1. Introdução
Em minha caminhada cristã enfrentei, como
todos os cristãos, situações difíceis em diversas áreas da
vida. E, nestes tempos de angústia e aperto uma inevitá-
vel pergunta dominava meu coração: por que isto está
acontecendo? Ousava argumentar com o meu Deus,
colocando e expondo as “grandes” obras que realizava
para Seu Reino.
Não eram dificuldades de comunhão com o
Senhor, mas havia dificuldades que não permitiam que
eu avançasse e crescesse no Reino de Deus, alcançando
as promessas da Sua palavra.
Não me sentia satisfeito com a vida cristã que
vivia. Precisava de mais!
A argumentação avançava, questionava e discutia
sobre o cumprimento de tantas promessas liberadas
sobre minha vida e da minha família. Por que não se
cumpriam? O que estava errado?
1.
2. SÉRIE C ONHEÇA M AIS
E, penso que no coração da maioria dos cristãos
há uma série de perguntas que certamente estão presen-
tes:
Como alcançar as promessas de Deus ou Como
obter o êxito prometido na Sua Palavra?
Como alcançar o favor de Deus e o êxito nas
diversas áreas da vida?
Comecei a olhar, ler, meditar e estudar a Bíblia
com o propósito de acertar definitivamente a minha
vida presente e futura com o Senhor. Desta forma,
deparei-me com a leitura do livro de Ageu.
Neste tempo percebi grandes verdades para a
minha vida e princípios que não estavam totalmente
presentes em mim e, constatei que ali estava parte do
“problema” em não alcançar o todo de Deus.
Certamente existem outros princípios e valores
nas Escrituras que nos levam a crescer em Deus e avan-
çar no Reino. Mas, um estudo mais profundo no livro
de Ageu fez-me ver uma realidade diante de mim.
O presente estudo tem por objetivo trazer luz
sobre um desafio apresentado na Palavra de Deus e
2.
3. E SFORÇA-TE
uma visão clara para nossos dias baseado em um dos
períodos mais marcantes do povo de Israel.
Consideramos que a História da Nação de Israel
nos traz grandes ensinamentos. A própria Palavra de
Deus ensina que tudo o que outrora foi escrito, para nosso
ensino foi escrito1. Os acontecimentos que sucederam à
Israel servem-nos, como Igreja, de exemplos. Paulo
escreve à Igreja em Corinto que tudo isto lhes aconteceu
como exemplos, e estas coisas estão escritas para aviso
nosso…2
Assim o Antigo Testamento serve de referência e
parâmetro para andarmos na nossa geração como Povo
de Deus. Não podemos em nenhuma hipótese despre-
zar o que aconteceu com Israel, como povo de Deus.
Nós somos o Israel de Deus3.
A História de Israel e das nações à sua volta, retra-
tada no Antigo Testamento é permeada de vitórias,
grandes vitórias, derrotas e grandes fracassos. Exem-
1 Rm 15:4 e 1Co
2 1Co 10:11. Paulo inclusive cita alguns acontecimentos da nação
de Israel e que, provavelmente estavam presentes na Igreja à quem
ele endereça a carta.
3 Gl 6:16
3.
4. SÉRIE C ONHEÇA M AIS
plos de obediência e de desobediência. Histórias de
homens e mulheres tementes e amantes de Deus e his-
tórias de homens e mulheres apóstatas e idólatras.
Exemplos e histórias de êxitos e fracassos.
A nossa vida cristã, nesta geração, não é muito
diferente, no que se refere aos acontecimentos, à histó-
ria de Israel. Há cristãos que experienciam vitórias a
partir da obediência, temor e amor a Deus. Outros
experimentam grandes fracassos e derrotas.
Queremos refletir sobre as razões do êxito e do
fracasso na vida cristã e em todas as áreas da vida.
Queremos refletir sobre a necessidade de cada
cristão envolver-se mais ativamente na obra cristã, uma
vez que o êxito nas demais áreas está diretamente
ligado a isto.
Queremos refletir sobre o caminho para que o
propósito de Deus se cumpra na vida de cada cristão.
Basearemos este estudo no livro do profeta Ageu,
um dos chamados “profetas menores”, e os livros de
Esdras e Neemias.
4.
5. Contexto – o caminho da
glória para o fracasso
O contexto imediato do livro de Ageu refere-se ao
período em que Deus ordenou que o templo outrora
construído no reinado de Salomão (971-931 a.C.) e
destruído sob ordem de Nabucodonosor, rei da Babilô-
nia (586 a.C.) fosse reconstruído, após o Exílio da Babi-
lônia.
Há vários fatores e razões que causaram o Exílio.
Podemos enumerá-las:
Primeiramente a Indiferença ou religiosidade –
aparentemente uma coisa nada tem a ver com a outra,
mas, podemos entender que uma é a causa e a outra o
efeito.
Quando o rei Davi ascendeu ao trono, Israel
experimentou um tempo de conquista e avanço do
reino e prosperidade em todas as áreas, inclusive no
que diz respeito ao culto a Deus.
5.
6. SÉRIE C ONHEÇA M AIS
Durante os 40 anos do reinado de Davi, as fron-
teiras da nação se estenderam para além das promessas
de Deus dadas aos patriarcas. O comércio exterior era
abundante e Israel e seus habitantes experimentavam
grande prosperidade. Davi havia organizado a tribo de
Levi de tal modo que o culto a Deus era permeado de
intenso louvor e adoração.
A abundância e prosperidade avançaram para
outro período de 40 anos do reinado de Salomão,
sucessor de Davi. O desejo de Davi em construir um
templo para Yahweh4 foi consumado por Salomão.
Um grandioso templo em que a glória de Deus se mani-
festava envolta numa nuvem. O templo tornara-se a
habitação do próprio Deus5.
Durante o reinado de Salomão Israel viveu seu
auge como nação, tendo o reconhecimento dos povos
ao seu redor e até dos mais distantes6.
Após a morte de Salomão, a unidade das tribos
conquistada por Davi, não pôde mais ser mantida e em
931 a.C. o reino se dividiu em dois: o Reino do Norte,
4 Yahweh, ou Jeová é designação para Senhor.
5 Sl 132:13-14
6 Ver, por exemplo, a vista da Rainha de Sabá relatada em 1RS 10.
6.
7. E SFORÇA-TE
composto por 10 tribos, agora denominado Israel, e o
Reino do Sul, com as 2 outras tribos, chamado de Judá.
A partir da divisão de reino, o Reino de Norte,
sob a liderança do Rei Jeroboão, tornou-se uma nação
completamente idólatra com a institucionalização do
culto a dois bezerros de ouro e a constituição de sacer-
dotes de qualquer tribo, renunciando assim, à exclusi-
vidade determinada por Deus à tribo de Levi.
Desta forma, todo o povo tornou-se idólatra, bem
como os seus governantes.
Em 722 a.C., Deus levantou a nação da Assíria
para invadir e conquistar o Reino do Norte e sua capi-
tal Samaria e levar cativos os seus habitantes. Para sub-
jugar totalmente o Reino, trouxe de outros países
conquistados, exilados para habitar ali. Com a mistura
destes povos, não foi mais possível manter a pureza das
tribos de Israel que compunham o Reino do Norte, o
que fez com que definitivamente o Reino do Sul des-
prezasse completamente as tribos do norte. As conse-
quências disso podem ser vistas no Novo Testamento,
onde o desprezo e, muitas vezes até ódio, é expresso
pelos habitantes das províncias do sul aos “samarita-
nos” descendentes das dez tribos do Norte.
7.
8. SÉRIE C ONHEÇA M AIS
O reino do Sul, por sua vez, mantinha o culto a
Yahweh, no Templo de Salomão. Seguiram-se períodos
de intensa adoração e devoção a Deus, e outros em que
a idolatria aos deuses das nações vizinhas à Israel domi-
nava a vida religiosa do povo.
Os profetas de Deus surgiram neste período,
exortando e advertindo o povo sobre as consequências
da idolatria7. Mas o comportamento e reações do povo
foram na maioria das vezes completamente indiferente
aos oráculos de Deus.
O culto a Deus resumia-se a cumprir aos rituais
estabelecidos na Lei, sem a devoção e adoração genuína
do coração, até ao ponto onde Deus, através do profeta
Isaías declara:
De que me serve a multidão dos vossos sacrifícios?, diz o
Senhor. Já estou farto dos holocaustos de carneiros, e da
gordura de animais cevados… – Is 1:11
Diz o Senhor: Este povo se aproxima de mim com a sua
boca e com os seus lábios me honra, mas o seu coração
está longe de mim. O seu temor para comigo consiste só
7 Ver, por exemplo, Is 1, onde Deus compara a atualidade idólatra
de Israel com Sodoma e Gomorra, cidades que foram destruídas
por Deus.
8.
9. E SFORÇA-TE
em mandamentos de homens, em coisa aprendida por
rotina. – Is 29:13
A indiferença e, a consequente religiosidade tive-
ram seu ponto alto quando a liderança espiritual e polí-
tica da época, já não se importava com nada do que
concernia ao temor a Deus.
Os seus chefes dão as sentenças por suborno, os seus
sacerdotes ensinam por interesse e os seus profetas adivi-
nham por dinheiro. Ainda se encostam ao Senhor
dizendo: Não está o Senhor no meio de nós? Nenhum
mal nos sobrevirá. – Mq 3:11
Que situação terrível essa. Nenhum temor,
nenhuma devoção ou adoração genuína e autêntica.
Apenas obrigações legais cumpridas.
Estes acontecimentos promoveram o afasta-
mento gradativo do povo do seu Deus, instalando-se
definitivamente a idolatria.
Deus, através do profeta Jeremias declara:
Houve alguma nação que trocasse os seus deuses, posto
não serem deuses? Todavia o meu povo trocou a sua gló-
ria pelo que é de nenhum proveito. Espantai-vos disto, ó
céus, e horrorizai-vos, ficai verdadeiramente estupefa-
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10. SÉRIE C ONHEÇA M AIS
tos, diz o Senhor. O meu povo fez duas maldades: A
mim me deixaram, o manancial de águas vivas, e cava-
ram cisternas, cisternas rotas, que não retêm as águas.
Acaso é Israel um servo, ou um escravo nascido em
casa? Por que, pois, veio a ser presa? – Jr 2:11-14
O pensamento que Deus expressa é de deixar de
fato os céus estupefatos. As nações que possuem o seu
panteão de deuses, não o trocam. No entanto o povo
de Deus que foi escolhido pelo próprio Senhor, e tem a
oportunidade de adorar ao único Deus verdadeiro, vive
trocando de deus.
Desta forma, o Senhor decidiu exilar o Seu povo
numa nação distante para que a apostasia fosse curada
e pudessem aprender, às duras penas e sofrimento,
quando custa abandonar o Seu Deus.
A nação da Babilônia, governada pelo Rei Nabu-
codonosor, foi levantada por Deus para impingir o cati-
veiro ao Reino do Sul, levando seus príncipes e nobres
para o distante país.
O profeta anunciara que o cativeiro duraria 70
8
anos , ou seja, o “castigo” tinha data de início e fim.
8 Jr 25:11-12
10.
11. E SFORÇA-TE
Até os 70 anos podiam ser compreendidos pelo
povo. De acordo com a Lei de Deus, a terra deveria des-
cansar periodicamente.
Seis anos semearás a tua terra, e seis anos podarás a tua
vinha, e colherás os seus frutos. Porém no sétimo ano a
terra terá o seu sábado de descanso, um sábado ao
Senhor. Não semearás o teu campo nem podarás a tua
vinha. – Lv 26:3-4
A Palavra de Deus nos declara que não houve
obediência em dar descanso à terra. Agora havia uma
conta a ser paga.
Ao levar o povo para a Babilônia e assim “esva-
ziar” o país, a terra pôde ter o seu “descanso”:
A terra gozou os seus sábados; todos os dias da sua deso-
lação ela descansou, até que se completaram os setenta
anos, em cumprimento da palavra que o Senhor falara
por intermédio de Jeremias. – 2Cr 36:21
Após o período de 70 anos, onde a apostasia de
Israel foi completamente curada e tratada, Deus permi-
tiu a volta do povo para Jerusalém (536 a.C.) e ordenou
a reconstrução do templo.
11.
12. SÉRIE C ONHEÇA M AIS
O povo que retornou9 começou a reconstruir.
Quando os alicerces foram lançados, apareceram senti-
mentos diversos. Alguns choravam, outros riam de
modo que não se podia distinguir as vozes de alegria das
vozes do choro do povo, porque o povo bradava em altas
vozes10.
Os que choravam eram os mais idosos que, prova-
velmente, como crianças, haviam presenciado a glória
do Templo de Salomão e constataram que o Templo
ora reconstruído não se compararia com do passado.
Os que riam eram os mais novos que, nasceram
durante os 70 anos do Exílio e exultavam com a possi-
bilidade de ter um lugar para cultuar ao único e verda-
deiro Deus.
A Bíblia relata11 que diversos obstáculos fizeram
com que o povo desanimasse e desistisse de reconstruir
o Templo.
9 De acordo com Ed 2:64, retornaram ao todo 42.360 pessoas sob a
liderança de Zorobabel, descendente de Judá e de Josué,
descendente de Arão, portanto da linhagem sacerdotal
10 Ed 3:12
11 Ed 4
12.
13. E SFORÇA-TE
Os opositores passaram a desaminar ostensiva-
mente o povo de Deus para de todas as formas tenta-
rem impedir que o templo do Senhor fosse
reconstruído.
A população local passou a atormentar o povo de
Deus utilizando armas sutis da sugestão, da zombaria,
da intimidação e das ameaças.
Não satisfeitos com estas artimanhas, contrata-
ram profissionais para levar o povo a se levantar contra
as autoridades.
Durante os próximos 16 anos (de 536 a 520 a.C.)
nada se fez para restaurar o Templo.
Assim como na história de Israel, acontecimentos
e incidentes semelhantes ocorrem na Igreja ou com
seus membros.
É comum encontrarmos cristãos entusiasmados
com o mover do poder de Deus, com o avivamento pes-
soal e a transformação decorrente, com a evangelização
e o testemunho da grande salvação de Deus para
outros. Este entusiasmo permite o crescimento e o
amadurecimento do relacionamento com o Senhor e
com os outros.
13.
14. SÉRIE C ONHEÇA M AIS
De repente, aquela pessoa entusiasmada e envol-
vida na obra Deus não pode mais ser encontrada. Ao
contrário, encontramo-lo desanimado e enfadado. Na
maioria das vezes apenas uma frase desagradável, uma
observação pessoal de algum dos “opositores” é sufi-
ciente para afastar cristãos da obra e do Reino de Deus.
Para Refletir:
Quanto tenho deixado que informações (nem sempre
verdadeiras) e observações sobre outras pessoas ou so-
bre a Igreja influenciem a minha vida de comunhão com
o Senhor e a obra para a qual Ele me chamou?
Quanto eu tenho animado e encorajado outros cristãos
quando estes estão desanimados?
14.