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ANA CATARINA SOARES DE AZEVEDO




          PERSONALIDADE, PSICOPATIA E
AGRESSIVIDADE EM JOVENS ADOLESCENTES DO
        ENSINO BÁSICO E SECUNDÁRIO




      Orientador: Professor Doutor João Pedro Oliveira



     Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias

                    Faculdade de Psicologia



                            Lisboa

                             2010
ANA CATARINA SOARES DE AZEVEDO




          PERSONALIDADE, PSICOPATIA E
AGRESSIVIDADE EM JOVENS ADOLESCENTES DO
        ENSINO BÁSICO E SECUNDÁRIO




                                    Dissertação apresentada para a obtenção do Grau
                                    de Mestre em Psicologia, Aconselhamento e
                                    Psicoterapias, conferido pela Universidade
                                    Lusófona de Humanidades e Tecnologias.

                                    Orientador: Professor Doutor João Pedro Oliveira




     Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias
                   Faculdade de Psicologia


                           Lisboa
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 Adolescentes do Ensino Básico e Secundário

                                                Dedicatória


         Dedico este trabalho à minha mãe, que nunca desistiu e sucumbiu apesar do sofrimento.
         Às minhas amigas que têm um lugar especial no meu coração e que me acompanham para
a eternidade, principalmente aquelas que dão tudo sem pedir algo em troca como a Andreia Ferreira
e a Ana Simões.
         Aos que se entregam de corpo e alma às causas solidárias, que lutam pelos caminhos da
acção social e da psicologia e são pouco reconhecidos.
         Aos que sofrem no isolamento, e se escondem devido àquilo que a sociedade considera
como anormal, lembrem-se que não estão sozinhos.




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                                            Agradecimentos


         Ao Prof. Doutor João Pedro Oliveira, orientador e mentor, agradeço o apoio
incondicional, o voto de confiança que depositou no meu empenho e na minha determinação
neste projecto.
         Ao Conselho Directivo da Escola Secundária de Sacavém, agradeço a disponibilidade e
o facto de me concederem a autorização para a realização do presente estudo.
         À Exma. Sra. Directora do Conselho Directivo da Escola Secundária de Sacavém,
agradeço a disponibilidade, a cordialidade com que me recebeu e a forma como também abraçou
este projecto.
         Aos Docentes do mesmo estabelecimento de ensino, sem eles não seria possível a
concretização deste estudo.
         A todos os funcionários da escola Secundária de Sacavém, agradeço a solicitude, a
forma como me receberam, a orientação e o apoio disponibilizados.
         A todos os alunos que aceitaram participar neste projecto, agradeço a simpatia e a sua
colaboração.
         À minha família que desde sempre encorajou-me, motivou-me e prestou o apoio
incondicional em todos os campos, tanto emocionais como académicos, essenciais para o
progresso dos meus objectivos.
         Aos meus amigos e amigas que eternamente acreditam e nunca desistem de mim,
sempre próximos e sempre à altura da amizade verdadeira.




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                                                  Resumo


         Esta investigação centra-se no estudo dos factores que facilitam o desenvolvimento das
condutas violentas e delinquentes. Estes factores podem ser intrínsecos, ou seja, respeitantes à
personalidade do indivíduo e à sua predisposição para desenvolver as perturbações associadas à
criminalidade. O estudo destas variáveis permite analisar a forma como os indivíduos actuam em
concordância com a sua personalidade, o que possibilita o delineamento de programas de
prevenção que se adaptem a este tipo de população, com vista a diminuir o risco de conflitos inter-
sociais e os comportamentos disruptivos.
         Este estudo analisa a associação entre traços de personalidade, traços psicopáticos e
atributos agressivos. A amostra utilizada é constituída por 123 estudantes do ensino básico e
secundário de ambos os sexos com idades compreendidas entre os 16 e os 22 anos (M= 17, 82 e DP
= 1,713), em que 59 estudantes são do sexo masculino e 64 estudantes do sexo feminino). As
medidas utilizadas são: a Paulhus Deception Scale (PDS; Paulhus e Delroy, 1998) para avaliar a
desejabilidade social; o Big Five Inventory (BFI; Benet-Martinez e John, 1998). com o objectivo de
avaliar a personalidade; a Levenson`s Self-Report Psychopathy Scale (LSRP; Levenson, Kiehl e
Fitzpatrick, 1995) de forma a avaliar os traços psicopáticos e o Aggression Questionnaire (AQ,
Buss e Perry, 1992) para avaliar as diferentes variantes da agressividade. Os resultados obtidos
demonstram a existência de correspondências positivas e significativas entre a dimensão de
neuroticismo e os atributos agressivos; entre a psicopatia primária e a agressividade física e verbal,
entre a psicopatia secundária e a irritabilidade e a hostilidade; e entre a psicopatia secundária e o
traço de neuroticismo. Assim como, de correlações negativas entre a psicopatia secundária e o traço
de amabilidade e entre a psicopatia secundária e o traço de conscienciosidade.




 Palavras-chave: Personalidade; Psicopatia; Agressividade; Adolescentes.




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                                                 Abstract


         This research focuses on the study of factors that facilitate the development of violent
and delinquent behavior. These factors may be intrinsic, in other words, related to the subject
personality and to his predisposition to develop disturbances associated to criminality. The study
of these variables allows an analysis of the way subjects act in accordance to their personality,
which may help in designing preventive programs in order to reduce the risk of inter-social
conflicts and disruptive behavior.
         This study analyses the association between personality traits, psychopathic features and
aggressive attributes. The sample is constituted by 123 students of the basic education and high
school systems with and ages between 16 and 22 years old (M= 17, 82 and SD= 1,713), 59 males
and 64 females. The measures used are: the Paulhus Deception Scale (PDS; Paulhus and Delroy,
1998) to evaluate the social desirability; the Big Five Inventory (BFI; Benet-Martinez and John,
1998) with the objective of evaluating personality triats; the Levenson`s Self-Report Psychopathy
Scale (LSRP, Levenson, Kiehl and Fitzpatrick, 1995) to evaluate the psychopathic traits; and the
Aggression Questionnaire (AQ; Buss and Perry, 1992) to assess the different types of
aggressiveness. The results obtained show significant positive correspondences between
neuroticism and aggressive attributes; between primary psychopathy and physical and verbal
aggression, between secondary psychopathy, irritability and hostility; and between secondary
psychopathy and the trait of neuroticism. Negative correlations were found between secondary
psychopathy and the trait of conscientiousness.




Key words: Personality; psychopathy; aggressiveness; teenagers.




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                                              Abreviaturas



AQ- Aggression Questionnaire
BFI - Big Five Inventory
DP – Desvio Padrão
LSRP- Levenson`s Self-Report Psychopathy Scale
M - Média
PDS- Paulhus Deception Scale




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                                                                   Índice


Introdução ....................................................................................................................................10


Capítulo 1 - Personalidade..........................................................................................................12
                1.1.- Conceito de personalidade ..................................................................................12
                1.2.- Teoria dos traços .................................................................................................14
                1.3.- Modelo dos cinco factores ..................................................................................16


Capitulo 2 - Psicopatia ................................................................................................................20
                2.1.- Descrição clínica .................................................................................................20
                2.2. - Psicopatia primária e secundária ........................................................................32
                2.3.- O papel da agressividade na psicopatia...............................................................36


Capitulo 4 - Método.....................................................................................................................46
                4.1. - Objectivo e hipóteses…………………………………………………………..46
                4.2.- Descrição da amostra ..........................................................................................48
                4.3.- Descrição dos instrumentos.................................................................................49
                  4.3.1.- Questionário sócio-demográfico………………………………………….....49
                  4.3.2.- Paulhus deception scale (PDS)……………………………………………. .49
                  4.3.3.- Big Five inventory (BFI)……………………………..……………………..50
                  4.3.4.- Levenson’s self-report psychopathy scale (LSRP)………………………….52
                  4.3.5.- Aggression questionnaire (AQ)……………………………………………..53
                4.4.- Procedimento…………………………………………………………………...54
                4.5.- Resultados ...........................................................................................................55
                4.6.-Discussão dos resultados......................................................................................67


Conclusão ..................................................................................................................................75


Bibliografia...................................................................................................................................78


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Anexos……………………………………..……………………………………………………. 87




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                                            Índice de Tabelas


Tabela 1. Os cinco factores de personalidade adjectivados e relacionados com os seus
opostos………………………………………………………………………………….19
Tabela 2. As subtipologias de personalidade psicopática elaboradas por Schneider
(1968) e as suas principais características ……………………………………………..22
Tabela 3. Variáveis sócio-demográficas……………………………………………… 49
Tabela 4. Estatística descritiva das variáveis estudadas……………………………….56
Tabela 5. Diferença de médias entre idades para as dimensões da personalidade, da
desejabilidade social, da psicopatia e da agressividade ………………………………..58
Tabela 6. Diferença de médias entre géneros para as dimensões de personalidade, de
desejabilidade social, de psicopatia e de agressividade ………………………………..59
Tabela 7. Diferença de médias entre indivíduos com problemas judiciais e indivíduos
sem problemas judiciais para as dimensões de personalidade, de desejabilidade social,
de psicopatia e de agressividade……………………………………………………….61
Tabela 8. Diferença de médias entre consumidores e não consumidores de substâncias
psicotrópicas e de estupefacientes para as dimensões de personalidade,
de desejabilidade social, de psicopatia e de
agressividade………………………………………………………………………… ..63
Tabela 9. Correlações entre traços de personalidade, desejabilidade social, atributos
agressivos e traços psicopáticos……………………………………………………… ..65
Tabela 10. Correlações entre traços psicopáticos, desejabilidade social e atributos
agressivos……………………………………………………………………………….66
Tabela 11. Correlações entre desejabilidade social e atributos agressivos
…………………………………………………….……………………………………67




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                                               Introdução


         A pertinência deste estudo prende-se com a prioridade em estudar os antecedentes das
formas de expressão das condutas violentas e delinquentes de modo a apelar ao desenvolvimento
de politicas e ao delineamento de programas de prevenção e de controlo dos comportamentos
problemáticos assumidos pelos jovens e adolescentes, com o propósito de evitar futuras
consequências na sociedade portuguesa.
         Os jovens e os adolescentes estão mais susceptíveis a transgredir as normas e as regras
sociais, isto porque nesta fase de desenvolvimento existem mais probabilidades para se tornarem
perpetuadores ou vítimas de violência interpessoal.
         Os comportamentos são expressões da personalidade individual, podendo ser
justificáveis através da avaliação dos traços de personalidade (Paunonen e Ashton, 2001). Allport
e Allport (1921) afirmou que os traços de personalidade representam predisposições para
responder ou reagir de modo semelhante a diferentes tipos de estímulos, ou seja, são
considerados como formas constantes e duradouras de reacção aos estímulos do meio ambiente.
São dotados de individualidade, determinam o comportamento e são passíveis de demonstração
empírica, sendo detentores de variações situacionais e inter-relacionais (Schultz e Schultz, 2002).
         Born (2005) refere que as pessoas caracterizadas por uma conduta delinquente
demonstram mais agressividade, são mais impulsivos, detendo um fraco controlo sob os próprios
impulsos. A conduta delinquente está igualmente correlacionada com a psicopatia, as pessoas
com este tipo de personalidade revelam ser mais severas, frias, agressivas, menos preocupadas
com os outros, mais insensíveis e hostis, bem como, mais solitárias, não temendo o perigo ou os
riscos e sentindo prazer a praticar o que é erróneo aos olhos da sociedade.
         Torna-se essencial também no estudo desta temática abordar o papel da agressividade,
de forma a perceber até que ponto esta se encontra correlacionada com os traços de personalidade
e com os traços psicopáticos dos jovens ou adolescentes. Sabe-se que a agressividade entre os
jovens tem vindo a aumentar, sendo um fenómeno que pode estar associado à resposta face aos
modelos sócio-culturais actuais.
         De acordo com Sanmartin (2002) a agressividade consiste num mecanismo inato
presente em todos nós, e a expressão emocional ou a linguagem corporal constitui um dos
mecanismos capazes de inibir as acções de teor agressivo.


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         Lorenz (1981) postula que existe uma tendência filogenética para a luta, logo a
agressividade é uma necessidade natural tanto nos seres humanos como nos animais, fazendo
parte do instinto de protecção de cada um.
         Fromm (1975) defende que existem dois tipos de agressão: a agressão benigna que é
adaptativa em termos biológicos, ou seja, é accionada em situações de fuga ou de ataque como
forma de defesa e a agressão maligna, marcada pelos pretextos cruéis e caprichosos.
         A agressão pode surgir e permanecer consoante alguns factores, tais como: os factores
fisiológicos, o uso de substancias tóxicas, os antecedentes familiares de violência, o abuso sexual
na infância, o facto de pertencer a comunidades violentas, o baixo desempenho escolar, uma
baixa auto-estima e poucas expectativas futuras, bem como, o facto de estar inserido numa
cultura familiar desadaptativa, e a exposição regular a vídeo jogos ou programas de TV com
características violentas.
         Este estudo pretende analisar o perfil psicológico dos jovens e adolescentes pertencentes
à Escola Secundária de Sacavém. A análise em questão é executada a partir do modelo dos 5
factores, que inclui o estudo dos seguintes traços de personalidade: o traço de extroversão, de
amabilidade, de conscienciosidade, de neuroticismo e de abertura à experiência. Aborda-se
igualmente a variável psicopatia, mais precisamente os traços de psicopatia primária, de
psicopatia secundária e os atributos agressivos, ao nível dos factores de agressividade física e
verbal, da irritabilidade e da hostilidade.




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1. Personalidade


1.1. Conceito de personalidade


         Allport (1937) classificou a personalidade como uma organização dinâmica do
indivíduo, condicionada por sistemas psicofísicos que determinam o comportamento e os
pensamentos considerados típicos num indivíduo.
         Neste sentido, a personalidade consiste numa entidade única, que reflecte a forma como
uma pessoa pode pensar, agir, ou como se comporta em diversos contextos (Allport, 1974).
         Allport (1937) delimitou sete estádios do desenvolvimento do “Eu”, ou seja, da
personalidade. O primeiro diz respeito à primeira infância, em que as crianças ainda não possuem
o “Eu” formado, sendo incapazes de se diferenciarem dos outros, ou seja, não são detentoras de
uma consciência real, apesar de serem conscientes em relação às pessoas ou aos objectos, pois
quando as mesmas fazem mal a si próprias não tem noção que auto-infligiram a dor. O segundo
estádio corresponde ao “Eu corporal”, existindo já consciência das sensações corporais por volta
dos 6 meses de idade, isto porque os órgãos sensoriais se tornam operacionais. O terceiro estádio
denomina-se por auto-identificação, surge aproximadamente no segundo ano de vida, altura em
que os sistemas mnésicos ganham forma e com a aprendizagem da linguagem apela-se a uma
continuidade do próprio “Eu”. O quarto estádio apelida-se de auto-estima e surge no terceiro ano
de vida, quando a criança começa a demonstrar iniciativa própria e deseja realizar algo sozinha.
O quinto estádio é caracterizado pela extensão do “Eu” e da auto-imagem, surge
aproximadamente aos 4 anos, nesta fase a criança torna-se egocêntrica, ganhando uma visão
própria do ambiente onde está inserida, manifestando por esta altura aspirações e expectativas
face ao que os outros comentam ou falam sobre ela. O sexto estádio apelidado de racional surge
entre os 6 e os 12 anos, dá-se lugar ao desenvolvimento do raciocínio e da solução de problemas.
Por último, o sétimo estádio consiste num período de esforço que se prolonga ate à adolescência,
marcando o início da planificação do futuro, ou seja, aprende-se que o êxito depende da
preparação e que é imperioso estabelecer objectivos próprios.
         O desenvolvimento da personalidade não cessa, na idade adulta a personalidade pode ser
considerada madura se obedecer aos seguintes critérios: autonomia; capacidade para estabelecer
relações afectuosas com os outros, tolerância à frustração, percepções realistas e aptidões; insight


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e humor; e auto-determinação no alcançar dos objectivos que foram propostos ou planificados
(Veríssimo, 2001).
         Por outro lado, Cattell (1950) encara a personalidade como uma predição do que uma
pessoa num dado contexto pode realizar, ou a forma como esta se vai comportar nesse ambiente
em especifico.
         Mischel (1996) concebe o constructo personalidade como uma combinação de todas as
dimensões relativamente duráveis das diferenças individuais, sendo as mesmas passíveis de ser
medidas.
         Linton (1845) perspectivou a personalidade como um processo organizado de processos
e de estados psicológicos específicos de um indivíduo.
           Para Oliveira (2002, p. 52), a análise da personalidade do sujeito “pressupõe a
compreensão da organização idiossincrática de todos os seus atributos mentais e dos registos em
que estes se manifestam”.
         Carver e Scheier (2000) reuniram os contributos das diversas teorias acerca da
personalidade, conceptualizando-a da seguinte forma: é um constructo dinâmico e psicológico,
possuindo bases fisiológicas, assim como, consiste numa força interna que determina o
comportamento, marcada por padrões de respostas recorrentes e consistentes.
         Eysenck (1979) perspectivou a personalidade como uma organização relativamente
firme e durável do carácter, do temperamento, da inteligência, e da dimensão física de um
indivíduo, determinando a sua adaptação ao meio.
         A personalidade é um constructo ambíguo, Skinner (1987) encara-a como um conjunto
de comportamentos originados por contingências de reforços específicos, enquanto que Rogers
(1961) defende que as pessoas possuem a liberdade para escolher o que pretendem ser e para
desempenhar um papel social à sua medida. Por outro lado, Gray (1994) e Tellegen (1985)
postulam que a personalidade é mediada em grande parte por factores biológicos.
         Através dos contributos dos diversos seguidores do estudo da personalidade, no presente
este conceito é concebido como uma combinação de factores biológicos e de factores ambientais,
estando presente na vida psíquica de cada um de nós, ao nível dos processos cognitivos e na
expressão particular das emoções (Hansenne, 2004).




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1.2. A teoria dos traços


         As teorias dos traços são dimensionais, pois centram-se na classificação da
personalidade de acordo com descrições em termos de características, que podem variar ao longo
de uma distribuição sem descontinuidades. O traço consiste num conjunto de comportamentos ou
de tendências correlacionadas com o agir, estes pretendem descrever e predizer o comportamento
que o indivíduo apresenta ou possui probabilidade de apresentar, não descrevem assim somente
um estado persistente. A teoria dos traços nasce com a análise factorial, esta baseia-se no estudo
das intercorrelações entre as formas de responder e de reagir habituais (Hansenne, 2004).
         Allport (1937) afirma que os traços são predisposições para se responder sempre do
mesmo modo diante de diferentes estímulos, estes asseguram a estabilidade dos comportamentos
ao longo do tempo e nas várias experiências de vida, condicionando a percepção que os
indivíduos têm das circunstâncias. De acordo com esta lógica, os traços não podem ser encarados
como hábitos, e os mesmos podem ser medidos e estudados empiricamente.
         Allport (1937) distinguiu os traços de duas formas: existindo os traços comuns e os
traços individuais ou as disposições pessoais, os primeiros são classificados como nomotéticos e
distribuem-se normalmente na população, realçando as características pertencentes a uma dada
cultura, os segundos possuem três categorias: cardinal correspondente às características mais
marcantes de uma pessoa; central associada às características qualificativas de um indivíduo,
podendo ser qualidades como a generosidade, timidez ou meticulosidade; e os traços secundários
ou individuais que dizem respeito a uma disposição pessoal que é própria do indivíduo, todavia
não é empregue de forma regular pelo mesmo.
         Segundo McCrae e Costa (1992) os traços de personalidade são tendências, no sentido
em que são determinantes absolutos do comportamento, ou também podem ser considerados
como disposições que são coordenadas por outros factores, como sejam o papel social, a situação
ou o humor, condicionam por isso a reacção das pessoas num dado momento ou situação.
Diferenciam-se dos comportamentos aprendidos ou das condutas repetitivas e mecânicas, são por
outro lado padrões consistentes no indivíduo, podendo ser observáveis ao longo do tempo,
constituindo uma predição adequada do comportamento de uma pessoa a longo prazo. Os traços
de personalidade podem ser ainda considerados como dimensões das diferenças individuais, estes
podem ser representados por uma escala, onde uma dada pessoa pode ser contextualizada. De


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acordo com esta teoria todas as pessoas possuem traços e estes variam de acordo com o grau em
que são manifestados e possuem uma distribuição que se aproxima da curva normal, em que
quanto maior for a pontuação num traço, maior a probabilidade do sujeito reagir em consonância
com o comportamento em causa. Todavia, um traço não é um valor fixo, existindo maior
instabilidade em alguns traços comparativamente aos outros (McCrae e Costa, 1992).
         Segundo Guilford (1975) o traço é definido de acordo com uma sequência:
primeiramente observa-se em que aspectos as pessoas diferem em termos de comportamento e de
qualidades comportamentais, estas qualidades serão descritas a partir de advérbios, por exemplo
ao referirmos que aquela pessoa agiu cautelosamente. Após este primeiro passo, aplica-se a
qualidade à pessoa que executou a acção com recurso a adjectivos, sendo a qualidade transferida
da acção para o actor, estabelecendo uma descrição com estabilidade futura, ou seja, existe uma
tendência para atribuir uma descrição à maioria dos actos pertencentes a um indivíduo. O
comportamento do sujeito passa deste modo a ser descrito através de uma qualidade ou de um
substantivo, por exemplo referimo-nos ao sujeito como sendo detentor de um traço de cautela.
         Cattell (1950) recorreu a uma análise estatística para criar 171 variáveis, que
posteriormente foram alvo de uma análise factorial, onde extraiu 36 traços que apelidou de
superficiais, reduzindo-os a 12, que mais tarde designou de traços originais ou essenciais, a estes
foram acrescentados 4, constituindo os 16 traços avaliados pelo questionário 16PF. Afirma que os
traços podem ser únicos ou comuns, dinâmicos ou temperamentais. Constituem entidades
permanentes que são herdadas e que se desenvolvem ao longo da vida, possuindo uma hierarquia:
um traço comum pode ser medido em todos os indivíduos, recorrendo ao mesmo teste e que
difere mais em intensidade do que na forma. Enquanto que os traços denominados únicos
correspondem aos traços específicos de um indivíduo, que lhe são próprios e que dificilmente
estão presentes em outras pessoas. No topo superior da hierarquia localizam-se os traços de
segunda ordem, ou apelidados de super-traços, diferenciando os traços fortes dos traços de
superfície, os primeiros constituem os traços de base, cujas variações em valor são determinadas
por um único factor ou influência. Estes tipos de traços encontram-se repartidos em três
categorias: numa primeira categoria estão inseridos os traços relacionados com a habilidade, ou
seja, são classificados ou caracterizados de acordo com a forma como o sujeito realiza uma tarefa
em concordância com objectivos claros; na segunda encontram-se os traços associados ao




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temperamento do sujeito e às suas emoções; a última categoria envolve os traços dinâmicos que
dizem respeito às motivações e aos interesses individuais.
         Os traços de superfície definem-se pelas características da personalidade que estão
intercorrelacionadas entre si e frequentemente são visíveis, apesar de não constituírem um factor.
         Craig, Hogan e Wolf (1993) consideraram os traços como disposições cognitivo-
dinâmicas gerais, isto porque estes guiam ou dirigem o comportamento de diversas formas:
informam acerca das situações consideradas interessantes e determinam em quais nos devemos
envolver voluntariamente; predizem o estilo de comportamento mais provável numa determinada
circunstância; influenciam naquilo que pode ser entendido como reforçador ou não numa dada
situação, ou seja, determinam o modo como a situação vai ser percebida; e constituem
mecanismos      auto-reguladores      que    se    auto-sustêm,     sendo     neste   sentido   preditores
comportamentais mesmo sob grande intensidade situacional.
         Kluckhohn e Murray (1953) elaboraram as disposições motivacionais dividindo-as em
disposições de realização e de associação. Defendem que os traços de interacção a que chamaram
de expressivos e de estilo, manifestam-se pela polidez, pela loquacidade, pela coerência, pela
indecisão, pelo espírito crítico e pela sociabilidade.
         Eysenck (1979) teorizou quatro níveis inseridos na personalidade, que são: os tipos, os
traços, as respostas habituais e as respostas especificas. Na sua concepção os traços consistem em
construções teóricas baseadas em correlações entre as respostas habituais dos indivíduos, ou seja,
os traços são compostos por respostas habituais e especificas, as primeiras dizem respeito aos
comportamentos que surgem em determinadas situações, enquanto que as segundas são
desencadeadas ocasionalmente em situações particulares.


1.3. Modelo dos cinco factores


         O modelo dos cinco factores da personalidade foi criado a partir de análises executadas
ao nível dos adjectivos que se adequavam à descrição do conceito de personalidade, e através da
realização de análises factoriais com o fim de delimitarem a personalidade em cinco factores
(John e Srivastava, 1999). Os cinco factores constituem disposições duradouras associadas aos
padrões comportamentais existentes e os traços de personalidade que compõem estes factores são




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manifestos nas diferentes faixas etárias, em ambos os sexos, nas várias etnias ou nacionalidades,
no entanto podem variar de acordo com certas culturas.
          McCrae e Costa (2006) afirmam que os cinco factores consistem em tendências básicas
com uma base biológica, isto porque são disposições para agir e sentir de determinadas formas,
não sendo estas directamente influenciados pelo meio. Neste sentido, os traços de personalidade
são resultantes da biologia humana comparativamente à influência exercida pelas experiências ou
pelo desenvolvimento pessoal, não descurando a importância da adaptação do indivíduo ao seu
meio e as influências exercidas também por este, já que tais elementos determinam as escolhas e
as decisões individuais ao longo do tempo em concordância com os valores da pessoa.
          Este modelo é hierárquico, sendo operacionalizado a partir de dois níveis: no nível
inferior situam-se os traços muito específicos, enquanto que no nível superior encontram-se
inseridos os cinco factores mais vastos (McCrae e Costa, 2006).
          Neste sentido, as diferenças individuais podem ser divididas em cinco dimensões
principais: o primeiro factor designa-se por extroversão; o segundo por amabilidade, em que uma
pessoa com valores altos neste traço é caracterizada como atenciosa e afectuosa; o terceiro
corresponde à conscienciosidade, esta dimensão insere-se nas qualidades de honestidade,
persistência e planificação dos comportamentos, valores altos neste traço indicam que o indivíduo
pode ser escrupuloso, atento ou sério; o quarto factor denomina-se por neuroticismo ou
emocionalidade, correspondendo de modo específico à ansiedade; e por último o factor de
abertura à experiência (Hansenne, 2004).
          O traço de abertura à experiência também apelidado de “imaginação”, está presente em
indivíduos geralmente considerados curiosos, com interesses variados, originais, criativos,
imaginativos, que não apreciam a rotina, uma pontuação baixa neste traço pode estar patente
numa pessoa com uma predisposição para o convencional, para a sensatez, com interesses
limitados e pouca expressão criativa (Pervin e John, 2004). Segundo Benet-Martínez e John
(1998) este traço também representa a complexidade, a abertura e a profundidade da mente
humana.
          O traço de conscienciosidade é marcado pelo controlo da impulsividade ou da volição,
existindo assim controlo sob os impulsos e os comportamentos são dirigidos frequentemente para
um objectivo planeado à priori, tendo em conta o cumprimento de obrigações impostas pelo
próprio ou por outros (Benet-Martínez e John, 1998). Os indivíduos considerados conscienciosos


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são frequentemente cautelosos, demonstram ser dignos de confiança e organizados, cumprindo a
rigor as suas responsabilidades, são também ambiciosos e perseverantes. Todavia, os indivíduos
destituídos desta particularidade mostram-se desorganizados, descuidados, ociosos, negligentes,
relaxados e hedonísticos (Friedman e Schustack, 2004). Esta dimensão da personalidade prediz
eficazmente o desempenho escolar e o desempenho profissional (Freitas, Teixeira e Pasquali,
2005).
         A dimensão de extroversão encontra-se associada a características como o entusiasmo, a
actividade, a sociabilidade, a dominância, a eloquência, o optimismo e o divertimento. Enquanto
que, a introversão está correlacionada com o retraimento, a submissão e a serenidade (Friedman e
Schustack, 2004).
         A amabilidade apelidada igualmente de agradabilidade está presente nos indivíduos
considerados cooperativos, confiantes, prestativos, clementes e honestos. Os indivíduos com
baixos valores nesta dimensão são caracterizados como frios, indelicados, desconfiados,
vingativos, inescrupulosos e manipuladores (Friedman e Schustack, 2004).
         O neuroticismo designado também por instabilidade emocional é marcado pela
ansiedade, sensibilidade emotiva, por uma preocupação excessiva, pela experiência frequente de
tensão e de insegurança. Os indivíduos sem este traço demonstram-se mais calmos, seguros,
pouco emotivos e descontraídos (Friedman e Schustack, 2004). Segundo McCrae e Costa (2006)
os sujeitos com resultados altos nesta dimensão possuem uma predisposição para sentir irritação,
melancolia e vergonha, possuem pouca tolerância à frustração, principalmente quando não
atingem os seus objectivos ou não satisfazem as suas vontades, assim como, possuem pouco
controlo sob os seus impulsos. Os comportamentos dos indivíduos considerados neuróticos
podem evoluir para algo compulsivo, podem se tornar imprudentes e exprimir a sua inquietude ou
angústia interiores com recurso a acções desadequadas.
         Segundo Hansenne (2004) os adjectivos que se associam aos cinco factores da
personalidade são os seguintes: a extroversão é típica de uma pessoa faladora, feliz, enérgica,
gregária, confiante, espontânea, segura e activa no seu dia-a-dia; a amabilidade está presente
numa pessoa considerada como afectuosa, amável, educada, altruísta, submissa, modesta e
sensível; a conscienciosidade está presente nas pessoas caracterizadas como sérias, responsáveis,
cuidadosas, disciplinadas, detentoras do sentido do dever, perseverantes na procura do êxito,
deliberantes e assertivas; o neuroticismo é marcado pela ansiedade, cólera, depressão, timidez


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social, impulsividade e vulnerabilidade, estando associado à labilidade emocional e em relação ao
modo como cada indivíduo lida com a intensidade das suas reacções emocionais.


  Tabela 1. Os cinco factores de personalidade adjectivados e relacionados com os seus opostos
  Os Factores e os seus
         Opostos                                         Adjectivos

       Extroversão/                    Confiança; Espontaneidade; Assertividade; Actividade

        Introversão
                                             Timidez; Inibição; Passividade; Submissão

      Amabilidade/                           Afectividade; Cortesia; Educação; Bondade

        Hostilidade
                                               Frieza; Maldade; Rispidez; Irritabilidade

   Conscienciosidade/                    Seriedade; Responsabilidade; Cuidado; Disciplina

      Impulsividade
                                        Frigidez; Irresponsabilidade; Negligência; Hesitação
      Neuroticismo/                        Ansiedade; Stress; Excitabilidade; Instabilidade
Estabilidade Emocional
                                         Calma; Relaxamento; Apaziguamento; Estabilidade

Abertura à Experiência/                   Imaginação; Criatividade; Novidade; Curiosidade

      Convencional                   Concretude; Falta de originalidade; Rotina; Circunspecção
                                                                                    Hansenne (2004)


         Eysenck (1992) foi um dos primeiros investigadores a associar os traços de
personalidade à activação neurofisiológica. Afirmava que a introversão correspondia a um nível
mais elevado da activação do sistema nervoso central, isto porque os introvertidos tendem a ser
mais vigilantes comparativamente aos extrovertidos, sendo que os primeiros reagem com mais
intensidade numa situação de perigo (Stelmack, 1990).
         Bartol e Costello (1976) descobriram a partir dos seus estudos que os introvertidos
possuem uma tolerância mais baixa à dor, e sendo mais sensíveis protegem-se dos estímulos
exteriores.



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         De acordo com Eysenck (1992) o traço de abertura à experiência encontra-se
correlacionado com a extroversão, pois existe uma propensão para sentir aborrecimento nas
pessoas com estes dois traços, no entanto isto não tem a ver necessariamente com a capacidade de
sociabilidade, típica da extroversão. Tal evidência é reforçada por Zuckerman (1991), afirmando
que a base biológica do traço de abertura à experiência é similar à do traço de extroversão, em
que os indivíduos que buscam frequentemente novas sensações apresentam maiores índices de
respostas à novidade em certos sistemas cerebrais, sobretudo ao nível do sistema de
neurotransmissores com a enzima monoaminoxidade, que tem como transmissores a dopamina e
a norepinefrina.
         Nos seus estudos Zuckerman (1991) constatou que os indivíduos com maior
predisposição para a procura de novas experiências possuíam um nível baixo de norepinefrina, o
que faz com que busquem situações de risco e de perigo para estimularem o funcionamento da
norepinefrina neste sistema neuronal. Os indivíduos que consomem substâncias psicoactivas são
considerados pela maioria das investigações realizadas neste âmbito como detentores do traço de
abertura à experiência, a sua constante procura de sensações novas é influenciada pelos sistemas
de recompensa dos seus cérebros, que são mediados pela dopamina.


2. Psicopatia


2.1. Descrição clínica


         Morel (1857) classificou os indivíduos com este tipo de personalidade como “maníacos
instintivos” que desde a infância manifestam comportamentos de desrespeito pelas normas
sociais, sendo portadores de tendências inatas para perpetuar o mal, eram por isso autores de
actos como o roubo, os incêndios, ou outros de categoria delituosa, desrespeitando facilmente as
normas sociais vigentes, mostrando-se desta forma destituídos de valores morais.
         Lombroso nos finais dos anos 1880 (citado por Innes, 2004) interessou-se pelo estudo da
criminalidade, dando início à sua investigação com a dissecação de cérebros de cadáveres, a fim
de encontrar as causas estruturais para a loucura, sem no entanto obter êxito na sua busca. Ao
investigar também em relação às fisionomias de indivíduos criminosos encarcerados, inclusive
autopsiou um corpo de um criminoso que fora executado, concluiu que o mesmo possuía uma


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particularidade incomum no crânio, tais descobertas e estudos contribuíram para a divisão dos
casos em duas tipologias ou classificações: os “criminosos ocasionais” que cometiam os crimes
de acordo com as circunstâncias e os “criminosos naturais” que cometiam os crimes com grande
frequência, possuindo um defeito hereditário ao nível da sua estrutura física, pois eram
classificados como “atávicos” e possuíam características estruturais primitivas (braços
compridos, uma visão apurada idêntica à visão das aves de rapina, mandíbulas pesadas e orelhas
grandes). Tal teoria foi alvo de inúmeras críticas, pois fundamentava-se essencialmente em
aspectos morfológicos e anatómicos humanos.
         Kraepelin (1988) desconsiderava a causa neurológica da psicopatia, afirmou que se
tratava de uma perturbação constitutiva, existindo por detrás do surgir da perturbação os factores
genéticos. Criou as seguintes tipologias de psicopata: os psicopatas excitáveis, mitómanos,
intuitivos e fantásticos ou instáveis.
         Schneider (1974) contribui em muito para a definição actual de psicopatia, pois descobre
que esta consiste numa perturbação ao nível da personalidade, isto é, envolve desvios
quantitativos de características normais da personalidade. A partir dos seus estudos consegue
estabelecer vários subtipos de psicopata: os hipertímicos; os depressivos; os inseguros; os
fanáticos; os carentes de atenção; os emocionalmente lábeis; os explosivos; os perversos; os
abúlicos; os asténicos; os anéticos; e os frenasténicos. Neste sentido, os indivíduos com esta
perturbação eram destituídos de sentido moral, de honra, de pudor, de arrependimento e inclusive
de consciência. Afirmando também que as pessoas com este tipo de características eram
impossíveis de tratar ou de alterar a sua condição diagnóstica, a única solução possível seria o
internamento dos mesmos num local seguro, longe da sociedade.
         As subtipologias de personalidade psicopática elaboradas por Schneider (1974)
obedeceram aos critérios de anormalidade de carácter psicossocial, à presença de impulsividade e
de incapacidade de controlo dos impulsos.




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  Tabela 2. As subtipologias de personalidade psicopática elaboradas por Schneider (1968) e as
                                 suas principais características
    As Subtipologias de
 Personalidade Psicopática                                       Características

                               Indivíduo com avolição, que cede facilmente às sugestões, vulnerável às
          Abúlico
                               circunstâncias que o induzem à prática de crimes e comporta-se de acordo com as
                               suas próprias deduções sobre a realidade.

                               Indivíduo que exibe juízos e condutas isentas de valores morais, não possui
                               escrúpulos no sentido em que é desfavorecido em termos de compaixão e de outros
          Anético
                               sentimentos, assim como, é atroz e pungente nas suas acções, com severas
                               dificuldades de adaptação à escola e ao seu meio, sendo frequente praticar actos
                               ilícitos, danos corporais e até homicídios.

                               Indivíduo com traços neuróticos de personalidade, mais precisamente sintomas
          Asténico
                               hipocondríacos, detendo um perfil psicológico de abatimento contínuo, focalizando
                               o seu bem-estar nas fugas ao esforço e à auto-realização.

                               Indivíduo que mostra carências de afecto e de reconhecimento, possui traços
                               histriónicos de personalidade, logo demonstra um comportamento
    Carentes de Atenção        “melodramático” com o intuito de atrair as atenções, bem como, sente-se frustrado
                               com grande facilidade, principalmente nas situações em que não lhe é demonstrado
                               afecto, atenção e elogios.

  Hipertímico Equilibrado      Indivíduo que não possui sentido crítico, age conforme a sua interpretação imediata
                               dos estímulos e é muito influenciável.

                               Indivíduo conflituoso, de humor lábil e indeciso, sendo passível o cometimento de
    Hipertímico Agitado
                               acções agressivas e criminosas.

                               Ao nível do humor é um indivíduo com uma angústia fácil, inseguro, duvida das
                               suas próprias capacidades e o seu pensamento encontra-se centrado na sua própria
        Depressivo
                               imperfeição ou nos erros cometidos. É encarado como auto-exigente, obsessivo na
                               execução daquilo que é considerado correcto, e com um temperamento irascível.

                               Indivíduo impulsivo, violento, capaz de actos desumanos, quando executa crimes
         Explosivo
                               cruéis raramente se recorda do sucedido, isto porque é comum possuir alterações ao
                               nível da consciência e da memória.

                               Indivíduo que se deixa dominar pelas ideias sobrevalorizadas que constrói, é
                               frequente seguir com grande veemência uma doutrina religiosa, uma política ou
          Fanático             uma filosofia. Quando é detentor de um QI acima da média, torna-se perigoso ao
                               ponto de induzir os demais a aceitarem e a praticarem uma doutrina elegida pelo
                               próprio.

                               Indivíduo que foi vítima de alguma patologia ou acidente que afectou o seu sistema
                               neuronal, apesar de conservar a capacidade de juízo concreto, compreende as
        Frenasténico
                               relações de forma superficial e é detentor de um juízo crítico abstracto, sendo o seu
                               percurso de vida talhado por sucessivos fracassos.
                                                                                               Schneider (1968)




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         Cleckley (1988) encarou a psicopatia como uma doença mental, correspondendo a uma
“demência semântica”, ou seja a um défice ao nível da compreensão dos sentimentos humanos
em profundidade. Baseou-se na história clínica e de vida de 15 pessoas para definir a perturbação
em causa através de 16 características elementares: o facto de possuir um encanto superficial e
boa inteligência; não possuir alucinações ou outros sinais de pensamento irracional; incapacidade
de sentir ansiedade ou de manifestações neuróticas; mostrar-se indigno de confiança, mente e é
insincero no seu dia-a-dia, sendo uma atitude reforçada pela ausência de sentimentos de culpa ou
de vergonha, exibindo igualmente comportamentos anti-sociais sem escrúpulos aparentes; é
detentor de um raciocínio pobre e de uma incapacidade para aprender com a experiência;
predomina um egocentrismo patológico e uma incapacidade para amar, o que promove a pobreza
geral nas relações afectivas; possui incapacidade de intuição (insight), assim como, mostra-se
incapaz para responder na generalidade das suas relações interpessoais; há a manifestação
frequente de um comportamento fantasioso e pouco recomendável, que pode ser explicado ou
não pela ingestão de bebidas alcoólicas; executa ameaças de suicídio para obter o que pretende
dos outros, estas são raramente concretizadas; a sua vida sexual impessoal é trivial e pouco
integrada; e por último, é incapaz de seguir um plano de vida ou estabelecer objectivos de vida.
         Apesar da boa impressão que um indivíduo psicopata transmite inicialmente aos outros,
à posteriori torna-se evidente que o mesmo não possui sentido de responsabilidade
independentemente das suas obrigações, sejam elas importantes ou não, este desconsidera
também o valor da moral ou da verdade, não experimenta sentimentos de culpa, não sente mal-
estar por mentir ou praticar actos ilícitos, e ao não sentir remorsos não aprende com os erros que
comete e remete a culpa das suas falhas noutra pessoa ou no sistema social. Este é dotado de uma
inteligência acima da média, no entanto ao ser punido pelas suas acções não altera o seu padrão
comportamental (Cleckley, 1988).
         Ao nível da personalidade estes indivíduos são egocêntricos, sendo indiferentes ao
sofrimento alheio ou ao mal-estar que provocam nos outros, não possuem ressonância afectiva,
nem capacidade de insight, o que prejudica gravemente a sua avaliação da realidade, são também
incapazes de sentir empatia, por isso não respondem de forma convencional aos sentimentos e à
manifestação de afectos (Cleckley, 1988). Existindo uma predisposição para consumirem álcool,
o que os induz mais facilmente à adopção de condutas extravagantes e anti-socais,
frequentemente exibem práticas sociais desviantes e incestuosas, a tendência homossexual está


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raramente presente e as relações que estabelecem são impessoais e temporárias, não implicam
assim compromissos ou afectos duradouros (Cleckley, 1988).
         A definição de psicopatia elaborada por Hare (2003) é baseada nas características
assinaladas por Cleckley (1988) de que o psicopata é encarado como um indivíduo temerário,
arrogante, insensível, dominante, superficial, egocêntrico, falso e manipulador. No âmbito
afectivo, estes indivíduos são detentores de emoções lábeis e superficiais, o seu perfil psicológico
é igualmente marcado pela ausência de empatia, do sentimento de ansiedade e de culpabilidade
ou de remorsos, assim como, é incapaz de estabelecer vínculos duradouros com as outras pessoas,
ou seguir qualquer tipo de princípios (Hare, 2003).
         O psicopata leva um estilo de vida criminal, utilizando com regularidade substâncias
ilícitas, e ao ter um fraco insight torna-se incumpridor de qualquer tipo de responsabilidade
(Hare, 1991; Hart, Hare e Harpur, 1992). Os indivíduos com esta perturbação ao nível da
personalidade possuem um encanto fácil, manipulam e controlam os outros através da
agressividade e da intimidação, com vista a satisfazerem os seus desejos internos e a elevarem a
sua auto-estima (Hare, 1999; Oliveira, 2004). Isto deve-se em parte à incapacidade para perceber
o estado emocional dos outros, assim como, desconhecem o sentimento de lealdade, são desleais
para todos os que lhe são próximos e para o sistema social em si.
         Os psicopatas possuem uma necessidade voraz por estimulação, o que contribui para o
desejo de praticar acções anti-sociais, sem reflectirem sobre as consequências que podem advir
dos seus comportamentos delituosos (Oliveira, 2008, 2009), são deste modo considerados como
depredadores sociais, não seguindo qualquer lei ou regras sociais, cometem acções perversas
tendo como única e principal prioridade a satisfação dos seus próprios objectivos (Hare 1999).
         Hare (1993) defende que a psicopatia é uma perturbação destituída de consciência, ou
seja, existe um handicap na formulação de juízo crítico acerca das acções do psicopata e a sua
agressividade é accionada de forma instrumental e fria, dependendo da natureza individual deste
e das influências sociais provenientes do seu meio envolvente. Apesar de tudo, o psicopata é
capaz de distinguir o que é errado do que é certo e no seu íntimo sabe os danos que provoca, logo
pode decidir entre o “mal” e o “bem”.
         Os psicopatas são absolutamente competentes para enfrentar uma decisão promulgada
pelos sistemas de justiça, isto porque tem capacidade para optar e possuem plena consciência das




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consequências advindas dos seus actos, mas é frequente simularem uma perturbação mental para
não serem punidos judicialmente (Hare, 1993).
         A facilidade que o psicopata possui para provocar a dor e o sofrimento alheio pode ser
justificada em parte pelo seu egocentrismo marcado, pela sua auto-avaliação exagerada, pelo seu
fraco controlo sob os impulsos e pela sua necessidade de controlo e de domínio (Hare, 1993).
         Segundo Hare (2009) ninguém nasce psicopata, certas pessoas podem no entanto possuir
uma predisposição para a psicopatia. A psicopatia não consiste numa categoria descritiva, mas
sim numa medida que varia em proporção.
         As perturbações psicopáticas consistem num diagnóstico já elaborado através da recolha
de histórias, de biografias, da observação de comportamentos e de atitudes. Neste sentido, a
psicopatia é uma semiologia psiquiátrica e também social, que é marcada por um percurso de
vida instável, dominado pelos encontros repetidos e sucessivos com a lei e por reincidências, isto
porque há ausência de aprendizagem com os erros passados. Nesta perturbação os
comportamentos agressivos são uma constante e os indivíduos psicopatas tornam-se cada vez
mais repressivos, anónimos e violentos, detentores de uma expressão mental pobre, assim como,
por um lado rejeitam mas por outro tem uma necessidade voraz de afecto, tornam-se impulsivos e
também pragmáticos, a sua solidão contrasta com uma grande dependência, sentem o
aborrecimento com grande facilidade e possuem uma predisposição para a mitomania,
considerados igualmente como exuberantes e possuidores de uma linguagem empobrecida.
         Hare (2009) considera que a instabilidade motora, relacional, profissional e social faz
parte da disposição para a psicopatia e na sua escala para medir esta perturbação, a PCL-R, os
principais indicadores desta perturbação são avaliados a partir das seguintes características:
ausência de sentimentos morais, como o remorso ou a gratidão e a tendência para mentir e para
manipular.
         A PCL-R foi elaborada com vista a medir os níveis de psicopatia e também para avaliar
a personalidade do indivíduo, permitindo a definição do risco que um determinado indivíduo
pode representar para a sociedade em questão (Hare, 2009). Esta escala foi construída com base
na assumpção de que a personalidade e o comportamento dos indivíduos agressores
diagnosticados com psicopatia diferem muito dos outros indivíduos considerados criminosos, isto
porque os psicopatas são os responsáveis pela maioria dos crimes violentos em vários países,
iniciam também os trilhos criminosos numa idade precoce, cometem uma grande variedade de


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crimes com grande regularidade, e inclusive apresentam um maior número de faltas disciplinares
no meio prisional, assim como, existe um maior índice de fracasso ao nível dos programas de
reabilitação destinados aos indivíduos com esta perturbação e os mesmos apresentam também
elevados índices de reincidência criminal (Hare, 1998).
         A escala de psicopatia de Hare (1999) avalia quatro facetas: a faceta interpessoal contém
itens que avaliam a loquacidade, o encanto superficial, a sobrestima de si, a tendência para a
mentira patológica e o logro ou a manipulação; a faceta afectiva inclui itens que abordam a
ausência de remorsos ou de culpabilidade, o afecto superficial, a insensibilidade, a ausência de
empatia e a incapacidade para aceitar as responsabilidades pelos seus actos e gestos; a faceta ou
estilo impulsivo/irresponsável possui itens que medem a necessidade de estimulação, a tendência
para o aborrecimento e para o estilo de vida parasitário, a incapacidade para assumir a
responsabilidade pelos seus actos e gestos e ainda a impulsividade; e a faceta anti-social abrange
questões que colocam ênfase no fraco auto-controlo, na manifestação precoce de problemas ao
nível do comportamento, na delinquência juvenil e na diversidade de tipos de delitos cometidos
pelo sujeito.
         Os psicopatas dificilmente sentem ansiedade, bem como, no geral não experienciam o
medo, sendo quase imunes ao stress, pois permanecem calmos em situações perigosas que
colocam em causa a sua própria segurança (Goleman, 2006). Em experiências onde os
participantes recebem antecipadamente a informação de que vão receber um choque eléctrico,
constatou-se que os participantes considerados psicopatas não manifestaram apreensão ou receio
(Edens e al, 2001). Ao nível fisiológico não apresentaram níveis de sudação ou níveis de
aceleração do ritmo cardíaco, o que era de esperar nas pessoas ditas normais, não possuem deste
modo medo por antecipação e permanecem calmos e serenos em situações de grande perigo ou
pressão (Edens e al, 2001).
         Estes indivíduos demonstram dificuldades no reconhecimento do medo ou da tristeza ao
nível da expressão facial ou do timbre da voz das pessoas, o que pode explicar a ausência de
empatia ou de respostas afectivas (Goleman, 2006).
         Um estudo de imagiologia cerebral realizado com um grupo de psicopatas perigosos
(Kiehl e al, 2001) apontou para a presença de um défice ao nível dos circuitos da amígdala, mais
precisamente num local cerebral que tem como funções principais interpretar e identificar as
emoções, bem como, descobriram-se anormalidades ao nível da região pré-frontal, que domina a


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função de inibição dos impulsos. Por outras palavras, os circuitos neuronais destes indivíduos
fazem com que os mesmos não sintam emoções do espectro do sofrimento com a intensidade dita
“normal”, sendo incapazes de vivenciar a aflição, não identificam também a dor humana (Mealey
e Kinner, 2002).
         Os psicopatas podem ser socialmente hábeis, conseguindo através do seu encanto
dissuadir as pessoas quanto à sua verdadeira intuição, os psicopatas criminosos podem inclusive
ler livros de auto-ajuda com o intuito de manipularem eficazmente os seus “alvos”, de modo a
obterem o que desejam (Goleman, 2006). Isto constata-se também nos psicopatas que foram
sempre bem sucedidos e nunca foram punidos pelos seus actos ou crimes, principalmente no
tráfico de drogas e na extorsão, pois possuem uma grande capacidade de encanto superficial, de
mentira patológica e uma história de impulsividade, ao contrário dos outros que foram castigados
estes escaparam ao sistema judicial graças às suas reacções mais ansiogénicas, associadas às
ameaças antecipatórias, comportando-se com mais cautela e discrição (Goleman, 2006).
          Já na infância estes indivíduos demonstram ser portadores de uma grande frieza ao nível
dos sentimentos, tendo uma vida interior pobre são incapazes de manifestar ternura por outrem
devido também à sua dificuldade precoce na identificação da dor emocional dos outros, não
inibindo as suas reacções cruéis. Desde cedo não mostram reticência em torturar animais, em
perseguir e intimidar os colegas, assim como, frequentemente despoletavam quezílias e faziam
parte das mesmas e ateavam fogos, na adolescência é comum fazerem recurso à violência de
modo a estabelecerem relações sexuais (Goleman, 2006).
         Oliveira (2004) refere que permanecem como sinais identificatórios da existência de
psicopatia: a presença de respostas de evitamento afectivo, baixa ansiedade e baixa insegurança;
conteúdos narcisisticas e de auto-percepção grandiosa; o recurso exagerado a fantasias e
deficiente apreensão da realidade; e uma grande dificuldade na tradução de estímulos externos
em conteúdos internos que sejam significativos.
         O funcionamento do psicopata pode ser entendido e delimitado em três níveis, que são
os seguintes: ao nível biológico, as pessoas com esta perturbação possuem um baixo teor de
activação, inclusive estudos científicos demonstram que as pessoas consideradas como
delinquentes são detentoras de uma sub-activação psicofisiológica crónica, avaliadas
principalmente pelos métodos de medição dos índices electrodérmicos, cardiovasculares e
corticais; ao nível inconsciente, que justifica a presença de relações objectais narcísicas e defesas


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primitivas; e ao nível pré-consciente ou consciente, revelado por um estilo cognitivo imaturo que
se desenvolve a partir das defesas primitivas e que está por detrás da elaboração de erros
específicos em termos de pensamento, onde transparecem as auto-percepções narcisistas (Meloy,
1988).
         Os sujeitos considerados psicopatas são capazes de reter representações de si super-
grandiosas que por outro lado são isentas de valorização, estas determinam os seus
comportamentos externos de agressividade, ou seja, exteriorizam a agressividade como modo de
provarem a sua omnipotência e de afastarem o caos de fragmentação (a angústia), que poderão
sentir caso permitirem serem inundados pela percepção do vazio e pelo sentimento de vergonha
acerca de si próprios (Meloy, 1988).
         Estes indivíduos caracterizam-se por um estilo cognitivo imaturo, em que predomina um
pensamento concreto, perspectivando os outros como objectos parciais, o que conduz à
incapacidade para sentir empatia ou de fazer perdurar os seus relacionamentos, que alternam
entre o aparente apego e o mais completo afastamento (Oliveira, 2004). Existe ainda uma
tendência para generalizar abusivamente a partir de diminutos acontecimentos concretos e pela
incapacidade em aprender com os erros cometidos. Neste sentido, o mundo e os objectos
imediatos são percebidos segundo um processo primitivo de recompensas e de punições, onde a
atenção é concentrada a curto prazo nos objectos considerados como recompensadores, isto
porque vêem no controlo sobre os objectos um meio eficaz para reforçar o seu “eu” grandioso e
que os impede de perceber as consequências, as ameaças ou danos que daí podem advir (Meloy,
1988).
         Em suma, uma das respostas fisiológicas que distingue os psicopatas dos indivíduos
considerados anti-socias, consiste no sentimento de apego, que se encontra perturbado, ou seja,
existe na psicopatia uma incapacidade de apego (Meloy, 1988; Oliveira, 2004).
         Hare e Schalling (1978) realizaram um estudo com psicopatas e indivíduos sem esta
perturbação, os psicopatas e os outros sujeitos foram expostos a uma determinada experiência
com uma contagem regressiva de 10 a 1, no final desta contagem sentiriam um pequeno choque
eléctrico em um dos seus dedos da mão. Durante a simulação, constataram que os indivíduos
considerados psicopatas demonstravam uma diminuição da taxa cardíaca, em vez de registarem
um aumento do índice cardíaco tal como se verificou nos outros sujeitos incluídos nesta




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experiência, tornando evidente que os psicopatas protegiam-se da dor desconectando os sinais de
medo que proviam do ambiente em que se encontravam inseridos.
         Levenson (1990) define a psicopatia como o desejo pelo perigo e pela procura de
sensações ou de experiências de risco. Considera que esta perturbação não é originada por um
défice no funcionamento dos sistemas neuronais que medeiam os processos de ansiedade ou de
evitação, já que o comportamento anti-social intrínseco do indivíduo psicopata é baseado em
julgamentos que dão primazia aos seus próprios caprichos e desejos.
          A clínica psiquiátrica actual conservou as seguintes particularidades na definição da
psicopatia (Braconnier, 2006): a psicopatia revela-se na facilidade de passagem ao acto, pela
impulsividade e agressividade assumidas pela regularidade de acções hetero e auto-agressivas
secundárias a frustrações, estas acções são inadequadas ao propósito individual ou em relação às
circunstâncias que poderão estar por detrás das mesmas, sendo a passagem ao acto a única
resposta ao conflito sentido, desvalorizando o diálogo ou qualquer tipo de elaboração psíquica;
existem evidências de dependência e de dificuldades de identificação; há procura intensiva de
novas experiências e de novas emoções devido à preponderância para sentir aborrecimento;
verificam-se também exigências megalómanas ou desmesuradas e uma vida afectiva muito pobre
em vínculos, que origina insatisfação, o mesmo se constata ao nível da vida sexual que
permanece pobre e insatisfeita, as relações são igualmente mantidas pela superficialidade e
impessoalidade, o que gera separações regulares com manifestações excessivas; existe uma
instabilidade em termos afectivos marcada pela hiperemotividade, pelas expulsões momentâneas
de angústia e de emoções, pela aparente falta de afecto e de interesse pelo outro e pela labilidade
emocional, caracterizada pelo aborrecimento e pelo mal-estar que depressa evoluem para a
exaltação ou excitação; está igualmente patente o sentir de uma insatisfação que não cessa,
podendo levar aos comportamentos perversos; e podem existir traços histéricos e paranóides.
         Todavia, os conceitos actuais de personalidade anti-social e de psicopatia
frequentemente são confundidos, ambas as conceptualizações encontram-se centradas nos traços
de personalidade, como a manipulação, a ausência de remorsos e o egocentrismo. Os critérios de
diagnóstico de personalidade anti-social presentes na DSM-IV (2003) focam-se essencialmente
no comportamento, sendo a conduta criminosa uma condição essencial para o diagnóstico da
perturbação (Lilienfeld, 1998).




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         A perturbação anti-social da personalidade é caracterizada segundo o DSM-IV (2003),
por um padrão global de desrespeito e violação dos direitos dos outros ocorrendo desde os 15
anos de idade, indicado por três ou mais dos seguintes critérios: existe incapacidade para se
conformar com as normas sociais no que diz respeito à legalidade dos seus comportamentos,
demonstra actos repetidos que são motivo de detenção; a evidência de falsidade, explícita nas
mentiras e na adopção de nomes falsos, assim como, tende a contrariar os outros para obter lucro
e prazer, tendo também como características predominantes a impulsividade ou a incapacidade
para planear antecipadamente; a irritabilidade e a agressividade presente nos conflitos constantes
e nas lutas físicas. Estes fenómenos explicam-se pela existência do desrespeito temerário em
relação à segurança de si próprio e dos outros, bem como, uma irresponsabilidade consistente
patente na incapacidade repetida para manter um emprego ou honrar com as obrigações
financeiras e pela incapacidade em sentir remorsos, dotada de uma racionalização e indiferença
após ter magoado ou ter roubado alguém.
         Os 18 anos de idade constituem a idade mínima para que esta perturbação seja passível
de diagnóstico, apesar de existir evidência de uma perturbação ao nível do comportamento antes
dos 15 anos de idade. Este tipo de comportamento não deve ocorrer exclusivamente durante a
evolução da esquizofrenia ou de um episódio maníaco (DSM-IV, 2003).
         Neste sentido, os critérios de diagnóstico do DSM-IV (2003) da perturbação anti-social
da personalidade não são eficazes na identificação dos indivíduos psicopatas que não possuem
condutas ou registos criminosos.
         Millon (1998) critica a conceptualização de personalidade anti-social, referindo que os
critérios de diagnóstico primam pela identificação de comportamentos anti-sociais, delinquentes e
criminais descurando o papel dos traços de personalidade no diagnóstico da perturbação.
         Weiner (1995) afirma igualmente que a conceptualização do DSM-IV (2003) no que
refere aos critérios de diagnóstico da perturbação anti-social possui restrições, isto porque reserva
o enfoque às condutas anti-sociais, e estas caracterizam a delinquência em termos associais, ou
seja, as condutas que vão contra as normas sociais, não considerando os traços afectivos e
interpessoais típicos da perturbação.
         Segundo este autor a delinquência caracterológica é precursora da psicopatia, esta
desenvolve-se a partir do egocentrismo do indivíduo, que centrado em si próprio e nos seus
interesses faz uso das acções anti-sociais. O que demonstra o quão imperioso é considerar a


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presença dos traços de personalidade no diagnóstico da perturbação em questão, para que não se
cometam erros em termos de classificação.
         A personalidade dissocial segundo o CID-10 (1992) aproxima-se da conceptualização do
DSM-IV (2003) acerca da personalidade anti-social, pois na classificação do CID-10 (1992) esta
é igualmente marcada pela indiferença ou pela insensibilidade total aos sentimentos dos outros e
pela ausência de capacidade de empatia, exibindo uma atitude muito acentuada e persistente de
irresponsabilidade e desrespeito pelas normas, regras e obrigações sociais, o que pode levar à
incapacidade para estabelecer relações duradouras, aliada à baixa tolerância da frustração, assim
como, à incapacidade para se sentir culpado e de aprender com a experiência ou com as sanções
que habitualmente são aplicadas devido à manifestação frequente de comportamentos delituosos
e de acções agressivas, perpetuadas e consumadas através do sentimento de uma irritabilidade,
que é persistente.
         Segundo Kernberg (1984) o anti-social é uma pessoa centrada em si mesma, com um
self grandioso, com uma ambição desmesurada e uma atitude de superioridade, existindo também
um segundo rasgo ao nível da sua personalidade na relação de objecto: a inveja, a ideia de
exploração dos demais e a necessidade de desvalorizar outrem.
         As personalidades narcisistas e anti-sociais possuem um self dividido em dois níveis
estruturais: num dos níveis estruturais o self real destas personalidades encontra-se isolado, vazio,
incapaz de qualquer tipo de aprendizagem, inferior e inseguro; e num outro nível está oculto por
uma máscara que se sobrepõe, esta mascara é grandiosa no caso do narcisista e destrutiva no
indivíduo com a perturbação anti-social da personalidade (DSM-IV, 2003).
         Vários autores associam os traços de personalidade narcísicos à psicopatia, isto porque
os indivíduos considerados psicopatas recorrem a meios imorais e pouco pacíficos para
reforçarem a sua reputação, de forma a engrandecerem o seu próprio ego e serem detentores de
um estatuto invulnerável e indestrutível. E quando sentem que o seu estatuto encontra-se
ameaçado ou é desrespeitado respondem com grande agressividade, ameaçando quem se opõe ou
os ignora (DSM-IV, 2003).
         Os indivíduos que integram os chamados grupos gangs ou outros grupos constituídos
por delinquentes e marginais, partilham este tipo de perfil psicológico, pois procuram
impressionar os outros através da exibição de actos violentos e as suas acções encontram-se




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direccionadas para a busca de liderança, oprimindo os outros com vista a atingirem tal fim (Born,
2005).


2.2. Psicopatia primária e secundária


         Karpman (1961) distinguiu dois tipos de psicopatia, em que um denominou de
psicopatia idiopática ou primária e o outro tipo nomeou de sintomática ou secundária. A primeira
manifestava-se predominantemente por reacções psicopáticas, enquanto que a segunda incluía
também reacções similares às psicopáticas, no entanto estas correspondiam sobretudo a processos
neuróticos. O psicopata primário caracteriza-se pela sua frieza e crueldade, principalmente ao
nível do estabelecimento das relações interpessoais, por outro lado este mostra-se capaz de
simular emoções e vínculos afectivos de modo a obter ganhos próprios.
         Cleckley (1988) verificou a partir das suas investigações a existência de algumas
diferenças importantes ao nível da agressividade dos psicopatas, pois um dos subgrupos formados
por este tipo de indivíduos manifestava hostilidade, enquadravam-se num perfil belicoso,
imprudente, e susceptível ao consumo de substâncias; enquanto que um segundo subgrupo
abrangia indivíduos marcadamente agradáveis e bem ajustados em termos psicológicos, todavia
demonstravam-se imprevisíveis ao nível do comportamento, sendo indignos da possível
confiança que os outros pudessem depositar nos mesmos; o terceiro subgrupo era constituído por
indivíduos que reuniam um perfil misto, ou seja, manifestavam episódios de grande irritabilidade
e agressividade, interpostos por momentos de cordialidade e de cooperativismo.
         Hare (1984) estabeleceu três tipos de psicopatia: o psicopata primário que
corresponderia à descrição realizada por Cleckley (1988); o psicopata secundário ou o psicopata
neurótico, conhecido pela sua capacidade em estabelecer relações afectivas, conseguindo
igualmente sentir culpa ou remorsos pelos seus actos e ansiedade; e o psicopata dissocial que
possuía uma subcultura própria integrada e formada em meios marginais, era capaz também de
sentir culpa, de ser leal e de transmitir afecto, sendo a sua conduta dissocial devida a factores
ambientais.
         Karpman (1961) e Poythress e Skem (2006) defendiam que o psicopata secundário era
semelhante ao psicopata primário ao nível do fenótipo, mas desigual ao nível constitucional.
Ambos os tipos de psicopata exibem indiferença e insensibilidade emotiva, não olhando os seus


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meios para atingir os seus próprios fins, pois utilizam e manipulam outrem para que os seus
objectivos se tornem atingíveis, sendo igualmente detentores de uma conduta anti-social. O
psicopata primário distingue-se do secundário pela sua organização emocional instintiva, já que o
psicopata secundário é capaz de expressar em algumas situações empatia, ansiedade, depressão e
o desejo de aceitação social, vivenciando com mais intensidade os conflitos neuróticos.
         Para além disto, os psicopatas primários actuam de modo a obterem o máximo de
excitação possível, enquanto que o psicopata secundário actua segundo as suas emoções, em
concordância com o ódio sentido ou o desejo de vingança, sendo um perfil típico do conflito
neurótico, por outro lado demonstram-se capazes de realizar uma aprendizagem social, tornando-
se possível incluir uma abordagem psicoterapêutica no delineamento da intervenção para estes
casos de psicopatia secundária (Karpman, 1961; Poythress e Skem, 2006).
         Segundo Zágon (1995) tanto a psicopatia primária como a secundária podem ser
condicionadas pela presença de um défice neurológico ao nível do sistema de inibição do
comportamento, que tem a finalidade de regular a reactividade a estímulos aversivos e encontra-
se conexado com as experiências de afecto negativo, como a ansiedade, podendo também existir
uma desregulação ao nível do sistema de activação comportamental, este por sua vez rege a
motivação apetitiva e encontra-se associado com a experiência de afecto positivo e com a
impulsividade. Por outras palavras, o psicopata primário sofre de uma incapacidade ao nível do
funcionamento do sistema de inibição comportamental, que lhe conserva um temperamento
“audaz”, enquanto que a psicopatia secundária está subjacente ao mau funcionamento do sistema
de activação comportamental, que se mostra hiperactivo nos indivíduos com este tipo de
perturbação.
         Porter e Woodworth (2006) apoiam-se noutro tipo de perspectiva, declarando que o
conflito patente na psicopatia secundária é mais de natureza dissociativa do que neurótica, as suas
características de afecto superficial e as emoções pobres e um estilo de vida marcadamente
egocêntrico, centrado na obtenção dos seus próprios fins, correspondem de certo modo ao
aparente problema dissocitaivo.
         Eysenck (1981, 1995) postulou que a psicopatia primária caracteriza-se pela ausência de
sentimentos, de culpabilidade, de empatia ou de sensibilidade, deste modo os indivíduos com esta
perturbação possuem mais probabilidades de cometimento de actos puramente delitivos e
agressivos.


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          Enquanto que, os psicopatas considerados secundários possuem altos valores de
extroversão e de neuroticismo, estes reagem com grande intensidade aos estímulos externos e
tendem a permanecer pouco activados durante os períodos de descanso ou durante a sua vida
diária, são deste modo detentores de uma grande distractibilidade e são relativamente desinibidos.
No entanto ao cometerem actos prejudiciais a outrem sentem-se culpabilizados e são capazes de
experimentar remorsos (Eysenck, 1995, 2006; Eysenck e Eysenck, 1976).
         Por outro lado, Blackburn (1971) afirma que o psicopata primário é mais extrovertido,
seguro de si mesmo, dominante, apresentando níveis baixos de ansiedade, possuindo uma
socialização adequada e uma ausência de insight, caracterizada pela sua rigidez mental, enquanto
que o psicopata secundário sofre de alterações ao nível emocional, vivenciando com mais
intensidade e frequência a ansiedade social, isto deve-se também a um narcisismo mais atenuado,
marcado por uma auto-estima pobre, sendo um indivíduo retraído, propenso ao sentimento de ira
e de irritação, mostrando-se igualmente mais submisso e isolado socialmente, estes sintomas são
característicos dos traços neuróticos ao nível da sua personalidade (Blackburn, 1998).
         Poythress e Skeem (2006) consideram que o psicopata primário sofre de um défice
afectivo congénito, enquanto que o psicopata secundário apresenta uma alteração afectiva que foi
adquirida, logo os psicopatas secundários tornam-se mais propensos à adopção de
comportamentos transgressivos e à ideação suicida, existindo assim um maior risco de suicídio
nestes indivíduos, podendo este ser reforçado pela sua ansiedade e pela sua impulsividade.
         Neste sentido, os psicopatas primários são caracterizados pela sua violência
instrumental, sendo a partir desta que pretendem alcançar um objectivo exterior, enquanto que o
comportamento dos psicopatas secundários é marcado por um tipo de violência reactiva regular
associada à sua predisposição para sentir ansiedade e ira (Poythress e Skem, 2006). Sendo estes
últimos encarados como defensivos, rancorosos e susceptíveis à frustração e à critica (Blackburn,
1971).
         Segundo Levenson, Kiehl e Fitzpatrick (1995), a psicopatia primária é marcada por
atitudes egoístas e despreocupadas, o individuo com esta perturbação tende a possuir uma postura
manipulativa em relação aos outros, enquanto que a psicopatia secundária encontra-se associada a
um estilo de vida impulsivo, derrotista, bem como a um pobre controlo dos impulsos e na falha
para aprender com os erros do passado.




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Ana Catarina Soares de Azevedo, Personalidade, Psicopatia e Agressividade em Jovens
Adolescentes do Ensino Básico e Secundário

         Levenson (1995) criou a escala de avaliação dos índices de psicopatia (Levenson´s Self-
Report Psychopathy Scale) aplicável à população em geral, sendo um grande contributo para o
estudo da psicopatia, isto porque anteriormente a maioria das medidas que avaliavam esta
perturbação destinavam-se à população institucionalizada, enquanto que esta escala pode ser
aplicada à população em geral.
         Patrick (2000) e Blair (2003) estabeleceram uma diferenciação entre a psicopatia e a
perturbação anti-social da personalidade, afirmando que não são duas perturbações semelhantes,
pois possuem factores causais diferentes: a psicopatia primária é descrita e caracterizada por
défices emocionais e afectivos e pelo sentimento constante de egoísmo, enquanto que a
personalidade anti-social equipara-se à psicopatia secundária, pois este tipo de psicopatia é
marcada por alterações ao nível do comportamento, concretamente pelas acções anti-socias, sem
existir deterioração das emoções.
         Eysenck (1992, 1994) nos seus estudos acerca da personalidade de indivíduos
considerados criminosos, constatou que os sujeitos considerados extrovertidos tendem a
manifestar comportamentos delituosos, sendo que a base neurofisiológica da extroversão está
relacionada com o funcionamento do sistema reticular ascendente e o consequente nível de
activação (arousal) cortical é mais baixo nos extrovertidos comparativamente aos introvertidos.
Os extrovertidos mostram-se mais rápidos no desenvolvimento da inibição reactiva, que
posteriormente levam mais tempo a fazer desaparecer, e por este motivo possuem mais
dificuldades em aprender ou a condicionar em relação aos introvertidos.
         Neste âmbito, também é adequado abordar a preponderância do traço de neuroticismo,
visto que uma pessoa com um neuroticismo alto tende a reagir excessivamente aos estímulos,
quer externamente caso seja extrovertido, quer internamente se for introvertido. A base
neurológica deste traço encontra-se centrada na actividade do sistema nervoso autónomo, que é
demarcado por reacções excessivas e ansiosas principalmente nas situações marcadas por
estimulações aversivas, interferindo sobretudo na capacidade de aprendizagem social (Eysenck,
2006). Seguindo esta lógica, para qualquer nível de extroversão quanto mais alto for o
neuroticismo, maior será o nível de comportamento delituoso esperado. O indivíduo que situa a
sua personalidade neste nível será menos socializado, isto porque possui dificuldades de
condicionamento, e uma labilidade emocional exagerada (Eysenck, 2006).




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Ana Catarina Soares de Azevedo, Personalidade, Psicopatia e Agressividade em Jovens
Adolescentes do Ensino Básico e Secundário

         No que concerne ao traço de abertura à experiência, Zuckerman (1991) revela que o
mesmo é assinalado por uma tendência em procurar sensações e experiências novas variadas,
complexas e intensas, as pessoas com valores altos neste traço possuem uma predisposição para
correr riscos com a finalidade de satisfazer os seus objectivos, estando esta particularidade
associada aos comportamentos de risco, como sejam o consumo de substâncias ou à condução
perigosa sob o efeito do álcool (Oliveira, 2007, 2009; Oliveira e Mestre, 2006).
         Segundo Pinatel, citado por Borlandi, Mucchielli, Blanckaert e Sibeud (2001) existem
quatro traços particulares que constituem uma nova organização da personalidade e são idênticos
nas pessoas com comportamentos delituosos ou violentos: o egocentrismo, o indivíduo
egocêntrico percebe o mundo em função dos seus próprios interesses, logo existe uma certa
indiferença quanto às consequências dos seus actos em relação às suas vítimas e em relação aos
julgamentos de outrem, acerca dessas mesmas acções. Por outras palavras, uma pessoa com
egocentrismo e considerada delinquente sente frustração e passa para o acto sem se interrogar. A
labilidade constitui outro traço deste tipo de personalidades, sendo esta referente à dificuldade de
adaptação às diversas situações, em que o indivíduo não é capaz de medir as consequências das
suas acções e reage sem ter em consideração o passado nem o futuro, assim como não dá
importância às ameaças de sanções, não possuindo uma conduta estável ao longo do seu percurso
de vida, nem conseguindo gerir racionalmente as suas actividades ou relações. A agressividade
também é outra característica presente, sendo definida como uma tendência para agir e reagir
com violência, ou seja a pessoa recorre à força para atingir os seus fins e para fazer face às suas
frustrações sem se preocupar com as consequências futuras. E por último, a existência de
indiferença afectiva, marcada pela ausência de empatia (Oliveira, 2004), os indivíduos com esta
característica são insensíveis ao sofrimento alheio, e ao não sentirem compaixão podem provocar
sofrimento sem se deterem, não têm noção da dor que podem infligir, por conseguinte as suas
acções são marcadas pela frieza, mantendo as incapacidades de vinculação e as suas carências
afectivas.


2.3. - O papel da agressividade na psicopatia


         As investigações empíricas realizadas no âmbito da psicopatia confirmam a existência
de uma forte relação entre psicopatia e o comportamento violento nos indivíduos do género


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Ana Catarina Soares de Azevedo, Personalidade, Psicopatia e Agressividade em Jovens
Adolescentes do Ensino Básico e Secundário

masculino considerados delinquentes (Oliveira, 2004, 2007, 2008, 2009; Oliveira, Anciães e
Faria, 1999; Patrick, Zemplolich e Levenston, 1997). Os investigadores Williamson, Hare e
Wong (1987) enunciam que pontuações altas em psicopatia encontram-se associadas com a
prática frequente de crimes violentos e de acções agressivas, sobretudo no que concerne ao
comportamento dos psicopatas reclusos, que utilizam a agressividade como forma de controlarem
ou de liderarem os demais no mesmo meio prisional. Fora do contexto prisional os psicopatas
utilizam as estratégias de coacção ou de ameaças na prática dos crimes considerados mais graves,
assim como utilizam armas e a perseguição de desconhecidos com o intuito de obterem ganhos
pessoais.
         Segundo Serin e Amos (1995), os psicopatas libertados por cumprirem a pena de prisão
que lhes foi atribuída cometem mais crimes violentos do que outrora, antes de serem punidos
judicialmente.
         Buss (1961) e Dodge (1991) baseiam-se na teoria de Cleckley (1988) acerca do
psicopata verdadeiro para concluírem que a agressão deste indivíduo é de carácter mais
instrumental do que proactivo, ou seja, não é accionada como meio de defesa, sendo sim
motivada pelas circunstâncias. O psicopata verdadeiro é teorizado como um indivíduo predador,
que faz recurso regular da violência, sendo uma estratégia usual para intimidar e para atingir as
suas próprias metas.
         A agressão passional ou reactiva é executada como produto das circunstâncias e insere-
se mais nas condutas ditas anti-sociais, ou seja é mais frequente nos indivíduos considerados anti-
socais reincidentes, já que estes preservam menos                     frieza   em termos   emocionais
comparativamente aos indivíduos considerados psicopatas verdadeiros (Buss, 1961 e Dodge,
1991).
         As teorias de Cleckley (1988) estão em concordância com o postulado de Buss e Dogde
(1961), pois o primeiro conceptualiza a diferença entre os psicopatas e os delinquentes
reincidentes em termos de ressonância emocional, referindo que os psicopatas são incapazes de
sentir culpa ou remorsos, são egocêntricos ao ponto de não conseguirem amar ou transmitir
afectos, fazem um recurso diligente da insinceridade e da mentira patológica, bem como, do
encanto superficial para manipularem outrem e são indiferentes ao nível das suas relações
interpessoais.




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Ana Catarina Soares de Azevedo, Personalidade, Psicopatia e Agressividade em Jovens
Adolescentes do Ensino Básico e Secundário

         Neste sentido, a insensibilidade emocional é mais camuflada e preponderante nos
psicopatas delinquentes comparativamente à insensibilidade dos delinquentes reincidentes.
         A psicopatia pode ser distinguida de outras formas de comportamento anti-social e
agressivo, que podem constituir características mais sintomáticas correlacionadas com as
perturbações de base emocional, como a delinquência neurótica, ou reflectem a socialização
dentro de uma subcultura que funciona em oposição à sociedade (Shine e Ferraz, 2000). Ao
contrário dos psicopatas, os delinquentes neuróticos e subculturais experimentam o sentimento de
culpa e de remorso em relação ao seu comportamento transgressivo e conseguem inclusive
estabelecer com os outros relações afectivas. A distinção clínica é efectuada pelos estudos que
utilizam o método electroencefalograma (EEG), que auxiliou na constatação de várias
irregularidades ao nível cerebral nos indivíduos psicopatas, sobretudo em relação à actividade
exagerada de ondas cerebrais lentas, que nos psicopatas fortemente impulsivos e agressivos
encontram-se localizadas nas regiões temporais do cérebro (Mata, 1999).
         Em termos fisiológicos e hormonais, a hormona epinefrina assume uma grande
importância na explicação das condutas agressivas consideradas fora da normalidade. Esta
hormona controla o fluxo sanguíneo, melhora a força muscular e incrementa a intensidade e o
ritmo respiratório, preparando fisiologicamente uma pessoa para reagir com medo, com a fuga ou
com o ataque, dando origem a um estado apelidado de estimulação cortical. As pessoas com uma
estimulação cortical diminuta são habitualmente agressivas e quando se sentem ameaçadas,
sentem menos stress e ansiedade, respondendo de forma mais violenta e intensa. Por essa razão,
os indivíduos considerados criminosos e os psicopatas necessitam de experimentar estímulos
mais intensos para sentir mais excitação, comparativamente às pessoas ditas normais, e inclusive
demoram mais tempo para retornar aos níveis fisiológicos normais. A capacidade de
aprendizagem também se encontra associada a este handicap, pois os indivíduos com história
criminosa e com personalidade psicopática possuem mais dificuldades para apreender um
comportamento aceitável em termos sociais a partir de estímulos negativos ou até positivos
(Innes, 2004).
         Richards (1998) também defende que uma base biológica pode explicar o facto do
psicopata possuir dificuldades de apego e de identificações malignas, pois isto pode ocorrer
segundo duas hipóteses: o psicopata possui um défice na capacidade de apego e de vinculação,
que pode advir do funcionamento de vias neurológicas inespecíficas ou por uma configuração


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Ana Catarina Soares de Azevedo, Personalidade, Psicopatia e Agressividade em Jovens
Adolescentes do Ensino Básico e Secundário

politética de genes, assim como, pode possuir um defeito que resulta do excesso de impulsos
agressivos, ou da presença de um handicap nas funções inibitórias, ou podem coexistir ambas as
limitações. E os efeitos das experiências infantis precoces aliados com a predisposição biológica
referida anteriormente reúnem as condições necessárias para o desenvolvimento de psicopatia.
         Os psicopatas secundários são considerados os indivíduos mais transgressivos em
termos sociais, e evidências científicas confirmam a existência de maiores anormalidades
neuronais que podem justificar o porquê destes indivíduos reagirem com mais fúria face a
ameaças físicas e verbais (Blackburn, 1998).
         Millon (1998) possui uma perspectiva similar, afirmando que a agressividade nas
personalidades com estas particularidades diz respeito a um contra-ataque preventivo, que
provém de um julgamento antecipatório em relação a uma possível humilhação ou ameaça que
pode ser dirigida ao próprio. Em síntese, estas condutas estão intimamente relacionadas com as
crenças interpessoais, que por sua vez encontram-se associadas a uma rigidez cognitiva,
conduzindo às reacções de carácter hostil e aversivo como resposta a um comportamento de
outrem que foi mal interpretado ou avaliado pela pessoa que possui a perturbação.
          As subtipologias de psicopatia realizadas por Millon (1998) demonstram características
que são comuns a todos os psicopatas, como o egocentrismo acentuado e a ausência de empatia: o
psicopata carente de princípios possui traços narcísicos e histéricos ao nível da sua personalidade,
ao nível comportamental as suas condutas são marcadas pela arrogância, existindo também uma
auto-desvalorização acentuada e uma indiferença face ao sofrimento dos outros. Levam um estilo
de vida fraudulento, exploram e manipulam os demais, são dotados de uma extrema
irresponsabilidade social, devido em parte às suas fantasias grandiosas, à sua capacidade para a
mentira, à sua incapacidade para se sentirem culpabilizados pelos seus actos e devido à sua
exímia capacidade para enganarem outrem através do seu encanto, e colocam-se no papel de
outra pessoa com grande facilidade, conseguindo marcar as pessoas através de uma amabilidade e
cortesia falsas; o psicopata malévolo é caracterizado pelas suas atitudes hostis e por um desejo
apurado de vingança, possui uma conduta constante de desafio face à sociedade, dando azo aos
seus impulsos de forma extremamente nociva. Possuem traços paranóides, permanecendo em
frequente desconfiança diante os comportamentos dos outros, antecipam sob falsas interpretações
possíveis traições ou punições, por exemplo a amabilidade dos outros serve de motivo para as
suas suspeitas, julgam que estão a iludi-lo e a enganá-lo, podendo praticar o assassínio e outras


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Personalidade, Psicopatia e Agressividade em Adolescentes
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Personalidade, Psicopatia e Agressividade em Adolescentes

  • 1. ANA CATARINA SOARES DE AZEVEDO PERSONALIDADE, PSICOPATIA E AGRESSIVIDADE EM JOVENS ADOLESCENTES DO ENSINO BÁSICO E SECUNDÁRIO Orientador: Professor Doutor João Pedro Oliveira Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias Faculdade de Psicologia Lisboa 2010
  • 2. ANA CATARINA SOARES DE AZEVEDO PERSONALIDADE, PSICOPATIA E AGRESSIVIDADE EM JOVENS ADOLESCENTES DO ENSINO BÁSICO E SECUNDÁRIO Dissertação apresentada para a obtenção do Grau de Mestre em Psicologia, Aconselhamento e Psicoterapias, conferido pela Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias. Orientador: Professor Doutor João Pedro Oliveira Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias Faculdade de Psicologia Lisboa 2010
  • 3. Ana Catarina Soares de Azevedo, Personalidade, Psicopatia e Agressividade em Jovens Adolescentes do Ensino Básico e Secundário Dedicatória Dedico este trabalho à minha mãe, que nunca desistiu e sucumbiu apesar do sofrimento. Às minhas amigas que têm um lugar especial no meu coração e que me acompanham para a eternidade, principalmente aquelas que dão tudo sem pedir algo em troca como a Andreia Ferreira e a Ana Simões. Aos que se entregam de corpo e alma às causas solidárias, que lutam pelos caminhos da acção social e da psicologia e são pouco reconhecidos. Aos que sofrem no isolamento, e se escondem devido àquilo que a sociedade considera como anormal, lembrem-se que não estão sozinhos. Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias, Faculdade de Psicologia 2
  • 4. Ana Catarina Soares de Azevedo, Personalidade, Psicopatia e Agressividade em Jovens Adolescentes do Ensino Básico e Secundário Agradecimentos Ao Prof. Doutor João Pedro Oliveira, orientador e mentor, agradeço o apoio incondicional, o voto de confiança que depositou no meu empenho e na minha determinação neste projecto. Ao Conselho Directivo da Escola Secundária de Sacavém, agradeço a disponibilidade e o facto de me concederem a autorização para a realização do presente estudo. À Exma. Sra. Directora do Conselho Directivo da Escola Secundária de Sacavém, agradeço a disponibilidade, a cordialidade com que me recebeu e a forma como também abraçou este projecto. Aos Docentes do mesmo estabelecimento de ensino, sem eles não seria possível a concretização deste estudo. A todos os funcionários da escola Secundária de Sacavém, agradeço a solicitude, a forma como me receberam, a orientação e o apoio disponibilizados. A todos os alunos que aceitaram participar neste projecto, agradeço a simpatia e a sua colaboração. À minha família que desde sempre encorajou-me, motivou-me e prestou o apoio incondicional em todos os campos, tanto emocionais como académicos, essenciais para o progresso dos meus objectivos. Aos meus amigos e amigas que eternamente acreditam e nunca desistem de mim, sempre próximos e sempre à altura da amizade verdadeira. Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias, Faculdade de Psicologia 3
  • 5. Ana Catarina Soares de Azevedo, Personalidade, Psicopatia e Agressividade em Jovens Adolescentes do Ensino Básico e Secundário Resumo Esta investigação centra-se no estudo dos factores que facilitam o desenvolvimento das condutas violentas e delinquentes. Estes factores podem ser intrínsecos, ou seja, respeitantes à personalidade do indivíduo e à sua predisposição para desenvolver as perturbações associadas à criminalidade. O estudo destas variáveis permite analisar a forma como os indivíduos actuam em concordância com a sua personalidade, o que possibilita o delineamento de programas de prevenção que se adaptem a este tipo de população, com vista a diminuir o risco de conflitos inter- sociais e os comportamentos disruptivos. Este estudo analisa a associação entre traços de personalidade, traços psicopáticos e atributos agressivos. A amostra utilizada é constituída por 123 estudantes do ensino básico e secundário de ambos os sexos com idades compreendidas entre os 16 e os 22 anos (M= 17, 82 e DP = 1,713), em que 59 estudantes são do sexo masculino e 64 estudantes do sexo feminino). As medidas utilizadas são: a Paulhus Deception Scale (PDS; Paulhus e Delroy, 1998) para avaliar a desejabilidade social; o Big Five Inventory (BFI; Benet-Martinez e John, 1998). com o objectivo de avaliar a personalidade; a Levenson`s Self-Report Psychopathy Scale (LSRP; Levenson, Kiehl e Fitzpatrick, 1995) de forma a avaliar os traços psicopáticos e o Aggression Questionnaire (AQ, Buss e Perry, 1992) para avaliar as diferentes variantes da agressividade. Os resultados obtidos demonstram a existência de correspondências positivas e significativas entre a dimensão de neuroticismo e os atributos agressivos; entre a psicopatia primária e a agressividade física e verbal, entre a psicopatia secundária e a irritabilidade e a hostilidade; e entre a psicopatia secundária e o traço de neuroticismo. Assim como, de correlações negativas entre a psicopatia secundária e o traço de amabilidade e entre a psicopatia secundária e o traço de conscienciosidade. Palavras-chave: Personalidade; Psicopatia; Agressividade; Adolescentes. Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias, Faculdade de Psicologia 4
  • 6. Ana Catarina Soares de Azevedo, Personalidade, Psicopatia e Agressividade em Jovens Adolescentes do Ensino Básico e Secundário Abstract This research focuses on the study of factors that facilitate the development of violent and delinquent behavior. These factors may be intrinsic, in other words, related to the subject personality and to his predisposition to develop disturbances associated to criminality. The study of these variables allows an analysis of the way subjects act in accordance to their personality, which may help in designing preventive programs in order to reduce the risk of inter-social conflicts and disruptive behavior. This study analyses the association between personality traits, psychopathic features and aggressive attributes. The sample is constituted by 123 students of the basic education and high school systems with and ages between 16 and 22 years old (M= 17, 82 and SD= 1,713), 59 males and 64 females. The measures used are: the Paulhus Deception Scale (PDS; Paulhus and Delroy, 1998) to evaluate the social desirability; the Big Five Inventory (BFI; Benet-Martinez and John, 1998) with the objective of evaluating personality triats; the Levenson`s Self-Report Psychopathy Scale (LSRP, Levenson, Kiehl and Fitzpatrick, 1995) to evaluate the psychopathic traits; and the Aggression Questionnaire (AQ; Buss and Perry, 1992) to assess the different types of aggressiveness. The results obtained show significant positive correspondences between neuroticism and aggressive attributes; between primary psychopathy and physical and verbal aggression, between secondary psychopathy, irritability and hostility; and between secondary psychopathy and the trait of neuroticism. Negative correlations were found between secondary psychopathy and the trait of conscientiousness. Key words: Personality; psychopathy; aggressiveness; teenagers. Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias, Faculdade de Psicologia 5
  • 7. Ana Catarina Soares de Azevedo, Personalidade, Psicopatia e Agressividade em Jovens Adolescentes do Ensino Básico e Secundário Abreviaturas AQ- Aggression Questionnaire BFI - Big Five Inventory DP – Desvio Padrão LSRP- Levenson`s Self-Report Psychopathy Scale M - Média PDS- Paulhus Deception Scale Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias, Faculdade de Psicologia 6
  • 8. Ana Catarina Soares de Azevedo, Personalidade, Psicopatia e Agressividade em Jovens Adolescentes do Ensino Básico e Secundário Índice Introdução ....................................................................................................................................10 Capítulo 1 - Personalidade..........................................................................................................12 1.1.- Conceito de personalidade ..................................................................................12 1.2.- Teoria dos traços .................................................................................................14 1.3.- Modelo dos cinco factores ..................................................................................16 Capitulo 2 - Psicopatia ................................................................................................................20 2.1.- Descrição clínica .................................................................................................20 2.2. - Psicopatia primária e secundária ........................................................................32 2.3.- O papel da agressividade na psicopatia...............................................................36 Capitulo 4 - Método.....................................................................................................................46 4.1. - Objectivo e hipóteses…………………………………………………………..46 4.2.- Descrição da amostra ..........................................................................................48 4.3.- Descrição dos instrumentos.................................................................................49 4.3.1.- Questionário sócio-demográfico………………………………………….....49 4.3.2.- Paulhus deception scale (PDS)……………………………………………. .49 4.3.3.- Big Five inventory (BFI)……………………………..……………………..50 4.3.4.- Levenson’s self-report psychopathy scale (LSRP)………………………….52 4.3.5.- Aggression questionnaire (AQ)……………………………………………..53 4.4.- Procedimento…………………………………………………………………...54 4.5.- Resultados ...........................................................................................................55 4.6.-Discussão dos resultados......................................................................................67 Conclusão ..................................................................................................................................75 Bibliografia...................................................................................................................................78 Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias, Faculdade de Psicologia 7
  • 9. Ana Catarina Soares de Azevedo, Personalidade, Psicopatia e Agressividade em Jovens Adolescentes do Ensino Básico e Secundário Anexos……………………………………..……………………………………………………. 87 Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias, Faculdade de Psicologia 8
  • 10. Ana Catarina Soares de Azevedo, Personalidade, Psicopatia e Agressividade em Jovens Adolescentes do Ensino Básico e Secundário Índice de Tabelas Tabela 1. Os cinco factores de personalidade adjectivados e relacionados com os seus opostos………………………………………………………………………………….19 Tabela 2. As subtipologias de personalidade psicopática elaboradas por Schneider (1968) e as suas principais características ……………………………………………..22 Tabela 3. Variáveis sócio-demográficas……………………………………………… 49 Tabela 4. Estatística descritiva das variáveis estudadas……………………………….56 Tabela 5. Diferença de médias entre idades para as dimensões da personalidade, da desejabilidade social, da psicopatia e da agressividade ………………………………..58 Tabela 6. Diferença de médias entre géneros para as dimensões de personalidade, de desejabilidade social, de psicopatia e de agressividade ………………………………..59 Tabela 7. Diferença de médias entre indivíduos com problemas judiciais e indivíduos sem problemas judiciais para as dimensões de personalidade, de desejabilidade social, de psicopatia e de agressividade……………………………………………………….61 Tabela 8. Diferença de médias entre consumidores e não consumidores de substâncias psicotrópicas e de estupefacientes para as dimensões de personalidade, de desejabilidade social, de psicopatia e de agressividade………………………………………………………………………… ..63 Tabela 9. Correlações entre traços de personalidade, desejabilidade social, atributos agressivos e traços psicopáticos……………………………………………………… ..65 Tabela 10. Correlações entre traços psicopáticos, desejabilidade social e atributos agressivos……………………………………………………………………………….66 Tabela 11. Correlações entre desejabilidade social e atributos agressivos …………………………………………………….……………………………………67 Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias, Faculdade de Psicologia 9
  • 11. Ana Catarina Soares de Azevedo, Personalidade, Psicopatia e Agressividade em Jovens Adolescentes do Ensino Básico e Secundário Introdução A pertinência deste estudo prende-se com a prioridade em estudar os antecedentes das formas de expressão das condutas violentas e delinquentes de modo a apelar ao desenvolvimento de politicas e ao delineamento de programas de prevenção e de controlo dos comportamentos problemáticos assumidos pelos jovens e adolescentes, com o propósito de evitar futuras consequências na sociedade portuguesa. Os jovens e os adolescentes estão mais susceptíveis a transgredir as normas e as regras sociais, isto porque nesta fase de desenvolvimento existem mais probabilidades para se tornarem perpetuadores ou vítimas de violência interpessoal. Os comportamentos são expressões da personalidade individual, podendo ser justificáveis através da avaliação dos traços de personalidade (Paunonen e Ashton, 2001). Allport e Allport (1921) afirmou que os traços de personalidade representam predisposições para responder ou reagir de modo semelhante a diferentes tipos de estímulos, ou seja, são considerados como formas constantes e duradouras de reacção aos estímulos do meio ambiente. São dotados de individualidade, determinam o comportamento e são passíveis de demonstração empírica, sendo detentores de variações situacionais e inter-relacionais (Schultz e Schultz, 2002). Born (2005) refere que as pessoas caracterizadas por uma conduta delinquente demonstram mais agressividade, são mais impulsivos, detendo um fraco controlo sob os próprios impulsos. A conduta delinquente está igualmente correlacionada com a psicopatia, as pessoas com este tipo de personalidade revelam ser mais severas, frias, agressivas, menos preocupadas com os outros, mais insensíveis e hostis, bem como, mais solitárias, não temendo o perigo ou os riscos e sentindo prazer a praticar o que é erróneo aos olhos da sociedade. Torna-se essencial também no estudo desta temática abordar o papel da agressividade, de forma a perceber até que ponto esta se encontra correlacionada com os traços de personalidade e com os traços psicopáticos dos jovens ou adolescentes. Sabe-se que a agressividade entre os jovens tem vindo a aumentar, sendo um fenómeno que pode estar associado à resposta face aos modelos sócio-culturais actuais. De acordo com Sanmartin (2002) a agressividade consiste num mecanismo inato presente em todos nós, e a expressão emocional ou a linguagem corporal constitui um dos mecanismos capazes de inibir as acções de teor agressivo. Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias, Faculdade de Psicologia 10
  • 12. Ana Catarina Soares de Azevedo, Personalidade, Psicopatia e Agressividade em Jovens Adolescentes do Ensino Básico e Secundário Lorenz (1981) postula que existe uma tendência filogenética para a luta, logo a agressividade é uma necessidade natural tanto nos seres humanos como nos animais, fazendo parte do instinto de protecção de cada um. Fromm (1975) defende que existem dois tipos de agressão: a agressão benigna que é adaptativa em termos biológicos, ou seja, é accionada em situações de fuga ou de ataque como forma de defesa e a agressão maligna, marcada pelos pretextos cruéis e caprichosos. A agressão pode surgir e permanecer consoante alguns factores, tais como: os factores fisiológicos, o uso de substancias tóxicas, os antecedentes familiares de violência, o abuso sexual na infância, o facto de pertencer a comunidades violentas, o baixo desempenho escolar, uma baixa auto-estima e poucas expectativas futuras, bem como, o facto de estar inserido numa cultura familiar desadaptativa, e a exposição regular a vídeo jogos ou programas de TV com características violentas. Este estudo pretende analisar o perfil psicológico dos jovens e adolescentes pertencentes à Escola Secundária de Sacavém. A análise em questão é executada a partir do modelo dos 5 factores, que inclui o estudo dos seguintes traços de personalidade: o traço de extroversão, de amabilidade, de conscienciosidade, de neuroticismo e de abertura à experiência. Aborda-se igualmente a variável psicopatia, mais precisamente os traços de psicopatia primária, de psicopatia secundária e os atributos agressivos, ao nível dos factores de agressividade física e verbal, da irritabilidade e da hostilidade. Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias, Faculdade de Psicologia 11
  • 13. Ana Catarina Soares de Azevedo, Personalidade, Psicopatia e Agressividade em Jovens Adolescentes do Ensino Básico e Secundário 1. Personalidade 1.1. Conceito de personalidade Allport (1937) classificou a personalidade como uma organização dinâmica do indivíduo, condicionada por sistemas psicofísicos que determinam o comportamento e os pensamentos considerados típicos num indivíduo. Neste sentido, a personalidade consiste numa entidade única, que reflecte a forma como uma pessoa pode pensar, agir, ou como se comporta em diversos contextos (Allport, 1974). Allport (1937) delimitou sete estádios do desenvolvimento do “Eu”, ou seja, da personalidade. O primeiro diz respeito à primeira infância, em que as crianças ainda não possuem o “Eu” formado, sendo incapazes de se diferenciarem dos outros, ou seja, não são detentoras de uma consciência real, apesar de serem conscientes em relação às pessoas ou aos objectos, pois quando as mesmas fazem mal a si próprias não tem noção que auto-infligiram a dor. O segundo estádio corresponde ao “Eu corporal”, existindo já consciência das sensações corporais por volta dos 6 meses de idade, isto porque os órgãos sensoriais se tornam operacionais. O terceiro estádio denomina-se por auto-identificação, surge aproximadamente no segundo ano de vida, altura em que os sistemas mnésicos ganham forma e com a aprendizagem da linguagem apela-se a uma continuidade do próprio “Eu”. O quarto estádio apelida-se de auto-estima e surge no terceiro ano de vida, quando a criança começa a demonstrar iniciativa própria e deseja realizar algo sozinha. O quinto estádio é caracterizado pela extensão do “Eu” e da auto-imagem, surge aproximadamente aos 4 anos, nesta fase a criança torna-se egocêntrica, ganhando uma visão própria do ambiente onde está inserida, manifestando por esta altura aspirações e expectativas face ao que os outros comentam ou falam sobre ela. O sexto estádio apelidado de racional surge entre os 6 e os 12 anos, dá-se lugar ao desenvolvimento do raciocínio e da solução de problemas. Por último, o sétimo estádio consiste num período de esforço que se prolonga ate à adolescência, marcando o início da planificação do futuro, ou seja, aprende-se que o êxito depende da preparação e que é imperioso estabelecer objectivos próprios. O desenvolvimento da personalidade não cessa, na idade adulta a personalidade pode ser considerada madura se obedecer aos seguintes critérios: autonomia; capacidade para estabelecer relações afectuosas com os outros, tolerância à frustração, percepções realistas e aptidões; insight Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias, Faculdade de Psicologia 12
  • 14. Ana Catarina Soares de Azevedo, Personalidade, Psicopatia e Agressividade em Jovens Adolescentes do Ensino Básico e Secundário e humor; e auto-determinação no alcançar dos objectivos que foram propostos ou planificados (Veríssimo, 2001). Por outro lado, Cattell (1950) encara a personalidade como uma predição do que uma pessoa num dado contexto pode realizar, ou a forma como esta se vai comportar nesse ambiente em especifico. Mischel (1996) concebe o constructo personalidade como uma combinação de todas as dimensões relativamente duráveis das diferenças individuais, sendo as mesmas passíveis de ser medidas. Linton (1845) perspectivou a personalidade como um processo organizado de processos e de estados psicológicos específicos de um indivíduo. Para Oliveira (2002, p. 52), a análise da personalidade do sujeito “pressupõe a compreensão da organização idiossincrática de todos os seus atributos mentais e dos registos em que estes se manifestam”. Carver e Scheier (2000) reuniram os contributos das diversas teorias acerca da personalidade, conceptualizando-a da seguinte forma: é um constructo dinâmico e psicológico, possuindo bases fisiológicas, assim como, consiste numa força interna que determina o comportamento, marcada por padrões de respostas recorrentes e consistentes. Eysenck (1979) perspectivou a personalidade como uma organização relativamente firme e durável do carácter, do temperamento, da inteligência, e da dimensão física de um indivíduo, determinando a sua adaptação ao meio. A personalidade é um constructo ambíguo, Skinner (1987) encara-a como um conjunto de comportamentos originados por contingências de reforços específicos, enquanto que Rogers (1961) defende que as pessoas possuem a liberdade para escolher o que pretendem ser e para desempenhar um papel social à sua medida. Por outro lado, Gray (1994) e Tellegen (1985) postulam que a personalidade é mediada em grande parte por factores biológicos. Através dos contributos dos diversos seguidores do estudo da personalidade, no presente este conceito é concebido como uma combinação de factores biológicos e de factores ambientais, estando presente na vida psíquica de cada um de nós, ao nível dos processos cognitivos e na expressão particular das emoções (Hansenne, 2004). Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias, Faculdade de Psicologia 13
  • 15. Ana Catarina Soares de Azevedo, Personalidade, Psicopatia e Agressividade em Jovens Adolescentes do Ensino Básico e Secundário 1.2. A teoria dos traços As teorias dos traços são dimensionais, pois centram-se na classificação da personalidade de acordo com descrições em termos de características, que podem variar ao longo de uma distribuição sem descontinuidades. O traço consiste num conjunto de comportamentos ou de tendências correlacionadas com o agir, estes pretendem descrever e predizer o comportamento que o indivíduo apresenta ou possui probabilidade de apresentar, não descrevem assim somente um estado persistente. A teoria dos traços nasce com a análise factorial, esta baseia-se no estudo das intercorrelações entre as formas de responder e de reagir habituais (Hansenne, 2004). Allport (1937) afirma que os traços são predisposições para se responder sempre do mesmo modo diante de diferentes estímulos, estes asseguram a estabilidade dos comportamentos ao longo do tempo e nas várias experiências de vida, condicionando a percepção que os indivíduos têm das circunstâncias. De acordo com esta lógica, os traços não podem ser encarados como hábitos, e os mesmos podem ser medidos e estudados empiricamente. Allport (1937) distinguiu os traços de duas formas: existindo os traços comuns e os traços individuais ou as disposições pessoais, os primeiros são classificados como nomotéticos e distribuem-se normalmente na população, realçando as características pertencentes a uma dada cultura, os segundos possuem três categorias: cardinal correspondente às características mais marcantes de uma pessoa; central associada às características qualificativas de um indivíduo, podendo ser qualidades como a generosidade, timidez ou meticulosidade; e os traços secundários ou individuais que dizem respeito a uma disposição pessoal que é própria do indivíduo, todavia não é empregue de forma regular pelo mesmo. Segundo McCrae e Costa (1992) os traços de personalidade são tendências, no sentido em que são determinantes absolutos do comportamento, ou também podem ser considerados como disposições que são coordenadas por outros factores, como sejam o papel social, a situação ou o humor, condicionam por isso a reacção das pessoas num dado momento ou situação. Diferenciam-se dos comportamentos aprendidos ou das condutas repetitivas e mecânicas, são por outro lado padrões consistentes no indivíduo, podendo ser observáveis ao longo do tempo, constituindo uma predição adequada do comportamento de uma pessoa a longo prazo. Os traços de personalidade podem ser ainda considerados como dimensões das diferenças individuais, estes podem ser representados por uma escala, onde uma dada pessoa pode ser contextualizada. De Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias, Faculdade de Psicologia 14
  • 16. Ana Catarina Soares de Azevedo, Personalidade, Psicopatia e Agressividade em Jovens Adolescentes do Ensino Básico e Secundário acordo com esta teoria todas as pessoas possuem traços e estes variam de acordo com o grau em que são manifestados e possuem uma distribuição que se aproxima da curva normal, em que quanto maior for a pontuação num traço, maior a probabilidade do sujeito reagir em consonância com o comportamento em causa. Todavia, um traço não é um valor fixo, existindo maior instabilidade em alguns traços comparativamente aos outros (McCrae e Costa, 1992). Segundo Guilford (1975) o traço é definido de acordo com uma sequência: primeiramente observa-se em que aspectos as pessoas diferem em termos de comportamento e de qualidades comportamentais, estas qualidades serão descritas a partir de advérbios, por exemplo ao referirmos que aquela pessoa agiu cautelosamente. Após este primeiro passo, aplica-se a qualidade à pessoa que executou a acção com recurso a adjectivos, sendo a qualidade transferida da acção para o actor, estabelecendo uma descrição com estabilidade futura, ou seja, existe uma tendência para atribuir uma descrição à maioria dos actos pertencentes a um indivíduo. O comportamento do sujeito passa deste modo a ser descrito através de uma qualidade ou de um substantivo, por exemplo referimo-nos ao sujeito como sendo detentor de um traço de cautela. Cattell (1950) recorreu a uma análise estatística para criar 171 variáveis, que posteriormente foram alvo de uma análise factorial, onde extraiu 36 traços que apelidou de superficiais, reduzindo-os a 12, que mais tarde designou de traços originais ou essenciais, a estes foram acrescentados 4, constituindo os 16 traços avaliados pelo questionário 16PF. Afirma que os traços podem ser únicos ou comuns, dinâmicos ou temperamentais. Constituem entidades permanentes que são herdadas e que se desenvolvem ao longo da vida, possuindo uma hierarquia: um traço comum pode ser medido em todos os indivíduos, recorrendo ao mesmo teste e que difere mais em intensidade do que na forma. Enquanto que os traços denominados únicos correspondem aos traços específicos de um indivíduo, que lhe são próprios e que dificilmente estão presentes em outras pessoas. No topo superior da hierarquia localizam-se os traços de segunda ordem, ou apelidados de super-traços, diferenciando os traços fortes dos traços de superfície, os primeiros constituem os traços de base, cujas variações em valor são determinadas por um único factor ou influência. Estes tipos de traços encontram-se repartidos em três categorias: numa primeira categoria estão inseridos os traços relacionados com a habilidade, ou seja, são classificados ou caracterizados de acordo com a forma como o sujeito realiza uma tarefa em concordância com objectivos claros; na segunda encontram-se os traços associados ao Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias, Faculdade de Psicologia 15
  • 17. Ana Catarina Soares de Azevedo, Personalidade, Psicopatia e Agressividade em Jovens Adolescentes do Ensino Básico e Secundário temperamento do sujeito e às suas emoções; a última categoria envolve os traços dinâmicos que dizem respeito às motivações e aos interesses individuais. Os traços de superfície definem-se pelas características da personalidade que estão intercorrelacionadas entre si e frequentemente são visíveis, apesar de não constituírem um factor. Craig, Hogan e Wolf (1993) consideraram os traços como disposições cognitivo- dinâmicas gerais, isto porque estes guiam ou dirigem o comportamento de diversas formas: informam acerca das situações consideradas interessantes e determinam em quais nos devemos envolver voluntariamente; predizem o estilo de comportamento mais provável numa determinada circunstância; influenciam naquilo que pode ser entendido como reforçador ou não numa dada situação, ou seja, determinam o modo como a situação vai ser percebida; e constituem mecanismos auto-reguladores que se auto-sustêm, sendo neste sentido preditores comportamentais mesmo sob grande intensidade situacional. Kluckhohn e Murray (1953) elaboraram as disposições motivacionais dividindo-as em disposições de realização e de associação. Defendem que os traços de interacção a que chamaram de expressivos e de estilo, manifestam-se pela polidez, pela loquacidade, pela coerência, pela indecisão, pelo espírito crítico e pela sociabilidade. Eysenck (1979) teorizou quatro níveis inseridos na personalidade, que são: os tipos, os traços, as respostas habituais e as respostas especificas. Na sua concepção os traços consistem em construções teóricas baseadas em correlações entre as respostas habituais dos indivíduos, ou seja, os traços são compostos por respostas habituais e especificas, as primeiras dizem respeito aos comportamentos que surgem em determinadas situações, enquanto que as segundas são desencadeadas ocasionalmente em situações particulares. 1.3. Modelo dos cinco factores O modelo dos cinco factores da personalidade foi criado a partir de análises executadas ao nível dos adjectivos que se adequavam à descrição do conceito de personalidade, e através da realização de análises factoriais com o fim de delimitarem a personalidade em cinco factores (John e Srivastava, 1999). Os cinco factores constituem disposições duradouras associadas aos padrões comportamentais existentes e os traços de personalidade que compõem estes factores são Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias, Faculdade de Psicologia 16
  • 18. Ana Catarina Soares de Azevedo, Personalidade, Psicopatia e Agressividade em Jovens Adolescentes do Ensino Básico e Secundário manifestos nas diferentes faixas etárias, em ambos os sexos, nas várias etnias ou nacionalidades, no entanto podem variar de acordo com certas culturas. McCrae e Costa (2006) afirmam que os cinco factores consistem em tendências básicas com uma base biológica, isto porque são disposições para agir e sentir de determinadas formas, não sendo estas directamente influenciados pelo meio. Neste sentido, os traços de personalidade são resultantes da biologia humana comparativamente à influência exercida pelas experiências ou pelo desenvolvimento pessoal, não descurando a importância da adaptação do indivíduo ao seu meio e as influências exercidas também por este, já que tais elementos determinam as escolhas e as decisões individuais ao longo do tempo em concordância com os valores da pessoa. Este modelo é hierárquico, sendo operacionalizado a partir de dois níveis: no nível inferior situam-se os traços muito específicos, enquanto que no nível superior encontram-se inseridos os cinco factores mais vastos (McCrae e Costa, 2006). Neste sentido, as diferenças individuais podem ser divididas em cinco dimensões principais: o primeiro factor designa-se por extroversão; o segundo por amabilidade, em que uma pessoa com valores altos neste traço é caracterizada como atenciosa e afectuosa; o terceiro corresponde à conscienciosidade, esta dimensão insere-se nas qualidades de honestidade, persistência e planificação dos comportamentos, valores altos neste traço indicam que o indivíduo pode ser escrupuloso, atento ou sério; o quarto factor denomina-se por neuroticismo ou emocionalidade, correspondendo de modo específico à ansiedade; e por último o factor de abertura à experiência (Hansenne, 2004). O traço de abertura à experiência também apelidado de “imaginação”, está presente em indivíduos geralmente considerados curiosos, com interesses variados, originais, criativos, imaginativos, que não apreciam a rotina, uma pontuação baixa neste traço pode estar patente numa pessoa com uma predisposição para o convencional, para a sensatez, com interesses limitados e pouca expressão criativa (Pervin e John, 2004). Segundo Benet-Martínez e John (1998) este traço também representa a complexidade, a abertura e a profundidade da mente humana. O traço de conscienciosidade é marcado pelo controlo da impulsividade ou da volição, existindo assim controlo sob os impulsos e os comportamentos são dirigidos frequentemente para um objectivo planeado à priori, tendo em conta o cumprimento de obrigações impostas pelo próprio ou por outros (Benet-Martínez e John, 1998). Os indivíduos considerados conscienciosos Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias, Faculdade de Psicologia 17
  • 19. Ana Catarina Soares de Azevedo, Personalidade, Psicopatia e Agressividade em Jovens Adolescentes do Ensino Básico e Secundário são frequentemente cautelosos, demonstram ser dignos de confiança e organizados, cumprindo a rigor as suas responsabilidades, são também ambiciosos e perseverantes. Todavia, os indivíduos destituídos desta particularidade mostram-se desorganizados, descuidados, ociosos, negligentes, relaxados e hedonísticos (Friedman e Schustack, 2004). Esta dimensão da personalidade prediz eficazmente o desempenho escolar e o desempenho profissional (Freitas, Teixeira e Pasquali, 2005). A dimensão de extroversão encontra-se associada a características como o entusiasmo, a actividade, a sociabilidade, a dominância, a eloquência, o optimismo e o divertimento. Enquanto que, a introversão está correlacionada com o retraimento, a submissão e a serenidade (Friedman e Schustack, 2004). A amabilidade apelidada igualmente de agradabilidade está presente nos indivíduos considerados cooperativos, confiantes, prestativos, clementes e honestos. Os indivíduos com baixos valores nesta dimensão são caracterizados como frios, indelicados, desconfiados, vingativos, inescrupulosos e manipuladores (Friedman e Schustack, 2004). O neuroticismo designado também por instabilidade emocional é marcado pela ansiedade, sensibilidade emotiva, por uma preocupação excessiva, pela experiência frequente de tensão e de insegurança. Os indivíduos sem este traço demonstram-se mais calmos, seguros, pouco emotivos e descontraídos (Friedman e Schustack, 2004). Segundo McCrae e Costa (2006) os sujeitos com resultados altos nesta dimensão possuem uma predisposição para sentir irritação, melancolia e vergonha, possuem pouca tolerância à frustração, principalmente quando não atingem os seus objectivos ou não satisfazem as suas vontades, assim como, possuem pouco controlo sob os seus impulsos. Os comportamentos dos indivíduos considerados neuróticos podem evoluir para algo compulsivo, podem se tornar imprudentes e exprimir a sua inquietude ou angústia interiores com recurso a acções desadequadas. Segundo Hansenne (2004) os adjectivos que se associam aos cinco factores da personalidade são os seguintes: a extroversão é típica de uma pessoa faladora, feliz, enérgica, gregária, confiante, espontânea, segura e activa no seu dia-a-dia; a amabilidade está presente numa pessoa considerada como afectuosa, amável, educada, altruísta, submissa, modesta e sensível; a conscienciosidade está presente nas pessoas caracterizadas como sérias, responsáveis, cuidadosas, disciplinadas, detentoras do sentido do dever, perseverantes na procura do êxito, deliberantes e assertivas; o neuroticismo é marcado pela ansiedade, cólera, depressão, timidez Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias, Faculdade de Psicologia 18
  • 20. Ana Catarina Soares de Azevedo, Personalidade, Psicopatia e Agressividade em Jovens Adolescentes do Ensino Básico e Secundário social, impulsividade e vulnerabilidade, estando associado à labilidade emocional e em relação ao modo como cada indivíduo lida com a intensidade das suas reacções emocionais. Tabela 1. Os cinco factores de personalidade adjectivados e relacionados com os seus opostos Os Factores e os seus Opostos Adjectivos Extroversão/ Confiança; Espontaneidade; Assertividade; Actividade Introversão Timidez; Inibição; Passividade; Submissão Amabilidade/ Afectividade; Cortesia; Educação; Bondade Hostilidade Frieza; Maldade; Rispidez; Irritabilidade Conscienciosidade/ Seriedade; Responsabilidade; Cuidado; Disciplina Impulsividade Frigidez; Irresponsabilidade; Negligência; Hesitação Neuroticismo/ Ansiedade; Stress; Excitabilidade; Instabilidade Estabilidade Emocional Calma; Relaxamento; Apaziguamento; Estabilidade Abertura à Experiência/ Imaginação; Criatividade; Novidade; Curiosidade Convencional Concretude; Falta de originalidade; Rotina; Circunspecção Hansenne (2004) Eysenck (1992) foi um dos primeiros investigadores a associar os traços de personalidade à activação neurofisiológica. Afirmava que a introversão correspondia a um nível mais elevado da activação do sistema nervoso central, isto porque os introvertidos tendem a ser mais vigilantes comparativamente aos extrovertidos, sendo que os primeiros reagem com mais intensidade numa situação de perigo (Stelmack, 1990). Bartol e Costello (1976) descobriram a partir dos seus estudos que os introvertidos possuem uma tolerância mais baixa à dor, e sendo mais sensíveis protegem-se dos estímulos exteriores. Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias, Faculdade de Psicologia 19
  • 21. Ana Catarina Soares de Azevedo, Personalidade, Psicopatia e Agressividade em Jovens Adolescentes do Ensino Básico e Secundário De acordo com Eysenck (1992) o traço de abertura à experiência encontra-se correlacionado com a extroversão, pois existe uma propensão para sentir aborrecimento nas pessoas com estes dois traços, no entanto isto não tem a ver necessariamente com a capacidade de sociabilidade, típica da extroversão. Tal evidência é reforçada por Zuckerman (1991), afirmando que a base biológica do traço de abertura à experiência é similar à do traço de extroversão, em que os indivíduos que buscam frequentemente novas sensações apresentam maiores índices de respostas à novidade em certos sistemas cerebrais, sobretudo ao nível do sistema de neurotransmissores com a enzima monoaminoxidade, que tem como transmissores a dopamina e a norepinefrina. Nos seus estudos Zuckerman (1991) constatou que os indivíduos com maior predisposição para a procura de novas experiências possuíam um nível baixo de norepinefrina, o que faz com que busquem situações de risco e de perigo para estimularem o funcionamento da norepinefrina neste sistema neuronal. Os indivíduos que consomem substâncias psicoactivas são considerados pela maioria das investigações realizadas neste âmbito como detentores do traço de abertura à experiência, a sua constante procura de sensações novas é influenciada pelos sistemas de recompensa dos seus cérebros, que são mediados pela dopamina. 2. Psicopatia 2.1. Descrição clínica Morel (1857) classificou os indivíduos com este tipo de personalidade como “maníacos instintivos” que desde a infância manifestam comportamentos de desrespeito pelas normas sociais, sendo portadores de tendências inatas para perpetuar o mal, eram por isso autores de actos como o roubo, os incêndios, ou outros de categoria delituosa, desrespeitando facilmente as normas sociais vigentes, mostrando-se desta forma destituídos de valores morais. Lombroso nos finais dos anos 1880 (citado por Innes, 2004) interessou-se pelo estudo da criminalidade, dando início à sua investigação com a dissecação de cérebros de cadáveres, a fim de encontrar as causas estruturais para a loucura, sem no entanto obter êxito na sua busca. Ao investigar também em relação às fisionomias de indivíduos criminosos encarcerados, inclusive autopsiou um corpo de um criminoso que fora executado, concluiu que o mesmo possuía uma Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias, Faculdade de Psicologia 20
  • 22. Ana Catarina Soares de Azevedo, Personalidade, Psicopatia e Agressividade em Jovens Adolescentes do Ensino Básico e Secundário particularidade incomum no crânio, tais descobertas e estudos contribuíram para a divisão dos casos em duas tipologias ou classificações: os “criminosos ocasionais” que cometiam os crimes de acordo com as circunstâncias e os “criminosos naturais” que cometiam os crimes com grande frequência, possuindo um defeito hereditário ao nível da sua estrutura física, pois eram classificados como “atávicos” e possuíam características estruturais primitivas (braços compridos, uma visão apurada idêntica à visão das aves de rapina, mandíbulas pesadas e orelhas grandes). Tal teoria foi alvo de inúmeras críticas, pois fundamentava-se essencialmente em aspectos morfológicos e anatómicos humanos. Kraepelin (1988) desconsiderava a causa neurológica da psicopatia, afirmou que se tratava de uma perturbação constitutiva, existindo por detrás do surgir da perturbação os factores genéticos. Criou as seguintes tipologias de psicopata: os psicopatas excitáveis, mitómanos, intuitivos e fantásticos ou instáveis. Schneider (1974) contribui em muito para a definição actual de psicopatia, pois descobre que esta consiste numa perturbação ao nível da personalidade, isto é, envolve desvios quantitativos de características normais da personalidade. A partir dos seus estudos consegue estabelecer vários subtipos de psicopata: os hipertímicos; os depressivos; os inseguros; os fanáticos; os carentes de atenção; os emocionalmente lábeis; os explosivos; os perversos; os abúlicos; os asténicos; os anéticos; e os frenasténicos. Neste sentido, os indivíduos com esta perturbação eram destituídos de sentido moral, de honra, de pudor, de arrependimento e inclusive de consciência. Afirmando também que as pessoas com este tipo de características eram impossíveis de tratar ou de alterar a sua condição diagnóstica, a única solução possível seria o internamento dos mesmos num local seguro, longe da sociedade. As subtipologias de personalidade psicopática elaboradas por Schneider (1974) obedeceram aos critérios de anormalidade de carácter psicossocial, à presença de impulsividade e de incapacidade de controlo dos impulsos. Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias, Faculdade de Psicologia 21
  • 23. Ana Catarina Soares de Azevedo, Personalidade, Psicopatia e Agressividade em Jovens Adolescentes do Ensino Básico e Secundário Tabela 2. As subtipologias de personalidade psicopática elaboradas por Schneider (1968) e as suas principais características As Subtipologias de Personalidade Psicopática Características Indivíduo com avolição, que cede facilmente às sugestões, vulnerável às Abúlico circunstâncias que o induzem à prática de crimes e comporta-se de acordo com as suas próprias deduções sobre a realidade. Indivíduo que exibe juízos e condutas isentas de valores morais, não possui escrúpulos no sentido em que é desfavorecido em termos de compaixão e de outros Anético sentimentos, assim como, é atroz e pungente nas suas acções, com severas dificuldades de adaptação à escola e ao seu meio, sendo frequente praticar actos ilícitos, danos corporais e até homicídios. Indivíduo com traços neuróticos de personalidade, mais precisamente sintomas Asténico hipocondríacos, detendo um perfil psicológico de abatimento contínuo, focalizando o seu bem-estar nas fugas ao esforço e à auto-realização. Indivíduo que mostra carências de afecto e de reconhecimento, possui traços histriónicos de personalidade, logo demonstra um comportamento Carentes de Atenção “melodramático” com o intuito de atrair as atenções, bem como, sente-se frustrado com grande facilidade, principalmente nas situações em que não lhe é demonstrado afecto, atenção e elogios. Hipertímico Equilibrado Indivíduo que não possui sentido crítico, age conforme a sua interpretação imediata dos estímulos e é muito influenciável. Indivíduo conflituoso, de humor lábil e indeciso, sendo passível o cometimento de Hipertímico Agitado acções agressivas e criminosas. Ao nível do humor é um indivíduo com uma angústia fácil, inseguro, duvida das suas próprias capacidades e o seu pensamento encontra-se centrado na sua própria Depressivo imperfeição ou nos erros cometidos. É encarado como auto-exigente, obsessivo na execução daquilo que é considerado correcto, e com um temperamento irascível. Indivíduo impulsivo, violento, capaz de actos desumanos, quando executa crimes Explosivo cruéis raramente se recorda do sucedido, isto porque é comum possuir alterações ao nível da consciência e da memória. Indivíduo que se deixa dominar pelas ideias sobrevalorizadas que constrói, é frequente seguir com grande veemência uma doutrina religiosa, uma política ou Fanático uma filosofia. Quando é detentor de um QI acima da média, torna-se perigoso ao ponto de induzir os demais a aceitarem e a praticarem uma doutrina elegida pelo próprio. Indivíduo que foi vítima de alguma patologia ou acidente que afectou o seu sistema neuronal, apesar de conservar a capacidade de juízo concreto, compreende as Frenasténico relações de forma superficial e é detentor de um juízo crítico abstracto, sendo o seu percurso de vida talhado por sucessivos fracassos. Schneider (1968) Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias, Faculdade de Psicologia 22
  • 24. Ana Catarina Soares de Azevedo, Personalidade, Psicopatia e Agressividade em Jovens Adolescentes do Ensino Básico e Secundário Cleckley (1988) encarou a psicopatia como uma doença mental, correspondendo a uma “demência semântica”, ou seja a um défice ao nível da compreensão dos sentimentos humanos em profundidade. Baseou-se na história clínica e de vida de 15 pessoas para definir a perturbação em causa através de 16 características elementares: o facto de possuir um encanto superficial e boa inteligência; não possuir alucinações ou outros sinais de pensamento irracional; incapacidade de sentir ansiedade ou de manifestações neuróticas; mostrar-se indigno de confiança, mente e é insincero no seu dia-a-dia, sendo uma atitude reforçada pela ausência de sentimentos de culpa ou de vergonha, exibindo igualmente comportamentos anti-sociais sem escrúpulos aparentes; é detentor de um raciocínio pobre e de uma incapacidade para aprender com a experiência; predomina um egocentrismo patológico e uma incapacidade para amar, o que promove a pobreza geral nas relações afectivas; possui incapacidade de intuição (insight), assim como, mostra-se incapaz para responder na generalidade das suas relações interpessoais; há a manifestação frequente de um comportamento fantasioso e pouco recomendável, que pode ser explicado ou não pela ingestão de bebidas alcoólicas; executa ameaças de suicídio para obter o que pretende dos outros, estas são raramente concretizadas; a sua vida sexual impessoal é trivial e pouco integrada; e por último, é incapaz de seguir um plano de vida ou estabelecer objectivos de vida. Apesar da boa impressão que um indivíduo psicopata transmite inicialmente aos outros, à posteriori torna-se evidente que o mesmo não possui sentido de responsabilidade independentemente das suas obrigações, sejam elas importantes ou não, este desconsidera também o valor da moral ou da verdade, não experimenta sentimentos de culpa, não sente mal- estar por mentir ou praticar actos ilícitos, e ao não sentir remorsos não aprende com os erros que comete e remete a culpa das suas falhas noutra pessoa ou no sistema social. Este é dotado de uma inteligência acima da média, no entanto ao ser punido pelas suas acções não altera o seu padrão comportamental (Cleckley, 1988). Ao nível da personalidade estes indivíduos são egocêntricos, sendo indiferentes ao sofrimento alheio ou ao mal-estar que provocam nos outros, não possuem ressonância afectiva, nem capacidade de insight, o que prejudica gravemente a sua avaliação da realidade, são também incapazes de sentir empatia, por isso não respondem de forma convencional aos sentimentos e à manifestação de afectos (Cleckley, 1988). Existindo uma predisposição para consumirem álcool, o que os induz mais facilmente à adopção de condutas extravagantes e anti-socais, frequentemente exibem práticas sociais desviantes e incestuosas, a tendência homossexual está Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias, Faculdade de Psicologia 23
  • 25. Ana Catarina Soares de Azevedo, Personalidade, Psicopatia e Agressividade em Jovens Adolescentes do Ensino Básico e Secundário raramente presente e as relações que estabelecem são impessoais e temporárias, não implicam assim compromissos ou afectos duradouros (Cleckley, 1988). A definição de psicopatia elaborada por Hare (2003) é baseada nas características assinaladas por Cleckley (1988) de que o psicopata é encarado como um indivíduo temerário, arrogante, insensível, dominante, superficial, egocêntrico, falso e manipulador. No âmbito afectivo, estes indivíduos são detentores de emoções lábeis e superficiais, o seu perfil psicológico é igualmente marcado pela ausência de empatia, do sentimento de ansiedade e de culpabilidade ou de remorsos, assim como, é incapaz de estabelecer vínculos duradouros com as outras pessoas, ou seguir qualquer tipo de princípios (Hare, 2003). O psicopata leva um estilo de vida criminal, utilizando com regularidade substâncias ilícitas, e ao ter um fraco insight torna-se incumpridor de qualquer tipo de responsabilidade (Hare, 1991; Hart, Hare e Harpur, 1992). Os indivíduos com esta perturbação ao nível da personalidade possuem um encanto fácil, manipulam e controlam os outros através da agressividade e da intimidação, com vista a satisfazerem os seus desejos internos e a elevarem a sua auto-estima (Hare, 1999; Oliveira, 2004). Isto deve-se em parte à incapacidade para perceber o estado emocional dos outros, assim como, desconhecem o sentimento de lealdade, são desleais para todos os que lhe são próximos e para o sistema social em si. Os psicopatas possuem uma necessidade voraz por estimulação, o que contribui para o desejo de praticar acções anti-sociais, sem reflectirem sobre as consequências que podem advir dos seus comportamentos delituosos (Oliveira, 2008, 2009), são deste modo considerados como depredadores sociais, não seguindo qualquer lei ou regras sociais, cometem acções perversas tendo como única e principal prioridade a satisfação dos seus próprios objectivos (Hare 1999). Hare (1993) defende que a psicopatia é uma perturbação destituída de consciência, ou seja, existe um handicap na formulação de juízo crítico acerca das acções do psicopata e a sua agressividade é accionada de forma instrumental e fria, dependendo da natureza individual deste e das influências sociais provenientes do seu meio envolvente. Apesar de tudo, o psicopata é capaz de distinguir o que é errado do que é certo e no seu íntimo sabe os danos que provoca, logo pode decidir entre o “mal” e o “bem”. Os psicopatas são absolutamente competentes para enfrentar uma decisão promulgada pelos sistemas de justiça, isto porque tem capacidade para optar e possuem plena consciência das Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias, Faculdade de Psicologia 24
  • 26. Ana Catarina Soares de Azevedo, Personalidade, Psicopatia e Agressividade em Jovens Adolescentes do Ensino Básico e Secundário consequências advindas dos seus actos, mas é frequente simularem uma perturbação mental para não serem punidos judicialmente (Hare, 1993). A facilidade que o psicopata possui para provocar a dor e o sofrimento alheio pode ser justificada em parte pelo seu egocentrismo marcado, pela sua auto-avaliação exagerada, pelo seu fraco controlo sob os impulsos e pela sua necessidade de controlo e de domínio (Hare, 1993). Segundo Hare (2009) ninguém nasce psicopata, certas pessoas podem no entanto possuir uma predisposição para a psicopatia. A psicopatia não consiste numa categoria descritiva, mas sim numa medida que varia em proporção. As perturbações psicopáticas consistem num diagnóstico já elaborado através da recolha de histórias, de biografias, da observação de comportamentos e de atitudes. Neste sentido, a psicopatia é uma semiologia psiquiátrica e também social, que é marcada por um percurso de vida instável, dominado pelos encontros repetidos e sucessivos com a lei e por reincidências, isto porque há ausência de aprendizagem com os erros passados. Nesta perturbação os comportamentos agressivos são uma constante e os indivíduos psicopatas tornam-se cada vez mais repressivos, anónimos e violentos, detentores de uma expressão mental pobre, assim como, por um lado rejeitam mas por outro tem uma necessidade voraz de afecto, tornam-se impulsivos e também pragmáticos, a sua solidão contrasta com uma grande dependência, sentem o aborrecimento com grande facilidade e possuem uma predisposição para a mitomania, considerados igualmente como exuberantes e possuidores de uma linguagem empobrecida. Hare (2009) considera que a instabilidade motora, relacional, profissional e social faz parte da disposição para a psicopatia e na sua escala para medir esta perturbação, a PCL-R, os principais indicadores desta perturbação são avaliados a partir das seguintes características: ausência de sentimentos morais, como o remorso ou a gratidão e a tendência para mentir e para manipular. A PCL-R foi elaborada com vista a medir os níveis de psicopatia e também para avaliar a personalidade do indivíduo, permitindo a definição do risco que um determinado indivíduo pode representar para a sociedade em questão (Hare, 2009). Esta escala foi construída com base na assumpção de que a personalidade e o comportamento dos indivíduos agressores diagnosticados com psicopatia diferem muito dos outros indivíduos considerados criminosos, isto porque os psicopatas são os responsáveis pela maioria dos crimes violentos em vários países, iniciam também os trilhos criminosos numa idade precoce, cometem uma grande variedade de Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias, Faculdade de Psicologia 25
  • 27. Ana Catarina Soares de Azevedo, Personalidade, Psicopatia e Agressividade em Jovens Adolescentes do Ensino Básico e Secundário crimes com grande regularidade, e inclusive apresentam um maior número de faltas disciplinares no meio prisional, assim como, existe um maior índice de fracasso ao nível dos programas de reabilitação destinados aos indivíduos com esta perturbação e os mesmos apresentam também elevados índices de reincidência criminal (Hare, 1998). A escala de psicopatia de Hare (1999) avalia quatro facetas: a faceta interpessoal contém itens que avaliam a loquacidade, o encanto superficial, a sobrestima de si, a tendência para a mentira patológica e o logro ou a manipulação; a faceta afectiva inclui itens que abordam a ausência de remorsos ou de culpabilidade, o afecto superficial, a insensibilidade, a ausência de empatia e a incapacidade para aceitar as responsabilidades pelos seus actos e gestos; a faceta ou estilo impulsivo/irresponsável possui itens que medem a necessidade de estimulação, a tendência para o aborrecimento e para o estilo de vida parasitário, a incapacidade para assumir a responsabilidade pelos seus actos e gestos e ainda a impulsividade; e a faceta anti-social abrange questões que colocam ênfase no fraco auto-controlo, na manifestação precoce de problemas ao nível do comportamento, na delinquência juvenil e na diversidade de tipos de delitos cometidos pelo sujeito. Os psicopatas dificilmente sentem ansiedade, bem como, no geral não experienciam o medo, sendo quase imunes ao stress, pois permanecem calmos em situações perigosas que colocam em causa a sua própria segurança (Goleman, 2006). Em experiências onde os participantes recebem antecipadamente a informação de que vão receber um choque eléctrico, constatou-se que os participantes considerados psicopatas não manifestaram apreensão ou receio (Edens e al, 2001). Ao nível fisiológico não apresentaram níveis de sudação ou níveis de aceleração do ritmo cardíaco, o que era de esperar nas pessoas ditas normais, não possuem deste modo medo por antecipação e permanecem calmos e serenos em situações de grande perigo ou pressão (Edens e al, 2001). Estes indivíduos demonstram dificuldades no reconhecimento do medo ou da tristeza ao nível da expressão facial ou do timbre da voz das pessoas, o que pode explicar a ausência de empatia ou de respostas afectivas (Goleman, 2006). Um estudo de imagiologia cerebral realizado com um grupo de psicopatas perigosos (Kiehl e al, 2001) apontou para a presença de um défice ao nível dos circuitos da amígdala, mais precisamente num local cerebral que tem como funções principais interpretar e identificar as emoções, bem como, descobriram-se anormalidades ao nível da região pré-frontal, que domina a Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias, Faculdade de Psicologia 26
  • 28. Ana Catarina Soares de Azevedo, Personalidade, Psicopatia e Agressividade em Jovens Adolescentes do Ensino Básico e Secundário função de inibição dos impulsos. Por outras palavras, os circuitos neuronais destes indivíduos fazem com que os mesmos não sintam emoções do espectro do sofrimento com a intensidade dita “normal”, sendo incapazes de vivenciar a aflição, não identificam também a dor humana (Mealey e Kinner, 2002). Os psicopatas podem ser socialmente hábeis, conseguindo através do seu encanto dissuadir as pessoas quanto à sua verdadeira intuição, os psicopatas criminosos podem inclusive ler livros de auto-ajuda com o intuito de manipularem eficazmente os seus “alvos”, de modo a obterem o que desejam (Goleman, 2006). Isto constata-se também nos psicopatas que foram sempre bem sucedidos e nunca foram punidos pelos seus actos ou crimes, principalmente no tráfico de drogas e na extorsão, pois possuem uma grande capacidade de encanto superficial, de mentira patológica e uma história de impulsividade, ao contrário dos outros que foram castigados estes escaparam ao sistema judicial graças às suas reacções mais ansiogénicas, associadas às ameaças antecipatórias, comportando-se com mais cautela e discrição (Goleman, 2006). Já na infância estes indivíduos demonstram ser portadores de uma grande frieza ao nível dos sentimentos, tendo uma vida interior pobre são incapazes de manifestar ternura por outrem devido também à sua dificuldade precoce na identificação da dor emocional dos outros, não inibindo as suas reacções cruéis. Desde cedo não mostram reticência em torturar animais, em perseguir e intimidar os colegas, assim como, frequentemente despoletavam quezílias e faziam parte das mesmas e ateavam fogos, na adolescência é comum fazerem recurso à violência de modo a estabelecerem relações sexuais (Goleman, 2006). Oliveira (2004) refere que permanecem como sinais identificatórios da existência de psicopatia: a presença de respostas de evitamento afectivo, baixa ansiedade e baixa insegurança; conteúdos narcisisticas e de auto-percepção grandiosa; o recurso exagerado a fantasias e deficiente apreensão da realidade; e uma grande dificuldade na tradução de estímulos externos em conteúdos internos que sejam significativos. O funcionamento do psicopata pode ser entendido e delimitado em três níveis, que são os seguintes: ao nível biológico, as pessoas com esta perturbação possuem um baixo teor de activação, inclusive estudos científicos demonstram que as pessoas consideradas como delinquentes são detentoras de uma sub-activação psicofisiológica crónica, avaliadas principalmente pelos métodos de medição dos índices electrodérmicos, cardiovasculares e corticais; ao nível inconsciente, que justifica a presença de relações objectais narcísicas e defesas Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias, Faculdade de Psicologia 27
  • 29. Ana Catarina Soares de Azevedo, Personalidade, Psicopatia e Agressividade em Jovens Adolescentes do Ensino Básico e Secundário primitivas; e ao nível pré-consciente ou consciente, revelado por um estilo cognitivo imaturo que se desenvolve a partir das defesas primitivas e que está por detrás da elaboração de erros específicos em termos de pensamento, onde transparecem as auto-percepções narcisistas (Meloy, 1988). Os sujeitos considerados psicopatas são capazes de reter representações de si super- grandiosas que por outro lado são isentas de valorização, estas determinam os seus comportamentos externos de agressividade, ou seja, exteriorizam a agressividade como modo de provarem a sua omnipotência e de afastarem o caos de fragmentação (a angústia), que poderão sentir caso permitirem serem inundados pela percepção do vazio e pelo sentimento de vergonha acerca de si próprios (Meloy, 1988). Estes indivíduos caracterizam-se por um estilo cognitivo imaturo, em que predomina um pensamento concreto, perspectivando os outros como objectos parciais, o que conduz à incapacidade para sentir empatia ou de fazer perdurar os seus relacionamentos, que alternam entre o aparente apego e o mais completo afastamento (Oliveira, 2004). Existe ainda uma tendência para generalizar abusivamente a partir de diminutos acontecimentos concretos e pela incapacidade em aprender com os erros cometidos. Neste sentido, o mundo e os objectos imediatos são percebidos segundo um processo primitivo de recompensas e de punições, onde a atenção é concentrada a curto prazo nos objectos considerados como recompensadores, isto porque vêem no controlo sobre os objectos um meio eficaz para reforçar o seu “eu” grandioso e que os impede de perceber as consequências, as ameaças ou danos que daí podem advir (Meloy, 1988). Em suma, uma das respostas fisiológicas que distingue os psicopatas dos indivíduos considerados anti-socias, consiste no sentimento de apego, que se encontra perturbado, ou seja, existe na psicopatia uma incapacidade de apego (Meloy, 1988; Oliveira, 2004). Hare e Schalling (1978) realizaram um estudo com psicopatas e indivíduos sem esta perturbação, os psicopatas e os outros sujeitos foram expostos a uma determinada experiência com uma contagem regressiva de 10 a 1, no final desta contagem sentiriam um pequeno choque eléctrico em um dos seus dedos da mão. Durante a simulação, constataram que os indivíduos considerados psicopatas demonstravam uma diminuição da taxa cardíaca, em vez de registarem um aumento do índice cardíaco tal como se verificou nos outros sujeitos incluídos nesta Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias, Faculdade de Psicologia 28
  • 30. Ana Catarina Soares de Azevedo, Personalidade, Psicopatia e Agressividade em Jovens Adolescentes do Ensino Básico e Secundário experiência, tornando evidente que os psicopatas protegiam-se da dor desconectando os sinais de medo que proviam do ambiente em que se encontravam inseridos. Levenson (1990) define a psicopatia como o desejo pelo perigo e pela procura de sensações ou de experiências de risco. Considera que esta perturbação não é originada por um défice no funcionamento dos sistemas neuronais que medeiam os processos de ansiedade ou de evitação, já que o comportamento anti-social intrínseco do indivíduo psicopata é baseado em julgamentos que dão primazia aos seus próprios caprichos e desejos. A clínica psiquiátrica actual conservou as seguintes particularidades na definição da psicopatia (Braconnier, 2006): a psicopatia revela-se na facilidade de passagem ao acto, pela impulsividade e agressividade assumidas pela regularidade de acções hetero e auto-agressivas secundárias a frustrações, estas acções são inadequadas ao propósito individual ou em relação às circunstâncias que poderão estar por detrás das mesmas, sendo a passagem ao acto a única resposta ao conflito sentido, desvalorizando o diálogo ou qualquer tipo de elaboração psíquica; existem evidências de dependência e de dificuldades de identificação; há procura intensiva de novas experiências e de novas emoções devido à preponderância para sentir aborrecimento; verificam-se também exigências megalómanas ou desmesuradas e uma vida afectiva muito pobre em vínculos, que origina insatisfação, o mesmo se constata ao nível da vida sexual que permanece pobre e insatisfeita, as relações são igualmente mantidas pela superficialidade e impessoalidade, o que gera separações regulares com manifestações excessivas; existe uma instabilidade em termos afectivos marcada pela hiperemotividade, pelas expulsões momentâneas de angústia e de emoções, pela aparente falta de afecto e de interesse pelo outro e pela labilidade emocional, caracterizada pelo aborrecimento e pelo mal-estar que depressa evoluem para a exaltação ou excitação; está igualmente patente o sentir de uma insatisfação que não cessa, podendo levar aos comportamentos perversos; e podem existir traços histéricos e paranóides. Todavia, os conceitos actuais de personalidade anti-social e de psicopatia frequentemente são confundidos, ambas as conceptualizações encontram-se centradas nos traços de personalidade, como a manipulação, a ausência de remorsos e o egocentrismo. Os critérios de diagnóstico de personalidade anti-social presentes na DSM-IV (2003) focam-se essencialmente no comportamento, sendo a conduta criminosa uma condição essencial para o diagnóstico da perturbação (Lilienfeld, 1998). Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias, Faculdade de Psicologia 29
  • 31. Ana Catarina Soares de Azevedo, Personalidade, Psicopatia e Agressividade em Jovens Adolescentes do Ensino Básico e Secundário A perturbação anti-social da personalidade é caracterizada segundo o DSM-IV (2003), por um padrão global de desrespeito e violação dos direitos dos outros ocorrendo desde os 15 anos de idade, indicado por três ou mais dos seguintes critérios: existe incapacidade para se conformar com as normas sociais no que diz respeito à legalidade dos seus comportamentos, demonstra actos repetidos que são motivo de detenção; a evidência de falsidade, explícita nas mentiras e na adopção de nomes falsos, assim como, tende a contrariar os outros para obter lucro e prazer, tendo também como características predominantes a impulsividade ou a incapacidade para planear antecipadamente; a irritabilidade e a agressividade presente nos conflitos constantes e nas lutas físicas. Estes fenómenos explicam-se pela existência do desrespeito temerário em relação à segurança de si próprio e dos outros, bem como, uma irresponsabilidade consistente patente na incapacidade repetida para manter um emprego ou honrar com as obrigações financeiras e pela incapacidade em sentir remorsos, dotada de uma racionalização e indiferença após ter magoado ou ter roubado alguém. Os 18 anos de idade constituem a idade mínima para que esta perturbação seja passível de diagnóstico, apesar de existir evidência de uma perturbação ao nível do comportamento antes dos 15 anos de idade. Este tipo de comportamento não deve ocorrer exclusivamente durante a evolução da esquizofrenia ou de um episódio maníaco (DSM-IV, 2003). Neste sentido, os critérios de diagnóstico do DSM-IV (2003) da perturbação anti-social da personalidade não são eficazes na identificação dos indivíduos psicopatas que não possuem condutas ou registos criminosos. Millon (1998) critica a conceptualização de personalidade anti-social, referindo que os critérios de diagnóstico primam pela identificação de comportamentos anti-sociais, delinquentes e criminais descurando o papel dos traços de personalidade no diagnóstico da perturbação. Weiner (1995) afirma igualmente que a conceptualização do DSM-IV (2003) no que refere aos critérios de diagnóstico da perturbação anti-social possui restrições, isto porque reserva o enfoque às condutas anti-sociais, e estas caracterizam a delinquência em termos associais, ou seja, as condutas que vão contra as normas sociais, não considerando os traços afectivos e interpessoais típicos da perturbação. Segundo este autor a delinquência caracterológica é precursora da psicopatia, esta desenvolve-se a partir do egocentrismo do indivíduo, que centrado em si próprio e nos seus interesses faz uso das acções anti-sociais. O que demonstra o quão imperioso é considerar a Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias, Faculdade de Psicologia 30
  • 32. Ana Catarina Soares de Azevedo, Personalidade, Psicopatia e Agressividade em Jovens Adolescentes do Ensino Básico e Secundário presença dos traços de personalidade no diagnóstico da perturbação em questão, para que não se cometam erros em termos de classificação. A personalidade dissocial segundo o CID-10 (1992) aproxima-se da conceptualização do DSM-IV (2003) acerca da personalidade anti-social, pois na classificação do CID-10 (1992) esta é igualmente marcada pela indiferença ou pela insensibilidade total aos sentimentos dos outros e pela ausência de capacidade de empatia, exibindo uma atitude muito acentuada e persistente de irresponsabilidade e desrespeito pelas normas, regras e obrigações sociais, o que pode levar à incapacidade para estabelecer relações duradouras, aliada à baixa tolerância da frustração, assim como, à incapacidade para se sentir culpado e de aprender com a experiência ou com as sanções que habitualmente são aplicadas devido à manifestação frequente de comportamentos delituosos e de acções agressivas, perpetuadas e consumadas através do sentimento de uma irritabilidade, que é persistente. Segundo Kernberg (1984) o anti-social é uma pessoa centrada em si mesma, com um self grandioso, com uma ambição desmesurada e uma atitude de superioridade, existindo também um segundo rasgo ao nível da sua personalidade na relação de objecto: a inveja, a ideia de exploração dos demais e a necessidade de desvalorizar outrem. As personalidades narcisistas e anti-sociais possuem um self dividido em dois níveis estruturais: num dos níveis estruturais o self real destas personalidades encontra-se isolado, vazio, incapaz de qualquer tipo de aprendizagem, inferior e inseguro; e num outro nível está oculto por uma máscara que se sobrepõe, esta mascara é grandiosa no caso do narcisista e destrutiva no indivíduo com a perturbação anti-social da personalidade (DSM-IV, 2003). Vários autores associam os traços de personalidade narcísicos à psicopatia, isto porque os indivíduos considerados psicopatas recorrem a meios imorais e pouco pacíficos para reforçarem a sua reputação, de forma a engrandecerem o seu próprio ego e serem detentores de um estatuto invulnerável e indestrutível. E quando sentem que o seu estatuto encontra-se ameaçado ou é desrespeitado respondem com grande agressividade, ameaçando quem se opõe ou os ignora (DSM-IV, 2003). Os indivíduos que integram os chamados grupos gangs ou outros grupos constituídos por delinquentes e marginais, partilham este tipo de perfil psicológico, pois procuram impressionar os outros através da exibição de actos violentos e as suas acções encontram-se Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias, Faculdade de Psicologia 31
  • 33. Ana Catarina Soares de Azevedo, Personalidade, Psicopatia e Agressividade em Jovens Adolescentes do Ensino Básico e Secundário direccionadas para a busca de liderança, oprimindo os outros com vista a atingirem tal fim (Born, 2005). 2.2. Psicopatia primária e secundária Karpman (1961) distinguiu dois tipos de psicopatia, em que um denominou de psicopatia idiopática ou primária e o outro tipo nomeou de sintomática ou secundária. A primeira manifestava-se predominantemente por reacções psicopáticas, enquanto que a segunda incluía também reacções similares às psicopáticas, no entanto estas correspondiam sobretudo a processos neuróticos. O psicopata primário caracteriza-se pela sua frieza e crueldade, principalmente ao nível do estabelecimento das relações interpessoais, por outro lado este mostra-se capaz de simular emoções e vínculos afectivos de modo a obter ganhos próprios. Cleckley (1988) verificou a partir das suas investigações a existência de algumas diferenças importantes ao nível da agressividade dos psicopatas, pois um dos subgrupos formados por este tipo de indivíduos manifestava hostilidade, enquadravam-se num perfil belicoso, imprudente, e susceptível ao consumo de substâncias; enquanto que um segundo subgrupo abrangia indivíduos marcadamente agradáveis e bem ajustados em termos psicológicos, todavia demonstravam-se imprevisíveis ao nível do comportamento, sendo indignos da possível confiança que os outros pudessem depositar nos mesmos; o terceiro subgrupo era constituído por indivíduos que reuniam um perfil misto, ou seja, manifestavam episódios de grande irritabilidade e agressividade, interpostos por momentos de cordialidade e de cooperativismo. Hare (1984) estabeleceu três tipos de psicopatia: o psicopata primário que corresponderia à descrição realizada por Cleckley (1988); o psicopata secundário ou o psicopata neurótico, conhecido pela sua capacidade em estabelecer relações afectivas, conseguindo igualmente sentir culpa ou remorsos pelos seus actos e ansiedade; e o psicopata dissocial que possuía uma subcultura própria integrada e formada em meios marginais, era capaz também de sentir culpa, de ser leal e de transmitir afecto, sendo a sua conduta dissocial devida a factores ambientais. Karpman (1961) e Poythress e Skem (2006) defendiam que o psicopata secundário era semelhante ao psicopata primário ao nível do fenótipo, mas desigual ao nível constitucional. Ambos os tipos de psicopata exibem indiferença e insensibilidade emotiva, não olhando os seus Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias, Faculdade de Psicologia 32
  • 34. Ana Catarina Soares de Azevedo, Personalidade, Psicopatia e Agressividade em Jovens Adolescentes do Ensino Básico e Secundário meios para atingir os seus próprios fins, pois utilizam e manipulam outrem para que os seus objectivos se tornem atingíveis, sendo igualmente detentores de uma conduta anti-social. O psicopata primário distingue-se do secundário pela sua organização emocional instintiva, já que o psicopata secundário é capaz de expressar em algumas situações empatia, ansiedade, depressão e o desejo de aceitação social, vivenciando com mais intensidade os conflitos neuróticos. Para além disto, os psicopatas primários actuam de modo a obterem o máximo de excitação possível, enquanto que o psicopata secundário actua segundo as suas emoções, em concordância com o ódio sentido ou o desejo de vingança, sendo um perfil típico do conflito neurótico, por outro lado demonstram-se capazes de realizar uma aprendizagem social, tornando- se possível incluir uma abordagem psicoterapêutica no delineamento da intervenção para estes casos de psicopatia secundária (Karpman, 1961; Poythress e Skem, 2006). Segundo Zágon (1995) tanto a psicopatia primária como a secundária podem ser condicionadas pela presença de um défice neurológico ao nível do sistema de inibição do comportamento, que tem a finalidade de regular a reactividade a estímulos aversivos e encontra- se conexado com as experiências de afecto negativo, como a ansiedade, podendo também existir uma desregulação ao nível do sistema de activação comportamental, este por sua vez rege a motivação apetitiva e encontra-se associado com a experiência de afecto positivo e com a impulsividade. Por outras palavras, o psicopata primário sofre de uma incapacidade ao nível do funcionamento do sistema de inibição comportamental, que lhe conserva um temperamento “audaz”, enquanto que a psicopatia secundária está subjacente ao mau funcionamento do sistema de activação comportamental, que se mostra hiperactivo nos indivíduos com este tipo de perturbação. Porter e Woodworth (2006) apoiam-se noutro tipo de perspectiva, declarando que o conflito patente na psicopatia secundária é mais de natureza dissociativa do que neurótica, as suas características de afecto superficial e as emoções pobres e um estilo de vida marcadamente egocêntrico, centrado na obtenção dos seus próprios fins, correspondem de certo modo ao aparente problema dissocitaivo. Eysenck (1981, 1995) postulou que a psicopatia primária caracteriza-se pela ausência de sentimentos, de culpabilidade, de empatia ou de sensibilidade, deste modo os indivíduos com esta perturbação possuem mais probabilidades de cometimento de actos puramente delitivos e agressivos. Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias, Faculdade de Psicologia 33
  • 35. Ana Catarina Soares de Azevedo, Personalidade, Psicopatia e Agressividade em Jovens Adolescentes do Ensino Básico e Secundário Enquanto que, os psicopatas considerados secundários possuem altos valores de extroversão e de neuroticismo, estes reagem com grande intensidade aos estímulos externos e tendem a permanecer pouco activados durante os períodos de descanso ou durante a sua vida diária, são deste modo detentores de uma grande distractibilidade e são relativamente desinibidos. No entanto ao cometerem actos prejudiciais a outrem sentem-se culpabilizados e são capazes de experimentar remorsos (Eysenck, 1995, 2006; Eysenck e Eysenck, 1976). Por outro lado, Blackburn (1971) afirma que o psicopata primário é mais extrovertido, seguro de si mesmo, dominante, apresentando níveis baixos de ansiedade, possuindo uma socialização adequada e uma ausência de insight, caracterizada pela sua rigidez mental, enquanto que o psicopata secundário sofre de alterações ao nível emocional, vivenciando com mais intensidade e frequência a ansiedade social, isto deve-se também a um narcisismo mais atenuado, marcado por uma auto-estima pobre, sendo um indivíduo retraído, propenso ao sentimento de ira e de irritação, mostrando-se igualmente mais submisso e isolado socialmente, estes sintomas são característicos dos traços neuróticos ao nível da sua personalidade (Blackburn, 1998). Poythress e Skeem (2006) consideram que o psicopata primário sofre de um défice afectivo congénito, enquanto que o psicopata secundário apresenta uma alteração afectiva que foi adquirida, logo os psicopatas secundários tornam-se mais propensos à adopção de comportamentos transgressivos e à ideação suicida, existindo assim um maior risco de suicídio nestes indivíduos, podendo este ser reforçado pela sua ansiedade e pela sua impulsividade. Neste sentido, os psicopatas primários são caracterizados pela sua violência instrumental, sendo a partir desta que pretendem alcançar um objectivo exterior, enquanto que o comportamento dos psicopatas secundários é marcado por um tipo de violência reactiva regular associada à sua predisposição para sentir ansiedade e ira (Poythress e Skem, 2006). Sendo estes últimos encarados como defensivos, rancorosos e susceptíveis à frustração e à critica (Blackburn, 1971). Segundo Levenson, Kiehl e Fitzpatrick (1995), a psicopatia primária é marcada por atitudes egoístas e despreocupadas, o individuo com esta perturbação tende a possuir uma postura manipulativa em relação aos outros, enquanto que a psicopatia secundária encontra-se associada a um estilo de vida impulsivo, derrotista, bem como a um pobre controlo dos impulsos e na falha para aprender com os erros do passado. Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias, Faculdade de Psicologia 34
  • 36. Ana Catarina Soares de Azevedo, Personalidade, Psicopatia e Agressividade em Jovens Adolescentes do Ensino Básico e Secundário Levenson (1995) criou a escala de avaliação dos índices de psicopatia (Levenson´s Self- Report Psychopathy Scale) aplicável à população em geral, sendo um grande contributo para o estudo da psicopatia, isto porque anteriormente a maioria das medidas que avaliavam esta perturbação destinavam-se à população institucionalizada, enquanto que esta escala pode ser aplicada à população em geral. Patrick (2000) e Blair (2003) estabeleceram uma diferenciação entre a psicopatia e a perturbação anti-social da personalidade, afirmando que não são duas perturbações semelhantes, pois possuem factores causais diferentes: a psicopatia primária é descrita e caracterizada por défices emocionais e afectivos e pelo sentimento constante de egoísmo, enquanto que a personalidade anti-social equipara-se à psicopatia secundária, pois este tipo de psicopatia é marcada por alterações ao nível do comportamento, concretamente pelas acções anti-socias, sem existir deterioração das emoções. Eysenck (1992, 1994) nos seus estudos acerca da personalidade de indivíduos considerados criminosos, constatou que os sujeitos considerados extrovertidos tendem a manifestar comportamentos delituosos, sendo que a base neurofisiológica da extroversão está relacionada com o funcionamento do sistema reticular ascendente e o consequente nível de activação (arousal) cortical é mais baixo nos extrovertidos comparativamente aos introvertidos. Os extrovertidos mostram-se mais rápidos no desenvolvimento da inibição reactiva, que posteriormente levam mais tempo a fazer desaparecer, e por este motivo possuem mais dificuldades em aprender ou a condicionar em relação aos introvertidos. Neste âmbito, também é adequado abordar a preponderância do traço de neuroticismo, visto que uma pessoa com um neuroticismo alto tende a reagir excessivamente aos estímulos, quer externamente caso seja extrovertido, quer internamente se for introvertido. A base neurológica deste traço encontra-se centrada na actividade do sistema nervoso autónomo, que é demarcado por reacções excessivas e ansiosas principalmente nas situações marcadas por estimulações aversivas, interferindo sobretudo na capacidade de aprendizagem social (Eysenck, 2006). Seguindo esta lógica, para qualquer nível de extroversão quanto mais alto for o neuroticismo, maior será o nível de comportamento delituoso esperado. O indivíduo que situa a sua personalidade neste nível será menos socializado, isto porque possui dificuldades de condicionamento, e uma labilidade emocional exagerada (Eysenck, 2006). Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias, Faculdade de Psicologia 35
  • 37. Ana Catarina Soares de Azevedo, Personalidade, Psicopatia e Agressividade em Jovens Adolescentes do Ensino Básico e Secundário No que concerne ao traço de abertura à experiência, Zuckerman (1991) revela que o mesmo é assinalado por uma tendência em procurar sensações e experiências novas variadas, complexas e intensas, as pessoas com valores altos neste traço possuem uma predisposição para correr riscos com a finalidade de satisfazer os seus objectivos, estando esta particularidade associada aos comportamentos de risco, como sejam o consumo de substâncias ou à condução perigosa sob o efeito do álcool (Oliveira, 2007, 2009; Oliveira e Mestre, 2006). Segundo Pinatel, citado por Borlandi, Mucchielli, Blanckaert e Sibeud (2001) existem quatro traços particulares que constituem uma nova organização da personalidade e são idênticos nas pessoas com comportamentos delituosos ou violentos: o egocentrismo, o indivíduo egocêntrico percebe o mundo em função dos seus próprios interesses, logo existe uma certa indiferença quanto às consequências dos seus actos em relação às suas vítimas e em relação aos julgamentos de outrem, acerca dessas mesmas acções. Por outras palavras, uma pessoa com egocentrismo e considerada delinquente sente frustração e passa para o acto sem se interrogar. A labilidade constitui outro traço deste tipo de personalidades, sendo esta referente à dificuldade de adaptação às diversas situações, em que o indivíduo não é capaz de medir as consequências das suas acções e reage sem ter em consideração o passado nem o futuro, assim como não dá importância às ameaças de sanções, não possuindo uma conduta estável ao longo do seu percurso de vida, nem conseguindo gerir racionalmente as suas actividades ou relações. A agressividade também é outra característica presente, sendo definida como uma tendência para agir e reagir com violência, ou seja a pessoa recorre à força para atingir os seus fins e para fazer face às suas frustrações sem se preocupar com as consequências futuras. E por último, a existência de indiferença afectiva, marcada pela ausência de empatia (Oliveira, 2004), os indivíduos com esta característica são insensíveis ao sofrimento alheio, e ao não sentirem compaixão podem provocar sofrimento sem se deterem, não têm noção da dor que podem infligir, por conseguinte as suas acções são marcadas pela frieza, mantendo as incapacidades de vinculação e as suas carências afectivas. 2.3. - O papel da agressividade na psicopatia As investigações empíricas realizadas no âmbito da psicopatia confirmam a existência de uma forte relação entre psicopatia e o comportamento violento nos indivíduos do género Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias, Faculdade de Psicologia 36
  • 38. Ana Catarina Soares de Azevedo, Personalidade, Psicopatia e Agressividade em Jovens Adolescentes do Ensino Básico e Secundário masculino considerados delinquentes (Oliveira, 2004, 2007, 2008, 2009; Oliveira, Anciães e Faria, 1999; Patrick, Zemplolich e Levenston, 1997). Os investigadores Williamson, Hare e Wong (1987) enunciam que pontuações altas em psicopatia encontram-se associadas com a prática frequente de crimes violentos e de acções agressivas, sobretudo no que concerne ao comportamento dos psicopatas reclusos, que utilizam a agressividade como forma de controlarem ou de liderarem os demais no mesmo meio prisional. Fora do contexto prisional os psicopatas utilizam as estratégias de coacção ou de ameaças na prática dos crimes considerados mais graves, assim como utilizam armas e a perseguição de desconhecidos com o intuito de obterem ganhos pessoais. Segundo Serin e Amos (1995), os psicopatas libertados por cumprirem a pena de prisão que lhes foi atribuída cometem mais crimes violentos do que outrora, antes de serem punidos judicialmente. Buss (1961) e Dodge (1991) baseiam-se na teoria de Cleckley (1988) acerca do psicopata verdadeiro para concluírem que a agressão deste indivíduo é de carácter mais instrumental do que proactivo, ou seja, não é accionada como meio de defesa, sendo sim motivada pelas circunstâncias. O psicopata verdadeiro é teorizado como um indivíduo predador, que faz recurso regular da violência, sendo uma estratégia usual para intimidar e para atingir as suas próprias metas. A agressão passional ou reactiva é executada como produto das circunstâncias e insere- se mais nas condutas ditas anti-sociais, ou seja é mais frequente nos indivíduos considerados anti- socais reincidentes, já que estes preservam menos frieza em termos emocionais comparativamente aos indivíduos considerados psicopatas verdadeiros (Buss, 1961 e Dodge, 1991). As teorias de Cleckley (1988) estão em concordância com o postulado de Buss e Dogde (1961), pois o primeiro conceptualiza a diferença entre os psicopatas e os delinquentes reincidentes em termos de ressonância emocional, referindo que os psicopatas são incapazes de sentir culpa ou remorsos, são egocêntricos ao ponto de não conseguirem amar ou transmitir afectos, fazem um recurso diligente da insinceridade e da mentira patológica, bem como, do encanto superficial para manipularem outrem e são indiferentes ao nível das suas relações interpessoais. Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias, Faculdade de Psicologia 37
  • 39. Ana Catarina Soares de Azevedo, Personalidade, Psicopatia e Agressividade em Jovens Adolescentes do Ensino Básico e Secundário Neste sentido, a insensibilidade emocional é mais camuflada e preponderante nos psicopatas delinquentes comparativamente à insensibilidade dos delinquentes reincidentes. A psicopatia pode ser distinguida de outras formas de comportamento anti-social e agressivo, que podem constituir características mais sintomáticas correlacionadas com as perturbações de base emocional, como a delinquência neurótica, ou reflectem a socialização dentro de uma subcultura que funciona em oposição à sociedade (Shine e Ferraz, 2000). Ao contrário dos psicopatas, os delinquentes neuróticos e subculturais experimentam o sentimento de culpa e de remorso em relação ao seu comportamento transgressivo e conseguem inclusive estabelecer com os outros relações afectivas. A distinção clínica é efectuada pelos estudos que utilizam o método electroencefalograma (EEG), que auxiliou na constatação de várias irregularidades ao nível cerebral nos indivíduos psicopatas, sobretudo em relação à actividade exagerada de ondas cerebrais lentas, que nos psicopatas fortemente impulsivos e agressivos encontram-se localizadas nas regiões temporais do cérebro (Mata, 1999). Em termos fisiológicos e hormonais, a hormona epinefrina assume uma grande importância na explicação das condutas agressivas consideradas fora da normalidade. Esta hormona controla o fluxo sanguíneo, melhora a força muscular e incrementa a intensidade e o ritmo respiratório, preparando fisiologicamente uma pessoa para reagir com medo, com a fuga ou com o ataque, dando origem a um estado apelidado de estimulação cortical. As pessoas com uma estimulação cortical diminuta são habitualmente agressivas e quando se sentem ameaçadas, sentem menos stress e ansiedade, respondendo de forma mais violenta e intensa. Por essa razão, os indivíduos considerados criminosos e os psicopatas necessitam de experimentar estímulos mais intensos para sentir mais excitação, comparativamente às pessoas ditas normais, e inclusive demoram mais tempo para retornar aos níveis fisiológicos normais. A capacidade de aprendizagem também se encontra associada a este handicap, pois os indivíduos com história criminosa e com personalidade psicopática possuem mais dificuldades para apreender um comportamento aceitável em termos sociais a partir de estímulos negativos ou até positivos (Innes, 2004). Richards (1998) também defende que uma base biológica pode explicar o facto do psicopata possuir dificuldades de apego e de identificações malignas, pois isto pode ocorrer segundo duas hipóteses: o psicopata possui um défice na capacidade de apego e de vinculação, que pode advir do funcionamento de vias neurológicas inespecíficas ou por uma configuração Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias, Faculdade de Psicologia 38
  • 40. Ana Catarina Soares de Azevedo, Personalidade, Psicopatia e Agressividade em Jovens Adolescentes do Ensino Básico e Secundário politética de genes, assim como, pode possuir um defeito que resulta do excesso de impulsos agressivos, ou da presença de um handicap nas funções inibitórias, ou podem coexistir ambas as limitações. E os efeitos das experiências infantis precoces aliados com a predisposição biológica referida anteriormente reúnem as condições necessárias para o desenvolvimento de psicopatia. Os psicopatas secundários são considerados os indivíduos mais transgressivos em termos sociais, e evidências científicas confirmam a existência de maiores anormalidades neuronais que podem justificar o porquê destes indivíduos reagirem com mais fúria face a ameaças físicas e verbais (Blackburn, 1998). Millon (1998) possui uma perspectiva similar, afirmando que a agressividade nas personalidades com estas particularidades diz respeito a um contra-ataque preventivo, que provém de um julgamento antecipatório em relação a uma possível humilhação ou ameaça que pode ser dirigida ao próprio. Em síntese, estas condutas estão intimamente relacionadas com as crenças interpessoais, que por sua vez encontram-se associadas a uma rigidez cognitiva, conduzindo às reacções de carácter hostil e aversivo como resposta a um comportamento de outrem que foi mal interpretado ou avaliado pela pessoa que possui a perturbação. As subtipologias de psicopatia realizadas por Millon (1998) demonstram características que são comuns a todos os psicopatas, como o egocentrismo acentuado e a ausência de empatia: o psicopata carente de princípios possui traços narcísicos e histéricos ao nível da sua personalidade, ao nível comportamental as suas condutas são marcadas pela arrogância, existindo também uma auto-desvalorização acentuada e uma indiferença face ao sofrimento dos outros. Levam um estilo de vida fraudulento, exploram e manipulam os demais, são dotados de uma extrema irresponsabilidade social, devido em parte às suas fantasias grandiosas, à sua capacidade para a mentira, à sua incapacidade para se sentirem culpabilizados pelos seus actos e devido à sua exímia capacidade para enganarem outrem através do seu encanto, e colocam-se no papel de outra pessoa com grande facilidade, conseguindo marcar as pessoas através de uma amabilidade e cortesia falsas; o psicopata malévolo é caracterizado pelas suas atitudes hostis e por um desejo apurado de vingança, possui uma conduta constante de desafio face à sociedade, dando azo aos seus impulsos de forma extremamente nociva. Possuem traços paranóides, permanecendo em frequente desconfiança diante os comportamentos dos outros, antecipam sob falsas interpretações possíveis traições ou punições, por exemplo a amabilidade dos outros serve de motivo para as suas suspeitas, julgam que estão a iludi-lo e a enganá-lo, podendo praticar o assassínio e outras Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias, Faculdade de Psicologia 39