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RECENSÃO

                                                            JOSÉ PEDRO TEIXEIRA
A caminho                                                   FERNANDES
                                                            Islamismo e
da Eurábia?                                                 Multiculturalismo.
                                                            As Ideologias após
islamismo                                                   o Fim da História
e multiculturalismo                                         Coimbra,
                                                            Almedina,
                                                            2006, 343 páginas
no espaço europeu
João Pedro Vieira

UMA SIMBIOSE IDEOLÓGICA INESPERADA
A presente publicação, peculiar pela sua temática na
literatura académica portuguesa, surge na sequência
de um prolongado percurso de investigação do autor
sobretudo marcado, em época mais recente e no que
concerne à presente obra, por estudos relacionados
com a história e a política turca. Para o tratamento da
temática das sinergias ideológicas entre islamismo e
multiculturalismo no seio das sociedades europeias, o
autor, doutorado em Ciência Política e Relações Inter-
nacionais pela Universidade do Minho e professor-coor-
denador do ISCET, beneficia igualmente de um relevante
capital intelectual ligado à teoria das Relações Inter-
nacionais e da Economia Política, o qual dar outras perspectivas, dada a profunda
mobiliza activamente na obra aqui apre- intersecção entre religião e política nele
ciada.                                        operada. De qualquer modo, o islamismo
O corpo do trabalho, de estrutura sólida, deve ser prioritariamente entendido como
clara e fluida, está dividido em cinco capí- ideologia política e não como simples
tulos, a que se juntam por mais de oitenta matéria de cultura e religião, conforme
páginas, após a conclusão, doze diversos advoga o autor.
anexos. O islamismo, um dos eixos temá-
ticos da obra, é aqui trazido na perspec- AVALIANDO DESAFIOS E RISCOS
tiva particular da ciência política, o que, IDEOLÓGICOS E SOCIOPOLÍTICOS
ressaltando – no que ao autor directamente A introdução da obra coloca o leitor em
interessava – a dimensão essencialmente contacto imediato com o enquadramento
política do fenómeno, não deve fazer olvi- genérico do estudo. Aí se apresentam

                                                                                167
RELAÇÕES INTERNACIONAIS MARÇO : 2008 17   [ pp. 167-172 ]
este último com «objectivos explícitos ou
sucintamente os seus pressupostos, meto-
                                                 implícitos de conquista do poder» (p. 28):
dologia e hipótese geral a demonstrar,
                                                 objecto obrigatório, portanto, de crítica e
assim como a organização do trabalho.
                                                 discussão nos espaços públicos ociden-
O autor considera que a transformação
                                                 tais.
recente de estruturas geopolíticas mun-
                                                 Passados os pontos iniciais, são enun-
diais cria condições para rever a tese da
                                                 ciadas as três principais variantes do
hegemonia global indisputada da demo-
                                                 islamismo – radical, «capitalista», «multi-
cracia capitalista liberal. Essa tese, porém,
                                                 culturalista» – e avançada a sua contex-
assenta numa visão redutora e eurocên-
                                                 tualização e caracterização. As correntes
trica do fenómeno político à escala glo-
                                                 «capitalista» e «multiculturalista» recebem
bal, dificilmente capaz de identificar
                                                 maior destaque, porquanto aparentam
«formas de competição ideológica» (p. 8)
                                                 concentrar maior potencial expansivo e
emergentes, nomeadamente o islamismo
                                                 destabilizador entre as populações muçul-
e o multiculturalismo.
                                                 manas situadas no seio das sociedades
Isso porque o eixo do conflito ideológico
                                                 ocidentais e acarretar uma ameaça securi-
se tem vindo a deslocar do campo da eco-
                                                 tária latente. Em ambos os casos, ocorrem
nomia política para o campo da cultura,
                                                 fenómenos de apropriação e transforma-
no âmbito de um processo de reconfigu-
                                                 ção de produtos de uma «civilização» oci-
ração e reestruturação política e ideoló-
                                                 dental em vectores privilegiados de
gica, quer nas sociedades ocidentais, quer
                                                 proliferação ideológica do islamismo.
no plano internacional; duplo espaço esse
                                                 Enquanto o islamismo radical preconiza
em que o islamismo, na sua complexidade
                                                 o modelo da teodemocracia e do Estado
e heterogeneidade, goza de um «signifi-
                                                                                            -
                                                 islâmico (teocrático) regido pela sharı ‘a,
cativo potencial de expansão» (p. 11).
                                                 praticando necessariamente uma fusão
O primeiro capítulo do estudo, intitulado
                                                 entre o religioso e o político, o modelo
«O islamismo como ideologia não oci-
                                                 dito «capitalista» adopta estratégias sub-rep-
dental de ambição universalista», começa
                                                 tícias de implementação do seu programa
por tratar da genealogia do termo «isla-
                                                 ideológico, afastando-se pontualmente de
mismo», delimitando por empréstimo o
                                                 reivindicações radicais e posições intran-
seu conteúdo: o islamismo é um «amplo
                                                 sigentes, e suscitando, em suma, uma sín-
movimento que abrange todos os que pro-
                                                 tese pragmática entre capitalismo e
curam islamizar o ambiente onde se
                                                 islamismo orientada para a reislamização
encontram» (p. 27). A «tradição holística
                                                 do todo sociopolítico. Já a corrente «mul-
do Islão» (p. 26), o seu carácter totalizante,
                                                 ticulturalista» apresenta-se como produto
assim como o seu típico militantismo
                                                 específico da interacção entre sociedades
– com assíduo recurso a práticas de dissi-
                                                 ocidentais e grupos muçulmanos imigra-
mulação –, criam uma considerável ameaça
                                                 dos; a sua actuação é moderada ou até
securitária e sociológica nas sociedades
                                                 progressista e os seus líderes tendem a
ocidentais, razão prática pela qual é fun-
                                                 monopolizar a representação mediática e
damental distinguir o Islão do islamismo,

                                                                                           168
RELAÇÕES INTERNACIONAIS MARÇO : 2008 17
Este novo complexo ideológico ocidental
institucional das populações muçulmanas
                                                       entronca na necessidade ou exigência de
imigrantes. Para o autor, o seu objectivo
                                                       reconhecimento associada à defesa das
geral será a islamização do sistema edu-
                                                       minorias, da sua identidade e autonomia.
cativo e dos estilos de vida, num investi-
                                                       Depois de percorridos os fundamentos
mento a longo prazo em países como a
                                                       ideológicos do multiculturalismo, o autor
Grã-Bretanha, a Holanda ou a Alemanha.
                                                       delimita e trata dois modelos de «espaço
O segundo capítulo trata da «conexão cul-
                                                       multicultural», ambos eminentemente
tural» entre os movimentos islamitas,
                                                       políticos: o liberal/cidadania diferenciada
a diáspora muçulmana na Europa e as popu-
                                                       (modelo liberal multicultural da tipologia
lações muçulmanas autóctones dos Balcãs.
                                                       de Andrea Semprini) e o marxista-cultu-
Adoptando a noção de «muçulmano so-
                                                       ral/pós-moderno (multicultural «maxi-
ciológico» – porventura excessivamente
                                                       malista»). Apesar da sua heterogeneidade
abrangente – e expondo as diversas limita-
                                                       global, da concorrência de substanciais
ções à formação de uma percepção fiável
                                                       variações ou divergências de sensibilida-
da expressão demográfica das populações
                                                       des, ambas as correntes convergem na
muçulmanas balcânicas, o autor apresenta
                                                       ideia da obsolescência do modelo político
as respectivas estimativas e leituras ideo-
                                                       liberal clássico.
lógicas antagónicas subjacentes – entre a
                                                       A denúncia da opressão das minorias, do
defesa e a diabolização do Islão –, as quais
                                                       racismo, do imperialismo político ou cul-
explicam a preferência de cifras maxima-
                                                       tural, constitui factor de aproximação entre
listas ou minimalistas. De seguida, é des-
                                                       os discursos ideológicos islamita e mul-
montada a expressão operativa «comuni-
                                                       ticulturalista marxista-cultural. As simili-
dade muçulmana», demonstrado o seu
                                                       tudes ideológicas permitem, no limite,
carácter redutor e desenvolvidos estudos
                                                       o desenvolvimento de bloqueios intelectuais
de caso sobre as realidades britânica, fran-
                                                       que desembocam num «desarmamento
cesa, holandesa, germânica e balcânica.
                                                       intelectual» (p. 161) face ao islamismo no
Torna-se assim patente a heterogeneidade
                                                       geral, fenómeno assaz flagrante no mul-
étnica, linguística e mesmo religiosa das
                                                       ticulturalismo denominado marxista-cul-
populações muçulmanas imigrantes e as
                                                       tural. Trata-se, com efeito, da existência
modalidades e dificuldades de relaciona-
                                                       de um aparente défice crítico em relação
mento entre essas populações e os esta-
                                                       ao islamismo que é adicionalmente poten-
dos europeus.
                                                       ciado por uma atitude francamente nega-
O multiculturalismo é o núcleo temático
                                                       tiva e historicamente enraizada para com
polarizador do terceiro capítulo. À seme-
                                                       a cultura ocidental. Finalizando o capí-
lhança do anteriormente efectuado com o
                                                       tulo, o autor procede a uma desmontagem
conceito de islamismo, o autor desenvolve
                                                       do sistema de millet como modelo para-
agora considerações sobre a genealogia
                                                       digmático (e utópico) de Estado multi-
do conceito de multiculturalismo, «pro-
                                                       cultural, denunciando, entre outros erros,
duto cultural estreitamente associado ao
                                                       o anacronismo da retroprojecção de um
universo cultural anglo-saxónico» (p. 122).

                                                                                               169
A caminho da Eurábia? islamismo e multiculturalismo no espaço europeu João Vieira
-
                                               jihad, são desmembradas e enjeitadas com
corpo conceptual próprio da ciência polí-
                                               recurso a literatura especializada, aler-
tica ocidental completamente estranho à
                                               tando-se para o risco que representam ao
realidade histórica em causa.
                                               atribuir uma certa legitimidade às reivin-
As similitudes discursivas e até ideológi-
                                               dicações de movimentos islamitas que
cas entre multiculturalismo e islamismo
                                               vêem os territórios ibéricos como terra
são aprofundadas no capítulo seguinte.
                                               ocupada a recuperar.
Os antecedentes dessa aproximação levam
                                               A conclusão, encerrando o corpo do tra-
o autor até Nietzsche e à colaboração activa
                                               balho, cinge-se genericamente ao resumo
entre os regimes nacional-socialista ale-
                                               das principais e parciais conclusões adu-
mão e fascista italiano com governos ára-
                                               zidas ao longo do estudo, em busca de
bes-muçulmanos coetâneos. O autor finda
                                               uma síntese integradora, advertindo espe-
por deduzir a ressurgência de um processo
                                               cialmente para o risco representado pela
de aproximação entre radicalismos,
                                               convergência desestruturadora entre radi-
nomeadamente entre partidos europeus,
                                               calismos políticos islâmicos e ocidentais
quer de extrema-esquerda quer da extrema-
                                               no interior das sociedades de matriz civi-
direita, e movimentos islamitas. Mas as
                                               lizacional ocidental.
estratégias dos movimentos islamitas
                                               Segue-se, rematando a obra, um conjunto
estendem-se outrossim ao uso da teolo-
                                               muito enriquecedor e pertinente de ane-
gia, explorando pontos de contacto entre
                                               xos que abordam diferentes matérias, com
as tradições religiosas cristãs e islâmicas,
                                               recurso alargado a extensas citações de
e suavizando ou omitindo discrepâncias
                                               documentos ou literatura especializada,
de fundo, à deturpação do conceito de
                                                            -
                                               desde a sharı‘a (anexo 1), a sunna e os aha-
«islamofobia» e à apropriação táctica dos
                                                                      -
                                               dith (anexo 2) ou a jihad (anexo 5), até diver-
valores ocidentais para fins de reislami-
                                               sos decretos jurídico-religiosos (fatwa;
zação.
                                               anexos 8-10) e a excertos da carta funda-
O quinto e penúltimo capítulo trata da
                                               dora do Hamas (anexo 12). Este conjunto
representação ideológica multiculturalista
                                               de anexos, para além de auxiliar a con-
do al-Andalus medieval (711-1492), onde
                                               textualização e o suporte de toda a infor-
se compendiam em traços largos as pers-
                                               mação tratada no corpo do trabalho,
pectivas historiográficas de Castro e de
                                               permite abrir uma janela suplementar à
Olagüe que, conquanto historiografica-
                                               forma mentis islâmica.
mente ultrapassadas ou insustentáveis,
ganharam particular relevância e aceita-
ção entre os correligionários do multi-        BALANÇO: VIRTUDES, LIMITAÇÕES
culturalismo – exemplo da recente obra         E PERSPECTIVAS
da autoria de Sardar e Davis – e certos gru-   Posta esta dilatada resenha dos conteúdos
pos de muçulmanos imigrados. Estas e           da obra, cabe agora deixar algumas obser-
outras visões idealizadas e claramente         vações mais demoradas sobre diversos
orientadas do ponto de vista ideológico,       aspectos de cariz mais metodológico e
incidindo também sobre o al-Andalus e a        conceptual. A abundância de citações e

                                                                                          170
RELAÇÕES INTERNACIONAIS MARÇO : 2008 17
ocidentais de acordo com as suas próprias
remissões ao longo do texto, mau grado
                                                       coordenadas.
lhe confiram amplo suporte, parece por
                                                       Isto, todavia, sem que o próprio autor deixe
vezes colaborar para a construção de um
                                                       de incorrer na reprodução de algumas des-
discurso muito próximo, nas suas linhas
                                                       sas imprecisões, nomeadamente no que
de investigação e visões interpretativas, da
                                                       respeita ao uso problemático ou impró-
bibliografia – em que se estranha a ausên-
                                                       prio dos termos «rito» (e.g., pp. 82 e 116)
cia da referência aos estudos citados de
                                                       e «clérigo» (p. 49). O primeiro deles,
Samir Khalil Samir –, apagando um pouco
                                                       visando exprimir o árabe madhhab, deve-
a individualidade e originalidade do
                                                       ria ser preterido em favor da expressão
estudo. O seu principal mérito talvez resida
                                                       «escolas teológico-jurídicas», adiante usada
na abertura consistente de um campo de
                                                       pelo autor (pp. 193 e 294). O termo madh-
exploração na ciência política nacional
                                                       hab designa genericamente modos espe-
para uma temática até então na penum-
                                                       cíficos de interpretação das fontes
bra. Os principais desenvolvimentos da
                                                       normativo-religiosas do Islão e o seu pro-
obra caracterizam-se, portanto, pelo
                                                       duto, extravasando a dimensão puramente
esforço de síntese, especialmente visível
                                                       jurídica ou ritual que o vocábulo «rito» lhe
na conclusão, que carece em certa medida
                                                       atribui de forma redutora.
de rasgo interpretativo, quase circunscrita
                                                       No que respeita ao termo «clérigo», a sua
à reunião das principais conclusões ou
                                                       aplicação à realidade iraniana é pertinente,
informes expostos ao longo do trabalho.
                                                       dado o protagonismo político e institu-
A discussão das potencialidades e limita-
                                                       cional da hierarquia religiosa, não dei-
ções do multiculturalismo e sua conexão
                                                       xando, contudo, de revestir essa realidade
com o islamismo poderia ter sido desen-
                                                       de contornos ocidentais. Apesar das simi-
volvida, considerando a relevância atri-
                                                       litudes com a realidade institucional cató-
buída ao plano social, com aportações da
                                                       lica, não existe propriamente ordenação
esfera da psicologia social, dado o carác-
                                                       sacramental nem sacerdócio no Islão: na
ter estruturante de fenómenos como o pre-
                                                       generalidade do mundo islâmico, não
conceito e o estereótipo, consequência de
                                                       existe uma tal instância necessária de
processos de construção identitária e dinâ-
                                                       mediação entre as esferas humana e divina,
micas inerentes à sua existência social.
                                                       o que poderia ter sido assinalado.
É perceptível desde a introdução um
                                                       De notar também, a par da preocupação
esforço muito relevante no sentido da
                                                       pela desmontagem de ideias preconcebi-
desarticulação de lugares-comuns, falá-
                                                       das e simplificações abusivas, a opção trans-
cias ou simples paralogismos discursivos
                                                       versal de contextualização histórica das
cuja ocorrência parte, não raro, da lite-
                                                       problemáticas abordadas, o esforço de
ratura especializada ou dela se estende.
                                                       enquadramento personalizado de cada uma,
É reconhecida a necessidade de apreen-
                                                       amiúde reforçado por notas de rodapé
são de um contexto ideológico que se rege
                                                       prolixas e pelos diversos anexos já men-
por estruturas conceptuais e modos de
                                                       cionados. As notas de rodapé assumem fre-
representação da realidade diferentes dos

                                                                                                171
A caminho da Eurábia? islamismo e multiculturalismo no espaço europeu João Vieira
quentemente, no entanto, uma extensão        Alcorão de José Pedro Machado, em detri-
desmesurada e o seu conteúdo poderia even-   mento da edição da SPORPRESS utilizada
tualmente ter enriquecido directamente o     pelo autor. A liberdade frequentemente
corpo do trabalho ou os anexos.              tomada nesta tradução leva a distorções
De registar ainda a não uniformização das    significativas de conteúdo, caso do v. 2:105
citações de textos (nem sempre traduzi-      (não utilizado pelo autor), cuja tradução
das), a não vernacularização integral de     nega o sustentáculo alcorânico de refe-
                                                                                     -
alguns estrangeirismos (e.g., kizilbaxes),   rência para a teoria da ab-rogação (nasikh
                                                      -
                                             wa mansukh).
casos de hifenização aparentemente des-
necessária (e.g., socialismo-comunista) e    Aguardar-se-ão próximos estudos em que
a persistência do galicismo «Corão», em      o autor possa aprofundar a sua visão sobre
detrimento do vocábulo português «Alco-      a temática do islamismo e do multicultu-
rão», tudo isto apesar de manifestas preo-   ralismo e alargar o espaço de reflexão
cupações de consentaneidade com a estru-     nacional sobre tais temáticas, com even-
tura lexical portuguesa (p. 167, n. 2).      tuais desenvolvimentos sobre os contex-
Deveria ter sido preferida a tradução do     tos balcânico e turco.




                                                                                     172
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Recensão de livro sobre islamismo e multiculturalismo

  • 1. RECENSÃO JOSÉ PEDRO TEIXEIRA A caminho FERNANDES Islamismo e da Eurábia? Multiculturalismo. As Ideologias após islamismo o Fim da História e multiculturalismo Coimbra, Almedina, 2006, 343 páginas no espaço europeu João Pedro Vieira UMA SIMBIOSE IDEOLÓGICA INESPERADA A presente publicação, peculiar pela sua temática na literatura académica portuguesa, surge na sequência de um prolongado percurso de investigação do autor sobretudo marcado, em época mais recente e no que concerne à presente obra, por estudos relacionados com a história e a política turca. Para o tratamento da temática das sinergias ideológicas entre islamismo e multiculturalismo no seio das sociedades europeias, o autor, doutorado em Ciência Política e Relações Inter- nacionais pela Universidade do Minho e professor-coor- denador do ISCET, beneficia igualmente de um relevante capital intelectual ligado à teoria das Relações Inter- nacionais e da Economia Política, o qual dar outras perspectivas, dada a profunda mobiliza activamente na obra aqui apre- intersecção entre religião e política nele ciada. operada. De qualquer modo, o islamismo O corpo do trabalho, de estrutura sólida, deve ser prioritariamente entendido como clara e fluida, está dividido em cinco capí- ideologia política e não como simples tulos, a que se juntam por mais de oitenta matéria de cultura e religião, conforme páginas, após a conclusão, doze diversos advoga o autor. anexos. O islamismo, um dos eixos temá- ticos da obra, é aqui trazido na perspec- AVALIANDO DESAFIOS E RISCOS tiva particular da ciência política, o que, IDEOLÓGICOS E SOCIOPOLÍTICOS ressaltando – no que ao autor directamente A introdução da obra coloca o leitor em interessava – a dimensão essencialmente contacto imediato com o enquadramento política do fenómeno, não deve fazer olvi- genérico do estudo. Aí se apresentam 167 RELAÇÕES INTERNACIONAIS MARÇO : 2008 17 [ pp. 167-172 ]
  • 2. este último com «objectivos explícitos ou sucintamente os seus pressupostos, meto- implícitos de conquista do poder» (p. 28): dologia e hipótese geral a demonstrar, objecto obrigatório, portanto, de crítica e assim como a organização do trabalho. discussão nos espaços públicos ociden- O autor considera que a transformação tais. recente de estruturas geopolíticas mun- Passados os pontos iniciais, são enun- diais cria condições para rever a tese da ciadas as três principais variantes do hegemonia global indisputada da demo- islamismo – radical, «capitalista», «multi- cracia capitalista liberal. Essa tese, porém, culturalista» – e avançada a sua contex- assenta numa visão redutora e eurocên- tualização e caracterização. As correntes trica do fenómeno político à escala glo- «capitalista» e «multiculturalista» recebem bal, dificilmente capaz de identificar maior destaque, porquanto aparentam «formas de competição ideológica» (p. 8) concentrar maior potencial expansivo e emergentes, nomeadamente o islamismo destabilizador entre as populações muçul- e o multiculturalismo. manas situadas no seio das sociedades Isso porque o eixo do conflito ideológico ocidentais e acarretar uma ameaça securi- se tem vindo a deslocar do campo da eco- tária latente. Em ambos os casos, ocorrem nomia política para o campo da cultura, fenómenos de apropriação e transforma- no âmbito de um processo de reconfigu- ção de produtos de uma «civilização» oci- ração e reestruturação política e ideoló- dental em vectores privilegiados de gica, quer nas sociedades ocidentais, quer proliferação ideológica do islamismo. no plano internacional; duplo espaço esse Enquanto o islamismo radical preconiza em que o islamismo, na sua complexidade o modelo da teodemocracia e do Estado e heterogeneidade, goza de um «signifi- - islâmico (teocrático) regido pela sharı ‘a, cativo potencial de expansão» (p. 11). praticando necessariamente uma fusão O primeiro capítulo do estudo, intitulado entre o religioso e o político, o modelo «O islamismo como ideologia não oci- dito «capitalista» adopta estratégias sub-rep- dental de ambição universalista», começa tícias de implementação do seu programa por tratar da genealogia do termo «isla- ideológico, afastando-se pontualmente de mismo», delimitando por empréstimo o reivindicações radicais e posições intran- seu conteúdo: o islamismo é um «amplo sigentes, e suscitando, em suma, uma sín- movimento que abrange todos os que pro- tese pragmática entre capitalismo e curam islamizar o ambiente onde se islamismo orientada para a reislamização encontram» (p. 27). A «tradição holística do todo sociopolítico. Já a corrente «mul- do Islão» (p. 26), o seu carácter totalizante, ticulturalista» apresenta-se como produto assim como o seu típico militantismo específico da interacção entre sociedades – com assíduo recurso a práticas de dissi- ocidentais e grupos muçulmanos imigra- mulação –, criam uma considerável ameaça dos; a sua actuação é moderada ou até securitária e sociológica nas sociedades progressista e os seus líderes tendem a ocidentais, razão prática pela qual é fun- monopolizar a representação mediática e damental distinguir o Islão do islamismo, 168 RELAÇÕES INTERNACIONAIS MARÇO : 2008 17
  • 3. Este novo complexo ideológico ocidental institucional das populações muçulmanas entronca na necessidade ou exigência de imigrantes. Para o autor, o seu objectivo reconhecimento associada à defesa das geral será a islamização do sistema edu- minorias, da sua identidade e autonomia. cativo e dos estilos de vida, num investi- Depois de percorridos os fundamentos mento a longo prazo em países como a ideológicos do multiculturalismo, o autor Grã-Bretanha, a Holanda ou a Alemanha. delimita e trata dois modelos de «espaço O segundo capítulo trata da «conexão cul- multicultural», ambos eminentemente tural» entre os movimentos islamitas, políticos: o liberal/cidadania diferenciada a diáspora muçulmana na Europa e as popu- (modelo liberal multicultural da tipologia lações muçulmanas autóctones dos Balcãs. de Andrea Semprini) e o marxista-cultu- Adoptando a noção de «muçulmano so- ral/pós-moderno (multicultural «maxi- ciológico» – porventura excessivamente malista»). Apesar da sua heterogeneidade abrangente – e expondo as diversas limita- global, da concorrência de substanciais ções à formação de uma percepção fiável variações ou divergências de sensibilida- da expressão demográfica das populações des, ambas as correntes convergem na muçulmanas balcânicas, o autor apresenta ideia da obsolescência do modelo político as respectivas estimativas e leituras ideo- liberal clássico. lógicas antagónicas subjacentes – entre a A denúncia da opressão das minorias, do defesa e a diabolização do Islão –, as quais racismo, do imperialismo político ou cul- explicam a preferência de cifras maxima- tural, constitui factor de aproximação entre listas ou minimalistas. De seguida, é des- os discursos ideológicos islamita e mul- montada a expressão operativa «comuni- ticulturalista marxista-cultural. As simili- dade muçulmana», demonstrado o seu tudes ideológicas permitem, no limite, carácter redutor e desenvolvidos estudos o desenvolvimento de bloqueios intelectuais de caso sobre as realidades britânica, fran- que desembocam num «desarmamento cesa, holandesa, germânica e balcânica. intelectual» (p. 161) face ao islamismo no Torna-se assim patente a heterogeneidade geral, fenómeno assaz flagrante no mul- étnica, linguística e mesmo religiosa das ticulturalismo denominado marxista-cul- populações muçulmanas imigrantes e as tural. Trata-se, com efeito, da existência modalidades e dificuldades de relaciona- de um aparente défice crítico em relação mento entre essas populações e os esta- ao islamismo que é adicionalmente poten- dos europeus. ciado por uma atitude francamente nega- O multiculturalismo é o núcleo temático tiva e historicamente enraizada para com polarizador do terceiro capítulo. À seme- a cultura ocidental. Finalizando o capí- lhança do anteriormente efectuado com o tulo, o autor procede a uma desmontagem conceito de islamismo, o autor desenvolve do sistema de millet como modelo para- agora considerações sobre a genealogia digmático (e utópico) de Estado multi- do conceito de multiculturalismo, «pro- cultural, denunciando, entre outros erros, duto cultural estreitamente associado ao o anacronismo da retroprojecção de um universo cultural anglo-saxónico» (p. 122). 169 A caminho da Eurábia? islamismo e multiculturalismo no espaço europeu João Vieira
  • 4. - jihad, são desmembradas e enjeitadas com corpo conceptual próprio da ciência polí- recurso a literatura especializada, aler- tica ocidental completamente estranho à tando-se para o risco que representam ao realidade histórica em causa. atribuir uma certa legitimidade às reivin- As similitudes discursivas e até ideológi- dicações de movimentos islamitas que cas entre multiculturalismo e islamismo vêem os territórios ibéricos como terra são aprofundadas no capítulo seguinte. ocupada a recuperar. Os antecedentes dessa aproximação levam A conclusão, encerrando o corpo do tra- o autor até Nietzsche e à colaboração activa balho, cinge-se genericamente ao resumo entre os regimes nacional-socialista ale- das principais e parciais conclusões adu- mão e fascista italiano com governos ára- zidas ao longo do estudo, em busca de bes-muçulmanos coetâneos. O autor finda uma síntese integradora, advertindo espe- por deduzir a ressurgência de um processo cialmente para o risco representado pela de aproximação entre radicalismos, convergência desestruturadora entre radi- nomeadamente entre partidos europeus, calismos políticos islâmicos e ocidentais quer de extrema-esquerda quer da extrema- no interior das sociedades de matriz civi- direita, e movimentos islamitas. Mas as lizacional ocidental. estratégias dos movimentos islamitas Segue-se, rematando a obra, um conjunto estendem-se outrossim ao uso da teolo- muito enriquecedor e pertinente de ane- gia, explorando pontos de contacto entre xos que abordam diferentes matérias, com as tradições religiosas cristãs e islâmicas, recurso alargado a extensas citações de e suavizando ou omitindo discrepâncias documentos ou literatura especializada, de fundo, à deturpação do conceito de - desde a sharı‘a (anexo 1), a sunna e os aha- «islamofobia» e à apropriação táctica dos - dith (anexo 2) ou a jihad (anexo 5), até diver- valores ocidentais para fins de reislami- sos decretos jurídico-religiosos (fatwa; zação. anexos 8-10) e a excertos da carta funda- O quinto e penúltimo capítulo trata da dora do Hamas (anexo 12). Este conjunto representação ideológica multiculturalista de anexos, para além de auxiliar a con- do al-Andalus medieval (711-1492), onde textualização e o suporte de toda a infor- se compendiam em traços largos as pers- mação tratada no corpo do trabalho, pectivas historiográficas de Castro e de permite abrir uma janela suplementar à Olagüe que, conquanto historiografica- forma mentis islâmica. mente ultrapassadas ou insustentáveis, ganharam particular relevância e aceita- ção entre os correligionários do multi- BALANÇO: VIRTUDES, LIMITAÇÕES culturalismo – exemplo da recente obra E PERSPECTIVAS da autoria de Sardar e Davis – e certos gru- Posta esta dilatada resenha dos conteúdos pos de muçulmanos imigrados. Estas e da obra, cabe agora deixar algumas obser- outras visões idealizadas e claramente vações mais demoradas sobre diversos orientadas do ponto de vista ideológico, aspectos de cariz mais metodológico e incidindo também sobre o al-Andalus e a conceptual. A abundância de citações e 170 RELAÇÕES INTERNACIONAIS MARÇO : 2008 17
  • 5. ocidentais de acordo com as suas próprias remissões ao longo do texto, mau grado coordenadas. lhe confiram amplo suporte, parece por Isto, todavia, sem que o próprio autor deixe vezes colaborar para a construção de um de incorrer na reprodução de algumas des- discurso muito próximo, nas suas linhas sas imprecisões, nomeadamente no que de investigação e visões interpretativas, da respeita ao uso problemático ou impró- bibliografia – em que se estranha a ausên- prio dos termos «rito» (e.g., pp. 82 e 116) cia da referência aos estudos citados de e «clérigo» (p. 49). O primeiro deles, Samir Khalil Samir –, apagando um pouco visando exprimir o árabe madhhab, deve- a individualidade e originalidade do ria ser preterido em favor da expressão estudo. O seu principal mérito talvez resida «escolas teológico-jurídicas», adiante usada na abertura consistente de um campo de pelo autor (pp. 193 e 294). O termo madh- exploração na ciência política nacional hab designa genericamente modos espe- para uma temática até então na penum- cíficos de interpretação das fontes bra. Os principais desenvolvimentos da normativo-religiosas do Islão e o seu pro- obra caracterizam-se, portanto, pelo duto, extravasando a dimensão puramente esforço de síntese, especialmente visível jurídica ou ritual que o vocábulo «rito» lhe na conclusão, que carece em certa medida atribui de forma redutora. de rasgo interpretativo, quase circunscrita No que respeita ao termo «clérigo», a sua à reunião das principais conclusões ou aplicação à realidade iraniana é pertinente, informes expostos ao longo do trabalho. dado o protagonismo político e institu- A discussão das potencialidades e limita- cional da hierarquia religiosa, não dei- ções do multiculturalismo e sua conexão xando, contudo, de revestir essa realidade com o islamismo poderia ter sido desen- de contornos ocidentais. Apesar das simi- volvida, considerando a relevância atri- litudes com a realidade institucional cató- buída ao plano social, com aportações da lica, não existe propriamente ordenação esfera da psicologia social, dado o carác- sacramental nem sacerdócio no Islão: na ter estruturante de fenómenos como o pre- generalidade do mundo islâmico, não conceito e o estereótipo, consequência de existe uma tal instância necessária de processos de construção identitária e dinâ- mediação entre as esferas humana e divina, micas inerentes à sua existência social. o que poderia ter sido assinalado. É perceptível desde a introdução um De notar também, a par da preocupação esforço muito relevante no sentido da pela desmontagem de ideias preconcebi- desarticulação de lugares-comuns, falá- das e simplificações abusivas, a opção trans- cias ou simples paralogismos discursivos versal de contextualização histórica das cuja ocorrência parte, não raro, da lite- problemáticas abordadas, o esforço de ratura especializada ou dela se estende. enquadramento personalizado de cada uma, É reconhecida a necessidade de apreen- amiúde reforçado por notas de rodapé são de um contexto ideológico que se rege prolixas e pelos diversos anexos já men- por estruturas conceptuais e modos de cionados. As notas de rodapé assumem fre- representação da realidade diferentes dos 171 A caminho da Eurábia? islamismo e multiculturalismo no espaço europeu João Vieira
  • 6. quentemente, no entanto, uma extensão Alcorão de José Pedro Machado, em detri- desmesurada e o seu conteúdo poderia even- mento da edição da SPORPRESS utilizada tualmente ter enriquecido directamente o pelo autor. A liberdade frequentemente corpo do trabalho ou os anexos. tomada nesta tradução leva a distorções De registar ainda a não uniformização das significativas de conteúdo, caso do v. 2:105 citações de textos (nem sempre traduzi- (não utilizado pelo autor), cuja tradução das), a não vernacularização integral de nega o sustentáculo alcorânico de refe- - alguns estrangeirismos (e.g., kizilbaxes), rência para a teoria da ab-rogação (nasikh - wa mansukh). casos de hifenização aparentemente des- necessária (e.g., socialismo-comunista) e Aguardar-se-ão próximos estudos em que a persistência do galicismo «Corão», em o autor possa aprofundar a sua visão sobre detrimento do vocábulo português «Alco- a temática do islamismo e do multicultu- rão», tudo isto apesar de manifestas preo- ralismo e alargar o espaço de reflexão cupações de consentaneidade com a estru- nacional sobre tais temáticas, com even- tura lexical portuguesa (p. 167, n. 2). tuais desenvolvimentos sobre os contex- Deveria ter sido preferida a tradução do tos balcânico e turco. 172 RELAÇÕES INTERNACIONAIS MARÇO : 2008 17