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Ministério do Meio AMbiente
secretaria de Políticas para o desenvolvimento sustentável




                                                                           CAdernos GestAr nº 3

                                                    Gestar Ariranha –
                                                 Análise Econômica da
                                                   Atividade Suinícola



                                                         Gestar
                                           viva melhor na sua comunidade
REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL
Luiz Inácio Lula da Silva – Presidente do Brasil
José Alencar Gomes da Silva – Vice-Presidente
MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE
Marina Silva – Ministra do Meio Ambiente
Cláudio Langone – Secretário Executivo
Gilney Amorim Viana – Secretário de Políticas para o Desenvolvimento Sustentável
Roberto Ricardo Vizentin – Diretor de Programa
Sílvio Menezes – Chefe de Gabinete
EQUIPE GESTAR
Carcius Azevedo dos Santos – Coordenador Nacional
Antônio Carlos Rodrigues Cruz
Ivanise Knapp
José Flávio dos Santos
Mário César Batista de Oliveira
EQUIPE DE CONSULTORIA – TCP/3004/FAO/MMA
Horácio Martins de Carvalho – Consultor Principal
Flávio Mesquita da Silva – Gestão
Ademar Ribeiro Romeiro - Economia
Carlos Teodoro José Hugueney Irigaray - Legislação
Gelso Marchioro – PGAR Ariranha
SUPERVISÃO TÉCNICA
Roberto Ricardo Vizentin
Carcius Azevedo dos Santos
Antônio Carlos Rodrigues Cruz
Ivanise Knapp

PROjETO GRáFICO
Fabiano Bastos




                                                                Catalogação na Fonte
                                          Instituto do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
                               P964    Gestar Ariranha/SC: Análise Econômica da Atividade Suinícola / Ministério
                                           do Meio Ambiente, Secretaria de Políticas para o Desenvolvimento
                                           Sustentável. – Brasília: MMA, 2006.
                                           56 p. : il. ; 21 x 29,7 cm

                                             Bibliografia


                                            1. Gestão ambiental. 2. Desenvolvimento sustentado. I. Ministério
                                         do Meio Ambiente. II. Secretaria de Políticas para o Desenvolvimento
                                         Sustentável. III. Título.
                                                                                             CDU (2.ed.)502.35
SUMáRIO


1. APRESENTAÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5
2. INTRODUÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6
PARTE A – PRELIMINARES CONCEITUAIS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7
 1. Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .7
 2. Do processo de planejamento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .7
 3. Do plano. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .7
 4. Do sujeito, objeto, natureza e horizonte do plano . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .8
 5. Estrutura lógica de um plano. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .9
PARTE B - PROCEDIMENTOS PARA A ELABORAÇÃO DO PGAR . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12
 1. Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .12
 2. Da organização geral para a elaboração do PGAR . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .12
 3. Da estrutura lógica do PGAR . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .13
 4. Dos padrões de sustentabilidade e da abrangência . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .13
 5. Da natureza e do horizonte do plano . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .15
 6. Da problemática a ser superada. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .16
 7. Do cenário atual, tendencial e desejado . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .17
 8. Das metas finais e das operacionais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .19
 9. Dos resultados a serem alcançados (impactos) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .20
 10. Das estratégias de ação para alcançar as metas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .21
 11. Dos recursos a serem mobilizados para a consecução do PGAR . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .22
 12. Do sistema de monitoramento e avaliação do PGAR. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .22
 13. Da redação final do PGAR. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .28
 14. Das fases de implantação do PGAR . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .28
REfERêNCIAS BIBLIOGRáfICAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30
1. APRESENTAÇÃO




   A Secretaria de Políticas para o Desenvolvimento       formas de organização social das atividades econô-
Sustentável – SDS/MMA – tem como missão promo-            micas no nível local, assim como pela sua inserção
ver políticas e instrumentos que consolidem princí-       no sistema econômico como um todo.
pios e práticas do desenvolvimento sustentável, sem-
pre integrando ações do governo com a sociedade.             Nesse sentido, o GESTAR combina reflexão com
                                                          ação, visão ampla do território com a realidade das
   Um dos objetivos básicos da SDS/MMA é a elabo-         unidades produtivas, mobilização comunitária com
ração e adoção de estratégias que permitam superar        o engajamento e participação de cada família.
problemas ambientais provocados pelo atual modelo
de desenvolvimento econômico e tecnológico, bem              Para a elaboração deste caderno, contamos com
como o desenvolvimento de alternativas sustentáveis       a consultoria do Dr. Ademar Ribeiro Romeiro, bem
para o relacionamento da sociedade com a natureza.        como toda a equipe técnica envolvida nesse projeto.

                                                                                             Gilney Viana
   Sob coordenação do Departamento de Gestão
                                                                              Secretário de Políticas para o
Ambiental e Territorial (DGAT/SDS/MMA) e a par-
                                                                  Desenvolvimento Sustentável – SDS/MMA
ceria institucional da Organização das Nações Uni-
das para Agricultura e Alimentação (FAO/ONU), o                                                 José Tubino
Projeto de Gestão Ambiental Rural – GESTAR dedi-                              Representante da FAO/BRASIL
ca-se a difundir e consolidar o desenvolvimento rural
sustentável e a justiça ambiental, por meio de ações
de motivação, capacitação e engajamento das comu-
nidades, em busca da melhoria da qualidade ambien-
tal e das condições de vida nos territórios onde atua.

   O principal objetivo do GESTAR é contribuir para
o desenvolvimento de programas e projetos de de-
senvolvimento rural sustentável. Para tanto, dissemi-
na e coordena atividades ligadas à gestão ambiental
territorial, além de integrar políticas governamentais
que envolvam a participação direta das comunidades,
motivando o sentimento de pertença no território,
que fortaleça a capacidade técnica das instituições go-
vernamentais e das organizações da sociedade civil.

  Este documento sistematiza os procedimentos
para a implantação e desenvolvimento das propostas
do GESTAR nas suas diversas unidades territoriais
constituídas no país.

   O fundamental da abordagem territorial adotada
pelo GESTAR é a identificação dos problemas socio-
ambientais e o levantamento das estratégias de solu-
ção disponíveis. O ponto de partida é a compreen-
são dos sistemas de produção e dos problemas am-
bientais a eles associados. Na perspectiva GESTAR, a
sustentabilidade está fortemente condicionada pelas
2. INTRODUÇÃO



   O Brasil é um dos maiores produtores mundiais        finição de políticas sustentáveis para os proprietá-
de carne suína, com 34 milhões de abates no ano         rios do oeste catarinense. O problema é que o custo
de 2004, e o Estado de Santa Catarina é o principal     demasiadamente elevado de alguns sistemas de tra-
produtor nacional, com 20% da produção e 80% das        tamento de dejetos restringe sua adoção a uma pe-
exportações nacionais (ABIPECS, 2006). Em 2002,         quena parcela de produtores capitalizados1, enquan-
Santa Catarina possuía um plantel de aproximada-        to a grande maioria dos estabelecimentos agrícolas
mente 5,4 milhões de cabeças, com aproximadamen-        do oeste catarinense não possui lastro financeiro su-
te 418 mil matrizes alojadas em cerca de 12 mil pro-    ficiente para adequar-se às exigências da legislação
priedades suinícolas, sendo 2.300 destas indepen-       ambiental. Embora algumas instituições locais au-
dentes e 9.700 integradas a uma grande agroindús-       xiliem os proprietários na definição de sistemas de
tria exportadora (Henn, 2005). Neste estado, desta-     manejo dos dejetos e alternativas econômicas à cria-
ca-se ainda o oeste catarinense pela maior produção     ção de suínos, falta ainda uma política mais eficiente
da região e pelo nível tecnológico empregado na pro-    de incentivos financeiros e controle da poluição para
dução (Brasil, 2002).                                   que as responsabilidades não recaiam exclusivamen-
                                                        te aos proprietários. Estas políticas são ainda mais
   A suinocultura cumpre um importante papel de         emergenciais à parcela de agricultores não capitali-
fixação do homem no campo e alternativa da renda        zados, para que estes não sejam obrigados a abando-
de pequenas propriedades rurais no Brasil. Tem sido     nar o setor e aventurarem-se nas já disputadas ocu-
uma atividade desenvolvida basicamente em pe-           pações urbanas.
quenas propriedades rurais familiares e sua expan-
são está fundamentada na ampliação dos sistemas de         Uma política eficaz de desenvolvimento susten-
confinamento de produção, onde são observadas as        tável deve também identificar a responsabilidade
maiores taxas de produtividade (Brasil, 2002).          de cada agente econômico no controle da poluição.
                                                        Mesmo prevalecendo na região o esquema de par-
   Ao mesmo tempo em que o sistema de confina-          cerias, onde a maioria dos pequenos proprietários é
mento de suínos possibilitou o aumento da escala de
                                                        apenas responsável pela terminação (engorda) dos
produção, reduziu o número de pessoas envolvidas
                                                        suínos da grande indústria processadora de alimen-
na atividade, aumentou o volume de dejetos por hec-
                                                        tos, estes acabaram responsáveis pelo tratamento dos
tare de terra e a preocupação dos organismos gover-
                                                        dejetos segundo o Termo de Compromisso de Ajus-
namentais e não governamentais com a sustentabi-
                                                        tamento de Condutas (TAC), assinado em 2004.
lidade da atividade e o bem-estar social das popula-
ções produtoras.                                           O TAC objetivava adequar os estabelecimentos
                                                        suinícolas à legislação ambiental e sanitária, mitigan-
    Neste contexto, o Ministério do Meio Ambiente
                                                        do o impacto ambiental causado pelos dejetos suínos.
(MMA) estabeleceu convênio com a Organização
                                                        Entre suas principais cláusulas, estavam: o licencia-
das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultu-
                                                        mento das atividades suinícolas somente mediante
ra (FAO) e elaborou o projeto de Gestão Ambiental
                                                        ao cumprimento da legislação ambiental vigente; es-
Rural Sustentável (GESTAR), propondo políticas pú-
                                                        tabelecimento de ações dos suinocultores em respei-
blicas voltadas à promoção da gestão ambiental em
                                                        to ao programa de recomposição da mata ciliar; crité-
assentamentos humanos nas bacias hidrográficas. A
                                                        rios para construção das estruturas de armazenamen-
bacia do rio Ariranha, localizada no oeste catarinen-
                                                        to e tratamento de dejetos, bem com sua distribuição
se e uma das maiores densidades de suínos do país,
                                                        e aproveitamento como fertilizante e fonte de ener-
foi um dos focos de análise escolhido para desenvol-
vimento, aplicação e validação de ações que possibi-    1
                                                          Segundo Silvestro et al. (2001), os estabelecimentos agrícolas podem ser categori-
litem seu desenvolvimento sustentável.                  zados em 3 grupos: i) capitalizados: estabelecimentos que permitem um valor agre-
                                                        gado superior a 3 salários mínimos mensais por mão-de-obra ocupada e corres-
                                                        pondem a 13% das unidades agrícolas do oeste catarinense; ii) em transição: onde
  Conciliar bem-estar social, com a crescente pres-     o valor agregado está entre um e três salários mínimos mensais e correspondem a
são para a produção intensiva de suínos e a preser-     29% dos estabelecimentos agrícolas do oeste catarinense; iii) descapitalizados: re-
                                                        presenta a maior parcela dos estabelecimentos do oeste catarinense (42%), onde
vação do meio ambiente tem sido o desafio para de-      o valor agregado é inferior a 1 salário mínimo mensal por mão-de-obra ocupada.
gia; comprometimento das agroindústrias com a as-              Para cumprir tais objetivos, este relatório foi divi-
sistência técnica aos produtores; e comprometimen-          dido em 5 tópicos principais. Nos dois primeiros tó-
to dos demais signatários envolvidos em desenvolver         picos será apresentado o contexto econômico que le-
programas de educação ambiental aos produtores.             vou à concentração e intensificação da produção na
                                                            região, aumentando os problemas ambientais causa-
  Entrevistas qualitativas realizadas entre os suino-       dos pelos dejetos de suínos, bem como alternativas
cultores da região também constataram que grande            sustentáveis à suinocultura. No terceiro tópico serão
maioria destes diverge a respeito da responsabilidade       apresentadas duas das principais tecnologias para ar-
envolvidas sobre os dejetos pelo TAC. Enquanto uma          mazenamento e tratamento dos dejetos, as esterquei-
parte dos suinocultores acredita que a responsabili-        ras e biodigestores. No quarto tópico estas tecnolo-
dade é do produtor, outra parte afirma que a agroin-        gias serão adotadas como referência para análise dos
dústria deveria ter parte da responsabilidade.              custos da poluição na bacia do Rio Ariranha, estima-
   O que há de certo nessa questão é que ela ainda          tivas que serão a base, por sua vez, para a proposta de
não está resolvida nem mesmo entre os produto-              uma política de gestão ambiental na região. No quin-
res e, enquanto isso, a agroindústria tem colocado          to e último tópico, será proposta a política de gestão
como condição para a manutenção do contrato de              ambiental que objetiva resolver o problema da polui-
integração, que seus integrados tratem os dejetos e         ção causada pelos dejetos, sem que o ônus recaia ex-
que cumpram com o TAC. A única contribuição da              clusivamente aos proprietários e à sociedade de ma-
agroindústria para isso é o caso da Sadia, que possui       neira geral.
uma política específica, o financiamento para a com-           Nota de Esclarecimento: O presente trabalho
pra de biodigestores.                                       apresenta as simplificações abaixo pelos seguintes
   Apesar de polêmico, o TAC apresentou uma ino-            motivos: 1 - o escopo do estudo de caso, ou seja, os
vação importante que foi o condicionamento da con-          municípios da bacia do rio Ariranha; 2 - o tempo de
cessão da licença ambiental a um número máximo              três meses estabelecido para a presente pesquisa; 3
de suínos por propriedade segundo a relação entre           - a ausência de um banco de dados de órgãos públi-
o volume de dejetos gerado e a quantidade de ter-           cos locais que contenha: o número exato de criado-
ras disponível na propriedade para que estes possam         res; o número de suínos em cada fase de produção na
ser utilizados como fertilizante. Os grandes criado-        região; o número de criadores e abates por empre-
res que não possuíam áreas aptas para recebimentos          sa integradora; 4 – A ausência de métodos científi-
dos dejetos foram obrigados a realizar contratos com        cos simplificados para o cálculo seguro do balanço
propriedades vizinhas que se comprometessem a re-           de nutrientes.
ceber os dejetos, conforme sugere o TAC.
                                                            PRINCIPAIS SIMPLIFICAçõES ADOTADAS:
   Porém, especialistas divergem sobre a eficiência
                                                               1 – As estimativas do impacto causado pelos deje-
desta cláusula, afirmando que a relação volume de
                                                            tos de suínos e respectivos custos de tratamento es-
dejetos por unidade de área apta mascara a concen-
                                                            tão baseadas em dados do Instituto Brasileiro de Ge-
tração de nutrientes existentes nos dejetos e que não
                                                            ografia e Estatística (IBGE) para o número total de
são totalmente absorvidos pelas áreas de agricultura
e pastagem. Uma política mais eficiente deveria con-        cabeças e não nos dados fornecidos pelos órgãos lo-
siderar o número de suínos por propriedade segundo          cais, que poderiam ser muito mais exatos quanto à
a concentração de nutrientes por unidade de terra, ou       produção exata de dejetos em cada fase da produção.
seja, observar se os nutrientes do fertilizante se encon-     2 – Utilização do volume de 50 m³/Ha para a esti-
tram na proporção exigida pelas culturas da região.         mativa da pegada ecológica da suinocultura, subesti-
   Neste contexto, este trabalho propõe-se a analisar       mando o impacto ambiental dos dejetos de suínos.
as principais tecnologias para tratamento dos dejetos
                                                               3 – Para exemplificar a aplicação do modelo foi ar-
de suínos, verificando a eficiência das mesmas face
                                                            bitrado um período de 10 anos para a eliminação da
aos problemas apresentados na região, e propor uma
                                                            pegada ecológica da suinocultura. Em caso de apli-
política de gestão ambiental que responsabilize os
                                                            cação da proposta de gestão, o estabelecimento de tal
principais agentes envolvidos no processo, de tal for-
                                                            período deve ser amplamente discutido entre os se-
ma que o ônus dos impactos ambientais não recaiam
                                                            tores interessados.
sobre toda a sociedade e não inviabilize economica-
mente a atividade fundamental para economia da re-
gião (ver Anexo A).
1- O PROcESSO DE cONcENTRAÇÃO DA PRODUÇÃO




   Os sistemas de confinamento de suínos são res-                              são responsáveis pelo êxodo de jovens integrantes fa-
ponsáveis pelo aumento da escala de produção e di-                             miliares para as áreas urbanas, onde muitos acabam
minuição do número de pessoas envolvidas, carac-                               engrossando as estatísticas de desemprego e das di-
terizando-se pela criação de um grande número de                               versas categorias de empregos precários e informais.
animais em pequenas áreas. O aperfeiçoamento da                                Os jovens, principalmente aqueles com maior grau
tecnologia de criação também levou à concentração                              de escolaridade, estão pouco dispostos a continuar
do setor em Santa Catarina, reduzindo em mais de                               na atividade desenvolvida pelos pais e é preocupante
80% o número de propriedades em pouco mais de                                  constatar que grande maioria das famílias não possui
duas décadas (Kunz et al., 2005)1. Acompanham, de                              sucessores para sua pequena produção familiar.
certa forma, as recentes tendências dos mercados in-
ternacionais, que levam à espacialização e concentra-                             Face às incertezas do setor, muitos proprietários
ção da produção para a obtenção de maior produti-                              aderiram ao sistema de parcerias como forma de in-
vidade e menores custos nos mais diversos setores de                           tegração a uma grande indústria processadora ou a
atividade. Segundo Henn (2005), citando dados do                               um intermediário que centraliza a comercialização
Instituto CEPA/SC de Agosto de 2003, de um total                               dos suínos. Neste sistema, os proprietários rurais são
de 7.000 suinocultores integrados detentores de 310                            apenas responsáveis por uma das três fases do pro-
mil matrizes no Estado de Santa Catarina, 42 pro-                              cesso produtivo, quais sejam: a maternidade, criação
priedades detinham 65% das matrizes e respondiam                               até o ponto em que o leitão se alimenta sem ajuda; as
por 20% da produção suinícola.                                                 creches, que recebem os leitões da maternidade e o
                                                                               engordam até, aproximadamente 25 kg e a termina-
   As crises pelas quais tem passado o setor, como a                           ção, que cria o suíno recebido das creches e o alimen-
causada pelo aumento dos custos de produção (fun-                              tam até o peso de 110 kg, aproximadamente, a partir
damentalmente, milho e farelo de soja), a implanta-                            dos terminadores os suínos são abatidos pelas em-
ção de cotas de importações estabelecidas pela Rús-                            presas integradoras.
sia (principal país importador da carne suína brasi-
leira) e a queda nas exportações devida ao temor da                               No processo de parceira com a agroindústria, o
febre aftosa, têm sido responsáveis pelo agravamento                           criador recebe uma quantia fixa por unidade produ-
das condições sócio-econômicas das pequenas pro-                               zida, que depende, além das leis de mercado, da efi-
priedades produtoras. O Brasil ainda se caracteriza                            ciência do sistema de produção (ração/suíno, mor-
pelos baixos custos de produção e pelas piores rela-                           talidade, necessidade de medicação, entre outras). A
ções preço/custo pagas ao produtor (US$ / Kg suíno                             divisão de tarefas entre os suinocultores e agroindús-
vivo) em relação aos demais produtores internacio-                             trias baseia-se no fato de que o suíno pertence à in-
nais (Henn, 2005). Muitos pequenos proprietários                               dústria e as despesas relacionadas aos suínos, como
dizem manter a terminação de suínos apenas para                                alimentação, medicação e vacinação, deveriam ser
suprir as necessidades de adubo nas pastagens, com                             responsabilidade da indústria, enquanto que a res-
rendimento familiar dependente da produção de lei-                             ponsabilidade do produtor se estenderia às instala-
te. Segundo entrevista (ANEXO II – Produtor P7),                               ções, ou seja, à pocilga. A discussão a respeito da res-
o valor recebido pelos criadores equivale a 43% do                             ponsabilidade pelos dejetos será feita mais adiante.
custo de produção.
                                                                                  O preço pago aos produtores têm sido determina-
   Silvestro et al. (2001) relatam como as dificulda-                          do pela agroindústria abaixo do custo de produção.
des vivenciadas pelas famílias de pequenos proprie-                            Esta política de preços, em si, já incentiva à concen-
tários agrícolas e a falta de expectativas no campo                            tração por meio da descaptalização dos produtores,
                                                                               porém, atualmente há, ainda, um processo de estí-
1
  Eram cerca de 67 mil propriedades em 1980 contra aproximadamente 13 mil em
                                                                               mulo ao aumento da produção de suínos nas pro-
2003, segundo dados da ACCS – Associação Catarinense de Criadores de Suínos    priedades e o aumento do número mínimo de suínos
(Kunz et at., 2005).
necessários para que o produtor possa se integrar à
indústria. Tais estratégias das agroindústrias par-
ceiras visam à concentração da produção como for-
ma de obterem maiores retornos econômicos. Parte
importante desses retornos provém da redução dos
custos de transporte tanto de suínos, quanto de in-
sumos.

   Uma suinocultura economicamente viável, do
ponto de vista do produtor, depende, sobretudo, do
controle da produção para que seja alcançada uma
relação entre oferta e demanda que gere um aumento
no preço pago ao suinocultor para que estes possam
ter um faturamento acima do custo de produção.




10
2. IMPACTOS AMBIENTAIS E ALTERNATIVAS à SUINOCULTURA


    As recentes transformações da suinocultura foram acompanhadas pelo aumento da preocupação dos or-

ganismos governamentais e não governamentais                                           tos países condicionam a liberação de barreiras ao
com a sustentabilidade dos sistemas de produção e                                      fornecimento de produtos com qualidade ambien-
com o bem-estar social das populações produtoras.                                      tal. Estas normas estabelecem orientações ao longo
A contaminação dos cursos de água, da maior parte                                      do ciclo de vida do produto consumido, avaliando
das fontes de água e dos lençóis freáticos, é um grave                                 desde a produção animal até a industrialização da
problema ambiental com impactos que podem atin-                                        carne suína colocada nas prateleiras dos supermer-
gir a saúde da população. Tais impactos são prove-                                     cados (Henn, 2005).
nientes da carga orgânica, do excesso de nutrientes,
principalmente nitrogênio e fósforo e dos metais zin-                                     Várias propostas de manejo dos dejetos de suínos
co e cobre existentes nos dejetos.                                                     têm sido adotadas no Brasil, sendo que grande par-
                                                                                       te delas apenas reduz o potencial poluidor e, embora
   Neste contexto, ao mesmo tempo em que se bus-                                       empeçam que os resíduos finais sejam lançados di-
ca a diminuição dos custos com alimentação, ins-                                       retamente nos cursos d’água, ainda assim, mantêm
talação e maior retorno econômico aos produtores                                       alta capacidade de poluição. É também recomendá-
rurais, deve-se também encontrar o correto destino                                     vel que os processos de tratamento adotados, além de
para os dejetos orgânicos e inorgânicos provenientes                                   reduzir o potencial poluidor dos dejetos, agreguem
dos sistemas criação, com especial atenção aos siste-                                  valor ao resíduo final, tornando-o auto-sustentável
mas com maior confinamento de animais1.                                                economicamente e melhorando a situação econômi-
                                                                                       ca das famílias produtoras. Entre os uso alternativos
   A crescente utilização de sistemas de confinamen-                                   destes resíduos, destaca-se seu uso como adubo or-
to de criação suínos tem gerado quantidades cada                                       gânico e fonte alternativa de energia térmica ou elé-
vez maiores de dejetos por unidade de área. Segun-                                     trica (Oliveira  Nunes, 2006).
do Henn (2005), o setor de produção da suinocultu-
ra demanda anualmente 25 milhões de m3 de água e
gera 16 milhões de m3 de efluentes. É um setor com                                        O uso dos dejetos na agricultura e na adubação
baixa qualidade ambiental, pois polui as águas super-                                  de pastagens está disseminado na região. Isso ocorre
ficiais e subterrâneas, os solos e proporciona descon-                                 com base no uso de esterqueiras para armazenamen-
forto ambiental, com emissão de maus odores e uma                                      to dos dejetos e a sua distribuição pelas pastagens ou
proliferação descontrolada de insetos.                                                 áreas agrícolas por meio de tratores ou caminhões
                                                                                       tanques que podem ser próprios ou alugados pelas
   Oliveira  Nunes (2006) destacam ainda que o                                        prefeituras locais. Porém a falta de orientação, incen-
manejo inadequado dos dejetos de suínos tem cau-                                       tivo financeiro e fiscalização das instituições respon-
sado severos danos ao meio ambiente, tornando                                          sáveis são, muitas vezes, responsáveis pelo uso inade-
emergencial a adoção de sistemas de manejo que                                         quado do sistema.
reduzam a emissão de odores, os gases nocivos e
os riscos de poluição dos mananciais de água su-                                          Da mesma forma, esta solução torna-se ineficiente
perficiais e subterrâneas por nitratos e do ar pelas                                   face ao grande volume de dejetos produzido diaria-
emissões de amônia (NH3). As recomendações in-                                         mente em algumas propriedades da região, além de
ternacionais, provenientes da série de normas ISO                                      apenas reduzirem parte da matéria orgânica do resí-
14.000, também colaboram neste sentido, aumen-                                         duo, restando ainda os nutrientes e metais pesados
tando a preocupação dos setores produtivos que                                         existentes nos dejetos que possuem efeitos altamen-
atuam na exportação de seus produtos, já que mui-                                      te nocivos sobre a saúde da população. Sem o devi-
                                                                                       do tempo de retenção nas esterqueiras, os dejetos aca-
                                                                                       bam lançados desorientadamente nas áreas de cultivo
1
   “Os dejetos suínos são constituídos por fezes, urina, água desperdiçada pelos be-
bedouros e de higienização, resíduos de ração, pêlos, poeiras e outros materiais de-   e pastagens e, aliado à característica declividade do re-
correntes do processo criatório, enquanto que o esterco é constituído pelas fezes
dos animais que, normalmente, se apresentam na forma pastosa ou sólida” (Diesel
                                                                                       levo da região, podem contaminar o solo e serem leva-
et al., 2002).




                                                                                                                                             11
dos por erosão aos leitos dos rios, além de contamina-   cos da região. Isso faz com que a certificação como
rem os lençóis freáticos.                                produtor orgânico represente apenas uma diferen-
                                                         ciação qualitativa dos produtos e não um diferencial
   Uma proposta de manejo dos dejetos que merece         de preços, já que o preço pago pelo produto orgâni-
atenção especial é o uso de biodigestores, sistemas de   co é o mesmo do preço pago pelo produto conven-
tratamento capazes de transformar parte da biomas-       cional.
sa dos dejetos suínos em energia a partir do processo
de digestão anaeróbia dos resíduos orgânicos. Outra         Outro diferencial observado nos produtores orgâ-
importante propriedade do biodigestor está na redu-      nicos entrevistados é a redução de custos obtida com
ção da massa orgânica dos dejetos e o aumento da         a utilização do adubo produzido na sua propriedade,
concentração de nutrientes por unidade de volume.        pela criação de aves, e por adubos de uma criação de
                                                         suínos em propriedade vizinha. Ou seja, a proprie-
   Um dos principais problemas para a utilização dos     dade mostrou a viabilidade de um sistema diversifi-
dejetos como biofertilizante agrícola está justamente    cado e equilibrado de produção que propicia alterna-
no alto grau de diluição causado, sobretudo, por va-     tivas econômicas à suinocultura sem causar impac-
zamentos no sistema hidráulico, desperdício de água      tos no ambiente.
nos bebedouros e pelo sistema de limpeza inadequa-
do (Kunz et al., 2005). Além de permitir o aproveita-       Além da criação de gado leiteiro e da produção
mento dos dejetos sob a forma de biogás (metano), o      agrícola de alto valor, a criação de agroindústrias fa-
biodigestor reduz os microorganismos patogênicos         miliares é outra forma alternativa de geração de ren-
e a matéria orgânica do efluente, aumentando a con-      da. Os produtos fabricados por essas pequenas in-
centração de nutrientes por volume de resíduos e va-     dústrias possuem um diferencial bastante valori-
lorizando seu uso como biofertilizante para as lavou-    zado na região que é a junção do maquinário fabril
ras (Oliveira, 2004; Henn, 2005).                        com técnicas passadas pela tradição familiar local.
                                                         Esse diferencial gera a possibilidade de colocação
2.1- ALTERNATIVAS à SUINOCULTURA                         de um preço maior que os demais produtos indus-
E SEUS IMPACTOS AMBIENTAIS.                              trializados e gera a capacidade de concorrência para
                                                         essa produção. Outro diferencial que reduz os cus-
   Atualmente, a crise da suinocultura associada à       tos dessas indústrias é o aproveitamento da produ-
necessidade de resolução do problema dos dejetos         ção agrícola e de criação diversificada de cada pro-
tem gerado uma solução que se generalizou na re-         priedade para a produção industrial, ou seja, como
gião. A diversificação que representou a criação de      exemplo pode-se tomar a criação de porcos produz
gado leiteiro e o uso dos dejetos após o tratamento      renda para a família e gera dejetos que são utiliza-
em esterqueiras pareceu, a princípio, uma solução        dos nas pastagens para criação de gado leiteiro que
adequada. Tal solução associou os altos rendimentos      gera a matéria prima para a agroindústria de queijos.
do leite na região à utilização dos dejetos como adu-
bo com um custo muito baixo quando relacionado             Além disso, há a consciência, por parte desses
ao adubo químico.                                        produtores, de que o seu diferencial principal está na
                                                         qualidade do produto e que a expansão do negócio e
   Entretanto, conforme constata Berto (2001), a ge-     da produção somente pode ocorrer até o ponto em
neralização da criação de gado em conjunto com a         que não comprometa essa qualidade.
suinocultura agravou o problema do balanço de nu-
trientes na região. Embora a criação de gado leiteiro       Outro fator que facilita o processo de formação e
seja uma importante alternativa para geração de ren-     perpetuação dessas agroindústrias até o momento é
da na região, a Fundação do Meio Ambiente de Santa       a característica local de conscientização e organiza-
Catarina (FATMA) não poderia desconsiderar esta          ção política que gera dois fenômenos interessantes: a
atividade na concessão das licenças ambientais, ou       organização da forma de divisão de lucros é baseada,
seja, deveria analisar o balanço global de nutrientes    na maior parte dos casos, no tempo de trabalho gasto
de cada propriedade.                                     e não no valor agregado pelas atividades realizadas e
                                                         o fato de não haver, ainda uma concorrência ou uma
   A agricultura de alto valor também é uma alterna-     visão concorrencial das agroindústrias entre si.
tiva possível, porém, entrevistas realizadas com agri-
cultores da região mostraram que ainda há grandes          No presente, há um excesso de demanda por esses
restrições à agregação de valor nos produtos orgâni-     produtos, portanto existe potencial para a entrada de



12
outros produtores industriais familiares, porém, não
se conhece o limite de entrada e também não se sabe
até que ponto, a pressão pelo aumento da oferta não
comprometerá a qualidade da produção familiar.

   As alternativas de diversificação por meio da agri-
cultura ou agroindústria familiar com maiores valo-
res agregados devem ser incentivadas por meio de fi-
nanciamento e assistência técnica, que indique as al-
ternativas mais viáveis para cada propriedade e tipo
de solo. Independentemente das formas de diversifi-
cação das atividades agrícolas e de criação, o incenti-
vo à agroindústria familiar deve ser ampliado na re-
gião, aproveitando a capacidade de articulação dos
produtores locais e a demanda existente na região.




                                                          13
3- SISTEmAS DE TRATAmENTO E vAlORIzAÇÃO DOS DEjETOS




   Neste tópico será apresentado um breve relato de         O problema é que o mau dimensionamento do
dois dos principais sistemas de tratamento e valori-     volume das esterqueiras, aliado a problemas cons-
zação dos dejetos de suínos: as esterqueiras e os bio-   trutivos, tem sido responsável por freqüentes aci-
digestores. Serão apontadas as características técni-    dentes causados por transbordamento dos dejetos.
cas, vantagens e desvantagens de cada sistema, obje-     É comum ser o volume da esterqueira (V em m3)
tivando identificar de que forma estes poderiam re-      projetado como simples produto do volume diário
duzir os impactos ambientais observados na região        de dejetos produzidos na granja (Vd em m3/dia) e
para, ao final, servirem de instrumento na proposta      tempo de armazenamento (td em dias), sem consi-
de políticas de gestão ambiental na região.              derar o balanço de água de chuva que ocorre no lo-
                                                         cal e sua evaporação. Um correto dimensionamento
3.1- ESTERQUEIRAS                                        deve, portanto, considerar a precipitação média de
                                                         chuva na região onde será construída a esterqueira e
   Esterqueiras são depósitos que têm por objetivo       um coeficiente de segurança para evitar o transbor-
captar os dejetos líquidos produzidos num sistema        damento1.
de criação, abastecidos continuamente e onde os de-
jetos ficam retidos durante um determinado perío-           Também é comum observar projetos sem o devi-
do de tempo (normalmente entre 4 e 6 meses) para         do respeito às normas de engenharia, principalmen-
que ocorra a fermentação anaeróbica da matéria or-       te mecânica de solos e suas implicações relacionadas
gânica. Embora empreguem o processo anaeróbio            com a estabilidade dos taludes. A escolha do local
para estabilização do material, as esterqueiras não      para a construção de esterqueiras deve ser criterio-
são consideradas como unidades de tratamento, já         sa, evitando terrenos instáveis e considerando as ca-
que apenas armazenam temporariamente os dejetos          racterísticas e propriedades do solo (Oliveira  Sil-
para que estes possam ser posteriormente utilizados      va, 2004).
como fertilizantes. Mantém as características básicas
                                                            Os materiais mais empregados pelos produtores
dos dejetos, com uma pequena redução de sua carga
                                                         para revestimento e impermeabilização das ester-
poluente (18%), medida em DBO - Demanda Bioló-
                                                         queiras são as pedras argamassadas, a alvenaria de
gica de Oxigênio (EMBRAPA, 2005).
                                                         tijolos e as lonas de PVC especial ou PEAD (Oliveira
   As esterqueiras têm sido o sistema de arma-            Silva, 2004). Entre estes, o revestimento com lonas
zenamento dos dejetos de suínos mais utiliza-            especiais de PVC (0,8 ou 1 mm de espessura) mostra-
do no oeste catarinense, dada sua facilidade de          se mais econômico e é o mais comum no oeste cata-
implantação e custos relativamente baixos. En-           rinense. As esterqueiras normalmente são de forma-
tretanto, sua eficiência tem sido comprometi-            to retangular pela facilidade de construção, mas estas
da pelo subdimensionamento do sistema e falta de         são mais susceptíveis às rachaduras, devido a maior
orientação quanto ao correto destino dos dejetos.        pressão que ocorre nos cantos, sendo preferíveis as
                                                         de formato circular, que tem a vantagem de propor-
   A Instrução Normativa IN-11 da FATMA, No              cionar melhor distribuição das cargas nas suas pare-
01/04 de 24/03/2004 (FATMA, 2004) exige que o            des laterais.
dimensionamento destes reservatórios preveja um
tempo mínimo de retenção de 120 dias, o qual ra-            Além de não exigir grandes investimentos para
ras vezes é respeitado pelos proprietários. O mesmo      operacionalização do sistema, as esterqueiras de PVC
órgão ambiental catarinense (FATMA) condicio-            apresentam maior rapidez, facilidade de implantação,
na o licenciamento ambiental à impermeabilização         e podem ser ampliadas sem a necessidade de quebrar
das esterqueiras, para que sejam evitados infiltrações   paredes ou construção de novas esterqueiras, sim-
no solo com dejetos líquidos e conseqüentes risco de
poluição das fontes de águas.                            1
                                                             Para maiores detalhes ver Oliveira  Silva (2004).




                                                                                                                  1
plesmente por meio da união de novos planos de PVC         entrada (afluente), corresponde a uma descarga de
aos existentes. Trabalho desenvolvido pela Embrapa         material diferido na saída (efluente). A biomassa do
em parceria com a empresa Sansuy S.A. estimou um           biodigestor se movimenta por diferença de pressão
durabilidade de aproximadamente 8 anos, na ausên-          hidráulica, dentro do biodigestor, no momento da
cia de danos mecânicos, para os revestimentos de           entrada da carga. Em comparação a outros sistemas
esterqueiras com o uso de lonas especiais de PVC.          secundários de manejo, como tanques de estabiliza-
                                                           ção e esterqueiras, o biodigestor exige menor área de
3.2- BIODIGESTORES                                         construção e tempo de retenção, que costuma variar
                                                           entre 20 e 50 dias (Oliveira, 2004), cujo cumprimen-
   Biodigestores são locais onde ocorre a biodiges-        to é fundamental para a eficiência do sistema. Após
tão anaeróbia dos resíduos orgânicos, um processo          1 a 5 anos é necessário retirar o lodo que se forma no
bioquímico que utiliza ação bacteriana para fracio-        fundo do biodigestor, o qual pode ser utilizado como
nar compostos complexos e produzir um gás com-             bioferitilizante nas pastagens e plantações.
bustível, denominado biogás, composto em maior
proporção de metano (65 a 70% de CH4) e dióxido                                                                              Campânula de
                                                                                                                              Vinimanta
de carbono (30 a 35% de CO2). O processo de diges-
tão anaeróbia para geração de metano e estabilização                                                  CO2 + CH4
                                                                        Biogás
dos dejetos já é conhecido há muito tempo, mas o
desconhecimento de alguns aspectos técnicos essen-                                                                                 Feixe Hídrico
ciais para seu bom funcionamento tem sido uma das                 Afluente                                   Descarte de lodo           Efluente
grandes limitações para viabilidade como forma de                                               Escuma
manejo ecológica e economicamente sustentável.                    Tubos para
                                                                 amostragem                     Digestão anaeróbia
   Com a eminência de uma crise energética, a priva-
tização das companhias estatais do setor elétrico e a                                 Lodo
retirada gradual de subsídios da energia elétrica para
o setor agrícola, a geração de energia elétrica nas pro-   Figura 3.1 – Esquema de biodigestor tipo indiano
priedades rurais com o uso do biogás é uma proposta        Fonte: Henn (2005)
que merece atenção especial dos órgãos responsáveis
pelas políticas de desenvolvimento da região do oes-          Alguns modelos de biodigestores têm se mostrado
te catarinense. Além de reduzir a emissão de gases         de interesse, principalmente por apresentarem bai-
que provocam o efeito estufa (CH4), com a possibi-         xos custos devido a pouca tecnologia associada e fa-
lidade de entrar no mercado de créditos de carbono,        cilidade operacional. Mesmo assim, a construção do
o biogás é considerado uma fonte de energia reno-          biodigestor exige um razoável investimento inicial,
vável, podendo substituir o gás liquefeito de petró-       com custo fixo que pode girar em torno de R$ 120 a
leo (GLP) e a lenha, como fonte de energia térmica         R$ 150 o m3 (Vbd=Vd X Tr), dependendo do tipo de
no aquecimento do ambiente interno de aviários ou          biodigestor, cujo dimensionamento irá depender da
chiqueiros; a gasolina, na alimentação de motores a        vazão de afluentes (Vd, em m3/dia) e do tempo de re-
combustão, geladeiras, secadores de grãos, entre ou-       tenção necessário para obtenção do biogás (Tr, de 20
tros; além de servir para a geração de energia elétri-     a 50 dias) (EMBRAPA, 2003)2.
ca. Pode ainda ser simplesmente queimado para re-
duzir o efeito estufa (Oliveira, 2004).                    Conforme Oliveira et al. (1993), a quantidade total
                                                           de dejetos produzida diariamente por um suíno va-
   Os biodigestores contínuos como o modelo india-         ria de acordo com o peso corporal do animal, além
no (Figura 3.1), canadense, chinês e filipino, entre       do tipo alimentação e manejo da água nos criatórios,
outros, têm sido muito aplicados em comunidades            com valores médios descritos na Tabela 3.1. Pelos va-
rurais de pequeno e médio porte, podendo ainda es-         lores apresentados, é possível estimar que uma pro-
tar associados a sistemas de agitação, aquecimento e       priedade com 300 suínos em fase de terminação (25
pré-fermentação da biomassa (Oliveira, 2004). É um         a 100 Kg), produziria, em média, 2.100 litros de deje-
biodigestor versátil, podendo fazer uso de diferen-        tos por dia (7 l*300), necessitando de uma estrutura
tes resíduos orgânicos animais ou vegetais. Requer,        de estocagem com capacidade para 75 m3 (0,25*300).
para sua operação, uma carga diária e o manuseio
do resíduo (diluição e homogeneização). O processo         2
                                                             Detalhes sobre os custos de instalação dos biodigestores serão incorporados no
é considerado contínuo, pois a cada carga diária de        próximo relatório.




16
Tabela 3.1 – Produção média diária de dejetos nas diferentes categorias de suínos

                                                   Esterco +        Dejetos                       Estrutura para estocagem
                                       Esterco                                                        (m3/animais/mês)
         Categoria dos Suínos                       Urina           Líquidos
                                      (Kg/dia)
                                                   (Kg/dia)          (L/dia)             Esterco + Urina                Dejetos Líquidos
 Suínos de 25 a 100Kg                    2,30        4,90               7,00                      0,16                            0,25
 Reposição / Cobrição / Gestação         3,60        11,00             16,00                      0,34                            0,48
 Porcas em lactação com leitões          6,40        18,00             27,00                      0,52                            0,81
 Machos (cachaços)                       3,00        6,00               9,00                      0,18                            0,28
 Leitões na creche                       0,35        0,95               1,40                      0,04                            0,05
 Média                                   2,35        5,80               8,60                      0,17                            0,27

Fonte: Oliveira et al. (1993) apud Henn (2002)

   O biodigestor é considerado um sistema secun-               a World Health Organization). A fração nitrogena-
dário de tratamento, já que permite a remoção de               da é a que causa maiores danos, como a floração nas
sólidos suspensos e dissolvidos e a redução da ma-             águas superficiais, formação de nitritos (NO2-), ele-
téria orgânica, possibilitando a valorização dos de-           mento cancerígeno, em meio anaeróbio, e de nitratos
jetos como adubo orgânico. Quando submetidos                   (NO3-) em contato com águas subterrâneas. Altas
à digestão anaeróbia em biodigestores, os deje-                concentrações de nitratos nos lençóis freáticos ( 10
tos suínos perdem exclusivamente carbono na for-               mg/l) podem causar câncer e metahegoglobinemia
ma de CH4 e CO2, resultando em um resíduo final                em crianças (síndrome do bebê azul), além de eu-
de melhor qualidade para uso como adubo orgâni-                trofização dos corpos d’água, como também causa a
co, em função da mineralização do nitrogênio e da              presença de fósforo. O nitrogênio na forma de amô-
solubilização parcial de alguns nutrientes (Olivei-            nia é extremamente tóxico aos peixes, além de trans-
ra, 2004). Avaliações recentes feitas dos dejetos tra-         mitir importantes fatores patogênicos (Henn, 2005).
tados em biodigestor, além de produzir biogás, ti-
veram a carga orgânica reduzida em 78 a 80%, po-                  A utilização dos dejetos de suínos pode ainda alte-
dendo atingir em alguns casos até 96% quando au-               rar as propriedades físicas, químicas e biológicas do
xiliados por agentes de biorremediação (bactérias)             solo. Estas ações podem ser traduzidas em acúmu-
(Konzen, 2005). Após diversas fases da biodigestão,            lo de elementos tóxicos, principalmente metais pesa-
o produto resultante é um líquido escuro, em vir-              dos como o cobre e zinco, poluentes orgânicos, con-
tude da presença do Húmus, o qual pode ser usado               taminação da água subsuperficial, através da lixivia-
em qualquer solo como adubo de origem orgânica                 ção de elementos provenientes da decomposição dos
de alta qualidade, ou como corretivo de acidez, de             dejetos no solo, e odores desagradáveis oriundos da
vida bacteriana e de textura. As ações benéficas da            volatilização de compostos. O uso de cobre e zinco
matéria orgânica estão associadas às alterações nas            nas rações como promotores do crescimento e con-
propriedades físicas e químicas do solo, bem como              troladores da diarréia podem conferir aos dejetos de
sobre a atividade microbiana, e ainda dos nutrientes           suínos um importante potencial poluidor, podendo
adicionados, refletindo em melhoria da fertilidade.            causar, em longos períodos, acúmulos destes no solo
                                                               e sua transferência para a cadeia alimentar ou outros
    Entretanto, os dejetos de suínos, por mais privile-        sistemas (Pocojeski et al., 2004)3. Os efeitos indeseja-
giados que seja seu potencial de uso como fertilizan-          dos causados pelo uso dos dejetos como fertilizante
te, devem ser considerados como resíduo poluente e             do solo, serão menores com a fermentação dos mes-
que, ao serem dispostos na natureza sem os necessá-            mos em biodigestor, visto que, além da redução da
rios cuidados, causarão impactos ambientais signi-             carga orgânica, ocorre, concomitantemente, redução
ficativos aos solos, às águas superficiais e subterrâ-         nas concentrações de cobre e zinco (40 a 50%), pre-
neas (Konzen, 2005). As altas concentrações de nu-             sentes no efluente do biodigestor(Konzen, 2005).
trientes como nitrogênio (N) e fósforo (P), e a eleva-
da concentração de sólidos voláteis (SV) em relação
aos sólidos fixos (SF), conferem aos dejetos de suí-           3
                                                                  Os autores destacam, entretanto, que “deve-se evitar generalizações na interpreta-
nos um elevado potencial poluidor (potencial cerca             ção do potencial poluente de dejetos de suínos porque isso depende dos sistemas de pro-
                                                               dução, do tipo e atributos do solo, além do tempo de aplicação dos dejetos”(Pocojeski
de 4,2 vezes superior ao esgoto doméstico, segundo             et al., 2004).




                                                                                                                                                  1
Embora os processos anaeróbios reduzam a polui-              gás possa ser compartilhado com a rede elétrica pro-
ção e os impactos ambientais proveniente dos deje-               veniente da empresa responsável pelo fornecimento
tos suínos, reduzindo a carga de poluentes e patóge-             de energia na região, para que o produtor possa ven-
nos a serem lançados ao ambiente e valorizando este              der a energia excedente ao distribuidor de energia e
efluente do ponto de vista energético e como biofer-             compense seus custos nos períodos com escassez na
tilizante para agricultura, estes ainda não podem ser            produção de biogás, fato ainda não aceito pelos dis-
lançados diretamente nos corpos d’água sem um sis-               tribuidores.
tema terciário de tratamento. Um sistema integrado
de tratamento seria constituído, além do biodigestor,              Outro problema está no não cumprimento de al-
por um sistema de armazenagem (lagoas de estabili-               guns princípios básicos da digestão anaeróbia, ne-
zação ou esterqueira), lagoas de aguapés e lagoas de             cessários para uma produção eficiente de biogás,
piscicultura (ver Figura 3.2). Além de garantir a qua-           bem como a inexistência de um planejamento ade-
lidade dos efluentes a serem lançados ao ambiente, o             quado para a produção, uso e disposição dos sub-
sistema integrado possibilitaria agregar mais valores            produtos derivados. Os produtores não dispõem
aos dejetos com a criação de peixes.                             de assistência técnica treinada e com conhecimen-


       Maternidade/                                 biogás para
       Creche                        Gasômetro      propriedade


       Crescimento/                            Sistema de               Lagoa de          Lagoa de       meio
       Terminação                             Armazenagem               Aguapés           Psicultura    ambiente


                           Biodigestor
                                               biofertilizante
                                              para pastagens
                                               e plantações

                        Figura 3.2 – Esquema de um sistema integrado com biodigestor

Antes que o biogás seja aproveitado como fonte de                to nos processos produtivos do biogás, sendo mui-
energia na propriedade, é necessário a remoção de                tas vezes, levados pela pressão a ajustar a atividade
água, enxofre e outros elementos que possam estar                a legislação ambiental e pela oferta dos fornecedo-
presentes no biogás in natura. A purificação através             res de materiais e equipamentos, acabam por im-
de filtros, dispositivos de resfriamento, condensa-              plantar processos mal dimensionados, com pro-
ção e lavagem (Oliveira, 2004) é imprescindível para             blemas operacionais e baixa eficiência de produ-
a confiabilidade do seu emprego, já que a presença               ção e uso do biogás, bem como a utilização do
de vapor d’água, CO2 e gases corrosivos no biogás in             biofertilizante, inviabilizando o sistema do pon-
natura, podem reduzir consideravelmente a vida útil              to de vista técnico e econômico (Kunz et al, 2006).
de equipamentos, a exemplo de motores a combus-
tão, geradores, bombas e compressores.                              Sob estas circunstâncias, a produção de metano
                                                                 nos diferentes processos de fermentação utilizados
  O uso do biogás na propriedade rural exige ainda               até o presente momento tem se mostrado uma efici-
um planejamento que considere tanto a demanda de                 ência muito abaixo da prevista pela teoria, que pode
energia na propriedade quanto a oferta proveniente               alcançar 35 m3 de CH4 por m3 digestor/dia (Olivei-
da biodigestão dos dejetos, já que a produção de bio-            ra, 2004). Nas presentes limitações práticas, os pro-
gás tende a se tornar mínima nos meses de inverno,               cessos de fermentação convencional, que são os mais
especialmente no sul do país. Isto porque a produ-               difundidos, onde os tempos de retenção hidráulicos
ção de biogás é dependente das condições climáticas              são longos (10 a 30 dias), há constantes perdas de
da região, pois a temperatura da biomassa determi-               biomassa bacteriana, sendo que a produção de biogás
na a velocidade das reações anaeróbias que ocorrem               varia de 0,25-0,65 m3 de CH4 por m3 digestor/dia.
na câmara de fermentação. Da mesma forma, é ne-
cessário que o sistema de energia gerada pelo bio-



1
4– O ImPAcTO DA cRIAÇÃO DE SUíNOS
NA bAcIA DO RIO ARIRANhA



   Toda população necessita de uma quantidade                               suínos, a Pesquisa da Pecuária Municipal (PPM) do
mínima de espaço natural produtivo para sobrevi-                            IBGE estima o número de cabeças de suínos referen-
ver, seja para produção de alimentos, fornecimento                          tes a 31/12/2004. Os valores apresentados pela IN 11
de matérias-primas para manutenção de seu estilo                            da FATMA baseiam-se em estudos técnicos realiza-
de vida, ou como fossa dos resíduos por ela gerados.                        dos por Oliveira et al. (1993). Já a PPM é uma pes-
Da mesma forma, a suinocultura deve considerar                              quisa de caráter anual que obtém os dados sobre as
os limites da natureza como provedora de insumos                            criações de suínos, fundamentalmente, da Campa-
para sua criação, bem como fossa para que seus de-                          nha de Vacinação da peste suína (tradicional ou afri-
jetos possam ser dispersos, diluídos e reciclados.                          cana) sobre animais doentes e sacrificados no muni-
                                                                            cípio, registrados por órgãos oficiais, informações de
   Em relação à base física provedora de insumos, a ca-                     granjas especializadas na criação de suínos, de mata-
pacidade máxima de produção de suínos deveria con-                          douros, indústrias e frigoríficos que trabalham com
siderar basicamente o abastecimento de milho e fare-                        produtos suínos e de órgãos de assistência técnica e
lo de soja para ração dos animais e, como fossa de re-                      assistência sanitária ao rebanho (IBGE, 2002, p. 56).
síduos, a capacidade de tratamento e aproveitamento
dos dejetos na propriedade como fertilizante. A maior                          Considerando as 670 mil cabeças de suínos esti-
preocupação atualmente na região refere-se à conta-                         madas pela PPM em 2004, e um volume médio anu-
minação da água e do solo por dejetos de suínos e,                          al de 3,24 m3 dejetos/suíno/ano (IN 11), a Tabela 4.1
por ser este o objetivo principal do presente relatório,                    mostra que o volume anual estimado de dejetos na
este trabalho limitará seus esforços na análise da ca-                      região da bacia do Rio Ariranha é da ordem de 2,2
pacidade de absorção dos dejetos pelo ambiente e nos                        milhões de m3/ano. As situações mais extremas ocor-
custos ambientais gerados pela atividade na região.                         rem nos municípios de Seara e Xavantina, que apre-
                                                                            sentam as maiores densidades de suínos por hectare.
   Para estimar o impacto dos dejetos no ambiente,
buscou-se inicialmente fontes oficiais de informa-                             A mesma IN-11 define que o tempo de retenção
ção sobre o rebanho de suínos e o volume de deje-                           dos dejetos na estrutura de armazenagem ou trata-
tos por ele gerado na região. Enquanto o volume de                          mento seja de, ao menos, 120 dias. Tempo este mi-
dejetos produzidos em cada sistema de criação pode                          nimamente necessário para que a carga de poluentes
ser obtido na Instrução Normativa No 11 – IN 11 –                           seja reduzida através da degradação da matéria orgâ-
da FATMA (ver Tabela 3.1), que define regras para                           nica e preservação do poder fertilizante. Estabelece
concessão de licenças ambientais aos produtores de                          ainda que o volume máximo de dejetos distribuído

   Tabela 4.1 – População e volume de dejetos de suínos produzidos na bacia do Rio Ariranha - SC
                         área                     Habitantes                                       Suínos
   Município           Município                        Densidade               Cabeças    Densidade suínos
                         (ha)1           População2                                                         Dejetos (m3/ano)4
                                                    População (hab/ha)          Suínos3      (suínos/ha)
 Arvoredo                 9.071             2.154          0,24                  51.850          5,72            167.994
 Ipumirim                24.707             6.769          0,27                  89.379          3,62            289.588
 Paial                    8.576             2.012          0,23                  10.041          1,17            32.533
 Seara                   31.254            17.059          0,55                 316.607         10,13           1.025.807
 Xavantina               21.507             4.181          0,19                 200.764          9,33            650.475
 Total                   95.115            32.175          0,34                 668.641          7,03          2.166.397
1 Fonte: IBGE (Disponível em www.ibge.gov.br)
2 População estimada em 2003. Fonte: IBGE (Disponível em www.ibge.gov.br)
3 Fonte: PPM 2004, IBGE (Disponível em www.ibge.gov.br)
4 Considerando volume médio de 3,24 litros de dejeto/suíno/ano.




                                                                                                                               1
por hectare de lavoura ou pastagens fique limitado                        A Tabela 4.2 apresenta os valores das áreas neces-
à quantidade de 50 m3/hectare, devendo o produtor                      sárias e aptas para recebimentos dos dejetos nos mu-
dispor de áreas aptas para aplicação desses dejetos ou                 nicípios que compõem a bacia do Rio Ariranha. Com
contrato com vizinhos que comprovem a disponibi-                       exceção dos municípios de Ipumirim e Paial, todos os
lidade de área para sua utilização.                                    demais apresentam áreas aptas insuficientes para de-
                                                                       pósito dos dejetos dentro de seus limites geográficos,
   A área disponível para depósito dos dejetos deve                    e, de maneira geral, há na região um déficit de aproxi-
considerar tanto as características do solo quanto a                   madamente 15 mil ha de áreas aptas para recebimento
declividade dos terrenos. Solos rasos, pedregosos e                    dos dejetos de suínos. Seriam necessários, anualmen-
muito inclinados não são indicados para depósito                       te, 43 mil ha para depósito dos dejetos, enquanto a
dos dejetos dado, principalmente, a baixa infiltração,                 área disponível na região gira em torno de 28,5 mil ha.
dificuldade de acesso e risco elevado de carreamento
deste material na época chuvosa para o leito dos rios.                    Há, portanto, uma carência correspondente a apro-
                                                                       ximadamente 16% do território da bacia, mas, con-
   A partir de informações do Instituto CEPA/SC,                       siderando que apenas 30% do território estaria apto
Testa et al. (1996) indicam que cerca de 31% das áre-                  para recebimento dos dejetos, significaria afirmar que
as do oeste catarinense poderiam ser consideradas                      a região necessita de mais 49.313 ha (=14.794*0,3)
como “aptas” para cultivo, constituindo-se de solos                    para que a legislação ambiental seja cumprida in-
profundos (1 m), de relevos com declives máxi-                        tegralmente. Em outras palavras, há um déficit to-
mos de 20% e pedregosidade máxima de 3%. Citan-                        tal de 52% do território para depósito dos dejetos.
do dados da EPAGRI e de Silva (2000)1, Berto (2001)
aponta valores próximos a 30% como áreas aptas fi-                        A partir da razão entre o volume máximo anual
sicamente para depósito dos dejetos na bacia hidro-                    de depósito de dejetos permitido por ha (50 m3/ha)
gráfica dos Fragosos, em Concórdia/SC.                                 e o volume médio de dejetos produzido anualmen-
                                                                       te por cabeça de suíno (3,24 m3/suíno/ano), é ainda
   Dada a convergência dos resultados e proximi-                       possível estimar a densidade máxima de suínos por
dade geográfica destes estudos supra mencionados,                      ha, que seria equivalente a 15,4 suínos/ha (=50/3,24).
este trabalho irá assumir uma parcela de 30% do ter-                   Esta razão refere-se às áreas aptas para recebimento
ritório como área potencial para depósito dos deje-                    dos dejetos, conforme sugere a legislação ambiental.
tos de suínos na bacia hidrográfica do Rio Ariranha.                   Se for considerado que apenas 30% do território total
Importante destacar que este potencial não leva em                     da região estaria apto para recebimento dos dejetos,
consideração o tipo de acesso à área e o fator econô-                  esta relação cairia para 4,6 suínos/ha (=15,4*0,3), Ou
mico na distribuição dos dejetos, o que, indubitavel-                  seja, cada hectare da região comportaria, em média,
mente, reduziria ainda mais as áreas aptas para depó-                  4,6 cabeças de suínos. Mas o que se observa nos esta-
sito dos dejetos. Pode-se, portanto, considerar que as                 belecimentos da região é uma densidade muito supe-
estimativas a serem apresentadas serão, em certa me-                   rior, correspondente a 7 suínos/ha (ver Tabela 3.1),
dida, conservadoras, ou seja, estarão superestiman-                    mostrando que a legislação ambiental ainda é insufi-
do a real área disponível para depósito dos dejetos.                   ciente para manter a qualidade do ambiente.


Tabela 4.2 – Área necessária e apta para depósito dos dejetos
                     área Município           Cabeças      Dejetos    área Necessária       área Apta      Excedente = B-A
    Município
                           (ha)                Suínos     (m3/ano)      (ha/ano)1 A        (ha/ano)2 B          (ha/ano)
    Arvoredo         9.071                   51.850     167.994      3.360              2.721             -639
    Ipumirim         24.707                  89.379     289.588      5.792              7.412             1.620
    Paial            8.576                   10.041     32.533       651                2.573             1.922
    Seara            31.254                  316.607    1.025.807    20.516             9.376             -11.140
    Xavantina 21.507                         200.764    650.475      13.010             6.452             -6.557
    Total            95.115                  668.641    2.166.397    43.328             28.534            -14.794
1 Considerando 50 m3 de dejetos/ha/ano
2 Considerando 30% de aptidão da área municipal



1
    Apud Berto (2001).




20
Importante salientar que todas as estimativas apre-         3) Ciclo completo de tratamento: custos de im-
sentadas referem-se a valores médios para a criação         plantação de um sistema integrado de tratamento
de suínos na região. Estimativas mais precisas para         dos dejetos, composto por biodigestores, lagoas de
cada propriedade poderão ser obtidas com informa-           aguapés e tanques psicultura, o qual eliminaria o ris-
ções pontuais sobre o sistema de criação empregado          co de contaminação do ambiente, resolveria possí-
(ciclo completo, unidade de criação de leitões, termi-      veis problemas de desproporcionalidade no balanço
nação, entre outros) e o volume de dejetos produzido        de nutrientes, além de agregar mais valor aos dejetos
em cada fase de vida do animal (ver Tabela 3.1).            com a criação de peixes.

4.1 – ESTIMATIVAS DO CUSTO DE                               4.1.1 – Primeiro cenário: adequação
CONTROLE DA POLUIçÃO CAUSADA                                à legislação ambiental
PELOS DEjETOS DE SUíNOS
                                                               O primeiro passo desta análise consistirá na esti-
   A partir do volume total de dejetos gerados anual-       mativa dos custos de controle da poluição para ade-
mente na região, serão agora estimados valores eco-         quação dos estabelecimentos que criam suínos à le-
nômicos associados à poluição ambiental. O objetivo         gislação ambiental vigente, que exige tempo mínimo
central será, ao final, utilizar o princípio do poluidor-   de retenção nas esterqueiras equivalente à no mínimo
                                                            120 dias para que o volume total de dejetos possa ser
pagador para propor políticas de incentivos negativos
                                                            aproveitado a uma taxa de 50 m3/ha de área apta ao
aos criadores de suínos, de tal forma que estes sejam
                                                            seu recebimento. Embora seja uma condição imposta
estimulados a controlar sua poluição. Neste contexto,
                                                            aos proprietários pelo Termo de Ajuste de Conduta,
a valoração ambiental surge como importante instru-
                                                            muitos ainda mantêm um sistema de armazenamento
mento de análise, já que custos de controle muito su-
                                                            subdimensionado, tornando a estimativa destes cus-
periores aos incentivos negativos incentivariam a ma-
                                                            tos totais de controle essencial como referência no es-
nutenção da poluição, da mesma forma que incentivos
                                                            tabelecimento de uma política de incentivos negati-
negativos muito altos comprometeriam a produção e
                                                            vos para adequação dos mesmos à legislação ambien-
ameaçariam a economia da região que é fortemente
                                                            tal. Caberá ainda ao agente fiscalizador o abatimento
dependente da suinocultura.
                                                            dos valores equivalentes ao volume já tratado por cada
                                                            proprietário.
   A metodologia de valoração adotada neste traba-
lho foi a dos custos de controle, que representa os            Importante também assinalar que as estimativas
gastos necessários para evitar a variação do bem am-        apresentadas nestas análises são aproximações dos re-
biental e garantir a qualidade dos benefícios gerados       ais valores de controle, que poderão ser aprimoradas
à população (para maiores detalhes ver Maia, Ro-            com um estudo mais apurado sobre os condicionantes
meiro  Reydon, 2004). É o caso, neste estudo, de es-       locais, como, por exemplo, os tipos de propriedades
timar os custos do tratamento dos dejetos de suínos         existentes na região (classificação mais apurada se-
para evitar a poluição dos solos e rios da região.          gundo número de cabeças de suínos e sistema de cria-
                                                            ção), o volume de dejetos gerados por cada uma delas
  Serão propostos 3 possíveis cenários de controle          e seus respectivos custos de controle.
da poluição para a região:
                                                               As informações sobre o número de estabelecimen-
  1) Adequação à legislação ambiental: custos de            tos com suínos na região foram obtidas no Levanta-
controle da poluição para as criações ao Termo de           mento Agropecuário de Santa Catarina da EPAGRI/
Ajuste de Conduta, que estabelece um tempo míni-            SC. Esta pesquisa foi realizada de 1° de setembro de
mo de 120 dias de retenção dos dejetos em um siste-         2003 até março de 2004, abrangendo todos os estabe-
ma secundário de armazenamento;                             lecimentos agropecuários do Estado de Santa Catari-
                                                            na, e os valores referem-se a 31/08/2003.
   2) Redução da carga poluente: custos de imple-
mentação de biodigestores para eliminar o déficit
                                                              A Tabela 4.3 apresenta o número de estabeleci-
de áreas disponíveis para depósito dos dejetos de
                                                            mentos com 100 ou mais cabeças de suínos em cada
suínos, permitindo o aproveitamento integral dos
                                                            um dos municípios da bacia do Rio Ariranha2 e uma
dejetos produzidos atualmente como biofertilizan-
te e agregação de valores com o aproveitamento do           2
                                                              Não havia discriminação dos estabelecimentos com 100 ou mais suínos na pro-
biogás;                                                     priedade. Os pequenos estabelecimentos foram excluídos da análise por correspon-
                                                            derem a parcela insignificante do total de cabeças de suínos (2%) na região, além de
                                                            não se enquadrarem na política de metas de poluição a ser proposta neste projeto.




                                                                                                                                            21
Tabela 4.3 – Estimativa do número de estabelecimentos na bacia do Rio Ariranha
                           Cabeças              Dejetos                                  N médio cabeças /    Volume médio dejetos /
     Município                                                    N Estabecimentos1
                           Suínos              (m3/ano)                                   estabelecimento    estabelecimento (m3/ano)
    Arvoredo                51.850              167.994                     70                  741                    2.400
    Ipumirim                89.379              289.588                    185                  483                    1.565
    Paial                   10.041               32.533                     20                  502                    1.627
    Seara                  316.607             1.025.807                   443                  715                    2.316
    Xavantina              200.764              650.475                    311                  646                    2.092
    Total                  668.641             2.166.397                  1.029                 650                    2.105
1 Fonte: Levantamento Agropecuário de Santa Catarina (EPAGRI, 2005).

estimativa do volume médio de dejetos produzido                                      As esterqueiras de PVC são mais freqüentes em
por estabelecimento. Reconhece-se, todavia, que a                                 virtude dos custos consideravelmente inferiores,
inexistência de uma discriminação mais apurada das                                embora a construção de alvenaria seja também reco-
grandes unidades criadoras de suínos no relatório da                              mendada pela maior durabilidade e possibilidade de
EPAGRI restringe a análise aos valores médios ob-                                 futuro aproveitamento da estrutura para construção
servados na bacia, não retratando fielmente a hete-                               de um biodigestor. Para derivar a função dos custos
rogênea distribuição dos poluentes entre os estabele-                             em relação ao dimensionamento (m3), ajustou-se
cimentos agropecuários. Desta forma, embora a re-                                 um modelo de regressão para cada tipo de estrutura
gião apresente como um todo um volume médio de                                    (ver Figura 4.1).
2,1 m3 de dejetos/ano/estabelecimento, a concentra-
ção faz com que muitos pequenos estabelecimentos                                     No caso da esterqueira de PVC, a equação linear
sejam responsáveis por apenas uma pequena parce-                                  ajustou-se quase que perfeitamente aos valores obser-
la dos dejetos totais, enquanto a grande maioria dos                              vados (R2 de 99,8%), apontando para um custo fixo
dejetos é gerada em um pequeno número de grandes                                  girando em torno de 2.759 reais e um custo variável
estabelecimentos.                                                                 de aproximadamente 15,1 reais por m3 de esterquei-
                                                                                  ra. Desta forma, uma esterqueira de PVC com 150 m3,
   Para estimar os custos médios da estrutura de ar-                              por exemplo, custaria aproximadamente 5.022 reais
mazenamento dos dejetos produzidos nos estabe-                                    (2.758,8 + 15,1 * 150).
lecimentos, consultaram-se os relatórios técnicos
da Embrapa Aves e Suínos. Em um destes estudos,                                      Já os custos das esterqueiras de alvenaria apresen-
Girotto e Chiochetta (2004) apresentam os custos                                  tam uma relação exponencial com o dimensiona-
de implantação de esterqueiras mais comuns na re-                                 mento (m3), com um modelo logarítmo duplo ajus-
gião (ver Tabela 4.4). Os valores originais (de no-                               tando-se quase que perfeitamente aos valores obser-
vembro/2004) foram deflacionados para janeiro de                                  vados (R2 de 99,9%). Desta forma, uma estrutura de
2006 utilizando o deflator do IGP-DI da Fundação                                  alvenaria de 150 m3, por exemplo, pode ser estimada
Getúlio Vargas3.                                                                  em, aproximadamente, 14.530 reais.

Tabela 4.4 – Custos de implantação de esterqueiras para dejetos de suínos
                 Dimensão (m3)                                           Alvenaria                                PVC
                      50                                                  7.804,22                              3.191,04
                     100                                                 11.120,92                              4.206,94
                     200                                                 16.975,73                              5.884,82
                     300                                                 21.839,91                              7.562,69
                     500                                                 29.731,87                              10.499,58
                     900                                                 42.497,43                              16.134,10
* Valores em janeiro/2006
Fonte: Girotto e Chiochetta (2004).




3
 Conversão obtida no site do Banco Central do Brasil (Disponível em: http://
www.bcb.gov.br. Acessado em 23/mai/2006).




22
Custo (R$ × 1.000)   45

                     40

                     35                                                             3
                                  Custo Alvenaria = exp [6,62 + 0,59 ln (m )]
                                                           2
                     30                                   R = 0,9990

                     25

                     20

                     15

                     10
                                                                                                                3
                                                                             Custo PVC = 2758,8 + 15,086 m
                     5
                                                                                         2
                                                                                        R = 0,9976
                     0
                           0         100            200        300     400    500       600       700     800       900
                                                                                                                     3
                          Valores em janeiro/2006                                                                   m

Figura 4.1 – Projeção dos custos de implantação de esterqueiras de alvenaria e PVC

   Constata-se, partir das informações da Tabela 4.5,                                         tentável entre as criações de suínos e o meio ambien-
que a definição da estrutura da esterqueira cumpre                                            te da região. Mesmo tratados em esterqueiras, há ex-
papel sigificativo nos custos totais de controle da po-                                       cedente de dejetos na região para serem utilizados
luição. Os custos totais para as esterqueiras de alve-                                        como fertilizantes: seria ainda necessário cerca de
naria (37 milhões de reais) correspondem a quase                                              16% de áreas aptas, ou 52% do território total dos
três vezes os custos estimados para as esterqueiras de                                        municípios que compões a bacia do Rio Ariranha
PVC (13,6 milhões). De qualquer forma, considera-                                             para depósito integral dos dejetos na região.
se, mesmo no caso da esterqueira de PVC, um cus-
to médio relativamente elevado (13,2 mil reais) para                                             Um dos grandes entraves ao armazenamento, tra-
muitos pequenos proprietários que não apresentam                                              tamento e transporte dos dejetos de suínos é sua ex-
renda per capita suficiente para amortização destes                                           cessiva diluição, que diminui a concentração de nu-
valores ao longo do tempo.                                                                    trientes e dificulta a sua manipulação como bioferti-
                                                                                              lizante. A redução no volume dos dejetos teria, pois,

               Tabela 4.5 – Dimensionamento e custo médios das esterqueiras
                                       Dimensão          Esterqueira Alvenaria                                                  Esterqueira PVC
                     Volume médio
                                     média da ester- Custo médio                                                          Custo médio
   Município N Estab dejetos / estab                                  Custo total                                                         Custo total
                                       queira por      por estab                                                            por estab
                        (m3/dia)                                         (R$)                                                                 (R$)
                                      estab (m3)1         (R$)                                                                 (R$)
   Arvoredo 70       6,58            789             38.818,53      2.717.297,27                                          14.661,87      1.026.331,11
   Ipumirim 185      4,29            515             30.142,70      5.576.400,18                                          10.522,56      1.946.673,55
   Paial     20      4,46            535             30.835,98      616.719,54                                            10.826,60      216.532,07
   Seara     443     6,34            761             38.005,28      16.836.337,94                                         14.243,65      6.309.934,97
   Xavantina 311     5,73            688             35.783,69      11.128.728,40                                         13.132,50      4.084.208,45
   Total     1.029   5,77            692             35.923,07      36.964.842,15                                         13.200,86      13.583.680,14
* Valores em janeiro/2006
1 Assumindo 120 dias de retenção



4.1.2– Segundo cenário: redução                                                               influência direta sobre a capacidade das unidades de
da carga poluente                                                                             armazenamento e tratamento dos dejetos, bem como
                                                                                              em sua valorização como fertilizante: quanto menor a
  Como constatado nas análises anteriores, o cum-                                             diluição, maior a concentração de nutrientes por uni-
primento da legislação ambiental é uma condição                                               dade de volume transportado para as lavouras e, con-
necessária mas não suficiente para o equilíbrio sus-                                          seqüentemente, menor o custo envolvido no processo.



                                                                                                                                                    23
A solução proposta neste segundo cenário é a im-       Aves e Suínos. O custo fixo de um biodigestor de 150
plantação de biodigestores nos estabelecimento que,       m3 foi obtido a partir do estudo de Kunz et al (2005),
além de reduzirem a matéria orgânica e o potencial        e considera desde a demanda de investimentos em
poluidor dos dejetos, ainda seriam capazes de agre-       estrutura e equipamentos para implantação de um
gar valor aos mesmos aumentando seu poder fertili-        biodigestor até as despesas necessárias para a entra-
zante e viabilizando seu aproveitando sob a forma de      da em operação e aproveitamento do biogás para ser
biogás como fonte de energia. Estudos apontam que         queimado e transformado em energia térmica. Os
os dejetos tratados em biodigestor, além de produ-        valores foram observados em uma granja modelo de
zir biogás, têm a carga orgânica reduzida em cerca        Peritiba-SC, e correspondem a um total aproximda-
de 80% e os sólidos totais reduzidos em aproximada-       do de R$ 30 mil reais4. Já os custos adicionais para
mente 50% (EMBRAPA, 2005).                                aqueles biodigestores com dimensão superior a 150
                                                          m3 foram obtidos do inventário tecnológico para sis-
   O tratando dos dejetos com biodigestores resol-
                                                          temas de tratamento de dejetos suínos (EMBRAPA,
veria, pois, os problemas ambientais associados ao
excesso de volume de dejetos produzidos na região,        2005), que define um custo aproximado de R$ 176,68
conforme trata a legislação ambiental. Entretanto, é      por m3 de câmara de digestão5. Mais precisamente,
ainda necessário um estudo específico sobre o balan-      dada a dimensão média necessária para o biodiges-
ço de nutrientes resultantes das atividades agropecu-     tor (Dimensão), seu custo médio foi obtido pela ex-
árias desenvolvidas na região, ou seja, deve-se ainda     pressão matemática:
observar se os nutrientes do biofertilizante resultan-
te da biodigestão se encontram na proporção exigida            Custo = 29.984,99 + (Dimensão-150) 176,68
pelas culturas da região.
                                                             A Tabela 4.6 apresenta os custos necessários para
   Da mesma forma que o uso dos dejetos de suínos         controle da poluição no segundo estágio de trata-
como fertilizante melhora a produtividade agrícola,       mento dos dejetos, considerando os valores médios
em doses elevadas podem se tornar prejudiciais às cul-    observados em cada município e na região como
turas e ao ambiente. Os principais benefícios dos de-     um todo. Mais uma vez, constata-se um custo mé-
jetos estão associados à reposição de macronutrientes     dio relativamente elevado por estabelecimento (44,2
NPK (nitrogênio, fósforo e potássio) e de vários mi-      mil reais), sugerindo que deva haver um comparti-
cronutrientes como zinco, ferro, manganês e cobre.        lhamento das responsabilidades para que o ônus do
Estes elementos presentes nos dejetos de suínos po-       controle não invibilize a atividade desenvolvida pe-
dem, por outro lado, tornarem-se potencial fonte de       los pequenos proprietários.
poluição quando utilizados desproporcionalmente.
                                                             A verdade é que estes custos relativamente eleva-
   Analisando a relação entre o balanço de massas         dos de implantação dos biodigestores desconsideram
de nutrientes da produção de suínos no oeste cata-        os benefícios do aproveitamento do biogás como fon-
rinense e o sistema de produção local, Berto (2001)       te de energia, podendo tornar-se, em alguns estabele-
observa, por exemplo, que o nitrogênio e o fósforo        cimentos, um sistema de tratamento auto-financiável.
concentrados nos dejetos de suínos excedem em cer-
ca de 3 vezes o que é reaproveitado pela agricultura e       Segundo Zago (2003), a geração de energia elétri-
pecuária na região. Estes resultados apontariam para      ca a partir do biogás torna-se economicamente viá-
a necessidade de outras medidas, além da utilização       vel quando a propriedade possuir capacidade de pro-
dos dejetos como fertilizante, caso contrário os ris-     dução mínima de 200 m³/dia de biogás. Consideran-
cos de poluição do solo e dos recursos hídricos com       do que um biodigestor com tempo de retenção entre
nitrogênio e fósforo seriam inevitáveis.                  20 a 50 dias é capaz de produzir entre 0,25 e 0,65 m3
   O dimensionamento do biodigestor é, assim como         de biogás por m3/digestor/dia (Oliveira, 2004), e su-
nas esterqueiras, um produto entre o volume médio         pondo, portanto, que um biodigestor com 40 dias de
diário de dejetos produzido pelo estabelecimento          retenção do dejetos produza aproximadamente 0,50
                                                          m3 de biogás por m3/digestor/dia, para o biodiges-
(m3/dia) e o tempo de retenção dos dejetos, que no
                                                          tor ser economicamente viável o estabelecimento de-
caso do biodigestor varia entre 20 e 50 dias. Para via-
                                                          veria ter uma capacidade de tratamento no biodiges-
bilizar as análises, adotou-se neste trabalho um tem-
                                                          tor de 400 m3 de dejetos (=200/0,5). Para viabilizar o
po médio de 40 dias.
                                                          investimento, o agricultor teria que encontrar formas
   Os custos de implantação dos biodigestores foram       4
                                                              Valor deflacionado de novembro/2004 para janeiro/2006 pelo IGP-DI (FGV).
estimados a partir de relatórios técnicos da Embrapa      5
                                                              Valor deflacionado de julho/2003 para janeiro/2006 pelo IGP-DI (FGV).




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Cadernos GESTAR nº 3

  • 1. Ministério do Meio AMbiente secretaria de Políticas para o desenvolvimento sustentável CAdernos GestAr nº 3 Gestar Ariranha – Análise Econômica da Atividade Suinícola Gestar viva melhor na sua comunidade
  • 2. REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL Luiz Inácio Lula da Silva – Presidente do Brasil José Alencar Gomes da Silva – Vice-Presidente MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE Marina Silva – Ministra do Meio Ambiente Cláudio Langone – Secretário Executivo Gilney Amorim Viana – Secretário de Políticas para o Desenvolvimento Sustentável Roberto Ricardo Vizentin – Diretor de Programa Sílvio Menezes – Chefe de Gabinete EQUIPE GESTAR Carcius Azevedo dos Santos – Coordenador Nacional Antônio Carlos Rodrigues Cruz Ivanise Knapp José Flávio dos Santos Mário César Batista de Oliveira EQUIPE DE CONSULTORIA – TCP/3004/FAO/MMA Horácio Martins de Carvalho – Consultor Principal Flávio Mesquita da Silva – Gestão Ademar Ribeiro Romeiro - Economia Carlos Teodoro José Hugueney Irigaray - Legislação Gelso Marchioro – PGAR Ariranha SUPERVISÃO TÉCNICA Roberto Ricardo Vizentin Carcius Azevedo dos Santos Antônio Carlos Rodrigues Cruz Ivanise Knapp PROjETO GRáFICO Fabiano Bastos Catalogação na Fonte Instituto do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis P964 Gestar Ariranha/SC: Análise Econômica da Atividade Suinícola / Ministério do Meio Ambiente, Secretaria de Políticas para o Desenvolvimento Sustentável. – Brasília: MMA, 2006. 56 p. : il. ; 21 x 29,7 cm Bibliografia 1. Gestão ambiental. 2. Desenvolvimento sustentado. I. Ministério do Meio Ambiente. II. Secretaria de Políticas para o Desenvolvimento Sustentável. III. Título. CDU (2.ed.)502.35
  • 3. SUMáRIO 1. APRESENTAÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5 2. INTRODUÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6 PARTE A – PRELIMINARES CONCEITUAIS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7 1. Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .7 2. Do processo de planejamento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .7 3. Do plano. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .7 4. Do sujeito, objeto, natureza e horizonte do plano . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .8 5. Estrutura lógica de um plano. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .9 PARTE B - PROCEDIMENTOS PARA A ELABORAÇÃO DO PGAR . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12 1. Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .12 2. Da organização geral para a elaboração do PGAR . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .12 3. Da estrutura lógica do PGAR . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .13 4. Dos padrões de sustentabilidade e da abrangência . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .13 5. Da natureza e do horizonte do plano . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .15 6. Da problemática a ser superada. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .16 7. Do cenário atual, tendencial e desejado . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .17 8. Das metas finais e das operacionais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .19 9. Dos resultados a serem alcançados (impactos) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .20 10. Das estratégias de ação para alcançar as metas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .21 11. Dos recursos a serem mobilizados para a consecução do PGAR . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .22 12. Do sistema de monitoramento e avaliação do PGAR. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .22 13. Da redação final do PGAR. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .28 14. Das fases de implantação do PGAR . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .28 REfERêNCIAS BIBLIOGRáfICAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30
  • 4.
  • 5. 1. APRESENTAÇÃO A Secretaria de Políticas para o Desenvolvimento formas de organização social das atividades econô- Sustentável – SDS/MMA – tem como missão promo- micas no nível local, assim como pela sua inserção ver políticas e instrumentos que consolidem princí- no sistema econômico como um todo. pios e práticas do desenvolvimento sustentável, sem- pre integrando ações do governo com a sociedade. Nesse sentido, o GESTAR combina reflexão com ação, visão ampla do território com a realidade das Um dos objetivos básicos da SDS/MMA é a elabo- unidades produtivas, mobilização comunitária com ração e adoção de estratégias que permitam superar o engajamento e participação de cada família. problemas ambientais provocados pelo atual modelo de desenvolvimento econômico e tecnológico, bem Para a elaboração deste caderno, contamos com como o desenvolvimento de alternativas sustentáveis a consultoria do Dr. Ademar Ribeiro Romeiro, bem para o relacionamento da sociedade com a natureza. como toda a equipe técnica envolvida nesse projeto. Gilney Viana Sob coordenação do Departamento de Gestão Secretário de Políticas para o Ambiental e Territorial (DGAT/SDS/MMA) e a par- Desenvolvimento Sustentável – SDS/MMA ceria institucional da Organização das Nações Uni- das para Agricultura e Alimentação (FAO/ONU), o José Tubino Projeto de Gestão Ambiental Rural – GESTAR dedi- Representante da FAO/BRASIL ca-se a difundir e consolidar o desenvolvimento rural sustentável e a justiça ambiental, por meio de ações de motivação, capacitação e engajamento das comu- nidades, em busca da melhoria da qualidade ambien- tal e das condições de vida nos territórios onde atua. O principal objetivo do GESTAR é contribuir para o desenvolvimento de programas e projetos de de- senvolvimento rural sustentável. Para tanto, dissemi- na e coordena atividades ligadas à gestão ambiental territorial, além de integrar políticas governamentais que envolvam a participação direta das comunidades, motivando o sentimento de pertença no território, que fortaleça a capacidade técnica das instituições go- vernamentais e das organizações da sociedade civil. Este documento sistematiza os procedimentos para a implantação e desenvolvimento das propostas do GESTAR nas suas diversas unidades territoriais constituídas no país. O fundamental da abordagem territorial adotada pelo GESTAR é a identificação dos problemas socio- ambientais e o levantamento das estratégias de solu- ção disponíveis. O ponto de partida é a compreen- são dos sistemas de produção e dos problemas am- bientais a eles associados. Na perspectiva GESTAR, a sustentabilidade está fortemente condicionada pelas
  • 6.
  • 7. 2. INTRODUÇÃO O Brasil é um dos maiores produtores mundiais finição de políticas sustentáveis para os proprietá- de carne suína, com 34 milhões de abates no ano rios do oeste catarinense. O problema é que o custo de 2004, e o Estado de Santa Catarina é o principal demasiadamente elevado de alguns sistemas de tra- produtor nacional, com 20% da produção e 80% das tamento de dejetos restringe sua adoção a uma pe- exportações nacionais (ABIPECS, 2006). Em 2002, quena parcela de produtores capitalizados1, enquan- Santa Catarina possuía um plantel de aproximada- to a grande maioria dos estabelecimentos agrícolas mente 5,4 milhões de cabeças, com aproximadamen- do oeste catarinense não possui lastro financeiro su- te 418 mil matrizes alojadas em cerca de 12 mil pro- ficiente para adequar-se às exigências da legislação priedades suinícolas, sendo 2.300 destas indepen- ambiental. Embora algumas instituições locais au- dentes e 9.700 integradas a uma grande agroindús- xiliem os proprietários na definição de sistemas de tria exportadora (Henn, 2005). Neste estado, desta- manejo dos dejetos e alternativas econômicas à cria- ca-se ainda o oeste catarinense pela maior produção ção de suínos, falta ainda uma política mais eficiente da região e pelo nível tecnológico empregado na pro- de incentivos financeiros e controle da poluição para dução (Brasil, 2002). que as responsabilidades não recaiam exclusivamen- te aos proprietários. Estas políticas são ainda mais A suinocultura cumpre um importante papel de emergenciais à parcela de agricultores não capitali- fixação do homem no campo e alternativa da renda zados, para que estes não sejam obrigados a abando- de pequenas propriedades rurais no Brasil. Tem sido nar o setor e aventurarem-se nas já disputadas ocu- uma atividade desenvolvida basicamente em pe- pações urbanas. quenas propriedades rurais familiares e sua expan- são está fundamentada na ampliação dos sistemas de Uma política eficaz de desenvolvimento susten- confinamento de produção, onde são observadas as tável deve também identificar a responsabilidade maiores taxas de produtividade (Brasil, 2002). de cada agente econômico no controle da poluição. Mesmo prevalecendo na região o esquema de par- Ao mesmo tempo em que o sistema de confina- cerias, onde a maioria dos pequenos proprietários é mento de suínos possibilitou o aumento da escala de apenas responsável pela terminação (engorda) dos produção, reduziu o número de pessoas envolvidas suínos da grande indústria processadora de alimen- na atividade, aumentou o volume de dejetos por hec- tos, estes acabaram responsáveis pelo tratamento dos tare de terra e a preocupação dos organismos gover- dejetos segundo o Termo de Compromisso de Ajus- namentais e não governamentais com a sustentabi- tamento de Condutas (TAC), assinado em 2004. lidade da atividade e o bem-estar social das popula- ções produtoras. O TAC objetivava adequar os estabelecimentos suinícolas à legislação ambiental e sanitária, mitigan- Neste contexto, o Ministério do Meio Ambiente do o impacto ambiental causado pelos dejetos suínos. (MMA) estabeleceu convênio com a Organização Entre suas principais cláusulas, estavam: o licencia- das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultu- mento das atividades suinícolas somente mediante ra (FAO) e elaborou o projeto de Gestão Ambiental ao cumprimento da legislação ambiental vigente; es- Rural Sustentável (GESTAR), propondo políticas pú- tabelecimento de ações dos suinocultores em respei- blicas voltadas à promoção da gestão ambiental em to ao programa de recomposição da mata ciliar; crité- assentamentos humanos nas bacias hidrográficas. A rios para construção das estruturas de armazenamen- bacia do rio Ariranha, localizada no oeste catarinen- to e tratamento de dejetos, bem com sua distribuição se e uma das maiores densidades de suínos do país, e aproveitamento como fertilizante e fonte de ener- foi um dos focos de análise escolhido para desenvol- vimento, aplicação e validação de ações que possibi- 1 Segundo Silvestro et al. (2001), os estabelecimentos agrícolas podem ser categori- litem seu desenvolvimento sustentável. zados em 3 grupos: i) capitalizados: estabelecimentos que permitem um valor agre- gado superior a 3 salários mínimos mensais por mão-de-obra ocupada e corres- pondem a 13% das unidades agrícolas do oeste catarinense; ii) em transição: onde Conciliar bem-estar social, com a crescente pres- o valor agregado está entre um e três salários mínimos mensais e correspondem a são para a produção intensiva de suínos e a preser- 29% dos estabelecimentos agrícolas do oeste catarinense; iii) descapitalizados: re- presenta a maior parcela dos estabelecimentos do oeste catarinense (42%), onde vação do meio ambiente tem sido o desafio para de- o valor agregado é inferior a 1 salário mínimo mensal por mão-de-obra ocupada.
  • 8. gia; comprometimento das agroindústrias com a as- Para cumprir tais objetivos, este relatório foi divi- sistência técnica aos produtores; e comprometimen- dido em 5 tópicos principais. Nos dois primeiros tó- to dos demais signatários envolvidos em desenvolver picos será apresentado o contexto econômico que le- programas de educação ambiental aos produtores. vou à concentração e intensificação da produção na região, aumentando os problemas ambientais causa- Entrevistas qualitativas realizadas entre os suino- dos pelos dejetos de suínos, bem como alternativas cultores da região também constataram que grande sustentáveis à suinocultura. No terceiro tópico serão maioria destes diverge a respeito da responsabilidade apresentadas duas das principais tecnologias para ar- envolvidas sobre os dejetos pelo TAC. Enquanto uma mazenamento e tratamento dos dejetos, as esterquei- parte dos suinocultores acredita que a responsabili- ras e biodigestores. No quarto tópico estas tecnolo- dade é do produtor, outra parte afirma que a agroin- gias serão adotadas como referência para análise dos dústria deveria ter parte da responsabilidade. custos da poluição na bacia do Rio Ariranha, estima- O que há de certo nessa questão é que ela ainda tivas que serão a base, por sua vez, para a proposta de não está resolvida nem mesmo entre os produto- uma política de gestão ambiental na região. No quin- res e, enquanto isso, a agroindústria tem colocado to e último tópico, será proposta a política de gestão como condição para a manutenção do contrato de ambiental que objetiva resolver o problema da polui- integração, que seus integrados tratem os dejetos e ção causada pelos dejetos, sem que o ônus recaia ex- que cumpram com o TAC. A única contribuição da clusivamente aos proprietários e à sociedade de ma- agroindústria para isso é o caso da Sadia, que possui neira geral. uma política específica, o financiamento para a com- Nota de Esclarecimento: O presente trabalho pra de biodigestores. apresenta as simplificações abaixo pelos seguintes Apesar de polêmico, o TAC apresentou uma ino- motivos: 1 - o escopo do estudo de caso, ou seja, os vação importante que foi o condicionamento da con- municípios da bacia do rio Ariranha; 2 - o tempo de cessão da licença ambiental a um número máximo três meses estabelecido para a presente pesquisa; 3 de suínos por propriedade segundo a relação entre - a ausência de um banco de dados de órgãos públi- o volume de dejetos gerado e a quantidade de ter- cos locais que contenha: o número exato de criado- ras disponível na propriedade para que estes possam res; o número de suínos em cada fase de produção na ser utilizados como fertilizante. Os grandes criado- região; o número de criadores e abates por empre- res que não possuíam áreas aptas para recebimentos sa integradora; 4 – A ausência de métodos científi- dos dejetos foram obrigados a realizar contratos com cos simplificados para o cálculo seguro do balanço propriedades vizinhas que se comprometessem a re- de nutrientes. ceber os dejetos, conforme sugere o TAC. PRINCIPAIS SIMPLIFICAçõES ADOTADAS: Porém, especialistas divergem sobre a eficiência 1 – As estimativas do impacto causado pelos deje- desta cláusula, afirmando que a relação volume de tos de suínos e respectivos custos de tratamento es- dejetos por unidade de área apta mascara a concen- tão baseadas em dados do Instituto Brasileiro de Ge- tração de nutrientes existentes nos dejetos e que não ografia e Estatística (IBGE) para o número total de são totalmente absorvidos pelas áreas de agricultura e pastagem. Uma política mais eficiente deveria con- cabeças e não nos dados fornecidos pelos órgãos lo- siderar o número de suínos por propriedade segundo cais, que poderiam ser muito mais exatos quanto à a concentração de nutrientes por unidade de terra, ou produção exata de dejetos em cada fase da produção. seja, observar se os nutrientes do fertilizante se encon- 2 – Utilização do volume de 50 m³/Ha para a esti- tram na proporção exigida pelas culturas da região. mativa da pegada ecológica da suinocultura, subesti- Neste contexto, este trabalho propõe-se a analisar mando o impacto ambiental dos dejetos de suínos. as principais tecnologias para tratamento dos dejetos 3 – Para exemplificar a aplicação do modelo foi ar- de suínos, verificando a eficiência das mesmas face bitrado um período de 10 anos para a eliminação da aos problemas apresentados na região, e propor uma pegada ecológica da suinocultura. Em caso de apli- política de gestão ambiental que responsabilize os cação da proposta de gestão, o estabelecimento de tal principais agentes envolvidos no processo, de tal for- período deve ser amplamente discutido entre os se- ma que o ônus dos impactos ambientais não recaiam tores interessados. sobre toda a sociedade e não inviabilize economica- mente a atividade fundamental para economia da re- gião (ver Anexo A).
  • 9. 1- O PROcESSO DE cONcENTRAÇÃO DA PRODUÇÃO Os sistemas de confinamento de suínos são res- são responsáveis pelo êxodo de jovens integrantes fa- ponsáveis pelo aumento da escala de produção e di- miliares para as áreas urbanas, onde muitos acabam minuição do número de pessoas envolvidas, carac- engrossando as estatísticas de desemprego e das di- terizando-se pela criação de um grande número de versas categorias de empregos precários e informais. animais em pequenas áreas. O aperfeiçoamento da Os jovens, principalmente aqueles com maior grau tecnologia de criação também levou à concentração de escolaridade, estão pouco dispostos a continuar do setor em Santa Catarina, reduzindo em mais de na atividade desenvolvida pelos pais e é preocupante 80% o número de propriedades em pouco mais de constatar que grande maioria das famílias não possui duas décadas (Kunz et al., 2005)1. Acompanham, de sucessores para sua pequena produção familiar. certa forma, as recentes tendências dos mercados in- ternacionais, que levam à espacialização e concentra- Face às incertezas do setor, muitos proprietários ção da produção para a obtenção de maior produti- aderiram ao sistema de parcerias como forma de in- vidade e menores custos nos mais diversos setores de tegração a uma grande indústria processadora ou a atividade. Segundo Henn (2005), citando dados do um intermediário que centraliza a comercialização Instituto CEPA/SC de Agosto de 2003, de um total dos suínos. Neste sistema, os proprietários rurais são de 7.000 suinocultores integrados detentores de 310 apenas responsáveis por uma das três fases do pro- mil matrizes no Estado de Santa Catarina, 42 pro- cesso produtivo, quais sejam: a maternidade, criação priedades detinham 65% das matrizes e respondiam até o ponto em que o leitão se alimenta sem ajuda; as por 20% da produção suinícola. creches, que recebem os leitões da maternidade e o engordam até, aproximadamente 25 kg e a termina- As crises pelas quais tem passado o setor, como a ção, que cria o suíno recebido das creches e o alimen- causada pelo aumento dos custos de produção (fun- tam até o peso de 110 kg, aproximadamente, a partir damentalmente, milho e farelo de soja), a implanta- dos terminadores os suínos são abatidos pelas em- ção de cotas de importações estabelecidas pela Rús- presas integradoras. sia (principal país importador da carne suína brasi- leira) e a queda nas exportações devida ao temor da No processo de parceira com a agroindústria, o febre aftosa, têm sido responsáveis pelo agravamento criador recebe uma quantia fixa por unidade produ- das condições sócio-econômicas das pequenas pro- zida, que depende, além das leis de mercado, da efi- priedades produtoras. O Brasil ainda se caracteriza ciência do sistema de produção (ração/suíno, mor- pelos baixos custos de produção e pelas piores rela- talidade, necessidade de medicação, entre outras). A ções preço/custo pagas ao produtor (US$ / Kg suíno divisão de tarefas entre os suinocultores e agroindús- vivo) em relação aos demais produtores internacio- trias baseia-se no fato de que o suíno pertence à in- nais (Henn, 2005). Muitos pequenos proprietários dústria e as despesas relacionadas aos suínos, como dizem manter a terminação de suínos apenas para alimentação, medicação e vacinação, deveriam ser suprir as necessidades de adubo nas pastagens, com responsabilidade da indústria, enquanto que a res- rendimento familiar dependente da produção de lei- ponsabilidade do produtor se estenderia às instala- te. Segundo entrevista (ANEXO II – Produtor P7), ções, ou seja, à pocilga. A discussão a respeito da res- o valor recebido pelos criadores equivale a 43% do ponsabilidade pelos dejetos será feita mais adiante. custo de produção. O preço pago aos produtores têm sido determina- Silvestro et al. (2001) relatam como as dificulda- do pela agroindústria abaixo do custo de produção. des vivenciadas pelas famílias de pequenos proprie- Esta política de preços, em si, já incentiva à concen- tários agrícolas e a falta de expectativas no campo tração por meio da descaptalização dos produtores, porém, atualmente há, ainda, um processo de estí- 1 Eram cerca de 67 mil propriedades em 1980 contra aproximadamente 13 mil em mulo ao aumento da produção de suínos nas pro- 2003, segundo dados da ACCS – Associação Catarinense de Criadores de Suínos priedades e o aumento do número mínimo de suínos (Kunz et at., 2005).
  • 10. necessários para que o produtor possa se integrar à indústria. Tais estratégias das agroindústrias par- ceiras visam à concentração da produção como for- ma de obterem maiores retornos econômicos. Parte importante desses retornos provém da redução dos custos de transporte tanto de suínos, quanto de in- sumos. Uma suinocultura economicamente viável, do ponto de vista do produtor, depende, sobretudo, do controle da produção para que seja alcançada uma relação entre oferta e demanda que gere um aumento no preço pago ao suinocultor para que estes possam ter um faturamento acima do custo de produção. 10
  • 11. 2. IMPACTOS AMBIENTAIS E ALTERNATIVAS à SUINOCULTURA As recentes transformações da suinocultura foram acompanhadas pelo aumento da preocupação dos or- ganismos governamentais e não governamentais tos países condicionam a liberação de barreiras ao com a sustentabilidade dos sistemas de produção e fornecimento de produtos com qualidade ambien- com o bem-estar social das populações produtoras. tal. Estas normas estabelecem orientações ao longo A contaminação dos cursos de água, da maior parte do ciclo de vida do produto consumido, avaliando das fontes de água e dos lençóis freáticos, é um grave desde a produção animal até a industrialização da problema ambiental com impactos que podem atin- carne suína colocada nas prateleiras dos supermer- gir a saúde da população. Tais impactos são prove- cados (Henn, 2005). nientes da carga orgânica, do excesso de nutrientes, principalmente nitrogênio e fósforo e dos metais zin- Várias propostas de manejo dos dejetos de suínos co e cobre existentes nos dejetos. têm sido adotadas no Brasil, sendo que grande par- te delas apenas reduz o potencial poluidor e, embora Neste contexto, ao mesmo tempo em que se bus- empeçam que os resíduos finais sejam lançados di- ca a diminuição dos custos com alimentação, ins- retamente nos cursos d’água, ainda assim, mantêm talação e maior retorno econômico aos produtores alta capacidade de poluição. É também recomendá- rurais, deve-se também encontrar o correto destino vel que os processos de tratamento adotados, além de para os dejetos orgânicos e inorgânicos provenientes reduzir o potencial poluidor dos dejetos, agreguem dos sistemas criação, com especial atenção aos siste- valor ao resíduo final, tornando-o auto-sustentável mas com maior confinamento de animais1. economicamente e melhorando a situação econômi- ca das famílias produtoras. Entre os uso alternativos A crescente utilização de sistemas de confinamen- destes resíduos, destaca-se seu uso como adubo or- to de criação suínos tem gerado quantidades cada gânico e fonte alternativa de energia térmica ou elé- vez maiores de dejetos por unidade de área. Segun- trica (Oliveira Nunes, 2006). do Henn (2005), o setor de produção da suinocultu- ra demanda anualmente 25 milhões de m3 de água e gera 16 milhões de m3 de efluentes. É um setor com O uso dos dejetos na agricultura e na adubação baixa qualidade ambiental, pois polui as águas super- de pastagens está disseminado na região. Isso ocorre ficiais e subterrâneas, os solos e proporciona descon- com base no uso de esterqueiras para armazenamen- forto ambiental, com emissão de maus odores e uma to dos dejetos e a sua distribuição pelas pastagens ou proliferação descontrolada de insetos. áreas agrícolas por meio de tratores ou caminhões tanques que podem ser próprios ou alugados pelas Oliveira Nunes (2006) destacam ainda que o prefeituras locais. Porém a falta de orientação, incen- manejo inadequado dos dejetos de suínos tem cau- tivo financeiro e fiscalização das instituições respon- sado severos danos ao meio ambiente, tornando sáveis são, muitas vezes, responsáveis pelo uso inade- emergencial a adoção de sistemas de manejo que quado do sistema. reduzam a emissão de odores, os gases nocivos e os riscos de poluição dos mananciais de água su- Da mesma forma, esta solução torna-se ineficiente perficiais e subterrâneas por nitratos e do ar pelas face ao grande volume de dejetos produzido diaria- emissões de amônia (NH3). As recomendações in- mente em algumas propriedades da região, além de ternacionais, provenientes da série de normas ISO apenas reduzirem parte da matéria orgânica do resí- 14.000, também colaboram neste sentido, aumen- duo, restando ainda os nutrientes e metais pesados tando a preocupação dos setores produtivos que existentes nos dejetos que possuem efeitos altamen- atuam na exportação de seus produtos, já que mui- te nocivos sobre a saúde da população. Sem o devi- do tempo de retenção nas esterqueiras, os dejetos aca- bam lançados desorientadamente nas áreas de cultivo 1 “Os dejetos suínos são constituídos por fezes, urina, água desperdiçada pelos be- bedouros e de higienização, resíduos de ração, pêlos, poeiras e outros materiais de- e pastagens e, aliado à característica declividade do re- correntes do processo criatório, enquanto que o esterco é constituído pelas fezes dos animais que, normalmente, se apresentam na forma pastosa ou sólida” (Diesel levo da região, podem contaminar o solo e serem leva- et al., 2002). 11
  • 12. dos por erosão aos leitos dos rios, além de contamina- cos da região. Isso faz com que a certificação como rem os lençóis freáticos. produtor orgânico represente apenas uma diferen- ciação qualitativa dos produtos e não um diferencial Uma proposta de manejo dos dejetos que merece de preços, já que o preço pago pelo produto orgâni- atenção especial é o uso de biodigestores, sistemas de co é o mesmo do preço pago pelo produto conven- tratamento capazes de transformar parte da biomas- cional. sa dos dejetos suínos em energia a partir do processo de digestão anaeróbia dos resíduos orgânicos. Outra Outro diferencial observado nos produtores orgâ- importante propriedade do biodigestor está na redu- nicos entrevistados é a redução de custos obtida com ção da massa orgânica dos dejetos e o aumento da a utilização do adubo produzido na sua propriedade, concentração de nutrientes por unidade de volume. pela criação de aves, e por adubos de uma criação de suínos em propriedade vizinha. Ou seja, a proprie- Um dos principais problemas para a utilização dos dade mostrou a viabilidade de um sistema diversifi- dejetos como biofertilizante agrícola está justamente cado e equilibrado de produção que propicia alterna- no alto grau de diluição causado, sobretudo, por va- tivas econômicas à suinocultura sem causar impac- zamentos no sistema hidráulico, desperdício de água tos no ambiente. nos bebedouros e pelo sistema de limpeza inadequa- do (Kunz et al., 2005). Além de permitir o aproveita- Além da criação de gado leiteiro e da produção mento dos dejetos sob a forma de biogás (metano), o agrícola de alto valor, a criação de agroindústrias fa- biodigestor reduz os microorganismos patogênicos miliares é outra forma alternativa de geração de ren- e a matéria orgânica do efluente, aumentando a con- da. Os produtos fabricados por essas pequenas in- centração de nutrientes por volume de resíduos e va- dústrias possuem um diferencial bastante valori- lorizando seu uso como biofertilizante para as lavou- zado na região que é a junção do maquinário fabril ras (Oliveira, 2004; Henn, 2005). com técnicas passadas pela tradição familiar local. Esse diferencial gera a possibilidade de colocação 2.1- ALTERNATIVAS à SUINOCULTURA de um preço maior que os demais produtos indus- E SEUS IMPACTOS AMBIENTAIS. trializados e gera a capacidade de concorrência para essa produção. Outro diferencial que reduz os cus- Atualmente, a crise da suinocultura associada à tos dessas indústrias é o aproveitamento da produ- necessidade de resolução do problema dos dejetos ção agrícola e de criação diversificada de cada pro- tem gerado uma solução que se generalizou na re- priedade para a produção industrial, ou seja, como gião. A diversificação que representou a criação de exemplo pode-se tomar a criação de porcos produz gado leiteiro e o uso dos dejetos após o tratamento renda para a família e gera dejetos que são utiliza- em esterqueiras pareceu, a princípio, uma solução dos nas pastagens para criação de gado leiteiro que adequada. Tal solução associou os altos rendimentos gera a matéria prima para a agroindústria de queijos. do leite na região à utilização dos dejetos como adu- bo com um custo muito baixo quando relacionado Além disso, há a consciência, por parte desses ao adubo químico. produtores, de que o seu diferencial principal está na qualidade do produto e que a expansão do negócio e Entretanto, conforme constata Berto (2001), a ge- da produção somente pode ocorrer até o ponto em neralização da criação de gado em conjunto com a que não comprometa essa qualidade. suinocultura agravou o problema do balanço de nu- trientes na região. Embora a criação de gado leiteiro Outro fator que facilita o processo de formação e seja uma importante alternativa para geração de ren- perpetuação dessas agroindústrias até o momento é da na região, a Fundação do Meio Ambiente de Santa a característica local de conscientização e organiza- Catarina (FATMA) não poderia desconsiderar esta ção política que gera dois fenômenos interessantes: a atividade na concessão das licenças ambientais, ou organização da forma de divisão de lucros é baseada, seja, deveria analisar o balanço global de nutrientes na maior parte dos casos, no tempo de trabalho gasto de cada propriedade. e não no valor agregado pelas atividades realizadas e o fato de não haver, ainda uma concorrência ou uma A agricultura de alto valor também é uma alterna- visão concorrencial das agroindústrias entre si. tiva possível, porém, entrevistas realizadas com agri- cultores da região mostraram que ainda há grandes No presente, há um excesso de demanda por esses restrições à agregação de valor nos produtos orgâni- produtos, portanto existe potencial para a entrada de 12
  • 13. outros produtores industriais familiares, porém, não se conhece o limite de entrada e também não se sabe até que ponto, a pressão pelo aumento da oferta não comprometerá a qualidade da produção familiar. As alternativas de diversificação por meio da agri- cultura ou agroindústria familiar com maiores valo- res agregados devem ser incentivadas por meio de fi- nanciamento e assistência técnica, que indique as al- ternativas mais viáveis para cada propriedade e tipo de solo. Independentemente das formas de diversifi- cação das atividades agrícolas e de criação, o incenti- vo à agroindústria familiar deve ser ampliado na re- gião, aproveitando a capacidade de articulação dos produtores locais e a demanda existente na região. 13
  • 14.
  • 15. 3- SISTEmAS DE TRATAmENTO E vAlORIzAÇÃO DOS DEjETOS Neste tópico será apresentado um breve relato de O problema é que o mau dimensionamento do dois dos principais sistemas de tratamento e valori- volume das esterqueiras, aliado a problemas cons- zação dos dejetos de suínos: as esterqueiras e os bio- trutivos, tem sido responsável por freqüentes aci- digestores. Serão apontadas as características técni- dentes causados por transbordamento dos dejetos. cas, vantagens e desvantagens de cada sistema, obje- É comum ser o volume da esterqueira (V em m3) tivando identificar de que forma estes poderiam re- projetado como simples produto do volume diário duzir os impactos ambientais observados na região de dejetos produzidos na granja (Vd em m3/dia) e para, ao final, servirem de instrumento na proposta tempo de armazenamento (td em dias), sem consi- de políticas de gestão ambiental na região. derar o balanço de água de chuva que ocorre no lo- cal e sua evaporação. Um correto dimensionamento 3.1- ESTERQUEIRAS deve, portanto, considerar a precipitação média de chuva na região onde será construída a esterqueira e Esterqueiras são depósitos que têm por objetivo um coeficiente de segurança para evitar o transbor- captar os dejetos líquidos produzidos num sistema damento1. de criação, abastecidos continuamente e onde os de- jetos ficam retidos durante um determinado perío- Também é comum observar projetos sem o devi- do de tempo (normalmente entre 4 e 6 meses) para do respeito às normas de engenharia, principalmen- que ocorra a fermentação anaeróbica da matéria or- te mecânica de solos e suas implicações relacionadas gânica. Embora empreguem o processo anaeróbio com a estabilidade dos taludes. A escolha do local para estabilização do material, as esterqueiras não para a construção de esterqueiras deve ser criterio- são consideradas como unidades de tratamento, já sa, evitando terrenos instáveis e considerando as ca- que apenas armazenam temporariamente os dejetos racterísticas e propriedades do solo (Oliveira Sil- para que estes possam ser posteriormente utilizados va, 2004). como fertilizantes. Mantém as características básicas Os materiais mais empregados pelos produtores dos dejetos, com uma pequena redução de sua carga para revestimento e impermeabilização das ester- poluente (18%), medida em DBO - Demanda Bioló- queiras são as pedras argamassadas, a alvenaria de gica de Oxigênio (EMBRAPA, 2005). tijolos e as lonas de PVC especial ou PEAD (Oliveira As esterqueiras têm sido o sistema de arma- Silva, 2004). Entre estes, o revestimento com lonas zenamento dos dejetos de suínos mais utiliza- especiais de PVC (0,8 ou 1 mm de espessura) mostra- do no oeste catarinense, dada sua facilidade de se mais econômico e é o mais comum no oeste cata- implantação e custos relativamente baixos. En- rinense. As esterqueiras normalmente são de forma- tretanto, sua eficiência tem sido comprometi- to retangular pela facilidade de construção, mas estas da pelo subdimensionamento do sistema e falta de são mais susceptíveis às rachaduras, devido a maior orientação quanto ao correto destino dos dejetos. pressão que ocorre nos cantos, sendo preferíveis as de formato circular, que tem a vantagem de propor- A Instrução Normativa IN-11 da FATMA, No cionar melhor distribuição das cargas nas suas pare- 01/04 de 24/03/2004 (FATMA, 2004) exige que o des laterais. dimensionamento destes reservatórios preveja um tempo mínimo de retenção de 120 dias, o qual ra- Além de não exigir grandes investimentos para ras vezes é respeitado pelos proprietários. O mesmo operacionalização do sistema, as esterqueiras de PVC órgão ambiental catarinense (FATMA) condicio- apresentam maior rapidez, facilidade de implantação, na o licenciamento ambiental à impermeabilização e podem ser ampliadas sem a necessidade de quebrar das esterqueiras, para que sejam evitados infiltrações paredes ou construção de novas esterqueiras, sim- no solo com dejetos líquidos e conseqüentes risco de poluição das fontes de águas. 1 Para maiores detalhes ver Oliveira Silva (2004). 1
  • 16. plesmente por meio da união de novos planos de PVC entrada (afluente), corresponde a uma descarga de aos existentes. Trabalho desenvolvido pela Embrapa material diferido na saída (efluente). A biomassa do em parceria com a empresa Sansuy S.A. estimou um biodigestor se movimenta por diferença de pressão durabilidade de aproximadamente 8 anos, na ausên- hidráulica, dentro do biodigestor, no momento da cia de danos mecânicos, para os revestimentos de entrada da carga. Em comparação a outros sistemas esterqueiras com o uso de lonas especiais de PVC. secundários de manejo, como tanques de estabiliza- ção e esterqueiras, o biodigestor exige menor área de 3.2- BIODIGESTORES construção e tempo de retenção, que costuma variar entre 20 e 50 dias (Oliveira, 2004), cujo cumprimen- Biodigestores são locais onde ocorre a biodiges- to é fundamental para a eficiência do sistema. Após tão anaeróbia dos resíduos orgânicos, um processo 1 a 5 anos é necessário retirar o lodo que se forma no bioquímico que utiliza ação bacteriana para fracio- fundo do biodigestor, o qual pode ser utilizado como nar compostos complexos e produzir um gás com- bioferitilizante nas pastagens e plantações. bustível, denominado biogás, composto em maior proporção de metano (65 a 70% de CH4) e dióxido Campânula de Vinimanta de carbono (30 a 35% de CO2). O processo de diges- tão anaeróbia para geração de metano e estabilização CO2 + CH4 Biogás dos dejetos já é conhecido há muito tempo, mas o desconhecimento de alguns aspectos técnicos essen- Feixe Hídrico ciais para seu bom funcionamento tem sido uma das Afluente Descarte de lodo Efluente grandes limitações para viabilidade como forma de Escuma manejo ecológica e economicamente sustentável. Tubos para amostragem Digestão anaeróbia Com a eminência de uma crise energética, a priva- tização das companhias estatais do setor elétrico e a Lodo retirada gradual de subsídios da energia elétrica para o setor agrícola, a geração de energia elétrica nas pro- Figura 3.1 – Esquema de biodigestor tipo indiano priedades rurais com o uso do biogás é uma proposta Fonte: Henn (2005) que merece atenção especial dos órgãos responsáveis pelas políticas de desenvolvimento da região do oes- Alguns modelos de biodigestores têm se mostrado te catarinense. Além de reduzir a emissão de gases de interesse, principalmente por apresentarem bai- que provocam o efeito estufa (CH4), com a possibi- xos custos devido a pouca tecnologia associada e fa- lidade de entrar no mercado de créditos de carbono, cilidade operacional. Mesmo assim, a construção do o biogás é considerado uma fonte de energia reno- biodigestor exige um razoável investimento inicial, vável, podendo substituir o gás liquefeito de petró- com custo fixo que pode girar em torno de R$ 120 a leo (GLP) e a lenha, como fonte de energia térmica R$ 150 o m3 (Vbd=Vd X Tr), dependendo do tipo de no aquecimento do ambiente interno de aviários ou biodigestor, cujo dimensionamento irá depender da chiqueiros; a gasolina, na alimentação de motores a vazão de afluentes (Vd, em m3/dia) e do tempo de re- combustão, geladeiras, secadores de grãos, entre ou- tenção necessário para obtenção do biogás (Tr, de 20 tros; além de servir para a geração de energia elétri- a 50 dias) (EMBRAPA, 2003)2. ca. Pode ainda ser simplesmente queimado para re- duzir o efeito estufa (Oliveira, 2004). Conforme Oliveira et al. (1993), a quantidade total de dejetos produzida diariamente por um suíno va- Os biodigestores contínuos como o modelo india- ria de acordo com o peso corporal do animal, além no (Figura 3.1), canadense, chinês e filipino, entre do tipo alimentação e manejo da água nos criatórios, outros, têm sido muito aplicados em comunidades com valores médios descritos na Tabela 3.1. Pelos va- rurais de pequeno e médio porte, podendo ainda es- lores apresentados, é possível estimar que uma pro- tar associados a sistemas de agitação, aquecimento e priedade com 300 suínos em fase de terminação (25 pré-fermentação da biomassa (Oliveira, 2004). É um a 100 Kg), produziria, em média, 2.100 litros de deje- biodigestor versátil, podendo fazer uso de diferen- tos por dia (7 l*300), necessitando de uma estrutura tes resíduos orgânicos animais ou vegetais. Requer, de estocagem com capacidade para 75 m3 (0,25*300). para sua operação, uma carga diária e o manuseio do resíduo (diluição e homogeneização). O processo 2 Detalhes sobre os custos de instalação dos biodigestores serão incorporados no é considerado contínuo, pois a cada carga diária de próximo relatório. 16
  • 17. Tabela 3.1 – Produção média diária de dejetos nas diferentes categorias de suínos Esterco + Dejetos Estrutura para estocagem Esterco (m3/animais/mês) Categoria dos Suínos Urina Líquidos (Kg/dia) (Kg/dia) (L/dia) Esterco + Urina Dejetos Líquidos Suínos de 25 a 100Kg 2,30 4,90 7,00 0,16 0,25 Reposição / Cobrição / Gestação 3,60 11,00 16,00 0,34 0,48 Porcas em lactação com leitões 6,40 18,00 27,00 0,52 0,81 Machos (cachaços) 3,00 6,00 9,00 0,18 0,28 Leitões na creche 0,35 0,95 1,40 0,04 0,05 Média 2,35 5,80 8,60 0,17 0,27 Fonte: Oliveira et al. (1993) apud Henn (2002) O biodigestor é considerado um sistema secun- a World Health Organization). A fração nitrogena- dário de tratamento, já que permite a remoção de da é a que causa maiores danos, como a floração nas sólidos suspensos e dissolvidos e a redução da ma- águas superficiais, formação de nitritos (NO2-), ele- téria orgânica, possibilitando a valorização dos de- mento cancerígeno, em meio anaeróbio, e de nitratos jetos como adubo orgânico. Quando submetidos (NO3-) em contato com águas subterrâneas. Altas à digestão anaeróbia em biodigestores, os deje- concentrações de nitratos nos lençóis freáticos ( 10 tos suínos perdem exclusivamente carbono na for- mg/l) podem causar câncer e metahegoglobinemia ma de CH4 e CO2, resultando em um resíduo final em crianças (síndrome do bebê azul), além de eu- de melhor qualidade para uso como adubo orgâni- trofização dos corpos d’água, como também causa a co, em função da mineralização do nitrogênio e da presença de fósforo. O nitrogênio na forma de amô- solubilização parcial de alguns nutrientes (Olivei- nia é extremamente tóxico aos peixes, além de trans- ra, 2004). Avaliações recentes feitas dos dejetos tra- mitir importantes fatores patogênicos (Henn, 2005). tados em biodigestor, além de produzir biogás, ti- veram a carga orgânica reduzida em 78 a 80%, po- A utilização dos dejetos de suínos pode ainda alte- dendo atingir em alguns casos até 96% quando au- rar as propriedades físicas, químicas e biológicas do xiliados por agentes de biorremediação (bactérias) solo. Estas ações podem ser traduzidas em acúmu- (Konzen, 2005). Após diversas fases da biodigestão, lo de elementos tóxicos, principalmente metais pesa- o produto resultante é um líquido escuro, em vir- dos como o cobre e zinco, poluentes orgânicos, con- tude da presença do Húmus, o qual pode ser usado taminação da água subsuperficial, através da lixivia- em qualquer solo como adubo de origem orgânica ção de elementos provenientes da decomposição dos de alta qualidade, ou como corretivo de acidez, de dejetos no solo, e odores desagradáveis oriundos da vida bacteriana e de textura. As ações benéficas da volatilização de compostos. O uso de cobre e zinco matéria orgânica estão associadas às alterações nas nas rações como promotores do crescimento e con- propriedades físicas e químicas do solo, bem como troladores da diarréia podem conferir aos dejetos de sobre a atividade microbiana, e ainda dos nutrientes suínos um importante potencial poluidor, podendo adicionados, refletindo em melhoria da fertilidade. causar, em longos períodos, acúmulos destes no solo e sua transferência para a cadeia alimentar ou outros Entretanto, os dejetos de suínos, por mais privile- sistemas (Pocojeski et al., 2004)3. Os efeitos indeseja- giados que seja seu potencial de uso como fertilizan- dos causados pelo uso dos dejetos como fertilizante te, devem ser considerados como resíduo poluente e do solo, serão menores com a fermentação dos mes- que, ao serem dispostos na natureza sem os necessá- mos em biodigestor, visto que, além da redução da rios cuidados, causarão impactos ambientais signi- carga orgânica, ocorre, concomitantemente, redução ficativos aos solos, às águas superficiais e subterrâ- nas concentrações de cobre e zinco (40 a 50%), pre- neas (Konzen, 2005). As altas concentrações de nu- sentes no efluente do biodigestor(Konzen, 2005). trientes como nitrogênio (N) e fósforo (P), e a eleva- da concentração de sólidos voláteis (SV) em relação aos sólidos fixos (SF), conferem aos dejetos de suí- 3 Os autores destacam, entretanto, que “deve-se evitar generalizações na interpreta- nos um elevado potencial poluidor (potencial cerca ção do potencial poluente de dejetos de suínos porque isso depende dos sistemas de pro- dução, do tipo e atributos do solo, além do tempo de aplicação dos dejetos”(Pocojeski de 4,2 vezes superior ao esgoto doméstico, segundo et al., 2004). 1
  • 18. Embora os processos anaeróbios reduzam a polui- gás possa ser compartilhado com a rede elétrica pro- ção e os impactos ambientais proveniente dos deje- veniente da empresa responsável pelo fornecimento tos suínos, reduzindo a carga de poluentes e patóge- de energia na região, para que o produtor possa ven- nos a serem lançados ao ambiente e valorizando este der a energia excedente ao distribuidor de energia e efluente do ponto de vista energético e como biofer- compense seus custos nos períodos com escassez na tilizante para agricultura, estes ainda não podem ser produção de biogás, fato ainda não aceito pelos dis- lançados diretamente nos corpos d’água sem um sis- tribuidores. tema terciário de tratamento. Um sistema integrado de tratamento seria constituído, além do biodigestor, Outro problema está no não cumprimento de al- por um sistema de armazenagem (lagoas de estabili- guns princípios básicos da digestão anaeróbia, ne- zação ou esterqueira), lagoas de aguapés e lagoas de cessários para uma produção eficiente de biogás, piscicultura (ver Figura 3.2). Além de garantir a qua- bem como a inexistência de um planejamento ade- lidade dos efluentes a serem lançados ao ambiente, o quado para a produção, uso e disposição dos sub- sistema integrado possibilitaria agregar mais valores produtos derivados. Os produtores não dispõem aos dejetos com a criação de peixes. de assistência técnica treinada e com conhecimen- Maternidade/ biogás para Creche Gasômetro propriedade Crescimento/ Sistema de Lagoa de Lagoa de meio Terminação Armazenagem Aguapés Psicultura ambiente Biodigestor biofertilizante para pastagens e plantações Figura 3.2 – Esquema de um sistema integrado com biodigestor Antes que o biogás seja aproveitado como fonte de to nos processos produtivos do biogás, sendo mui- energia na propriedade, é necessário a remoção de tas vezes, levados pela pressão a ajustar a atividade água, enxofre e outros elementos que possam estar a legislação ambiental e pela oferta dos fornecedo- presentes no biogás in natura. A purificação através res de materiais e equipamentos, acabam por im- de filtros, dispositivos de resfriamento, condensa- plantar processos mal dimensionados, com pro- ção e lavagem (Oliveira, 2004) é imprescindível para blemas operacionais e baixa eficiência de produ- a confiabilidade do seu emprego, já que a presença ção e uso do biogás, bem como a utilização do de vapor d’água, CO2 e gases corrosivos no biogás in biofertilizante, inviabilizando o sistema do pon- natura, podem reduzir consideravelmente a vida útil to de vista técnico e econômico (Kunz et al, 2006). de equipamentos, a exemplo de motores a combus- tão, geradores, bombas e compressores. Sob estas circunstâncias, a produção de metano nos diferentes processos de fermentação utilizados O uso do biogás na propriedade rural exige ainda até o presente momento tem se mostrado uma efici- um planejamento que considere tanto a demanda de ência muito abaixo da prevista pela teoria, que pode energia na propriedade quanto a oferta proveniente alcançar 35 m3 de CH4 por m3 digestor/dia (Olivei- da biodigestão dos dejetos, já que a produção de bio- ra, 2004). Nas presentes limitações práticas, os pro- gás tende a se tornar mínima nos meses de inverno, cessos de fermentação convencional, que são os mais especialmente no sul do país. Isto porque a produ- difundidos, onde os tempos de retenção hidráulicos ção de biogás é dependente das condições climáticas são longos (10 a 30 dias), há constantes perdas de da região, pois a temperatura da biomassa determi- biomassa bacteriana, sendo que a produção de biogás na a velocidade das reações anaeróbias que ocorrem varia de 0,25-0,65 m3 de CH4 por m3 digestor/dia. na câmara de fermentação. Da mesma forma, é ne- cessário que o sistema de energia gerada pelo bio- 1
  • 19. 4– O ImPAcTO DA cRIAÇÃO DE SUíNOS NA bAcIA DO RIO ARIRANhA Toda população necessita de uma quantidade suínos, a Pesquisa da Pecuária Municipal (PPM) do mínima de espaço natural produtivo para sobrevi- IBGE estima o número de cabeças de suínos referen- ver, seja para produção de alimentos, fornecimento tes a 31/12/2004. Os valores apresentados pela IN 11 de matérias-primas para manutenção de seu estilo da FATMA baseiam-se em estudos técnicos realiza- de vida, ou como fossa dos resíduos por ela gerados. dos por Oliveira et al. (1993). Já a PPM é uma pes- Da mesma forma, a suinocultura deve considerar quisa de caráter anual que obtém os dados sobre as os limites da natureza como provedora de insumos criações de suínos, fundamentalmente, da Campa- para sua criação, bem como fossa para que seus de- nha de Vacinação da peste suína (tradicional ou afri- jetos possam ser dispersos, diluídos e reciclados. cana) sobre animais doentes e sacrificados no muni- cípio, registrados por órgãos oficiais, informações de Em relação à base física provedora de insumos, a ca- granjas especializadas na criação de suínos, de mata- pacidade máxima de produção de suínos deveria con- douros, indústrias e frigoríficos que trabalham com siderar basicamente o abastecimento de milho e fare- produtos suínos e de órgãos de assistência técnica e lo de soja para ração dos animais e, como fossa de re- assistência sanitária ao rebanho (IBGE, 2002, p. 56). síduos, a capacidade de tratamento e aproveitamento dos dejetos na propriedade como fertilizante. A maior Considerando as 670 mil cabeças de suínos esti- preocupação atualmente na região refere-se à conta- madas pela PPM em 2004, e um volume médio anu- minação da água e do solo por dejetos de suínos e, al de 3,24 m3 dejetos/suíno/ano (IN 11), a Tabela 4.1 por ser este o objetivo principal do presente relatório, mostra que o volume anual estimado de dejetos na este trabalho limitará seus esforços na análise da ca- região da bacia do Rio Ariranha é da ordem de 2,2 pacidade de absorção dos dejetos pelo ambiente e nos milhões de m3/ano. As situações mais extremas ocor- custos ambientais gerados pela atividade na região. rem nos municípios de Seara e Xavantina, que apre- sentam as maiores densidades de suínos por hectare. Para estimar o impacto dos dejetos no ambiente, buscou-se inicialmente fontes oficiais de informa- A mesma IN-11 define que o tempo de retenção ção sobre o rebanho de suínos e o volume de deje- dos dejetos na estrutura de armazenagem ou trata- tos por ele gerado na região. Enquanto o volume de mento seja de, ao menos, 120 dias. Tempo este mi- dejetos produzidos em cada sistema de criação pode nimamente necessário para que a carga de poluentes ser obtido na Instrução Normativa No 11 – IN 11 – seja reduzida através da degradação da matéria orgâ- da FATMA (ver Tabela 3.1), que define regras para nica e preservação do poder fertilizante. Estabelece concessão de licenças ambientais aos produtores de ainda que o volume máximo de dejetos distribuído Tabela 4.1 – População e volume de dejetos de suínos produzidos na bacia do Rio Ariranha - SC área Habitantes Suínos Município Município Densidade Cabeças Densidade suínos (ha)1 População2 Dejetos (m3/ano)4 População (hab/ha) Suínos3 (suínos/ha) Arvoredo 9.071 2.154 0,24 51.850 5,72 167.994 Ipumirim 24.707 6.769 0,27 89.379 3,62 289.588 Paial 8.576 2.012 0,23 10.041 1,17 32.533 Seara 31.254 17.059 0,55 316.607 10,13 1.025.807 Xavantina 21.507 4.181 0,19 200.764 9,33 650.475 Total 95.115 32.175 0,34 668.641 7,03 2.166.397 1 Fonte: IBGE (Disponível em www.ibge.gov.br) 2 População estimada em 2003. Fonte: IBGE (Disponível em www.ibge.gov.br) 3 Fonte: PPM 2004, IBGE (Disponível em www.ibge.gov.br) 4 Considerando volume médio de 3,24 litros de dejeto/suíno/ano. 1
  • 20. por hectare de lavoura ou pastagens fique limitado A Tabela 4.2 apresenta os valores das áreas neces- à quantidade de 50 m3/hectare, devendo o produtor sárias e aptas para recebimentos dos dejetos nos mu- dispor de áreas aptas para aplicação desses dejetos ou nicípios que compõem a bacia do Rio Ariranha. Com contrato com vizinhos que comprovem a disponibi- exceção dos municípios de Ipumirim e Paial, todos os lidade de área para sua utilização. demais apresentam áreas aptas insuficientes para de- pósito dos dejetos dentro de seus limites geográficos, A área disponível para depósito dos dejetos deve e, de maneira geral, há na região um déficit de aproxi- considerar tanto as características do solo quanto a madamente 15 mil ha de áreas aptas para recebimento declividade dos terrenos. Solos rasos, pedregosos e dos dejetos de suínos. Seriam necessários, anualmen- muito inclinados não são indicados para depósito te, 43 mil ha para depósito dos dejetos, enquanto a dos dejetos dado, principalmente, a baixa infiltração, área disponível na região gira em torno de 28,5 mil ha. dificuldade de acesso e risco elevado de carreamento deste material na época chuvosa para o leito dos rios. Há, portanto, uma carência correspondente a apro- ximadamente 16% do território da bacia, mas, con- A partir de informações do Instituto CEPA/SC, siderando que apenas 30% do território estaria apto Testa et al. (1996) indicam que cerca de 31% das áre- para recebimento dos dejetos, significaria afirmar que as do oeste catarinense poderiam ser consideradas a região necessita de mais 49.313 ha (=14.794*0,3) como “aptas” para cultivo, constituindo-se de solos para que a legislação ambiental seja cumprida in- profundos (1 m), de relevos com declives máxi- tegralmente. Em outras palavras, há um déficit to- mos de 20% e pedregosidade máxima de 3%. Citan- tal de 52% do território para depósito dos dejetos. do dados da EPAGRI e de Silva (2000)1, Berto (2001) aponta valores próximos a 30% como áreas aptas fi- A partir da razão entre o volume máximo anual sicamente para depósito dos dejetos na bacia hidro- de depósito de dejetos permitido por ha (50 m3/ha) gráfica dos Fragosos, em Concórdia/SC. e o volume médio de dejetos produzido anualmen- te por cabeça de suíno (3,24 m3/suíno/ano), é ainda Dada a convergência dos resultados e proximi- possível estimar a densidade máxima de suínos por dade geográfica destes estudos supra mencionados, ha, que seria equivalente a 15,4 suínos/ha (=50/3,24). este trabalho irá assumir uma parcela de 30% do ter- Esta razão refere-se às áreas aptas para recebimento ritório como área potencial para depósito dos deje- dos dejetos, conforme sugere a legislação ambiental. tos de suínos na bacia hidrográfica do Rio Ariranha. Se for considerado que apenas 30% do território total Importante destacar que este potencial não leva em da região estaria apto para recebimento dos dejetos, consideração o tipo de acesso à área e o fator econô- esta relação cairia para 4,6 suínos/ha (=15,4*0,3), Ou mico na distribuição dos dejetos, o que, indubitavel- seja, cada hectare da região comportaria, em média, mente, reduziria ainda mais as áreas aptas para depó- 4,6 cabeças de suínos. Mas o que se observa nos esta- sito dos dejetos. Pode-se, portanto, considerar que as belecimentos da região é uma densidade muito supe- estimativas a serem apresentadas serão, em certa me- rior, correspondente a 7 suínos/ha (ver Tabela 3.1), dida, conservadoras, ou seja, estarão superestiman- mostrando que a legislação ambiental ainda é insufi- do a real área disponível para depósito dos dejetos. ciente para manter a qualidade do ambiente. Tabela 4.2 – Área necessária e apta para depósito dos dejetos área Município Cabeças Dejetos área Necessária área Apta Excedente = B-A Município (ha) Suínos (m3/ano) (ha/ano)1 A (ha/ano)2 B (ha/ano) Arvoredo 9.071 51.850 167.994 3.360 2.721 -639 Ipumirim 24.707 89.379 289.588 5.792 7.412 1.620 Paial 8.576 10.041 32.533 651 2.573 1.922 Seara 31.254 316.607 1.025.807 20.516 9.376 -11.140 Xavantina 21.507 200.764 650.475 13.010 6.452 -6.557 Total 95.115 668.641 2.166.397 43.328 28.534 -14.794 1 Considerando 50 m3 de dejetos/ha/ano 2 Considerando 30% de aptidão da área municipal 1 Apud Berto (2001). 20
  • 21. Importante salientar que todas as estimativas apre- 3) Ciclo completo de tratamento: custos de im- sentadas referem-se a valores médios para a criação plantação de um sistema integrado de tratamento de suínos na região. Estimativas mais precisas para dos dejetos, composto por biodigestores, lagoas de cada propriedade poderão ser obtidas com informa- aguapés e tanques psicultura, o qual eliminaria o ris- ções pontuais sobre o sistema de criação empregado co de contaminação do ambiente, resolveria possí- (ciclo completo, unidade de criação de leitões, termi- veis problemas de desproporcionalidade no balanço nação, entre outros) e o volume de dejetos produzido de nutrientes, além de agregar mais valor aos dejetos em cada fase de vida do animal (ver Tabela 3.1). com a criação de peixes. 4.1 – ESTIMATIVAS DO CUSTO DE 4.1.1 – Primeiro cenário: adequação CONTROLE DA POLUIçÃO CAUSADA à legislação ambiental PELOS DEjETOS DE SUíNOS O primeiro passo desta análise consistirá na esti- A partir do volume total de dejetos gerados anual- mativa dos custos de controle da poluição para ade- mente na região, serão agora estimados valores eco- quação dos estabelecimentos que criam suínos à le- nômicos associados à poluição ambiental. O objetivo gislação ambiental vigente, que exige tempo mínimo central será, ao final, utilizar o princípio do poluidor- de retenção nas esterqueiras equivalente à no mínimo 120 dias para que o volume total de dejetos possa ser pagador para propor políticas de incentivos negativos aproveitado a uma taxa de 50 m3/ha de área apta ao aos criadores de suínos, de tal forma que estes sejam seu recebimento. Embora seja uma condição imposta estimulados a controlar sua poluição. Neste contexto, aos proprietários pelo Termo de Ajuste de Conduta, a valoração ambiental surge como importante instru- muitos ainda mantêm um sistema de armazenamento mento de análise, já que custos de controle muito su- subdimensionado, tornando a estimativa destes cus- periores aos incentivos negativos incentivariam a ma- tos totais de controle essencial como referência no es- nutenção da poluição, da mesma forma que incentivos tabelecimento de uma política de incentivos negati- negativos muito altos comprometeriam a produção e vos para adequação dos mesmos à legislação ambien- ameaçariam a economia da região que é fortemente tal. Caberá ainda ao agente fiscalizador o abatimento dependente da suinocultura. dos valores equivalentes ao volume já tratado por cada proprietário. A metodologia de valoração adotada neste traba- lho foi a dos custos de controle, que representa os Importante também assinalar que as estimativas gastos necessários para evitar a variação do bem am- apresentadas nestas análises são aproximações dos re- biental e garantir a qualidade dos benefícios gerados ais valores de controle, que poderão ser aprimoradas à população (para maiores detalhes ver Maia, Ro- com um estudo mais apurado sobre os condicionantes meiro Reydon, 2004). É o caso, neste estudo, de es- locais, como, por exemplo, os tipos de propriedades timar os custos do tratamento dos dejetos de suínos existentes na região (classificação mais apurada se- para evitar a poluição dos solos e rios da região. gundo número de cabeças de suínos e sistema de cria- ção), o volume de dejetos gerados por cada uma delas Serão propostos 3 possíveis cenários de controle e seus respectivos custos de controle. da poluição para a região: As informações sobre o número de estabelecimen- 1) Adequação à legislação ambiental: custos de tos com suínos na região foram obtidas no Levanta- controle da poluição para as criações ao Termo de mento Agropecuário de Santa Catarina da EPAGRI/ Ajuste de Conduta, que estabelece um tempo míni- SC. Esta pesquisa foi realizada de 1° de setembro de mo de 120 dias de retenção dos dejetos em um siste- 2003 até março de 2004, abrangendo todos os estabe- ma secundário de armazenamento; lecimentos agropecuários do Estado de Santa Catari- na, e os valores referem-se a 31/08/2003. 2) Redução da carga poluente: custos de imple- mentação de biodigestores para eliminar o déficit A Tabela 4.3 apresenta o número de estabeleci- de áreas disponíveis para depósito dos dejetos de mentos com 100 ou mais cabeças de suínos em cada suínos, permitindo o aproveitamento integral dos um dos municípios da bacia do Rio Ariranha2 e uma dejetos produzidos atualmente como biofertilizan- te e agregação de valores com o aproveitamento do 2 Não havia discriminação dos estabelecimentos com 100 ou mais suínos na pro- biogás; priedade. Os pequenos estabelecimentos foram excluídos da análise por correspon- derem a parcela insignificante do total de cabeças de suínos (2%) na região, além de não se enquadrarem na política de metas de poluição a ser proposta neste projeto. 21
  • 22. Tabela 4.3 – Estimativa do número de estabelecimentos na bacia do Rio Ariranha Cabeças Dejetos N médio cabeças / Volume médio dejetos / Município N Estabecimentos1 Suínos (m3/ano) estabelecimento estabelecimento (m3/ano) Arvoredo 51.850 167.994 70 741 2.400 Ipumirim 89.379 289.588 185 483 1.565 Paial 10.041 32.533 20 502 1.627 Seara 316.607 1.025.807 443 715 2.316 Xavantina 200.764 650.475 311 646 2.092 Total 668.641 2.166.397 1.029 650 2.105 1 Fonte: Levantamento Agropecuário de Santa Catarina (EPAGRI, 2005). estimativa do volume médio de dejetos produzido As esterqueiras de PVC são mais freqüentes em por estabelecimento. Reconhece-se, todavia, que a virtude dos custos consideravelmente inferiores, inexistência de uma discriminação mais apurada das embora a construção de alvenaria seja também reco- grandes unidades criadoras de suínos no relatório da mendada pela maior durabilidade e possibilidade de EPAGRI restringe a análise aos valores médios ob- futuro aproveitamento da estrutura para construção servados na bacia, não retratando fielmente a hete- de um biodigestor. Para derivar a função dos custos rogênea distribuição dos poluentes entre os estabele- em relação ao dimensionamento (m3), ajustou-se cimentos agropecuários. Desta forma, embora a re- um modelo de regressão para cada tipo de estrutura gião apresente como um todo um volume médio de (ver Figura 4.1). 2,1 m3 de dejetos/ano/estabelecimento, a concentra- ção faz com que muitos pequenos estabelecimentos No caso da esterqueira de PVC, a equação linear sejam responsáveis por apenas uma pequena parce- ajustou-se quase que perfeitamente aos valores obser- la dos dejetos totais, enquanto a grande maioria dos vados (R2 de 99,8%), apontando para um custo fixo dejetos é gerada em um pequeno número de grandes girando em torno de 2.759 reais e um custo variável estabelecimentos. de aproximadamente 15,1 reais por m3 de esterquei- ra. Desta forma, uma esterqueira de PVC com 150 m3, Para estimar os custos médios da estrutura de ar- por exemplo, custaria aproximadamente 5.022 reais mazenamento dos dejetos produzidos nos estabe- (2.758,8 + 15,1 * 150). lecimentos, consultaram-se os relatórios técnicos da Embrapa Aves e Suínos. Em um destes estudos, Já os custos das esterqueiras de alvenaria apresen- Girotto e Chiochetta (2004) apresentam os custos tam uma relação exponencial com o dimensiona- de implantação de esterqueiras mais comuns na re- mento (m3), com um modelo logarítmo duplo ajus- gião (ver Tabela 4.4). Os valores originais (de no- tando-se quase que perfeitamente aos valores obser- vembro/2004) foram deflacionados para janeiro de vados (R2 de 99,9%). Desta forma, uma estrutura de 2006 utilizando o deflator do IGP-DI da Fundação alvenaria de 150 m3, por exemplo, pode ser estimada Getúlio Vargas3. em, aproximadamente, 14.530 reais. Tabela 4.4 – Custos de implantação de esterqueiras para dejetos de suínos Dimensão (m3) Alvenaria PVC 50 7.804,22 3.191,04 100 11.120,92 4.206,94 200 16.975,73 5.884,82 300 21.839,91 7.562,69 500 29.731,87 10.499,58 900 42.497,43 16.134,10 * Valores em janeiro/2006 Fonte: Girotto e Chiochetta (2004). 3 Conversão obtida no site do Banco Central do Brasil (Disponível em: http:// www.bcb.gov.br. Acessado em 23/mai/2006). 22
  • 23. Custo (R$ × 1.000) 45 40 35 3 Custo Alvenaria = exp [6,62 + 0,59 ln (m )] 2 30 R = 0,9990 25 20 15 10 3 Custo PVC = 2758,8 + 15,086 m 5 2 R = 0,9976 0 0 100 200 300 400 500 600 700 800 900 3 Valores em janeiro/2006 m Figura 4.1 – Projeção dos custos de implantação de esterqueiras de alvenaria e PVC Constata-se, partir das informações da Tabela 4.5, tentável entre as criações de suínos e o meio ambien- que a definição da estrutura da esterqueira cumpre te da região. Mesmo tratados em esterqueiras, há ex- papel sigificativo nos custos totais de controle da po- cedente de dejetos na região para serem utilizados luição. Os custos totais para as esterqueiras de alve- como fertilizantes: seria ainda necessário cerca de naria (37 milhões de reais) correspondem a quase 16% de áreas aptas, ou 52% do território total dos três vezes os custos estimados para as esterqueiras de municípios que compões a bacia do Rio Ariranha PVC (13,6 milhões). De qualquer forma, considera- para depósito integral dos dejetos na região. se, mesmo no caso da esterqueira de PVC, um cus- to médio relativamente elevado (13,2 mil reais) para Um dos grandes entraves ao armazenamento, tra- muitos pequenos proprietários que não apresentam tamento e transporte dos dejetos de suínos é sua ex- renda per capita suficiente para amortização destes cessiva diluição, que diminui a concentração de nu- valores ao longo do tempo. trientes e dificulta a sua manipulação como bioferti- lizante. A redução no volume dos dejetos teria, pois, Tabela 4.5 – Dimensionamento e custo médios das esterqueiras Dimensão Esterqueira Alvenaria Esterqueira PVC Volume médio média da ester- Custo médio Custo médio Município N Estab dejetos / estab Custo total Custo total queira por por estab por estab (m3/dia) (R$) (R$) estab (m3)1 (R$) (R$) Arvoredo 70 6,58 789 38.818,53 2.717.297,27 14.661,87 1.026.331,11 Ipumirim 185 4,29 515 30.142,70 5.576.400,18 10.522,56 1.946.673,55 Paial 20 4,46 535 30.835,98 616.719,54 10.826,60 216.532,07 Seara 443 6,34 761 38.005,28 16.836.337,94 14.243,65 6.309.934,97 Xavantina 311 5,73 688 35.783,69 11.128.728,40 13.132,50 4.084.208,45 Total 1.029 5,77 692 35.923,07 36.964.842,15 13.200,86 13.583.680,14 * Valores em janeiro/2006 1 Assumindo 120 dias de retenção 4.1.2– Segundo cenário: redução influência direta sobre a capacidade das unidades de da carga poluente armazenamento e tratamento dos dejetos, bem como em sua valorização como fertilizante: quanto menor a Como constatado nas análises anteriores, o cum- diluição, maior a concentração de nutrientes por uni- primento da legislação ambiental é uma condição dade de volume transportado para as lavouras e, con- necessária mas não suficiente para o equilíbrio sus- seqüentemente, menor o custo envolvido no processo. 23
  • 24. A solução proposta neste segundo cenário é a im- Aves e Suínos. O custo fixo de um biodigestor de 150 plantação de biodigestores nos estabelecimento que, m3 foi obtido a partir do estudo de Kunz et al (2005), além de reduzirem a matéria orgânica e o potencial e considera desde a demanda de investimentos em poluidor dos dejetos, ainda seriam capazes de agre- estrutura e equipamentos para implantação de um gar valor aos mesmos aumentando seu poder fertili- biodigestor até as despesas necessárias para a entra- zante e viabilizando seu aproveitando sob a forma de da em operação e aproveitamento do biogás para ser biogás como fonte de energia. Estudos apontam que queimado e transformado em energia térmica. Os os dejetos tratados em biodigestor, além de produ- valores foram observados em uma granja modelo de zir biogás, têm a carga orgânica reduzida em cerca Peritiba-SC, e correspondem a um total aproximda- de 80% e os sólidos totais reduzidos em aproximada- do de R$ 30 mil reais4. Já os custos adicionais para mente 50% (EMBRAPA, 2005). aqueles biodigestores com dimensão superior a 150 m3 foram obtidos do inventário tecnológico para sis- O tratando dos dejetos com biodigestores resol- temas de tratamento de dejetos suínos (EMBRAPA, veria, pois, os problemas ambientais associados ao excesso de volume de dejetos produzidos na região, 2005), que define um custo aproximado de R$ 176,68 conforme trata a legislação ambiental. Entretanto, é por m3 de câmara de digestão5. Mais precisamente, ainda necessário um estudo específico sobre o balan- dada a dimensão média necessária para o biodiges- ço de nutrientes resultantes das atividades agropecu- tor (Dimensão), seu custo médio foi obtido pela ex- árias desenvolvidas na região, ou seja, deve-se ainda pressão matemática: observar se os nutrientes do biofertilizante resultan- te da biodigestão se encontram na proporção exigida Custo = 29.984,99 + (Dimensão-150) 176,68 pelas culturas da região. A Tabela 4.6 apresenta os custos necessários para Da mesma forma que o uso dos dejetos de suínos controle da poluição no segundo estágio de trata- como fertilizante melhora a produtividade agrícola, mento dos dejetos, considerando os valores médios em doses elevadas podem se tornar prejudiciais às cul- observados em cada município e na região como turas e ao ambiente. Os principais benefícios dos de- um todo. Mais uma vez, constata-se um custo mé- jetos estão associados à reposição de macronutrientes dio relativamente elevado por estabelecimento (44,2 NPK (nitrogênio, fósforo e potássio) e de vários mi- mil reais), sugerindo que deva haver um comparti- cronutrientes como zinco, ferro, manganês e cobre. lhamento das responsabilidades para que o ônus do Estes elementos presentes nos dejetos de suínos po- controle não invibilize a atividade desenvolvida pe- dem, por outro lado, tornarem-se potencial fonte de los pequenos proprietários. poluição quando utilizados desproporcionalmente. A verdade é que estes custos relativamente eleva- Analisando a relação entre o balanço de massas dos de implantação dos biodigestores desconsideram de nutrientes da produção de suínos no oeste cata- os benefícios do aproveitamento do biogás como fon- rinense e o sistema de produção local, Berto (2001) te de energia, podendo tornar-se, em alguns estabele- observa, por exemplo, que o nitrogênio e o fósforo cimentos, um sistema de tratamento auto-financiável. concentrados nos dejetos de suínos excedem em cer- ca de 3 vezes o que é reaproveitado pela agricultura e Segundo Zago (2003), a geração de energia elétri- pecuária na região. Estes resultados apontariam para ca a partir do biogás torna-se economicamente viá- a necessidade de outras medidas, além da utilização vel quando a propriedade possuir capacidade de pro- dos dejetos como fertilizante, caso contrário os ris- dução mínima de 200 m³/dia de biogás. Consideran- cos de poluição do solo e dos recursos hídricos com do que um biodigestor com tempo de retenção entre nitrogênio e fósforo seriam inevitáveis. 20 a 50 dias é capaz de produzir entre 0,25 e 0,65 m3 O dimensionamento do biodigestor é, assim como de biogás por m3/digestor/dia (Oliveira, 2004), e su- nas esterqueiras, um produto entre o volume médio pondo, portanto, que um biodigestor com 40 dias de diário de dejetos produzido pelo estabelecimento retenção do dejetos produza aproximadamente 0,50 m3 de biogás por m3/digestor/dia, para o biodiges- (m3/dia) e o tempo de retenção dos dejetos, que no tor ser economicamente viável o estabelecimento de- caso do biodigestor varia entre 20 e 50 dias. Para via- veria ter uma capacidade de tratamento no biodiges- bilizar as análises, adotou-se neste trabalho um tem- tor de 400 m3 de dejetos (=200/0,5). Para viabilizar o po médio de 40 dias. investimento, o agricultor teria que encontrar formas Os custos de implantação dos biodigestores foram 4 Valor deflacionado de novembro/2004 para janeiro/2006 pelo IGP-DI (FGV). estimados a partir de relatórios técnicos da Embrapa 5 Valor deflacionado de julho/2003 para janeiro/2006 pelo IGP-DI (FGV). 24