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UNIVERSIDADE ANHEMBI MORUMBI
MARIA VALERIA ESPINÓS GUERRA MARTINS
NOVAS DEMANDAS AUDIOVISUAIS:
a narrativa transmídia entre as novas gerações e as suas
histórias
SÃO PAULO
2012
MARIA VALERIA ESPINÓS GUERRA MARTINS
NOVAS DEMANDAS AUDIOVISUAIS:
a narrativa transmídia entre as novas gerações e as suas
histórias
Dissertação de Mestrado apresentada à Banca
Examinadora, para a obtenção do título de
Mestre do Programa de Mestrado em
Comunicação, área de concentração
Processos Midiáticos na Cultura Audiovisual,
Comunicação Contemporânea da Universidade
Anhembi Morumbi, sob a orientação do Prof.
Dr. Vicente Gosciola.
SÃO PAULO
2012
MARIA VALERIA ESPINÓS GUERRA MARTINS
NOVAS DEMANDAS AUDIOVISUAIS:
a narrativa transmídia entre as novas gerações e as suas
histórias
Dissertação de Mestrado apresentada à Banca
Examinadora, para a obtenção do título de
Mestre do Programa de Mestrado em
Comunicação, área de concentração
Processos Midiáticos na Cultura Audiovisual,
Comunicação Contemporânea da Universidade
Anhembi Morumbi, sob a orientação do Prof.
Dr. Vicente Gosciola.
Aprovado em _____/_____/_____
_________
Prof. Dr. Vicente Gosciola
___________ _________
Prof. Dra. Maria Ignês Carlos Magno
_________
Prof. Dr. Hermes Renato Hildebrand
Para meus amores João, Paloma e Isabela,
pois sempre seguimos em frente, juntos
descobrimos novas portas e um mundo
maravilhoso, colorido e brilhante.
AGRADECIMENTOS
Existem pessoas especiais que contribuíram muito para que este trabalho pudesse
ser realizado. Estas pessoas merecem uma homenagem mais do que justa, pois seu
apoio incondicional, seus ensinamentos, sua simples presença colaboraram para
que este projeto tomasse corpo. Portanto, agradeço a cada uma delas de forma
individual.
Primeiro, a minha família, que estava ao meu lado quando tudo parecia ser
impossível. Vocês me deram forças para seguir adiante, me apoiando, ajudando e
incentivando. Mãe, muito obrigada! Você cuidou de tudo para que eu pudesse me
dedicar a ler e pesquisar. João, meu querido marido, amigo, pela ajuda
incondicional, pela eterna paciência e, principalmente, por tudo o que vivemos.
Minhas filhotas Paloma e Isabela, que souberam dividir o nosso tempo. Pai, com
certeza, você teria se orgulhado dessa!
Aos meus amigos tão especiais: Fátima Pissara, minha querida fada madrinha, que
fez esforços incríveis e moveu o céu e a terra para que eu estivesse aqui. Walther
Lang, Samantha Jones, Raquel Espigado, Darlaine Cavalcante e Marcelo Godoy,
por seus eternos conselhos, por todas as risadas que demos e por todas as ajudas
ao longo destes dois anos.
Ao meu Professor Vicente Gosciola, querido mentor, orientador e amigo. Você me
ensinou, guiou e orientou nesta trajetória. Nossas conversas estarão presentes na
minha memória.
A minha querida professora Maria Ignês Carlos Magno, que compartilhou comigo
todos os minutos desta jornada. Sua forma simples de explicar o complicado tornou
tudo mais fácil.
RESUMO
Esta dissertação observa a narrativa transmídia como algo não inteiramente novo.
Inicialmente, a interação com o conteúdo era facilmente controlada pelas empresas,
mas a web tornou visível a atividade cultural participativa, tornando-se um local de
participação do espectador/usuário/interator. As diferentes tecnologias de
comunicação (televisão, videogame etc.) possibilitaram diferentes níveis de
interatividade. O processo de comunicação passou a ser personalizável conforme as
necessidades dos indivíduos que a consomem diariamente através de um simples
toque na tela de uma interface online: o celular que se transformou em um elemento
de mídia. Para esta dissertação, a segunda tela é hoje uma realidade e está inserida
também sob um aspecto social e interativo, a segmentação estratificada do consumo
que está implícita nestas estratégias de marketing. A geração net vive e respira a
tecnologia. Eles têm uma necessidade vital de participar e fazer parte do processo
de comunicação na geração de novos conteúdos. Estes conteúdos são incorporados
ao cotidiano e transformados em narrativas transmídia, podendo, assim, transformar
o entretenimento e o audiovisual e criando mais engajamento que outros tipos de
narrativas mais tradicionais. Sendo assim, esta dissertação se propõe a estudar
estas situações e o quanto elas são relevantes para entendermos a nossa
contemporaneidade. Acreditamos que ao final desta dissertação, tal estudo tenha
reconstruído a nossa compreensão da narrativa transmídia – aqui entendida e
decodificada por novos valores desenhados e integrados – como parte de um
processo de renovação diária pelas novas tecnologias e novas demandas da
sociedade.
Palavras-chave: Mídias digitais. Plataformas móveis narrativas transmídia.
Audiovisual. Engajamento. Nova geração.
ABSTRACT
This dissertation observes transmedia storytelling as something not entirely new.
Initially the interaction with content was easily controlled by companies, but the web
has brought visibility to participatory cultural activities, by becoming a place of
participation of the spectator/user. The different communication technologies
(television, video game, etc.) offer different levels of interactivity. The communication
process is now customizable according to the needs of individuals who consume
goods daily through a simple touch on the screen of an online interface: the phone
that turned into a media instrument. For this dissertation, the second screen is now a
reality and is also considered under a social and interactive aspect: the laminate
consumption segmentation that is implied in these marketing strategies. The so
called net generation lives and breathes technology. They have a vital need to be
part of the communication process regarding the generation of new content, which is
incorporated into daily routines and transformed into transmedia storytelling, thus
changing entertainment and audiovisual and creating more engagement than other
more traditional narratives. All aspects considered, this dissertation proposes the
study of such situations and their relevance to our understanding of present times.
We believe that by the end of this dissertation such study will have rebuilt our
comprehension around transmedia storytelling, taken here as a result of newly
redrawn and reintegrated values, and also as part of a daily renewal process
propelled by new technologies and by new demands from society.
Keywords: Digital media. Mobile platforms transmedia storytelling. Audiovisual.
Engagement. New generation.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1. Sistema de celular desenvolvido por Lamarr, em 1942.............................23
Figura 2. Evolução dos celulares..............................................................................27
Figura 3. Lançamento do iPhone, em 2007..............................................................28
Figura 4. A nova geração de usuários e seus celulares ...........................................30
Figura 5. Manifestação nas Filipinas contra a OMC, em 1999 .................................31
Figura 6. Wikipédia tirou do ar sua versão em inglês por 24 horas, deixando na
página inicial os dizeres “Imagine um mundo sem conhecimento” ...........................32
Figura 7. Uso de smartphones em conjunto com outras atividades .........................33
Figuras 8a-m. Infográficos sobre a evolução dos smartphones...............................35
Figura 9. Gary Hayes – Entendendo o comportamento da segunda tela .................36
Figura 10. Número de usuários do Facebook no Brasil............................................44
Figura 11. Eleições presidenciais dos EUA..............................................................46
Figura 12. Página do Club Winx...............................................................................47
Figura 13. Página do Programa Infantil Carrossel – SBT.........................................48
Figura 14. Página do Monsterhigh............................................................................48
Figura 15. Xerazade e as mil e uma noites ..............................................................52
Figura 16. Personagens do seriado Hannah Montana .............................................58
Figura 17. Capas do Game Harry Porter..................................................................62
Figura 18. Modelo de Brooke Thompson, fornecendo uma comparação sobre
cross-media e transmídia ..........................................................................................64
Figura 19. Cronologia da narrativa ...........................................................................65
Figura 20. Cronologia da narrativa do seriado The First ..........................................65
Figura 21. Evolução da narrativa..............................................................................66
Figura 22. Evolução da narrativa transmídia ............................................................70
Figura 23. Visão geral do projeto sob a ótica das especificações funcionais ...........73
Figura 24. Timeline das experiências .......................................................................74
Figura 25. Exemplo de wireframe para site de projeto .............................................75
Figura 26. Time de projeto transmídia e suas interações ao longo do projeto .........76
Figura 27. Galinha Pintadinha – a) Teatro Turnê Oficial; b) Cena de DVD ..............78
Figura 28. Site do seriado Castle e livros publicados ...............................................81
Figura 29. Site da Comunidade de Fãs do Seriado Castle, no Brasil.......................82
Figura 30. Chamada de Castigo Final – série brasileira apresentada na
operadora de celular Oi.............................................................................................83
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1. Utilização de tablets em conjunto com a TV ............................................38
Gráfico 2. Taxa de crescimento de usuários do Facebook, em 2012.......................45
Gráfico 3. Distribuição de idades dos usuários do Facebook...................................47
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ANATEL – Agência Nacional de Telecomunicações do Brasil
AMPS – Advanced Mobile Phone System
CD – Compact Disc
DVD – Digital Versatile Disc
EDGE – Enhanced Data rates for GSM Evolution
EUI – Espectador/Usuário/Interator
GPRS – General Packet Radio Services
GPS – Global Positioning System
GSM – Global System for Mobile Communications
IP – Internet Protocol
OMC – Organização Mundial do Comércio
PDA – Personal Digital Assistant
P2P – Person To Person
QWERTY – Layout de teclado atualmente mais utilizado em computadores e
máquinas de escrever
RIM – Research In Motion – empresa canadense que criou o Blackberry
SMS – Short Message Service
WI-LAN – Wireless Local Area Network
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO..........................................................................................................12
1 DEFINIÇÕES FUNDAMENTAIS............................................................................16
1.1 O MEIO E A MENSAGEM...............................................................................17
1.2 A EVOLUÇÃO E A IMPORTÂNCIA DOS CELULARES .................................22
1.3 ENTENDENDO A SEGUNDA TELA ...............................................................36
1.4 CONVERGÊNCIA TECNOLÓGICA E AS NOVAS GERAÇÕES ....................39
2 A ARTE DE CONTAR HISTÓRIA..........................................................................50
2.1 SABEMOS CONTAR HISTÓRIAS? ................................................................51
2.2 A CONSTRUÇÃO DO IMAGINÁRIO, DA SUBJETIVIDADE E DA
IDENTIDADE..................................................................................................56
3 PROCESSO DE TRANSMIDIAÇÃO......................................................................61
3.1 CULTURA PARTICIPATIVA ...........................................................................69
3.2 O CONCEITO DE BÍBLIA TRANSMÍDIA ........................................................73
3.3 ENGAJAMENTO DO PÚBLICO-JOVEM ........................................................76
3.4 PRODUÇÕES TRANSMIDIÁTICAS BEM SUCEDIDAS.................................79
CONCLUSÃO ...........................................................................................................84
REFERÊNCIAS BIBIOGRÁFICAS ...........................................................................89
12
INTRODUÇÃO
Ao entrar no Mestrado de Comunicação, minha primeira intenção foi realizar alguma
produção relacionada à tecnologia móvel, tendo como principal foco o telefone
celular e sua utilização audiovisual. Na época, trabalhava na Nokia e estava
envolvida com projetos de customização de celulares, personalizando o celular com
um objetivo claro – fidelizar usuários às marcas, portanto, as mudanças no produto
em favor do mercado poderiam melhorar o lucro da empresa e a aceitação dos
usuários.
O que eu não previ é que estava prestes a descobrir outros usos ligados ao
audiovisual, o que para mim foi uma grande surpresa. Descobri um termo novo:
transmídia. Quando ouvi o termo pela primeira vez, na sala de aula, fiquei
apaixonada pela definição do Professor Vicente Gosciola, que utiliza a seguinte
definição:
A narrativa transmídia é uma grande história. O que a diferencia de
outras grandes histórias é que ela é dividida em partes. A história
principal é complementada por histórias adicionais. Outra
característica que a torna mais singular ainda é que cada uma
dessas histórias é veiculada por um meio de comunicação diferente,
definido por ser aquele que melhor consiga expressá-las
(GOSCIOLA & VERSUTI, 2012, p. 2).
De acordo com Jenkins (2009), cada meio conta a história à sua maneira. Acabei
percebendo que os novos dispositivos móveis se prestariam muito bem numa nova
forma de linguagem audiovisual, através do uso das redes de última geração,
provocando experiências únicas nos usuários sedentos por novidades. Um aspecto
que me chamou a atenção foi a apropriação das novas gerações de usuários sobre
os conteúdos e narrativas.
Portanto, o objetivo deste estudo é responder a alguns questionamentos que
permeiam o universo tecnológico e o universo ficcional, tais como:
 A narrativa transmídia pode transformar o entretenimento e o audiovisual
através do uso de novas tecnologias?
 A narrativa transmídia pode criar mais engajamento do que os outros tipos de
narrativas mais tradicionais?
13
O conceito de narrativa transmídia não é algo novo. Estudiosos como Christy Dena,
Henry Jenkins, Grant McCracken, Carlos Scolari, Vicente Gosciola já realizam
estudos sobre este conceito há alguns anos. O ponto comum de todos eles é que a
narrativa deve ser atrativa o suficiente para criar engajamento dos usuários e fãs.
Diante deste quadro, faço um questionamento: se o conceito não é novo, por que ele
ganhou força nos últimos tempos? Trata-se de uma nova onda que pretende
capitalizar os investimentos feitos nas produções de audiovisual ou uma tendência
que se estabelece a partir da disseminação de novas tecnologias?
De acordo com o antropólogo Grant McCracken (2003), a produção de novos
conteúdos e a cultura mundial está se tornando cada vez mais rápida.
A cultura está se fragmentando e o gosto dos consumidores muda
quase que em tempo real, ao mesmo tempo em que culturas muito
tradicionais dizem não para as novidades. Temos que pensar um
processo de formação que absorva as novidades que surgem o
tempo todo, sem abandonar o que as pessoas estão acostumadas a
ver e entender (McCRACKEN, 2003, p. 104).
Esta provocação vem ao encontro com o tema da dissertação, pois a sociedade
atual está sofrendo uma intensa transformação após a incorporação de alguns
artefatos tecnológicos que conhecemos como, por exemplo, os smartphones, tablets
e outros dispositivos que hoje estão tão sociais quanto tecnológicos.
A falácia da “caixa preta”, tão comentada por Jenkins (2009), dá conta de um
“dispositivo mágico” que pode proporcionar acesso às formas de interação com
diversos conteúdos, proporcionando certa liberdade do usuário para que possa
escolher quando, onde e o que lhe interessa, sob a perspectiva do conteúdo. Esta
mesma caixa assume diversas formas, como por exemplo: tablets, o próprio advento
do iPhone, TVs conectadas à Internet, consoles e uma infinidade de dispositivos.
Ante a esse cenário, o conteúdo que nos remete às narrativas pode tomar diversas
formas em diferentes modelos de narrativas, que podem ser modificadas pelos
usuários conforme suas experiências e, principalmente, sob o seu ponto de
interesse.
Neste estudo, serão referenciados autores como McLuhan (1964), em função de sua
abordagem iluminadora dos meios de comunicação, através de um olhar especial
para axiomas como “aldeia global”, “o meio é a mensagem” e “os meios como
extensões do homem”; Castells (1999), por discutir o papel da tecnologia na
14
sociedade e, por fim, os textos de Jenkins (2009), que desenvolve significativos
conceitos a respeito de convergência, inteligência coletiva e cultura participativa,
atualizando as teorias apresentadas pelos dois autores anteriores.
No primeiro capítulo deste estudo, denominado Definições Gerais, procuro
estabelecer aspectos importantes sobre o conteúdo e as mídias digitais, pois cada
avanço na tecnologia da informação e comunicação trouxe consigo um aumento na
sofisticação das nossas narrativas. Várias formas de narrativas estão emergindo
como uma importante forma de comunicação, graças às redes sociais e às novas
formas de interação que os usuários descobrem a cada dia. Faz-se necessário,
então, entender como se dá o processo de criação de uma narrativa e a sua
importância no contexto da comunicação contemporânea. Como base conceitual,
abordo conceitos do meio e a mensagem, discutidos por McLuhan (1964), trazendo
à tona a discussão sobre a construção de novas linguagens audiovisuais e os novos
formatos de narrativa, incluindo a narrativa transmídia, e ainda, sobre o processo de
transmidiação.
Em seguida, procuro elucidar os aspectos tecnológicos, considerando que a
configuração em rede é peculiar ao ser humano. Desde os primórdios, quando o
homem desenvolve a habilidade de se comunicar e criar, ele passa a se agrupar
com seus semelhantes, estabelecendo relações sociais, econômicas e de interesses
que se desenvolvem e se modificam ao longo do tempo. Rapidamente, o homem
está deixando de ser analógico. Observa-se que as novas gerações incorporaram os
meios digitais que hoje estão 100% conectados. Esta mudança de comportamento é
notada no cotidiano das novas gerações, que passam a utilizar a rede como forma
de compartilhamento de seus pensamentos e de informações traduzidas em
conhecimento. Portanto, faz-se necessário abordar a questão da evolução das
mídias móveis, a convergência tecnológica e das redes e como as tais plataformas
podem ser usadas em projetos transmídia.
Busco retomar o conceito de convergência, pois na medida em que o ser humano
evolui, mudam suas prioridades e suas conveniências que se refletem na maneira
dele se comunicar e de se relacionar com os demais. Com o passar dos anos, a
evolução tecnológica experimentada através de adventos como a rádio frequência e
a nanotecnologia tornam possível a comunicação em tempo real, o que proporciona
uma rápida expansão das redes sociais.
15
Procuro explorar, também, o impacto nas narrativas atuais e sua relação com a
segunda tela, demonstrando como se dá o processo de comunicação e
engajamento.
No segundo capítulo, faço algumas provocações intencionais sobre as narrativas,
resgatando algumas questões sobre as formas de perpetuá-las ao longo do tempo,
além do ato de “contar histórias”, possibilitando aprendizado, perpetuando a cultura
e criando novas abordagens. Abordo os aspectos da oralidade até o
desenvolvimento de novas formas audiovisuais. A apropriação do conteúdo que é
realizado pelas novas gerações e suas formas, procurando traçar um paralelo entre
crossmídia e as narrativas transmídia. As narrativas transmídia estão sendo
desenvolvidas para uma grande variedade de aplicações, incluindo o próprio
entretenimento, a educação, o marketing, o jornalismo e a literatura.
O terceiro capítulo está direcionado ao processo de transmidiação propriamente dito.
A integração de várias mídias diferentes em uma narrativa coesa e coerente é um
grande desafio para os produtores das narrativas transmídia. Um dos maiores
desafios é manter o espectador/usuário/interator – EUI (INJU, 2011), uma vez que
estes usam seu próprio repertório, experiências, habilidades cognitivas e habilidades
psicológicas para interagirem em uma narrativa transmídia (GOSCIOLA, 2011).
Ressalta-se que este termo será utilizado em toda a extensão deste estudo. Abordo,
ainda, a importância do desenvolvimento das bíblias transmídia, como elemento de
planejamento e implantação de uma boa narrativa transmídia. A identificação do EUI
com os personagens, com a narrativa e como ocorre o processo de criação da
identidade do mesmo é fundamental na criação das narrativas ficcionais
transmidiáticas que estão fortemente baseadas nas mídias sociais e nas tecnologias
online.
Nas conclusões finais deste estudo, respondo alguns questionamentos feitos
inicialmente e que permeiam o universo tecnológico e o universo ficcional,
mostrando como a narrativa transmídia pode transformar o entretenimento e o
audiovisual através do uso de novas tecnologias, criando maior engajamento
quando comparada a outros tipos de narrativas mais tradicionais. A narrativa
transmídia, ou narrativa espalhada, pode aproximar ou reaproximar as novas
gerações no sentido abordado por McLuhan (1964) ou devolver a eles a
sociabilidade interrompida?
16
1 DEFINIÇÕES FUNDAMENTAIS
Inicialmente, é necessário realizar algumas definições fundamentais sobre os
principais conceitos que serão discutidos nesta dissertação. Tais definições serão
dividas em dois blocos fundamentais: 1) meios de comunicação; 2) mensagens. Nos
meios de comunicação, destacarei os principais meios utilizados neste estudo e
suas definições e impactos na sociedade. Abordarei, ainda, as questões
relacionadas à mensagem e suas derivações sob a ótica da necessidade da
produção de conteúdo e seu impacto no audiovisual e nas grandes produções
transmidiáticas.
Meio: de acordo com o dicionário Michaelis, o meio é uma maneira, via aonde se
chega a algum fim. O que dá passagem ou serventia, ou serve de comunicação. O
termo meio de comunicação, de acordo com o site Wikipédia, refere-se ao
instrumento ou à forma de conteúdo utilizada para a realização do processo
comunicacional. Quando falamos sobre a comunicação de massa, pode ser
considerado sinônimo de mídia; outros meios de comunicação, como o telefone,
tablets e computadores são considerados meios individuais ou interpessoais. Os
meios de comunicação podem ser divididos em:
 Sonoros: rádio, podcast, telefone.
 Escritos: diários, cartas, revistas, jornais.
 Audiovisuais: TV, cinema.
 Novas mídias: vasto campo delimitado pelas tecnologias digitais (GOSCIOLA,
2010).
 Hipermídia: meio e linguagem em que esse campo se encontra (GOSCIOLA,
2010). Temos, aqui, a TV conectada, a Internet, os CD-ROMs e DVDs.
Para McLuhan (1964), o meio é o canal/tecnologia em que a comunicação se
estabelece e não apenas constitui a forma comunicativa, mas determina o próprio
conteúdo da comunicação.
Mensagem: De acordo com o dicionário Michaelis, mensagem é tudo o que é
transmitido do emissor ao receptor, pessoalmente, por vídeo ou por
correspondência. É um conteúdo (palavras com uma definição) enviado para alguém
ou algum lugar. Conforme a definição do site Wikipédia, a mensagem é o objeto da
17
comunicação. Dependendo do contexto, o termo pode se aplicar tanto ao conteúdo
da informação quanto à sua forma de apresentação.
Narrativas: do latim narre, significa dar conhecimento, transmitir informações.
Fornecem aos indivíduos uma ferramenta para aprender e ensinar uns aos outros
sobre o mundo. Como a narrativa é estudada a partir de uma variedade de
perspectivas, suas abordagens podem variar significativamente. Elas podem ser
abordadas como um método para produzir, como uma teoria para investigar, como
uma prática social, política ou estratégica.
Conteúdo: o dicionário Michaelis define conteúdo como assunto, tema, matéria de
carta, livro etc.; conjunto dos interesses e valores específicos para os quais
convergem as atividades típicas de um grupo social.
Estas definições foram colocadas para alinhar o conhecimento e, assim, estabelecer
um ponto de partida neste estudo. A partir dos conceitos acima, proponho um
diálogo com os principais pensadores da Comunicação, da Antropologia, da
Psicologia e da Pedagogia. Considerando que este estudo trata de certa forma da
arte de contar histórias, resgato a história e onde tudo começou.
1.1 O MEIO E A MENSAGEM
A narrativa existe desde o tempo em que as primeiras pinturas da Idade das Pedras
foram feitas em cavernas e as primeiras histórias foram contadas ao redor do fogo.
Uma pessoa pode aprender sobre o passado, eventos atuais e futuro a partir de
contos, piadas, novelas, filmes, desenhos, jornais, telejornais, obituários de outras
pessoas, entre outros. Seja a narrativa simples ou complexa, os indivíduos precisam
ser capazes de entender suas funções para compreender o mundo ao seu redor. “A
arte de contar história, por vezes é deixada para segundo plano quando uma nova
tecnologia surge” (GOSCIOLA, 2010, p. 2). Por outro lado, as novas tecnologias
abrem também muitas possibilidades de contar histórias sob uma nova perspectiva –
a do EUI.
18
Desde a era pré-histórica, o homem desenvolveu a habilidade de se comunicar. No
início, o homem aprendeu a usar a comunicação através de sinais gráficos que
serviam para trocar informações, registrar fatos, expressar ideias e emoções. As
tribos longínquas se valiam de sinais de fumaça ou de tambores para se comunicar,
alertando sobre perigos ou invasões. Quando o homem passa a fazer sons, se
estabelece a comunicação verbal. A linguagem passou a ser uma construção da
razão, onde conseguia aproximar-se da realidade. A comunicação oral passou a ser
uma representação simbólica do significado dos objetos.
A invenção da escrita ocorre como consequência das mudanças profundas nas
sociedades, durante o período do surgimento das primeiras cidades e na medida em
que o homem continuava sua trajetória evolutiva. Pelo menos quatro sistemas de
escrita foram inventados de forma independente em épocas diferentes, por quatro
povos distintos, na Mesopotâmia, Egito, China e América Central. Os mais antigos
testemunhos escritos encontrados são provenientes da região da Mesopotâmia
(atual Iraque), feitos 3.300 anos a.C. Os sumérios, que habitavam a Mesopotâmia,
desenvolveram a escrita cuneiforme, pequena ferramenta de entalhe, que gravava
símbolos em placas de cerâmica. Os egípcios criaram os hieróglifos, a escrita das
pirâmides reservada a uma classe de especialistas, os escribas, que ocupavam uma
posição de destaque, pois passavam por um processo de formação especifica, além
de ser o elo entre o faraó, outros funcionários do governo, os sacerdotes e o povo.
No final da Idade Média, quando foi criada a prensa de tipos móveis metálicos, em
1450, as pessoas comuns ainda não haviam aprendido a ler e escrever, sendo este
um privilégio da elite cultural. Desde a Antiguidade, os grandes conquistadores
foram obrigados a estabelecer um sistema de mensageiros como uma forma de
comunicação, em especial durante as guerras.
O processo de evolução do homem e de sua comunicação passa pelo incremento
das redes de transportes, durante a Revolução Industrial do século XVIII. Nesta
fase, tivemos a evolução da máquina a vapor chegando ao tráfego ferroviário e ao
marítimo, utilizado para o transporte de matérias-primas em longas distâncias. Este
é o importante marco final do período de1500-1850, onde o mundo de fato passou
por uma série de transformações socioculturais, advindas, principalmente, da
descoberta dos “novos mundos”.
19
Posteriormente, vieram as invenções do motor à explosão, da aplicação da
eletricidade aos transportes e, anos depois, do automóvel e do avião, fruto de
grandes progressos tecnológicos que tiveram por objetivo melhorar as
acessibilidades e diminuir a distância-tempo e a distância-custo. Faz-se necessário
apontar que os grandes avanços tecnológicos da comunicação ocorreram em função
de guerras e da evolução da indústria bélica, como forma de segurança nacional e
de proteção territorial. Após as guerras, as tecnologias de comunicação passaram a
ser massivamente usadas pelas indústrias de bens e serviços e o próprio
consumidor final.
McLuhan (1964) pondera que o que realmente importa é o meio de comunicação
predominante e não o conteúdo transmitido.
A luz elétrica é informação pura. É algo assim como um meio sem
mensagem, a menos que seja usada para explicitar algum anúncio
verbal, ou algum nome. Este fato, característico de todos os veículos,
significa que o “conteúdo” de qualquer meio ou veículo é sempre
outro meio ou veículo. O conteúdo da escrita é a fala, assim como a
palavra escrita é o conteúdo da imprensa e a palavra impressa é o
conteúdo do telégrafo. Se alguém perguntar “Qual é o conteúdo da
fala?”, necessário se torna dizer: “É um processo de pensamento
real, não-verbal em si mesmo”. Uma pintura abstrata representa uma
manifestação direta dos processos do pensamento criativo, tais como
poderiam comparecer nos desenhos de um computador. Estamos
aqui nos referindo, contudo, às consequências psicológicas e sociais
dos desenhos e padrões, na medida em que ampliam ou aceleram
os processos já existentes. Pois a “mensagem” de qualquer meio ou
tecnologia é a mudança de escala, cadência ou padrão que esse
meio ou tecnologia introduz nas coisas humanas (MCLUHAN, 1964,
p. 22).
A relevância, segundo McLuhan (1964), está no avanço que a tecnologia provoca no
cotidiano dos indivíduos inseridos em uma sociedade. O autor destaca o exemplo da
estrada de ferro, cuja implantação proporcionou para algumas comunidades, novas
oportunidades, gerando uma circulação maior de pessoas, facilitando a locomoção,
entre outras transformações.
McLuhan (1964, p. 33) afirma: “O efeito de um meio se torna mais forte e intenso
justamente porque o seu ‘conteúdo’ é outro meio”. O conteúdo não possui relevância
na estruturação das relações humanas, porém, em alguns momentos, ele acaba
impedindo que seja possível perceber a verdadeira natureza de cada meio.
20
O teórico esclarece que o conteúdo do filme é o romance, o conteúdo da imprensa é
a fala, mas os indivíduos, em sua maioria, não o percebem dessa forma, mantendo-
se, inconscientes frente a esta realidade. Assim, todos os indivíduos passam a ter a
possibilidade de adquirir a mesma informação, em qualquer lugar, formando uma
unidade, pois para McLuhan (1964), as sociedades sempre foram mais modeladas
pela tecnologia da comunicação do que pelos conteúdos dessas mesmas
tecnologias.
A aceleração de hoje não é uma lenta explosão centrífuga do centro
para as margens, mas uma implosão imediata e uma interfusão do
espaço e das funções. Nossa civilização especializada e
fragmentada, baseada na estrutura centro-margem, subitamente está
experimentando uma reunificação instantânea de todas as suas
partes mecanizadas num todo orgânico. Este é o mundo novo da
aldeia global (MCLUHAN, 1964, p. 112).
A aldeia global anula as noções de tempo e espaço, proporcionando a troca de
informações e conhecimento, de uma maneira universal e instantânea. Todos se
relacionam tecnologicamente e, dessa forma, os contatos sociais são privilegiados.
Mesmo que a tecnologia provoque uma forte segmentação social, os meios
promovem uma integração entre os indivíduos, através da criação de um consenso
mundial. As narrativas ocorrem independentemente da tecnologia, assim como
todas as formas de se contar história. O que mudam são os meios utilizados.
Vale lembrar que sempre existirá uma obsolescência tecnológica em curso. Antigos
meios de comunicação são substituídos por outros. Em alguns casos, suas funções
coexistem por um determinado tempo, até que uma nova tecnologia suprima aos
anteriores. Gosciola (2012) comenta em seu artigo “A máquina de narrativa
transmídia: transmidiação e literatura fantástica”, que o jogo de forças parece estar
equilibrado, pois sempre que há uma obsolescência de tecnologia dos meios de
comunicação, as narrativas começam a apresentar novidades e vice-versa.
Segundo McLuhan (1964, p. 197), os meios são extensões dos sentidos humanos.
“Toda extensão é uma amplificação de um órgão, de um sentido ou de uma função
que inspira ao sistema nervoso central um gesto auto-protetor de entorpecimento da
área prolongada”. As extensões são usadas pela maioria dos indivíduos, de forma
tão constante, como os olhos e os ouvidos, por exemplo. O rádio, segundo McLuhan
(1964), é uma extensão da audição e a fotografia é uma extensão da visão.
21
Contemplar, utilizar ou perceber uma extensão de nós mesmos sob a
forma tecnológica implica necessariamente em adotá-la. Ouvir rádio
ou ler uma página impressa é aceitar essas extensões de nós
mesmos e sofrer o “fechamento” ou o deslocamento da percepção,
que automaticamente se segue. É a contínua adoção de nossa
própria tecnologia no uso diário que nos coloca no papel de Narciso
da consciência e do adormecimento subliminar em relação às
imagens de nós mesmos (MCLUHAN, 1964, p. 64).
Quando surge algum avanço tecnológico que modifica o meio, as relações dos
indivíduos também se alteram. McLuhan (1964) salienta o exemplo do rádio que se
modificou profundamente com o desenvolvimento da televisão. O meio teve que
buscar outros segmentos para continuar sendo viável economicamente. Neste caso,
a solução foi diversificar os serviços, voltando-se para o público regional e buscando
atingir as necessidades individuais dos ouvintes. A recepção também deixou de ser
coletiva: da família reunida para individualmente nos quartos, nas cozinhas ou até
mesmo nos automóveis.
Para McLuhan (1964), a necessidade de utilizar os sentidos é tão indispensável
quanto respirar, justificando, desse modo, a necessidade que muitos indivíduos
possuem em manter a televisão ou o rádio ligado, mesmo sem dispensar uma
atenção exclusiva ao meio. O acesso contínuo não está relacionado com o
conteúdo, mas ao fato da tecnologia estar integrada ao sistema nervoso central.
Para as novas gerações, os meios digitais são como o ar que a geração net respira,
como afirma Tapscott (2012), em sua apresentação durante o TEDX 2012. Para as
novas gerações, o uso das tecnologias é natural, pois elas nasceram em um
ambiente digital.
A pedagoga Kishimoto (2007), em seu artigo “Narrativas infantis: um estudo de caso
em uma instituição infantil”, comenta que a narrativa ocorre como linguagem
articulada oral ou escrita, imagem fixa ou móvel, gesto, mito, lenda, fábula, conto,
cinema, entre outros, como forma de discurso que descreve em sequência os fatos
do passado, real ou imaginário.
A narrativa está presente na conversação, no contar e recontar história, nas
brincadeiras e nas ações que resultam da integração entre várias linguagens, dando
sentido ao mundo e tornando sua inclusão no mundo infantil. Bruner (1986) valoriza
as histórias infantis, do gênero conto de fadas, porque nelas se encontra um
formato, uma estrutura prévia, de tipo binário, de situações opostas, típico do
22
processo de categorização. A narrativa, como categorização, “exige discriminar
diferentes coisas como equivalentes, agrupar objetos, eventos e povos em classes,
em termos de membros de classe” (BRUNER; GOODNOW; AUSTIN, 1956, p. 1).
Cada indivíduo constrói um sistema de codificação, uma forma pessoal de agrupar
ou relacionar informações sobre o mundo em constante reorganização. O processo
de categorização, a mente humana utiliza um sistema binário, similar ao
computacional (pertencer ou não à categoria), mas vai além da informação dada,
utilizando inferências e indicações do ambiente.
Segundo Kishimoto (2007), as situações binárias, como segurança e perigo,
coragem e covardia, inteligência e estupidez, esperança e desesperança, bem e
mal, são as principais tramas dos contos de fadas. As classificações, como
estruturas, auxiliam povos sem escrita a compreenderem seu mundo pela memória.
Tais povos observam animais corredores, voadores e rastejadores, viajantes da
terra, da água, diurnos e noturnos. O sistema binário, que prevalece nas narrativas,
possibilita classificar um ser como voador ou não, noturno ou diurno, com descrições
minuciosas, o que também se aplica às crianças, porque a mente infantil também
usa tal sistema para a compreensão do mundo.
1.2 A EVOLUÇÃO E A IMPORTÂNCIA DOS CELULARES
Considero relevante, neste estudo, comentar sobre a invenção do celular, pois existe
um paralelo interessante entre o cinema, a situação politica mundial e a própria
tecnologia: a invenção de Hedy Lamarr. O celular que conhecemos hoje nasceu a
partir da comunicação do rádio. Neste contexto, é relevante comentar sobre Hedy
Lamarr.
Hedy Lamarr é o nome artístico de Hedwig Eva Maria Kiesler (Viena, 9 de novembro
de 1913 — Altamonte Springs, 19 de janeiro de 2000). Sua maior contribuição no
mundo científico foi a invenção de um sistema de comunicações para as forças
armadas americanas, que serviu de base para a atual telefonia celular.
23
Durante a Segunda Guerra Mundial, Lamarr criou um sofisticado aparelho de
interferência em rádio para despistar radares nazistas e o patenteou em 1940,
usando o seu verdadeiro nome. A ideia surgiu ao lado do compositor George Antheil,
em frente a um piano. Eles brincavam de dueto, ela repetindo em outra escala as
notas que ele tocava, experimentando o controle dos instrumentos, inclusive com a
música para o Ballet Mécanique, originalmente escrita para o filme abstrato de
Fernand Léger, em 1924. Ou seja, duas pessoas podem conversar entre si mudando
frequentemente o canal de comunicação, bastando que façam isso
simultaneamente. Este princípio de comunicação norteou o desenvolvimento das
redes de rádio e telefonia celular usados atualmente, em nosso cotidiano, sempre
que falamos no celular.
Figura 1. Sistema de celular desenvolvido por Lamarr, em 1942
Fonte: Lamarr (2001).
Um celular é um dispositivo sem fio que se conecta a rede telefonia pública
comutada e é oferecido ao público em geral, por uma empresa comum ou de
utilidade pública. Além disso, em sua maior parte, a história do celular não é apenas
um estudo sobre o telefone ou sobre o aparelho em si, mas um olhar para o sistema
sem fio que é conectado.
24
Existem muitas controvérsias sobre a autoria do telefone sem fio. Alguns autores
apontam que o primeiro telefone sem fio, o Fotofone, foi inventado por Alexander
Graham Bell, em conjunto com sua assistente Sarah Orr, em 1880. O dispositivo
permitiu que uma conversa telefônica fosse realizada através da luz. Em junho de
1880, Bell transmitiu a primeira mensagem telefônica usando o seu novo invento.
Segundo o site Wikipédia, “Bell patenteou o seu telefone nos Estados Unidos no
início de 1876”.
Nesta mesma época, Elisha Gray aplicou outra patente do mesmo gênero. Antonio
Meucci foi reconhecido, em 2002, como o inventor do telefone. Meucci demonstrou,
em 1849, em Havana, Cuba, a transmissão de voz pela corrente elétrica. Nathan
Stubblefield também foi intitulado o “Pai da Radiodifusão”. Ele disse ao repórter
Mensagem de St. Louis, em 1902, ser capaz de enviar mensagens simultâneas a
partir de uma estação central de distribuição sobre um território muito grande.
“Eventualmente, ele será usado para a transmissão de notícias gerais de todos os
tipos” (SCIENTIFIC AMERICAN, 1902, p. 363).
Em dezembro de 1947, os laboratórios Bell, com a ajuda de WR Young, articularam
um sistema de rádio real para a telefonia móvel celular em um memorando interno
da empresa. No final dos anos 1950, foram realizadas pesquisas e melhorias para o
celular, porém sem espectro suficiente para torná-lo economicamente viável. Sem
um sistema de alta capacidade, uma rede celular não poderia ser construída nos
Estados Unidos.
A inevitável movimentação dos usuários entre as células de uma mesma rádio-base
deveria ser gerenciada pelo sistema, conceito conhecido como handoff (ou
handover1). Quando havia troca de células em que outra rádio-base era envolvida, o
termo adotado era roaming2.
Em 1967, as empresas finlandesas Finnish Rubber Works e Cable Works fundaram
a Nokia. A Nokia expandiu a divisão de eletrônicos para incluir semicondutores e
pesquisa. Esses estudos ajudaram, no início dos anos 1970, a Nokia desenvolver
uma rede comutada digital para a telefonia fixa.
1 Handover: refere-se ao processo de transferência de uma chamada em curso ou sessão de dados
de um canal ligado ao núcleo de rede para outro.
2 Roaming: designa a capacidade de um usuário de uma rede para obter conectividade em áreas fora
da localidade geográfica onde está registrado, ou seja, obtendo conectividade através de outra rede
onde é visitante. A rede que está sendo visitada pode ou não pertencer à mesma operadora
25
Outro fator que ajudou os finlandeses foi o livre comércio de equipamentos de
telecomunicações. O desenvolvimento posterior do celular da Nokia foi bastante
reforçado pelo fundo de capital e as suas primeiras pesquisas. Em 1978, foi ativado
um sistema de testes a mercado em Chicago, objetivando demonstrar as reais
possibilidades do sistema AMPS3. O AMPS finalmente entrou em operação
comercial em 1983. O sistema AMPS teve o grande mérito de programar soluções
que consolidaram o padrão de telefonia móvel até hoje empregado.
Um passo intermediário foi a utilização dos chamados bag phones, que consistia em
uma bolsa ou pequena pasta, com um transceptor de potência média e uma bateria,
que era carregada por meio de um acendedor de cigarros do veículo, podendo ser
transportada.
Devido ao sucesso do sistema AMPS, mesmo sendo um serviço inicialmente caro, a
procura se tornou imensa. Mesmo a adoção das faixas de extensão mostrou que
também haveria uma saturação. Por outro lado, havia a questão dos serviços. O
sistema móvel celular foi inicialmente concebido com vistas ao serviço básico de
voz. Outros serviços poderiam ser acrescentados, não só com possibilidade de
demanda, como dados, fax e SMS, entre outros, como também como fonte de renda
adicional nos serviços. Isso exigiria mais recursos do sistema, praticamente
impossíveis de serem implantados como nas redes analógicas. Rapidamente,
concluiu-se que a saída estaria na digitalização das redes, inerentemente com mais
capacidade para agregar esses serviços suplementares.
Em 15 de agosto de 1996, a Nokia introduziu o Communicator, primeiro telefone
celular GSM4 com um computador portátil, teclado QWERTY5 e processamento de
texto e programas de calendário e agenda. Além de enviar e receber faxes, era
possível verificar e-mails e acessar a Internet, ainda de forma limitada, uma vez que
redes de telefonia celular foram desenhadas para voz, e não para dados.
Em meados dos anos 1990, no entanto, houve um grande progresso nas redes,
ajustando-as através da compactação da voz. O serviço de voz continuou a ser o
serviço essencial para a grande maioria dos telefones móveis, mas os serviços de
3 AMPS – Advanced Mobile Phone System: foi a primeira geração de sistemas celulares formada por
sistemas analógicos.
4 GSM: tecnologia móvel e padrão mais popular para telefones celulares do mundo.
5 QWERTY: layout de teclado atualmente mais utilizado em computadores e máquinas de escrever. O
nome vem das primeiras seis letras “QWERTY” da primeira linha do teclado.
26
dados passaram a entrar no mapa de prioridades, uma vez que novas
funcionalidades eram adicionadas aos equipamentos de recepção.
No início dos anos 1990, o mundo experimentou o primeiro grande salto da Internet,
com o advento dos browsers gráficos, como Mosaic6 e Netscape7. O crescimento da
base de usuário da Internet competia com o crescimento das redes de telefonia
celular, entre 1995 e 2000.
A rede móvel se aproximou da Internet funcionando com o mesmo princípio de
tecnologia, o IP8, uma técnica de comutação de pacotes que rapidamente foi
incorporada pelos operadores de rede celular. As redes sofreram atualizações,
overlays e as tecnologias evoluem para suportar os serviços de dados, iniciando,
assim, as gerações de serviços: 2,5G ou conhecido como GPRS9 às redes 3G ou
EDGE10, além da incorporação de redes de curto alcance sem fio, como Bluetooth11,
que empregam IP. No final dos anos 1990, o celular diminuiu e ficou mais leve.
Incorporou-se ao dispositivo: teclados mais completos, visores ainda pequenos.
Novos circuitos, como micro chips, foram incorporados, ampliando, assim, a
capacidade de processamento do celular, aproximando-os dos laptops e PDAs12.
A empresa canadense RIM apropriou-se do conceito de transmissão de
radiofrequência e criou o Blackberry13, obrigando-nos a repensar o conceito do
telefone celular. O equipamento agregou os serviços de mensageria instantânea, um
teclado acoplado permitindo a produção de conteúdo em qualquer lugar. A
fabricante provocou com isso a evolução dos aparelhos que passaram a fornecer
uma variedade de serviços, tais como toques, captura de imagens, mensagens de
texto, jogos e assim por diante.
6 Mosaic: conhecido por muitos como o primeiro Navegador www.
7 Netscape: empresa de serviços de computadores nos EUA, mais conhecida pelo seu navegador
web.
8 IP – Internet Protocol: de forma genérica, é uma identificação de um dispositivo (computador,
impressora etc.) em uma rede local ou pública. Cada computador na Internet possui um IP único, que
é o meio em que as máquinas usam para se comunicarem na Internet.
9 GPRS: General Packet Radio é uma tecnologia que aumenta as taxas de transferência de dados
nas redes GSM existentes
10 EDGE – Enhanced Data Rates for GSM Evolution: tecnologia digital para telefonia celular que
permite melhorar a transmissão de dados.
11 Bluetooth: provê uma maneira de conectar e trocar informações entre dispositivos como telefones
celulares, notebooks, computadores, impressoras, câmeras digitais e consoles de videogames
digitais através de uma frequência de rádio de curto alcance, globalmente licenciada e segura.
12 PDAS – Personal Digital Assistants: assistente pessoal digital
13 Blackberry: linha de smartphones e tablets criada pela empresa canadense BlackBerry, antiga RIM
– Research in Motion.
27
Figura 2. Evolução dos celulares
Fonte: Obra de arte do britânico Kyle Bean, que mistura matrioskas14
com a evolução dos
telefones celulares.
Para Lemos (2007), o que conhecemos como telefone celular é um dispositivo
híbrido, já que agrega função de telefone, computador, máquina fotográfica, câmera
de vídeo, processador de texto, GPS15, entre outras; móvel, isto é, portátil e
conectado em mobilidade funcionando por redes sem fio digitais, ou seja, de
conexão; e múltiplas redes, como Bluetooth e infravermelho, para conexões de curto
alcance, entre outros dispositivos.
Em 2007, a fabricante americana Apple16 desenvolveu o iPhone. Os custos
estimados do desenvolvimento da colaboração foram de 150.000 mil dólares ao
longo de um período de trinta meses. A Apple vendeu 6,1 milhões de unidades do
iPhone original ao longo de cinco trimestres. O projeto chama a atenção, pois
combina três dispositivos: celular, iPod widescreen17 e dispositivo de Internet. Com
um design inovador, possui uma interface multi-touch18, que permite fazer chamadas
com apenas um toque em um nome ou número da lista de contatos, e o correio de
voz visual permite que você selecione e escute as mensagens na ordem que
desejar, da mesma forma que o serviço de e-mail.
14 Matrioskas: tradicionais bonecas russas que se encaixam uma dentro da outra.
15 GPS – Global Positioning System: sistema de posicionamento global, usado para geo-localização.
16 APPLE: empresa multinacional norte-americana que tem o objetivo de projetar e comercializar
produtos eletrônicos de consumo, software de computador e computadores pessoais.
17 Widescreen: tela panorâmica.
18 Multi-touch: refere-se a uma superfície de detecção de toque – touchscreen. Possui a capacidade
de reconhecer a presença de dois ou mais pontos de contato com a superfície da tela.
28
Figura 3. Lançamento do iPhone, em 2007
Fonte: OBAOBA (2013).
A Apple vendeu 3,8 milhões de unidades do iPhone 3G no segundo trimestre de
2009, que terminou em março de 2009, e 12,6 milhões de iPhones 3G e 3GS,
totalizando 33,7 milhões de iPhones vendidos naquele ano. No segundo trimestre de
2012, esse número saltou para 959 milhões de aparelhos, chegando a 1,038 bilhão
no período de julho a setembro (DRSKA, 2012). O projeto do telefone é marcado
pela interação feita através de uma tela sensível ao toque, permitindo ao usuário
uma troca infinita de informações, sendo que estas possuem as mais variadas
extensões de arquivo.
O design é inovador, sem teclas – as tarefas são acionadas e
imagens são aumentadas ao simples toque dos dedos na tela. A
rigor, a Apple não inventou as novidades tecnológicas embargadas
no produto, mas fez-se revolução com a convergência de tudo que
estava perdido por aí. Assim como o iPod virou sinônimo de tocador
de música em formato MP319
, o iPhone é ícone de Internet móvel,
fenômeno de futuro que começa a ganhar vida agora (REVISTA
VEJA, 2008).
O grande feito de Steve Jobs não foi a invenção do aparelho celular, ou do tocador
de MP3, ou ainda do famoso tablet iPad. Analisando a história, e este é o motivo de
ter dedicado um capítulo inteiro sobre o desenvolvimento de celulares, o feito de
Jobs foi juntar as coisas: ele reuniu em um único equipamento diversas tecnologias
19 MP3 é um dos primeiros tipos de compressão de áudio, com perdas quase imperceptíveis ao
ouvido humano.
29
bem sucedidas, promovendo uma experiência diferenciada e exclusiva para o
usuário. Jobs era obcecado pelo controle do ambiente e por controlar as situações
adversas. Em sua bibliografia, por várias vezes este ponto fica claro. Não era uma
questão de inventar, e sim de melhorar o que já existia.
Em 2002, Jobs tinha se irritado com um engenheiro da Microsoft e
seu proselitismo sobre o software para um tablet que ele tinha
desenvolvido e que permitia aos usuários entrar com informações na
tela usando uma caneta stylus. Naquele ano, alguns fabricantes
lançaram tablets usando o software, mas nenhum deixou sua marca
no universo. Jobs estava a fim de mostrar como fazer a coisa direito
– nada de stylus! – mas quando ouviu a tecnologia multi-toque que a
Apple estava desenvolvendo, decidiu usá-la antes para produzir o
iPhone (ISAACSON, 2012, p. 508).
O telefone celular fortalece os laços sociais entre os familiares e amigos. Através do
celular, temos acesso imediato e permanente com amigos e familiares,
independentemente de onde eles estejam. Ficamos mais envolvidos com o celular
do que com as pessoas que estão ao nosso redor, no mesmo espaço que nos
estamos. Ling (2007) ponderou que, atualmente, quase todas as relações
interpessoais devem ser analisadas como processos híbridos de multimídia que
combinam relacionamentos pessoais (face-a-face), com chamadas de telefônicas,
SMS e MMS. Tomamos decisões usando mensagens instantâneas, streaming de
vídeo ou outras formas de comunicação, conforme a situação específica que
vivemos, buscando satisfazer a todos os nossos interlocutores. Estudos recentes
mostram que usuários de smartphones ficam tão viciados e tão conectados aos seus
dispositivos que agora ouvem “vibrações fantasmas”. Os resultados destes estudos
foram apresentados pela Divisão da Sociedade Britânica de Psicologia, na
Conferência Psicologia do Trabalho, em Chester20, no ano de 2012.
A liberdade que se ganha por poder contatar qualquer pessoa em
qualquer altura é contrariada, pelo menos parcialmente, pela
obrigação crescente de responder a chamadas recebidas e a manter-
se em contato com a família e os amigos que esperam ser
contatados (GESER, 2004, p. 16).
Ling (2007), em seu artigo “Mobile communication and mediated ritual”, defende que
os modelos teóricos de substituição da mídia também contradizem os “modelos
20 O estudo sobre as “vibrações fantasmas” pode ser visto em: <http://rockntech.com.br/usuarios-
compulsivos-de-smartphones-sentem-vibracoes-fantasmas-aponta-estudo/>.
30
aditivos”, que assumem que as novas mídias digitais contribuem para um aumento
linear na quantidade e diversidade de comunicação bilateral.
Porque escrever uma carta quando podemos enviar um e-mail ou simplesmente um
SMS? Por que investir tempo de viagem para compromissos quando até mesmo
problemas de alta complexidade podem ser discutidos ao telefone? Para Castells
(1999), o que distingue a configuração do novo paradigma tecnológico é a sua
capacidade de reconfiguração, um aspecto decisivo em uma sociedade
caracterizada por constante mudança e fluidez organizacional. “(...) Porém, a
flexibilidade tanto pode ser uma força libertadora como também uma tendência
repressiva, se os redefinidores das regras forem sempre os poderes constituídos”
(CASTELLS, 1999, p. 78). Tais considerações são adequadas quando a tarefa é
apenas corrigir um acordo ou para transmitir uma quantidade específica de
informação, como é o caso de muitos ajustes formalizados burocrática ou
profissionalmente. No caso das relações interpessoais, no entanto, o “modelo binário
– zeros e uns” de comunicação é falho, pois ignoram que todas as comunicações
em um nível podem gerar necessidades adicionais que reforçam o uso de outros
canais. Por exemplo, um simples SMS “reunião” pode muito bem dar origem a
longas conversas à noite, no telefone fixo, para discutir as novas perspectivas de
vida implícita por este evento.
Figura 4. A nova geração de usuários e seus celulares
Fonte: Banco de Imagens.
Rheingold (2003) sugere que os smart mobs emergem quando as tecnologias
de comunicação e computação ampliam os talentos humanos para a cooperação. As
tecnologias que estão começando a fazer smart mobs possíveis são dispositivas de
31
comunicação móveis e computação ubíqua – microprocessadores de baixo custo
embutido em objetos do cotidiano e ambiente. Este autor cita o caso das Filipinas,
em 1999, onde manifestantes de rua realizaram protestos contra a OMC
(Organização Mundial do Comércio), utilizando sites atualizados dinamicamente e
telefones celulares que derrubaram o presidente através de manifestações públicas
organizadas por meio de mensagens de texto salvas.
Figura 5. Manifestação nas Filipinas contra a OMC, em 1999
Fonte: BOL Fotos (2013).
As pessoas cooperam de maneira nunca antes possível, porque carregam
dispositivos que possuem as duas capacidades: de comunicação e computação. O
que podemos observar é que os cartéis de mídia e as agências governamentais
estão buscando voltar a impor o regime da época de difusão em que os usuários da
tecnologia serão privados do poder de criar, ficando apenas com o poder de
consumir.
Presenciamos, recentemente, esta situação, quando o governo americano tentou
impingir regras sobre a pirataria e a propriedade intelectual. Imediatamente, sites
como a enciclopédia eletrônica Wikipédia tirou do ar sua versão em inglês por 24
horas, deixando na página inicial os dizeres: “Imagine um mundo sem
conhecimento”. O Google não saiu do ar, mas inicialmente colocou uma tarja preta
na homepage de seu site americano; depois, postou, abaixo da linha de busca, o link
“Diga ao Congresso: por favor, não censure a Internet!”. Fica, então, um
questionamento: será que os consumidores serão impedidos de inovação e
trancados em modelos de tecnologia e de negócios dos interesses mais poderosos?
32
Figura 6. Wikipédia tirou do ar sua versão em inglês por 24 horas, deixando na página
inicial os dizeres “Imagine um mundo sem conhecimento”
Fonte: IstoÉ Dinheiro (2012).
Os jovens fazem uma apropriação muito própria da tecnologia da comunicação
móvel com os usos e símbolos específicos, dando azo à “emergência de uma
identidade coletiva”. Um segundo aspecto realçado por Castells (2007), é o reforço
da autonomia, nomeadamente de movimentos, que o celular traz aos jovens. Ao
mesmo tempo em que permite uma maior vigilância dos pais sobre os filhos, estes
conquistam tempos e espaços que lhes eram interditos antes do celular. A
segurança e, não menos importante, o sentimento de segurança que o aparelho
confere a pais e filhos, é uma moeda de duas faces, tendo de um lado uma maior
vigilância paterna e do outro lado uma maior liberdade de movimentos por parte dos
jovens. De todas as maneiras, o celular abre novas possibilidades aos jovens e
emancipa-os da proximidade e do confinamento do espaço familiar e respectivas
regras.
De acordo com a pesquisa divulgada pelo Google, em maio de 2012, os
smartphones se tornaram indispensáveis para nosso cotidiano.
 A difusão dos smartphones atinge 14% da população, sendo que os seus
proprietários dependem cada vez mais de seus dispositivos, 73% acessam a
Internet todos os dias no próprio smartphone e muitos nunca saem de casa sem ele.
33
 Os usuários de smartphones estão usando suas mídias para a realização de
várias tarefas, e 88% usam o telefone durante outras atividades, como assistir TV
(46%).
Figura 7. Uso de smartphones em conjunto com outras atividades
Fonte: IPSOS OTC Media Ct – Estudo encomendado pelo Google, em maio de 2012 –
intitulado Our Mobile Planet Brazil ptbr.
O número de telefones celulares no Brasil atingiu o patamar de 261.775.433 no final
de 2012, o que representa 132,69 cel.100 hab., de acordo com a Agência Nacional
de Telecomunicações – ANATEL.
O infográfico a seguir, elaborado pela empresa HTC, mostra a evolução dos
smartphones e que já não há mais distinção entre o offline e o online. Atualmente,
hoje nós somos online, conectados o tempo todo e em todos os lugares possíveis.
De acordo com a revista Forbes, em uma escala global, os smartphones serão a
porta de entrada na Internet para a maioria das pessoas já nos próximos anos. No
Brasil, fechamos o ano de 2012 com mais de 250 milhões de celulares e com uma
previsão de 36 bilhões de aplicativos baixados em 2013, no mundo.
A seguir, serão apresentados os infográficos da HTC sobre a evolução dos
smartphones.
34
Figura 8a
Figura 8b Figura 8c
Figura 8d Figura 8e
Figura 8f Figura 8g
35
Figura 8h Figura 8i
Figura 8j Figura 8k
Figura 8l Figura 8m
Figuras 8a-m. Infográficos sobre a evolução dos smartphones
Fonte: PhoneArena.com (2012).
A popularização dos meios de comunicação móvel, em especial dos smartphones e
tablets, trás consigo um novo fenômeno: a sua utilização simultânea com outros
meios de comunicação tradicionais com a TV, o Cinema e o rádio. Este novo modo
de se conectar ficou conhecido como “segunda tela”.
A tecnologia abandonou os laboratórios e invadiu o mundo, em um curto espaço de
tempo. As máquinas invadiram o nosso cotidiano e, rapidamente, transformamos a
nossa maneira de consumir os meios e as mensagens. Para Scolari (2013), estamos
atravessando um momento de transição, uma passagem do que antes era novo e,
portanto, visível para todos na década de 1980-1990, para uma época onde a
tecnologia e as máquinas tornam-se invisíveis, passando a serem simplesmente
chamadas de digitais.
36
1.3 ENTENDENDO A SEGUNDA TELA
Hayes (2012) menciona em seu blog que, atualmente, três quartos dos
telespectadores estão consumindo a segunda tela simultaneamente, ou seja,
assistem TV e interagem com o seu tablet em tempo real. É possível transformar
este comportamento da segunda tela paralela em uma oportunidade.
Figura 9. Gary Hayes – Entendendo o comportamento da segunda tela
Fonte: Understanding Cross platform Consumer Behavior. Google Research (2012).
O comportamento do telespectador ao utilizar a segunda tela tem chamado a
atenção dos Institutos de Pesquisa como, por exemplo, o Instituto Nielsen, que
publicou, no início de 2013, a seguinte análise do mercado brasileiro:
 74% dos usuários conectados em 56 países assistem vídeos em PCs, tablets e
celulares;
 80% dizem que o consumo de vídeos na televisão e nos Gadgets acontece com a
mesma frequência;
 200 milhões de TVs com acesso à Internet estão em uso no mundo. Em 2017,
serão 600 milhões, estima a consultoria inglesa Digital TV;
 43% dos brasileiros conectados navegam na web enquanto assistem TV. Desses,
70% buscam mais informações sobre o que estão vendo, diz o Ibope (2012).
37
De acordo com o Portal Info (2013), este tipo de relação intensa entre a Internet e o
EUI deverá modificar o modelo de negócios das TVs. De fato, dos serviços de
streaming do mundo, segundo a empresa especializada em redes Sandvine, 60%
dos bites enviados e recebidos nos Estados Unidos no horário nobre são de
entretenimento em tempo real, com o consumo de filmes e música. Só o Netflix
responde por 33% do tráfego de música e vídeo, seguido pelo YouTube, com quase
15%, afirma a empresa.
Com base nestas informações, a empresa Netflix21, desenvolveu um sistema que
analisa o comportamento do usuário e, a partir dos hábitos de consumo, realiza
sugestões sobre a programação. Joris Evers, atual diretor de Comunicação da
Netflix, afirma: “Sabemos quando as pessoas assistem só metade de um episódio
ou quando gostam tanto que emendam sequências sem parar. Esse é o tipo de
informação que a transmissão tradicional não dá às emissoras de TV”.
O Ibope, que faz as medições brasileiras, deverá lançar nos próximos meses uma
ferramenta para medir um mesmo conteúdo em diferentes horários e plataformas.
Atualmente, já existem empresas, como a Bluefin Labs, que se especializaram na
análise dos hábitos de consumo e comentários realizados nas redes sociais.
Destaco o comentário do artigo do Portal Info (2013): “(...) se os usuários utilizam
várias plataformas simultaneamente, a solução é marcar presença nelas. Uma das
formas de fazer isso é com a narrativa transmídia”. Possivelmente, este é um dos
fatores para que as narrativas transmídia ganhassem forças nos últimos tempos.
Apenas para mencionar, o potencial de mercado da segunda tela é enorme.
Diversos aplicativos para as plataformas móveis, incluindo tablets e smartphones,
foram criados a exemplo do Shazam, exibindo páginas com conteúdo extra, perfil
dos atores nas redes e notícias relacionadas aos programas. Famoso por identificar
músicas, o Shazam passou a investir em TVs, que possuem mais de 250 milhões de
usuários, dos quais 10 milhões no Brasil.
Outro aplicativo popular é o Zeebox, que funciona como um guia de programação
baseado no que os amigos assistem ou comentam.
21 A Netflix é uma empresa norte-americana que distribui filmes pela plataforma digital através de
consoles de games, aplicativos para tablets e smartphones.
38
A empresa GetGlue desenvolveu uma espécie de Foursquare dos seriados,
realizando parceria com vários canais para permitir que usuários façam check-in e
mostrem o que estão assistindo.
Em função do meu contato estreito com fabricantes de equipamentos aqui no Brasil,
ficou notória a mudança de paradigma. Os fabricantes de TVs deixaram de se
preocupar somente com a qualidade da imagem e passaram a se preocupar
também com o conteúdo a ser disponibilizado para os EUI. A própria Microsoft
entrou no jogo do conteúdo através do console de jogos – o Kinect22, permitindo que
o usuário possa controlar o enredo do episodio de TV dentro do aplicativo. O teste
foi feito com um aplicativo do programa Vila Sésamo, o qual permite que crianças
interajam com os personagens.
A TV que conhecemos hoje está sofrendo uma grande transformação e num futuro
próximo deverá se tornar um equipamento híbrido: a chamada TV interativa e sem
grade fixa de programação, em que tablets e smartphones complementam os
programas com extras atraentes.
Gráfico 1. Utilização de tablets em conjunto com a TV
Fonte: Institute Forrester – The Tablet TV Connection (2012).
22 Kinect é um sensor de movimentos capaz de permitir aos jogadores interagir com os jogos
eletrônicos sem a necessidade de ter em mãos um controle/joystick.
39
Segundo o portal IDG, no Brasil, 70% do público que faz uso simultâneo de Internet
e TV navegam na Internet, influenciados pela TV, enquanto 80% assistem na TV
conteúdos que descobriram ou foram comentados na Internet. Existe uma relação
muito forte entre esses dois mundos e as pesquisas comprovam que a segunda tela
influencia o telespectador a assistir mais TV ao vivo. Transcrevo, a seguir, as
principais conclusões da pesquisa realizada pelo Instituto Forrester (2012), sobre o
uso da segunda tela nos Estados Unidos:
 85% dos donos de tablets americanos usam seus equipamentos enquanto
assistem TV, e de acordo com o Nielsen (2013), 30% do tempo total dos tablets foi
utilizado enquanto os usuários assistiam TV. A natureza complementar do tablet
para a TV da sala dá uma razão de ser a “segunda tela”;
 18% dos americanos entrevistados dizem que conectam seus tablets em suas
TVs através de cabos via HDMI ou VGA (os iPads de segunda e terceira geração
podem fazer isso, bem como muitos tablets Android). Na realidade, os consumidores
com tablets acreditam que os equipamentos são ainda mais inteligentes, e pelo
menos uma parte do tempo preferem assistir o conteúdo através de seu dispositivo
pequeno projetado na tela grande, conforme cita o estudo.
Conclusão: os consumidores estão usando tablets como TVs pessoais, com a
vantagem de levá-los a qualquer parte: a cozinha, banheiro e aeroportos, por
exemplo. O estudo da segunda tela merece destaque e ser alvo de um novo estudo
detalhado.
1.4 CONVERGÊNCIA TECNOLÓGICA E AS NOVAS GERAÇÕES
A questão da convergência deve ser refletida, uma vez que a televisão está
deixando de ser o meio central para fazer parte de um sistema integrado, como
comentei no capítulo anterior. Alguns produtores, atualmente, consideram esse
trânsito essencial, criando conteúdos destinados para a televisão, mas que possuem
complementos voltados para a Internet, games etc. A multiplicidade na forma de
acesso ao conteúdo acaba envolvendo o usuário e apresentando resultados efetivos
40
de consumo. Tanto os produtores, quanto os publicitários, tendem a investir no
formato convergente.
Mas por que a Internet é tão relevante? É necessário fazer uma análise
fundamental: afinal o que está acontecendo? O mundo contemporâneo sofreu
transformações drásticas nos últimos anos. Estamos observando que alguns valores
mudaram e velhos processos estão sendo retomados. Boa parte do que vivemos
hoje na sociedade atual, já havia sido comentado ou estudado por alguns
estudiosos/filósofos, nas décadas passadas. Aqui, me refiro às particularidades do
mundo contemporâneo comparado ao chamado século passado. Pode parecer
estranho, mas quando me refiro ao século passado, estou me remetendo há 40
anos. Lembre-se que naquela época as interações midiáticas e sociais eram
completamente diferentes. O fenômeno das redes sociais, apesar de previsto e de
certa forma premunidos, ainda não existiam de fato. Estas particularidades podem
ser observadas quando resgatamos os ensinamentos de McLuhan (1964), no que se
refere ao meio e a mensagem e mesmo a “Aldeia Global”, já discutido no capítulo
anterior, no que tange ao nosso comportamento quando postamos um vídeo no
YouTube, ou ainda, escrevemos no Twitter. Modificamos drasticamente a forma do
conteúdo e a nossa própria forma de contar a história, portanto, é fundamental dizer
que sim, o meio modifica a mensagem. É verdade que quando McLuhan (1964)
comentou sobre o meio e a mensagem referia-se ao advento da TV.
O psicólogo Lev Vygotsky (1987) converge para o tema da criação da cultura, onde
propôs modificar a própria estrutura da educação clássica, partindo do princípio que
as crianças deveriam aprender a partir de suas relações sociais e de suas
experiências, e assim explorar o mundo fascinante das oportunidades do
aprendizado. Esta teoria ficou conhecida como socioconstrutivismo. Quando
recorremos ao Google para pesquisar, ou ainda ao YouTube, consumimos
conteúdos que se baseiam nas nossas experiências e interesses sociais. O mesmo
fenômeno ocorre quando vamos procurar narrativas ou, ainda, pesquisar sobre
determinados personagens.
Castells (1999) cita que “culturas são formadas por processos de comunicação e
todas as formas de comunicação são baseadas na produção e consumo de sinais”,
não havendo, portanto, separação entre “realidade” e representação simbólica.
41
Jenkins (2009) possui relevância no contexto deste trabalho, por agrupar alguns
conceitos importantes da comunicação e da convergência, principalmente no que diz
respeito ao desenvolvimento de tecnologias, como a Internet. Ao invés da
substituição de um meio por outro, o autor registra que as mídias convergirão,
completando-se com dados adicionais, ampliando o fluxo e a troca de informações
entre os usuários. Em alguns casos, a convergência poderá ocorrer através de um
único aparelho, facilitando as atividades cotidianas e promovendo formas inovadoras
de consumo, tanto de produtos, quanto de conteúdos. O que chama a atenção é que
muito se fala na popular falácia da caixa preta. Ao analisarmos a obra de Jenkins
(2009), notamos que o autor se apropria de um conceito que, posteriormente, ele
mesmo discute, pois o equipamento (hardware) não é convergente, mas sim o
conteúdo.
As diversas formas de comunidades virtuais, a estratégia P2P (Person to Person),
as comunidades móveis, a explosão dos blogs e wikis, a recente febre do Orkut e do
Facebook, são prova de que o ciberespaço constitui um fator crucial no incremento
do capital social e cultural disponíveis. Esta compreensão, na verdade, vem se
consolidando gradativamente, desde o início da década de 1990. Rheingold (1996,
p. 142) já percebia, naquele momento, que as comunidades virtuais não eram
apenas lugares onde as pessoas se encontravam, mas também um meio para se
atingir diversos fins, e antecipou que “as mentes coletivas populares e seu impacto
no mundo material podem tornar-se uma das questões tecnológicas mais
surpreendentes da próxima década”.
A fronteira entre o real e o virtual é cada vez mais irrelevante. O conceito da
comunicação está se modificando: para “falar” com alguém, não é necessário estar
na frente dele. Você pode falar pelo Facebook, por SMS, usando o telefone, o
Skype. Os nativos digitais, ou seja, a geração net se comunica assim. Isso não
significa que as relações sociais não são importantes, conforme abordaremos no
próximo capítulo, onde postulo os pensamentos de Tapscott (2010).
Rheingold (1996), não só constatou a emergência das comunidades virtuais, como
viu nelas uma relação mais profunda, motivada pela questão do excesso de
informação que já caracterizava a jovem web. Este autor já detectava a existência
de “contratos sociais entre grupos humanos – imensamente mais sofisticados,
embora informais – que nos permitem agir como agentes inteligentes uns para os
42
outros”. O autor lembra que as comunidades virtuais abrigam um grande número de
profissionais que lidam diretamente com o conhecimento, o que faz delas um
instrumento prático potencial. As comunidades virtuais funcionam como verdadeiros
filtros humanos inteligentes. Atualmente, são várias as análises de redes sociais que
se valem da Internet para realizar mapeamentos e pesquisas.
Lévy (2002) defende a participação em comunidades virtuais como um estímulo à
formação de inteligências coletivas, onde os indivíduos podem recorrer para trocar
informações e conhecimentos. O autor argumenta que o papel das comunidades
poderia funcionar como filtros inteligentes que nos ajudam a lidar com o excesso de
informação.
Uma rede de pessoas interessadas pelos mesmos temas é não só
mais eficiente do que qualquer mecanismo de busca (...) mas,
sobretudo, do que a intermediação cultural tradicional, que sempre
filtra demais, sem conhecer no detalhe as situações e necessidades
de cada um (LÉVY, 2002, p.101).
Lévy (2002), está profundamente convencido de que uma comunidade virtual,
quando convenientemente organizada, representa uma importante riqueza em
termos de conhecimento distribuído, de capacidade de ação e de potência
cooperativa. O ciberespaço pode ser compreendido como uma dimensão da
sociedade em rede, onde os fluxos definem novas formas de relações sociais.
A Internet é muito mais que uma tecnologia. É um meio de
comunicação, de interação e de organização social. A Internet
passou a ser tratada como espinha dorsal da comunicação global
mediada por computadores nos anos 90 (CASTELLS, 1999, p. 490).
A tecnologia digital permitiu a compactação de todos os tipos de mensagens,
inclusive sons e imagens, formou-se uma rede capaz de comunicar todos os
símbolos, sem o uso de centros de controle. Hoje, existem milhares e milhares de
micro redes no mundo, abrangendo todo o espectro da comunicação humana, de
política e religião, a sexo e pesquisa. Na década de 90, as empresas perceberam o
extraordinário potencial da web e, em pouco tempo, o www (world wide web) tomou
a forma de uma rede flexível, formada por redes onde instituições, empresas,
associações e pessoas físicas criam seus próprios sites, blogs e redes sociais. Este
fenômeno é conhecido, hoje, como Web 2.0.
43
Atualmente, é comum encontrarmos relatos sobre crianças com seis anos
programando TVs, consoles de games, vídeos e decodificadores, após algumas
tentativas frustradas dos pais. As novas gerações são a autoridade neste quesito,
pois dominam os novos meios tecnológicos, enquanto os adultos tentam não ser
ultrapassados por eles. Em países como os Estados Unidos da América, o Japão, a
Suécia e a Finlândia, a geração nascida a partir de 1979 cresceu em um ambiente
em que a mídia digital é parte integrante de suas vidas. Para esta geração, é algo
tão natural como a própria vida: eles brincam, aprendem, se comunicam, trabalham
e se entretêm consumindo as mídias digitais, fortemente calcadas pela Internet.
Tapscott (1997), em seu livro Growing Up Digital, os apelidou de “geração net”.
Segundo este autor:
(...) a nova geração tem um ponto forte que a outra jamais teve –
esta nasceu e cresceu no meio da emergência de um meio de
comunicação tão revolucionário como não havia memória desde a
invenção da imprensa escrita. Enquanto as novas gerações,
particularmente as crianças, assimilam e incorporam rapidamente os
novos meios de comunicação, os adultos simplesmente se
acomodam, exigindo deles um esforço de adaptação. Esta
convivência íntima com as tecnologias confere a esta nova geração
características culturais diferenciadas de outrora (TAPSCOTT, 1997,
p. 91).
Quando Tapscott (1997) escreveu este livro, não existiam ferramentas sofisticadas
como o Google, o Facebook ou mesmo o Twitter, mas já existia uma primeira versão
da Internet, ainda muito incipiente Ele observou o comportamento dos jovens em
relação às novas tecnologias e como eles já, naquela época, se sentiam
confortáveis para criar novos conteúdos, participaram de maneira interativa,
deixando de ter atitudes passivas em relação ao meio. Uma década depois,
continuamos a viver em um ambiente onde, graças à banda larga, os jovens
conseguem consumir, simultaneamente, vários meios, focando sua atenção naquilo
que lhe parece interessante, naquele momento. Através de seus smartphones, eles
compartilham fotos em redes sociais, enquanto assistem TV e ouvem música.
Temos, portanto, um novo comportamento no público jovem: eles navegam de tela
em tela, várias vezes, em uma única hora. Esta informação passa a ser importante
do ponto de vista do produtor de conteúdos, pois existe uma necessidade latente de
se criar histórias para diferentes mídias e, assim, manter o interesse da audiência
que a todo o momento se dispersa. Através do computador, dos smartphones e até
44
mesmo dos tablets, as novas gerações jogam, descobrem e criam comunidades
virtuais – grupos de jovens de todo o mundo estão ligados entre si não por uma
relação de proximidade geográfica, mas por uma afinidade de interesses.
Para o educador Paulo Freire (1996, p. 34), “o exercício da curiosidade convoca a
imaginação, a intuição, as emoções, a capacidade de conjecturar, de comparar, na
busca da perfelização do objeto ou do achado de sua razão de ser”.
De acordo com Tapscott (1997), a “geração net” mostra os seus trabalhos a uma
ampla audiência, e dada a natureza do meio onde está exposta, o seu trabalho, a
sua vida e as suas “vidas online” estão abertas à critica. Na Internet, a expressão
pessoal passa a ser uma prioridade. Neste contexto, destaco o uso do Facebook no
Brasil, que fechou o ano de 2012 com 65 milhões de seguidores, tornando o país a
segunda maior comunidade ativa da empresa.
Figura 10. Número de usuários do Facebook no Brasil
Fonte: SocialBakers (2012).
No gráfico a seguir, demostrarei a taxa de crescimento da rede Facebook no último
ano, em relação a outros países.
45
Gráfico 2. Taxa de crescimento de usuários do Facebook, em 2012
Fonte: SocialBakers (2012).
De acordo com Tapscott (1997), a “geração net” encoraja a passar-se de uma
orientação local ou nacional, para global. Os laços afetivos dos membros desta
geração não excluem as comunidades físicas. A “geração net” acredita na tolerância
pela diversidade, beneficiando a sua afirmação individual. A Internet lhes deu a
liberdade de escolher o que comprar, onde trabalhar ou conversar com amigos, e
até mesmo quem eles querem ser. Políticos, como Barack Obama, têm se
aproveitado disso fazendo uma linha icônica de Obama. “Sim, nós podemos”, que
gerou um vídeo de música, conforme mostra a Figura 11, além de várias paródias
positivas que se tornaram virais. Essas três palavras: “Sim, nós podemos”, mostram
a crença da geração net, que pode fazer qualquer coisa, que ninguém pode dizer
não. “Sim, nós podemos” foi perfeitamente sintonizado com esta geração, assim
como o símbolo da paz foi para a minha geração. Eles estão em uma busca de
liberdade, criando expectativas que podem surpreender e enfurecer os mais velhos.
46
Figura 11. Eleições presidenciais dos EUA
Fonte: Youtube (2013).
Tapscott (1997) aponta que a “geração net” é a nova controlada de informação.
Dado o grande número de informações na Web, para não mencionar informações
confiáveis de spam, phishing23, imprecisões, fraudes, golpes, estes jovens têm a
capacidade de distinguir entre fato e ficção. Eles parecem ter alto nível de
conhecimento sobre o mundo à sua volta e querem saber mais sobre o que está
acontecendo. Eles usam as tecnologias digitais para descobrir o que está realmente
acontecendo. Imagine o que aconteceria nos dias atuais, se Orson Welles narrasse
a versão de rádio de Guerra dos Mundos, como o fez em 1938, quando causou o
pânico generalizado em muitos ouvintes: “acredita que os marcianos de fato,
desembarcaram”. Em um par de cliques, a nova geração iria descobrir que era pura
ficção. É uma questão de afirmação da maturidade. A “geração net” quer ser
reconhecida como mais madura. Existe um forte sentimento de independência e
autonomia, o que resulta em um papel ativo que os seus membros desempenham
enquanto investigadores de informação e não meros receptores passivos.
O uso das mídias digitais permite a esta geração falar para os adultos de igual para
igual. “Quando estou a utilizar o computador, ninguém sabe se sou ou não adulta. A
partir da primeira impressão, já posso dizer-lhes que tenho 14 anos. Assim sou
muito mais respeitada”, afirma Eric Mandela, uma das adolescentes consultadas por
23 Em computação, phishing, termo oriundo do inglês fishing, quer dizer pesca, é uma forma de fraude
eletrônica, caracterizada por tentativas de adquirir dados pessoais de diversos tipos: senhas, dados
financeiros como número de cartões de crédito e outros dados pessoais.
47
Tapscott (1997). Se observarmos as estatísticas demográficas do Facebook, no
Brasil, verifica-se que esta informação se confirma, pois o maior grupo de idade é,
atualmente, de 18 a 24 anos, com um total de 20.963.140 usuários, seguido pelos
usuários na faixa etária de 25-34.
Gráfico 3. Distribuição de idades dos usuários do Facebook
Fonte: Socialbakers (2012)
É interessante observar que as crianças com idade menor que 13 anos, por política
da empresa, não podem ter perfil aberto, mas na prática, esta informação não é
verdadeira. As novas gerações modificam os seus perfis para estar na rede social e
podem interagir entre si. Existem algumas páginas de conteúdo exclusivamente
infantis como, por exemplo, os fã-clubes de desenhos animados, como o Club Winx,
Carrossel, Monsterhigh, entre outros.
Figura 12. Página do Club Winx
Fonte: Facebook-Brasil.
48
Figura 13. Página do Programa Infantil Carrossel – SBT
Fonte: Facebook-Brasil.
Figura 14. Página do Monsterhigh
Fonte: Facebook-Brasil.
A cultura da “geração net” caracteriza-se por um forte espírito de curiosidade, de
investigação e de poder de alterar coisas. Para esta geração, não é suficiente ser
capaz de utilizar os links, os jovens querem ser capazes de criar seus próprios links
e seu próprio conteúdo, de acordo com as suas convicções. A Internet deu à
“geração net” muitas oportunidades para se divertir online. Para esta geração, a
Web é a ferramenta divertida de escolhas. Nela, é possível se atualizar sobre
notícias, fazer buscas no Google, verificar e-mails e mensagens instantâneas nas
redes sociais.
49
Há entretenimento de todo o mundo a partir de sites, conversando
com amigos na rede e com jogos online. Há nicho de entretenimento
que atende aos seus interesses, como HollywoodStockExchange.
com para os cinéfilos, ou StyleDiary.net para os fashionistas. Muitos
jovens da “geração net” maximizam suas interações envolvendo-se
em vários netivities simultaneamente, como conversar com amigos
no MSN enquanto sua música toca e navegar na Internet. O canal
YouTube aumenta o nível de entretenimento interativo. Os usuários
carregam centenas de milhares de vídeos diários, trechos de
programas de televisão que eles gostam ou conteúdos que eles
criaram e convidam outros usuários a votar e comentar sobre as
submissões (TAPSCOTT,1997, p. 99).
Alguns dos pontos abordados por Tapscott (1997) merecem atenção dos produtores
de conteúdos e da sociedade civil como um todo. A “geração net” mudou este jogo.
Eles não vão aceitar uma abordagem só de ida, ou seja, passivamente, pois eles
foram imersos num mundo em que a comunicação de duas vias existe desde a
infância. Esta geração é imune à publicidade ou aos conteúdos enlatados. Eles
desejam participar e criar outras versões das histórias. “Eles somente darão atenção
ao que acrescentar algum tipo de valor”, afirma Rheingold (1996, p. 6).
Castells (1999), enfatizou o papel dos movimentos sociais na transformação da
paisagem urbana com a introdução do conceito de “Consumo Coletivo” e o
abandono das estruturas marxistas que sustentava, tentando justificar o papel das
novas tecnologias de informação e comunicação em meio à reestruturação
econômica. O autor utiliza as teorias de McLuhan (1964), que explicam o porquê da
grande aceitação da televisão como mídia de massa: “lei do mínimo esforço” e
“impacto social binário”. Todos precisam ter acesso à Internet para que uma
“sociedade em rede”, que inclui possibilidade de participação e interação
democrática entre governos e cidadãos, venha a concretizar as premissas da web.
Redes constituem a nova morfologia de nossa sociedade se a
difusão da lógica de redes modifica de forma substancial a operação
e os resultados dos processos produtivos e de experiência, poder e
cultura. Embora a forma de organização social em redes tenha
existido em outros tempos e espaços, o novo paradigma da
tecnologia da informação fornece a base material para sua expansão
penetrante em toda a estrutura social (CASTELLS, 1999, p. 497).
50
2 A ARTE DE CONTAR HISTÓRIA
O estudo da narrativa se perde no tempo da história. Aristóteles deixou um texto
principal, que continua a ser útil na compreensão de como construir uma história: a
poética. As histórias que se expressam em histórias orais, romances, histórias,
filmes, séries de TV, quadrinhos e até mesmo nos jogos de vídeo. Para o psicólogo
Bruner24 (1960), existem duas maneiras de dar sentido ao mundo que nos rodeia:
uma maneira lógica formal, baseada em argumentos, e outra narrativa, baseada nas
histórias. São duas formas diferentes de pensar e entender o que está acontecendo
ao nosso redor. Isso se elucida no livro de Scolari (2013), quando cita que Hélios, na
mitologia grega, era a personificação do Sol, um deus que cruzou o céu a cada dia
com sua carruagem de fogo; por outro lado, Copérnico comprometeu-se a encontrar
uma explicação lógica para o movimento da Terra em torno de sua estrela.
Para Scolari (2013), a narrativa transmídia é um fenômeno que cruza de um lado ao
outro da indústria cultural: ela interessa, ou deveria interessar, os jornalistas, os
publicitários e os cineastas. O autor defende que quando se refere às narrativas
transmídia, não está falando de uma adaptação de uma linguagem para outra (por
exemplo, do livro em um filme), mas sim de uma estratégia que vai muito além, e
que desenvolve um mundo narrativo que se estende por diferentes meios e
linguagens. Assim, a história se expande a partir de novos personagens ou
situações que cruzam as fronteiras do universo de ficção. Esta dispersão da
narrativa textual possui uma rede de personagens e situações que compõem um
mundo bastante complexo.
Nos últimos 50 anos, vivemos uma mudança importante de paradigma. Os meios de
comunicação tradicionais reproduziam conteúdos desenvolvidos por grandes
conglomerados de comunicação e os indivíduos os consumiam passivamente. No
ambiente digital, temos um novo cenário onde a nova geração está acostumada a
navegar pelas diversas tecnologias e a produzir e consumir seus próprios
conteúdos, que são produzidos a partir da colaboração de outros indivíduos e
compartilhados através das redes sociais. Ou seja, o formato narrativo vem sofrendo
24 No livro Actual Minds, Possible Words, Bruner (1960) desenvolve uma síntese da psicologia,
antropologia, sociologia e filosofia contemporâneas, abordando o papel da narrativa no processo de
aprendizagem e a relação entre o construtivismo cognitivo e a educação.
51
uma grande transformação, misturando-se a ficção com a realidade, criando
histórias intermediárias.
Em sua apresentação durante o EDTED (Encontro de Design e Tecnologia Digital),
de 2012, o Prof. Dr. Luli Radfarer comentou sobre a transmídia colaborativa, citando
como exemplo, o livro. O formato tradicional do livro vem sofrendo transformações,
as quais acabam modificando a forma de consumo do livro, o que não quer dizer,
necessariamente, que o livro irá desaparecer, mas que os novos formatos midiáticos
poderão modificar, sim, o formato que o conteúdo do livro é consumido, modelando
as narrativas. Em sua palestra, ele cita o caso de Harry Porter, que enquanto
narrativa terminou. Mas defende que o Universo Ficcional Hogwarts é perene e
deverá sobreviver por muito tempo, pois possibilita aos fãs se apropriarem da
riqueza de detalhes e criarem, a partir daí, novas histórias. Ele faz, ainda, um
paralelo com a Disney, referindo-se à Cidade de Patópolis, pois este universo
cognitivo faz toda a diferença na audiência, que se apropria dos detalhes da cidade
nos dias atuais.
2.1 SABEMOS CONTAR HISTÓRIAS?
Novamente, me submeto à experiência de fazer esta dissertação. No começo, me
pareceu simples tratar sobre o assunto, mas observando algumas situações
cotidianas, senti a necessidade de me amparar em algumas outras áreas de
conhecimento, como a Psicologia, a Pedagogia e a própria história das
comunicações. Uma das falas que ficaram registradas em minha trajetória
profissional foi a questão da relevância e da simplicidade. Contamos e
reproduzimos, à nossa maneira, aquilo que é relevante para a nossa vida.
Guardamos em nossas memórias os contos de fadas pela sua simplicidade
narrativa. No mundo das comunicações, a nossa maneira de contar as histórias
mudou. No início do cinema, as narrativas eram simples e tratavam do cotidiano. Ao
longo do tempo, passamos a sofisticar estas narrativas, adicionando efeitos
especiais e incorporando novas tecnologias. Hoje, é praticamente impossível pensar
no mundo sem a tal tecnologia. Conseguimos viver sem água um dia, quase não
52
sentimos o efeito de uma manutenção de emergência na rede de saneamento,
porém, não podemos pensar em ficar sem a conexão da Internet por cinco
segundos, sem esbravejar aos quatro cantos do mundo sobre as péssimas
condições da rede de comunicação. Fico pensando na época feudal, quando os
indivíduos tinham pouco acesso à informação e a vida era, essencialmente, baseada
na agricultura. É bem verdade que naquela época, o indivíduo tinha pouco poder em
suas mãos, afinal, o Estado supria tal necessidade.
Após a invenção da prensa de Gutemberg, o cenário mudou: os papéis foram
repensados na sociedade, colocando em cheque a própria existência do feudalismo.
Veio a Era Industrial e, com ela, as mudanças passaram a ser mais rápidas. Mas de
certa forma, o cotidiano mantinha um ar de simplicidade. As histórias dos indivíduos
continuavam a seguir uma narrativa relativamente simples. Sim, os livros eram mais
rebuscados e com termos mais complicados, a exemplo da narrativa organizada por
Antoine Galland, sobre as “Mil e uma noites de Xerazade”25. Pensando bem,
possivelmente se esta história fosse contada nos dias atuais, seria uma autêntica
narrativa transmídia.
Figura 15. Xerazade e as mil e uma noites
Fonte: Maranos Filosofia Portuguesa (2007).
O pesquisador Diólia de Carvalho Graziano desenvolveu um amplo estudo sobre o
antropólogo Villen Flusser (2007), Graziano ressalta que o mundo codificado é
aquele cujo significado geral da vida em si mudou sob o impacto da revolução na
comunicação. Onde quer que se descubram códigos, pode-se deduzir algo sobre a
humanidade. O mundo codificado que não significa mais processos, não conta
história e em que viver nele não significa agir criou uma crise de valores na medida
em que nós ainda continuamos sendo programados por textos.
25 Xerazade é a narradora dos contos das Mil e Uma Noites.
53
Segundo Graziano, as novas gerações já são programadas pelas imagens
eletrônicas que nos circundam. Portanto, existe ainda em nós uma ignorância
quanto aos novos códigos. Villen Flusser (2007, p. 137) defende:
(...) senão seremos condenados a prolongar uma existência sem
sentido em um mundo que se tornou codificado pela imaginação
tecnológica. A decadência e a queda do alfabeto significam o fim da
história, no sentido estrito da palavra.
Os estudos pedagógicos atuais propõem que as crianças, na condição de
protagonistas, modifiquem a história, dialoguem com outras histórias, incluindo
situações e vivências do cotidiano, tornando as narrativas relevantes e promovendo,
assim, o desenvolvimento do pensamento infantil. Contar histórias pressupõe certo
preparo cognitivo e habilidades de oralidade, além de sequência lógica, raciocínio
linguístico, habilidades interpessoais e intrapessoais. Desta forma, entendo que é
necessário mencionar a teoria de Gardner (1995) sobre as inteligências múltiplas,
pois cada uma destas inteligências está relacionada com a forma do indivíduo
perceber o mundo e se apropriar das histórias, criando um repertório rico a partir
destas inteligências e, assim, desenvolver novas narrativas. É importante ressaltar
que, para Gardner (1995), a inteligência é a capacidade de solucionar problemas ou
elaborar produtos que são importantes em um determinado ambiente ou
comunidade cultural. A capacidade de resolver problemas permite às pessoas
abordar situações, atingir objetivos e localizar caminhos adequados a esse objetivo.
A criação de um produto cultural torna-se crucial nessa função, na medida em que
captura e transmite o conhecimento ou expressa as opiniões ou sentimentos da
pessoa. Os problemas a serem resolvidos são os mais diversos, indo desde uma
teoria científica até uma composição poética ou musical.
A teoria de Gardner (1995) classifica as inteligências em sete tipos diferentes, a
saber:
Inteligência linguística: o indivíduo possui uma sensibilidade para os sons, ritmos e
significados das palavras, além de uma especial percepção das diferentes funções
da linguagem. Esta habilidade é usada para convencer, agradar, estimular ou
transmitir ideias. Gardner (1995) indica que é a habilidade exibida na sua maior
intensidade pelos poetas. Em crianças, esta habilidade se manifesta através da
54
capacidade para contar histórias originais ou para relatar, com precisão,
experiências vividas.
Neste ponto, faço a minha primeira consideração: as crianças de hoje estão sendo
incentivadas a relatar os fatos ou, ainda, a manifestar suas experiências? Acredito
que este papel pertence aos pais e à escola, que devem estimular a produção de
conteúdos, incentivando o hábito da leitura e da posterior discussão e entendimento
do que foi apresentado, de forma lúdica e divertida, se valendo inclusive de artefatos
tecnológicos para tal. De certa forma, faço um parêntese confortavelmente, pois
alguns escritores e estudiosos, observando o seu cotidiano familiar, colhem
informações e inspirações para os seus estudos. No final do ano passado, tive a
oportunidade de presenciar uma das cenas mais interessantes da minha vida: a
minha filha mais velha, com então nove anos, participou de um concurso na escola
para novos escritores. A ideia do concurso era promover a releitura de contos
clássicos e adaptá-los aos dias atuais pelos alunos. A minha filha, apaixonada pelo
conto da Rapunzel, realizou a atividade, colocando a Rapunzel como uma jogadora
habilidosa que havia sido trancada pela madrasta para ganhar um campeonato de
Nintendo DS26. Sim, ela foi uma das 25 crianças ganhadoras do concurso, como
melhor comédia. Um ponto merece destaque: ela também criou uma página no
Facebook para compartilhar as suas histórias com seus amigos.
Inteligência musical: é a habilidade para apreciar, compor ou reproduzir uma peça
musical. Inclui discriminação de sons, habilidade para perceber temas musicais,
sensibilidade para ritmos, texturas e timbre, e habilidade para produzir e/ou
reproduzir música. A criança pequena, com habilidade musical especial, percebe
desde cedo diferentes sons no seu ambiente e, frequentemente, canta para si
mesma. Esta habilidade é fundamental no aprendizado de outros idiomas.
Inteligência lógico-matemática: é a habilidade para explorar relações, categorias e
padrões, através da manipulação de objetos ou símbolos, e para experimentar de
forma controlada. É a habilidade para lidar com séries de raciocínios, para
reconhecer problemas e resolvê-los. A criança com aptidão nesta inteligência
demonstra facilidade para contar e fazer cálculos matemáticos e para criar notações
práticas de seu raciocínio. Para criar histórias, é necessário o encadeamento lógico
dos fatos e acontecimentos.
26 Nintendo DS: tipo de videogame portátil, desenvolvido pela Nintendo, em 2004.
55
Inteligência espacial: é a habilidade para manipular formas ou objetos
mentalmente e, a partir das percepções iniciais, criar tensão, equilíbrio e
composição, numa representação visual ou espacial. É a inteligência dos artistas
plásticos, dos engenheiros e dos arquitetos. Nas crianças, o potencial é percebido
através da habilidade para quebra-cabeças e outros jogos espaciais e a atenção a
detalhes visuais. Esta habilidade é fundamental para a criação de roteiros e
storyboards.
Inteligência cinestésica: é a habilidade para usar a coordenação grossa ou fina
para artes cênicas ou plásticas no controle dos movimentos do corpo e na
manipulação de objetos com destreza. A criança se move com graça e expressão, a
partir de estímulos musicais ou verbais, demonstrando uma grande habilidade
atlética ou uma coordenação fina apurada.
Inteligência interpessoal: esta inteligência pode ser descrita como uma habilidade
para entender e responder adequadamente a humores, motivações e desejos de
outras pessoas. Em sua forma mais primitiva, a inteligência interpessoal se
manifesta em crianças como a habilidade para distinguir pessoas, e na sua forma
mais avançada, como a habilidade para perceber intenções e desejos de outras
pessoas e para reagir apropriadamente a partir dessa percepção.
Inteligência intrapessoal: esta inteligência é o correlativo interno da inteligência
interpessoal, isto é, a habilidade para ter acesso aos próprios sentimentos, sonhos e
ideias, para discriminá-los e lançar mão deles na solução de problemas pessoais.
Esta inteligência é percebida através dos sistemas simbólicos das outras
inteligências, ou seja, através de manifestações linguísticas, musicais ou
cinestésicas.
Novamente, a percepção cognitiva surge como um aliado nas criações de novas
histórias. A juventude deve ampliar suas competências requeridas e não deixar de
lado as antigas habilidades para dar espaço para o novo. De acordo com Jenkins
(2009), para que as crianças consigam se envolver com a nova cultura participativa,
elas devem ser capazes de ler e escrever.
No processo de construção das narrativas, um indivíduo pode decidir se vai
empregar a inteligência linguística como escritor, advogado, vendedor, poeta ou
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Narrativas transmídia e novas gerações

  • 1. UNIVERSIDADE ANHEMBI MORUMBI MARIA VALERIA ESPINÓS GUERRA MARTINS NOVAS DEMANDAS AUDIOVISUAIS: a narrativa transmídia entre as novas gerações e as suas histórias SÃO PAULO 2012
  • 2.
  • 3. MARIA VALERIA ESPINÓS GUERRA MARTINS NOVAS DEMANDAS AUDIOVISUAIS: a narrativa transmídia entre as novas gerações e as suas histórias Dissertação de Mestrado apresentada à Banca Examinadora, para a obtenção do título de Mestre do Programa de Mestrado em Comunicação, área de concentração Processos Midiáticos na Cultura Audiovisual, Comunicação Contemporânea da Universidade Anhembi Morumbi, sob a orientação do Prof. Dr. Vicente Gosciola. SÃO PAULO 2012
  • 4. MARIA VALERIA ESPINÓS GUERRA MARTINS NOVAS DEMANDAS AUDIOVISUAIS: a narrativa transmídia entre as novas gerações e as suas histórias Dissertação de Mestrado apresentada à Banca Examinadora, para a obtenção do título de Mestre do Programa de Mestrado em Comunicação, área de concentração Processos Midiáticos na Cultura Audiovisual, Comunicação Contemporânea da Universidade Anhembi Morumbi, sob a orientação do Prof. Dr. Vicente Gosciola. Aprovado em _____/_____/_____ _________ Prof. Dr. Vicente Gosciola ___________ _________ Prof. Dra. Maria Ignês Carlos Magno _________ Prof. Dr. Hermes Renato Hildebrand
  • 5. Para meus amores João, Paloma e Isabela, pois sempre seguimos em frente, juntos descobrimos novas portas e um mundo maravilhoso, colorido e brilhante.
  • 6. AGRADECIMENTOS Existem pessoas especiais que contribuíram muito para que este trabalho pudesse ser realizado. Estas pessoas merecem uma homenagem mais do que justa, pois seu apoio incondicional, seus ensinamentos, sua simples presença colaboraram para que este projeto tomasse corpo. Portanto, agradeço a cada uma delas de forma individual. Primeiro, a minha família, que estava ao meu lado quando tudo parecia ser impossível. Vocês me deram forças para seguir adiante, me apoiando, ajudando e incentivando. Mãe, muito obrigada! Você cuidou de tudo para que eu pudesse me dedicar a ler e pesquisar. João, meu querido marido, amigo, pela ajuda incondicional, pela eterna paciência e, principalmente, por tudo o que vivemos. Minhas filhotas Paloma e Isabela, que souberam dividir o nosso tempo. Pai, com certeza, você teria se orgulhado dessa! Aos meus amigos tão especiais: Fátima Pissara, minha querida fada madrinha, que fez esforços incríveis e moveu o céu e a terra para que eu estivesse aqui. Walther Lang, Samantha Jones, Raquel Espigado, Darlaine Cavalcante e Marcelo Godoy, por seus eternos conselhos, por todas as risadas que demos e por todas as ajudas ao longo destes dois anos. Ao meu Professor Vicente Gosciola, querido mentor, orientador e amigo. Você me ensinou, guiou e orientou nesta trajetória. Nossas conversas estarão presentes na minha memória. A minha querida professora Maria Ignês Carlos Magno, que compartilhou comigo todos os minutos desta jornada. Sua forma simples de explicar o complicado tornou tudo mais fácil.
  • 7. RESUMO Esta dissertação observa a narrativa transmídia como algo não inteiramente novo. Inicialmente, a interação com o conteúdo era facilmente controlada pelas empresas, mas a web tornou visível a atividade cultural participativa, tornando-se um local de participação do espectador/usuário/interator. As diferentes tecnologias de comunicação (televisão, videogame etc.) possibilitaram diferentes níveis de interatividade. O processo de comunicação passou a ser personalizável conforme as necessidades dos indivíduos que a consomem diariamente através de um simples toque na tela de uma interface online: o celular que se transformou em um elemento de mídia. Para esta dissertação, a segunda tela é hoje uma realidade e está inserida também sob um aspecto social e interativo, a segmentação estratificada do consumo que está implícita nestas estratégias de marketing. A geração net vive e respira a tecnologia. Eles têm uma necessidade vital de participar e fazer parte do processo de comunicação na geração de novos conteúdos. Estes conteúdos são incorporados ao cotidiano e transformados em narrativas transmídia, podendo, assim, transformar o entretenimento e o audiovisual e criando mais engajamento que outros tipos de narrativas mais tradicionais. Sendo assim, esta dissertação se propõe a estudar estas situações e o quanto elas são relevantes para entendermos a nossa contemporaneidade. Acreditamos que ao final desta dissertação, tal estudo tenha reconstruído a nossa compreensão da narrativa transmídia – aqui entendida e decodificada por novos valores desenhados e integrados – como parte de um processo de renovação diária pelas novas tecnologias e novas demandas da sociedade. Palavras-chave: Mídias digitais. Plataformas móveis narrativas transmídia. Audiovisual. Engajamento. Nova geração.
  • 8. ABSTRACT This dissertation observes transmedia storytelling as something not entirely new. Initially the interaction with content was easily controlled by companies, but the web has brought visibility to participatory cultural activities, by becoming a place of participation of the spectator/user. The different communication technologies (television, video game, etc.) offer different levels of interactivity. The communication process is now customizable according to the needs of individuals who consume goods daily through a simple touch on the screen of an online interface: the phone that turned into a media instrument. For this dissertation, the second screen is now a reality and is also considered under a social and interactive aspect: the laminate consumption segmentation that is implied in these marketing strategies. The so called net generation lives and breathes technology. They have a vital need to be part of the communication process regarding the generation of new content, which is incorporated into daily routines and transformed into transmedia storytelling, thus changing entertainment and audiovisual and creating more engagement than other more traditional narratives. All aspects considered, this dissertation proposes the study of such situations and their relevance to our understanding of present times. We believe that by the end of this dissertation such study will have rebuilt our comprehension around transmedia storytelling, taken here as a result of newly redrawn and reintegrated values, and also as part of a daily renewal process propelled by new technologies and by new demands from society. Keywords: Digital media. Mobile platforms transmedia storytelling. Audiovisual. Engagement. New generation.
  • 9. LISTA DE FIGURAS Figura 1. Sistema de celular desenvolvido por Lamarr, em 1942.............................23 Figura 2. Evolução dos celulares..............................................................................27 Figura 3. Lançamento do iPhone, em 2007..............................................................28 Figura 4. A nova geração de usuários e seus celulares ...........................................30 Figura 5. Manifestação nas Filipinas contra a OMC, em 1999 .................................31 Figura 6. Wikipédia tirou do ar sua versão em inglês por 24 horas, deixando na página inicial os dizeres “Imagine um mundo sem conhecimento” ...........................32 Figura 7. Uso de smartphones em conjunto com outras atividades .........................33 Figuras 8a-m. Infográficos sobre a evolução dos smartphones...............................35 Figura 9. Gary Hayes – Entendendo o comportamento da segunda tela .................36 Figura 10. Número de usuários do Facebook no Brasil............................................44 Figura 11. Eleições presidenciais dos EUA..............................................................46 Figura 12. Página do Club Winx...............................................................................47 Figura 13. Página do Programa Infantil Carrossel – SBT.........................................48 Figura 14. Página do Monsterhigh............................................................................48 Figura 15. Xerazade e as mil e uma noites ..............................................................52 Figura 16. Personagens do seriado Hannah Montana .............................................58 Figura 17. Capas do Game Harry Porter..................................................................62 Figura 18. Modelo de Brooke Thompson, fornecendo uma comparação sobre cross-media e transmídia ..........................................................................................64 Figura 19. Cronologia da narrativa ...........................................................................65 Figura 20. Cronologia da narrativa do seriado The First ..........................................65 Figura 21. Evolução da narrativa..............................................................................66 Figura 22. Evolução da narrativa transmídia ............................................................70 Figura 23. Visão geral do projeto sob a ótica das especificações funcionais ...........73
  • 10. Figura 24. Timeline das experiências .......................................................................74 Figura 25. Exemplo de wireframe para site de projeto .............................................75 Figura 26. Time de projeto transmídia e suas interações ao longo do projeto .........76 Figura 27. Galinha Pintadinha – a) Teatro Turnê Oficial; b) Cena de DVD ..............78 Figura 28. Site do seriado Castle e livros publicados ...............................................81 Figura 29. Site da Comunidade de Fãs do Seriado Castle, no Brasil.......................82 Figura 30. Chamada de Castigo Final – série brasileira apresentada na operadora de celular Oi.............................................................................................83
  • 11. LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 1. Utilização de tablets em conjunto com a TV ............................................38 Gráfico 2. Taxa de crescimento de usuários do Facebook, em 2012.......................45 Gráfico 3. Distribuição de idades dos usuários do Facebook...................................47
  • 12. LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ANATEL – Agência Nacional de Telecomunicações do Brasil AMPS – Advanced Mobile Phone System CD – Compact Disc DVD – Digital Versatile Disc EDGE – Enhanced Data rates for GSM Evolution EUI – Espectador/Usuário/Interator GPRS – General Packet Radio Services GPS – Global Positioning System GSM – Global System for Mobile Communications IP – Internet Protocol OMC – Organização Mundial do Comércio PDA – Personal Digital Assistant P2P – Person To Person QWERTY – Layout de teclado atualmente mais utilizado em computadores e máquinas de escrever RIM – Research In Motion – empresa canadense que criou o Blackberry SMS – Short Message Service WI-LAN – Wireless Local Area Network
  • 13. SUMÁRIO INTRODUÇÃO..........................................................................................................12 1 DEFINIÇÕES FUNDAMENTAIS............................................................................16 1.1 O MEIO E A MENSAGEM...............................................................................17 1.2 A EVOLUÇÃO E A IMPORTÂNCIA DOS CELULARES .................................22 1.3 ENTENDENDO A SEGUNDA TELA ...............................................................36 1.4 CONVERGÊNCIA TECNOLÓGICA E AS NOVAS GERAÇÕES ....................39 2 A ARTE DE CONTAR HISTÓRIA..........................................................................50 2.1 SABEMOS CONTAR HISTÓRIAS? ................................................................51 2.2 A CONSTRUÇÃO DO IMAGINÁRIO, DA SUBJETIVIDADE E DA IDENTIDADE..................................................................................................56 3 PROCESSO DE TRANSMIDIAÇÃO......................................................................61 3.1 CULTURA PARTICIPATIVA ...........................................................................69 3.2 O CONCEITO DE BÍBLIA TRANSMÍDIA ........................................................73 3.3 ENGAJAMENTO DO PÚBLICO-JOVEM ........................................................76 3.4 PRODUÇÕES TRANSMIDIÁTICAS BEM SUCEDIDAS.................................79 CONCLUSÃO ...........................................................................................................84 REFERÊNCIAS BIBIOGRÁFICAS ...........................................................................89
  • 14. 12 INTRODUÇÃO Ao entrar no Mestrado de Comunicação, minha primeira intenção foi realizar alguma produção relacionada à tecnologia móvel, tendo como principal foco o telefone celular e sua utilização audiovisual. Na época, trabalhava na Nokia e estava envolvida com projetos de customização de celulares, personalizando o celular com um objetivo claro – fidelizar usuários às marcas, portanto, as mudanças no produto em favor do mercado poderiam melhorar o lucro da empresa e a aceitação dos usuários. O que eu não previ é que estava prestes a descobrir outros usos ligados ao audiovisual, o que para mim foi uma grande surpresa. Descobri um termo novo: transmídia. Quando ouvi o termo pela primeira vez, na sala de aula, fiquei apaixonada pela definição do Professor Vicente Gosciola, que utiliza a seguinte definição: A narrativa transmídia é uma grande história. O que a diferencia de outras grandes histórias é que ela é dividida em partes. A história principal é complementada por histórias adicionais. Outra característica que a torna mais singular ainda é que cada uma dessas histórias é veiculada por um meio de comunicação diferente, definido por ser aquele que melhor consiga expressá-las (GOSCIOLA & VERSUTI, 2012, p. 2). De acordo com Jenkins (2009), cada meio conta a história à sua maneira. Acabei percebendo que os novos dispositivos móveis se prestariam muito bem numa nova forma de linguagem audiovisual, através do uso das redes de última geração, provocando experiências únicas nos usuários sedentos por novidades. Um aspecto que me chamou a atenção foi a apropriação das novas gerações de usuários sobre os conteúdos e narrativas. Portanto, o objetivo deste estudo é responder a alguns questionamentos que permeiam o universo tecnológico e o universo ficcional, tais como:  A narrativa transmídia pode transformar o entretenimento e o audiovisual através do uso de novas tecnologias?  A narrativa transmídia pode criar mais engajamento do que os outros tipos de narrativas mais tradicionais?
  • 15. 13 O conceito de narrativa transmídia não é algo novo. Estudiosos como Christy Dena, Henry Jenkins, Grant McCracken, Carlos Scolari, Vicente Gosciola já realizam estudos sobre este conceito há alguns anos. O ponto comum de todos eles é que a narrativa deve ser atrativa o suficiente para criar engajamento dos usuários e fãs. Diante deste quadro, faço um questionamento: se o conceito não é novo, por que ele ganhou força nos últimos tempos? Trata-se de uma nova onda que pretende capitalizar os investimentos feitos nas produções de audiovisual ou uma tendência que se estabelece a partir da disseminação de novas tecnologias? De acordo com o antropólogo Grant McCracken (2003), a produção de novos conteúdos e a cultura mundial está se tornando cada vez mais rápida. A cultura está se fragmentando e o gosto dos consumidores muda quase que em tempo real, ao mesmo tempo em que culturas muito tradicionais dizem não para as novidades. Temos que pensar um processo de formação que absorva as novidades que surgem o tempo todo, sem abandonar o que as pessoas estão acostumadas a ver e entender (McCRACKEN, 2003, p. 104). Esta provocação vem ao encontro com o tema da dissertação, pois a sociedade atual está sofrendo uma intensa transformação após a incorporação de alguns artefatos tecnológicos que conhecemos como, por exemplo, os smartphones, tablets e outros dispositivos que hoje estão tão sociais quanto tecnológicos. A falácia da “caixa preta”, tão comentada por Jenkins (2009), dá conta de um “dispositivo mágico” que pode proporcionar acesso às formas de interação com diversos conteúdos, proporcionando certa liberdade do usuário para que possa escolher quando, onde e o que lhe interessa, sob a perspectiva do conteúdo. Esta mesma caixa assume diversas formas, como por exemplo: tablets, o próprio advento do iPhone, TVs conectadas à Internet, consoles e uma infinidade de dispositivos. Ante a esse cenário, o conteúdo que nos remete às narrativas pode tomar diversas formas em diferentes modelos de narrativas, que podem ser modificadas pelos usuários conforme suas experiências e, principalmente, sob o seu ponto de interesse. Neste estudo, serão referenciados autores como McLuhan (1964), em função de sua abordagem iluminadora dos meios de comunicação, através de um olhar especial para axiomas como “aldeia global”, “o meio é a mensagem” e “os meios como extensões do homem”; Castells (1999), por discutir o papel da tecnologia na
  • 16. 14 sociedade e, por fim, os textos de Jenkins (2009), que desenvolve significativos conceitos a respeito de convergência, inteligência coletiva e cultura participativa, atualizando as teorias apresentadas pelos dois autores anteriores. No primeiro capítulo deste estudo, denominado Definições Gerais, procuro estabelecer aspectos importantes sobre o conteúdo e as mídias digitais, pois cada avanço na tecnologia da informação e comunicação trouxe consigo um aumento na sofisticação das nossas narrativas. Várias formas de narrativas estão emergindo como uma importante forma de comunicação, graças às redes sociais e às novas formas de interação que os usuários descobrem a cada dia. Faz-se necessário, então, entender como se dá o processo de criação de uma narrativa e a sua importância no contexto da comunicação contemporânea. Como base conceitual, abordo conceitos do meio e a mensagem, discutidos por McLuhan (1964), trazendo à tona a discussão sobre a construção de novas linguagens audiovisuais e os novos formatos de narrativa, incluindo a narrativa transmídia, e ainda, sobre o processo de transmidiação. Em seguida, procuro elucidar os aspectos tecnológicos, considerando que a configuração em rede é peculiar ao ser humano. Desde os primórdios, quando o homem desenvolve a habilidade de se comunicar e criar, ele passa a se agrupar com seus semelhantes, estabelecendo relações sociais, econômicas e de interesses que se desenvolvem e se modificam ao longo do tempo. Rapidamente, o homem está deixando de ser analógico. Observa-se que as novas gerações incorporaram os meios digitais que hoje estão 100% conectados. Esta mudança de comportamento é notada no cotidiano das novas gerações, que passam a utilizar a rede como forma de compartilhamento de seus pensamentos e de informações traduzidas em conhecimento. Portanto, faz-se necessário abordar a questão da evolução das mídias móveis, a convergência tecnológica e das redes e como as tais plataformas podem ser usadas em projetos transmídia. Busco retomar o conceito de convergência, pois na medida em que o ser humano evolui, mudam suas prioridades e suas conveniências que se refletem na maneira dele se comunicar e de se relacionar com os demais. Com o passar dos anos, a evolução tecnológica experimentada através de adventos como a rádio frequência e a nanotecnologia tornam possível a comunicação em tempo real, o que proporciona uma rápida expansão das redes sociais.
  • 17. 15 Procuro explorar, também, o impacto nas narrativas atuais e sua relação com a segunda tela, demonstrando como se dá o processo de comunicação e engajamento. No segundo capítulo, faço algumas provocações intencionais sobre as narrativas, resgatando algumas questões sobre as formas de perpetuá-las ao longo do tempo, além do ato de “contar histórias”, possibilitando aprendizado, perpetuando a cultura e criando novas abordagens. Abordo os aspectos da oralidade até o desenvolvimento de novas formas audiovisuais. A apropriação do conteúdo que é realizado pelas novas gerações e suas formas, procurando traçar um paralelo entre crossmídia e as narrativas transmídia. As narrativas transmídia estão sendo desenvolvidas para uma grande variedade de aplicações, incluindo o próprio entretenimento, a educação, o marketing, o jornalismo e a literatura. O terceiro capítulo está direcionado ao processo de transmidiação propriamente dito. A integração de várias mídias diferentes em uma narrativa coesa e coerente é um grande desafio para os produtores das narrativas transmídia. Um dos maiores desafios é manter o espectador/usuário/interator – EUI (INJU, 2011), uma vez que estes usam seu próprio repertório, experiências, habilidades cognitivas e habilidades psicológicas para interagirem em uma narrativa transmídia (GOSCIOLA, 2011). Ressalta-se que este termo será utilizado em toda a extensão deste estudo. Abordo, ainda, a importância do desenvolvimento das bíblias transmídia, como elemento de planejamento e implantação de uma boa narrativa transmídia. A identificação do EUI com os personagens, com a narrativa e como ocorre o processo de criação da identidade do mesmo é fundamental na criação das narrativas ficcionais transmidiáticas que estão fortemente baseadas nas mídias sociais e nas tecnologias online. Nas conclusões finais deste estudo, respondo alguns questionamentos feitos inicialmente e que permeiam o universo tecnológico e o universo ficcional, mostrando como a narrativa transmídia pode transformar o entretenimento e o audiovisual através do uso de novas tecnologias, criando maior engajamento quando comparada a outros tipos de narrativas mais tradicionais. A narrativa transmídia, ou narrativa espalhada, pode aproximar ou reaproximar as novas gerações no sentido abordado por McLuhan (1964) ou devolver a eles a sociabilidade interrompida?
  • 18. 16 1 DEFINIÇÕES FUNDAMENTAIS Inicialmente, é necessário realizar algumas definições fundamentais sobre os principais conceitos que serão discutidos nesta dissertação. Tais definições serão dividas em dois blocos fundamentais: 1) meios de comunicação; 2) mensagens. Nos meios de comunicação, destacarei os principais meios utilizados neste estudo e suas definições e impactos na sociedade. Abordarei, ainda, as questões relacionadas à mensagem e suas derivações sob a ótica da necessidade da produção de conteúdo e seu impacto no audiovisual e nas grandes produções transmidiáticas. Meio: de acordo com o dicionário Michaelis, o meio é uma maneira, via aonde se chega a algum fim. O que dá passagem ou serventia, ou serve de comunicação. O termo meio de comunicação, de acordo com o site Wikipédia, refere-se ao instrumento ou à forma de conteúdo utilizada para a realização do processo comunicacional. Quando falamos sobre a comunicação de massa, pode ser considerado sinônimo de mídia; outros meios de comunicação, como o telefone, tablets e computadores são considerados meios individuais ou interpessoais. Os meios de comunicação podem ser divididos em:  Sonoros: rádio, podcast, telefone.  Escritos: diários, cartas, revistas, jornais.  Audiovisuais: TV, cinema.  Novas mídias: vasto campo delimitado pelas tecnologias digitais (GOSCIOLA, 2010).  Hipermídia: meio e linguagem em que esse campo se encontra (GOSCIOLA, 2010). Temos, aqui, a TV conectada, a Internet, os CD-ROMs e DVDs. Para McLuhan (1964), o meio é o canal/tecnologia em que a comunicação se estabelece e não apenas constitui a forma comunicativa, mas determina o próprio conteúdo da comunicação. Mensagem: De acordo com o dicionário Michaelis, mensagem é tudo o que é transmitido do emissor ao receptor, pessoalmente, por vídeo ou por correspondência. É um conteúdo (palavras com uma definição) enviado para alguém ou algum lugar. Conforme a definição do site Wikipédia, a mensagem é o objeto da
  • 19. 17 comunicação. Dependendo do contexto, o termo pode se aplicar tanto ao conteúdo da informação quanto à sua forma de apresentação. Narrativas: do latim narre, significa dar conhecimento, transmitir informações. Fornecem aos indivíduos uma ferramenta para aprender e ensinar uns aos outros sobre o mundo. Como a narrativa é estudada a partir de uma variedade de perspectivas, suas abordagens podem variar significativamente. Elas podem ser abordadas como um método para produzir, como uma teoria para investigar, como uma prática social, política ou estratégica. Conteúdo: o dicionário Michaelis define conteúdo como assunto, tema, matéria de carta, livro etc.; conjunto dos interesses e valores específicos para os quais convergem as atividades típicas de um grupo social. Estas definições foram colocadas para alinhar o conhecimento e, assim, estabelecer um ponto de partida neste estudo. A partir dos conceitos acima, proponho um diálogo com os principais pensadores da Comunicação, da Antropologia, da Psicologia e da Pedagogia. Considerando que este estudo trata de certa forma da arte de contar histórias, resgato a história e onde tudo começou. 1.1 O MEIO E A MENSAGEM A narrativa existe desde o tempo em que as primeiras pinturas da Idade das Pedras foram feitas em cavernas e as primeiras histórias foram contadas ao redor do fogo. Uma pessoa pode aprender sobre o passado, eventos atuais e futuro a partir de contos, piadas, novelas, filmes, desenhos, jornais, telejornais, obituários de outras pessoas, entre outros. Seja a narrativa simples ou complexa, os indivíduos precisam ser capazes de entender suas funções para compreender o mundo ao seu redor. “A arte de contar história, por vezes é deixada para segundo plano quando uma nova tecnologia surge” (GOSCIOLA, 2010, p. 2). Por outro lado, as novas tecnologias abrem também muitas possibilidades de contar histórias sob uma nova perspectiva – a do EUI.
  • 20. 18 Desde a era pré-histórica, o homem desenvolveu a habilidade de se comunicar. No início, o homem aprendeu a usar a comunicação através de sinais gráficos que serviam para trocar informações, registrar fatos, expressar ideias e emoções. As tribos longínquas se valiam de sinais de fumaça ou de tambores para se comunicar, alertando sobre perigos ou invasões. Quando o homem passa a fazer sons, se estabelece a comunicação verbal. A linguagem passou a ser uma construção da razão, onde conseguia aproximar-se da realidade. A comunicação oral passou a ser uma representação simbólica do significado dos objetos. A invenção da escrita ocorre como consequência das mudanças profundas nas sociedades, durante o período do surgimento das primeiras cidades e na medida em que o homem continuava sua trajetória evolutiva. Pelo menos quatro sistemas de escrita foram inventados de forma independente em épocas diferentes, por quatro povos distintos, na Mesopotâmia, Egito, China e América Central. Os mais antigos testemunhos escritos encontrados são provenientes da região da Mesopotâmia (atual Iraque), feitos 3.300 anos a.C. Os sumérios, que habitavam a Mesopotâmia, desenvolveram a escrita cuneiforme, pequena ferramenta de entalhe, que gravava símbolos em placas de cerâmica. Os egípcios criaram os hieróglifos, a escrita das pirâmides reservada a uma classe de especialistas, os escribas, que ocupavam uma posição de destaque, pois passavam por um processo de formação especifica, além de ser o elo entre o faraó, outros funcionários do governo, os sacerdotes e o povo. No final da Idade Média, quando foi criada a prensa de tipos móveis metálicos, em 1450, as pessoas comuns ainda não haviam aprendido a ler e escrever, sendo este um privilégio da elite cultural. Desde a Antiguidade, os grandes conquistadores foram obrigados a estabelecer um sistema de mensageiros como uma forma de comunicação, em especial durante as guerras. O processo de evolução do homem e de sua comunicação passa pelo incremento das redes de transportes, durante a Revolução Industrial do século XVIII. Nesta fase, tivemos a evolução da máquina a vapor chegando ao tráfego ferroviário e ao marítimo, utilizado para o transporte de matérias-primas em longas distâncias. Este é o importante marco final do período de1500-1850, onde o mundo de fato passou por uma série de transformações socioculturais, advindas, principalmente, da descoberta dos “novos mundos”.
  • 21. 19 Posteriormente, vieram as invenções do motor à explosão, da aplicação da eletricidade aos transportes e, anos depois, do automóvel e do avião, fruto de grandes progressos tecnológicos que tiveram por objetivo melhorar as acessibilidades e diminuir a distância-tempo e a distância-custo. Faz-se necessário apontar que os grandes avanços tecnológicos da comunicação ocorreram em função de guerras e da evolução da indústria bélica, como forma de segurança nacional e de proteção territorial. Após as guerras, as tecnologias de comunicação passaram a ser massivamente usadas pelas indústrias de bens e serviços e o próprio consumidor final. McLuhan (1964) pondera que o que realmente importa é o meio de comunicação predominante e não o conteúdo transmitido. A luz elétrica é informação pura. É algo assim como um meio sem mensagem, a menos que seja usada para explicitar algum anúncio verbal, ou algum nome. Este fato, característico de todos os veículos, significa que o “conteúdo” de qualquer meio ou veículo é sempre outro meio ou veículo. O conteúdo da escrita é a fala, assim como a palavra escrita é o conteúdo da imprensa e a palavra impressa é o conteúdo do telégrafo. Se alguém perguntar “Qual é o conteúdo da fala?”, necessário se torna dizer: “É um processo de pensamento real, não-verbal em si mesmo”. Uma pintura abstrata representa uma manifestação direta dos processos do pensamento criativo, tais como poderiam comparecer nos desenhos de um computador. Estamos aqui nos referindo, contudo, às consequências psicológicas e sociais dos desenhos e padrões, na medida em que ampliam ou aceleram os processos já existentes. Pois a “mensagem” de qualquer meio ou tecnologia é a mudança de escala, cadência ou padrão que esse meio ou tecnologia introduz nas coisas humanas (MCLUHAN, 1964, p. 22). A relevância, segundo McLuhan (1964), está no avanço que a tecnologia provoca no cotidiano dos indivíduos inseridos em uma sociedade. O autor destaca o exemplo da estrada de ferro, cuja implantação proporcionou para algumas comunidades, novas oportunidades, gerando uma circulação maior de pessoas, facilitando a locomoção, entre outras transformações. McLuhan (1964, p. 33) afirma: “O efeito de um meio se torna mais forte e intenso justamente porque o seu ‘conteúdo’ é outro meio”. O conteúdo não possui relevância na estruturação das relações humanas, porém, em alguns momentos, ele acaba impedindo que seja possível perceber a verdadeira natureza de cada meio.
  • 22. 20 O teórico esclarece que o conteúdo do filme é o romance, o conteúdo da imprensa é a fala, mas os indivíduos, em sua maioria, não o percebem dessa forma, mantendo- se, inconscientes frente a esta realidade. Assim, todos os indivíduos passam a ter a possibilidade de adquirir a mesma informação, em qualquer lugar, formando uma unidade, pois para McLuhan (1964), as sociedades sempre foram mais modeladas pela tecnologia da comunicação do que pelos conteúdos dessas mesmas tecnologias. A aceleração de hoje não é uma lenta explosão centrífuga do centro para as margens, mas uma implosão imediata e uma interfusão do espaço e das funções. Nossa civilização especializada e fragmentada, baseada na estrutura centro-margem, subitamente está experimentando uma reunificação instantânea de todas as suas partes mecanizadas num todo orgânico. Este é o mundo novo da aldeia global (MCLUHAN, 1964, p. 112). A aldeia global anula as noções de tempo e espaço, proporcionando a troca de informações e conhecimento, de uma maneira universal e instantânea. Todos se relacionam tecnologicamente e, dessa forma, os contatos sociais são privilegiados. Mesmo que a tecnologia provoque uma forte segmentação social, os meios promovem uma integração entre os indivíduos, através da criação de um consenso mundial. As narrativas ocorrem independentemente da tecnologia, assim como todas as formas de se contar história. O que mudam são os meios utilizados. Vale lembrar que sempre existirá uma obsolescência tecnológica em curso. Antigos meios de comunicação são substituídos por outros. Em alguns casos, suas funções coexistem por um determinado tempo, até que uma nova tecnologia suprima aos anteriores. Gosciola (2012) comenta em seu artigo “A máquina de narrativa transmídia: transmidiação e literatura fantástica”, que o jogo de forças parece estar equilibrado, pois sempre que há uma obsolescência de tecnologia dos meios de comunicação, as narrativas começam a apresentar novidades e vice-versa. Segundo McLuhan (1964, p. 197), os meios são extensões dos sentidos humanos. “Toda extensão é uma amplificação de um órgão, de um sentido ou de uma função que inspira ao sistema nervoso central um gesto auto-protetor de entorpecimento da área prolongada”. As extensões são usadas pela maioria dos indivíduos, de forma tão constante, como os olhos e os ouvidos, por exemplo. O rádio, segundo McLuhan (1964), é uma extensão da audição e a fotografia é uma extensão da visão.
  • 23. 21 Contemplar, utilizar ou perceber uma extensão de nós mesmos sob a forma tecnológica implica necessariamente em adotá-la. Ouvir rádio ou ler uma página impressa é aceitar essas extensões de nós mesmos e sofrer o “fechamento” ou o deslocamento da percepção, que automaticamente se segue. É a contínua adoção de nossa própria tecnologia no uso diário que nos coloca no papel de Narciso da consciência e do adormecimento subliminar em relação às imagens de nós mesmos (MCLUHAN, 1964, p. 64). Quando surge algum avanço tecnológico que modifica o meio, as relações dos indivíduos também se alteram. McLuhan (1964) salienta o exemplo do rádio que se modificou profundamente com o desenvolvimento da televisão. O meio teve que buscar outros segmentos para continuar sendo viável economicamente. Neste caso, a solução foi diversificar os serviços, voltando-se para o público regional e buscando atingir as necessidades individuais dos ouvintes. A recepção também deixou de ser coletiva: da família reunida para individualmente nos quartos, nas cozinhas ou até mesmo nos automóveis. Para McLuhan (1964), a necessidade de utilizar os sentidos é tão indispensável quanto respirar, justificando, desse modo, a necessidade que muitos indivíduos possuem em manter a televisão ou o rádio ligado, mesmo sem dispensar uma atenção exclusiva ao meio. O acesso contínuo não está relacionado com o conteúdo, mas ao fato da tecnologia estar integrada ao sistema nervoso central. Para as novas gerações, os meios digitais são como o ar que a geração net respira, como afirma Tapscott (2012), em sua apresentação durante o TEDX 2012. Para as novas gerações, o uso das tecnologias é natural, pois elas nasceram em um ambiente digital. A pedagoga Kishimoto (2007), em seu artigo “Narrativas infantis: um estudo de caso em uma instituição infantil”, comenta que a narrativa ocorre como linguagem articulada oral ou escrita, imagem fixa ou móvel, gesto, mito, lenda, fábula, conto, cinema, entre outros, como forma de discurso que descreve em sequência os fatos do passado, real ou imaginário. A narrativa está presente na conversação, no contar e recontar história, nas brincadeiras e nas ações que resultam da integração entre várias linguagens, dando sentido ao mundo e tornando sua inclusão no mundo infantil. Bruner (1986) valoriza as histórias infantis, do gênero conto de fadas, porque nelas se encontra um formato, uma estrutura prévia, de tipo binário, de situações opostas, típico do
  • 24. 22 processo de categorização. A narrativa, como categorização, “exige discriminar diferentes coisas como equivalentes, agrupar objetos, eventos e povos em classes, em termos de membros de classe” (BRUNER; GOODNOW; AUSTIN, 1956, p. 1). Cada indivíduo constrói um sistema de codificação, uma forma pessoal de agrupar ou relacionar informações sobre o mundo em constante reorganização. O processo de categorização, a mente humana utiliza um sistema binário, similar ao computacional (pertencer ou não à categoria), mas vai além da informação dada, utilizando inferências e indicações do ambiente. Segundo Kishimoto (2007), as situações binárias, como segurança e perigo, coragem e covardia, inteligência e estupidez, esperança e desesperança, bem e mal, são as principais tramas dos contos de fadas. As classificações, como estruturas, auxiliam povos sem escrita a compreenderem seu mundo pela memória. Tais povos observam animais corredores, voadores e rastejadores, viajantes da terra, da água, diurnos e noturnos. O sistema binário, que prevalece nas narrativas, possibilita classificar um ser como voador ou não, noturno ou diurno, com descrições minuciosas, o que também se aplica às crianças, porque a mente infantil também usa tal sistema para a compreensão do mundo. 1.2 A EVOLUÇÃO E A IMPORTÂNCIA DOS CELULARES Considero relevante, neste estudo, comentar sobre a invenção do celular, pois existe um paralelo interessante entre o cinema, a situação politica mundial e a própria tecnologia: a invenção de Hedy Lamarr. O celular que conhecemos hoje nasceu a partir da comunicação do rádio. Neste contexto, é relevante comentar sobre Hedy Lamarr. Hedy Lamarr é o nome artístico de Hedwig Eva Maria Kiesler (Viena, 9 de novembro de 1913 — Altamonte Springs, 19 de janeiro de 2000). Sua maior contribuição no mundo científico foi a invenção de um sistema de comunicações para as forças armadas americanas, que serviu de base para a atual telefonia celular.
  • 25. 23 Durante a Segunda Guerra Mundial, Lamarr criou um sofisticado aparelho de interferência em rádio para despistar radares nazistas e o patenteou em 1940, usando o seu verdadeiro nome. A ideia surgiu ao lado do compositor George Antheil, em frente a um piano. Eles brincavam de dueto, ela repetindo em outra escala as notas que ele tocava, experimentando o controle dos instrumentos, inclusive com a música para o Ballet Mécanique, originalmente escrita para o filme abstrato de Fernand Léger, em 1924. Ou seja, duas pessoas podem conversar entre si mudando frequentemente o canal de comunicação, bastando que façam isso simultaneamente. Este princípio de comunicação norteou o desenvolvimento das redes de rádio e telefonia celular usados atualmente, em nosso cotidiano, sempre que falamos no celular. Figura 1. Sistema de celular desenvolvido por Lamarr, em 1942 Fonte: Lamarr (2001). Um celular é um dispositivo sem fio que se conecta a rede telefonia pública comutada e é oferecido ao público em geral, por uma empresa comum ou de utilidade pública. Além disso, em sua maior parte, a história do celular não é apenas um estudo sobre o telefone ou sobre o aparelho em si, mas um olhar para o sistema sem fio que é conectado.
  • 26. 24 Existem muitas controvérsias sobre a autoria do telefone sem fio. Alguns autores apontam que o primeiro telefone sem fio, o Fotofone, foi inventado por Alexander Graham Bell, em conjunto com sua assistente Sarah Orr, em 1880. O dispositivo permitiu que uma conversa telefônica fosse realizada através da luz. Em junho de 1880, Bell transmitiu a primeira mensagem telefônica usando o seu novo invento. Segundo o site Wikipédia, “Bell patenteou o seu telefone nos Estados Unidos no início de 1876”. Nesta mesma época, Elisha Gray aplicou outra patente do mesmo gênero. Antonio Meucci foi reconhecido, em 2002, como o inventor do telefone. Meucci demonstrou, em 1849, em Havana, Cuba, a transmissão de voz pela corrente elétrica. Nathan Stubblefield também foi intitulado o “Pai da Radiodifusão”. Ele disse ao repórter Mensagem de St. Louis, em 1902, ser capaz de enviar mensagens simultâneas a partir de uma estação central de distribuição sobre um território muito grande. “Eventualmente, ele será usado para a transmissão de notícias gerais de todos os tipos” (SCIENTIFIC AMERICAN, 1902, p. 363). Em dezembro de 1947, os laboratórios Bell, com a ajuda de WR Young, articularam um sistema de rádio real para a telefonia móvel celular em um memorando interno da empresa. No final dos anos 1950, foram realizadas pesquisas e melhorias para o celular, porém sem espectro suficiente para torná-lo economicamente viável. Sem um sistema de alta capacidade, uma rede celular não poderia ser construída nos Estados Unidos. A inevitável movimentação dos usuários entre as células de uma mesma rádio-base deveria ser gerenciada pelo sistema, conceito conhecido como handoff (ou handover1). Quando havia troca de células em que outra rádio-base era envolvida, o termo adotado era roaming2. Em 1967, as empresas finlandesas Finnish Rubber Works e Cable Works fundaram a Nokia. A Nokia expandiu a divisão de eletrônicos para incluir semicondutores e pesquisa. Esses estudos ajudaram, no início dos anos 1970, a Nokia desenvolver uma rede comutada digital para a telefonia fixa. 1 Handover: refere-se ao processo de transferência de uma chamada em curso ou sessão de dados de um canal ligado ao núcleo de rede para outro. 2 Roaming: designa a capacidade de um usuário de uma rede para obter conectividade em áreas fora da localidade geográfica onde está registrado, ou seja, obtendo conectividade através de outra rede onde é visitante. A rede que está sendo visitada pode ou não pertencer à mesma operadora
  • 27. 25 Outro fator que ajudou os finlandeses foi o livre comércio de equipamentos de telecomunicações. O desenvolvimento posterior do celular da Nokia foi bastante reforçado pelo fundo de capital e as suas primeiras pesquisas. Em 1978, foi ativado um sistema de testes a mercado em Chicago, objetivando demonstrar as reais possibilidades do sistema AMPS3. O AMPS finalmente entrou em operação comercial em 1983. O sistema AMPS teve o grande mérito de programar soluções que consolidaram o padrão de telefonia móvel até hoje empregado. Um passo intermediário foi a utilização dos chamados bag phones, que consistia em uma bolsa ou pequena pasta, com um transceptor de potência média e uma bateria, que era carregada por meio de um acendedor de cigarros do veículo, podendo ser transportada. Devido ao sucesso do sistema AMPS, mesmo sendo um serviço inicialmente caro, a procura se tornou imensa. Mesmo a adoção das faixas de extensão mostrou que também haveria uma saturação. Por outro lado, havia a questão dos serviços. O sistema móvel celular foi inicialmente concebido com vistas ao serviço básico de voz. Outros serviços poderiam ser acrescentados, não só com possibilidade de demanda, como dados, fax e SMS, entre outros, como também como fonte de renda adicional nos serviços. Isso exigiria mais recursos do sistema, praticamente impossíveis de serem implantados como nas redes analógicas. Rapidamente, concluiu-se que a saída estaria na digitalização das redes, inerentemente com mais capacidade para agregar esses serviços suplementares. Em 15 de agosto de 1996, a Nokia introduziu o Communicator, primeiro telefone celular GSM4 com um computador portátil, teclado QWERTY5 e processamento de texto e programas de calendário e agenda. Além de enviar e receber faxes, era possível verificar e-mails e acessar a Internet, ainda de forma limitada, uma vez que redes de telefonia celular foram desenhadas para voz, e não para dados. Em meados dos anos 1990, no entanto, houve um grande progresso nas redes, ajustando-as através da compactação da voz. O serviço de voz continuou a ser o serviço essencial para a grande maioria dos telefones móveis, mas os serviços de 3 AMPS – Advanced Mobile Phone System: foi a primeira geração de sistemas celulares formada por sistemas analógicos. 4 GSM: tecnologia móvel e padrão mais popular para telefones celulares do mundo. 5 QWERTY: layout de teclado atualmente mais utilizado em computadores e máquinas de escrever. O nome vem das primeiras seis letras “QWERTY” da primeira linha do teclado.
  • 28. 26 dados passaram a entrar no mapa de prioridades, uma vez que novas funcionalidades eram adicionadas aos equipamentos de recepção. No início dos anos 1990, o mundo experimentou o primeiro grande salto da Internet, com o advento dos browsers gráficos, como Mosaic6 e Netscape7. O crescimento da base de usuário da Internet competia com o crescimento das redes de telefonia celular, entre 1995 e 2000. A rede móvel se aproximou da Internet funcionando com o mesmo princípio de tecnologia, o IP8, uma técnica de comutação de pacotes que rapidamente foi incorporada pelos operadores de rede celular. As redes sofreram atualizações, overlays e as tecnologias evoluem para suportar os serviços de dados, iniciando, assim, as gerações de serviços: 2,5G ou conhecido como GPRS9 às redes 3G ou EDGE10, além da incorporação de redes de curto alcance sem fio, como Bluetooth11, que empregam IP. No final dos anos 1990, o celular diminuiu e ficou mais leve. Incorporou-se ao dispositivo: teclados mais completos, visores ainda pequenos. Novos circuitos, como micro chips, foram incorporados, ampliando, assim, a capacidade de processamento do celular, aproximando-os dos laptops e PDAs12. A empresa canadense RIM apropriou-se do conceito de transmissão de radiofrequência e criou o Blackberry13, obrigando-nos a repensar o conceito do telefone celular. O equipamento agregou os serviços de mensageria instantânea, um teclado acoplado permitindo a produção de conteúdo em qualquer lugar. A fabricante provocou com isso a evolução dos aparelhos que passaram a fornecer uma variedade de serviços, tais como toques, captura de imagens, mensagens de texto, jogos e assim por diante. 6 Mosaic: conhecido por muitos como o primeiro Navegador www. 7 Netscape: empresa de serviços de computadores nos EUA, mais conhecida pelo seu navegador web. 8 IP – Internet Protocol: de forma genérica, é uma identificação de um dispositivo (computador, impressora etc.) em uma rede local ou pública. Cada computador na Internet possui um IP único, que é o meio em que as máquinas usam para se comunicarem na Internet. 9 GPRS: General Packet Radio é uma tecnologia que aumenta as taxas de transferência de dados nas redes GSM existentes 10 EDGE – Enhanced Data Rates for GSM Evolution: tecnologia digital para telefonia celular que permite melhorar a transmissão de dados. 11 Bluetooth: provê uma maneira de conectar e trocar informações entre dispositivos como telefones celulares, notebooks, computadores, impressoras, câmeras digitais e consoles de videogames digitais através de uma frequência de rádio de curto alcance, globalmente licenciada e segura. 12 PDAS – Personal Digital Assistants: assistente pessoal digital 13 Blackberry: linha de smartphones e tablets criada pela empresa canadense BlackBerry, antiga RIM – Research in Motion.
  • 29. 27 Figura 2. Evolução dos celulares Fonte: Obra de arte do britânico Kyle Bean, que mistura matrioskas14 com a evolução dos telefones celulares. Para Lemos (2007), o que conhecemos como telefone celular é um dispositivo híbrido, já que agrega função de telefone, computador, máquina fotográfica, câmera de vídeo, processador de texto, GPS15, entre outras; móvel, isto é, portátil e conectado em mobilidade funcionando por redes sem fio digitais, ou seja, de conexão; e múltiplas redes, como Bluetooth e infravermelho, para conexões de curto alcance, entre outros dispositivos. Em 2007, a fabricante americana Apple16 desenvolveu o iPhone. Os custos estimados do desenvolvimento da colaboração foram de 150.000 mil dólares ao longo de um período de trinta meses. A Apple vendeu 6,1 milhões de unidades do iPhone original ao longo de cinco trimestres. O projeto chama a atenção, pois combina três dispositivos: celular, iPod widescreen17 e dispositivo de Internet. Com um design inovador, possui uma interface multi-touch18, que permite fazer chamadas com apenas um toque em um nome ou número da lista de contatos, e o correio de voz visual permite que você selecione e escute as mensagens na ordem que desejar, da mesma forma que o serviço de e-mail. 14 Matrioskas: tradicionais bonecas russas que se encaixam uma dentro da outra. 15 GPS – Global Positioning System: sistema de posicionamento global, usado para geo-localização. 16 APPLE: empresa multinacional norte-americana que tem o objetivo de projetar e comercializar produtos eletrônicos de consumo, software de computador e computadores pessoais. 17 Widescreen: tela panorâmica. 18 Multi-touch: refere-se a uma superfície de detecção de toque – touchscreen. Possui a capacidade de reconhecer a presença de dois ou mais pontos de contato com a superfície da tela.
  • 30. 28 Figura 3. Lançamento do iPhone, em 2007 Fonte: OBAOBA (2013). A Apple vendeu 3,8 milhões de unidades do iPhone 3G no segundo trimestre de 2009, que terminou em março de 2009, e 12,6 milhões de iPhones 3G e 3GS, totalizando 33,7 milhões de iPhones vendidos naquele ano. No segundo trimestre de 2012, esse número saltou para 959 milhões de aparelhos, chegando a 1,038 bilhão no período de julho a setembro (DRSKA, 2012). O projeto do telefone é marcado pela interação feita através de uma tela sensível ao toque, permitindo ao usuário uma troca infinita de informações, sendo que estas possuem as mais variadas extensões de arquivo. O design é inovador, sem teclas – as tarefas são acionadas e imagens são aumentadas ao simples toque dos dedos na tela. A rigor, a Apple não inventou as novidades tecnológicas embargadas no produto, mas fez-se revolução com a convergência de tudo que estava perdido por aí. Assim como o iPod virou sinônimo de tocador de música em formato MP319 , o iPhone é ícone de Internet móvel, fenômeno de futuro que começa a ganhar vida agora (REVISTA VEJA, 2008). O grande feito de Steve Jobs não foi a invenção do aparelho celular, ou do tocador de MP3, ou ainda do famoso tablet iPad. Analisando a história, e este é o motivo de ter dedicado um capítulo inteiro sobre o desenvolvimento de celulares, o feito de Jobs foi juntar as coisas: ele reuniu em um único equipamento diversas tecnologias 19 MP3 é um dos primeiros tipos de compressão de áudio, com perdas quase imperceptíveis ao ouvido humano.
  • 31. 29 bem sucedidas, promovendo uma experiência diferenciada e exclusiva para o usuário. Jobs era obcecado pelo controle do ambiente e por controlar as situações adversas. Em sua bibliografia, por várias vezes este ponto fica claro. Não era uma questão de inventar, e sim de melhorar o que já existia. Em 2002, Jobs tinha se irritado com um engenheiro da Microsoft e seu proselitismo sobre o software para um tablet que ele tinha desenvolvido e que permitia aos usuários entrar com informações na tela usando uma caneta stylus. Naquele ano, alguns fabricantes lançaram tablets usando o software, mas nenhum deixou sua marca no universo. Jobs estava a fim de mostrar como fazer a coisa direito – nada de stylus! – mas quando ouviu a tecnologia multi-toque que a Apple estava desenvolvendo, decidiu usá-la antes para produzir o iPhone (ISAACSON, 2012, p. 508). O telefone celular fortalece os laços sociais entre os familiares e amigos. Através do celular, temos acesso imediato e permanente com amigos e familiares, independentemente de onde eles estejam. Ficamos mais envolvidos com o celular do que com as pessoas que estão ao nosso redor, no mesmo espaço que nos estamos. Ling (2007) ponderou que, atualmente, quase todas as relações interpessoais devem ser analisadas como processos híbridos de multimídia que combinam relacionamentos pessoais (face-a-face), com chamadas de telefônicas, SMS e MMS. Tomamos decisões usando mensagens instantâneas, streaming de vídeo ou outras formas de comunicação, conforme a situação específica que vivemos, buscando satisfazer a todos os nossos interlocutores. Estudos recentes mostram que usuários de smartphones ficam tão viciados e tão conectados aos seus dispositivos que agora ouvem “vibrações fantasmas”. Os resultados destes estudos foram apresentados pela Divisão da Sociedade Britânica de Psicologia, na Conferência Psicologia do Trabalho, em Chester20, no ano de 2012. A liberdade que se ganha por poder contatar qualquer pessoa em qualquer altura é contrariada, pelo menos parcialmente, pela obrigação crescente de responder a chamadas recebidas e a manter- se em contato com a família e os amigos que esperam ser contatados (GESER, 2004, p. 16). Ling (2007), em seu artigo “Mobile communication and mediated ritual”, defende que os modelos teóricos de substituição da mídia também contradizem os “modelos 20 O estudo sobre as “vibrações fantasmas” pode ser visto em: <http://rockntech.com.br/usuarios- compulsivos-de-smartphones-sentem-vibracoes-fantasmas-aponta-estudo/>.
  • 32. 30 aditivos”, que assumem que as novas mídias digitais contribuem para um aumento linear na quantidade e diversidade de comunicação bilateral. Porque escrever uma carta quando podemos enviar um e-mail ou simplesmente um SMS? Por que investir tempo de viagem para compromissos quando até mesmo problemas de alta complexidade podem ser discutidos ao telefone? Para Castells (1999), o que distingue a configuração do novo paradigma tecnológico é a sua capacidade de reconfiguração, um aspecto decisivo em uma sociedade caracterizada por constante mudança e fluidez organizacional. “(...) Porém, a flexibilidade tanto pode ser uma força libertadora como também uma tendência repressiva, se os redefinidores das regras forem sempre os poderes constituídos” (CASTELLS, 1999, p. 78). Tais considerações são adequadas quando a tarefa é apenas corrigir um acordo ou para transmitir uma quantidade específica de informação, como é o caso de muitos ajustes formalizados burocrática ou profissionalmente. No caso das relações interpessoais, no entanto, o “modelo binário – zeros e uns” de comunicação é falho, pois ignoram que todas as comunicações em um nível podem gerar necessidades adicionais que reforçam o uso de outros canais. Por exemplo, um simples SMS “reunião” pode muito bem dar origem a longas conversas à noite, no telefone fixo, para discutir as novas perspectivas de vida implícita por este evento. Figura 4. A nova geração de usuários e seus celulares Fonte: Banco de Imagens. Rheingold (2003) sugere que os smart mobs emergem quando as tecnologias de comunicação e computação ampliam os talentos humanos para a cooperação. As tecnologias que estão começando a fazer smart mobs possíveis são dispositivas de
  • 33. 31 comunicação móveis e computação ubíqua – microprocessadores de baixo custo embutido em objetos do cotidiano e ambiente. Este autor cita o caso das Filipinas, em 1999, onde manifestantes de rua realizaram protestos contra a OMC (Organização Mundial do Comércio), utilizando sites atualizados dinamicamente e telefones celulares que derrubaram o presidente através de manifestações públicas organizadas por meio de mensagens de texto salvas. Figura 5. Manifestação nas Filipinas contra a OMC, em 1999 Fonte: BOL Fotos (2013). As pessoas cooperam de maneira nunca antes possível, porque carregam dispositivos que possuem as duas capacidades: de comunicação e computação. O que podemos observar é que os cartéis de mídia e as agências governamentais estão buscando voltar a impor o regime da época de difusão em que os usuários da tecnologia serão privados do poder de criar, ficando apenas com o poder de consumir. Presenciamos, recentemente, esta situação, quando o governo americano tentou impingir regras sobre a pirataria e a propriedade intelectual. Imediatamente, sites como a enciclopédia eletrônica Wikipédia tirou do ar sua versão em inglês por 24 horas, deixando na página inicial os dizeres: “Imagine um mundo sem conhecimento”. O Google não saiu do ar, mas inicialmente colocou uma tarja preta na homepage de seu site americano; depois, postou, abaixo da linha de busca, o link “Diga ao Congresso: por favor, não censure a Internet!”. Fica, então, um questionamento: será que os consumidores serão impedidos de inovação e trancados em modelos de tecnologia e de negócios dos interesses mais poderosos?
  • 34. 32 Figura 6. Wikipédia tirou do ar sua versão em inglês por 24 horas, deixando na página inicial os dizeres “Imagine um mundo sem conhecimento” Fonte: IstoÉ Dinheiro (2012). Os jovens fazem uma apropriação muito própria da tecnologia da comunicação móvel com os usos e símbolos específicos, dando azo à “emergência de uma identidade coletiva”. Um segundo aspecto realçado por Castells (2007), é o reforço da autonomia, nomeadamente de movimentos, que o celular traz aos jovens. Ao mesmo tempo em que permite uma maior vigilância dos pais sobre os filhos, estes conquistam tempos e espaços que lhes eram interditos antes do celular. A segurança e, não menos importante, o sentimento de segurança que o aparelho confere a pais e filhos, é uma moeda de duas faces, tendo de um lado uma maior vigilância paterna e do outro lado uma maior liberdade de movimentos por parte dos jovens. De todas as maneiras, o celular abre novas possibilidades aos jovens e emancipa-os da proximidade e do confinamento do espaço familiar e respectivas regras. De acordo com a pesquisa divulgada pelo Google, em maio de 2012, os smartphones se tornaram indispensáveis para nosso cotidiano.  A difusão dos smartphones atinge 14% da população, sendo que os seus proprietários dependem cada vez mais de seus dispositivos, 73% acessam a Internet todos os dias no próprio smartphone e muitos nunca saem de casa sem ele.
  • 35. 33  Os usuários de smartphones estão usando suas mídias para a realização de várias tarefas, e 88% usam o telefone durante outras atividades, como assistir TV (46%). Figura 7. Uso de smartphones em conjunto com outras atividades Fonte: IPSOS OTC Media Ct – Estudo encomendado pelo Google, em maio de 2012 – intitulado Our Mobile Planet Brazil ptbr. O número de telefones celulares no Brasil atingiu o patamar de 261.775.433 no final de 2012, o que representa 132,69 cel.100 hab., de acordo com a Agência Nacional de Telecomunicações – ANATEL. O infográfico a seguir, elaborado pela empresa HTC, mostra a evolução dos smartphones e que já não há mais distinção entre o offline e o online. Atualmente, hoje nós somos online, conectados o tempo todo e em todos os lugares possíveis. De acordo com a revista Forbes, em uma escala global, os smartphones serão a porta de entrada na Internet para a maioria das pessoas já nos próximos anos. No Brasil, fechamos o ano de 2012 com mais de 250 milhões de celulares e com uma previsão de 36 bilhões de aplicativos baixados em 2013, no mundo. A seguir, serão apresentados os infográficos da HTC sobre a evolução dos smartphones.
  • 36. 34 Figura 8a Figura 8b Figura 8c Figura 8d Figura 8e Figura 8f Figura 8g
  • 37. 35 Figura 8h Figura 8i Figura 8j Figura 8k Figura 8l Figura 8m Figuras 8a-m. Infográficos sobre a evolução dos smartphones Fonte: PhoneArena.com (2012). A popularização dos meios de comunicação móvel, em especial dos smartphones e tablets, trás consigo um novo fenômeno: a sua utilização simultânea com outros meios de comunicação tradicionais com a TV, o Cinema e o rádio. Este novo modo de se conectar ficou conhecido como “segunda tela”. A tecnologia abandonou os laboratórios e invadiu o mundo, em um curto espaço de tempo. As máquinas invadiram o nosso cotidiano e, rapidamente, transformamos a nossa maneira de consumir os meios e as mensagens. Para Scolari (2013), estamos atravessando um momento de transição, uma passagem do que antes era novo e, portanto, visível para todos na década de 1980-1990, para uma época onde a tecnologia e as máquinas tornam-se invisíveis, passando a serem simplesmente chamadas de digitais.
  • 38. 36 1.3 ENTENDENDO A SEGUNDA TELA Hayes (2012) menciona em seu blog que, atualmente, três quartos dos telespectadores estão consumindo a segunda tela simultaneamente, ou seja, assistem TV e interagem com o seu tablet em tempo real. É possível transformar este comportamento da segunda tela paralela em uma oportunidade. Figura 9. Gary Hayes – Entendendo o comportamento da segunda tela Fonte: Understanding Cross platform Consumer Behavior. Google Research (2012). O comportamento do telespectador ao utilizar a segunda tela tem chamado a atenção dos Institutos de Pesquisa como, por exemplo, o Instituto Nielsen, que publicou, no início de 2013, a seguinte análise do mercado brasileiro:  74% dos usuários conectados em 56 países assistem vídeos em PCs, tablets e celulares;  80% dizem que o consumo de vídeos na televisão e nos Gadgets acontece com a mesma frequência;  200 milhões de TVs com acesso à Internet estão em uso no mundo. Em 2017, serão 600 milhões, estima a consultoria inglesa Digital TV;  43% dos brasileiros conectados navegam na web enquanto assistem TV. Desses, 70% buscam mais informações sobre o que estão vendo, diz o Ibope (2012).
  • 39. 37 De acordo com o Portal Info (2013), este tipo de relação intensa entre a Internet e o EUI deverá modificar o modelo de negócios das TVs. De fato, dos serviços de streaming do mundo, segundo a empresa especializada em redes Sandvine, 60% dos bites enviados e recebidos nos Estados Unidos no horário nobre são de entretenimento em tempo real, com o consumo de filmes e música. Só o Netflix responde por 33% do tráfego de música e vídeo, seguido pelo YouTube, com quase 15%, afirma a empresa. Com base nestas informações, a empresa Netflix21, desenvolveu um sistema que analisa o comportamento do usuário e, a partir dos hábitos de consumo, realiza sugestões sobre a programação. Joris Evers, atual diretor de Comunicação da Netflix, afirma: “Sabemos quando as pessoas assistem só metade de um episódio ou quando gostam tanto que emendam sequências sem parar. Esse é o tipo de informação que a transmissão tradicional não dá às emissoras de TV”. O Ibope, que faz as medições brasileiras, deverá lançar nos próximos meses uma ferramenta para medir um mesmo conteúdo em diferentes horários e plataformas. Atualmente, já existem empresas, como a Bluefin Labs, que se especializaram na análise dos hábitos de consumo e comentários realizados nas redes sociais. Destaco o comentário do artigo do Portal Info (2013): “(...) se os usuários utilizam várias plataformas simultaneamente, a solução é marcar presença nelas. Uma das formas de fazer isso é com a narrativa transmídia”. Possivelmente, este é um dos fatores para que as narrativas transmídia ganhassem forças nos últimos tempos. Apenas para mencionar, o potencial de mercado da segunda tela é enorme. Diversos aplicativos para as plataformas móveis, incluindo tablets e smartphones, foram criados a exemplo do Shazam, exibindo páginas com conteúdo extra, perfil dos atores nas redes e notícias relacionadas aos programas. Famoso por identificar músicas, o Shazam passou a investir em TVs, que possuem mais de 250 milhões de usuários, dos quais 10 milhões no Brasil. Outro aplicativo popular é o Zeebox, que funciona como um guia de programação baseado no que os amigos assistem ou comentam. 21 A Netflix é uma empresa norte-americana que distribui filmes pela plataforma digital através de consoles de games, aplicativos para tablets e smartphones.
  • 40. 38 A empresa GetGlue desenvolveu uma espécie de Foursquare dos seriados, realizando parceria com vários canais para permitir que usuários façam check-in e mostrem o que estão assistindo. Em função do meu contato estreito com fabricantes de equipamentos aqui no Brasil, ficou notória a mudança de paradigma. Os fabricantes de TVs deixaram de se preocupar somente com a qualidade da imagem e passaram a se preocupar também com o conteúdo a ser disponibilizado para os EUI. A própria Microsoft entrou no jogo do conteúdo através do console de jogos – o Kinect22, permitindo que o usuário possa controlar o enredo do episodio de TV dentro do aplicativo. O teste foi feito com um aplicativo do programa Vila Sésamo, o qual permite que crianças interajam com os personagens. A TV que conhecemos hoje está sofrendo uma grande transformação e num futuro próximo deverá se tornar um equipamento híbrido: a chamada TV interativa e sem grade fixa de programação, em que tablets e smartphones complementam os programas com extras atraentes. Gráfico 1. Utilização de tablets em conjunto com a TV Fonte: Institute Forrester – The Tablet TV Connection (2012). 22 Kinect é um sensor de movimentos capaz de permitir aos jogadores interagir com os jogos eletrônicos sem a necessidade de ter em mãos um controle/joystick.
  • 41. 39 Segundo o portal IDG, no Brasil, 70% do público que faz uso simultâneo de Internet e TV navegam na Internet, influenciados pela TV, enquanto 80% assistem na TV conteúdos que descobriram ou foram comentados na Internet. Existe uma relação muito forte entre esses dois mundos e as pesquisas comprovam que a segunda tela influencia o telespectador a assistir mais TV ao vivo. Transcrevo, a seguir, as principais conclusões da pesquisa realizada pelo Instituto Forrester (2012), sobre o uso da segunda tela nos Estados Unidos:  85% dos donos de tablets americanos usam seus equipamentos enquanto assistem TV, e de acordo com o Nielsen (2013), 30% do tempo total dos tablets foi utilizado enquanto os usuários assistiam TV. A natureza complementar do tablet para a TV da sala dá uma razão de ser a “segunda tela”;  18% dos americanos entrevistados dizem que conectam seus tablets em suas TVs através de cabos via HDMI ou VGA (os iPads de segunda e terceira geração podem fazer isso, bem como muitos tablets Android). Na realidade, os consumidores com tablets acreditam que os equipamentos são ainda mais inteligentes, e pelo menos uma parte do tempo preferem assistir o conteúdo através de seu dispositivo pequeno projetado na tela grande, conforme cita o estudo. Conclusão: os consumidores estão usando tablets como TVs pessoais, com a vantagem de levá-los a qualquer parte: a cozinha, banheiro e aeroportos, por exemplo. O estudo da segunda tela merece destaque e ser alvo de um novo estudo detalhado. 1.4 CONVERGÊNCIA TECNOLÓGICA E AS NOVAS GERAÇÕES A questão da convergência deve ser refletida, uma vez que a televisão está deixando de ser o meio central para fazer parte de um sistema integrado, como comentei no capítulo anterior. Alguns produtores, atualmente, consideram esse trânsito essencial, criando conteúdos destinados para a televisão, mas que possuem complementos voltados para a Internet, games etc. A multiplicidade na forma de acesso ao conteúdo acaba envolvendo o usuário e apresentando resultados efetivos
  • 42. 40 de consumo. Tanto os produtores, quanto os publicitários, tendem a investir no formato convergente. Mas por que a Internet é tão relevante? É necessário fazer uma análise fundamental: afinal o que está acontecendo? O mundo contemporâneo sofreu transformações drásticas nos últimos anos. Estamos observando que alguns valores mudaram e velhos processos estão sendo retomados. Boa parte do que vivemos hoje na sociedade atual, já havia sido comentado ou estudado por alguns estudiosos/filósofos, nas décadas passadas. Aqui, me refiro às particularidades do mundo contemporâneo comparado ao chamado século passado. Pode parecer estranho, mas quando me refiro ao século passado, estou me remetendo há 40 anos. Lembre-se que naquela época as interações midiáticas e sociais eram completamente diferentes. O fenômeno das redes sociais, apesar de previsto e de certa forma premunidos, ainda não existiam de fato. Estas particularidades podem ser observadas quando resgatamos os ensinamentos de McLuhan (1964), no que se refere ao meio e a mensagem e mesmo a “Aldeia Global”, já discutido no capítulo anterior, no que tange ao nosso comportamento quando postamos um vídeo no YouTube, ou ainda, escrevemos no Twitter. Modificamos drasticamente a forma do conteúdo e a nossa própria forma de contar a história, portanto, é fundamental dizer que sim, o meio modifica a mensagem. É verdade que quando McLuhan (1964) comentou sobre o meio e a mensagem referia-se ao advento da TV. O psicólogo Lev Vygotsky (1987) converge para o tema da criação da cultura, onde propôs modificar a própria estrutura da educação clássica, partindo do princípio que as crianças deveriam aprender a partir de suas relações sociais e de suas experiências, e assim explorar o mundo fascinante das oportunidades do aprendizado. Esta teoria ficou conhecida como socioconstrutivismo. Quando recorremos ao Google para pesquisar, ou ainda ao YouTube, consumimos conteúdos que se baseiam nas nossas experiências e interesses sociais. O mesmo fenômeno ocorre quando vamos procurar narrativas ou, ainda, pesquisar sobre determinados personagens. Castells (1999) cita que “culturas são formadas por processos de comunicação e todas as formas de comunicação são baseadas na produção e consumo de sinais”, não havendo, portanto, separação entre “realidade” e representação simbólica.
  • 43. 41 Jenkins (2009) possui relevância no contexto deste trabalho, por agrupar alguns conceitos importantes da comunicação e da convergência, principalmente no que diz respeito ao desenvolvimento de tecnologias, como a Internet. Ao invés da substituição de um meio por outro, o autor registra que as mídias convergirão, completando-se com dados adicionais, ampliando o fluxo e a troca de informações entre os usuários. Em alguns casos, a convergência poderá ocorrer através de um único aparelho, facilitando as atividades cotidianas e promovendo formas inovadoras de consumo, tanto de produtos, quanto de conteúdos. O que chama a atenção é que muito se fala na popular falácia da caixa preta. Ao analisarmos a obra de Jenkins (2009), notamos que o autor se apropria de um conceito que, posteriormente, ele mesmo discute, pois o equipamento (hardware) não é convergente, mas sim o conteúdo. As diversas formas de comunidades virtuais, a estratégia P2P (Person to Person), as comunidades móveis, a explosão dos blogs e wikis, a recente febre do Orkut e do Facebook, são prova de que o ciberespaço constitui um fator crucial no incremento do capital social e cultural disponíveis. Esta compreensão, na verdade, vem se consolidando gradativamente, desde o início da década de 1990. Rheingold (1996, p. 142) já percebia, naquele momento, que as comunidades virtuais não eram apenas lugares onde as pessoas se encontravam, mas também um meio para se atingir diversos fins, e antecipou que “as mentes coletivas populares e seu impacto no mundo material podem tornar-se uma das questões tecnológicas mais surpreendentes da próxima década”. A fronteira entre o real e o virtual é cada vez mais irrelevante. O conceito da comunicação está se modificando: para “falar” com alguém, não é necessário estar na frente dele. Você pode falar pelo Facebook, por SMS, usando o telefone, o Skype. Os nativos digitais, ou seja, a geração net se comunica assim. Isso não significa que as relações sociais não são importantes, conforme abordaremos no próximo capítulo, onde postulo os pensamentos de Tapscott (2010). Rheingold (1996), não só constatou a emergência das comunidades virtuais, como viu nelas uma relação mais profunda, motivada pela questão do excesso de informação que já caracterizava a jovem web. Este autor já detectava a existência de “contratos sociais entre grupos humanos – imensamente mais sofisticados, embora informais – que nos permitem agir como agentes inteligentes uns para os
  • 44. 42 outros”. O autor lembra que as comunidades virtuais abrigam um grande número de profissionais que lidam diretamente com o conhecimento, o que faz delas um instrumento prático potencial. As comunidades virtuais funcionam como verdadeiros filtros humanos inteligentes. Atualmente, são várias as análises de redes sociais que se valem da Internet para realizar mapeamentos e pesquisas. Lévy (2002) defende a participação em comunidades virtuais como um estímulo à formação de inteligências coletivas, onde os indivíduos podem recorrer para trocar informações e conhecimentos. O autor argumenta que o papel das comunidades poderia funcionar como filtros inteligentes que nos ajudam a lidar com o excesso de informação. Uma rede de pessoas interessadas pelos mesmos temas é não só mais eficiente do que qualquer mecanismo de busca (...) mas, sobretudo, do que a intermediação cultural tradicional, que sempre filtra demais, sem conhecer no detalhe as situações e necessidades de cada um (LÉVY, 2002, p.101). Lévy (2002), está profundamente convencido de que uma comunidade virtual, quando convenientemente organizada, representa uma importante riqueza em termos de conhecimento distribuído, de capacidade de ação e de potência cooperativa. O ciberespaço pode ser compreendido como uma dimensão da sociedade em rede, onde os fluxos definem novas formas de relações sociais. A Internet é muito mais que uma tecnologia. É um meio de comunicação, de interação e de organização social. A Internet passou a ser tratada como espinha dorsal da comunicação global mediada por computadores nos anos 90 (CASTELLS, 1999, p. 490). A tecnologia digital permitiu a compactação de todos os tipos de mensagens, inclusive sons e imagens, formou-se uma rede capaz de comunicar todos os símbolos, sem o uso de centros de controle. Hoje, existem milhares e milhares de micro redes no mundo, abrangendo todo o espectro da comunicação humana, de política e religião, a sexo e pesquisa. Na década de 90, as empresas perceberam o extraordinário potencial da web e, em pouco tempo, o www (world wide web) tomou a forma de uma rede flexível, formada por redes onde instituições, empresas, associações e pessoas físicas criam seus próprios sites, blogs e redes sociais. Este fenômeno é conhecido, hoje, como Web 2.0.
  • 45. 43 Atualmente, é comum encontrarmos relatos sobre crianças com seis anos programando TVs, consoles de games, vídeos e decodificadores, após algumas tentativas frustradas dos pais. As novas gerações são a autoridade neste quesito, pois dominam os novos meios tecnológicos, enquanto os adultos tentam não ser ultrapassados por eles. Em países como os Estados Unidos da América, o Japão, a Suécia e a Finlândia, a geração nascida a partir de 1979 cresceu em um ambiente em que a mídia digital é parte integrante de suas vidas. Para esta geração, é algo tão natural como a própria vida: eles brincam, aprendem, se comunicam, trabalham e se entretêm consumindo as mídias digitais, fortemente calcadas pela Internet. Tapscott (1997), em seu livro Growing Up Digital, os apelidou de “geração net”. Segundo este autor: (...) a nova geração tem um ponto forte que a outra jamais teve – esta nasceu e cresceu no meio da emergência de um meio de comunicação tão revolucionário como não havia memória desde a invenção da imprensa escrita. Enquanto as novas gerações, particularmente as crianças, assimilam e incorporam rapidamente os novos meios de comunicação, os adultos simplesmente se acomodam, exigindo deles um esforço de adaptação. Esta convivência íntima com as tecnologias confere a esta nova geração características culturais diferenciadas de outrora (TAPSCOTT, 1997, p. 91). Quando Tapscott (1997) escreveu este livro, não existiam ferramentas sofisticadas como o Google, o Facebook ou mesmo o Twitter, mas já existia uma primeira versão da Internet, ainda muito incipiente Ele observou o comportamento dos jovens em relação às novas tecnologias e como eles já, naquela época, se sentiam confortáveis para criar novos conteúdos, participaram de maneira interativa, deixando de ter atitudes passivas em relação ao meio. Uma década depois, continuamos a viver em um ambiente onde, graças à banda larga, os jovens conseguem consumir, simultaneamente, vários meios, focando sua atenção naquilo que lhe parece interessante, naquele momento. Através de seus smartphones, eles compartilham fotos em redes sociais, enquanto assistem TV e ouvem música. Temos, portanto, um novo comportamento no público jovem: eles navegam de tela em tela, várias vezes, em uma única hora. Esta informação passa a ser importante do ponto de vista do produtor de conteúdos, pois existe uma necessidade latente de se criar histórias para diferentes mídias e, assim, manter o interesse da audiência que a todo o momento se dispersa. Através do computador, dos smartphones e até
  • 46. 44 mesmo dos tablets, as novas gerações jogam, descobrem e criam comunidades virtuais – grupos de jovens de todo o mundo estão ligados entre si não por uma relação de proximidade geográfica, mas por uma afinidade de interesses. Para o educador Paulo Freire (1996, p. 34), “o exercício da curiosidade convoca a imaginação, a intuição, as emoções, a capacidade de conjecturar, de comparar, na busca da perfelização do objeto ou do achado de sua razão de ser”. De acordo com Tapscott (1997), a “geração net” mostra os seus trabalhos a uma ampla audiência, e dada a natureza do meio onde está exposta, o seu trabalho, a sua vida e as suas “vidas online” estão abertas à critica. Na Internet, a expressão pessoal passa a ser uma prioridade. Neste contexto, destaco o uso do Facebook no Brasil, que fechou o ano de 2012 com 65 milhões de seguidores, tornando o país a segunda maior comunidade ativa da empresa. Figura 10. Número de usuários do Facebook no Brasil Fonte: SocialBakers (2012). No gráfico a seguir, demostrarei a taxa de crescimento da rede Facebook no último ano, em relação a outros países.
  • 47. 45 Gráfico 2. Taxa de crescimento de usuários do Facebook, em 2012 Fonte: SocialBakers (2012). De acordo com Tapscott (1997), a “geração net” encoraja a passar-se de uma orientação local ou nacional, para global. Os laços afetivos dos membros desta geração não excluem as comunidades físicas. A “geração net” acredita na tolerância pela diversidade, beneficiando a sua afirmação individual. A Internet lhes deu a liberdade de escolher o que comprar, onde trabalhar ou conversar com amigos, e até mesmo quem eles querem ser. Políticos, como Barack Obama, têm se aproveitado disso fazendo uma linha icônica de Obama. “Sim, nós podemos”, que gerou um vídeo de música, conforme mostra a Figura 11, além de várias paródias positivas que se tornaram virais. Essas três palavras: “Sim, nós podemos”, mostram a crença da geração net, que pode fazer qualquer coisa, que ninguém pode dizer não. “Sim, nós podemos” foi perfeitamente sintonizado com esta geração, assim como o símbolo da paz foi para a minha geração. Eles estão em uma busca de liberdade, criando expectativas que podem surpreender e enfurecer os mais velhos.
  • 48. 46 Figura 11. Eleições presidenciais dos EUA Fonte: Youtube (2013). Tapscott (1997) aponta que a “geração net” é a nova controlada de informação. Dado o grande número de informações na Web, para não mencionar informações confiáveis de spam, phishing23, imprecisões, fraudes, golpes, estes jovens têm a capacidade de distinguir entre fato e ficção. Eles parecem ter alto nível de conhecimento sobre o mundo à sua volta e querem saber mais sobre o que está acontecendo. Eles usam as tecnologias digitais para descobrir o que está realmente acontecendo. Imagine o que aconteceria nos dias atuais, se Orson Welles narrasse a versão de rádio de Guerra dos Mundos, como o fez em 1938, quando causou o pânico generalizado em muitos ouvintes: “acredita que os marcianos de fato, desembarcaram”. Em um par de cliques, a nova geração iria descobrir que era pura ficção. É uma questão de afirmação da maturidade. A “geração net” quer ser reconhecida como mais madura. Existe um forte sentimento de independência e autonomia, o que resulta em um papel ativo que os seus membros desempenham enquanto investigadores de informação e não meros receptores passivos. O uso das mídias digitais permite a esta geração falar para os adultos de igual para igual. “Quando estou a utilizar o computador, ninguém sabe se sou ou não adulta. A partir da primeira impressão, já posso dizer-lhes que tenho 14 anos. Assim sou muito mais respeitada”, afirma Eric Mandela, uma das adolescentes consultadas por 23 Em computação, phishing, termo oriundo do inglês fishing, quer dizer pesca, é uma forma de fraude eletrônica, caracterizada por tentativas de adquirir dados pessoais de diversos tipos: senhas, dados financeiros como número de cartões de crédito e outros dados pessoais.
  • 49. 47 Tapscott (1997). Se observarmos as estatísticas demográficas do Facebook, no Brasil, verifica-se que esta informação se confirma, pois o maior grupo de idade é, atualmente, de 18 a 24 anos, com um total de 20.963.140 usuários, seguido pelos usuários na faixa etária de 25-34. Gráfico 3. Distribuição de idades dos usuários do Facebook Fonte: Socialbakers (2012) É interessante observar que as crianças com idade menor que 13 anos, por política da empresa, não podem ter perfil aberto, mas na prática, esta informação não é verdadeira. As novas gerações modificam os seus perfis para estar na rede social e podem interagir entre si. Existem algumas páginas de conteúdo exclusivamente infantis como, por exemplo, os fã-clubes de desenhos animados, como o Club Winx, Carrossel, Monsterhigh, entre outros. Figura 12. Página do Club Winx Fonte: Facebook-Brasil.
  • 50. 48 Figura 13. Página do Programa Infantil Carrossel – SBT Fonte: Facebook-Brasil. Figura 14. Página do Monsterhigh Fonte: Facebook-Brasil. A cultura da “geração net” caracteriza-se por um forte espírito de curiosidade, de investigação e de poder de alterar coisas. Para esta geração, não é suficiente ser capaz de utilizar os links, os jovens querem ser capazes de criar seus próprios links e seu próprio conteúdo, de acordo com as suas convicções. A Internet deu à “geração net” muitas oportunidades para se divertir online. Para esta geração, a Web é a ferramenta divertida de escolhas. Nela, é possível se atualizar sobre notícias, fazer buscas no Google, verificar e-mails e mensagens instantâneas nas redes sociais.
  • 51. 49 Há entretenimento de todo o mundo a partir de sites, conversando com amigos na rede e com jogos online. Há nicho de entretenimento que atende aos seus interesses, como HollywoodStockExchange. com para os cinéfilos, ou StyleDiary.net para os fashionistas. Muitos jovens da “geração net” maximizam suas interações envolvendo-se em vários netivities simultaneamente, como conversar com amigos no MSN enquanto sua música toca e navegar na Internet. O canal YouTube aumenta o nível de entretenimento interativo. Os usuários carregam centenas de milhares de vídeos diários, trechos de programas de televisão que eles gostam ou conteúdos que eles criaram e convidam outros usuários a votar e comentar sobre as submissões (TAPSCOTT,1997, p. 99). Alguns dos pontos abordados por Tapscott (1997) merecem atenção dos produtores de conteúdos e da sociedade civil como um todo. A “geração net” mudou este jogo. Eles não vão aceitar uma abordagem só de ida, ou seja, passivamente, pois eles foram imersos num mundo em que a comunicação de duas vias existe desde a infância. Esta geração é imune à publicidade ou aos conteúdos enlatados. Eles desejam participar e criar outras versões das histórias. “Eles somente darão atenção ao que acrescentar algum tipo de valor”, afirma Rheingold (1996, p. 6). Castells (1999), enfatizou o papel dos movimentos sociais na transformação da paisagem urbana com a introdução do conceito de “Consumo Coletivo” e o abandono das estruturas marxistas que sustentava, tentando justificar o papel das novas tecnologias de informação e comunicação em meio à reestruturação econômica. O autor utiliza as teorias de McLuhan (1964), que explicam o porquê da grande aceitação da televisão como mídia de massa: “lei do mínimo esforço” e “impacto social binário”. Todos precisam ter acesso à Internet para que uma “sociedade em rede”, que inclui possibilidade de participação e interação democrática entre governos e cidadãos, venha a concretizar as premissas da web. Redes constituem a nova morfologia de nossa sociedade se a difusão da lógica de redes modifica de forma substancial a operação e os resultados dos processos produtivos e de experiência, poder e cultura. Embora a forma de organização social em redes tenha existido em outros tempos e espaços, o novo paradigma da tecnologia da informação fornece a base material para sua expansão penetrante em toda a estrutura social (CASTELLS, 1999, p. 497).
  • 52. 50 2 A ARTE DE CONTAR HISTÓRIA O estudo da narrativa se perde no tempo da história. Aristóteles deixou um texto principal, que continua a ser útil na compreensão de como construir uma história: a poética. As histórias que se expressam em histórias orais, romances, histórias, filmes, séries de TV, quadrinhos e até mesmo nos jogos de vídeo. Para o psicólogo Bruner24 (1960), existem duas maneiras de dar sentido ao mundo que nos rodeia: uma maneira lógica formal, baseada em argumentos, e outra narrativa, baseada nas histórias. São duas formas diferentes de pensar e entender o que está acontecendo ao nosso redor. Isso se elucida no livro de Scolari (2013), quando cita que Hélios, na mitologia grega, era a personificação do Sol, um deus que cruzou o céu a cada dia com sua carruagem de fogo; por outro lado, Copérnico comprometeu-se a encontrar uma explicação lógica para o movimento da Terra em torno de sua estrela. Para Scolari (2013), a narrativa transmídia é um fenômeno que cruza de um lado ao outro da indústria cultural: ela interessa, ou deveria interessar, os jornalistas, os publicitários e os cineastas. O autor defende que quando se refere às narrativas transmídia, não está falando de uma adaptação de uma linguagem para outra (por exemplo, do livro em um filme), mas sim de uma estratégia que vai muito além, e que desenvolve um mundo narrativo que se estende por diferentes meios e linguagens. Assim, a história se expande a partir de novos personagens ou situações que cruzam as fronteiras do universo de ficção. Esta dispersão da narrativa textual possui uma rede de personagens e situações que compõem um mundo bastante complexo. Nos últimos 50 anos, vivemos uma mudança importante de paradigma. Os meios de comunicação tradicionais reproduziam conteúdos desenvolvidos por grandes conglomerados de comunicação e os indivíduos os consumiam passivamente. No ambiente digital, temos um novo cenário onde a nova geração está acostumada a navegar pelas diversas tecnologias e a produzir e consumir seus próprios conteúdos, que são produzidos a partir da colaboração de outros indivíduos e compartilhados através das redes sociais. Ou seja, o formato narrativo vem sofrendo 24 No livro Actual Minds, Possible Words, Bruner (1960) desenvolve uma síntese da psicologia, antropologia, sociologia e filosofia contemporâneas, abordando o papel da narrativa no processo de aprendizagem e a relação entre o construtivismo cognitivo e a educação.
  • 53. 51 uma grande transformação, misturando-se a ficção com a realidade, criando histórias intermediárias. Em sua apresentação durante o EDTED (Encontro de Design e Tecnologia Digital), de 2012, o Prof. Dr. Luli Radfarer comentou sobre a transmídia colaborativa, citando como exemplo, o livro. O formato tradicional do livro vem sofrendo transformações, as quais acabam modificando a forma de consumo do livro, o que não quer dizer, necessariamente, que o livro irá desaparecer, mas que os novos formatos midiáticos poderão modificar, sim, o formato que o conteúdo do livro é consumido, modelando as narrativas. Em sua palestra, ele cita o caso de Harry Porter, que enquanto narrativa terminou. Mas defende que o Universo Ficcional Hogwarts é perene e deverá sobreviver por muito tempo, pois possibilita aos fãs se apropriarem da riqueza de detalhes e criarem, a partir daí, novas histórias. Ele faz, ainda, um paralelo com a Disney, referindo-se à Cidade de Patópolis, pois este universo cognitivo faz toda a diferença na audiência, que se apropria dos detalhes da cidade nos dias atuais. 2.1 SABEMOS CONTAR HISTÓRIAS? Novamente, me submeto à experiência de fazer esta dissertação. No começo, me pareceu simples tratar sobre o assunto, mas observando algumas situações cotidianas, senti a necessidade de me amparar em algumas outras áreas de conhecimento, como a Psicologia, a Pedagogia e a própria história das comunicações. Uma das falas que ficaram registradas em minha trajetória profissional foi a questão da relevância e da simplicidade. Contamos e reproduzimos, à nossa maneira, aquilo que é relevante para a nossa vida. Guardamos em nossas memórias os contos de fadas pela sua simplicidade narrativa. No mundo das comunicações, a nossa maneira de contar as histórias mudou. No início do cinema, as narrativas eram simples e tratavam do cotidiano. Ao longo do tempo, passamos a sofisticar estas narrativas, adicionando efeitos especiais e incorporando novas tecnologias. Hoje, é praticamente impossível pensar no mundo sem a tal tecnologia. Conseguimos viver sem água um dia, quase não
  • 54. 52 sentimos o efeito de uma manutenção de emergência na rede de saneamento, porém, não podemos pensar em ficar sem a conexão da Internet por cinco segundos, sem esbravejar aos quatro cantos do mundo sobre as péssimas condições da rede de comunicação. Fico pensando na época feudal, quando os indivíduos tinham pouco acesso à informação e a vida era, essencialmente, baseada na agricultura. É bem verdade que naquela época, o indivíduo tinha pouco poder em suas mãos, afinal, o Estado supria tal necessidade. Após a invenção da prensa de Gutemberg, o cenário mudou: os papéis foram repensados na sociedade, colocando em cheque a própria existência do feudalismo. Veio a Era Industrial e, com ela, as mudanças passaram a ser mais rápidas. Mas de certa forma, o cotidiano mantinha um ar de simplicidade. As histórias dos indivíduos continuavam a seguir uma narrativa relativamente simples. Sim, os livros eram mais rebuscados e com termos mais complicados, a exemplo da narrativa organizada por Antoine Galland, sobre as “Mil e uma noites de Xerazade”25. Pensando bem, possivelmente se esta história fosse contada nos dias atuais, seria uma autêntica narrativa transmídia. Figura 15. Xerazade e as mil e uma noites Fonte: Maranos Filosofia Portuguesa (2007). O pesquisador Diólia de Carvalho Graziano desenvolveu um amplo estudo sobre o antropólogo Villen Flusser (2007), Graziano ressalta que o mundo codificado é aquele cujo significado geral da vida em si mudou sob o impacto da revolução na comunicação. Onde quer que se descubram códigos, pode-se deduzir algo sobre a humanidade. O mundo codificado que não significa mais processos, não conta história e em que viver nele não significa agir criou uma crise de valores na medida em que nós ainda continuamos sendo programados por textos. 25 Xerazade é a narradora dos contos das Mil e Uma Noites.
  • 55. 53 Segundo Graziano, as novas gerações já são programadas pelas imagens eletrônicas que nos circundam. Portanto, existe ainda em nós uma ignorância quanto aos novos códigos. Villen Flusser (2007, p. 137) defende: (...) senão seremos condenados a prolongar uma existência sem sentido em um mundo que se tornou codificado pela imaginação tecnológica. A decadência e a queda do alfabeto significam o fim da história, no sentido estrito da palavra. Os estudos pedagógicos atuais propõem que as crianças, na condição de protagonistas, modifiquem a história, dialoguem com outras histórias, incluindo situações e vivências do cotidiano, tornando as narrativas relevantes e promovendo, assim, o desenvolvimento do pensamento infantil. Contar histórias pressupõe certo preparo cognitivo e habilidades de oralidade, além de sequência lógica, raciocínio linguístico, habilidades interpessoais e intrapessoais. Desta forma, entendo que é necessário mencionar a teoria de Gardner (1995) sobre as inteligências múltiplas, pois cada uma destas inteligências está relacionada com a forma do indivíduo perceber o mundo e se apropriar das histórias, criando um repertório rico a partir destas inteligências e, assim, desenvolver novas narrativas. É importante ressaltar que, para Gardner (1995), a inteligência é a capacidade de solucionar problemas ou elaborar produtos que são importantes em um determinado ambiente ou comunidade cultural. A capacidade de resolver problemas permite às pessoas abordar situações, atingir objetivos e localizar caminhos adequados a esse objetivo. A criação de um produto cultural torna-se crucial nessa função, na medida em que captura e transmite o conhecimento ou expressa as opiniões ou sentimentos da pessoa. Os problemas a serem resolvidos são os mais diversos, indo desde uma teoria científica até uma composição poética ou musical. A teoria de Gardner (1995) classifica as inteligências em sete tipos diferentes, a saber: Inteligência linguística: o indivíduo possui uma sensibilidade para os sons, ritmos e significados das palavras, além de uma especial percepção das diferentes funções da linguagem. Esta habilidade é usada para convencer, agradar, estimular ou transmitir ideias. Gardner (1995) indica que é a habilidade exibida na sua maior intensidade pelos poetas. Em crianças, esta habilidade se manifesta através da
  • 56. 54 capacidade para contar histórias originais ou para relatar, com precisão, experiências vividas. Neste ponto, faço a minha primeira consideração: as crianças de hoje estão sendo incentivadas a relatar os fatos ou, ainda, a manifestar suas experiências? Acredito que este papel pertence aos pais e à escola, que devem estimular a produção de conteúdos, incentivando o hábito da leitura e da posterior discussão e entendimento do que foi apresentado, de forma lúdica e divertida, se valendo inclusive de artefatos tecnológicos para tal. De certa forma, faço um parêntese confortavelmente, pois alguns escritores e estudiosos, observando o seu cotidiano familiar, colhem informações e inspirações para os seus estudos. No final do ano passado, tive a oportunidade de presenciar uma das cenas mais interessantes da minha vida: a minha filha mais velha, com então nove anos, participou de um concurso na escola para novos escritores. A ideia do concurso era promover a releitura de contos clássicos e adaptá-los aos dias atuais pelos alunos. A minha filha, apaixonada pelo conto da Rapunzel, realizou a atividade, colocando a Rapunzel como uma jogadora habilidosa que havia sido trancada pela madrasta para ganhar um campeonato de Nintendo DS26. Sim, ela foi uma das 25 crianças ganhadoras do concurso, como melhor comédia. Um ponto merece destaque: ela também criou uma página no Facebook para compartilhar as suas histórias com seus amigos. Inteligência musical: é a habilidade para apreciar, compor ou reproduzir uma peça musical. Inclui discriminação de sons, habilidade para perceber temas musicais, sensibilidade para ritmos, texturas e timbre, e habilidade para produzir e/ou reproduzir música. A criança pequena, com habilidade musical especial, percebe desde cedo diferentes sons no seu ambiente e, frequentemente, canta para si mesma. Esta habilidade é fundamental no aprendizado de outros idiomas. Inteligência lógico-matemática: é a habilidade para explorar relações, categorias e padrões, através da manipulação de objetos ou símbolos, e para experimentar de forma controlada. É a habilidade para lidar com séries de raciocínios, para reconhecer problemas e resolvê-los. A criança com aptidão nesta inteligência demonstra facilidade para contar e fazer cálculos matemáticos e para criar notações práticas de seu raciocínio. Para criar histórias, é necessário o encadeamento lógico dos fatos e acontecimentos. 26 Nintendo DS: tipo de videogame portátil, desenvolvido pela Nintendo, em 2004.
  • 57. 55 Inteligência espacial: é a habilidade para manipular formas ou objetos mentalmente e, a partir das percepções iniciais, criar tensão, equilíbrio e composição, numa representação visual ou espacial. É a inteligência dos artistas plásticos, dos engenheiros e dos arquitetos. Nas crianças, o potencial é percebido através da habilidade para quebra-cabeças e outros jogos espaciais e a atenção a detalhes visuais. Esta habilidade é fundamental para a criação de roteiros e storyboards. Inteligência cinestésica: é a habilidade para usar a coordenação grossa ou fina para artes cênicas ou plásticas no controle dos movimentos do corpo e na manipulação de objetos com destreza. A criança se move com graça e expressão, a partir de estímulos musicais ou verbais, demonstrando uma grande habilidade atlética ou uma coordenação fina apurada. Inteligência interpessoal: esta inteligência pode ser descrita como uma habilidade para entender e responder adequadamente a humores, motivações e desejos de outras pessoas. Em sua forma mais primitiva, a inteligência interpessoal se manifesta em crianças como a habilidade para distinguir pessoas, e na sua forma mais avançada, como a habilidade para perceber intenções e desejos de outras pessoas e para reagir apropriadamente a partir dessa percepção. Inteligência intrapessoal: esta inteligência é o correlativo interno da inteligência interpessoal, isto é, a habilidade para ter acesso aos próprios sentimentos, sonhos e ideias, para discriminá-los e lançar mão deles na solução de problemas pessoais. Esta inteligência é percebida através dos sistemas simbólicos das outras inteligências, ou seja, através de manifestações linguísticas, musicais ou cinestésicas. Novamente, a percepção cognitiva surge como um aliado nas criações de novas histórias. A juventude deve ampliar suas competências requeridas e não deixar de lado as antigas habilidades para dar espaço para o novo. De acordo com Jenkins (2009), para que as crianças consigam se envolver com a nova cultura participativa, elas devem ser capazes de ler e escrever. No processo de construção das narrativas, um indivíduo pode decidir se vai empregar a inteligência linguística como escritor, advogado, vendedor, poeta ou orador. No entanto, as culturas podem favorecer ou impedir a possibilidade de usos