1. Jornal
O Bandeirante
Ano XX - no 226 - setembro de 2011
Publicação Mensal da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores - Regional do Estado de São Paulo - SOBRAMES-SP
As Cores da Vida
Josyanne Rita de Arruda Franco
Médica Pediatra
Presidente da Sobrames SP / Biênio 2011-2012
Realizar o ciclo da vida é a to com a arte e o encantamento outro a ser parte de seu sonho,
programação natural desde que com as nuances do viver passam da sua sensibilidade, do seu vi-
nascemos. Trazemos conosco, sem muito destaque na rotina ver.
além da herança genética, con- diária dos médicos, preocupa- Música, canto, poesia, pro-
teúdos do aprendizado em fa- dos que estão com o resultado sa, dança, encanto. Refeições
mília e na comunidade, vivência do desempenho cotidiano. alegres e acompanhadas: não à
social que infere na formação de Setembro corrente marcou solidão e ao alimento recebido
cada pessoa características dis- para a Sociedade Brasileira de às pressas em instalações frias e
tintas e personalizadas. Médicos Escritores Regional sem cor, de clínicas, postos de
Caminhamos amealhando São Paulo, um hiato na ativida- saúde, pronto-socorros e hospi-
vitórias, sucessos, perdas e frus- de profissional de seus sócios tais!
trações. A trajetória se faz mar- por ocasião da realização da XI Passeios, museus, igrejas e
cante e a bagagem é vasta, com Jornada Médico-Literária Pau- história; o vento no rosto, a mú-
volumes de diferentes conteú- lista na Estância Turística de Itu, sica na praça... Café na pérgu-
dos. Somos seres viajantes que interior do Estado de São Pau- la da piscina do hotel: um luxo
descobrem novas rotas, paisa- lo. Desbotados pela fuligem das merecido, um mimo necessário.
gens surpreendentes e a imensa obrigações e aparências que reti- Dias de sol, voz e violão, cultura
e pouco poética destinação do ram de cada indivíduo o brilho e caipira, seresta no imenso casa-
viver: cumprir nosso percurso a elegância de existir como pes- rão incrustado na noite. Friozi-
até expirar nossa “data de vali- soas, o fulgor e a vitalidade de nho que pediu proximidade...
dade”. Isso faz toda a diferença: cada participante voltaram a en- Boemia antes da premiação... E
fazer da vida um existir que va- contrar expressão no olhar, nas agora, a saudade.
lha a chama acesa! palavras ditas em verso e prosa, Outros encontros virão: no-
Médicos são profissionais ge- no sorriso fácil, franco e juvenil. vos sócios e participantes para
ralmente sisudos, introspectivos Confraternizados, irmanados as nossas pizzas festivas e sabati-
e observadores, cientes de que e descontraídos, médicos escri- nas literárias. Juntos, novamen-
sua atividade exige estudo, co- tores e outros profissionais libe- te, estreitaremos os vínculos que
nhecimento, técnica, credibili- rais, acadêmicos e apreciadores construirão novos caminhos,
dade e responsabilidade, compe- da arte literária destacaram, no novos projetos e uma nova e
tências algumas vezes interpre- intervalo de três dias, a beleza brilhante caminhada para a SO-
tadas como frieza, arrogância e que transcende a existência hu- BRAMES-SP.
distanciamento. A sensibilidade, mana: o sentir que é capaz de
o amor à vida, o deslumbramen- reverberar no outro, convidar o Até lá, amigos!
2. 2 O BANDEIRANTE - Setembro de 2011
EXPEDIENTE Acompanho de perto a luta dos médicos contra o
Jornal O Bandeirante
sistema de medicina suplementar. Criado como solu-
ANO XX - no 226 - Setembro 2011 ção tupiniquim para acobertar a incompetência no
gerenciamento da saúde pública, tomou proporções
Publicação mensal da Sociedade Brasileira de Médicos
Escritores - Regional do Estado de São Paulo SOBRAMES-SP. gigantescas e hoje é uma parte indispensável para o
Sede: Rua Alves Guimarães, 251 - CEP 05410-000 - Pinheiros -
São Paulo - SP Telefax: (11) 3062-9887 / 3062-3604 Editores:
atendimento médico digno para a população.
Josyanne Rita de Arruda Franco e Carlos Augusto Ferreira
Galvão. Jornalista Responsável e Revisora: Ligia Terezinha A criação das operadoras de saúde encontrou um
Pezzuto (MTb 17.671-SP). Redação e Correspondência: Rua
Francisco Pereira Coutinho, 290, ap. 121 A – V. Municipal – CEP território fértil para o seu desenvolvimento. O médico
13201-100 – Jundiaí – SP E-mail: josyannerita@gmail.com
Tels.: (11) 4521-6484 Celular (11) 9937-6342. Colaboradores se permitiu ganhar salários aviltantes na rede pública;
desta edição: Aida Lúcia Pullin Dal Sasso Begliomini,
Hildette Rangel Enger, Josyanne Rita de Arruda Franco,
proporcionando atendimento digno em condições in-
Ligia Terezinha Pezzuto, Marcos Gimenes Salun, Maria do
Céu Coutinho Louzã, Roberto Antonio Aniche.
dignas, ganha muito menos do que um delegado, fiscal
Tiragem desta edição: 300 exemplares (papel) e mais de
de rendas ou juiz e muito mais do que um professor.
1.000 exemplares PDF enviados por e-mail. Ele se permitiu que isso acontecesse. Não teve planejamento estratégico, não
Diretoria - Gestão 2011/2012 - Presidente: Josyanne Rita
de Arruda Franco. Vice-Presidente: Luiz Jorge Ferreira. pensou no seu futuro, embalado pela poesia que envolve sua profissão. O
Primeiro-Secretário: Márcia Etelli Coelho. Segundo-
Secretário: Maria do Céu Coutinho Louzã. Primeiro-
terreno para a saúde suplementar estava pronto.
Tesoureiro: José Alberto Vieira. Segundo-Tesoureiro: Aida
Lúcia Pullin Dal Sasso Begliomini. Conselho Fiscal Efetivos: Cada vez mais admiro Maiakovski, cada vez mais acredito que cada um
Hélio Begliomini, Carlos Augusto Ferreira Galvão e Roberto
Antonio Aniche. Conselho Fiscal Suplentes: Alcione Alcântara merece o destino que tem. Cabe a nós, médicos sobramistas denunciar as
Gonçalves, Flerts Nebó e Manlio Mário Marco Napoli.
injustiças, não aceitar aquilo que não nos convém, lembrar a todos que na
Matérias assinadas são de responsabilidade de seus
autores e não representam, necessariamente, a opinião vida real, a poesia é outra: cruel, trágica, promíscua, como nosso sistema de
da Sobrames-SP
saúde.
Editores de O Bandeirante Roberto Antonio Aniche
Flerts Nebó – novembro a dezembro de 1992
Flerts Nebó e Walter Whitton Harris – 1993-1994
Carlos Luiz Campana e Hélio Celso Ferraz Najar – 1995-1996
Flerts Nebó e Walter Whitton Harris – 1996-2000
Flerts Nebó e Marcos Gimenes Salun – 2001 a abril de 2009
Helio Begliomini – maio a dezembro de 2009
Roberto A. Aniche e Carlos A. F. Galvão - 2010
Josyanne R. A. Franco e Carlos A.F. Galvão - janeiro 2011
Presidentes da Sobrames – SP
1º. Flerts Nebó (1988-1990)
2º. Flerts Nebó (1990-1992)
3º. Helio Begliomini (1992-1994)
O Malho Aniversário
4º. Carlos Luiz Campana (1994-1996)
5º. Paulo Adolpho Leierer (1996-1998) setembro: nesta data
6º. Walter Whitton Harris (1999-2000) querida, nossos parabéns!
7º. Carlos Augusto Ferreira Galvão (2001-2002)
8º. Luiz Giovani (2003-2004)
9º. Karin Schmidt Rodrigues Massaro (jan a out de 2005)
10º. Flerts Nebó (out/2005 a dez/2006)
11º. Helio Begliomini (2007-2008) Alitta Guimarães Costa Reis – 14/09
12º. Helio Begliomini (2009-2010)
13º. Josyanne Rita de Arruda Franco (2011-2012) Flerts Nebó – 09/09
José Jucovsky – 13/09
Editores: Josyanne R. A. Franco e Carlos A.F. Galvão
Revisão: Ligia Terezinha Pezzuto Marcos Gimenes Salun – 15/09
Diagramação: Mateus Marins Cardoso
Impressão e Acabamento: Expressão e Arte Gráfica
CUPOM DE ASSINATURAS* longevità
Preço de 12 exemplares impressos: R$ 36,00
(11) 3531-6675
Nome:___________________________________________________________ Estética facial, corporal e odontológica *
Massagem * Drenagem * Bronze Spray *
End.completo: (Rua/Av./etc.) _______________________________________
Nutricionista * RPG
________________________________ nº. _______ complemento _________ Rua Maria Amélia L. de Azevedo, 147 - 1o. andar
Cidade:_____________ Estado:_____ E-mail:___________________________
Clínica Benatti
Grátis: Além da edição impressa que será enviada por correio, o assinante
Ginecologia
receberá por e-mail 12 edições coloridas em arquivo digital (PDF)
Obstetrícia
*Disponível para o público em geral e para não sócios da SOBRAMES-SP
Preencha este cupom, recorte e envie juntamente com cheque nominal à SOBRAMES-SP para REDAÇÃO
Mastologia
“O Bandeirante” R. Francisco Pereira Coutinho, 290, ap. 121 A - V. Municipal - CEP 13201-100 - Jundiaí - SP
Dê uma assinatura de “O BANDEIRANTE” de presente para um colega (11) 2215-2951
3. SUPLEMENTO LITERÁRIO
O BANDEIRANTE - Setembro de 2011 3
Notícias
A VI Jornada da Sobrames será em São Luis do Maranhão, nos dias 11 e 12 de novembro de 2011. Cada inscrito
poderá participar com no máximo três textos (Concurso Literário Categoria Prosa e Poesia). Consta da programação
nos dias 13 e 14 de novembro uma excursão aos Lençóis Maranhenses. Acesse sobramesma@hotmail.com e participe,
enviando seus trabalhos.
O Congresso Nacional da Sobrames será realizado em Curitiba em 2012, com concurso literário nas Categorias
Prosa, Poesia e Trovas. Acompanhe, em nosso boletim, informações e novidades sobre tão aguardado evento.
A Sobrames-MG realizará a IV Jornada Guimarães Rosa nos dias 14 e 15 de outubro. Na oportunidade haverá
lançamento de livros de autores das diversas regionais sobramistas. Sucesso é o que desejamos!
Nossa confreira Márcia Etelli Coelho lançará seu mais novo livro “Entre o Laço e os Nós” no dia 8 de novembro
(terça-feira), na Livraria Martins Fontes, Avenida Paulista 509, das 18h30h às 21h30h. Estão todos convidados para
brindar com uma taça de vinho mais este sucesso editorial.
A Academia Brasileira de Médicos Escritores (ABRAMES), com sede no Rio de Janeiro, promoverá seu encontro
anual nos dias 24 e 25 de novembro, na já consagrada “Semana da Academia”, oportunidade para rever os confrades
acadêmicos e amigos de longa data na Cidade Maravilhosa.
Fotos da XI Jornada Médico-
Literária Paulista em Itu
4. 4 O BANDEIRANTE - Setembro de 2011
SUPLEMENTO LITERÁRIO
Premiados na Jornada
Vencedoras com o Troféu “O Bandeirante”
Categoria Prosa: 1o lugar: Maria do Céu Coutinho Louzã - “Garoa
Paulistana”
Categoria Poesia: 1o lugar: Aida Lúcia Pullin Dal Sasso Begliomini
– “Adeus”
Classificados
Prosa
2o lugar: Márcia Etelli Coelho - “Contratenor”
3o lugar: José Medeiros - “Reminiscências do Mestre Aurélio Buarque
de Holanda”
Poesia
2o lugar: Josyanne Rita de Arruda Franco – “Pássaros do Crepúsculo”
3o lugar: Roberto Antonio Aniche – “Água de Rosas”
*Nesta edição estão publicados os trabalhos vencedores.
Destaque do Mês
Quem é? Quem é? Nosso aplauso, consideração e respeito ao querido
(resposta da edição de Agosto) amigo e confrade Dr. José Rodrigues Louzã, que fez
questão de prestigiar a XI Jornada Médico-Literária
Ligia Terezinha Pezzuto Paulista em Itu, participando de todas as sessões literárias
e passeios, mesmo com sua saúde requerendo cuidados.
Um exemplo a quem devemos imensa gratidão!
Perfil 2011 Sobrames-SP
Sônia Regina Andruskevicius de Castro
Atuação (profissão ou atividade atual): Médica intensivista
Cidade de nascimento: São Paulo
Comida preferida: pizza
Esporte (que pratica ou gosta): não pratico
Livro de cabeceira atual: A última música
Filme: Romeu e Julieta
Fim de semana (o que prefere fazer): praia
Viagem inesquecível: Costa do Sauipe
Sonho: escrever um romance
Intolerância (a alguma coisa, pessoa, estilo...): injustiça
Características pessoais: calma e tímida
Projeto futuro: carro novo
Filosofia de vida: viva a vida.
5. SUPLEMENTO LITERÁRIO
O BANDEIRANTE - Setembro de 2011 5
Caramunha Noivado
Josyanne Rita de Arruda Franco
Hildette Rangel Enger
Os olhos do passarinho
Depois de tanto tempo
Falam mais do que o biquinho
Suas mãos
Que pia o dia inteirinho
Redescobriram as minhas...
Mas não sabe revelar
A dor que as asas encobrem
Se buscaram
Debaixo da penugem nobre
E se entrelaçaram
Na busca que um dia descobre
Na calada da noite.
Companhia pra voar!
Como seres
Independentes de nós...
Adeus Docemente
Se encontraram
1o lugar Categoria Poesia na XI Jornada Sem mensagens
Médico-Literária Paulista De desejos...
Sem promessas,
Aida Lúcia Pullin Dal Sasso Begliomini Nem cobranças
Sem medos
Nem vontades de adeus...
Em um último suspiro Frágeis e cansadas...
o silêncio se faz presente, Buscaram apenas
na noite triste e fria de inverno. Somar as forças...
Não de um inverno comum, Para enfrentarem
mas daquele que neva pela primeira vez. Juntas o tempo...
Os flocos finos, brancos e fofos
do céu caem em profusão. Então, irei colher
tais quais nacos de algodão doce Flores do campo
perfumados pela essência da noite. Para enfeitar meus cabelos
Nas flores, nas árvores, no cume da montanha E me vestir de luar...
espalham-se fundindo-se com a terra úmida de orvalho.
Pela vidraça da vida, Ficaremos noivos
o tempo, este divisor de momentos, Ao amanhecer
a tudo espreita e aguarda, E viveremos de ternuras
implacável e mudo. A partir deste momento...
Uma última lágrima
cai de meus olhos úmidos, ainda vivos.
Meu espírito, porém, já vaga
entre o aqui e o agora,
o infinito e o desconhecido.
Num breve momento,
a última lucidez.
Agarro tua mão em desespero,
Despeço-me...
Um carinho profundo,
que só o tempo entende,
um adeus doído na despedida da partida.
Em um último suspiro,
minha alma parte,
fica meu corpo inerte,
esparramado no leito da morte.
6. 6 O BANDEIRANTE - Setembro de 2011
SUPLEMENTO LITERÁRIO
A Florista
Ligia Terezinha Pezzuto
Cruzamento da Avenida Brasil com Rebou-
ças, em São Paulo. Lá vem ela toda sorrisos,
oferecendo flores.
Na cidade endurecida pelo concreto, um raio
de sol a iluminar, com as cores da alegria, o rosto
dos seus inúmeros fregueses.
– Oi, meu amor, como vai você? E o pai e a
mãe vão bem? Olha, tome, leve estas flores pra
eles. Elas estão fresquinhas.
E sem aceitar o pagamento, ao abrir o sinal,
gritava:
– Tchau!!! Amo vocês!!! Beijo!!!
A cena se repetia em seus diversos matizes
nos momentos em que eu cruzava essas avenidas
na volta do trabalho. Às vezes eu ou os demais
fregueses comprávamos um buquê, outras ela o
colocava em cima do teto do carro e ficava a conversar até o farol abrir, quando o pegava de volta e corria à calçada,
aguardando o próximo sinal vermelho.
Era uma jovem senhora, talhada pela vida dura, mas que não perdia o bom humor e a coragem para sustentar um
filho, na época, universitário, com a venda de flores. Vilma, o seu nome.
Naquela avenida onde tantos compromissos ocasionavam o vaivém frenético e o isolamento das pessoas no interior
de seus veículos, Vilma era a típica brasileira a espalhar a ginga faceira e uma sadia afetividade.
Nos dias chuvosos, ela não aparecia e já sabíamos que não estaria lá. Mas bastava firmar o tempo e a expectativa
por revê-la se fazia presente.
Era uma cena corriqueira encontrá-la ao lado de algum carro com o vidro aberto e travando conversas amenas
com seus “amores”. Era cativante.
De um dia para o outro, não a vimos mais. Que pena! O que teria acontecido?
Passaram-se meses e até mesmo anos. Mudou o rumo da vida, mudaram os trajetos que passamos a fazer, mas Vil-
ma, vez ou outra, surgia nas conversas familiares. Até que um dia, na volta de um compromisso no bairro de Moema,
debaixo de muita chuva... surpresa... lá estava ela no mesmo cruzamento.
– Olá!!! Vocês aqui!!! Quanto tempo!!! Que saudades!!!
A vivacidade era a mesma, os traços dos dias difíceis eram visíveis, mas a tenacidade também.
– Pensamos em você nesse tempo, como está?
– Tudo bom, meus amores, o filho vai bem, a saúde boa e a época é de diversificar. Continuo vendendo flores nos
dias menos quentes e, agora, nos chuvosos, vendo guarda-chuvas.
– Ih! Abriu o sinal!
– Feliz em ver vocês, meus queridos, vão com Deus, amo vocês!!!!
7. SUPLEMENTO LITERÁRIO
O BANDEIRANTE - Setembro de 2011 7
Trilogia Paciente Walter Whitton Harris
Cirurgia do Pé e Tornozelo
Ortopedia e Traumatologia Geral
CRM 18317
Av. República do Líbano, 344
Marcos Gimenes Salun 04502-000 - São Paulo - SP
Tel. 3885 8535
Cel. 9932 5098
I - Asilo
Acontecia nas noites sem lua e céu aberto, quando as estrelas eram muitas e Dr. Carlos Augusto Galvão
pareciam brilhar mais. Sentavam-se os dois na varanda e de lá espiavam a escuri- Psiquiatria e Psicoterapia
dão. Calados, ouviam atentamente a noite, apenas murmurada entre a folhagem Rua Maestro Cardim, 517
indevassável. Cada qual trancado em seus pensamentos, as mãos unidas com Paraíso – Tel: 3541-2593
suavidade, apenas repousadas sobre o colo. Aguardavam com paciência o tempo
se escoar, marcado pelo ritmo seco do relógio da sala. Espiavam o céu com olhos
miúdos por detrás das lentes, e contavam os pontos luminosos que faiscavam. PUBLICIDADE
Não diziam nada, pois não precisavam de palavras. Vez por outra um longo TABELA DE PREÇOS 2009
suspiro entrecortado revelava uma distante recordação. Nesses momentos voltavam (valor do anúncio por edição)
os olhos um para o outro e sorriam ligeiramente cúmplices. E logo fitavam nova- 1 módulo horizontal R$ 30,00
mente a noite, que preenchia tudo. As pálpebras cansadas teimavam. Placidamente 2 módulos horizontais R$ 60,00
voltavam a se abrir, e nesses momentos era um tremor brando que conduzia os 3 módulos horizontais R$ 90,00
olhos de um aos do outro, ternos. Quanto tempo mais? Um ponto luminoso riscava 2 módulos verticais R$ 60,00
o negrume do céu e desaparecia. Eles se recolhiam quando o silêncio da noite era 4 módulos R$ 120,00
6 módulos R$ 180,00
preenchido por nove pancadas mais audíveis do relógio da sala.
Outros tamanhos sob consulta
II - Agonia
josyannerita@gmail.com
Alguns minutos mais e ela chegaria, silenciosa. Viria com sua calma rotineira,
e se apossaria do quarto. E nada mudaria. Nem um só minuto passaria de forma
diferente, sem a lentidão costumeira de vários meses. Uma réstia de sol percor-
reria a mesma trajetória na parede, até que viesse a penumbra. E então a noite se REVISÃO
instalaria. Ela entraria, silenciosa, um prato de sopa numa bandeja. Acenderia a de textos em geral
luz fraca e se sentaria na banqueta ao lado da cama. Paciente, aguardaria que a
boca trêmula e insegura rejeitasse a última colherada. Ligia Pezzuto
Faltaria o banho. Mais um lento ritual. Ela agiria com naturalidade incompre- Especialista em Língua Portuguesa
ensível. Suas mãos estariam firmes e certas dos caminhos a percorrer. Nenhum
(11) 3864-4494 ou 8546-1725
desses caminhos mudaria. E depois novamente o leito. Eternamente igual e
desbotado, qual seus olhos. Depois ela sairia lânguida e o deixaria a sós com a
pegajosa escuridão. Infinita noite, que ainda assim talvez terminasse. E haveria uma ROBERTO CAETANO MIRAGLIA
insuportável expectativa de que viriam muitos outros minutos de um outro dia. E ADVOGADO - OAB-SP 51.532
ele não seria novo. Apenas seria, até que a última réstia de sol caminhasse.
ADVOCACIA – ADMINISTRAÇÃO DE BENS
III - UTI
NEGÓCIOS IMOBILIÁRIOS – LOCAÇÃO
Nada. E aí disseram pra ela que ficasse quieta, senão poderia morrer. E ela COMPRA E VENDA DE IMÓVEIS
pensou que todos morreriam um dia, mas também pensou que não queria que a ASSESSORIA E CONSULTORIA JURÍDICA
sua morte fosse assim tão agora, numa hora dessas. Mas logo ficou quieta e somente TELEFONES: (11) 3277-1192 – 3207-9224
pensou. Mas foi muito rápido que ela pensou nisso, porque em seguida já estava
pensando noutra coisa. E nem ela mesma sabia no que estava pensando quando
outro pensamento lhe veio à cabeça, e logo veio outro e mais outro, e assim todos Terminou de
os seus pensamentos foram acontecendo sem que ela pudesse se dar conta sobre
o que pensava. Mas sabia que estava pensando. Nada. escrever seu
Então veio um homem vestido de azul desbotado com uma cicatriz no rosto livro? Então
e ela pensou num homem que já vira um dia, igualzinho a ele na cicatriz e na
roupa desbotando. E que não sorria. Sua boca não estava lá. Pensou onde estaria
publique!
a boca do homem que já conhecia, e que não tinha boca para sorrir. Ela pensou
que conhecia o homem de roupas iguais àquela, pois já tinha visto aquela falta de Nesta hora importante, não deixe de
boca sem sorrir em algum lugar, mas não ficou muito tempo pensando nisso, pois consultar a RUMO EDITORIAL.
o homem de azul sem cor e sem boca já não estava lá. Nada. Só um grande sol Publicações com qualidade impecável,
ofuscando seus olhos, que não ardiam. Não estava mais onde pensava estar. Pensava dedicação, cuidado artesanal e preço
numa distância imensurável e ao mesmo tempo na proximidade das coisas à sua justo. Você não tem mais desculpas
volta. Já não lhe diziam nada. Nada. E não era silêncio, ela sabia. Eram ruídos, para deixar seu talento na gaveta.
músicas e vozes cacofônicas. E eram ao mesmo tempo nada, além da luz do sol
rumoeditorial@uol.com.br
que ofuscava. Nada. Já nem sabia se era, se estava ou levitava. Nada. Nem mais
(11) 9182-4815
a luz do sol que ofuscava. Nem mesmo o homem desbotado e sem boca. Escuro.
Nem mais os sons e ruídos daquele nada. Nem mais...
8. 8 O BANDEIRANTE - Setembro de 2011
SUPLEMENTO LITERÁRIO
Garoa Paulistana
1o Lugar na Categoria prosa da XI Jornada Médico-Literária Paulista
Maria do Céu Coutinho Louzã
Volto no tempo à minha infância. Desde que havíamos chegado a São Paulo, meus pais e eu morávamos no bairro
do Paraíso. São Paulo era uma cidade pacata, bem provinciana e com uma população pequena. Olhávamos ao redor e
vislumbravam-se matas, morros verdes e era possível assistir ao nascer e pôr do sol no horizonte. Não havia a poluição
de hoje: poucos carros, ônibus e fábricas. Usava-se muito o bonde ou “carro elétrico” como diziam meus pais, ainda
com as expressões de sua terra natal. Nas casas, as janelas com floreiras exibiam gerânios, flores que já não se veem
mais. Será por causa do clima mudado ou foram passando de moda?
Os roubos mais comuns eram das roupas penduradas nos quintais e à noite ou da carteira surrupiada espertamente
dos bolsos das calças, nos aglomerados pontos de ônibus ou bondes. Prédios altos só havia no centro, ou melhor, na
“cidade”, que era como chamávamos o centro, resquícios dos tempos de província, de quando se vivia nos arredores.
Era lá que se iam fazer compras, ao médico ou dentista ou então pagar mensalmente as contas na companhia de gás, de
água, ou da luz na Light. Era na cidade que ficavam os restaurantes para comer fora, como se dizia antigamente.
Meu pai, engenheiro, trabalhava de dia num escritório de engenharia e à noite dava aulas de português numa
escola mantida pela colônia portuguesa – Escolas da Colônia. Poderíamos dizer que era um precursor do Mobral e
me lembro de meu pai contar que Isaurinha Garcia, cantora famosa na época, tinha sido sua aluna nessa escola.
Mas algo de que me recordo bem é a garoa daquele tempo. A garoa que caía no inverno como um nevoeiro per-
sistente. Trazia muitas gripes e resfriados. Era um problema para as donas de casa quando ela vinha de surpresa à
noite e molhava a roupa pendurada nos varais. Para sair era preciso agasalhar-se bem: capas, casacos chapéus, boinas,
cachecóis e, se possível, galochas nos pés.
Minha mãe gostava de ir à reza do mês de Maria, na igreja de Santa Generosa, que não ficava muito longe de casa.
Acontecia por todo o mês de maio, às dezenove e trinta, com orações e cantos em louvor a Nossa Senhora. Essa igreja
ficava situada em uma praça do mesmo nome, rodeada de jardim. Praça e igreja desapareceram com a construção da
Avenida 23 de Maio. Esta, na época trouxe um grande transtorno para muita gente, cujas casas foram desapropriadas.
Um preço que se pagou pelas facilidades que trouxe para o trânsito de São Paulo. Essa igreja, derrubada, foi reerguida
ali perto, na Avenida Bernardino de Campos. Infelizmente ficou tão entalada entre construções, que mal se vê.
Minha mãe não tinha com quem me deixar e assim todas as noites de maio íamos, ela e eu, para a igreja. Como numa
deliciosa aventura, sem medo de sair de casa à noite, naquele tempo, lá íamos, mas preparadas para enfrentar a célebre
garoa paulistana. Era uma chuva muito fina, quase invisível, mas que molhava e muito o chão, os gramados e os poucos
carros que existiam. Era uma umidade terrível, mas, ao mesmo tempo, dava uma sensação de frescor. Eu achava lindo o
halo muito brilhante formado de gotículas, ao redor das lâmpadas dos postes de iluminação pública. Era como se fosse
uma magia de nuvens muito brancas ilu-
Você Sabia?
minando a noite. Os gramados das praças
amanheciam molhados e as rosas do nosso
jardim, tombadas nos galhos pelo peso da
água que caíra durante a noite.
Ao voltar para casa era preciso pôr ...Que pode registrar seus textos literários pelo correio?
chapéus, sapatos e guarda-chuvas para
secar e tomar uma bebida bem quente É só encadernar o material (devidamente numerado e rubricado em cada pági-
para afugentar a gripe, perigo ameaçador na) e preencher o Formulário de Requerimento para Registro (com assinatura
naquele tempo. exatamente igual à do Documento de Identidade).
São Paulo cresceu desmesuradamente. O A taxa a ser paga no Banco do Brasil corresponde atualmente a R$ 20,00.
clima mudou e muito. Já não temos mais a A Fundação Biblioteca Nacional (cuja sede se encontra no Rio de Janeiro) arma-
célebre garoa paulistana que era tão presente zena todos os livros e manuscritos definitivamente e tem representantes em vários
naquela época. Porém serviu de inspiração Estados, sendo que o de São Paulo localiza-se na Rua General Júlio Marcondes
à dupla Tonico e Tinoco, e aos famosos Salgado 234, Campos Elíseos.
Alvarenga e Ranchinho. Cantores famosos O site www.bn.br fornece detalhes para que estejamos protegidos em nossos
e populares a deixaram marcada no refrão direitos autorais.
de suas músicas: São Paulo da Garoa.