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Preconceitos na Interação
Humano-Computador
Frederick van Amstel @usabilidoido
www.usabilidoido.com.br
DADIN - UTFPR
Pré-conceito PreconceitoConceito
"Competência é
um conhecimento
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"Mulheres não são
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quanto homens
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grupo social
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(baseado na literatura hegemônica de IHC)
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OPRESSORES
grupo social
historicamente
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OPRIMIDOS
grupo social
historicamente
desprivilegiado
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subversão
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Opressão através do computador
(baseado em Gonzatto e Van Amstel, 2017)
Uma análise histórica crítica
identificou seis preconceitos que
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(Van Amstel, 2017)
1.Desumanização do computador
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trabalha em condições desumanas.
Cena de Estrelas Além do Tempo (2016)
Pré-conceito: a máquina de computar não é humana.
Preconceito: precisamos traduzir o computador para humanos.
2.Distinção entre grupos tecnológicos
Programadores são menos humanos do que outros grupos sociais
por terem dificuldades de lidar com pessoas, porém, são mais do
que humanos por conseguirem lidar com o computador.
3.Naturalização da divisão do computar
Uns
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Outros
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4. Individualização de problemas sociais
Desenvolvedor
preguiçoso!
Usuária burra!
Qualquer problema de IHC é visto como
específico do indivíduo, sem uma relação com
os grupos humanos ao quais as pessoas
envolvidas fazem parte.
5.Normalização estatística do indivíduo
A interface é projetada para o usuário médio através de
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6. Redução do conhecimento ao que é
computável
A metáfora desktop representa conhecimentos do ambiente de
trabalho de escritório estadunidense que são computáveis.
Conhecimentos de outras origens culturais são excluídos.
Tais preconceitos justificam
machismo, racismo, capacitismo,
classismo, homofobia em IHC.
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programando mulheres, individualização do problema social, etc.
Além dessas relações de opressão,
existe uma relação específica que
concerne IHC.
PRODUTORES
grupo social que detém o
privilégio de definir o
funcionamento do
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USUÁRIOS
grupo social que tem a
necessidade de usar o
computador para realizar
uma atividade
proteção
simplificação
explicação
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gambiarra
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Usuarismo baseado em Gonzatto (2018)
Usuarismo subestima a amanualidade (Vieira Pinto, 2005)
de grupos sociais afetados por outras opressões.
Orientação
sexual
Raça
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AmanualidadeGênero
Interseccionalidade
Quando uma pessoa sente que interage de maneira
feia, é porque ela faz parte de um grupo
desprivilegiado e/ou porque seus colegas fazem
parte de um grupo privilegiado.
Exemplo: a interação feia com uma balança eletrônica que
despertou a fúria de usuários do Youtube.
A estética do opressor nas interfaces faz os oprimidos se
sentirem culpados pela interação feia (Boal, 2009)
Usuarismo é uma opressão que
reduz pessoas a meros usuários,
sem história, sem corpo, sem voz e
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humano, pessoa ou utente não
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magicamente.
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envolve algum tipo de projeto,
IHC pode apoiar os projetos
dos próprios usuários.
(Gonzatto, 2018)
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Design Participativo (Ehn, 1988) combate o usuarismo
apoiando projetos dos usuários.
Apesar de se inspirar em Paulo Freire (1974), o Design
Participativo não foi além do usuarismo e do classismo.
Para lutar contra todas as opressões, é necessário uma
pedagogia crítica (Van Amstel & Gonzatto, 2020).
Esse assunto está sendo discutido extensamente na Rede
Design & Opressão www.designeopressao.org (2020).
Referências bibliográficas
BOAL, Augusto. A estética do oprimido. Rio de Janeiro: Garamond, 2009.
EHN, Pelle. Work-oriented design of computer artifacts. 1988. Tese de Doutorado.
Arbetslivscentrum.
FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Paz e terra, 1987. _. Pedagogia da
autonomia, 1974.
GONZATTO, Rodrigo Freese; VAN AMSTEL, Frederick MC. Designing oppressive and
libertarian interactions with the conscious body. In: Proceedings of the XVI Brazilian
Symposium on Human Factors in Computing Systems. 2017. p. 1-10.
GONZATTO, Rodrigo Freese et al. Usuários e produção da existência: contribuições de
Álvaro Vieira Pinto e Paulo Freire à interação humano-computador. 2018.
PELANDA, Mateus Filipe de Lima, Infradesign: reconhecendo a dimensão projetual do
trabalho invisível em projetos de interação (Monografia de Bacharelado em Design).
DADIN, UTFPR, 2019.
PICCOLO, Gustavo Martins. Educação infantil: análise da manifestação social do
preconceito na atividade principal de jogos. Educação & Sociedade, v. 32, n. 114, p.
205-221, 2011.
VAN AMSTEL, Frederick M.C. Preconceitos da interface humano-computador. Workshop
CAPA - Culturas, Alteridades e Participações em IHC. In: 16o. Simpósio Brasileiro de
Fatores Humanos em Sistemas Computacionais. Joinville, 2017.
VAN AMSTEL, Frederick MC; GONZATTO, Rodrigo Freese. The anthropophagic studio:
towards a critical pedagogy for interaction design. Digital Creativity, p. 1-25, 2020.
VIEIRA PINTO, Álvaro. O conceito de tecnologia. Rio de Janeiro: Contraponto, v. 1, p. 794,
2005.
Obrigado!
Frederick van Amstel @usabilidoido
www.usabilidoido.com.br
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Preconceitos na Interação Humano-Computador

  • 1. Preconceitos na Interação Humano-Computador Frederick van Amstel @usabilidoido www.usabilidoido.com.br DADIN - UTFPR
  • 2. Pré-conceito PreconceitoConceito "Competência é um conhecimento adquirido na prática". "Mulheres não são tão competentes quanto homens para fazer X". "Este homem parece ser competente". (baseado em Piccolo, 2011)
  • 3. Preconceito é um conceito falacioso que justifica relações de opressão na sociedade.
  • 5. USUÁRIOS pessoas que não sabem como computadores funcionam Pode o computador oprimir? (baseado na literatura hegemônica de IHC) COMPUTADORES sistemas mal projetados que não explicam seu funcionamento
  • 7. Uma análise histórica crítica identificou seis preconceitos que aparecem na Interação Humano Computador (IHC). Origem social Sentidos implícitos Efeitos pragmáticos (Van Amstel, 2017)
  • 8. 1.Desumanização do computador Conceito: computador é uma pessoa negra que faz cálculos e trabalha em condições desumanas. Cena de Estrelas Além do Tempo (2016) Pré-conceito: a máquina de computar não é humana. Preconceito: precisamos traduzir o computador para humanos.
  • 9. 2.Distinção entre grupos tecnológicos Programadores são menos humanos do que outros grupos sociais por terem dificuldades de lidar com pessoas, porém, são mais do que humanos por conseguirem lidar com o computador.
  • 10. 3.Naturalização da divisão do computar Uns programam Outros usam...
  • 11. 4. Individualização de problemas sociais Desenvolvedor preguiçoso! Usuária burra! Qualquer problema de IHC é visto como específico do indivíduo, sem uma relação com os grupos humanos ao quais as pessoas envolvidas fazem parte.
  • 12. 5.Normalização estatística do indivíduo A interface é projetada para o usuário médio através de estatísticas ou em uma série de personas através de estereótipos culturais.
  • 13. 6. Redução do conhecimento ao que é computável A metáfora desktop representa conhecimentos do ambiente de trabalho de escritório estadunidense que são computáveis. Conhecimentos de outras origens culturais são excluídos.
  • 14. Tais preconceitos justificam machismo, racismo, capacitismo, classismo, homofobia em IHC.
  • 15. Assistentes de voz femininas: computador desumanizado, homens programando mulheres, individualização do problema social, etc.
  • 16. Além dessas relações de opressão, existe uma relação específica que concerne IHC.
  • 17. PRODUTORES grupo social que detém o privilégio de definir o funcionamento do computador USUÁRIOS grupo social que tem a necessidade de usar o computador para realizar uma atividade proteção simplificação explicação abuso gambiarra subversão Usuarismo baseado em Gonzatto (2018)
  • 18. Usuarismo subestima a amanualidade (Vieira Pinto, 2005) de grupos sociais afetados por outras opressões. Orientação sexual Raça Classe AmanualidadeGênero Interseccionalidade
  • 19. Quando uma pessoa sente que interage de maneira feia, é porque ela faz parte de um grupo desprivilegiado e/ou porque seus colegas fazem parte de um grupo privilegiado.
  • 20. Exemplo: a interação feia com uma balança eletrônica que despertou a fúria de usuários do Youtube.
  • 21. A estética do opressor nas interfaces faz os oprimidos se sentirem culpados pela interação feia (Boal, 2009)
  • 22. Usuarismo é uma opressão que reduz pessoas a meros usuários, sem história, sem corpo, sem voz e sem direitos, mas com muitas necessidades que podem ser supridas pela tecnologia.
  • 23. cidadão > usuário de serviço público eleitor > usuário de redes sociais trabalhador > usuário de plataforma estudante > usuário de serviço educacional paciente > usuário de serviço de saúde deficiente > usuário de tecnologia assistiva imigrante > usuário de aplicativo de tradução mulher > usuário de aplicativo menstrual gay > usuário de sistema de namoro negro > usuário de transporte público pobre > usuário de tecnologias de baixo custo
  • 24. Substituir o termo usuário por humano, pessoa ou utente não acaba com a opressão magicamente.
  • 25. Se todo uso da tecnologia envolve algum tipo de projeto, IHC pode apoiar os projetos dos próprios usuários. (Gonzatto, 2018) (Pelanda, 2019)
  • 26. Design Participativo (Ehn, 1988) combate o usuarismo apoiando projetos dos usuários.
  • 27. Apesar de se inspirar em Paulo Freire (1974), o Design Participativo não foi além do usuarismo e do classismo.
  • 28. Para lutar contra todas as opressões, é necessário uma pedagogia crítica (Van Amstel & Gonzatto, 2020).
  • 29. Esse assunto está sendo discutido extensamente na Rede Design & Opressão www.designeopressao.org (2020).
  • 30. Referências bibliográficas BOAL, Augusto. A estética do oprimido. Rio de Janeiro: Garamond, 2009. EHN, Pelle. Work-oriented design of computer artifacts. 1988. Tese de Doutorado. Arbetslivscentrum. FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Paz e terra, 1987. _. Pedagogia da autonomia, 1974. GONZATTO, Rodrigo Freese; VAN AMSTEL, Frederick MC. Designing oppressive and libertarian interactions with the conscious body. In: Proceedings of the XVI Brazilian Symposium on Human Factors in Computing Systems. 2017. p. 1-10. GONZATTO, Rodrigo Freese et al. Usuários e produção da existência: contribuições de Álvaro Vieira Pinto e Paulo Freire à interação humano-computador. 2018. PELANDA, Mateus Filipe de Lima, Infradesign: reconhecendo a dimensão projetual do trabalho invisível em projetos de interação (Monografia de Bacharelado em Design). DADIN, UTFPR, 2019. PICCOLO, Gustavo Martins. Educação infantil: análise da manifestação social do preconceito na atividade principal de jogos. Educação & Sociedade, v. 32, n. 114, p. 205-221, 2011. VAN AMSTEL, Frederick M.C. Preconceitos da interface humano-computador. Workshop CAPA - Culturas, Alteridades e Participações em IHC. In: 16o. Simpósio Brasileiro de Fatores Humanos em Sistemas Computacionais. Joinville, 2017. VAN AMSTEL, Frederick MC; GONZATTO, Rodrigo Freese. The anthropophagic studio: towards a critical pedagogy for interaction design. Digital Creativity, p. 1-25, 2020. VIEIRA PINTO, Álvaro. O conceito de tecnologia. Rio de Janeiro: Contraponto, v. 1, p. 794, 2005.
  • 31. Obrigado! Frederick van Amstel @usabilidoido www.usabilidoido.com.br DADIN - UTFPR