LETRAS TAQUARENSES é um fanzine literário, impresso e virtual, com presença em quatro continentes, marcadamente o ambiente lusófono, editado pelo escritor antonio cabral filho.
LETRAS TAQUARENSES Nº 58 AGOSTO 2014 * ANTONIO CABRAL FILHO - RJ
1. HAICAIS
Filhotes se aninham
Sob as asas protetoras –
Inverno chegou.
Cida Micossi – SP
Passam pássaros.
Meus sonhos
Não migram.
J. Cardias – RJ
A abelha, tristonha,
- fauna e flora devastadas –
Produz mel amargo.
Leila Miccolis – RJ
Pessoas despertam;
Madrugada após geada.
Inspeção do campo.
Manoel F. Menendez – SP
Ao cantar do galo
Também a serra vernal
À espera do sol.
Neide Rocha Portugal – PR
Quando eu olhos as rosas
Sinto uma vontade imensa
De abraçar o artista.
Humberto Del Maestro – ES
Rapaz chega em casa
Com a roupa respingada.
Lá fora, a garoa.
Renata Paccola – SP
Na seca total
Resiste um pouquinho mais
Árvore despida.
João Batista serra-Ce
Sanhaço perscruta,
Silente, meu mamoeiro:
Tem mamão devês.
Caminho do mar:
A navalha no meu rosto,
Corta que nem gelo.
Trilha do mosteiro:
O andarilho vai convicto,
Buscar paz de espírito.
Vai de galho em galho,
Pára, olha, me vigia:
Esquilo mineiro...
Cai um temporal
Sobre o calor de domingo:
São águas de março.
Chove em Parati:
Mil peixinhos vêm à tona,
Provar outras águas.
Antonio Cabral Filho - RJ
TROVAS
Felicidade, um evento,
Uma graça fugidia...
Como lufada de vento,
Passa por nós, algum dia!
Fernando Vasconcelos – Pr
Desse jeito, esperneando,
Considero-te a criança,
Que sempre tenta chorando
Quando o que quer não alcança.
João Batista Será – CE
Quando a mão busca outra mão
E sem rodeios perdoa,
Dá-se tão bela união
Que Deus bendiz e abençoa.
Alaor Eduardo Scisínio – RJ
Dê-se ao jovem liberdade
Para sem medo ele ousar.
- É no ardor da mocidade
Que o sonho aprende a voar.
A. A. de Assis - PR
Sigo na rua com frio,
A brisa caminha leve...
A lua, do céu vazio,
Me abraça com mão de neve.
Humberto Del Maestro – ES
Por mais que divague a mente
E o rumo tente alterar,
Meu olhar tão insistente
Te vê em todo lugar...
Jessé Nascimento – RJ
Aquela nuvem que corre,
Lembra, de um velho, os cabelos,
Que cada dia que morre,
Deixa pra traz os desvelos.
Henny Kropf – RJ
Uma lágrima que escorre
Trás mil brilho à própria face,
Se a cada sonho que morre
Há um novo sonho que nasce.
Renata Paccola – SP
Urubu sobre o telhado
E voando abertamente
Ficou muito bem olhado
Pelo suspiro da gente.
Franc Assis Nascimento - Go
Ao brincar com seu cabelo
E puxar o seu vcestido,
Vento sede a um sexy apelo
E revela ter crescido.
Olivaldo Júnior – SP
Com sete a um da Alemanha,
Ao menino a decepção..
Mas o Brasil mais apanha
No quesito educação.
Eliana Ruiz Jimenez - SC
Quando, manhã, bem cedinho,
Abrindo os olhos desperto,
Através do teu carinho
Vejo logo um céu aberto.
Walter Siqueira – RJ
Ano VIII nº58 agosto 2014 Distribuição Gratuita Editor: Antonio Cabral Filho
Rua São Marcelo, 50/202 Rio de Janeiro – RJ Cep 22.780-300 Email: letrastaquarenses@yahoo.com.br
http://blogdopoetacabral.blogspot.com.br / http://letrastaquarenses.blogspot.com.br Filiado à FEBAC
2. SALDO ESCASSO
Após devorar
A sagrada esperança
De Agostinho Neto,
Com gosto de suor africano
Explorado em solo brasileiro,
Regada a muito café
E mergulhado em insônia,
Vou passear no quintal
Ver se colho um poema
Ou o sal da escassez.
NOITE
Depois de trabalhar
O dia inteiro
A noite fica exausta
E se dependura
Lá do céu sobre nós
E dorme como os morcegos...
É por isso que acordamos
Chamuscados de escuridão.
METAPOÉTICA
De tanto
Alavancar o poema
Acabei pavimentando
O verso
E instalando a poesia
Sempre no ponto final.
COMPLEXO DE KAFKA
Não fossem os calafrios
Da pobre coitada mãe
Que vivia em panos quentes
Pra manter seu pai
Em banho-maria
Teríamos mais psicanalistas
Tentando livrar as pessoas
Dos estados parasitários
E Kafka transformado
em barata.
LARGO DA BATALHA
Já diz tudo
O nome do local
Que nos lembra
Algo longe
Transido de combates
E ainda agora
Nos seus arredores
Chegam avisos da pólvora:
Seguem escaramuças
Por seu corpo escarpado,
Todo respingado de rubro.
PONTO CEM RÉIS
Não sei quantos reis
Passaram por este ponto
E não sei ainda
Se era sem réis
Caso houvesse pedágio
Transitar livremente.
ENQUETE
O vovô anarquista
Perguntou para o netinho
Se acreditava em Papai Noel:
- Por quê, vai me dar presente?
Inquiriu o garoto, todo serelepe,
Enquanto o avô confabulava
Com seus bigodes:
- Que menino materialista!
ANTI GULLAR
Inútil a luta corporal
Sem poemas concretos
Sobre romances de cordel
A sós dentro da noite veloz
Pra cometer poema sujo
E acender uma luz no chão
Em plena vertigem do dia
Causar crime na flora
E sair por aí fazendo barulhos
Com muitas vozes
E argumentação contra
A morte da arte
Pleno de antologias...
HORA DA RVOLUÇÃO
É hora da revolução!
É hora da revolução!
Não! Não é nenhum
Sinal dos tempos
Nem devido à queda
De algum ditador.
É que eu vi
Um homem no ônibus
Lendo o Manifesto Comunista.
PRÊMIO JUSTO
Corredor polonês
Só para o maldito inventor
Do corredor polonês,
Que eu fui.....
CACETE BAIANO
Depois de apanhar
Até gato morto miar,
Por dizer gracinhas
Para a menina dos olhos
Do paizão ciumento,
Diz que ganhou
O maior cacete baiano.
APROPRIAÇÃO INDÉBITA
Eu sei que o boca-a-boca
É a melhor propaganda,
Mas não adianta resmungos
Nem choro pelos cantos.
Só devolvo o beijo
Que te roubei dormindo,
Se vieres tomá-lo
Boca-a-boca...
DEUSES DE PAUPÉRIA
Era uma cidade
Fundada por ATA
E lá estava escrito:
Artigo Único -
Aqui todos somos felizes,
Pela graça dos deuses.
E todos tudo fazem
Para o bem de todos.
§ Único – Revogam-se
as disposições em contrário.
Antonio Cabral Filho – RJ