SlideShare una empresa de Scribd logo
1 de 3
Descargar para leer sin conexión
Em pílulas
Edição em 92 tópicos da versão preliminar integral do livro de Augusto de
Franco (2011), FLUZZ: Vida humana e convivência social nos novos mundos
altamente conectados do terceiro milênio




                             13
          (Corresponde ao décimo-segundo tópico do Capítulo 1,
                intitulado No “lado de dentro” do abismo)




             Poder é uma medida de não-rede

Centralização (hierarquização) não é o mesmo que clusterização

Também era muito comum a confusão entre hierarquização (que é uma
centralização) e clusterização (ou aglomeramento provocado pela dinâmica
de uma rede). Isso dificultava a compreensão do fenômeno do poder nas
redes sociais. Desse ponto de vista, aliás, seria o exato contrário: o poder
não surge da clusterização e sim – juntamente com a exclusão de nodos e a
obstrução de fluxos – do desatalhamento (supressão dos atalhos) entre
clusters (aglomerados).
O poder (como poder de mandar alguém fazer alguma coisa contra sua
vontade, como, ao fim e ao cabo, se manifesta qualquer poder) é uma
medida de não-rede (em termos de rede distribuída); quer dizer, é uma
medida direta do grau de centralização (ou uma medida inversa do grau de
distribuição) de uma rede. Ele ocorre (ou sobrevém) não quando os nodos
se aglomeram em função da sua interação e sim, ao contrário, quando
impedimos que tal aglomeramento se dê livremente (em virtude da
dinâmica da interação), mas colocamos obstáculos, construímos cancelas ou
selecionamos caminhos por onde ela (a interação) deve passar: sejam
muros, cercas, paredes, escadas, portas e fechaduras, ou firewalls. Todo
poder nasce de um impedimento imposto à livre fluição. Todo poder é uma
introdução artificial (uma fabricação) de escassez de caminhos. Todo poder
é uma tentativa de evitar a abundância de caminhos. Todo poder –
necessariamente hierárquico – é uma reação à distribuição (29).

A tendência nas redes sociais mais distribuídas do que centralizadas é que
os clusters não fiquem isolados, mas interligados, interagindo entre si.
Simplesmente porque eles acabarão, mais cedo ou mais tarde, fazendo isso
– desde que não se o impeça. Fundamentalmente, porque eles podem fazer
isso!

A clusterização em redes sociais tende a aumentar à medida que essas
redes vão aumentando seu grau de distribuição e conectividade (quer dizer,
de interatividade). Esse é um indicador da transição para a sociedade em
rede, na qual vão se alterando as configurações congeladas pelas
fortíssimas centralizações impostas pelo sistema de equilíbrio competitivo
entre menos de duas centenas de Estados-nações em um mundo de quase
7 bilhões de habitantes. Em termos políticos (ou geopolíticos), a
clusterização sócio-territorial que conforma e dá identidade a miríades de
novas comunidades (de aprendizagem, de projeto e de prática – clusters de
convivência enfim) é uma expressão do localismo cosmopolita que floresce
à medida em que a globalização do local encontra a localização do global.
Isso está na origem dos Highly Connected Words que emergem em uma
época-fluzz.




                                    2
Nota

(29) Cf. FRANCO, Augusto (2009). O poder nas redes sociais. Slideshare [1.890
views em 22/01/2011]

<http://www.slideshare.net/augustodefranco/o-poder-nas-redes-sociais-2a-
versao>




                                      3

Más contenido relacionado

Destacado

Sectors of indian economy
Sectors of indian economySectors of indian economy
Sectors of indian economyYash Singh
 
Takex PA-6612E Instruction Manual
Takex PA-6612E Instruction ManualTakex PA-6612E Instruction Manual
Takex PA-6612E Instruction ManualJMAC Supply
 
Cotação.ordemdecompra.verificação.ronsy
Cotação.ordemdecompra.verificação.ronsyCotação.ordemdecompra.verificação.ronsy
Cotação.ordemdecompra.verificação.ronsyetneves2011
 
Harvard referencing style quick guide
Harvard referencing style quick guideHarvard referencing style quick guide
Harvard referencing style quick guideSARWAR SALAM
 
Engineer's day in iran(nasir al-din al-tusi)
Engineer's day in iran(nasir al-din al-tusi)Engineer's day in iran(nasir al-din al-tusi)
Engineer's day in iran(nasir al-din al-tusi)amir zerehpoosh
 
Dc motor speed and direction contrlling using IR remote
Dc motor speed and direction contrlling using IR remote Dc motor speed and direction contrlling using IR remote
Dc motor speed and direction contrlling using IR remote Nikhil sai
 
Qué es la huella hidrica
Qué es la huella hidricaQué es la huella hidrica
Qué es la huella hidricajrtorresb
 
attitude,barriers and facilitators to practice based research Cross sectional...
attitude,barriers and facilitators to practice based research Cross sectional...attitude,barriers and facilitators to practice based research Cross sectional...
attitude,barriers and facilitators to practice based research Cross sectional...Sultana Khizra
 

Destacado (17)

El gaucho
El gauchoEl gaucho
El gaucho
 
Sectors of indian economy
Sectors of indian economySectors of indian economy
Sectors of indian economy
 
Curso de inglés bbc english 62
Curso de inglés bbc english 62Curso de inglés bbc english 62
Curso de inglés bbc english 62
 
Carnavales
CarnavalesCarnavales
Carnavales
 
2 forum sped goiania edgar madruga
2 forum sped goiania edgar madruga2 forum sped goiania edgar madruga
2 forum sped goiania edgar madruga
 
Takex PA-6612E Instruction Manual
Takex PA-6612E Instruction ManualTakex PA-6612E Instruction Manual
Takex PA-6612E Instruction Manual
 
Cotação.ordemdecompra.verificação.ronsy
Cotação.ordemdecompra.verificação.ronsyCotação.ordemdecompra.verificação.ronsy
Cotação.ordemdecompra.verificação.ronsy
 
Resume
ResumeResume
Resume
 
Harvard referencing style quick guide
Harvard referencing style quick guideHarvard referencing style quick guide
Harvard referencing style quick guide
 
¿Cómo usar Google Now?
¿Cómo usar Google Now?¿Cómo usar Google Now?
¿Cómo usar Google Now?
 
Engineer's day in iran(nasir al-din al-tusi)
Engineer's day in iran(nasir al-din al-tusi)Engineer's day in iran(nasir al-din al-tusi)
Engineer's day in iran(nasir al-din al-tusi)
 
Dc motor speed and direction contrlling using IR remote
Dc motor speed and direction contrlling using IR remote Dc motor speed and direction contrlling using IR remote
Dc motor speed and direction contrlling using IR remote
 
Enfoque_Anemia
Enfoque_AnemiaEnfoque_Anemia
Enfoque_Anemia
 
Qué es la huella hidrica
Qué es la huella hidricaQué es la huella hidrica
Qué es la huella hidrica
 
Skipper ONDECK 039
Skipper ONDECK 039 Skipper ONDECK 039
Skipper ONDECK 039
 
attitude,barriers and facilitators to practice based research Cross sectional...
attitude,barriers and facilitators to practice based research Cross sectional...attitude,barriers and facilitators to practice based research Cross sectional...
attitude,barriers and facilitators to practice based research Cross sectional...
 
Contabilidad diapositivas
Contabilidad diapositivasContabilidad diapositivas
Contabilidad diapositivas
 

Similar a Fluzz pilulas 13 (20)

O PODER NAS REDES SOCIAIS 2a Versao
O PODER NAS REDES SOCIAIS 2a VersaoO PODER NAS REDES SOCIAIS 2a Versao
O PODER NAS REDES SOCIAIS 2a Versao
 
Fluzz pilulas 55
Fluzz pilulas 55Fluzz pilulas 55
Fluzz pilulas 55
 
Fluzz pilulas 17
Fluzz pilulas 17Fluzz pilulas 17
Fluzz pilulas 17
 
Fluzz | Versão Preliminar Integral
Fluzz | Versão Preliminar IntegralFluzz | Versão Preliminar Integral
Fluzz | Versão Preliminar Integral
 
É o social, estúpido!
É o social, estúpido!É o social, estúpido!
É o social, estúpido!
 
FRANCO, Augusto - É o Social, Estúpido!
FRANCO, Augusto - É o Social, Estúpido!FRANCO, Augusto - É o Social, Estúpido!
FRANCO, Augusto - É o Social, Estúpido!
 
Fluzz pilulas 75
Fluzz pilulas 75Fluzz pilulas 75
Fluzz pilulas 75
 
Fluzz pilulas 87
Fluzz pilulas 87Fluzz pilulas 87
Fluzz pilulas 87
 
A sociedade em rede e a economia criativa
A sociedade em rede e a economia criativaA sociedade em rede e a economia criativa
A sociedade em rede e a economia criativa
 
Fluzz pilulas 9
Fluzz pilulas 9Fluzz pilulas 9
Fluzz pilulas 9
 
É o social, estúpido!
É o social, estúpido!É o social, estúpido!
É o social, estúpido!
 
Afinal, o que são redes sociais?
Afinal, o que são redes sociais?Afinal, o que são redes sociais?
Afinal, o que são redes sociais?
 
Fluzz pilulas 85
Fluzz pilulas 85Fluzz pilulas 85
Fluzz pilulas 85
 
Fluzz pilulas 26
Fluzz pilulas 26Fluzz pilulas 26
Fluzz pilulas 26
 
Fluzz pilulas 14
Fluzz pilulas 14Fluzz pilulas 14
Fluzz pilulas 14
 
Fluzz pilulas 31
Fluzz pilulas 31Fluzz pilulas 31
Fluzz pilulas 31
 
2009: 10 escritos sobre redes sociais
2009: 10 escritos sobre redes sociais2009: 10 escritos sobre redes sociais
2009: 10 escritos sobre redes sociais
 
2009 10 Escritos Sobre Redes S
2009 10 Escritos Sobre Redes S2009 10 Escritos Sobre Redes S
2009 10 Escritos Sobre Redes S
 
A SEGUNDA QUEDA DO MURO
A SEGUNDA QUEDA DO MUROA SEGUNDA QUEDA DO MURO
A SEGUNDA QUEDA DO MURO
 
Fluzz pilulas 20
Fluzz pilulas 20Fluzz pilulas 20
Fluzz pilulas 20
 

Más de augustodefranco .

Franco, Augusto (2017) Conservadorismo, liberalismo econômico e democracia
Franco, Augusto (2017) Conservadorismo, liberalismo econômico e democraciaFranco, Augusto (2017) Conservadorismo, liberalismo econômico e democracia
Franco, Augusto (2017) Conservadorismo, liberalismo econômico e democraciaaugustodefranco .
 
Franco, Augusto (2018) Os diferentes adversários da democracia no brasil
Franco, Augusto (2018) Os diferentes adversários da democracia no brasilFranco, Augusto (2018) Os diferentes adversários da democracia no brasil
Franco, Augusto (2018) Os diferentes adversários da democracia no brasilaugustodefranco .
 
A democracia sob ataque terá de ser reinventada
A democracia sob ataque terá de ser reinventadaA democracia sob ataque terá de ser reinventada
A democracia sob ataque terá de ser reinventadaaugustodefranco .
 
Algumas notas sobre os desafios de empreender em rede
Algumas notas sobre os desafios de empreender em redeAlgumas notas sobre os desafios de empreender em rede
Algumas notas sobre os desafios de empreender em redeaugustodefranco .
 
APRENDIZAGEM OU DERIVA ONTOGENICA
APRENDIZAGEM OU DERIVA ONTOGENICA APRENDIZAGEM OU DERIVA ONTOGENICA
APRENDIZAGEM OU DERIVA ONTOGENICA augustodefranco .
 
CONDORCET, Marquês de (1792). Relatório de projeto de decreto sobre a organiz...
CONDORCET, Marquês de (1792). Relatório de projeto de decreto sobre a organiz...CONDORCET, Marquês de (1792). Relatório de projeto de decreto sobre a organiz...
CONDORCET, Marquês de (1792). Relatório de projeto de decreto sobre a organiz...augustodefranco .
 
NIETZSCHE, Friederich (1888). Os "melhoradores" da humanidade, Parte 2 e O qu...
NIETZSCHE, Friederich (1888). Os "melhoradores" da humanidade, Parte 2 e O qu...NIETZSCHE, Friederich (1888). Os "melhoradores" da humanidade, Parte 2 e O qu...
NIETZSCHE, Friederich (1888). Os "melhoradores" da humanidade, Parte 2 e O qu...augustodefranco .
 
100 DIAS DE VERÃO BOOK DO PROGRAMA
100 DIAS DE VERÃO BOOK DO PROGRAMA100 DIAS DE VERÃO BOOK DO PROGRAMA
100 DIAS DE VERÃO BOOK DO PROGRAMAaugustodefranco .
 
Nunca a humanidade dependeu tanto da rede social
Nunca a humanidade dependeu tanto da rede socialNunca a humanidade dependeu tanto da rede social
Nunca a humanidade dependeu tanto da rede socialaugustodefranco .
 
Um sistema estatal de participação social?
Um sistema estatal de participação social?Um sistema estatal de participação social?
Um sistema estatal de participação social?augustodefranco .
 
Quando as eleições conspiram contra a democracia
Quando as eleições conspiram contra a democraciaQuando as eleições conspiram contra a democracia
Quando as eleições conspiram contra a democraciaaugustodefranco .
 
Democracia cooperativa: escritos políticos escolhidos de John Dewey
Democracia cooperativa: escritos políticos escolhidos de John DeweyDemocracia cooperativa: escritos políticos escolhidos de John Dewey
Democracia cooperativa: escritos políticos escolhidos de John Deweyaugustodefranco .
 
RELATÓRIO DO HUMAN RIGHTS WATCH SOBRE A VENEZUELA
RELATÓRIO DO HUMAN RIGHTS WATCH SOBRE A VENEZUELARELATÓRIO DO HUMAN RIGHTS WATCH SOBRE A VENEZUELA
RELATÓRIO DO HUMAN RIGHTS WATCH SOBRE A VENEZUELAaugustodefranco .
 
Diálogo democrático: um manual para practicantes
Diálogo democrático: um manual para practicantesDiálogo democrático: um manual para practicantes
Diálogo democrático: um manual para practicantesaugustodefranco .
 

Más de augustodefranco . (20)

Franco, Augusto (2017) Conservadorismo, liberalismo econômico e democracia
Franco, Augusto (2017) Conservadorismo, liberalismo econômico e democraciaFranco, Augusto (2017) Conservadorismo, liberalismo econômico e democracia
Franco, Augusto (2017) Conservadorismo, liberalismo econômico e democracia
 
Franco, Augusto (2018) Os diferentes adversários da democracia no brasil
Franco, Augusto (2018) Os diferentes adversários da democracia no brasilFranco, Augusto (2018) Os diferentes adversários da democracia no brasil
Franco, Augusto (2018) Os diferentes adversários da democracia no brasil
 
Hiérarchie
Hiérarchie Hiérarchie
Hiérarchie
 
A democracia sob ataque terá de ser reinventada
A democracia sob ataque terá de ser reinventadaA democracia sob ataque terá de ser reinventada
A democracia sob ataque terá de ser reinventada
 
JERARQUIA
JERARQUIAJERARQUIA
JERARQUIA
 
Algumas notas sobre os desafios de empreender em rede
Algumas notas sobre os desafios de empreender em redeAlgumas notas sobre os desafios de empreender em rede
Algumas notas sobre os desafios de empreender em rede
 
AS EMPRESAS DIANTE DA CRISE
AS EMPRESAS DIANTE DA CRISEAS EMPRESAS DIANTE DA CRISE
AS EMPRESAS DIANTE DA CRISE
 
APRENDIZAGEM OU DERIVA ONTOGENICA
APRENDIZAGEM OU DERIVA ONTOGENICA APRENDIZAGEM OU DERIVA ONTOGENICA
APRENDIZAGEM OU DERIVA ONTOGENICA
 
CONDORCET, Marquês de (1792). Relatório de projeto de decreto sobre a organiz...
CONDORCET, Marquês de (1792). Relatório de projeto de decreto sobre a organiz...CONDORCET, Marquês de (1792). Relatório de projeto de decreto sobre a organiz...
CONDORCET, Marquês de (1792). Relatório de projeto de decreto sobre a organiz...
 
NIETZSCHE, Friederich (1888). Os "melhoradores" da humanidade, Parte 2 e O qu...
NIETZSCHE, Friederich (1888). Os "melhoradores" da humanidade, Parte 2 e O qu...NIETZSCHE, Friederich (1888). Os "melhoradores" da humanidade, Parte 2 e O qu...
NIETZSCHE, Friederich (1888). Os "melhoradores" da humanidade, Parte 2 e O qu...
 
100 DIAS DE VERÃO BOOK DO PROGRAMA
100 DIAS DE VERÃO BOOK DO PROGRAMA100 DIAS DE VERÃO BOOK DO PROGRAMA
100 DIAS DE VERÃO BOOK DO PROGRAMA
 
Nunca a humanidade dependeu tanto da rede social
Nunca a humanidade dependeu tanto da rede socialNunca a humanidade dependeu tanto da rede social
Nunca a humanidade dependeu tanto da rede social
 
Um sistema estatal de participação social?
Um sistema estatal de participação social?Um sistema estatal de participação social?
Um sistema estatal de participação social?
 
Quando as eleições conspiram contra a democracia
Quando as eleições conspiram contra a democraciaQuando as eleições conspiram contra a democracia
Quando as eleições conspiram contra a democracia
 
100 DIAS DE VERÃO
100 DIAS DE VERÃO100 DIAS DE VERÃO
100 DIAS DE VERÃO
 
Democracia cooperativa: escritos políticos escolhidos de John Dewey
Democracia cooperativa: escritos políticos escolhidos de John DeweyDemocracia cooperativa: escritos políticos escolhidos de John Dewey
Democracia cooperativa: escritos políticos escolhidos de John Dewey
 
MULTIVERSIDADE NA ESCOLA
MULTIVERSIDADE NA ESCOLAMULTIVERSIDADE NA ESCOLA
MULTIVERSIDADE NA ESCOLA
 
DEMOCRACIA E REDES SOCIAIS
DEMOCRACIA E REDES SOCIAISDEMOCRACIA E REDES SOCIAIS
DEMOCRACIA E REDES SOCIAIS
 
RELATÓRIO DO HUMAN RIGHTS WATCH SOBRE A VENEZUELA
RELATÓRIO DO HUMAN RIGHTS WATCH SOBRE A VENEZUELARELATÓRIO DO HUMAN RIGHTS WATCH SOBRE A VENEZUELA
RELATÓRIO DO HUMAN RIGHTS WATCH SOBRE A VENEZUELA
 
Diálogo democrático: um manual para practicantes
Diálogo democrático: um manual para practicantesDiálogo democrático: um manual para practicantes
Diálogo democrático: um manual para practicantes
 

Fluzz pilulas 13

  • 1. Em pílulas Edição em 92 tópicos da versão preliminar integral do livro de Augusto de Franco (2011), FLUZZ: Vida humana e convivência social nos novos mundos altamente conectados do terceiro milênio 13 (Corresponde ao décimo-segundo tópico do Capítulo 1, intitulado No “lado de dentro” do abismo) Poder é uma medida de não-rede Centralização (hierarquização) não é o mesmo que clusterização Também era muito comum a confusão entre hierarquização (que é uma centralização) e clusterização (ou aglomeramento provocado pela dinâmica de uma rede). Isso dificultava a compreensão do fenômeno do poder nas redes sociais. Desse ponto de vista, aliás, seria o exato contrário: o poder não surge da clusterização e sim – juntamente com a exclusão de nodos e a obstrução de fluxos – do desatalhamento (supressão dos atalhos) entre clusters (aglomerados).
  • 2. O poder (como poder de mandar alguém fazer alguma coisa contra sua vontade, como, ao fim e ao cabo, se manifesta qualquer poder) é uma medida de não-rede (em termos de rede distribuída); quer dizer, é uma medida direta do grau de centralização (ou uma medida inversa do grau de distribuição) de uma rede. Ele ocorre (ou sobrevém) não quando os nodos se aglomeram em função da sua interação e sim, ao contrário, quando impedimos que tal aglomeramento se dê livremente (em virtude da dinâmica da interação), mas colocamos obstáculos, construímos cancelas ou selecionamos caminhos por onde ela (a interação) deve passar: sejam muros, cercas, paredes, escadas, portas e fechaduras, ou firewalls. Todo poder nasce de um impedimento imposto à livre fluição. Todo poder é uma introdução artificial (uma fabricação) de escassez de caminhos. Todo poder é uma tentativa de evitar a abundância de caminhos. Todo poder – necessariamente hierárquico – é uma reação à distribuição (29). A tendência nas redes sociais mais distribuídas do que centralizadas é que os clusters não fiquem isolados, mas interligados, interagindo entre si. Simplesmente porque eles acabarão, mais cedo ou mais tarde, fazendo isso – desde que não se o impeça. Fundamentalmente, porque eles podem fazer isso! A clusterização em redes sociais tende a aumentar à medida que essas redes vão aumentando seu grau de distribuição e conectividade (quer dizer, de interatividade). Esse é um indicador da transição para a sociedade em rede, na qual vão se alterando as configurações congeladas pelas fortíssimas centralizações impostas pelo sistema de equilíbrio competitivo entre menos de duas centenas de Estados-nações em um mundo de quase 7 bilhões de habitantes. Em termos políticos (ou geopolíticos), a clusterização sócio-territorial que conforma e dá identidade a miríades de novas comunidades (de aprendizagem, de projeto e de prática – clusters de convivência enfim) é uma expressão do localismo cosmopolita que floresce à medida em que a globalização do local encontra a localização do global. Isso está na origem dos Highly Connected Words que emergem em uma época-fluzz. 2
  • 3. Nota (29) Cf. FRANCO, Augusto (2009). O poder nas redes sociais. Slideshare [1.890 views em 22/01/2011] <http://www.slideshare.net/augustodefranco/o-poder-nas-redes-sociais-2a- versao> 3