais tradicionais
de Pernambuco”, recorda orgulhoso Sílvio Lucena, que completa: “Após a
nossa saída da diretoria, a quadrilha estilizou-se”.
61. Durante o seu tempo de existência, muitas são as pessoas e as situações
pitorescas que enriquecem a história da Dona Sinhá. Basta citar as
habilidades de Dona Dida, “que fazia os modelos dos vestidos das damas em
manequins de bonecas”, e o episódio da dentadura que aconteceu no arraial
do Ipsep, “quando o coronel, na hora do casamento, ao falar de sua filha,
a sua dentadura pulou da boca e caiu no chão. Todos os jurados olharam
para a cena, quando o guarda chegou e prendeu a dentadura do coronel.
Todos os jurados morreram de rir, aplaudindo de pé, pensando eles que
aquela cena fazia parte do casamento, e, no entanto, não foi. Improvisamos
na hora para não dar vexame. Resultado: tiramos dez e ganhamos o melhor
casamento”, recorda Sílvio Lucena.
Entre os títulos da Dona Sinhá no Festival Pernambucano destacam-se:
vice-campeã (); vice-campeã (0 e ) e campeã ( e ) da
categoria tradicional, além de outros campeonatos nos arraiais da Xique
Xique no Remelexe, Boko Moko, Truaka, Pelo Avesso, e outros.
62. Fogo na Noite
A História da Quadrilha Fogo na Noite no São João do Recife é muito bre-
ve. Existiu durante seis anos apenas (0-), e surgiu da iniciativa de
um grupo de amigos decididos em animar as noites de junho no Bairro do
Ipsep, Zona Sul da cidade. Entre os seus fundadores destacam-se: Welder
Lacerda (Dido) – seu primeiro marcador, Flávio Guardia, Fernando Gon-
çalo, Onésimo Lacerda (Nelsinho), Sandoval Gonçalo (Nanau), e Antônio
Amorim (Toninho). No meio de tantos homens, um nome feminino so-
bressai na história do grupo, a coreógrafa e também marcadora, Ana Suely
de Oliveira Mendes.
O nome do grupo nasceu em função de um filme chamado Botando Fogo
na Noite, embalado pelo ritmo da lambada, que animava a juventude da
época, aparecendo até em algumas trilhas sonoras de quadrilhas.
Em , com aproximadamente 0 componentes, a Fogo na Noite iniciou
a sua trajetória junina oficialmente e passou a participar dos principais fes-
tivais de quadrilhas juninas do Recife e Região Metropolitana, sendo cam-
peã no arraial do Gabriel – Morro da Conceição, em .
Nas noites de apresentação da quadrilha, o bairro do Ipsep transformava-se
numa grande festa junina, com músicas, comidas típicas, fogos de artifício
e muitos momentos de descontração e entrosamento entre os vizinhos e
moradores da redondeza. Nessas ocasiões, outras quadrilhas, de diferentes
comunidades, também participavam da programação do arraial.
Em , por diversos motivos, principalmente financeiros, a diretoria de-
cide não mais colocar a quadrilha na rua. No entanto, o arraial continuou
em atividade até o São João do ano seguinte.
63. Flor do Abacate
Em abril de , os moradores da Rua do Abacate, situada na ª etapa
do Bairro de Rio Doce – Olinda, ao observarem a grande quantidade de
crianças que brincava na rua, resolveram fazer uma quadrilha junina. A
brincadeira foi ganhando forma e atraindo o público da redondeza, que
assistia aos ensaios do grupo, sob o comando do seu primeiro marcador
- José Carlos, o popular Cal.
De todas as etapas do bairro chegavam crianças e a Quadrilha Flor do Aba-
cate Mirim tornou-se o xodó da comunidade. Pelas suas características
próprias, conquistou os mais importantes títulos do Recife e Região Me-
tropolitana: o tri-campeonato do Sesc Santo Amaro ( a ), além de
alguns campeonatos espalhados nos arraiais comunitários. Nesse período,
o Festival Pernambucano de Quadrilhas Infantis da Prefeitura do Recife
ainda não existia.
Entre os nomes que merecem destaque na história da Flor do Abacate, res-
saltamos: Dona Gilda Batista (costureira), Seu Andrelino Mendonça (dire-
tor), José Jaida Figueira Priston (presidente), Elizabete Simões (costureira
e diretora), Elinete Lins, Jerson Lins, Itamar Coutinho (º e último mar-
64. cador) entre outros apaixonados pela Flor. É importante ressaltar, que a
maior parte dos diretores e envolvidos diretamente com a quadrilha eram
moradores da Rua do Abacate.
Em , muitas das crianças que iniciaram o grupo cresceram, surgindo
a necessidade de criar uma quadrilha Flor do Abacate Adulta, que também
adotou um estilo próprio, conquistando importantes títulos no estado. São
eles: º lugar no Festival Pernambucano de Quadrilhas da Prefeitura do
Recife (), º lugar no concurso do Sesc (), º lugar no arraial do
G.E.R.A. (Areias, e ), º lugar no Arraial do Morro da Conceição
(Casa Amarela, e ), º lugar no Arraial do Zé do Pinho (
e ), º lugar no Arraial Zé da Sopa (Ibura, a ), º lugar no
Arraial Vila Tamandaré (Areias, ), º lugar no Arraial K te Espero (Jar-
dim Uchoa), º lugar no Arraial Nóis Sofre Mais Nóis Goza (Jardim São
Paulo, e ), º lugar no concurso Olindão (, e ), º
lugar no Arraial Enfeitiçou meu Coração (Abreu e Lima, ).
Em , por diversos motivos (muitas despesas, desentendimento interno,
etc) a diretoria decide que a Flor do Abacate encerraria as suas atividades,
ficando a saudade das emocionantes apresentações do grupo que registra-
ram na história numerosos talentos da Rua do Abacate, em Rio Doce.
65. Forró Moderno
Inconformados com o encerramento das atividades da Quadrilha Flor do
Abacate, alguns diretores, entre eles, Itamar Coutinho (marcador), Jerson
Lins, Andrelino Mendonça e outros, decidem criar um novo grupo, que
continuasse com o trabalho de valorização e preservação das nossas ma-
nifestações da cultura popular. Assim, nasce, em de janeiro de ,
na Rua Maria do Carmo Vieira, , Rio Doce, a Quadrilha Junina Forró
Moderno.
A escolha do nome é uma junção do ritmo forró, dançado pelas quadrilhas,
e do novo estilo da quadrilha, agora mais moderna, ousada, diferente do
modelo matuto comum até os anos 0. O grupo ficou conhecido entre
os quadrilheiros, “como a continuação de uma história ou o seu segundo
capítulo – a Flor em nova versão”, diz Itamar. Dessa forma, a Forró Moder-
no seguiu sua trajetória conquistando muitos títulos, tais como: campeã
do Festival de Quadrilha da Rede Globo (); Vice-campeã do Festival
66. Nordestino de Quadrilhas Juninas da Rede Globo (); º lugar do Fes-
tival de Quadrilhas do GERA (Areias, e 00); ºlugar do Festival de
Quadrilhas do Arraial São Gabriel (Bomba do Hemetério - Recife); º lugar
do Festival Pernambucano de Quadrilhas da Prefeitura do Recife (); º
lugar do Festival de Quadrilhas da Ilha de Itamaracá (00), º lugar do
Festival Pernambucano de Quadrilhas da Prefeitura do Recife (00); Bi-
campeã do Concurso de Quadrilhas do Arraial do Liba (00/00); cam-
peã do Festival de Quadrilhas do Município de Joaquim Nabuco – Zona da
Mata Sul - PE (00).
Em , uma reorganização administrativa transformou a quadrilha em
Grêmio, diversificando as suas atividades para as áreas do esporte e lazer,
visando a geração de renda e a formação artística, com responsabilidade
social, para um público formado na sua maioria por jovens moradores em
áreas de comunidades carentes e grande vulnerabilidade social. “Com o
67. nosso trabalho tentamos diminuir dessa forma o acesso ao crime e às dro-
gas”, diz Itamar.
A quadrilha recebe o apoio da comunidade. Conta com a participação efe-
tiva dos pais e familiares, que se dedicam na campanha de manter o grupo
na ativa. Dessa forma, realizam periodicamente, eventos festivos, bingos,
rifas, entre outras atividades que visam, sobretudo, arrecadar recursos fi-
nanceiros. Destaca-se também nesse trabalho coletivo, o importante papel
da Escola Estadual Professora Inês Borba, que disponibiliza a sua estrutura
para a realização de muitas ações, integradas ao Programa Escola Aberta.
68. Geração 2000
A quadrilha Geração 000 foi fundada em de março de , por um
grupo de moradores do loteamento Céu Azul, no bairro do Timbi, em Ca-
maragibe. A iniciativa partiu dos amigos Lúcia Pedrosa, Edvaldo Pedrosa,
Jadilene Santana dos Santos (Nena), Rosimar de França, Luiz de Castro
Alexandre (Lula) e Severino Biu (in memorian).
Inicialmente formada por casais (hoje são ), a Geração nasceu com o
intuito de animar a festa de São João da vizinhança, numa simples brinca-
deira de rua. O grupo cresceu, aperfeiçoou o trabalho e passou a disputar
nos principais concursos da localidade. Em , conquista o seu primeiro
campeonato no concurso de Quadrilhas Mirins de Camaragibe. O título
estimula o grupo, que passa a investir nas coreografias, nos figurinos, nos
cenários, atraindo cada vez mais os moradores da região.
Com o intuito de otimizar o tempo livre da meninada, a equipe de diretores
inicia, em , um trabalho de formação sociocultural na comunidade,
aproveitando os profissionais envolvidos com o grupo e estimulando novos
talentos. “Essa é a função da quadrilha Geração 000. O carro chefe aqui é
69. a oficina de marcenaria, que já foi tema de programas de TV, rádio, entre
outros, além de oficinas de artesanato, massa fria (porcelana), bisquit e re-
ciclagem”, salienta Edivaldo Pedrosa – presidente da quadrilha. Sem uma
sede própria, as oficinas acontecem na residência de seu Edivaldo, onde
também se transforma em espaço de palestras para gestantes, idosos e jo-
vens componentes da quadrilha, que periodicamente assistem a apresenta-
ções de temas diversos: drogas, doenças sexualmente transmissíveis, entre
outros assuntos.
Nesses anos de atuação, a Geração 000 coleciona títulos importantes,
que traduzem o esforço, o espírito de trabalho coletivo e o compromisso
de transformar vidas por meio do ensino da arte. Entre os seus principais
campeonatos, destacam-se: bi campeã do concurso oficial de Camaragibe
(00 e 00); tri campeã do concurso mirim de Camaragibe (00 a 00);
º lugar em Surubim (00); º lugar no Sesc de Casa Amarela (00).
0
70. Junina Tradição
A ideia primeira de criar a Quadrilha Junina Tradição nasceu numa mesa
de bar entre conversas e sonhos de quatro amigos (Fabiano Ferreira, Mau-
rício Francisco, Ademário Ferreira (Xoxo) e Jimmy Glauber) moradores
do Morro da Conceição, Recife. O pensamento só se concretizou, em 0 de
fevereiro de 00, quando se somaram ao grupo, os primos Joselito Costa
e Perácio Jr. e os amigos Gildo Alencar, Anderson Gomes, Cleyton Santos
(Buda), Sandro Sá, Diogo Luís, Adeilda (Tetei) e Lúcia (Nena), todos dissi-
dentes da Quadrilha Origem Nordestina da mesma localidade. O nome foi
inspirado na escola de samba Tradição do Rio de Janeiro, que também foi
fundada a partir da dissidência com outra escola.
“No início foi tudo muito difícil, faltavam espaço para ensaio, recursos fi-
nanceiros, componentes, mão de obra especializada [...] e o principal, a
credibilidade das pessoas. [...] mas a Tradição tinha o essencial: a coragem
e a força de vontade de um grupo de pessoas, que tinha certeza que era
71. possível fazer uma quadrilha democrática onde todos e todas pudessem
ter vez e voz. Uma quadrilha que contribuísse na superação dos problemas
comunitários e que a produção artística cultural fosse algo construído cole-
tivamente”, ressalta Joselito Costa, presidente da Tradição.
A experiência adquirida na “Origem Nordestina” ajudou na condução dos
trabalhos com o novo grupo. Os dançarinos passaram a desenvolver outras
habilidades, novos talentos foram revelados, “surgindo grandes coreógra-
fos, projetistas, figurinistas, cenógrafos, compositores, marcadores, tudo o
que precisava para colocar uma quadrilha junina na rua”, diz Joselito.
A Tradição reúne um público bastante diversificado, com faixa etária que
varia entre e 0 anos. São mulheres, homens, crianças, adolescentes, jo-
vens e adultos, com destaque para o grande número de homossexuais, que
encontra na quadrilha um espaço de respeito mútuo e valorização das suas
potencialidades artísticas. Nesse sentido, fazer parte da família Tradição é
sentir-se pertencente à comunidade do Morro da Conceição, um espaço,
que na pluralidade dos seus talentos, trava uma batalha diária contra a vio-
lência, as drogas, a prostituição e o preconceito de residir em morros, pelo
poder de enunciação dos seus moradores através da arte. O trabalho que
a quadrilha realiza, por meio do teatro e da dança, é fundamental para a
elevação da autoestima dos moradores da comunidade e do entorno, pois
desenvolve e promove visibilidade às potencialidades artísticas da localida-
de, cuja expressão maior é manifestada no período do São João e da Fes-
ta do Morro, em dezembro. “A Quadrilha é um espaço cultural atraente e
que envolve a juventude, preenchendo o seu espaço ocioso e favorecendo a
descobertas de suas potencialidades e a elevação de sua auto estima. É um
espaço onde a juventude se sente valorizada e se reconhece como artista,
como alguém que independente de sua situação sócio-econômica tem algo
de muito valioso para dar à sua comunidade e isso tem feito toda diferença.
As relações de amizades e os vínculos afetivos construídos na Tradição são
de fundamental importância no combate a violência, pois os adolescentes
e jovens não se sentem mais sozinhos sentem-se acolhidos pela família Ju-
nina Tradição”, diz Joselito.
72. A estrutura organizacional da quadrilha gira em torno de aproximadamen-
te 0 pessoas, que envolve: o presidente e o vice-presidente, o º e o º
tesoureiros, o º e o º secretários, além dos diretores que ocupam funções
específicas, como: diretor de ensaio (que trata de todas as questões refe-
rentes aos ensaios), diretor de produção (responsável pela construção dos
cenários e dos adereços até a sua utilização nos arraiais), diretor de tema
(conhecido como projetista junino, responsável pela pesquisa e desenvol-
vimento do tema), os dançarinos, os contrarregras, coreógrafos, composi-
tores e cantores do repertório, figurinistas, diretor teatral (responsável por
escrever o texto e dirigir o casamento junino), marcador, entre outros.
A montagem do espetáculo “é fruto de um longo processo de pesquisa que
se inicia com um ano de antecedência. Primeiro montamos uma comissão
de tema que juntamente com o diretor de tema vai definir o que tem a ser
abordado no São João. Depois se inicia uma pesquisa aprofundada sobre
o tema escolhido, e a partir daí começam ser construídas as primeiras
propostas de figurino, cenário, adereços, letras de músicas, texto de
casamento, coreografias etc. Após essa fase, se inicia a implementação das
propostas: é hora de começar os ensaios para os dançarinos aprenderem as
coreografias, de confeccionar o figurino, de construir o cenário, de gravar
as músicas no estúdio etc. Depois que tudo está pronto, é hora da melhor
parte, a estreia”.
Essa forma de pensamento compartilhado leva a comunidade a participar
ativamente da quadrilha, desenvolvendo diferentes formas de parcerias:
“temos parceria com o Conselho de Moradores, com o clube Acadêmico
do Morro, com a Escola de Samba Galeria do Ritmo e com a escola estadual
Padre João Barbosa (locais onde realizam os ensaios). Fora da Comunidade
temos parcerias com a Escola Estadual Governador Carlos de Lima Ca-
valcante, com a Federação das Quadrilhas Juninas de Pernambucana (FE-
QUAJUPE), além das contribuições políticas, que dialogam com os grupos.
Sem um espaço próprio, a quadrilha faz da sua sede as casas dos diretores
e o barracão, que alugam para realizar a confecção dos cenários. Essa é a
realidade de muitas quadrilhas, que “sem uma sede própria, não favorece a
conservação dos nossos materiais. Depois do São João somos praticamente
73. obrigados a desfazer dos nossos materiais, pois não temos local apropriado
para guardá-los, muito menos recursos financeiros para alugar um espaço”,
diz Joselito Costa.
Todos os sonhos desse grupo de jovens tornaram-se realidade no mesmo
ano em que decidiram formar a quadrilha, em 00. Com o tema Ciclo
Junino: Ritual e Festa, a Tradição realiza o seu primeiro espetáculo no São
João. Trabalho que lhe rendeu vários títulos, tais como: Campeã do Festival
de Quadrilhas da Rede Globo Nordeste, Campeã do Festival Pernambuca-
no de Quadrilhas Juninas da Fundação de Cultura do Recife e vice-campeã
do festival Regional de Quadrilhas Juninas da Rede Globo Nordeste.