1) O documento analisa o perfil nutricional de 98 crianças de 21 a 47 meses de idade matriculadas em escolas municipais de educação infantil em Brumadinho, Minas Gerais; 2) Os resultados mostraram que 33,71% das crianças do berçário e maternal apresentavam sobrepeso, obesidade ou risco para sobrepeso, enquanto 5,6% estavam desnutridas; 3) Isso levou a adequações no cardápio escolar em 2011 para diminuir casos de sobrepeso e obesidade e atender também crian
1. Planejamento de Cardápio através da análise do perfil nutricional dos alunos de
21 a 47 meses de idade das Escolas Municipais de Educação Infantil da
Prefeitura de Brumadinho, Minas Gerais.
Vanessa Ferreira de Andrade1
1Graduada em Nutrição pela Universidade Federal de Ouro Preto - UFOP, Pós-
graduada em Nutrição Clínica, Especialista em Nutrição Clínica, Nutricionista
Responsável Técnica pelo Programa de Alimentação Escolar (PNAE) da Prefeitura
Municipal de Brumadinho – MG.
Introdução
_____________________________________________________________________
A Pesquisa de Orçamentos Familiares – POF 2002- 2003 divulgada pelo Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) aponta resultados positivos sobre a
diminuição da desnutrição infantil no país nos últimos 30 anos (POF, 2006).
Nas últimas décadas, a prevalência de sobrepeso e obesidade tem aumentado de
forma preocupante em todo o mundo, sendo este crescimento observado tanto em
países desenvolvidos como naqueles em desenvolvimento, como é o caso do Brasil
(Wang, 2002).
Diante desse quadro, a elaboração de estratégias de combate à obesidade tem sido
centralizada em medidas que visam à prevenção, e não o tratamento desta doença,
sendo o maior público alvo destas estratégias, as crianças e os adolescentes. Este
delineamento de intervenção se justifica, uma vez que, inúmeras evidências indicam
que crianças obesas têm forte probabilidade de se tornarem adultos obesos (GUO,
1999). Além disso, comportamentos que asseguram proteção ao surgimento da
obesidade, quando iniciados durante a juventude, tendem a se perpetuar até a fase
adulta (ALVES, 2005).
O Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) garante a alimentação escolar
dos alunos de toda a educação básica matriculados em escolas públicas e
filantrópicas. Seu objetivo é atender as necessidades nutricionais dos alunos durante
sua permanência em sala de aula, bem como promover a formação de hábitos
alimentares saudáveis (FNDE, 2011).
O atendimento infantil, operacionalizado por meio de creches públicas, pode contribuir,
de maneira positiva, para o crescimento e o desenvolvimento das crianças. As creches
podem ainda exercer o papel preventivo no sentido de evitar a desnutrição (SILVA,
1998), sobrepeso e obesidade.
Um estudo realizado com base nas informações das crianças menores de seis anos,
integrantes da Pesquisa Nacional sobre Saúde e Nutrição (PNSN) (Brasil, 1990) em
1989 verificou que 16,67% das crianças que não freqüentavam creche revelavam
déficits de estatura.
2. Em contrapartida, pesquisas realizadas com pré-escolares revelam que uma
alimentação inadequada pode causar problemas não só relacionados à desnutrição ou
a obesidade, como também à anemia por deficiência de ferro e a hipovitaminose A
(JORDÃO, 2009; MARTINS, 2004; OSÓRIO, 2011; RAMALHO, 2008).
Considerando a influência que o estado nutricional exerce no crescimento e no
desenvolvimento infantil, é importante destacar que vários trabalhos têm demonstrado
deficiência de energia e de certos nutrientes como ferro, cálcio, vitamina A e vitamina
C na alimentação de pré-escolares (CASTRO, 2005; MAGALHÃES, 2011; SALEY.
1995; SPINELLI, 2003; SZARFARC, 1988).
Tendo como base essas considerações, o presente trabalho tem o objetivo de
mostrar a real finalidade de se traçar o perfil nutricional dos alunos para a elaboração
de cardápios do programa de alimentação escolar das Escolas Municipais de
Educação Infantil.
Material e Métodos
_____________________________________________________________________
Os dados analisados neste trabalho integram pesquisa de natureza quali-
quantitativa.
Foram coletados dados antropométricos (peso, altura, idade, circunferência da cintura
e torácica) dos alunos matriculados nas Escolas Municipais de Educação Infantil
(EMEI) da Prefeitura de Brumadinho no período de julho a agosto de 2008. Foram
utilizados os índices para crianças de acordo com a recomendação do NCHS 2000.
Utilizou-se o Epiinfo para análise estatística. Foi considerado nível de significância de
5%.
Para a coleta de dados sobre os itens adquiridos para a alimentação escolar, foi
considerado o contrato de gêneros alimentos perecíveis e não-perecíveis referente ao
ano de 2011.
Já para a avaliação nutricional dos alunos, baseou-se em uma amostra de
conveniência composta de todas os alunos matriculados nas EMEI’s.
A coleta de dados foi realizada pela Responsável Técnica do PNAE de Brumadinho.
Análise estatística foi realizada com o Epiinfo, de domínio público, e envolveu tabelas
de freqüência, média e desvio-padrão e comparações com qui-quadrado e teste-t de
student, ANOVA ou Mann-Whitney de acordo com a característica das variáveis. Foi
considerado o nível de significância estatística de 5%.
Resultados e discussão
_____________________________________________________________________
Amostra composta de 98 crianças (39,2%). A dimensão da amostra (intervalo de
confiança), segundo avaliação utilizada pelo Epiinfo, apresentou-se satisfatória (>95%
de confiança).
3. A idade mínima, média e máxima foram, respectivamente, 21, 33 e 47 meses de
idade. O peso e a altura média foram 14,5 Kg e 93,15 cm. O Índice de Massa
Corpórea (IMC) mínimo, médio e máximo foram, respectivamente, 13,96, 16,76 e
26,63 Kg/m2. A circunferência braqueal média foi 16,2 cm.
Segundo o IMC (NCHS 2000), há 60,67% de alunos eutróficos, 5,62% de
desnutridos, 10,11% de sobrepeso, 7,87% de obesos e 15,73% com risco para
obesidade.
De acordo com o índice peso/altura (NCHS 2000), há 70,79% de alunos eutróficos,
1,12% de desnutridos graves, 5,62% de desnutridos, 11,24% de sobrepeso e 11,24%
de obesos.
Segundo o índice peso/idade (NCHS 2000), há 76,40% de alunos eutróficos, 2,25% de
desnutridos graves, 2,25% de desnutridos, 10,11% de sobrepeso e 5,62% de obesos.
De acordo com o índice circunferência de cintura/circunferência torácica (NCHS 2000),
há 15,73% de alunos eutróficos, 80,90% de desnutridos.
Segundo o índice altura/idade (NCHS 2000), há 83,15% de alunos eutróficos, 5,62%
de desnutridos graves, 6,74% de alunos desnutridos, 3,37% de alunos sobrepeso e
1,12% de alunos com obesidade.
Houve correlação estatística (Epiinfo) significativa entre:
1. peso e CB (Kruskal-Walls p-value 0,0309);
2. peso e diagnóstico CC/CT (ANOVA p-value 0,0055 e Kruskal-Walls p-value 0,0025);
3. peso e diagnóstico A/I (ANOVA p-value 0,0001 e Kruskal-Walls p-value 0,001);
4. altura e diagnóstico P/I (ANOVA p-value 0,0024 e Kruskal-Walls p-value 0,0054);
5. IMC e CB (Kruskal-Walls p-value 0,0109);
6. CB e diagnóstico CC/CT (ANOVA p-value 0,0188 e Kruskal-Walls p-value 0,0102);
7. CB e diagnóstico IMC (qui-square p-value 0,0041);
8. CT/CC e diagnóstico P/I (Kruskal-Walls p-value 0,0015);
9. CT/CC e IMC (Kruskal-Walls p-value 0,0029);
10. Diagnóstico CT/CC e IMC (ANOVA p-value 0,0234 e Kruskal-Walls p-value
0,0272).
Foi detectado que há alta porcentagem (33,71%) de alunos do berçário e do maternal
com sobrepeso, obesidade e risco para sobrepeso. Já a desnutrição, atingiu cerca de
5,6%. Diante disso, iniciou-se, em 2011, adequação quanto à aquisição de gêneros
alimentícios perecíveis e não perecíveis para elaboração de cardápio, visando à
diminuição e prevenção de casos de sobrepeso e de obesidade nos alunos. E,
consequentemente, atenderia, também, as crianças desnutridas e as eutróficas.
Os itens adquiridos em 2011 encontra-se na tabela 1. Nesta, foi dividida em itens
perecíveis (carnes – bovina, suína e aves; hortifrutigranjeiros, pães, leite) e itens não
perecíveis (demais gêneros alimentícios).
Tabela 1 – Gêneros perecíveis e
não perecíveis adquiridos em
4. 2011
Grupo de Alimentos Adquiridos – Não Perecíveis Alimentos Adquiridos – Perecíveis
Alimentos
arroz, farinha de mandioca, farinha de trigo,
macarrão (espaguete e padre nosso), milho
Alimentos para pipoca, trigo para quibe, biscoito tipo Pão doce, pão de sal.
Energéticos maisena, biscoito tipo cream-cracker,
biscoito tipo rosquinha, cereal pré-cozido
(milho e multicereais), farinha de aveia,
polvilho azedo, fubá, canjiquinha.
Frutas: pera, banana prata, banana
caturra, laranja lima, laranja pera, limão,
maçã, mamão, melancia, mexerica;
Vegetal A: abobrinha menina, alho,
Alimentos Extrato de tomate, suco de laranja, suco de berinjela, cebola, couve-flor, pepino,
Reguladores uva, suco de manga, suco de abacaxi. pimentão, tomate; Vegetal B: beterraba,
cenoura, chuchu, milho verde, moranga,
quiabo, vagem; Vegetal C: batata doce,
batata lisa, cará, inhame, mandioca,
mandioquinha; Folhosos: acelga, agrião,
alface, almeirão, brócolis, cebolinha,
salsinha, couve, espinafre, hortelã,
mostarda, repolho (roxo e híbrido).
Alimentos Feijão. Leite integral, carne bovina (moída e isca),
Construtores carne suína (isca), filet de peito de frango,
ovos.
Alimentos
Energéticos Achocolatado, açúcar, margarina, óleo de
Extras soja.
Outros - Colorau, pó para café, sal, vinagre, chá
Moderação mate, chá de camomila, chá de cidreira, chá
de erva-doce.
Na tabela 2, encontram-se a quantidade e a porcentagem de itens adquiridos
em 2011 por grupo de alimentos.
Destaca-se o grupo de alimentos reguladores (vegetais, frutas e folhosos) que
corresponderam a 56,97% do total de itens adquiridos em 2011.
Tabela 2 – Quantidade
de Itens Adquiridos /
Gêneros perecíveis e não
perecíveis em 2011
Grupo de Quantidade Total de Itens Quantidade Total de Itens Total
Alimentos Adquiridos – Não Adquiridos – Perecíveis
Perecíveis
Total de 34 52 86
itens
Por Grupo
5. de
Alimentos
Alimentos 16 (47,05%) 2 (3,84%) 18 (20,93%)
Energético
s
Alimentos 5 (14,70%) Total: 44 (84,61%) 49 (56,97%)
Reguladore Frutas: 10 (19,23%)
s Vegetal A: 8 (15,38%)
Vegetal B: 7 (13,46%)
Vegetal C: 6 (11,53%)
Folhosos:13 (24,99%)
Alimentos 1 (2,94%) 6 (11,53%) 7 (8,13%)
Construtor
es
Alimentos 4 (11,76%) 0 (0%) 4 (4,65%)
Energético
s Extras
Outros - 8 (23,52%) 0 (0%) 8 (9,30%)
Moderação
Semanalmente, as Escolas receberam em 2011 variados itens de gêneros
alimentícios. Os alunos de período parcial (alunos permanecem na escola em meio
horário – manhã, tarde ou noite) possuem itens variados de hortifrutigranjeiros/semana
(frutas - 3 tipos; folhosos – 5 tipos; vegetais do grupo A – 5 tipos; vegetais do grupo B
– 3 tipos; vegetais do grupo C – 2 tipos; ovos), gêneros alimentícios não-perecíveis (35
itens), leite pasteurizado, carnes resfriadas (isca bovina, isca suína, filet de peito de
frango e carne moída).
Já as Escolas de tempo integral (alunos permanecem dois turnos nas escolas), os
folhosos são aumentados para 7 tipos; o vegetal B e as frutas para 5 tipos. Os demais
gêneros alimentícios, a variedade é a mesma do período parcial.
Para os alunos do berçário, além dos itens anteriores, há dois tipos de frutas
exclusivas (pera e laranja lima).
As EMEI’s são compostas de alunos do berçário, maternal e do pré-escolar.
Normalmente, a maioria destes são integrantes do tempo integral. No tempo integral,
são distribuídas 4 refeições/dia.
O custo médio da refeição para os alunos do tempo integral foi de R$0,24 para a
creche e de R$0,41 para a pré-escola.
Conclusões
_____________________________________________________________________
Sabe-se que a formação de hábitos alimentares saudáveis inicia-se desde a infância.
Tendo em vista que há alto percentual de alunos com sobrepeso, obesidade e risco
para obesidade, os itens que compõe o cardápio da alimentação escolar das Escolas
de Brumadinho possuem gêneros alimentícios essenciais para a formação de hábitos
alimentares saudáveis (56,97% dos itens pertencem ao grupo dos reguladores –
vegetais A, B e C, frutas e folhosos), e, também, a adequação e manutenção de peso
corpóreo dos alunos.
6. O custo do cardápio para a creche e pré-escola é, respectivamente, R$0,24 e R$0,41.
Considerando que a alimentação destes alunos é de excelente qualidade nutricional,
conseguiu-se a eficientização da verba do PNAE.
Dessa forma, espera-se que o presente estudo possa contribuir para investigações
mais profundas a respeito do perfil nutricional e hábitos alimentares dos alunos que
aderem ao Programa Nacional de Alimentação Escolar e, consequentemente, adequar
o cardápio às necessidades nutricionais da comunidade escolar.
Referências Bibliográficas
_____________________________________________________________________
ALVES JGB, Montenegro FMU, Oliveira FA, Alves RV. Prática de esportes durante a
adolescência e atividade física de lazer na vida adulta. Rev Bras Med Esporte 2005;
11(5): 91- 4.
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nacional sobre saúde e nutrição. Brasília, DF, 1990. 33p.
CASTRO, T. G. et al. Caracterização do consumo alimentar, ambiente
socioeconômico e estado nutricional de pré-escolares de creches municipais. Rev.
Nutr.,v. 18, n. 3, p. 321-
330, 2005.
FNDE - Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação. Relatório de atividades
[Internet]. Brasília: MEC; 2011. Disponível em:
http://www.fnde.gov.br/index.php/programas-alimentacao-escolar
GUO SS, Chumlea WC. Tracking of body mass index in children in relation to
overweight in adulthood. Am J Clin Nutr 1999; 70(1):145s- 8s.
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Pesquisa de
orçamentos familiares 2002-2003: antropometria e análise do estado nutricional de
crianças e dolescentes no Brasil. Rio de Janeiro, 2006. 144p.
JORDÃO, R. E.; BERNARDI, J. L. D.; BARROS FILHO, A. A. Prevalência de anemia
ferropriva no Brasil: uma revisão sistemática. Rev. Paul. Pediatr., v. 27, n. 1, p. 90-98,
2009.
MAGALHÃES, P.; RAMALHO, R. A.; COLLI, C. Defi ciência de ferro e de vitamina A:
avaliação nutricional de pré-escolares de Viçosa (MG/Brasil). J. Brazilian Soc. Food
Nutr., v. 21, p. 41-56, 2001.
7. MARTINS, M. C.; SANTOS, L. M. P.; ASSIS, A. M. O. Prevalência da hipovitaminose
A em pré-escolares no Estado de Sergipe, 1998. Rev. Saúde Pública, v. 38, n. 4, p.
537-542, 2004.
OSÓRIO, M. M.; LIRA, P. I. C.; BATISTA-FILHO, M. Prevalence of anemia in children
6-59 months old in the state of Pernambuco. Rev. Panam. Salud Publica, v. 10, n. 2,
p. 101-107, 2001.
RAMALHO, A.; PADILHA, P.; SAUNDERS, C. Análise crítica de estudos brasileiros
sobre defi ciência de vitamina A no grupo materno-infantil. Rev. Paul. Pediatr., v. 26,
n. 4, p. 392-399, 2008.
SALAY, E.; CARVALHO, J. F. Avaliação do programa de merenda escolar do
município de Campinas, Brasil. Arch. Latinoam. Nutr., v. 45, n. 3, p. 167-171, 1995.
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nutricional infantil. Rev. Nutr., v. 11, n. 1, p. 58-68, 1998.
SPINELLI, M. G. N. et al. Consumo alimentar de crianças de 6 a 18 meses em
creches. Rev. Nutr., v. 16, n. 4, p. 409-414, 2003.
SZARFARC, S. C. et al. Estudo das condições de saúde das crianças do município de
São Paulo, SP, 1984/1985. Rev. Saúde Pública, v. 22, n. 4, p. 266-272, 1988.
WANG Y, Monteiro CA, Popkin BM. Trends of obesity and underweight in older
children and adolescents in the United States, Brazil, China, and Russia. Am J Clin
Nutr 2002; 75(6): 971- 7.
8. RESUMO EXPANDIDO
Planejamento de Cardápio através da análise do perfil nutricional dos alunos de
21 a 47 meses de idade das Escolas Municipais de Educação Infantil da
Prefeitura de Brumadinho, Minas Gerais.
Gerais.
Vanessa Ferreira de Andrade - Graduada em Nutrição pela Universidade Federal de
Ouro Preto - UFOP, Pós-graduada em Nutrição Clínica, Especialista em Nutrição
Clínica, Nutricionista Responsável Técnica pelo Programa de Alimentação Escolar
(PNAE) da Prefeitura Municipal de Brumadinho – MG.
Introdução
A POF aponta resultados positivos sobre a diminuição da desnutrição infantil no país
nos últimos 30 anos (POF, 2006). Nas últimas décadas, a prevalência de sobrepeso e
obesidade tem aumentado de forma preocupante em todo o mundo (WANG, 2002).
Diante desse quadro, a elaboração de estratégias de combate à obesidade tem sido
centralizada em medidas que visam à prevenção, sendo o maior público alvo destas
estratégias, as crianças e os adolescentes. (GUO, 1999). Além disso, comportamentos
que asseguram proteção ao surgimento da obesidade, quando iniciados durante a
juventude, tendem a se perpetuar até a fase adulta (ALVES, 2005).
Tendo como base essas considerações, o presente trabalho tem o objetivo de
mostrar a real finalidade de se traçar o perfil nutricional dos alunos para a elaboração
de cardápios do programa de alimentação escolar das Escolas Municipais de
Educação Infantil.
Material e Métodos
Foram coletados dados antropométricos (peso, altura, idade, circunferência da
cintura e torácica) dos alunos matriculados nas Escolas Municipais de Educação
Infantil (EMEI) da Prefeitura de Brumadinho no período de julho a agosto de 2008.
Utilizados os índices para crianças de acordo com a recomendação do NCHS 2000.
Para a coleta de dados sobre os itens adquiridos para a alimentação escolar, foi
considerado o contrato de gêneros alimentos referente ao ano de 2011. Já para a
avaliação nutricional dos alunos, baseou-se em uma amostra de conveniência
composta de todas os alunos matriculados nas EMEI’s. A coleta de dados foi realizada
pela Responsável Técnica do PNAE de Brumadinho. Análise estatística foi realizada
com o Epiinfo. Foi considerado o nível de significância estatística de 5%.
Resultados e discussão
Amostra composta de 98 crianças (39,2%). A dimensão da amostra (intervalo de
confiança), segundo avaliação utilizada pelo Epiinfo, apresentou-se satisfatória (>95%
de confiança). A idade mínima, média e máxima foram, respectivamente, 21, 33 e 47
meses de idade. O peso e a altura média foram 14,5 Kg e 93,15 cm. O Índice de
Massa Corpórea (IMC) mínimo, médio e máximo foram, respectivamente, 13,96, 16,76
e 26,63 Kg/m2. A circunferência braqueal média foi 16,2 cm.
9. Segundo o IMC (NCHS 2000), há 60,67% de alunos eutróficos, 5,62% de
desnutridos, 10,11% de sobrepeso, 7,87% de obesos e 15,73% com risco para
obesidade. Foi detectado que há alta porcentagem (33,71%) de alunos do berçário e
do maternal com sobrepeso, obesidade e risco para sobrepeso. Diante disso, iniciou-
se, em 2011, adequação quanto à aquisição de gêneros alimentícios perecíveis e não
perecíveis para elaboração de cardápio, visando à diminuição e prevenção de casos
de sobrepeso e de obesidade nos alunos. E, consequentemente, atenderia, também,
as crianças desnutridas e as eutróficas.
Os itens adquiridos em 2011 encontra-se na tabela 1.
Tabela 1 – Gêneros perecíveis e não
perecíveis adquiridos em 2011
Grupo de Alimentos Alimentos Adquiridos – Não Perecíveis – N= 34 Alimentos Adquiridos – Perecíveis – N=52
arroz, farinha de mandioca, farinha de trigo, macarrão
(espaguete e padre nosso), milho para pipoca, trigo
Alimentos para quibe, biscoito tipo maisena, biscoito tipo cream- Pão doce, pão de sal.
Energéticos cracker, biscoito tipo rosquinha, cereal pré-cozido
(milho e multicereais), farinha de aveia, polvilho azedo,
fubá, canjiquinha.
Frutas: pera, banana prata, banana caturra, laranja
lima, laranja pera, limão, maçã, mamão, melancia,
mexerica; Vegetal A: abobrinha menina, alho,
berinjela, cebola, couve-flor, pepino, pimentão,
Alimentos Extrato de tomate, suco de laranja, suco de uva, suco tomate; Vegetal B: beterraba, cenoura, chuchu,
Reguladores de manga, suco de abacaxi. milho verde, moranga, quiabo, vagem; Vegetal C:
batata doce, batata lisa, cará, inhame, mandioca,
mandioquinha; Folhosos: acelga, agrião, alface,
almeirão, brócolis, cebolinha, salsinha, couve,
espinafre, hortelã, mostarda, repolho (roxo e
híbrido).
Alimentos Leite integral, carne bovina (moída e isca), carne
Construtores Feijão. suína (isca), filet de peito de frango, ovos.
Alimentos Achocolatado, açúcar, margarina, óleo de soja.
Energéticos Extras
Outros - Moderação Colorau, pó para café, sal, vinagre, chá mate, chá de
camomila, chá de cidreira, chá de erva-doce.
Na tabela 2, encontram-se a quantidade e a porcentagem de itens adquiridos
em 2011 por grupo de alimentos.
Destaca-se o grupo de alimentos reguladores (vegetais, frutas e folhosos) que
corresponderam a 56,97% do total de itens adquiridos em 2011.
Tabela 2 – Quantidade de Itens
Adquiridos / Gêneros
perecíveis e não perecíveis em
2011
Grupo de Quantidade Total de Itens Quantidade Total de Itens Total
Alimentos Adquiridos – Não Perecíveis Adquiridos – Perecíveis
Total de itens 34 52 86
Por Grupo de
Alimentos
Alimentos 16 (47,05%) 2 (3,84%) 18 (20,93%)
Energéticos
Alimentos 5 (14,70%) Total: 44 (84,61%); Frutas: 10 49 (56,97%)
Reguladores (19,23%);Vegetal A: 8
(15,38%);Vegetal B: 7
(13,46%);Vegetal C: 6 (11,53%);
Folhosos:13 (24,99%)
Alimentos 1 (2,94%) 6 (11,53%) 7 (8,13%)
Construtores
Alimentos 4 (11,76%) 0 (0%) 4 (4,65%)
Energéticos
10. Extras
Outros - 8 (23,52%) 0 (0%) 8 (9,30%)
Moderação
Semanalmente, as Escolas receberam em 2011 variados itens de gêneros
alimentícios. Os alunos de período parcial (alunos permanecem na escola em meio
horário – manhã, tarde ou noite) possuem itens variados de hortifrutigranjeiros/semana
(frutas - 3 tipos; folhosos – 5 tipos; vegetais do grupo A – 5 tipos; vegetais do grupo B
– 3 tipos; vegetais do grupo C – 2 tipos; ovos), gêneros alimentícios não-perecíveis (35
itens), leite pasteurizado, carnes resfriadas (isca bovina, isca suína, filet de peito de
frango e carne moída). Já as Escolas de tempo integral (alunos permanecem dois
turnos nas escolas), os folhosos são aumentados para 7 tipos; o vegetal B e as frutas
para 5 tipos. Os demais gêneros alimentícios, a variedade é a mesma do período
parcial.
Para os alunos do berçário, além dos itens anteriores, há dois tipos de frutas
exclusivas (pera e laranja lima).
As EMEI’s são compostas de alunos do berçário, maternal e do pré-escolar.
Normalmente, a maioria destes são integrantes do tempo integral.
Conclusões
Sabe-se que a formação de hábitos alimentares saudáveis inicia-se desde a infância.
Tendo em vista que há alto percentual de alunos com sobrepeso, obesidade e risco
para obesidade, os itens que compõe o cardápio da alimentação escolar das Escolas
de Brumadinho possuem gêneros alimentícios essenciais para a formação de hábitos
alimentares saudáveis (56,97% dos itens pertencem ao grupo dos reguladores –
vegetais A, B e C, frutas e folhosos), e, também, a adequação e manutenção de peso
corpóreo dos alunos. O custo médio do cardápio para a creche e pré-escola é,
respectivamente, R$0,24 e R$0,41. Considerando que a alimentação destes alunos é
de excelente qualidade nutricional, conseguiu-se a eficientização da verba do PNAE.
Dessa forma, espera-se que o presente estudo possa contribuir para investigações
mais profundas a respeito do perfil nutricional e hábitos alimentares dos alunos que
aderem ao Programa Nacional de Alimentação Escolar e, consequentemente, adequar
o cardápio às necessidades nutricionais da comunidade escolar.
Referências Bibliográficas
ALVES JGB, Montenegro FMU, Oliveira FA, Alves RV. Prática de esportes durante a
adolescência e atividade física de lazer na vida adulta. Rev Bras Med Esporte 2005;
11(5): 91- 4.
GUO SS, Chumlea WC. Tracking of body mass index in children in relation to
overweight in adulthood. Am J Clin Nutr 1999; 70(1):145s- 8s.
IBGE. Pesquisa de orçamentos familiares 2002-2003: antropometria e análise do
estado nutricional de crianças e dolescentes no Brasil. Rio de Janeiro, 2006. 144p.
11. WANG Y, Monteiro CA, Popkin BM. Trends of obesity and underweight in older
children and adolescents in the United States, Brazil, China, and Russia. Am J Clin
Nutr 2002; 75(6): 971- 7.