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Foto: Joana Barros
                                                                                 p157




                                                    Anabela
                                                    Leitão
                                                    TEXTO CHÓ DO GURI
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Laboratório de Engenharia Quimca e Ambiente, 2008




                                                    Engenharia Química
                                                    Angola
Anabela Leitão, 2008   Foto: Joana Barros
Anabela
Leitão
/ UNIVERSIDADE AGOSTINHO NETO, ANGOLA




TEXTO CHÓ DO GURI



Após a independência de Angola, quando        lutadora que viria a superar todos os obstá-
o êxodo em massa deixava a Universidade       culos para que pudesse fazer investigação
de Luanda sem professores, Anabela Leitão     científica de excelência no seu país.
aderiu a um movimento universitário que         Hoje Anabela Leitão coordena, na Uni-
impediu o seu encerramento. Ainda estu-       versidade Agostinho Neto, uma Cátedra
dante começa, com os colegas, a dar aulas     da UNESCO no âmbito da qual criou o
aos alunos que entravam pela primeira         Laboratório de Engenharia de Separação,
vez na Faculdade de Engenharia. Seria o       Reacção Química e Ambiente, e o mestrado
primeiro sinal dado por uma personalidade     em Engenharia do Ambiente.



O encontro                                    dor, na segunda porta, semiaberta, estava
Terça-feira, 15 de Abril de 2008. Foi este    quem procurávamos. Aproximámo-nos e
o dia marcado para o encontro. Tínhamos       ela levantou-se amistosamente.
de aproveitar bem o tempo, e às primeiras        A uma pequena distância da porta do seu
horas do dia começou a (minha) nossa          gabinete estava uma mesa redonda com
odisseia, vencendo um trânsito congestio-     quatro cadeiras. À frente, uma secretária
nado que se estendia até aos arredores de     com o computador e, encostado à parede,
Luanda. Devíamos estar no destino às 10       um armário com livros. Na sala, pequena e
horas. Foi-nos facultado o endereço, mas      simples, apresentámo-nos a uma mulher na
nenhuma de nós sabia ao certo onde ficava.    acalmia do seu espaço, nada comparável com
  Quase no fim da Avenida Ho-Chi-Minh,        a turbulência das ruas por onde passámos.
encontrámos as instalações da Universi-          De pequeno porte físico, com uma sim-
dade Agostinho Neto, mas aí informaram-       plicidade particular, isenta de qualquer
-nos de que o que procurávamos seria          fatuidade, dispôs-se ao nosso propósito.
num outro local. Desalentadas, voltámos       Vestira um par de calças, uma blusa, sem
ao trânsito infernal que nos obrigou a uma    acessórios.
nova viagem de quarenta e cinco minutos,         Com um sorriso genuíno, apresentou-
só para sermos informadas que teríamos de     -se. Foi como se já nos tivéssemos visto an-
voltar ao campus onde antes estivéramos!      tes. Convidou-nos a sentar. O seu olhar re-
  Duas horas atrasadas, chegávamos final-     flectido consentira o nosso atraso. Esboçou
mente a um edifício onde se lia «Ministério   um sorriso de cumplicidade porque nin-
da Ciência e Tecnologia - Centro Nacional     guém está isento dos males do trânsito de
de Investigação Científica». Um prédio de     Luanda. E, finalmente, começámos a fa-
dois pisos que ostentava nas paredes exte-    lar sobre aquilo que nos trouxera até à sua
riores uma cor laranja maltratada que em      presença: a sua vida como cientista.
nada dignificava o letreiro.                     Talvez sob a influência de muitos pre-
  Com jeito ansioso, perguntámos pela Dou-    conceitos, surpreendeu-me o facto de ficar
tora Anabela Leitão e eis que, num corre-     a saber que a primeira pessoa, nascida em
ANABELA LEITÃO, ENGENHARIA QUÍMICA, p161




                                                                                                                     Foto: arquivo pessoal de Anabela Leitão
Anabela Leitão na cerimónia de entrega do Prémio do Curso dos Liceus, Liceu Nacional Marcelo Caetano, Moxico, 1973



Angola, a fazer um doutoramento depois                      procuraram dar aos filhos a melhor educa-
da independência, era mulher. Mas quem é                    ção. «Andavam sempre preocupados para
afinal a Doutora Anabela Leitão?                            que nada nos faltasse.»
                                                               Frequentou o ensino primário na Ca-
Até ao 25 de Abril                                          tumbela e Nova Lisboa1 mas quando o
Anabela da Graça Alexandre Leitão é                         terminou, a família transferiu-se para a
cidadã angolana, nascida a 17 de Outubro                    província do Moxico. Fez o liceu na cidade
de 1955 no município do Cubal, situado na                   do Luso2, onde terminou o 7.º ano em 1973
planície de Benguela. Ornamentada pela                      no liceu Nacional Marcelo Caetano, com a
imponente cor das acácias rubras, nela se                   média de 17 valores, o que lhe valeu o Pré-
encontram as praias Morena, Baía Azul                       mio do Curso dos Liceus.
e Baía Farta, que a envolvem com o doce                        Concluído o 7.º ano, Anabela sabia que se
cheirinho da brisa do mar. Terra de belezas                 quisesse continuar a estudar teria de deixar
exaltadas por músicos e poetas. Terra da                    o Moxico, tal como acontecia a todos aqueles
tradicional banana do Cavaco. Do feitiço                    que pretendiam fazer um curso superior,
do Dombe Grande. Terra do caminho-de-                       teria de se deslocar para a capital ou para o
-ferro e do comboio que trazia gente para                   exterior do país. Triste, mas consciente da
matar saudade e levava gente para deixar                    inevitabilidade da situação, no ano seguinte
saudade. Terra de Carnavais e de grandes                    parte para Luanda, separando-se fisica-
folias que arrastavam gente de toda a parte                 mente das pessoas que mais amava. Ingressa
de Angola. Anabela é a filha primogénita                    na Faculdade de Engenharia e, como não
do casal João Henrique Ladeiro Leitão e                     tinha parentes na capital, aluga um quarto
Ilda Amélia Alexandre, cidadãos angolanos                   na Rua Direita de Luanda, junto às traseiras
de ascendência portuguesa, cujos antepas-                   da Faculdade de Ciências, conta-nos com
sados chegaram a Angola para ingressar                      uma pontinha de saudade.
nos quadros dos Caminhos-de-Ferro de                           Escolheu tirar o curso de Engenharia
Benguela. Da sua infância recorda que teve                  Química que acabava de formar os primei-
uns pais flexíveis e carinhosos que sempre                  ros licenciados. Na altura, teria gostado

                                                            1 . Actual cidade da província do Huambo.
                                                            2. Actual cidade de Luena.

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Programa de Intervenção com Habilidades Motoras
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Anabela Leitão (excerto do livro "Vidas a Descobrir")

  • 1.
  • 2. Foto: Joana Barros p157 Anabela Leitão TEXTO CHÓ DO GURI DATA DA REPORTAGEM 04/2008 Laboratório de Engenharia Quimca e Ambiente, 2008 Engenharia Química Angola
  • 3.
  • 4. Anabela Leitão, 2008 Foto: Joana Barros
  • 5. Anabela Leitão / UNIVERSIDADE AGOSTINHO NETO, ANGOLA TEXTO CHÓ DO GURI Após a independência de Angola, quando lutadora que viria a superar todos os obstá- o êxodo em massa deixava a Universidade culos para que pudesse fazer investigação de Luanda sem professores, Anabela Leitão científica de excelência no seu país. aderiu a um movimento universitário que Hoje Anabela Leitão coordena, na Uni- impediu o seu encerramento. Ainda estu- versidade Agostinho Neto, uma Cátedra dante começa, com os colegas, a dar aulas da UNESCO no âmbito da qual criou o aos alunos que entravam pela primeira Laboratório de Engenharia de Separação, vez na Faculdade de Engenharia. Seria o Reacção Química e Ambiente, e o mestrado primeiro sinal dado por uma personalidade em Engenharia do Ambiente. O encontro dor, na segunda porta, semiaberta, estava Terça-feira, 15 de Abril de 2008. Foi este quem procurávamos. Aproximámo-nos e o dia marcado para o encontro. Tínhamos ela levantou-se amistosamente. de aproveitar bem o tempo, e às primeiras A uma pequena distância da porta do seu horas do dia começou a (minha) nossa gabinete estava uma mesa redonda com odisseia, vencendo um trânsito congestio- quatro cadeiras. À frente, uma secretária nado que se estendia até aos arredores de com o computador e, encostado à parede, Luanda. Devíamos estar no destino às 10 um armário com livros. Na sala, pequena e horas. Foi-nos facultado o endereço, mas simples, apresentámo-nos a uma mulher na nenhuma de nós sabia ao certo onde ficava. acalmia do seu espaço, nada comparável com Quase no fim da Avenida Ho-Chi-Minh, a turbulência das ruas por onde passámos. encontrámos as instalações da Universi- De pequeno porte físico, com uma sim- dade Agostinho Neto, mas aí informaram- plicidade particular, isenta de qualquer -nos de que o que procurávamos seria fatuidade, dispôs-se ao nosso propósito. num outro local. Desalentadas, voltámos Vestira um par de calças, uma blusa, sem ao trânsito infernal que nos obrigou a uma acessórios. nova viagem de quarenta e cinco minutos, Com um sorriso genuíno, apresentou- só para sermos informadas que teríamos de -se. Foi como se já nos tivéssemos visto an- voltar ao campus onde antes estivéramos! tes. Convidou-nos a sentar. O seu olhar re- Duas horas atrasadas, chegávamos final- flectido consentira o nosso atraso. Esboçou mente a um edifício onde se lia «Ministério um sorriso de cumplicidade porque nin- da Ciência e Tecnologia - Centro Nacional guém está isento dos males do trânsito de de Investigação Científica». Um prédio de Luanda. E, finalmente, começámos a fa- dois pisos que ostentava nas paredes exte- lar sobre aquilo que nos trouxera até à sua riores uma cor laranja maltratada que em presença: a sua vida como cientista. nada dignificava o letreiro. Talvez sob a influência de muitos pre- Com jeito ansioso, perguntámos pela Dou- conceitos, surpreendeu-me o facto de ficar tora Anabela Leitão e eis que, num corre- a saber que a primeira pessoa, nascida em
  • 6. ANABELA LEITÃO, ENGENHARIA QUÍMICA, p161 Foto: arquivo pessoal de Anabela Leitão Anabela Leitão na cerimónia de entrega do Prémio do Curso dos Liceus, Liceu Nacional Marcelo Caetano, Moxico, 1973 Angola, a fazer um doutoramento depois procuraram dar aos filhos a melhor educa- da independência, era mulher. Mas quem é ção. «Andavam sempre preocupados para afinal a Doutora Anabela Leitão? que nada nos faltasse.» Frequentou o ensino primário na Ca- Até ao 25 de Abril tumbela e Nova Lisboa1 mas quando o Anabela da Graça Alexandre Leitão é terminou, a família transferiu-se para a cidadã angolana, nascida a 17 de Outubro província do Moxico. Fez o liceu na cidade de 1955 no município do Cubal, situado na do Luso2, onde terminou o 7.º ano em 1973 planície de Benguela. Ornamentada pela no liceu Nacional Marcelo Caetano, com a imponente cor das acácias rubras, nela se média de 17 valores, o que lhe valeu o Pré- encontram as praias Morena, Baía Azul mio do Curso dos Liceus. e Baía Farta, que a envolvem com o doce Concluído o 7.º ano, Anabela sabia que se cheirinho da brisa do mar. Terra de belezas quisesse continuar a estudar teria de deixar exaltadas por músicos e poetas. Terra da o Moxico, tal como acontecia a todos aqueles tradicional banana do Cavaco. Do feitiço que pretendiam fazer um curso superior, do Dombe Grande. Terra do caminho-de- teria de se deslocar para a capital ou para o -ferro e do comboio que trazia gente para exterior do país. Triste, mas consciente da matar saudade e levava gente para deixar inevitabilidade da situação, no ano seguinte saudade. Terra de Carnavais e de grandes parte para Luanda, separando-se fisica- folias que arrastavam gente de toda a parte mente das pessoas que mais amava. Ingressa de Angola. Anabela é a filha primogénita na Faculdade de Engenharia e, como não do casal João Henrique Ladeiro Leitão e tinha parentes na capital, aluga um quarto Ilda Amélia Alexandre, cidadãos angolanos na Rua Direita de Luanda, junto às traseiras de ascendência portuguesa, cujos antepas- da Faculdade de Ciências, conta-nos com sados chegaram a Angola para ingressar uma pontinha de saudade. nos quadros dos Caminhos-de-Ferro de Escolheu tirar o curso de Engenharia Benguela. Da sua infância recorda que teve Química que acabava de formar os primei- uns pais flexíveis e carinhosos que sempre ros licenciados. Na altura, teria gostado 1 . Actual cidade da província do Huambo. 2. Actual cidade de Luena.