O documento discute a Ciência e Tecnologia Ambiental, abordando tópicos como:
- As diferentes visões da relação homem-natureza ao longo da história
- Os desafios da interdisciplinaridade e da construção de uma Ciência Ambiental integrada
- A necessidade de superar a especialização e hiperespecialização por meio de abordagens transdisciplinares
Ciência Ambiental e Interdisciplinaridade - Fundamentos
1. CIÊNCIA E TECNOLOGIA
AMBIENTAL
Elizabete Campos de Lima
Vitor Vieira Vasconcelos
Leandro Reverbery Trambosi
2017
UNIVERSIDADE FEDERAL DO ABC
Curso de Pós-Graduação em Ciência e
Tecnologia Ambiental
2. O ambiente pode ser definido como o
conjunto de condições externas, físicas e
bióticas, nas quais um organismo vive.
Inclui para a espécie humana valores
sociais, culturais, econômicos e
políticos, assim como os fatores mais
conhecidos, como o solo, o clima e a
produção de alimentos.
ALLABY, Michael (Ed.). A dictionary of ecology. Oxford University Press, 2010
Ciência e tecnologia ambiental
3. Relações homem-natureza
- Visão mágica
- Visão mecanicista
- Visão utilitarista: fonte de recursos
Ciência e tecnologia ambiental
OLIVA, Alberto. Filosofia da Ciência. Zahar, 2003
4. Relações homem-natureza
- Visão mágica
- Visão mecanicista
- Visão utilitarista: fonte de recursos
- Percepção da natureza
- Até a época medieval = sagrada
- Época moderna = objeto a ser dissecado, explicado
e, quando possível e desejável, modificado com base
nos interesses maiores da humanidade.
OLIVA, Alberto. Filosofia da Ciência. Zahar, 2003
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5. Cada ser humano tem uma forma de perceber o
que está em sua volta.
Essa percepção individual depende da sua
personalidade, da sua cultura, da sua situação
sócio-econômica, da sua memória, etc.
Há várias formas de se descobrir o meio pelo
qual as pessoas percebem o meio ambiente com
o qual interagem.
Ciência e tecnologia ambiental
MANTOVANI, Waldir. Relação homem e natureza: raízes do conflito. Gaia Scientia, v. 3, n. 1, 2009.
6. Pode ser que isso se dê através de informações
verbais ou não-verbais, ou de sistemas simbólicos,
isto é, de convenções ou rituais que adotam em sua
prática social.
Ciência e tecnologia ambiental
MANTOVANI, Waldir. Relação homem e natureza: raízes do conflito. Gaia Scientia, v. 3, n. 1, 2009.
7. O que é Ciência?
Ciência é um conjunto de descrições,
interpretações, teorias, leis, modelos, etc.,
visando ao conhecimento de uma parcela da
realidade, em contínua ampliação e renovação,
que resulta da aplicação deliberada de uma
metodologia especial (metodologia científica)
Freire-Maia N. A ciência por dentro. Petrópolis: Vozes; 1991
Ciência e tecnologia ambiental
8. O que é Ciência?
Ciência é uma das formas do homem abordar o
universo. Portanto, para uma melhor
compreensão do seu significado, é necessário
conhecermos as demais formas existentes, e
como se relacionam entre si.
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9. Ciência
...a ciência é, antes de tudo, um modo de
pensar: aberto, não dogmático, falível, mas
aperfeiçoável, porque sujeito à crítica e à
refutação. Descreve o mundo tal qual é,
solapando falsas certezas, sem prescrever
normas ou valores morais, ideológicos ou
religiosos...
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10. A Ciência Ambiental tem que resolver duas questões
que lhe são colocadas:
- a problemática ambiental se afigura pelos fatores e
interações envolvidos nos sistemas analisados,
dificultando uma integração teórica e
metodológica, e
Ciência e tecnologia ambiental
ABRAMOVAY, Ricardo. Construindo a ciência ambiental. Annablume, 2002.
11. A Ciência Ambiental tem que resolver duas questões
que lhe são colocadas:
- a problemática ambiental se afigura pelos fatores e
interações envolvidos nos sistemas analisados,
dificultando uma integração teórica e
metodológica, e
- a dificuldade dos próprios pesquisadores de se
afastarem de suas especialidades, fazendo surgir
novos pontos de vista, necessários nas questões
ambientais.
Ciência e tecnologia ambiental
ABRAMOVAY, Ricardo. Construindo a ciência ambiental. Annablume, 2002.
12. A Ciência Ambiental enfrenta algumas ameaças
perante suas pesquisas, que são as insuficiências
dos dados, a deficiência dos modelos e os
aspectos que estão além dos conhecimentos
disponíveis atualmente, como a mensuração dos
serviços ambientais.
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14. - Natureza Complexa
- Simplificação da natureza: atomismo
grego.
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15. - Natureza Complexa
- Simplificação da natureza: atomismo
grego.
- Número limitado de partículas indivisíveis
(atomismo).
(século IV antes de nossa era).
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16. O atomismo significa uma “vontade de atomizar
a natureza inteira” a fim de “torná-la penetrável
ao espírito humano”.
LENOBLE, Robert. História da idéia de natureza. Edições 70, 1990.
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17. O atomismo significa uma “vontade de atomizar
a natureza inteira” a fim de “torná-la penetrável
ao espírito humano”
(Robert Lenoble: História da idéia de natureza).
O atomismo inaugura uma explicação
materialista e mecanicista, que tem como
principal consequência a desmistificação total da
natureza.
GONÇALVES, Márcia Cristina Ferreira. Filosofia da natureza. Zahar, 2006.
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18. Ordem
O Universo é regido por leis imperativas:
concepção determinística e mecânica
(Positivismo)
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19. Separação
Estudo do todo pelas partes (cartesiano): especialização
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20. Separação
Estudo do todo pelas partes (cartesiano): especialização
Hiperespecialização:
7 campos de conhecimento em 1300, 54 em 1950 e 8530 em
1987
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21. Separação
Estudo do todo pelas partes (cartesiano): especialização
Hiperespecialização:
7 campos de conhecimento em 1300, 54 em 1950 e 8530 em
1987
Separação dos objetos de análise do ambiente e, por
consequência, entre o sujeito cognoscente e o objeto do
conhecimento
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22. O pensamento disciplinar pressupõe fronteiras
que delimitam formalmente seu campo de
conhecimento
MORIN, E. Ciência com Consciência, Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2008
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23. As disciplinas se fecham e não se comunicam com as
outras.
Ciência e tecnologia ambiental
MORIN, E. Ciência com Consciência, Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2008
24. As disciplinas se fecham e não se comunicam com as
outras.
Os fenômenos são cada vez mais fragmentados, e
não se consegue conceber a sua unidade.
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MORIN, E. Ciência com Consciência, Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2008
25. As disciplinas se fecham e não se comunicam com as
outras.
Os fenômenos são cada vez mais fragmentados, e
não se consegue conceber a sua unidade.
Cada disciplina pretende primeiro fazer reconhecer
sua soberania territorial e, às custas de algumas
magras trocas, as fronteiras confirmam-se em vez de
desmoronar
MORIN, E. Ciência com Consciência, Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2008
Ciência e tecnologia ambiental
MORIN, E. Ciência com Consciência, Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2008
26. Pode-se concordar que a especialização
levada ao paroxismo, como ainda ocorre hoje
em alguns campos, foi e é um problema,
mas também foi e é solução na medida que
possibilita o avanço do conhecimento
humano.
(Jantsch & Bianchetti, 1995).
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27. O crescimento contemporâneo dos saberes
não tem precedente na história humana. Por
outro lado:
- quanto mais sabemos do que somos feitos,
menos compreendemos quem somos;
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NICOLESCU, B. Manifesto da transdisciplinaridade. São Paulo: Ed. Trion, 2008.
28. O crescimento contemporâneo dos saberes
não tem precedente na história humana. Por
outro lado:
- quanto mais sabemos do que somos feitos,
menos compreendemos quem somos;
- a proliferação de disciplinas torna ilusória a
unidade do conhecimento;
Ciência e tecnologia ambiental
NICOLESCU, B. Manifesto da transdisciplinaridade. São Paulo: Ed. Trion, 2008.
29. O crescimento contemporâneo dos saberes
não tem precedente na história humana. Por
outro lado:
- quanto mais sabemos do que somos feitos,
menos compreendemos quem somos;
- a proliferação de disciplinas torna ilusória a
unidade do conhecimento;
- conhecemos o universo exterior e perdemos os
sentido de nossa vida e de nossa morte;
Ciência e tecnologia ambiental
NICOLESCU, B. Manifesto da transdisciplinaridade. São Paulo: Ed. Trion, 2008.
30. O crescimento contemporâneo dos saberes
não tem precedente na história humana. Por
outro lado:
- quanto mais sabemos do que somos feitos,
menos compreendemos quem somos;
- a proliferação de disciplinas torna ilusória a
unidade do conhecimento;
- conhecemos o universo exterior e perdemos os
sentido de nossa vida e de nossa morte;
- ocorre atrofia do ser interior como preço ao
conhecimento científico.
NICOLESCU, B. Manifesto da transdisciplinaridade. São Paulo: Ed. Trion, 2008.
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31. - Disciplinar: exploração científica e especializada de
determinado domínio homogêneo de estudo.
- Multidisciplinar: empréstimo entre várias disciplinas, sem que
haja enriquecimento mútuo.
- Interdisciplinar: reciprocidade entre disciplinas
- Transdisciplinar: integração total, com eliminação das fronteiras
estáveis entre as disciplinas.
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PIAGET, Jean; DUCKWORTH, Eleanor. Genetic epistemology. American Behavioral Scientist, v. 13, n. 3, p. 459-480, 1970.
32. A construção de Teorias em Ciência Ambiental
- Limites à interdisciplinaridade
A formação do indivíduo pesquisador
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33. A construção de Teorias em Ciência Ambiental
- Limites à interdisciplinaridade
A formação do indivíduo pesquisador
Alunos de graduação e o olhar disciplinar
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34. A construção de Teorias em Ciência Ambiental
- Limites à interdisciplinaridade
A formação do indivíduo pesquisador
Alunos de graduação e o olhar disciplinar
Iniciação à Ciência Ambiental
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35. A construção de Teorias em Ciência Ambiental
- A participação dos docentes na construção de
uma Ciência Ambiental
Ciência e tecnologia ambiental
36. A construção de Teorias em Ciência Ambiental
- A participação dos docentes na construção de
uma Ciência Ambiental
- As ciências com igual valor
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37. A construção de Teorias em Ciência Ambiental
- A participação dos docentes na construção de
uma Ciência Ambiental
- As ciências com igual valor
- Fragilização do individualismo do cientista
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38. A construção de Teorias em Ciência Ambiental
- A participação dos docentes na construção de
uma Ciência Ambiental
- As ciências com igual valor
- Fragilização do individualismo do cientista
- A produção coletiva
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39. A construção de teorias em Ciência Ambiental
- Trabalhos nas interfaces do conhecimento
Ciência e tecnologia ambiental
40. A construção de teorias em Ciência Ambiental
- Trabalhos nas interfaces do conhecimento
- Estudos de caso → padrões
Ciência e tecnologia ambiental
41. A construção de teorias em Ciência Ambiental
- Trabalhos nas interfaces do conhecimento
- Estudos de caso → padrões
- O olhar conjunto das disciplinas:
Áreas comuns
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42. A construção de teorias em Ciência Ambiental
- Trabalhos nas interfaces do conhecimento
- Estudos de caso → padrões
- O olhar conjunto das disciplinas:
Áreas comuns
Temas interdisciplinares
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43. A construção de teorias em Ciência Ambiental
- Trabalhos nas interfaces do conhecimento
- Estudos de caso → padrões
- O olhar conjunto das disciplinas:
Áreas comuns
Temas interdisciplinares
A discussão teórica
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44. A construção de novas áreas de pesquisa
- Biofísica
- Química e Engenharia ambiental
- Conservação biológica
- Epidemiologia
- Ecologia humana
- Sistemas complexos
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45. O método na Interdisciplinaridade
- A fase de descrição (Narrativa ou História
Natural)
Ciência e tecnologia ambiental
46. O método na Interdisciplinaridade
- A fase de descrição (Narrativa ou História
Natural)
- Apropriação de métodos de outras áreas:
novos métodos?
Ciência e tecnologia ambiental
47. O método na Interdisciplinaridade
- A fase de descrição (Narrativa ou História
Natural)
- Apropriação de métodos de outras áreas:
novos métodos?
- Delineamento experimental: controle e
réplicas?
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48. O método na Interdisciplinaridade
- A fase de descrição (Narrativa ou História
Natural)
- Apropriação de métodos de outras áreas:
novos métodos?
- Delineamento experimental: controle e
réplicas?
- Atendimento de hipóteses e objetivos:
capacidade de extrapolação dos dados.
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49. A análise na Interdisciplinaridade
- Análises multivariadas
- O uso da linguagem Matemática
- Ciência inexata
- Bases de dados: estudos de casos e sínteses
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50. Considerações finais
Os cientistas ambientais devem ultrapassar o
reducionismo de seu nicho particular e restrito e
atingir um patamar de não competitividade, mas
de complementaridade científica.
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51. Considerações finais
- Ciência Ambiental como eixo integrador de um
novo modelo de Cidadania
Ciência e tecnologia ambiental
52. Considerações finais
- Ciência Ambiental como eixo integrador de um
novo modelo de Cidadania
- A apropriação dos recursos da natureza para o
benefício de poucos
Ciência e tecnologia ambiental
53. Considerações finais
- Ciência Ambiental como eixo integrador de um
novo modelo de Cidadania
- A apropriação dos recursos da natureza para o
benefício de poucos
- Nova postura da sociedade diante do ambiente:
valores comuns e uma nova (?) ética
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54. Considerações finais
- Ciência Ambiental como eixo integrador de um
novo modelo de Cidadania
- A apropriação dos recursos da natureza para o
benefício de poucos
- Nova postura da sociedade diante do ambiente:
valores comuns e uma nova (?) ética
- Ambientalismo e Ciência Ambiental, o papel da
Academia
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55. Considerações finais
“A interdisciplinaridade, enquanto princípio
mediador entre as diferentes disciplinas, não poderá
jamais ser elemento de redução a um denominador
comum, mas elemento teórico-metodológico da
diferença e da criatividade. A interdisciplinaridade é
o princípio da máxima exploração das
potencialidades de cada ciência, da compreensão
dos seus limites, mas, acima de tudo, é o princípio
da diversidade e da criatividade.”
ETGES, Norberto J. Produção do conhecimento e
interdisciplinaridade. Educação e realidade, v. 18, n. 2, p. 73-82, 1993.
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56. Considerações finais
“A universidade, se quiser, de fato, ‘patrocinar’ a
interdisciplinaridade, precisa:
a) relativizar a departamentalização;
b) desburocratizar os processos que envolvem os
projetos de pesquisa ou de pesquisa-ação;
c) dar prioridade aos possíveis projetos
interdisciplinares.”
JANTSCH, A. P. & BIANCHETTI, L. Interdisciplinaridade - Para além da
filosofia do sujeito. In: JANTSCH, A. P.; BIANCHETTI, L. (Orgs.)
Interdisciplinaridade. Para além da filosofia do sujeito. Petrópolis: Vozes. 2000
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