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Ano 30 Número 01 janeiro/março de 2014 www.cni.org.br
Economia brasileira deve
crescer 1,8% no ano
Mercado de trabalho perde
dinamismo
Pág. 4
Inflação próxima ao teto da
meta em 2014
Forte crescimento das
despesas no início do ano
Superávit comercial em risco
Pág. 10
A economia
brasileira no primeiro
trimestre de 2014
O ano se iniciou com alguns resultados
positivos, como o crescimento da produção
industrial. No entanto, há também claros sinais
de alerta na economia: a inflação mostra ten-
dência de aceleração e o saldo comercial em
12 meses se reduz de forma acentuada. Nesse
ambiente, a CNI estima que o PIB irá crescer
1,8%, menos que no ano passado. O mesmo
ocorrerá com a indústria de transformação,
com expansão de 1,5%. O investimento, a
variável crítica para acelerar o crescimento no
curto prazo, crescerá apenas 2,5%.
A alta da produção industrial nos primeiros dois
meses, contudo, não assegura crescimento
maior no ano. Primeiro, há um efeito estatístico
associado a um maior número de dias úteis no
primeiro bimestre de 2014 comparativamente
ao mesmo período do ano passado, com o
feriado de Carnaval ocorrendo em março. Se-
gundo, com a intenção de combater a inflação
elevada, o Banco Central aumentou a taxa de
juros real para quase 5% ao ano.
O rebaixamento da classificação da dívida
soberana brasileira é uma consequência
direta da deterioração das contas públicas
e do baixo crescimento econômico, que
aumenta o risco fiscal. Não significou a
perda do grau de investimento, crucial
para a manutenção dos fluxos de capital
em direção ao país e atração da poupança
externa. Todavia, demonstra que correções de
rumo se fazem necessárias e que é preciso
melhorar a qualidade do mix de política fiscal
e monetária, de modo a não prejudicar a
dinâmica da dívida pública.
A questão energética é outro fator que
preocupa e que afeta as decisões de inves-
timento. A solução para atender a demanda
durante o quadro hídrico adverso implicou em
custos fiscais no curto prazo e no aumento
das tarifas no médio prazo; e ainda persistem
incertezas sobre o risco de racionamento. To-
das essas situações significam ônus ao setor
produtivo, afetando a confiança e desestimu-
lando investimentos.
Sinais de alerta na economia
INFORME CONJUNTURAL
O baixo dinamismo das exportações, mesmo
quando a economia mundial mostra alguma
recuperação, e o vigor das importações se
refletem diretamente no ritmo de produção da
indústria de transformação. O crescente déficit
dos produtos manufaturados, que chegou a
US$ 106 bilhões, é demanda subtraída da
indústria brasileira.
As dificuldades de competitividade dos
produtos brasileiros, com o elevado custo
doméstico de produção, limita o investimento
com foco no mercado externo. Pesquisa da
CNI, (Investimento na Indústria Brasileira, 2014)
mostrou que apenas 3,6% das empresas tem
esse objetivo, o que consolida um cenário
pouco favorável.
As razões para o baixo crescimento recente
são diversas. Mas todas elas tem um
elo comum na incerteza quanto à efetiva
execução das medidas necessárias para
reverter o quadro de baixa competitividade.
O que seria fundamental para reacender a
confiança, indispensável para a retomada do
investimento.
Saldo comercial de manufaturados
Acumulado em 12 meses - US$ bilhões
Déficit comercial de manufaturas evidencia problema
de competitividade
Informativo da Confederação Nacional da Indústria
Fonte: Funcex
Pág. 2
Pág. 6
Pág. 8
ISSN 1983-621X
-106,7-120,0
-100,0
-80,0
-60,0
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mar/04 mar/05 mar/06 mar/07 mar/08 mar/09 mar/10 mar/11 mar/12 mar/13 mar/14
Ano 30, n. 01, janeiro/março de 2014
2
Economia brasileira deve crescer 1,8% no ano
Após registrar queda na atividade no fim
do ano passado, a indústria apresentou
resultados positivos no primeiro bimestre
de 2014. A produção industrial subiu 1,3%
(PIM-PF/IBGE), na comparação dos dois
primeiros meses deste ano com o mesmo
período de 2013, mas tal crescimento
ainda não foi suficiente para recolocar o
índice de produção no nível observado em
outubro passado. Também na comparação
bimestral, o faturamento real e as horas
trabalhadas na indústria de transformação
cresceram 6,6% e 1,2%, respectivamente
(Indicadores Industriais/CNI).
Cabe ressaltar que parte do crescimento
desses indicadores deve-se ao aumento
no número de dias úteis em fevereiro,
uma vez que o feriado de Carnaval passou
de fevereiro, em 2013, para março, em
atividade econômica
2014. Com isso, o primeiro bimestre de
2014 teve três dias úteis a mais que no
ano passado.
Ritmo de atividade industrial
do primeiro bimestre
não deve ser mantido no
restante do ano
Ao adicionar outros elementos na análise
prospectiva da indústria em 2014, nota-se
que os entraves ao crescimento devem
ter maior peso que os incentivos.
Dentre os entraves estão o longo ciclo
de alta da taxa de juros, a reversão de
algumas desonerações tributárias (como
a redução do IPI para automóveis e o
REINTEGRA) e a provável intensificação no
ritmo de crescimento do custo de produ-
ção, devido, sobretudo, ao encarecimento
tanto da energia elétrica (em função
do déficit hídrico) como dos insumos
importados (em função da desvalorização
cambial).
Pelo lado dos incentivos, merecem
destaque a desoneração da folha de
pagamentos e a melhora na rentabilidade
das exportações, embora os efeitos sejam
limitados nos dois casos. No primeiro,
a limitação ocorre porque, em principio,
a medida será descontinuada no fim de
2014, o que pode gerar insegurança nas
empresas. Já no segundo caso, os be-
nefícios são restringidos pelo tempo que
as empresas exportadoras levarão para
reagir frente a uma situação de melhora
nas expectativas de rentabilidade de suas
operações de comércio.
Nesse cenário de incertezas, o empre-
sário industrial tem se mostrado pouco
confiante. O Índice de Confiança do
Empresário Industrial (ICEI/CNI) está
abaixo de sua média histórica (58,1
pontos em março) desde 2012, e teve
seu nível reduzido ainda mais a partir
de julho do ano passado. Os resultados
apurados nos três primeiros meses
de 2014 mostram manutenção desse
quadro negativo: janeiro (53,1), fevereiro
(52,4) e março (52,5).
Como reflexo da baixa confiança, a
intenção de investimento na indústria
para 2014 é a menor desde 2010, quando
o indicador passou a ser levantado pela
pesquisa Investimentos na Indústria/
CNI. No fim do ano passado, 78,1% dos
empresários consultados sinalizaram
intenção de investir este ano. Em 2011,
esse percentual foi de 91,1%.
Indústria avança, mais uma vez, menos que o PIB
Índice de Confiança do Empresário Industrial (ICEI)
Em pontos
Empresário segue pouco confiante em 2014
Fonte: CNI
52,5
Média histórica
58,1
45
50
55
60
65
70
jan/10 jun/10 nov/10 abr/11 set/11 fev/12 jul/12 dez/12 mai/13 out/13 mar/14
Ano 30, n. 01, janeiro/março de 2014
3
Dessa forma, a expectativa da CNI é de
que a indústria de transformação cresça
1,5% em 2014, menos do que foi observa-
do no ano passado (1,9%).
Ainda assim, a indústria total deve expan-
dir-se 1,7% em 2014, isto é, 0,4 ponto
percentual acima do avanço registrado
em 2013. Isso porque a indústria extrativa
mineral voltará a crescer este ano (2,0%),
depois de ter caído 2,8% no ano passado.
Com relação aos dois outros segmentos
da indústria, construção e serviços indus-
triais de utilidade pública, há previsão de
aumento de 1,5% para o primeiro e de
2,5% para o segundo.
Os serviços devem apresentar redução
no ritmo de crescimento. Em 2013, esse
segmento expandiu-se 2,0%. Para 2014,
a expectativa é de avanço de 1,7%.
O desaquecimento no consumo das
famílias, bem como o menor crescimento
da indústria de transformação, explica a
maior parte desse movimento.
Para agropecuária, a perspectiva é de
crescimento de 3,0% em 2014. Taxa
menor que a do ano passado (7,0%),
mas superior às taxas da indústria e dos
serviços previstas para este ano.
Investimento terá
crescimento modesto em
2014
Do lado da demanda, a variável crítica é o
investimento. Em 2013, a Formação Bruta
de Capital Fixo (FBCF) cresceu expressiva-
mente (6,3%), mas baseada, em grande
parte, em movimentos excepcionais. O
mais importante desses movimentos foi
o aumento da venda de caminhões, moti-
vado pela mudança na legislação sobre os
padrões de emissão de gases poluentes.
Em 2014, contudo, a perspectiva de cresci-
mento do investimento é bem mais modes-
ta. Os movimentos excepcionais de 2013
não devem se repetir esse ano, pelo menos
não na mesma intensidade. Além disso, a
combinação das restrições fiscais com a
baixa confiança dos empresários industriais
e o maior nível da Selic devem limitar os
avanços do investimento em 2,5% no ano.
Dessa maneira, a taxa de investimento
(FBCF em proporção do PIB) irá situar-se
em 18,5%, apenas 0,1 ponto percentual
acima da taxa registrada em 2013.
O consumo das famílias deve apresentar
redução na sua taxa de crescimento
pelo quarto ano consecutivo. Em 2010
houve expansão de 6,9%. Depois disso
observou-se gradativa desaceleração:
4,1% (2011), 3,2% (2012) e 2,3% (2013).
Para este ano, a expectativa é de que o
consumo das famílias cresça 1,7%. Tal
acomodação é justificada pela extensão
do ciclo de alta dos juros, pela desacele-
ração do crédito e pela taxa de inflação
persistentemente elevada.
Com relação ao consumo do governo,
projeta-se moderada redução na taxa de
crescimento, cujo valor deve cair de 1,9%
em 2013 para 1,8% em 2014. Embora os
gastos do governo usualmente cresçam
Estimativa da CNI para o PIB
Variação percentual e contribuição dos componentes do PIB
2014
Componentes do PIB
Taxa de
crescimento (%)
Contribuição
(p.p.)
Ótica da
demanda
Consumo das famílias 1,7 1,1
Consumo do governo 1,8 0,4
FBKF 2,5 0,5
Exportações 2,0 0,3
(-) Importações 3,0 0,5
Ótica da
oferta
Agropecuária 3,0 0,2
Indústria 1,7 0,4
Indústria extrativa 2,0 0,1
Indústria de transformação 1,5 0,2
Construção civil 1,5 0,1
SIUP 2,5 0,1
Serviços 1,7 1,2
PIB pm 1,8
em anos de eleição, acredita-se que a
atual situação das contas públicas não
permitirá um avanço mais significativo
desse componente da demanda.
Considerando o câmbio em R$/US$ 2,45
no fim de 2014 (estimativa CNI), além da
desaceleração do consumo das famílias,
estima-se que as importações devem
crescer 3,0% este ano, significativamente
menos que em 2013 (8,4%).
As exportações também devem subir
menos frente ao resultado do ano passa-
do, mas essa redução de ritmo não deve
ser tão intensa como nas importações. A
CNI estima que as exportações de bens
e serviços subam 2,0% em 2014, depois
de terem aumentado 2,5% em 2013.
Esse comportamento está fundamentado,
basicamente, no menor crescimento das
exportações de manufaturados, já que
a indústria seguirá com dificuldade de
competir internacionalmente este ano.
Dessa maneira, a CNI projeta crescimento
de 1,8% do PIB em 2014, resultado
inferior ao apurado no ano passado,
quando a economia avançou 2,3%.
Ano 30, n. 01, janeiro/março de 2014
4
emprego e renda
Mercado de trabalho perde dinamismo
Emprego cai nas regiões metropolitanas
emprego e renda
PEA recua e mantém
trajetória de queda da
taxa de desemprego
A população economicamente ativa
(PEA – PME/IBGE) – composta por
empregados e desempregados em
busca de uma ocupação – diminuiu no
primeiro bimestre do ano. Em janeiro,
recuou em 0,8% na comparação
com o mesmo período do ano
anterior. Em fevereiro, o recuo foi
de 0,5%. Por conta dessa queda,
o efeito da retração da ocupação
sobre o desemprego foi parcialmente
neutralizado, assegurando um
patamar historicamente baixo para
a taxa de desemprego, que fechou
fevereiro em 5,1% da PEA.
O nível de ocupação no mercado de
trabalho apresentou queda no início
de 2014, depois de três meses con-
secutivos de crescimento. O emprego
metropolitano (PME/IBGE) recuou em
217,1 mil vagas em janeiro e 137,5 mil
vagas em fevereiro.
Apesar do resultado negativo, o empre-
go se manteve estável em fevereiro,
na comparação com o mesmo período
do ano anterior, após recuar levemente
(-0,1%) em janeiro.
A retração registrada pela PME/
IBGE apresenta um significativo
descolamento em relação aos
dados de ocupação registrados pelo
Cadastro Geral de Empregados e
Desempregados (CAGED/MTE) nos dois
primeiros meses do ano. Em janeiro, o
CAGED registrou aumento de 29,5 mil
vagas de trabalho e, em fevereiro, uma
forte expansão de 260,8 mil vagas.
Embora as diferenças metodológicas
entre as duas pesquisas impliquem
em limitações à análise comparativa,
as divergências entre os resultados
chamam atenção particularmente
em fevereiro, quando a diferença
se intensificou, registrando um
descasamento de 398,3 mil vagas.
Mercado de trabalho da
indústria continua sendo o
mais afetado
As indústrias extrativa, de
transformação e SIUP (Serviços
Industriais de Utilidade Pública)
ampliaram seus postos de trabalho em
120 mil vagas nos dois primeiros meses
de 2014. Foi a maior contribuição entre
os setores da economia.
Apesar disso, o resultado para a
indústria nesse primeiro bimestre foi
inferior ao verificado no ano passado
(queda de 2,6% frente ao observado no
mesmo período do ano anterior).
Nos últimos 12 meses findos em
fevereiro, a indústria (contemplando os
três segmentos) foi o setor que mais
perdeu empregos, 84 mil postos de
trabalho no período, o que representa
queda de 2,25%. Esse desempenho é
bem inferior ao do comércio (+0,2%),
serviços (-0,2%) e administração
pública (+3,0%).
Fonte: IBGE
Taxa de desemprego metropolitana
Em % da PEA
Apesar da retração na oferta de trabalho, recuo da PEA mantém
baixa a taxa de desemprego no primeiro bimestre de 2014
5,1
4
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fev/09 jul/09 dez/09 mai/10 out/10 mar/11 ago/11 jan/12 jun/12 nov/12 abr/13 set/13 fev/14
Ano 30, n. 01, janeiro/março de 2014
5
A taxa de desemprego vem
mantendo sua trajetória de queda em
praticamente toda a série histórica
iniciada em março de 2002. Todavia,
espera-se uma reversão dessa
tendência nos meses a frente em
2014. A mudança ocorrerá em função
da perda de ritmo de criação de vagas
e do crescimento da demanda por
emprego por parte dos trabalhadores
devido às pressões inflacionárias sobre
os salários. Espera-se uma elevação da
inflação em 2014, que deve encerrar o
ano próximo ao teto da meta – 6,4%
pela projeção da CNI. Esse resultado
deve comprimir a renda familiar e
arrefecer o consumo das famílias.
Nesse cenário, espera-se um aumento
na busca por empregos, que irá se
refletir em uma taxa de desemprego
mais elevada para o ano: 5,7%.
Formalização do mercado
de trabalho segue em
expansão
Mesmo com o mercado de trabalho
pouco aquecido nos primeiros dois
meses do ano, a geração de empregos
formais nas seis maiores regiões
metropolitanas (PME/IBGE) continua
avançando em detrimento dos
empregos informais.
O emprego com carteira, que avança
continuamente desde outubro de
2009, cresceu 1,7% em fevereiro na
comparação com o mesmo período do
ano anterior. Por outro lado, o emprego
sem carteira, que apresenta queda
há 12 meses consecutivos, registrou
recuo de 12,9% na mesma base de
comparação.
Com isso, o índice de formalidade –
soma dos empregos com carteira,
militares e regime jurídico único sobre
o total de empregos –, mantém seu
Rendimento Médio Real e Massa Salarial Real
Variação (%) em relação ao mesmo período do ano anterior
Apesar do bom desempenho nos dois primeiros meses do ano, o rendimento
médio real e massa salarial devem ter avanço moderado em 2014
Fonte: IBGE
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fev/09 ago/09 fev/10 ago/10 fev/11 ago/11 fev/12 ago/12 fev/13 ago/13 fev/14
Massa Salarial Real Rendimento Médio Real
patamar elevado, atingindo 63,2% em
fevereiro de 2014.
Rendimento médio real
crescerá menos em 2014
O rendimento médio real dos
trabalhadores metropolitanos (PME/
IBGE) cresceu 3,1% em fevereiro quando
comparado ao mesmo período do ano
anterior, crescimento pouco menor que
o registrado em janeiro (3,6%).
Para o ano de 2014, além do baixo
reajuste do salário mínimo, em função
do menor crescimento do PIB em 2012,
espera-se uma continuidade no desa-
quecimento da ocupação. Reforçando
esse cenário, a PEA – que apresentou
queda nos dois primeiros meses de
2014 – deverá reverter sua trajetória
e aumentar nos próximos meses em
função das pressões inflacionárias sobre
o poder de compra dos trabalhadores.
Assim, apesar do resultado positivo
nos dois primeiros meses do ano, o
crescimento da renda real em 2014
deve acompanhar o desempenho
de 2013, quando cresceu 1,8%,
ficando abaixo da média dos anos
anteriores: entre 2006 e 2012,
o crescimento da renda real foi
de 3,5% ao ano. Nesse cenário,
estima-se que o crescimento médio
da renda real em 2014 seja 1,5%.
A massa salarial também avançou
nos primeiros meses de 2014
– 3,4% em janeiro e 3,1% em
fevereiro –, mas, acompanhando a
tendência dos rendimentos, deve
fechar o ano com uma taxa de
crescimento inferior à verificada
em 2013, quando o crescimento
foi de 2,6%. É importante
destacar que, entre 2006 e 2012,
o crescimento médio da massa
salarial real foi de 5,9%.
Ano 30, n. 01, janeiro/março de 2014
6
Inflação próxima ao teto da meta em 2014
inflação, juros e crédito
A inflação continua sob alerta no radar
econômico. O IPCA mantém-se substan-
cialmente acima do centro da meta de
inflação e as previsões para o restante
do ano não são favoráveis. A CNI estima
que o IPCA termine 2014 em 6,4%, bem
próximo ao teto da meta.
O acumulado em 12 meses do IPCA
sustenta-se acima dos 4,5% desde
setembro de 2010. Esse longo período
contribui para consolidar uma inércia
inflacionária e afasta a possibilidade de
reenquadramento na meta no curto e
médio prazo. Apesar da ligeira desa-
celeração em janeiro (acumulado em
12 meses de 5,59%, contra 5,91% em
dezembro), em março o IPCA voltou a
superar o patamar dos 6,0%, com acu-
mulado em 12 meses de 6,15%.
O principal motivo da alta de março foi a
reaceleração dos preços dos alimentos
(alta de 1,92% no mês), mas não foi o
único. Todos os grupos do IPCA (preços
de alimentos, dos produtos industriais,
de serviços e administrados) mostraram
crescimento no acumulado em 12 meses.
Os preços administrados subiram de
um acumulado em 12 meses de 1,7%
em janeiro para 3,6% em março. Esse
movimento reflete o fim do efeito bené-
fico da desoneração da energia elétrica.
A redução nas tarifas de energia gerou
queda no nível de preços em fevereiro e
março de 2013. Uma vez que o cálculo é
feito como um acumulado em 12 meses,
em termos estatísticos esse efeito de-
saparece em fevereiro e março de 2014,
gerando pressão de alta.
Essa alta em 12 meses acaba sendo
potencializada porque o ritmo de rea-
justes de outros preços administrados
foi mantido (e até acelerado). Assim, o
grupo preços administrados, que encer-
rou 2013 com acumulado em 12 meses
de 1,7% e garantiu uma taxa de inflação
inferior a 6,0%, deve encerrar 2014 em
torno de 3,7%.
Os preços dos alimentos apresentam alta
acumulada em 12 meses de 7,1% em
março. Após atingir em fevereiro (6,3%)
o menor patamar desde março de 2012,
os dados de março mostram que esse
nível relativamente “baixo” (em compa-
ração ao comportamento recente dos
preços do grupo) não deve se sustentar.
O comportamento favorável do segundo
trimestre do ano passado, caracterizado
por estabilidade e até queda nos preços
dos alimentos, não deve se repetir em
2014. Assim, com a reaceleração do
acumulado em 12 meses do grupo, o
IPCA voltou a figurar acima da casa dos
6,0%. A CNI estima que os preços dos
alimentos terminarão 2014 com um
acumulado próximo a 9,0%.
Os preços dos produtos industriais
apresentam também comportamento que
contribui para a alta na inflação. O acumu-
lado em 12 meses encontra-se em 5,1%
em março, em linha com a aceleração
percebida desde outubro de 2013.
Parte dessa alta pode ser explicada pela
desvalorização cambial observada no fim
do ano passado, gerando pressão nos
preços de produtos e insumos impor-
tados. A expectativa é que esse efeito
ainda se estenda pelos próximos meses,
IPCA por grupos
Acumulado em 12 meses (%)
Todos os grupos do IPCA aceleraram em março
Efeito positivo da desoneração da energia elétrica chega ao fim
Fonte: IBGE - Elaboração: CNI
Administrados Industriais Alimentação
Serviços IPCA
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mar/10 jul/10 nov/10 mar/11 jul/11 nov/11 mar/12 jul/12 nov/12 mar/13 jul/13 nov/13 mar/14
Ano 30, n. 01, janeiro/março de 2014
7
mesmo com a recente acomodação da
taxa de câmbio. A CNI estima que a alta
nos preços do grupo dos produtos indus-
triais termine o ano em 5,1%.
O grupo dos serviços continua a mostrar
forte inércia inflacionária. O acumulado
em 12 meses em março é de 9,0%,
ligeiramente acima do observado em
2013. Para o fim do ano, a CNI espera
alguma desaceleração, para 8,2%, mas
ainda contribuindo fortemente para um
alto patamar do IPCA.
Em suma, o que se deve observar em
2014 é um cenário de preços de ali-
mentos e de serviços acima do patamar
de 8,0% ao ano, preços de produtos
industriais em alta em função da des-
valorização cambial e sem a contribui-
ção de desonerações sobre os preços
administrados para diminuir a inflação.
O resultado desse cenário se traduz na
expectativa da CNI de um IPCA em 6,4%
no fim do ano.
Selic volta ao patamar do
fim de 2011
O longo período de inflação acima do
centro da meta, a resistência do IPCA em
convergir para esse objetivo e a deteriora-
ção das previsões de inflação para 2014
fizeram o Copom adotar uma política de
aperto monetário intensa.
O Copom reiniciou o ciclo de alta na taxa
básica de juros em abril de 2013. Desde
então, foram nove elevações consecuti-
vas na Selic, passando de 7,25% a.a. para
11,00% a.a..
Os efeitos do aperto monetário sobre a in-
flação são defasados. Assim, é esperado
que o principal impacto das altas nos
juros ainda está por vir. Nas duas últimas
reuniões (fevereiro e abril), o ritmo de ele-
vação de 0,5 p.p. foi reduzido para 0,25
p.p., o que dá indícios de que o ciclo de
alta deve estar chegando ao fim. A CNI
estima que o Copom faça uma nova ele-
vação nos juros na reunião de maio, de
0,25 p.p., finalizando o aperto monetário
com alta acumulada de 4,00 p.p..
A Selic então alcançará 11,25% a.a.,
sustentando-se nesse patamar ao longo
de 2014. Com essa taxa e a expectativa
de inflação, a taxa de juros real média do
ano alcançará 4,4% a.a., mais que o do-
bro do observado em 2013 (2,0% a.a.).
Aperto monetário se reflete
em alta nas taxas de juros
de operações de crédito
As elevações sucessivas na Selic se
traduzem em taxas de juros maiores
para os tomadores finais. As taxas de
juros médias das operações de crédito
para pessoas físicas atingiram, em
fevereiro, 27,2% a.a., uma alta de 3,2
p.p. em comparação ao patamar de
maio de 2013.
Essa alta afeta, inclusive, as empresas de
menor risco. A Taxa Preferencial Brasileira
(clientes preferenciais) passou de uma mí-
nima de 10,8% a.a. em fevereiro de 2013
para 14,6% a.a. em janeiro de 2014.
O aumento na taxa de juros, aliado ao
baixo crescimento da economia, levaram
à desaceleração do crédito como um
todo. A taxa de crescimento média em
12 meses do crédito às pessoas físicas,
que era em torno de 17,5% no início de
2013, passou para 16,5% no mesmo
período de 2014. Para pessoas jurídicas,
essa taxa passou de 16,9% para menos
de 15,0%, entre fevereiro do ano passa-
do e deste ano.
Para os próximos meses, a tendência de
alta nos juros das operações de crédito
deve se manter, uma vez que o efeito
da alta na Selic sobre essas taxas não é
imediato. Como resultado, é de se espe-
rar também que a concessão de crédito
desacelere ainda mais ao longo de 2014.
Taxa média de juros da operações de crédito
Percentual ao ano (% a.a.)
Taxas de juros aos tomadores finais mostram tendência de alta
Fonte: Banco Central do Brasil
10
15
20
25
30
35
nov/11 fev/12 mai/12 ago/12 nov/12 fev/13 mai/13 ago/13 nov/13 fev/14
Total Pessoa jurídica Pessoa física
Ano 30, n. 01, janeiro/março de 2014
8
política fiscal
A política fiscal acentuou, nos primeiros
meses de 2014, o caráter expansionista
observado no ano anterior. O expressivo
crescimento das despesas foi registrado
tanto no Governo Federal como nos gover-
nos de estados e municípios. Entretanto,
a nova queda do superávit primário do
setor público foi determinado pelo Gover-
no Federal, onde o aumento dos gastos
foi acompanhado de redução no ritmo de
aumento das receitas.
Depois de encerrar 2013 com crescimen-
to real de 6,9%, as despesas federais
aceleraram seu ritmo de expansão para
9,4% no primeiro bimestre de 2014, na
comparação com o mesmo período do ano
anterior. Grande parte dessa aceleração foi
explicada pelas despesas discricionárias.
Os gastos com custeio tiveram aumento
real de 11,3% no primeiro bimestre de
2014, ao passo que os investimentos
(GND 4 do Sistema Integrado de Admi-
nistração Financeira – SIAFI) mais que
dobraram (108,7%) na comparação com o
primeiro bimestre de 2013.
Ao que tudo indica, na tentativa de
cumprir a meta de superávit primário, o
Governo Federal retardou os pagamentos
nos últimos meses de 2013. No caso
dos investimentos, foram pagos nos dois
primeiros meses de 2014 R$ 9,0 bilhões
em restos a pagar dos anos anteriores. No
mesmo período de 2013, esse montante
foi de R$ 4,3 bilhões. Um aumento real
de 107,1%, próximo ao verificado no total
dos investimentos.
Pelo lado da arrecadação, o Governo Fe-
deral experimentou movimento oposto ao
verificado nas despesas. O aumento real
da receita líquida foi de 1,6% nos meses
de janeiro e fevereiro de 2014, na com-
paração com o mesmo período do ano
anterior. Em 2013, a receita líquida teve
crescimento real de 5,9%, impulsionado
pela arrecadação extraordinária de R$ 20
bilhões com parcelamentos de débitos
e de R$ 15 bilhões com a concessão do
campo de petróleo de Libra.
O resultado dessa combinação de
despesas em aceleração e perda de ritmo
de crescimento das receitas foi a queda
do superávit primário. Nos últimos 12
meses encerrados em fevereiro de 2014,
o resultado primário do Governo Federal
alcançou 1,3% do PIB, contra 1,55%
registrado até dezembro de 2013.
Receita de estados e
municípios se recupera
Nos governos regionais, o ritmo de
crescimento das despesas passou de
4,6%, observados em 2013 contra 2012,
para 8,2% em janeiro de 2014, contra o
mesmo mês do ano anterior. Por outro
lado, o aumento real das receitas dos
estados e municípios, que foi de 3,3% em
2013, saltou para 12,4% em janeiro de
2014, na comparação com o mesmo mês
do ano passado. Essa aceleração ocorreu
em função da regularização de transferên-
cias recebidas da União para compensar
a desoneração do ICMS nas exportações,
cuja parcela não transferida em 2013 foi
enviada aos estados em janeiro de 2014.
Com isso, o superávit primário de estados
e municípios acumulado em 12 meses
Superávit primário do setor público consolidado e por níveis de governo
Em relação ao PIB nos últimos 12 meses (%)
Superávit primário do setor público caiu 0,6 ponto percentual do PIB
entre o janeiro de 2013 e fevereiro de 2014
Fonte: Banco Central do Brasil - Elaboração: CNI
Forte crescimento das despesas no início do ano
Superávit Primário mantém trajetória de queda
0
1
2
3
4
jan/12 mar/12 mai/12 jul/12 set/12 nov/12 jan/13 mar/13mai/13 jul/13 set/13 nov/13 jan/14
Setor Público Consolidado Governo Federal Governos Regionais
Ano 30, n. 01, janeiro/março de 2014
9
elevou-se de 0,35%, em dezembro de
2013, para 0,45% do PIB, em fevereiro de
2014. Essa elevação não foi suficiente,
no entanto, para compensar a queda do
superávit primário do Governo Fede-
ral. Dessa forma, o superávit primário
acumulado em 12 meses do setor público
consolidado caiu de 1,9%, em dezembro
de 2013, para 1,75% do PIB, em fevereiro
de 2014.
Apesar da queda do superávit primário, o
menor pagamento de juros fez com que o
déficit nominal acumulado nos últimos 12
meses permanecesse estável em 3,3% do
PIB entre dezembro de 2013 e fevereiro
de 2014. A relação Dívida Líquida/PIB
também permaneceu praticamente está-
vel desde dezembro de 2013, passando
de 33,6% para 33,7% do PIB, em fevereiro
de 2014. Já a relação Dívida Bruta/PIB
apresentou elevação e atingiu 57,5% em
fevereiro, contra 56,8% registrados em
dezembro de 2013, o que refletiu, princi-
palmente, o pagamento de juros sobre o
estoque da dívida bruta.
Contingenciamento
expressivo reduz expansão
das despesas federais
A política fiscal deve reduzir seu caráter
expansionista nos próximos meses.
O contingenciamento de cerca de R$
31,0 bilhões feito pelo Governo Federal
deve reduzir o ritmo de crescimento das
despesas de custeio e de capital até o
fim do ano. Além disso, o aumento dos
gastos com pessoal também deve se
reduzir nos próximos meses. Dessa forma,
as despesas do Governo Federal devem
encerrar 2014 com expansão real de 2,8%
na comparação com 2013.
Já a receita líquida do Governo Federal
deve registrar ligeira aceleração até
dezembro. A expectativa é que a arreca-
dação de impostos e contribuições, que
não cresceu nos dois primeiros meses de
Nesse cenário, o superávit primário do
setor público consolidado alcançaria
R$ 94,0 bilhões (1,8% do PIB) e ficaria
abaixo da meta de R$ 99,0 bilhões. Esse
resultado representaria uma queda em
relação ao resultado primário de 1,9%
registrado em 2013. Essa retração,
aliada à expectativa de crescimento nas
despesas com juros – que devem passar
de 5,1% do PIB, em 2013, para 5,3%, em
2014 – deve elevar o déficit nominal para
3,5% do PIB.
Apesar do déficit nominal elevado, a
relação Dívida Líquida/PIB deve permane-
cer próxima à observada em 2013, pois
o efeito do déficit será compensando
pelos efeitos da desvalorização do Real
nos ajustes cambiais feitos nas dívidas
interna e externa e pelo crescimento
do PIB nominal. Assim, a CNI projeta
relação Dívida Líquida/PIB de 33,8%, em
dezembro de 2014, contra os 33,6% de
dezembro de 2013.
Evolução da Dívida Líquida do Setor Público
Em relação ao PIB (%)
Queda da relação Dívida Líquida/PIB entre dez/12 e fev/14 foi
determinada pelo ajuste cambial nas dívidas interna e externa
Fonte: Banco Central do Brasil - Elaboração: CNI
2014, se recupere ao longo do ano e, com
isso, a receita líquida deve ter aumento
real de 1,9%. Nesse cenário, o superávit
primário estimado para o Governo Federal
e suas estatais em 2014 é de R$ 73,0
bilhões (1,4% do PIB projetado pela CNI).
Para alcançar a meta estipulada, que é de
R$ 80,8 bilhões, o Governo Federal preci-
sará anunciar contingenciamento adicional
de R$ 7,8 bilhões.
No caso de estados e municípios, a
expectativa é de acomodação no ritmo
de crescimento das receitas, que deverão
sofrer menor impacto positivo da regula-
rização das transferências da União. Ape-
sar de também ser esperada uma queda
no crescimento das despesas, o superávit
primário deve reduzir-se ligeiramente em
relação ao obtido até fevereiro e terminar
2014 em cerca de R$ 21 bilhões (0,4%
do PIB). Esse montante seria superior à
meta estipulada pelo Governo Federal (R$
18,2 bilhões).
30
31
32
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36
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38
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dez/12 fev/13 abr/13 jun/13 ago/13 out/13 dez/13 fev/14
Dívida Líquida Dívida Líquida (excluído ajuste cambial)
Ano 30, n. 01, janeiro/março de 2014
10
Superávit comercial em risco
Rebaixamento do rating soberano não causou maior impacto nos mercados
setor externo e câmbio
Em março ocorreu a já antecipada
mudança no rating dos títulos sobe-
ranos do Brasil. A agência de risco
Standard&Poor’s rebaixou a nota brasi-
leira, mas não retirou o grau de investi-
mento, o que conteve maior impacto nos
mercados, inclusive de câmbio. Até o
fim do ano, revisões de outras agências
poderão acontecer, mas também não
devem retirar o grau de investimento.
No primeiro bimestre, a taxa de câmbio
permaneceu entre R$ 2,35/US$ e R$
2,45/US$ e ao fim de março recuou 2,8%
em apenas quatro dias, para R$ 2,26/
US$. A taxa de câmbio deverá retomar
alguma desvalorização, mas continuará
mostrando forte oscilação, devido tanto
ao cenário político doméstico quanto
ao cenário externo, em particular pela
incerteza sobre os rumos da política
monetária norte-americana. A taxa de
câmbio deverá terminar o ano próxima a
R$ 2,45/US$, com média anual em torno
de R$ 2,35/US$.
Déficit comercial no
primeiro trimestre alcança
novo recorde
As exportações totalizaram US$ 49,6
bilhões no primeiro trimestre de 2014,
valor 4,1% menor que o observado em
igual período de 2013. As importações
somaram US$ 55,7 bilhões no mesmo
período, valor 2,2% inferior ao registrado
em 2013. Como resultado, a balança co-
mercial registrou déficit recorde de US$
6,1 bilhões no período, montante 15,8%
superior ao registrado em 2013.
Vale lembrar que no primeiro trimestre
de 2013 o forte crescimento das impor-
tações foi explicado, em grande parte,
pelo registro atrasado de importações
de petróleo realizadas ainda em 2012.
Além disso, o resultado negativo do
primeiro trimestre de 2014 ocorreu
mesmo com a manutenção da taxa de
câmbio em um patamar cerca de 15%
mais desvalorizado que o observado no
primeiro trimestre de 2013.
O fraco desempenho das exportações
em 2014 se deve, sobretudo, às expor-
tações de produtos manufaturados, que
recuaram 9,5% no primeiro trimestre de
2014, na comparação com igual período
de 2013.
Com relação às importações, a queda
no primeiro trimestre (US$ 333 milhões
a menos na comparação com o primeiro
trimestre de 2013) deve-se, sobretudo, à
queda na importação de combustíveis e
lubrificantes (que recuou US$ 1,0 bilhão
no período). Da mesma forma que nas
exportações, a desvalorização do câmbio
aparentemente não interferiu na evolução
das importações neste início de ano.
Para os meses a frente, espera-se nova
queda do superávit comercial, que será
o menor desde 2000. As razões para
essa queda são várias. As exportações
de plataformas de petróleo não deverão
se repetir em 2014. Em 2013, essas
exportações totalizaram US$ 7,7 bilhões
e evitaram um déficit comercial (no ano,
houve superávit de US$ 2,6 bilhões).
Além disso, no caso dos manufaturados,
a tendência é que o quadro na Argentina
Saldo comercial brasileiro
Acumulado janeiro-março - em US$ bilhões
Em 2014, déficit comercial no 1º trimestre cresceu 15,8% na
comparação com ano anterior
Fonte: MDIC/SECEX
6,2
8,3
9,3
8,7
2,8 3,0
0,9
3,1
2,4
-5,2
-6,1
2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014
Ano 30, n. 01, janeiro/março de 2014
11
não melhore e as exportações para
outros mercados consumidores
de industrializados continue
difícil. Pesquisas recentes da CNI
(Investimentos da Indústria e Entraves
às Exportações Brasileiras) mostram
que as empresas investem cada vez
menos com foco no mercado externo
e que as dificuldades para exportar se
multiplicam (burocracia, infraestrutura,
sistema tributário, etc.).
Com relação à exportação de básicos,
espera-se que a forte queda nos preços
de exportação de minério de ferro
observada no primeiro trimestre deve se
manter até o fim do ano. Nos primeiros
meses do ano, parte dessa tendência
foi compensada pelo aumento de preço
de outras commodities, sobretudo
agrícolas, fundamentalmente por conta
do clima adverso em algumas regiões
produtoras de bens primários, o que
restringiu a oferta desses produtos.
Para o final do ano, parte desse efeito
deve se reduzir. Nesse cenário, estima-
mos nova queda nas exportações, que
deverão totalizar US$ 240 bilhões, 1% a
menos que em 2013.
No tocante às importações, à princípio,
o câmbio muito mais desvalorizado e
o menor ritmo de crescimento sugeri-
riam uma importação menor. Contudo,
insumos e matérias-primas importados
dificilmente mostrarão queda acentua-
da. Isso porque, em muitos casos, não
possuem similar nacional ou envolve-
riam custosas mudanças nos proces-
sos produtivos, o que representa um
investimento inviável em um cenário de
custos de investimento em alta e câmbio
instável. Adicionalmente, a parcela de
importados no consumo doméstico (pró-
ximo de 25%) garante que o aumento no
consumo das famílias tenha impacto nas
importações. Finalmente, a necessidade
de se continuar a importar gasolina e
Saldo em transações correntes
Em proporção do PIB (%)
Déficit em transações correntes segue crescendo
diesel, estimulada também pela ativação
das termelétricas, impedirão que as
importações de petróleo mostrem queda
mais forte.
Assim, as importações devem se reduzir
em 0,5%, para US$ 238,5 bilhões. Com
isso, o saldo comercial alcançaria apenas
US$ 1,5 bilhão. Considerando-se as
incertezas, é possível um saldo menor,
ou eventualmente um pequeno déficit.
Investimento estrangeiro
direto será inferior ao déficit
em transações correntes
O déficit em conta corrente acumulado
em 12 meses totalizou US$ 82,5 bilhões
em fevereiro de 2014, valor 30% superior
ao registrado em 12 meses até fevereiro
de 2013. O valor representa 3,7% do
PIB, ante 2,8% registrado em fevereiro
de 2013. Já o IED em 12 meses findos
em fevereiro acumulou US$ 65,7 bilhões,
valor apenas 3% superior ao registrado
nos 12 meses anteriores.
A expectativa é que o déficit em tran-
sações correntes permaneça crescendo
em 2014, com aumento no déficit de
serviços e a queda no saldo comercial.
As despesas com aluguel de equipa-
mentos deverão se elevar por conta
do aumento do número de plataformas
em operação. As receitas com viagens
internacionais não irão mostrar forte
aumento, a exemplo da experiência
de outros países que sediaram Copas
do Mundo. Dessa forma, o déficit em
transações correntes deverá alcançar
US$ 88 bilhões ou 3,9% do PIB projeta-
do pela CNI.
O investimento estrangeiro direto será
menor em 2014, não sendo suficiente
para cobrir o déficit pelo segundo ano
consecutivo. A menor liquidez global e
a perspectiva de crescimento menor no
médio prazo (ao mesmo tempo em que
as economias de países desenvolvidos
deverão mostrar maior crescimento)
explicam o menor IED e as dificuldades
de financiamento da conta corrente.
Fonte: Banco Central - * Previsão CNI
1,76 1,58
1,25
0,11
-1,71
-1,49
-2,2 -2,12
-2,41
-3,66
-3,95
2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014*
Ano 30, n. 01, janeiro/março de 2014
perspectivas da economia brasileira
2012 2013
2014
projeção
anterior
(dez/13)
2014
(projeção)
Atividade econômica
PIB
(variação anual)
1,0% 2,3% 2,1% 1,8%
PIB industrial
(variação anual)
-0,8% 1,3% 2,0% 1,7%
Consumo das famílias
(variação anual)
3,2% 2,3% 1,7% 1,7%
Formação bruta de capital fixo
(variação anual)
-4,0% 6,3% 5,0% 2,5%
Taxa de Desemprego
(média anual - % da PEA)
5,5% 5,4% 5,6% 5,7%
Inflação
Inflação
(IPCA - variação anual)
5,8% 5,9% 6,0% 6,4%
Taxa de juros
Taxa nominal de juros
(taxa média do ano) 8,63% 8,29% 10,48% 11,03%
(fim do ano) 7,25% 10,00% 10,50% 11,25%
Taxa real de juros
(taxa média anual e defl: IPCA)
3,1% 2,0% 4,4% 4,4%
Contas públicas
Déficit público nominal
(% do PIB)
2,48% 3,28% 3,70% 3,50%
Superávit público primário
(% do PIB)
2,39% 1,90% 1,40% 1,80%
Dívida pública líquida
(% do PIB)
35,1% 33,6% 33,9% 33,8%
Taxa de câmbio
Taxa nominal de câmbio - R$/US$
(média de dezembro) 2,08 2,35 2,45 2,45
(média do ano) 1,95 2,15 2,35 2,35
Setor externo
Exportações
(US$ bilhões)
242,6 242,2 249,0 240,0
Importações
(US$ bilhões)
223,2 239,6 240,0 238,5
Saldo comercial
(US$ bilhões)
19,4 2,6 9,0 1,5
Saldo em conta corrente
(US$ bilhões)
-52,4 -81,4 -72,2 -88,0
INFORME CONJUNTURAL | Publicação Trimestral da Confederação Nacional da Indústria - CNI | www.cni.org.br | Diretoria de Políticas e
Estratégia - DIRPE | Gerência Executiva de Política Econômica - PEC | Gerente-executivo: Flávio Castelo Branco | Análise: Danilo César Cascaldi
Garcia, Fábio Bandeira Guerra, Isabel Mendes de Faria, Marcelo Souza Azevedo e Mário Sérgio Carraro Telles | Informações técnicas: (61)
3317-9472 - Fax: (61) 3317-9456 | Supervisão Gráfica: Núcleo de Editoração CNI | Assinaturas: Serviço de Atendimento ao Cliente - Fone:
(61) 3317-9992 - email: sac@cni.org.br. Autorizada a reprodução desde que citada a fonte. Documento elaborado em 10 de abril de 2014.

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  • 1. Ano 30 Número 01 janeiro/março de 2014 www.cni.org.br Economia brasileira deve crescer 1,8% no ano Mercado de trabalho perde dinamismo Pág. 4 Inflação próxima ao teto da meta em 2014 Forte crescimento das despesas no início do ano Superávit comercial em risco Pág. 10 A economia brasileira no primeiro trimestre de 2014 O ano se iniciou com alguns resultados positivos, como o crescimento da produção industrial. No entanto, há também claros sinais de alerta na economia: a inflação mostra ten- dência de aceleração e o saldo comercial em 12 meses se reduz de forma acentuada. Nesse ambiente, a CNI estima que o PIB irá crescer 1,8%, menos que no ano passado. O mesmo ocorrerá com a indústria de transformação, com expansão de 1,5%. O investimento, a variável crítica para acelerar o crescimento no curto prazo, crescerá apenas 2,5%. A alta da produção industrial nos primeiros dois meses, contudo, não assegura crescimento maior no ano. Primeiro, há um efeito estatístico associado a um maior número de dias úteis no primeiro bimestre de 2014 comparativamente ao mesmo período do ano passado, com o feriado de Carnaval ocorrendo em março. Se- gundo, com a intenção de combater a inflação elevada, o Banco Central aumentou a taxa de juros real para quase 5% ao ano. O rebaixamento da classificação da dívida soberana brasileira é uma consequência direta da deterioração das contas públicas e do baixo crescimento econômico, que aumenta o risco fiscal. Não significou a perda do grau de investimento, crucial para a manutenção dos fluxos de capital em direção ao país e atração da poupança externa. Todavia, demonstra que correções de rumo se fazem necessárias e que é preciso melhorar a qualidade do mix de política fiscal e monetária, de modo a não prejudicar a dinâmica da dívida pública. A questão energética é outro fator que preocupa e que afeta as decisões de inves- timento. A solução para atender a demanda durante o quadro hídrico adverso implicou em custos fiscais no curto prazo e no aumento das tarifas no médio prazo; e ainda persistem incertezas sobre o risco de racionamento. To- das essas situações significam ônus ao setor produtivo, afetando a confiança e desestimu- lando investimentos. Sinais de alerta na economia INFORME CONJUNTURAL O baixo dinamismo das exportações, mesmo quando a economia mundial mostra alguma recuperação, e o vigor das importações se refletem diretamente no ritmo de produção da indústria de transformação. O crescente déficit dos produtos manufaturados, que chegou a US$ 106 bilhões, é demanda subtraída da indústria brasileira. As dificuldades de competitividade dos produtos brasileiros, com o elevado custo doméstico de produção, limita o investimento com foco no mercado externo. Pesquisa da CNI, (Investimento na Indústria Brasileira, 2014) mostrou que apenas 3,6% das empresas tem esse objetivo, o que consolida um cenário pouco favorável. As razões para o baixo crescimento recente são diversas. Mas todas elas tem um elo comum na incerteza quanto à efetiva execução das medidas necessárias para reverter o quadro de baixa competitividade. O que seria fundamental para reacender a confiança, indispensável para a retomada do investimento. Saldo comercial de manufaturados Acumulado em 12 meses - US$ bilhões Déficit comercial de manufaturas evidencia problema de competitividade Informativo da Confederação Nacional da Indústria Fonte: Funcex Pág. 2 Pág. 6 Pág. 8 ISSN 1983-621X -106,7-120,0 -100,0 -80,0 -60,0 -40,0 -20,0 0,0 20,0 mar/04 mar/05 mar/06 mar/07 mar/08 mar/09 mar/10 mar/11 mar/12 mar/13 mar/14
  • 2. Ano 30, n. 01, janeiro/março de 2014 2 Economia brasileira deve crescer 1,8% no ano Após registrar queda na atividade no fim do ano passado, a indústria apresentou resultados positivos no primeiro bimestre de 2014. A produção industrial subiu 1,3% (PIM-PF/IBGE), na comparação dos dois primeiros meses deste ano com o mesmo período de 2013, mas tal crescimento ainda não foi suficiente para recolocar o índice de produção no nível observado em outubro passado. Também na comparação bimestral, o faturamento real e as horas trabalhadas na indústria de transformação cresceram 6,6% e 1,2%, respectivamente (Indicadores Industriais/CNI). Cabe ressaltar que parte do crescimento desses indicadores deve-se ao aumento no número de dias úteis em fevereiro, uma vez que o feriado de Carnaval passou de fevereiro, em 2013, para março, em atividade econômica 2014. Com isso, o primeiro bimestre de 2014 teve três dias úteis a mais que no ano passado. Ritmo de atividade industrial do primeiro bimestre não deve ser mantido no restante do ano Ao adicionar outros elementos na análise prospectiva da indústria em 2014, nota-se que os entraves ao crescimento devem ter maior peso que os incentivos. Dentre os entraves estão o longo ciclo de alta da taxa de juros, a reversão de algumas desonerações tributárias (como a redução do IPI para automóveis e o REINTEGRA) e a provável intensificação no ritmo de crescimento do custo de produ- ção, devido, sobretudo, ao encarecimento tanto da energia elétrica (em função do déficit hídrico) como dos insumos importados (em função da desvalorização cambial). Pelo lado dos incentivos, merecem destaque a desoneração da folha de pagamentos e a melhora na rentabilidade das exportações, embora os efeitos sejam limitados nos dois casos. No primeiro, a limitação ocorre porque, em principio, a medida será descontinuada no fim de 2014, o que pode gerar insegurança nas empresas. Já no segundo caso, os be- nefícios são restringidos pelo tempo que as empresas exportadoras levarão para reagir frente a uma situação de melhora nas expectativas de rentabilidade de suas operações de comércio. Nesse cenário de incertezas, o empre- sário industrial tem se mostrado pouco confiante. O Índice de Confiança do Empresário Industrial (ICEI/CNI) está abaixo de sua média histórica (58,1 pontos em março) desde 2012, e teve seu nível reduzido ainda mais a partir de julho do ano passado. Os resultados apurados nos três primeiros meses de 2014 mostram manutenção desse quadro negativo: janeiro (53,1), fevereiro (52,4) e março (52,5). Como reflexo da baixa confiança, a intenção de investimento na indústria para 2014 é a menor desde 2010, quando o indicador passou a ser levantado pela pesquisa Investimentos na Indústria/ CNI. No fim do ano passado, 78,1% dos empresários consultados sinalizaram intenção de investir este ano. Em 2011, esse percentual foi de 91,1%. Indústria avança, mais uma vez, menos que o PIB Índice de Confiança do Empresário Industrial (ICEI) Em pontos Empresário segue pouco confiante em 2014 Fonte: CNI 52,5 Média histórica 58,1 45 50 55 60 65 70 jan/10 jun/10 nov/10 abr/11 set/11 fev/12 jul/12 dez/12 mai/13 out/13 mar/14
  • 3. Ano 30, n. 01, janeiro/março de 2014 3 Dessa forma, a expectativa da CNI é de que a indústria de transformação cresça 1,5% em 2014, menos do que foi observa- do no ano passado (1,9%). Ainda assim, a indústria total deve expan- dir-se 1,7% em 2014, isto é, 0,4 ponto percentual acima do avanço registrado em 2013. Isso porque a indústria extrativa mineral voltará a crescer este ano (2,0%), depois de ter caído 2,8% no ano passado. Com relação aos dois outros segmentos da indústria, construção e serviços indus- triais de utilidade pública, há previsão de aumento de 1,5% para o primeiro e de 2,5% para o segundo. Os serviços devem apresentar redução no ritmo de crescimento. Em 2013, esse segmento expandiu-se 2,0%. Para 2014, a expectativa é de avanço de 1,7%. O desaquecimento no consumo das famílias, bem como o menor crescimento da indústria de transformação, explica a maior parte desse movimento. Para agropecuária, a perspectiva é de crescimento de 3,0% em 2014. Taxa menor que a do ano passado (7,0%), mas superior às taxas da indústria e dos serviços previstas para este ano. Investimento terá crescimento modesto em 2014 Do lado da demanda, a variável crítica é o investimento. Em 2013, a Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) cresceu expressiva- mente (6,3%), mas baseada, em grande parte, em movimentos excepcionais. O mais importante desses movimentos foi o aumento da venda de caminhões, moti- vado pela mudança na legislação sobre os padrões de emissão de gases poluentes. Em 2014, contudo, a perspectiva de cresci- mento do investimento é bem mais modes- ta. Os movimentos excepcionais de 2013 não devem se repetir esse ano, pelo menos não na mesma intensidade. Além disso, a combinação das restrições fiscais com a baixa confiança dos empresários industriais e o maior nível da Selic devem limitar os avanços do investimento em 2,5% no ano. Dessa maneira, a taxa de investimento (FBCF em proporção do PIB) irá situar-se em 18,5%, apenas 0,1 ponto percentual acima da taxa registrada em 2013. O consumo das famílias deve apresentar redução na sua taxa de crescimento pelo quarto ano consecutivo. Em 2010 houve expansão de 6,9%. Depois disso observou-se gradativa desaceleração: 4,1% (2011), 3,2% (2012) e 2,3% (2013). Para este ano, a expectativa é de que o consumo das famílias cresça 1,7%. Tal acomodação é justificada pela extensão do ciclo de alta dos juros, pela desacele- ração do crédito e pela taxa de inflação persistentemente elevada. Com relação ao consumo do governo, projeta-se moderada redução na taxa de crescimento, cujo valor deve cair de 1,9% em 2013 para 1,8% em 2014. Embora os gastos do governo usualmente cresçam Estimativa da CNI para o PIB Variação percentual e contribuição dos componentes do PIB 2014 Componentes do PIB Taxa de crescimento (%) Contribuição (p.p.) Ótica da demanda Consumo das famílias 1,7 1,1 Consumo do governo 1,8 0,4 FBKF 2,5 0,5 Exportações 2,0 0,3 (-) Importações 3,0 0,5 Ótica da oferta Agropecuária 3,0 0,2 Indústria 1,7 0,4 Indústria extrativa 2,0 0,1 Indústria de transformação 1,5 0,2 Construção civil 1,5 0,1 SIUP 2,5 0,1 Serviços 1,7 1,2 PIB pm 1,8 em anos de eleição, acredita-se que a atual situação das contas públicas não permitirá um avanço mais significativo desse componente da demanda. Considerando o câmbio em R$/US$ 2,45 no fim de 2014 (estimativa CNI), além da desaceleração do consumo das famílias, estima-se que as importações devem crescer 3,0% este ano, significativamente menos que em 2013 (8,4%). As exportações também devem subir menos frente ao resultado do ano passa- do, mas essa redução de ritmo não deve ser tão intensa como nas importações. A CNI estima que as exportações de bens e serviços subam 2,0% em 2014, depois de terem aumentado 2,5% em 2013. Esse comportamento está fundamentado, basicamente, no menor crescimento das exportações de manufaturados, já que a indústria seguirá com dificuldade de competir internacionalmente este ano. Dessa maneira, a CNI projeta crescimento de 1,8% do PIB em 2014, resultado inferior ao apurado no ano passado, quando a economia avançou 2,3%.
  • 4. Ano 30, n. 01, janeiro/março de 2014 4 emprego e renda Mercado de trabalho perde dinamismo Emprego cai nas regiões metropolitanas emprego e renda PEA recua e mantém trajetória de queda da taxa de desemprego A população economicamente ativa (PEA – PME/IBGE) – composta por empregados e desempregados em busca de uma ocupação – diminuiu no primeiro bimestre do ano. Em janeiro, recuou em 0,8% na comparação com o mesmo período do ano anterior. Em fevereiro, o recuo foi de 0,5%. Por conta dessa queda, o efeito da retração da ocupação sobre o desemprego foi parcialmente neutralizado, assegurando um patamar historicamente baixo para a taxa de desemprego, que fechou fevereiro em 5,1% da PEA. O nível de ocupação no mercado de trabalho apresentou queda no início de 2014, depois de três meses con- secutivos de crescimento. O emprego metropolitano (PME/IBGE) recuou em 217,1 mil vagas em janeiro e 137,5 mil vagas em fevereiro. Apesar do resultado negativo, o empre- go se manteve estável em fevereiro, na comparação com o mesmo período do ano anterior, após recuar levemente (-0,1%) em janeiro. A retração registrada pela PME/ IBGE apresenta um significativo descolamento em relação aos dados de ocupação registrados pelo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED/MTE) nos dois primeiros meses do ano. Em janeiro, o CAGED registrou aumento de 29,5 mil vagas de trabalho e, em fevereiro, uma forte expansão de 260,8 mil vagas. Embora as diferenças metodológicas entre as duas pesquisas impliquem em limitações à análise comparativa, as divergências entre os resultados chamam atenção particularmente em fevereiro, quando a diferença se intensificou, registrando um descasamento de 398,3 mil vagas. Mercado de trabalho da indústria continua sendo o mais afetado As indústrias extrativa, de transformação e SIUP (Serviços Industriais de Utilidade Pública) ampliaram seus postos de trabalho em 120 mil vagas nos dois primeiros meses de 2014. Foi a maior contribuição entre os setores da economia. Apesar disso, o resultado para a indústria nesse primeiro bimestre foi inferior ao verificado no ano passado (queda de 2,6% frente ao observado no mesmo período do ano anterior). Nos últimos 12 meses findos em fevereiro, a indústria (contemplando os três segmentos) foi o setor que mais perdeu empregos, 84 mil postos de trabalho no período, o que representa queda de 2,25%. Esse desempenho é bem inferior ao do comércio (+0,2%), serviços (-0,2%) e administração pública (+3,0%). Fonte: IBGE Taxa de desemprego metropolitana Em % da PEA Apesar da retração na oferta de trabalho, recuo da PEA mantém baixa a taxa de desemprego no primeiro bimestre de 2014 5,1 4 5 6 7 8 9 fev/09 jul/09 dez/09 mai/10 out/10 mar/11 ago/11 jan/12 jun/12 nov/12 abr/13 set/13 fev/14
  • 5. Ano 30, n. 01, janeiro/março de 2014 5 A taxa de desemprego vem mantendo sua trajetória de queda em praticamente toda a série histórica iniciada em março de 2002. Todavia, espera-se uma reversão dessa tendência nos meses a frente em 2014. A mudança ocorrerá em função da perda de ritmo de criação de vagas e do crescimento da demanda por emprego por parte dos trabalhadores devido às pressões inflacionárias sobre os salários. Espera-se uma elevação da inflação em 2014, que deve encerrar o ano próximo ao teto da meta – 6,4% pela projeção da CNI. Esse resultado deve comprimir a renda familiar e arrefecer o consumo das famílias. Nesse cenário, espera-se um aumento na busca por empregos, que irá se refletir em uma taxa de desemprego mais elevada para o ano: 5,7%. Formalização do mercado de trabalho segue em expansão Mesmo com o mercado de trabalho pouco aquecido nos primeiros dois meses do ano, a geração de empregos formais nas seis maiores regiões metropolitanas (PME/IBGE) continua avançando em detrimento dos empregos informais. O emprego com carteira, que avança continuamente desde outubro de 2009, cresceu 1,7% em fevereiro na comparação com o mesmo período do ano anterior. Por outro lado, o emprego sem carteira, que apresenta queda há 12 meses consecutivos, registrou recuo de 12,9% na mesma base de comparação. Com isso, o índice de formalidade – soma dos empregos com carteira, militares e regime jurídico único sobre o total de empregos –, mantém seu Rendimento Médio Real e Massa Salarial Real Variação (%) em relação ao mesmo período do ano anterior Apesar do bom desempenho nos dois primeiros meses do ano, o rendimento médio real e massa salarial devem ter avanço moderado em 2014 Fonte: IBGE -2 0 2 4 6 8 10 12 fev/09 ago/09 fev/10 ago/10 fev/11 ago/11 fev/12 ago/12 fev/13 ago/13 fev/14 Massa Salarial Real Rendimento Médio Real patamar elevado, atingindo 63,2% em fevereiro de 2014. Rendimento médio real crescerá menos em 2014 O rendimento médio real dos trabalhadores metropolitanos (PME/ IBGE) cresceu 3,1% em fevereiro quando comparado ao mesmo período do ano anterior, crescimento pouco menor que o registrado em janeiro (3,6%). Para o ano de 2014, além do baixo reajuste do salário mínimo, em função do menor crescimento do PIB em 2012, espera-se uma continuidade no desa- quecimento da ocupação. Reforçando esse cenário, a PEA – que apresentou queda nos dois primeiros meses de 2014 – deverá reverter sua trajetória e aumentar nos próximos meses em função das pressões inflacionárias sobre o poder de compra dos trabalhadores. Assim, apesar do resultado positivo nos dois primeiros meses do ano, o crescimento da renda real em 2014 deve acompanhar o desempenho de 2013, quando cresceu 1,8%, ficando abaixo da média dos anos anteriores: entre 2006 e 2012, o crescimento da renda real foi de 3,5% ao ano. Nesse cenário, estima-se que o crescimento médio da renda real em 2014 seja 1,5%. A massa salarial também avançou nos primeiros meses de 2014 – 3,4% em janeiro e 3,1% em fevereiro –, mas, acompanhando a tendência dos rendimentos, deve fechar o ano com uma taxa de crescimento inferior à verificada em 2013, quando o crescimento foi de 2,6%. É importante destacar que, entre 2006 e 2012, o crescimento médio da massa salarial real foi de 5,9%.
  • 6. Ano 30, n. 01, janeiro/março de 2014 6 Inflação próxima ao teto da meta em 2014 inflação, juros e crédito A inflação continua sob alerta no radar econômico. O IPCA mantém-se substan- cialmente acima do centro da meta de inflação e as previsões para o restante do ano não são favoráveis. A CNI estima que o IPCA termine 2014 em 6,4%, bem próximo ao teto da meta. O acumulado em 12 meses do IPCA sustenta-se acima dos 4,5% desde setembro de 2010. Esse longo período contribui para consolidar uma inércia inflacionária e afasta a possibilidade de reenquadramento na meta no curto e médio prazo. Apesar da ligeira desa- celeração em janeiro (acumulado em 12 meses de 5,59%, contra 5,91% em dezembro), em março o IPCA voltou a superar o patamar dos 6,0%, com acu- mulado em 12 meses de 6,15%. O principal motivo da alta de março foi a reaceleração dos preços dos alimentos (alta de 1,92% no mês), mas não foi o único. Todos os grupos do IPCA (preços de alimentos, dos produtos industriais, de serviços e administrados) mostraram crescimento no acumulado em 12 meses. Os preços administrados subiram de um acumulado em 12 meses de 1,7% em janeiro para 3,6% em março. Esse movimento reflete o fim do efeito bené- fico da desoneração da energia elétrica. A redução nas tarifas de energia gerou queda no nível de preços em fevereiro e março de 2013. Uma vez que o cálculo é feito como um acumulado em 12 meses, em termos estatísticos esse efeito de- saparece em fevereiro e março de 2014, gerando pressão de alta. Essa alta em 12 meses acaba sendo potencializada porque o ritmo de rea- justes de outros preços administrados foi mantido (e até acelerado). Assim, o grupo preços administrados, que encer- rou 2013 com acumulado em 12 meses de 1,7% e garantiu uma taxa de inflação inferior a 6,0%, deve encerrar 2014 em torno de 3,7%. Os preços dos alimentos apresentam alta acumulada em 12 meses de 7,1% em março. Após atingir em fevereiro (6,3%) o menor patamar desde março de 2012, os dados de março mostram que esse nível relativamente “baixo” (em compa- ração ao comportamento recente dos preços do grupo) não deve se sustentar. O comportamento favorável do segundo trimestre do ano passado, caracterizado por estabilidade e até queda nos preços dos alimentos, não deve se repetir em 2014. Assim, com a reaceleração do acumulado em 12 meses do grupo, o IPCA voltou a figurar acima da casa dos 6,0%. A CNI estima que os preços dos alimentos terminarão 2014 com um acumulado próximo a 9,0%. Os preços dos produtos industriais apresentam também comportamento que contribui para a alta na inflação. O acumu- lado em 12 meses encontra-se em 5,1% em março, em linha com a aceleração percebida desde outubro de 2013. Parte dessa alta pode ser explicada pela desvalorização cambial observada no fim do ano passado, gerando pressão nos preços de produtos e insumos impor- tados. A expectativa é que esse efeito ainda se estenda pelos próximos meses, IPCA por grupos Acumulado em 12 meses (%) Todos os grupos do IPCA aceleraram em março Efeito positivo da desoneração da energia elétrica chega ao fim Fonte: IBGE - Elaboração: CNI Administrados Industriais Alimentação Serviços IPCA 0 2 4 6 8 10 12 14 mar/10 jul/10 nov/10 mar/11 jul/11 nov/11 mar/12 jul/12 nov/12 mar/13 jul/13 nov/13 mar/14
  • 7. Ano 30, n. 01, janeiro/março de 2014 7 mesmo com a recente acomodação da taxa de câmbio. A CNI estima que a alta nos preços do grupo dos produtos indus- triais termine o ano em 5,1%. O grupo dos serviços continua a mostrar forte inércia inflacionária. O acumulado em 12 meses em março é de 9,0%, ligeiramente acima do observado em 2013. Para o fim do ano, a CNI espera alguma desaceleração, para 8,2%, mas ainda contribuindo fortemente para um alto patamar do IPCA. Em suma, o que se deve observar em 2014 é um cenário de preços de ali- mentos e de serviços acima do patamar de 8,0% ao ano, preços de produtos industriais em alta em função da des- valorização cambial e sem a contribui- ção de desonerações sobre os preços administrados para diminuir a inflação. O resultado desse cenário se traduz na expectativa da CNI de um IPCA em 6,4% no fim do ano. Selic volta ao patamar do fim de 2011 O longo período de inflação acima do centro da meta, a resistência do IPCA em convergir para esse objetivo e a deteriora- ção das previsões de inflação para 2014 fizeram o Copom adotar uma política de aperto monetário intensa. O Copom reiniciou o ciclo de alta na taxa básica de juros em abril de 2013. Desde então, foram nove elevações consecuti- vas na Selic, passando de 7,25% a.a. para 11,00% a.a.. Os efeitos do aperto monetário sobre a in- flação são defasados. Assim, é esperado que o principal impacto das altas nos juros ainda está por vir. Nas duas últimas reuniões (fevereiro e abril), o ritmo de ele- vação de 0,5 p.p. foi reduzido para 0,25 p.p., o que dá indícios de que o ciclo de alta deve estar chegando ao fim. A CNI estima que o Copom faça uma nova ele- vação nos juros na reunião de maio, de 0,25 p.p., finalizando o aperto monetário com alta acumulada de 4,00 p.p.. A Selic então alcançará 11,25% a.a., sustentando-se nesse patamar ao longo de 2014. Com essa taxa e a expectativa de inflação, a taxa de juros real média do ano alcançará 4,4% a.a., mais que o do- bro do observado em 2013 (2,0% a.a.). Aperto monetário se reflete em alta nas taxas de juros de operações de crédito As elevações sucessivas na Selic se traduzem em taxas de juros maiores para os tomadores finais. As taxas de juros médias das operações de crédito para pessoas físicas atingiram, em fevereiro, 27,2% a.a., uma alta de 3,2 p.p. em comparação ao patamar de maio de 2013. Essa alta afeta, inclusive, as empresas de menor risco. A Taxa Preferencial Brasileira (clientes preferenciais) passou de uma mí- nima de 10,8% a.a. em fevereiro de 2013 para 14,6% a.a. em janeiro de 2014. O aumento na taxa de juros, aliado ao baixo crescimento da economia, levaram à desaceleração do crédito como um todo. A taxa de crescimento média em 12 meses do crédito às pessoas físicas, que era em torno de 17,5% no início de 2013, passou para 16,5% no mesmo período de 2014. Para pessoas jurídicas, essa taxa passou de 16,9% para menos de 15,0%, entre fevereiro do ano passa- do e deste ano. Para os próximos meses, a tendência de alta nos juros das operações de crédito deve se manter, uma vez que o efeito da alta na Selic sobre essas taxas não é imediato. Como resultado, é de se espe- rar também que a concessão de crédito desacelere ainda mais ao longo de 2014. Taxa média de juros da operações de crédito Percentual ao ano (% a.a.) Taxas de juros aos tomadores finais mostram tendência de alta Fonte: Banco Central do Brasil 10 15 20 25 30 35 nov/11 fev/12 mai/12 ago/12 nov/12 fev/13 mai/13 ago/13 nov/13 fev/14 Total Pessoa jurídica Pessoa física
  • 8. Ano 30, n. 01, janeiro/março de 2014 8 política fiscal A política fiscal acentuou, nos primeiros meses de 2014, o caráter expansionista observado no ano anterior. O expressivo crescimento das despesas foi registrado tanto no Governo Federal como nos gover- nos de estados e municípios. Entretanto, a nova queda do superávit primário do setor público foi determinado pelo Gover- no Federal, onde o aumento dos gastos foi acompanhado de redução no ritmo de aumento das receitas. Depois de encerrar 2013 com crescimen- to real de 6,9%, as despesas federais aceleraram seu ritmo de expansão para 9,4% no primeiro bimestre de 2014, na comparação com o mesmo período do ano anterior. Grande parte dessa aceleração foi explicada pelas despesas discricionárias. Os gastos com custeio tiveram aumento real de 11,3% no primeiro bimestre de 2014, ao passo que os investimentos (GND 4 do Sistema Integrado de Admi- nistração Financeira – SIAFI) mais que dobraram (108,7%) na comparação com o primeiro bimestre de 2013. Ao que tudo indica, na tentativa de cumprir a meta de superávit primário, o Governo Federal retardou os pagamentos nos últimos meses de 2013. No caso dos investimentos, foram pagos nos dois primeiros meses de 2014 R$ 9,0 bilhões em restos a pagar dos anos anteriores. No mesmo período de 2013, esse montante foi de R$ 4,3 bilhões. Um aumento real de 107,1%, próximo ao verificado no total dos investimentos. Pelo lado da arrecadação, o Governo Fe- deral experimentou movimento oposto ao verificado nas despesas. O aumento real da receita líquida foi de 1,6% nos meses de janeiro e fevereiro de 2014, na com- paração com o mesmo período do ano anterior. Em 2013, a receita líquida teve crescimento real de 5,9%, impulsionado pela arrecadação extraordinária de R$ 20 bilhões com parcelamentos de débitos e de R$ 15 bilhões com a concessão do campo de petróleo de Libra. O resultado dessa combinação de despesas em aceleração e perda de ritmo de crescimento das receitas foi a queda do superávit primário. Nos últimos 12 meses encerrados em fevereiro de 2014, o resultado primário do Governo Federal alcançou 1,3% do PIB, contra 1,55% registrado até dezembro de 2013. Receita de estados e municípios se recupera Nos governos regionais, o ritmo de crescimento das despesas passou de 4,6%, observados em 2013 contra 2012, para 8,2% em janeiro de 2014, contra o mesmo mês do ano anterior. Por outro lado, o aumento real das receitas dos estados e municípios, que foi de 3,3% em 2013, saltou para 12,4% em janeiro de 2014, na comparação com o mesmo mês do ano passado. Essa aceleração ocorreu em função da regularização de transferên- cias recebidas da União para compensar a desoneração do ICMS nas exportações, cuja parcela não transferida em 2013 foi enviada aos estados em janeiro de 2014. Com isso, o superávit primário de estados e municípios acumulado em 12 meses Superávit primário do setor público consolidado e por níveis de governo Em relação ao PIB nos últimos 12 meses (%) Superávit primário do setor público caiu 0,6 ponto percentual do PIB entre o janeiro de 2013 e fevereiro de 2014 Fonte: Banco Central do Brasil - Elaboração: CNI Forte crescimento das despesas no início do ano Superávit Primário mantém trajetória de queda 0 1 2 3 4 jan/12 mar/12 mai/12 jul/12 set/12 nov/12 jan/13 mar/13mai/13 jul/13 set/13 nov/13 jan/14 Setor Público Consolidado Governo Federal Governos Regionais
  • 9. Ano 30, n. 01, janeiro/março de 2014 9 elevou-se de 0,35%, em dezembro de 2013, para 0,45% do PIB, em fevereiro de 2014. Essa elevação não foi suficiente, no entanto, para compensar a queda do superávit primário do Governo Fede- ral. Dessa forma, o superávit primário acumulado em 12 meses do setor público consolidado caiu de 1,9%, em dezembro de 2013, para 1,75% do PIB, em fevereiro de 2014. Apesar da queda do superávit primário, o menor pagamento de juros fez com que o déficit nominal acumulado nos últimos 12 meses permanecesse estável em 3,3% do PIB entre dezembro de 2013 e fevereiro de 2014. A relação Dívida Líquida/PIB também permaneceu praticamente está- vel desde dezembro de 2013, passando de 33,6% para 33,7% do PIB, em fevereiro de 2014. Já a relação Dívida Bruta/PIB apresentou elevação e atingiu 57,5% em fevereiro, contra 56,8% registrados em dezembro de 2013, o que refletiu, princi- palmente, o pagamento de juros sobre o estoque da dívida bruta. Contingenciamento expressivo reduz expansão das despesas federais A política fiscal deve reduzir seu caráter expansionista nos próximos meses. O contingenciamento de cerca de R$ 31,0 bilhões feito pelo Governo Federal deve reduzir o ritmo de crescimento das despesas de custeio e de capital até o fim do ano. Além disso, o aumento dos gastos com pessoal também deve se reduzir nos próximos meses. Dessa forma, as despesas do Governo Federal devem encerrar 2014 com expansão real de 2,8% na comparação com 2013. Já a receita líquida do Governo Federal deve registrar ligeira aceleração até dezembro. A expectativa é que a arreca- dação de impostos e contribuições, que não cresceu nos dois primeiros meses de Nesse cenário, o superávit primário do setor público consolidado alcançaria R$ 94,0 bilhões (1,8% do PIB) e ficaria abaixo da meta de R$ 99,0 bilhões. Esse resultado representaria uma queda em relação ao resultado primário de 1,9% registrado em 2013. Essa retração, aliada à expectativa de crescimento nas despesas com juros – que devem passar de 5,1% do PIB, em 2013, para 5,3%, em 2014 – deve elevar o déficit nominal para 3,5% do PIB. Apesar do déficit nominal elevado, a relação Dívida Líquida/PIB deve permane- cer próxima à observada em 2013, pois o efeito do déficit será compensando pelos efeitos da desvalorização do Real nos ajustes cambiais feitos nas dívidas interna e externa e pelo crescimento do PIB nominal. Assim, a CNI projeta relação Dívida Líquida/PIB de 33,8%, em dezembro de 2014, contra os 33,6% de dezembro de 2013. Evolução da Dívida Líquida do Setor Público Em relação ao PIB (%) Queda da relação Dívida Líquida/PIB entre dez/12 e fev/14 foi determinada pelo ajuste cambial nas dívidas interna e externa Fonte: Banco Central do Brasil - Elaboração: CNI 2014, se recupere ao longo do ano e, com isso, a receita líquida deve ter aumento real de 1,9%. Nesse cenário, o superávit primário estimado para o Governo Federal e suas estatais em 2014 é de R$ 73,0 bilhões (1,4% do PIB projetado pela CNI). Para alcançar a meta estipulada, que é de R$ 80,8 bilhões, o Governo Federal preci- sará anunciar contingenciamento adicional de R$ 7,8 bilhões. No caso de estados e municípios, a expectativa é de acomodação no ritmo de crescimento das receitas, que deverão sofrer menor impacto positivo da regula- rização das transferências da União. Ape- sar de também ser esperada uma queda no crescimento das despesas, o superávit primário deve reduzir-se ligeiramente em relação ao obtido até fevereiro e terminar 2014 em cerca de R$ 21 bilhões (0,4% do PIB). Esse montante seria superior à meta estipulada pelo Governo Federal (R$ 18,2 bilhões). 30 31 32 33 34 35 36 37 38 39 dez/12 fev/13 abr/13 jun/13 ago/13 out/13 dez/13 fev/14 Dívida Líquida Dívida Líquida (excluído ajuste cambial)
  • 10. Ano 30, n. 01, janeiro/março de 2014 10 Superávit comercial em risco Rebaixamento do rating soberano não causou maior impacto nos mercados setor externo e câmbio Em março ocorreu a já antecipada mudança no rating dos títulos sobe- ranos do Brasil. A agência de risco Standard&Poor’s rebaixou a nota brasi- leira, mas não retirou o grau de investi- mento, o que conteve maior impacto nos mercados, inclusive de câmbio. Até o fim do ano, revisões de outras agências poderão acontecer, mas também não devem retirar o grau de investimento. No primeiro bimestre, a taxa de câmbio permaneceu entre R$ 2,35/US$ e R$ 2,45/US$ e ao fim de março recuou 2,8% em apenas quatro dias, para R$ 2,26/ US$. A taxa de câmbio deverá retomar alguma desvalorização, mas continuará mostrando forte oscilação, devido tanto ao cenário político doméstico quanto ao cenário externo, em particular pela incerteza sobre os rumos da política monetária norte-americana. A taxa de câmbio deverá terminar o ano próxima a R$ 2,45/US$, com média anual em torno de R$ 2,35/US$. Déficit comercial no primeiro trimestre alcança novo recorde As exportações totalizaram US$ 49,6 bilhões no primeiro trimestre de 2014, valor 4,1% menor que o observado em igual período de 2013. As importações somaram US$ 55,7 bilhões no mesmo período, valor 2,2% inferior ao registrado em 2013. Como resultado, a balança co- mercial registrou déficit recorde de US$ 6,1 bilhões no período, montante 15,8% superior ao registrado em 2013. Vale lembrar que no primeiro trimestre de 2013 o forte crescimento das impor- tações foi explicado, em grande parte, pelo registro atrasado de importações de petróleo realizadas ainda em 2012. Além disso, o resultado negativo do primeiro trimestre de 2014 ocorreu mesmo com a manutenção da taxa de câmbio em um patamar cerca de 15% mais desvalorizado que o observado no primeiro trimestre de 2013. O fraco desempenho das exportações em 2014 se deve, sobretudo, às expor- tações de produtos manufaturados, que recuaram 9,5% no primeiro trimestre de 2014, na comparação com igual período de 2013. Com relação às importações, a queda no primeiro trimestre (US$ 333 milhões a menos na comparação com o primeiro trimestre de 2013) deve-se, sobretudo, à queda na importação de combustíveis e lubrificantes (que recuou US$ 1,0 bilhão no período). Da mesma forma que nas exportações, a desvalorização do câmbio aparentemente não interferiu na evolução das importações neste início de ano. Para os meses a frente, espera-se nova queda do superávit comercial, que será o menor desde 2000. As razões para essa queda são várias. As exportações de plataformas de petróleo não deverão se repetir em 2014. Em 2013, essas exportações totalizaram US$ 7,7 bilhões e evitaram um déficit comercial (no ano, houve superávit de US$ 2,6 bilhões). Além disso, no caso dos manufaturados, a tendência é que o quadro na Argentina Saldo comercial brasileiro Acumulado janeiro-março - em US$ bilhões Em 2014, déficit comercial no 1º trimestre cresceu 15,8% na comparação com ano anterior Fonte: MDIC/SECEX 6,2 8,3 9,3 8,7 2,8 3,0 0,9 3,1 2,4 -5,2 -6,1 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014
  • 11. Ano 30, n. 01, janeiro/março de 2014 11 não melhore e as exportações para outros mercados consumidores de industrializados continue difícil. Pesquisas recentes da CNI (Investimentos da Indústria e Entraves às Exportações Brasileiras) mostram que as empresas investem cada vez menos com foco no mercado externo e que as dificuldades para exportar se multiplicam (burocracia, infraestrutura, sistema tributário, etc.). Com relação à exportação de básicos, espera-se que a forte queda nos preços de exportação de minério de ferro observada no primeiro trimestre deve se manter até o fim do ano. Nos primeiros meses do ano, parte dessa tendência foi compensada pelo aumento de preço de outras commodities, sobretudo agrícolas, fundamentalmente por conta do clima adverso em algumas regiões produtoras de bens primários, o que restringiu a oferta desses produtos. Para o final do ano, parte desse efeito deve se reduzir. Nesse cenário, estima- mos nova queda nas exportações, que deverão totalizar US$ 240 bilhões, 1% a menos que em 2013. No tocante às importações, à princípio, o câmbio muito mais desvalorizado e o menor ritmo de crescimento sugeri- riam uma importação menor. Contudo, insumos e matérias-primas importados dificilmente mostrarão queda acentua- da. Isso porque, em muitos casos, não possuem similar nacional ou envolve- riam custosas mudanças nos proces- sos produtivos, o que representa um investimento inviável em um cenário de custos de investimento em alta e câmbio instável. Adicionalmente, a parcela de importados no consumo doméstico (pró- ximo de 25%) garante que o aumento no consumo das famílias tenha impacto nas importações. Finalmente, a necessidade de se continuar a importar gasolina e Saldo em transações correntes Em proporção do PIB (%) Déficit em transações correntes segue crescendo diesel, estimulada também pela ativação das termelétricas, impedirão que as importações de petróleo mostrem queda mais forte. Assim, as importações devem se reduzir em 0,5%, para US$ 238,5 bilhões. Com isso, o saldo comercial alcançaria apenas US$ 1,5 bilhão. Considerando-se as incertezas, é possível um saldo menor, ou eventualmente um pequeno déficit. Investimento estrangeiro direto será inferior ao déficit em transações correntes O déficit em conta corrente acumulado em 12 meses totalizou US$ 82,5 bilhões em fevereiro de 2014, valor 30% superior ao registrado em 12 meses até fevereiro de 2013. O valor representa 3,7% do PIB, ante 2,8% registrado em fevereiro de 2013. Já o IED em 12 meses findos em fevereiro acumulou US$ 65,7 bilhões, valor apenas 3% superior ao registrado nos 12 meses anteriores. A expectativa é que o déficit em tran- sações correntes permaneça crescendo em 2014, com aumento no déficit de serviços e a queda no saldo comercial. As despesas com aluguel de equipa- mentos deverão se elevar por conta do aumento do número de plataformas em operação. As receitas com viagens internacionais não irão mostrar forte aumento, a exemplo da experiência de outros países que sediaram Copas do Mundo. Dessa forma, o déficit em transações correntes deverá alcançar US$ 88 bilhões ou 3,9% do PIB projeta- do pela CNI. O investimento estrangeiro direto será menor em 2014, não sendo suficiente para cobrir o déficit pelo segundo ano consecutivo. A menor liquidez global e a perspectiva de crescimento menor no médio prazo (ao mesmo tempo em que as economias de países desenvolvidos deverão mostrar maior crescimento) explicam o menor IED e as dificuldades de financiamento da conta corrente. Fonte: Banco Central - * Previsão CNI 1,76 1,58 1,25 0,11 -1,71 -1,49 -2,2 -2,12 -2,41 -3,66 -3,95 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014*
  • 12. Ano 30, n. 01, janeiro/março de 2014 perspectivas da economia brasileira 2012 2013 2014 projeção anterior (dez/13) 2014 (projeção) Atividade econômica PIB (variação anual) 1,0% 2,3% 2,1% 1,8% PIB industrial (variação anual) -0,8% 1,3% 2,0% 1,7% Consumo das famílias (variação anual) 3,2% 2,3% 1,7% 1,7% Formação bruta de capital fixo (variação anual) -4,0% 6,3% 5,0% 2,5% Taxa de Desemprego (média anual - % da PEA) 5,5% 5,4% 5,6% 5,7% Inflação Inflação (IPCA - variação anual) 5,8% 5,9% 6,0% 6,4% Taxa de juros Taxa nominal de juros (taxa média do ano) 8,63% 8,29% 10,48% 11,03% (fim do ano) 7,25% 10,00% 10,50% 11,25% Taxa real de juros (taxa média anual e defl: IPCA) 3,1% 2,0% 4,4% 4,4% Contas públicas Déficit público nominal (% do PIB) 2,48% 3,28% 3,70% 3,50% Superávit público primário (% do PIB) 2,39% 1,90% 1,40% 1,80% Dívida pública líquida (% do PIB) 35,1% 33,6% 33,9% 33,8% Taxa de câmbio Taxa nominal de câmbio - R$/US$ (média de dezembro) 2,08 2,35 2,45 2,45 (média do ano) 1,95 2,15 2,35 2,35 Setor externo Exportações (US$ bilhões) 242,6 242,2 249,0 240,0 Importações (US$ bilhões) 223,2 239,6 240,0 238,5 Saldo comercial (US$ bilhões) 19,4 2,6 9,0 1,5 Saldo em conta corrente (US$ bilhões) -52,4 -81,4 -72,2 -88,0 INFORME CONJUNTURAL | Publicação Trimestral da Confederação Nacional da Indústria - CNI | www.cni.org.br | Diretoria de Políticas e Estratégia - DIRPE | Gerência Executiva de Política Econômica - PEC | Gerente-executivo: Flávio Castelo Branco | Análise: Danilo César Cascaldi Garcia, Fábio Bandeira Guerra, Isabel Mendes de Faria, Marcelo Souza Azevedo e Mário Sérgio Carraro Telles | Informações técnicas: (61) 3317-9472 - Fax: (61) 3317-9456 | Supervisão Gráfica: Núcleo de Editoração CNI | Assinaturas: Serviço de Atendimento ao Cliente - Fone: (61) 3317-9992 - email: sac@cni.org.br. Autorizada a reprodução desde que citada a fonte. Documento elaborado em 10 de abril de 2014.