1) O documento identifica seis preconceitos comuns na Interação Humano-Computador que justificam opressões como machismo, racismo e capacitismo. 2) Esses preconceitos incluem a desumanização do computador e a distinção entre grupos tecnológicos. 3) O documento argumenta que o "usuário" é uma categoria opressiva que reduz as pessoas a suas necessidades tecnológicas, sem história ou voz.
2. Pré-conceito PreconceitoConceito
"Competência é
um conhecimento
adquirido na
prática".
"Mulheres não são
tão competentes
quanto homens
para fazer X".
"Este homem
parece ser
competente".
(baseado em Piccolo, 2011)
3. Preconceito é um conceito
falacioso que justifica relações
de opressão na sociedade.
5. USUÁRIOS
pessoas que não sabem
como computadores
funcionam
Pode o computador oprimir?
(baseado na literatura hegemônica de IHC)
COMPUTADORES
sistemas mal projetados
que não explicam seu
funcionamento
7. Uma análise histórica crítica
identificou seis preconceitos que
aparecem na Interação Humano
Computador (IHC).
Origem social
Sentidos implícitos Efeitos pragmáticos
(Van Amstel, 2017)
8. 1.Desumanização do computador
Conceito: computador é uma pessoa negra que faz cálculos e
trabalha em condições desumanas.
Cena de Estrelas Além do Tempo (2016)
Pré-conceito: a máquina de computar não é humana.
Preconceito: precisamos traduzir o computador para humanos.
9. 2.Distinção entre grupos tecnológicos
Programadores são menos humanos do que outros grupos sociais
por terem dificuldades de lidar com pessoas, porém, são mais do
que humanos por conseguirem lidar com o computador.
11. 4. Individualização de problemas sociais
Desenvolvedor
preguiçoso!
Usuária burra!
Qualquer problema de IHC é visto como
específico do indivíduo, sem uma relação com
os grupos humanos ao quais as pessoas
envolvidas fazem parte.
12. 5.Normalização estatística do indivíduo
A interface é projetada para o usuário médio através de
estatísticas ou em uma série de personas através de
estereótipos culturais.
13. 6. Redução do conhecimento ao que é
computável
A metáfora desktop representa conhecimentos do ambiente de
trabalho de escritório estadunidense que são computáveis.
Conhecimentos de outras origens culturais são excluídos.
15. Assistentes de voz femininas: computador desumanizado, homens
programando mulheres, individualização do problema social, etc.
16. Além dessas relações de opressão,
existe uma relação específica que
concerne IHC.
17. PRODUTORES
grupo social que detém o
privilégio de definir o
funcionamento do
computador
USUÁRIOS
grupo social que tem a
necessidade de usar o
computador para realizar
uma atividade
proteção
simplificação
explicação
abuso
gambiarra
subversão
Usuarismo baseado em Gonzatto (2018)
18. Usuarismo subestima a amanualidade (Vieira Pinto, 2005)
de grupos sociais afetados por outras opressões.
Orientação
sexual
Raça
Classe
AmanualidadeGênero
Interseccionalidade
19. Quando uma pessoa sente que interage de maneira
feia, é porque ela faz parte de um grupo
desprivilegiado e/ou porque seus colegas fazem
parte de um grupo privilegiado.
20. Exemplo: a interação feia com uma balança eletrônica que
despertou a fúria de usuários do Youtube.
21. A estética do opressor nas interfaces faz os oprimidos se
sentirem culpados pela interação feia (Boal, 2009)
22. Usuarismo é uma opressão que
reduz pessoas a meros usuários,
sem história, sem corpo, sem voz e
sem direitos, mas com muitas
necessidades que podem ser
supridas pela tecnologia.
23. cidadão > usuário de serviço público
eleitor > usuário de redes sociais
trabalhador > usuário de plataforma
estudante > usuário de serviço educacional
paciente > usuário de serviço de saúde
deficiente > usuário de tecnologia assistiva
imigrante > usuário de aplicativo de tradução
mulher > usuário de aplicativo menstrual
gay > usuário de sistema de namoro
negro > usuário de transporte público
pobre > usuário de tecnologias de baixo custo
24. Substituir o termo usuário por
humano, pessoa ou utente não
acaba com a opressão
magicamente.
25. Se todo uso da tecnologia
envolve algum tipo de projeto,
IHC pode apoiar os projetos
dos próprios usuários.
(Gonzatto, 2018)
(Pelanda, 2019)
27. Apesar de se inspirar em Paulo Freire (1974), o Design
Participativo não foi além do usuarismo e do classismo.
28. Para lutar contra todas as opressões, é necessário uma
pedagogia crítica (Van Amstel & Gonzatto, 2020).
29. Esse assunto está sendo discutido extensamente na Rede
Design & Opressão www.designeopressao.org (2020).
30. Referências bibliográficas
BOAL, Augusto. A estética do oprimido. Rio de Janeiro: Garamond, 2009.
EHN, Pelle. Work-oriented design of computer artifacts. 1988. Tese de Doutorado.
Arbetslivscentrum.
FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Paz e terra, 1987. _. Pedagogia da
autonomia, 1974.
GONZATTO, Rodrigo Freese; VAN AMSTEL, Frederick MC. Designing oppressive and
libertarian interactions with the conscious body. In: Proceedings of the XVI Brazilian
Symposium on Human Factors in Computing Systems. 2017. p. 1-10.
GONZATTO, Rodrigo Freese et al. Usuários e produção da existência: contribuições de
Álvaro Vieira Pinto e Paulo Freire à interação humano-computador. 2018.
PELANDA, Mateus Filipe de Lima, Infradesign: reconhecendo a dimensão projetual do
trabalho invisível em projetos de interação (Monografia de Bacharelado em Design).
DADIN, UTFPR, 2019.
PICCOLO, Gustavo Martins. Educação infantil: análise da manifestação social do
preconceito na atividade principal de jogos. Educação & Sociedade, v. 32, n. 114, p.
205-221, 2011.
VAN AMSTEL, Frederick M.C. Preconceitos da interface humano-computador. Workshop
CAPA - Culturas, Alteridades e Participações em IHC. In: 16o. Simpósio Brasileiro de
Fatores Humanos em Sistemas Computacionais. Joinville, 2017.
VAN AMSTEL, Frederick MC; GONZATTO, Rodrigo Freese. The anthropophagic studio:
towards a critical pedagogy for interaction design. Digital Creativity, p. 1-25, 2020.
VIEIRA PINTO, Álvaro. O conceito de tecnologia. Rio de Janeiro: Contraponto, v. 1, p. 794,
2005.