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O PAPEL DA FILOSOFIA NA CONSTRUÇÃO DA CIDADANIA – UMA
PROPOSTA A PARTIR DO PROJETO DE VOLUNTARIADO DO COLÉGIO
SÃO JOAQUIM
1.1 Voluntariado Juvenil: uma contextualização
O voluntariado é uma prática bastante atual. Pode ser visto como uma
resposta às problemáticas presentes em nossa sociedade. Essa atividade pode
servir de proposta pedagógica que colabora diretamente no desenvolvimento
de capacidades necessárias para os jovens alunos do ensino médio.
1.1.1 Projeto de Voluntariado no Colégio São Joaquim
Para início de conversa, é necessário entender o que é o Voluntariado e
como surgiu tal Projeto no Colégio São Joaquim. Ele é realizado com jovens
que buscam doar parte de seu tempo para ajudar pessoas que estão à margem
da sociedade, um dos motivos que torna o voluntariado uma atividade
educacional humanizadora, tanto para quem pratica a ação quanto para quem
a recebe. Essa atividade ajuda o jovem a formar uma consciência e a construir
estratégias que beneficiem pessoas que vivem em situações menos
favorecidas.
O projeto nasceu no ano de 2007, a partir de uma iniciativa do setor de
pastoral do Colégio São Joaquim1
. Os responsáveis pela atividade articularam
um grupo de jovens alunos do Ensino Médio que se mostravam desejosos de
um trabalho que fosse além da sala de aula e que atingisse as pessoas mais
carentes. Elaborado o projeto e estruturado um grupo, os responsáveis
realizaram uma série de formações, visando preparar os alunos para o contato
com as pessoas que seriam atendidas pelo projeto.
Desde o primeiro encontro com o grupo, das formações e das primeiras
visitas a entidades carentes da cidade de Lorena, a avaliação da iniciativa foi
1
Por se tratar de um colégio confessional católico, o Colégio São Joaquim conta com um setor
denominado de Pastoral. Tal setor é responsável por uma série de atividades de cunho
pedagógico, religioso e social. Estão vinculadas à Pastoral, iniciativas como ensaios de
bandas, dança, teatro; e ainda, as atividades relacionadas aos chamados “momentos fortes” da
espiritualidade cristã e salesiana.
bastante positiva. Resultado disso é que o projeto continua a acontecer. Agora
com a participação de novos alunos e com a presença de estagiários do curso
de filosofia que colaboram na formação e no acompanhamento dos alunos nas
atividades realizadas.
1.1.2 Mas o que é Voluntariado?
A sociedade hodierna encontra grandes dificuldades quando se fala em
“relações humanas”. Diante de uma realidade onde as desigualdades sociais
aumentam a cada dia, o homem parece ter se acostumado com os problemas
que assolam a humanidade. Percebemos assim, uma falta de motivação dos
jovens pela atuação ativa na sociedade como cidadãos. Em contrapartida,
percebe-se um grande número de pessoas (dentre estas, muitos jovens), que
desejam ser agentes de transformação social, sentem-se responsáveis e
buscam meios de ajudar o próximo através de trabalhos voluntários.
O voluntariado pode ser entendido de diversas formas. Do ponto de vista
religioso, podemos dizer que se trata de uma doação ao próximo numa
perspectiva transcendental, ou seja, motivados pelo amor à Deus que se
manifesta no serviço aos outros. Na visão social, podemos recorrer à
elucidação de DOMENEGETTI que versa:
O voluntariado constitui-se como sujeito social e político diverso do
Estado e do Mercado, como “Terceiro Setor”, que supera a tensão
entre público e privado, no desenvolvimento de um novo espaço (o
privado-social), que não funciona segundo a lógica do lucro nem da
coerção, mas segue o principio da gratuidade e da participação
voluntária. (DOMENEGETTI, 2001, p. 13)
O trabalho voluntário é realizado naquele que chamamos de “Terceiro
setor”. Este termo é referente às organizações que cuidam de problemas
ligados à educação, saúde, meio ambiente, assistência social, abuso de álcool
e drogas, sindicatos, museus etc., que cria capital social (composto por
voluntários) e empregos. É chamado de terceiro setor, pois difere do Primeiro e
Segundo setor, público e privado respectivamente, que são os setores que
dividem a sociedade. Apesar de ser diferente desses referidos setores de
nossa sociedade, o terceiro setor enfatiza a relação entre as ações públicas e
as privadas.
Assim dizendo, a Lei nº 9.608/982
caracteriza como trabalho voluntário a
atividade não remunerada prestada por pessoa física a entidade pública de
qualquer natureza, ou a instituição privada de fins não lucrativos que tenha
objetivos cívicos, culturais, educacionais, científicos, recreativos ou de
assistência social, inclusive de mutualidade. Esta lei estabelece que o trabalho
voluntário esteja previsto em contrato escrito, termo de adesão que destaca a
não existência de vínculo trabalhista no serviço voluntário.
O Voluntariado também pode ser entendido como a forma de estimular a
cidadania ativa e o envolvimento comunitário. Ou seja, uma pessoa que adere
a este tipo de serviço, trabalha, através de iniciativas pontuais, em vista de
melhoria das condições de vida das pessoas. Não somente espera de braços
cruzados por políticas públicas que atendam a estas necessidades, mas
elabora, articula e pratica tais ações. É importante evidenciar que o terceiro
setor e o trabalho voluntário têm seu surgimento intimamente ligados
exatamente à carência de políticas públicas que defendam e garantam a
dignidade e as condições mínimas para os cidadãos.
Em especial para as pessoas mais jovens, o voluntariado assume um
caráter altamente educativo. Pode colaborar inclusive, no rendimento escolar,
pois aumenta a motivação do aluno em buscar coisas novas e conhecimentos
que subsidiarão o trabalho que realizam. No voluntariado, os alunos encontram
“um espaço de liberdade e iniciativa; [...] o que se torna contestação corajosa
da mentalidade individualista e consumista que insidia muitos estratos sociais.”
(DOMENEGETTI, 2001, p. 17). A partir de então, o voluntário adquire uma
visão global e crítica da realidade social e contribui para a remoção das causas
da injustiça.
Se considerarmos a realidade sociocultural, somada aos diversos e
complexos desafios e situações conflitivas em que o jovem vive, o voluntariado
se apresenta como um espaço alternativo não só de inserção social e
compromisso de cidadania responsável, mas também como uma proposta que
ajuda o jovem a conhecer a si mesmo e a descobrir suas potencialidades.
2
A íntegra da Lei está disponibilizada pelo Governo Federal no seguinte endereço eletrônico:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9608.htm.
Em se tratando de jovens, o voluntariado assume um papel de ação e
reflexão e torna-se um espaço de educação sociopolítica. Tudo isso ajuda no
desenvolvimento do senso crítico, na conscientização sobre os direitos
humanos e sociais, no respeito às diferenças culturais e na vivência da
solidariedade. O contato com uma realidade diferente da sua (e muitas vezes
mais dura que a sua), leva o jovem à reflexão e preenche os anseios que ele
carrega consigo:
Voluntario é o ator social e agente de transformação, que presta
serviços não remunerados em benefício da comunidade. Doando seu
tempo e conhecimentos, realiza um trabalho gerado pela energia de
seu impulso solidário, e atende não só às necessidades do próximo,
como também aos imperativos de uma causa. O voluntário atende
também suas próprias motivações pessoais, sejam elas de caráter
religioso, cultural, filosófico ou emocional. (DOMENEGETTI, 2001, p.
17).
Em suma, o trabalho voluntário difere do esquema social e político tanto
do Mercado quanto do Estado. No terceiro setor, a tensão entre público e
privado é superada e se dá abertura a um novo espaço, que se distingue por
seguir o princípio da gratuidade e da relação voluntária. Assim, o voluntariado
estabelece relação com o mercado (pois produz e gera benefícios), com o
Estado (preza pela garantia de direitos e bem comum) e ainda com as pessoas
– desenvolvendo relações humanas marcadas pelo altruísmo e envolvimento.
Como foi dito, o voluntariado se insere no que denomina-se terceiro
setor. Para compreender como essa atividade pode ser uma prática educativa
e pedagógica que despertará sua consciência cidadão, é preciso clarificar onde
se inserem as iniciativas voluntárias.
1.1.3 O que é o Terceiro Setor?
O primeiro setor é o Governo, responsável pelas questões sociais. O
segundo setor é o Privado, responsável pelas questões individuais. Com a
falência do Estado em algumas áreas, o setor privado começou a ajudar nas
questões sociais, através das inúmeras instituições que compõem o chamado
Terceiro Setor. Ou seja, o terceiro setor é constituído por organizações sem
fins lucrativos e não governamentais, que têm como objetivo gerar serviços de
caráter público.
1.1.3.1 Principais responsáveis do Terceiro Setor3
Existem diversos órgãos que cuidam das atividades e iniciativas
realizadas no chamado terceiro setor. Dentre elas:
a) As fundações, que são as instituições que financiam o terceiro setor,
fazendo doações às entidades beneficentes.
b) As Entidades Beneficentes, que são as operadoras de fato e que cuidam
dos carentes, idosos, meninos de rua, drogados e alcoólatras, órfãos e
mães solteiras; protegem testemunhas; ajudam a preservar o meio
ambiente; educam jovens, velhos e adultos; profissionalizam; doam
sangue, merenda, livros, sopão etc. Enfim, fazem tudo.
c) Os Fundos Comunitários, que consiste na doação de várias empresas
para um dado fundo, sendo que os empresários avaliam, estabelecem
prioridades, e administram efetivamente a distribuição do dinheiro.
d) As Entidades Sem Fins Lucrativos, que infelizmente, são, na realidade,
lucrativas ou atendem os interesses dos próprios usuários. Um clube
esportivo, por exemplo, é sem fins lucrativos, mas beneficia somente os
seus respectivos sócios.
e) Temos ainda as ONGs (Organizações Não Governamentais). Ajuda
prestando serviços a pessoas direta e indiretamente. Uma ONG que
defenda os direitos da mulher, fazendo pressão sobre nossos
deputados, está ajudando indiretamente todas as mulheres.
f) As Empresas com Responsabilidade Social (diga-se que no fundo, a
Responsabilidade Social é sempre do indivíduo, nunca de uma empresa
jurídica, nem de um Estado impessoal. Caso contrário, as pessoas
repassariam as suas responsabilidades às empresas e ao governo, ao
invés de assumirem para si). Porém, algumas empresas vão além da
sua verdadeira responsabilidade principal (isto é, a financeira) e
3
O sub-item que se segue foi baseado em: CONFERÊNCIA NACIONAL DOS BISPOS DO
BRASIL. Sem Trabalho... Por quê? Fraternidade e os desempregados: Texto-base CF 1999.
Brasília: Edições CNBB, 1999.
incentivam outras atitudes, como fazer produtos seguros, acessíveis,
produzidos sem danos ambientais, e de estimular seus funcionários a
serem mais responsáveis.
g) As Empresas Doadoras, que financiam atividades de cunho social.
h) A Elite Filantrópica, que são os empresários que fazem doações
financeiras em seu nome.
i) As Pessoas Físicas, notadamente da classe média, que somam 90% da
verba filantrópica global. As empresas contribuem somente com 10%
dessa verba.
j) A Imprensa, que atua como meio de divulgação do Terceiro Setor.
k) E enfim, as Empresas Juniores Sociais, que caracterizam os projetos
comunitários associados à área acadêmica.
Não se pode confundir o ‘Terceiro Setor’ com as atividades do ‘Setor
Terciário’ da economia do comércio e serviços. Uma coisa não tem não nada a
ver com a outra. Para a Economia há três setores de renda: 1) a agricultura
como setor primário; 2) a indústria como setor secundário; 3) e o comércio
como setor terciário. Por isso, em vista desta possível confusão ou semelhança
de termos, existem alguns estudiosos, como Roger Sue, que preferem chamar
o Terceiro Setor de ‘Setor Quaternário’, incluindo-o nos setores da Economia,
justamente para evitar qualquer outro tipo de equivoco.
Então, tendo entendido o que é voluntariado e em que contexto se
insere, tratar-se-á agora, quais os aspectos mais importantes de tal iniciativa
como método educativo e pedagógico.
1.1.4 Objetivos do Projeto
O projeto específico do Colégio São Joaquim se insere nas áreas
educativo-cultural e ainda na área social, que compreendem, entre outras
coisas, iniciativas educativas de caráter informal que visam à animação da
cultura, do lazer e do esporte. Também estão presentes uma série de
atividades que visam recuperar a dignidade das pessoas e satisfazer algumas
necessidades básicas, como a alimentação (através da arrecadação de
mantimentos). Além do grupo de voluntariado, existe um grupo de adolescência
missionária, que realiza um trabalho semelhante ao do voluntariado, só que em
menor escala devido à idade dos alunos.
Dentre tantas características importantes do projeto, a motivação
principal é o serviço prestado pelos jovens alunos às pessoas atendidas. Os
próprios jovens acreditam e partilham, o quanto a experiência obtida com os
destinatários (somado ao respaldo teórico e o acompanhamento dos
educadores) são subsídios para suas próprias vidas.
Além das ações pontuais que beneficiam os atendidos, o projeto
colabora na formação humana do aluno. Perceber as necessidades sociais e
“tomar partido”, buscar soluções, é resultado de uma educação que possibilita
ao jovem colocar em prática os conhecimentos adquiridos.
1.1.5 Voluntariado Juvenil Salesiano: a experiência de Dom Bosco
O referido projeto possui uma dimensão espiritual. Por estar vinculado a
uma escola confessional, de denominação católica, ele tem características
evangélicas e cristãs. Nessa dinâmica cristã, os jovens descobrem a liberdade
na iniciativa, “[...] entrevêem um caminho que os leva ao serviço pelos outros,
reconhecem a possibilidade de uma profecia, que se torna contestação
corajosa da mentalidade individualista e consumista que insidia muitos estratos
sociais” 4
.
Devemos situá-lo ainda, na realidade salesiana5
. O voluntariado
salesiano possui uma identidade própria e deve garantir uma qualidade
educativo-pastoral em suas experiências. Preza por dirigir sua atenção ao
4
DIREÇÃO GERAL OBRAS DE DOM BOSCO: Dicastério para a pastoral juvenil e para as
missões. O voluntariado na Missão salesiana: manual de roteiro e orientações. Trad. Pe. José
Antenor Velho. Roma, 2009, p. 16. (Inspetoria Salesiana de São Paulo – circulação interna)
5
Os “Salesianos de Dom Bosco” são parte de uma organização internacional de pessoas
dedicadas, em tempo integral, à educação e ao serviço dos jovens, especialmente os mais
pobres e abandonados. Fundados por são João Bosco, um santo educador italiano do século
19. Presente hoje, em mais de 128 países, têm como centro de sua missão a educação e
evangelização. O serviço ou projeto educativo-pastoral que realizam tem por objetivo a
promoção integral da pessoa. São realizadas atividades e obras nos oratórios e centros
juvenis, escolas e centros de formação profissional, universidades, paróquias, obras e serviços
sociais para jovens em situação de risco, comunicação social e em outras formas de presença,
como a Articulação da Juventude Salesiana, o voluntariado, serviços de orientação vocacional
e de formação cristã. Disponível em: http://www.salesianos.com.br. Acesso em 22 de setembro
de 2009, às 10h54min.
crescimento humano do aluno, seu desdobramento cristão e religioso, sua
inserção na vida social e em comunidades de fé.
É considerado um voluntariado salesiano quando realizado dentro de um
contexto ou vinculado a uma obra salesiana. Tem de estar inspirado nos
valores próprios da tradição e espiritualidade salesiana, inserida no projeto
educativo-pastoral e carregar os traços da pedagogia e do sistema preventivo
de Dom Bosco.
A pedagogia salesiana tem como fundamento o sistema preventivo de
Dom Bosco, que por sua vez, sustenta-se por três pilares: a razão, a religião e
a amorevollezza6
. Este “método” educativo nasceu da própria experiência de
Dom Bosco. Ele era contra todo tipo de educação repressiva, pelo contrário,
testemunhou “[...] uma educação motivada pelo amor, pela caridade e pela
alegria.” (CHALITA, 2004, p. 11, apud BRAIDO, 2004). Na raiz da missão de
Dom Bosco, o trabalho com os jovens e adolescentes com os quais trabalhara,
tinha como meta torná-los bons cristãos e honestos cidadãos.
O desenvolvimento da cidadania também fez parte dos objetivos do
trabalho de Dom Bosco. Este não se restringia à evangelização, mas visava
criar “homens novos” para uma sociedade nova. Tinha a peito a salvação das
almas, mas esta missão devia ainda fazer com que o jovem tomasse uma nova
postura diante da sociedade. Ele “realizou a própria obra educativa para
consecução de fins ao mesmo tempo antigos e novos, levando os jovens a
acolher e formar em si, tanto a fidelidade à perene novidade cristã quanto à
capacidade de inserir-se em uma sociedade libertada [...]”. (BRAIDO, 2004, p.
211).
Portanto, a atividade educativa salesiana também ajuda (e tem como
objetivo) o desenvolvimento da capacidade e consciência cidadã. Inspirados no
trabalho realizado por Dom Bosco, busca-se o desenvolvimento do jovem em
sua totalidade, integrando a dimensão espiritual com a dimensão histórico-
social.
2.1 Ensino de Filosofia e desenvolvimento da consciência cidadã
6
Esta é uma palavra do idioma italiano que não possui tradução literal para o português. Pode
ser aproximada de carinho e amabilidade.
O ensino de Filosofia tem uma série de objetivos a serem alcançados.
Eles não devem ser fins em si mesmos, ao contrário, devem colaborar no
processo educacional do aluno. O despertar para a cidadania também é
finalidade da filosofia como disciplina, visando inserir o aluno de forma
significativa no contexto social.
2.1.1 O Ensino de Filosofia no Ensino Médio: Novas propostas
metodológicas
O retorno da disciplina de Filosofia para a grade curricular do Ensino
Médio trouxe consigo diversas preocupações. Busca-se novas metodologias
que tornem a disciplina mais entusiasmaste para o aluno e que não reduzam
de alguma forma as especificidades da Filosofia. Um embate que tem-se
desenvolvido é sobre os conteúdos a se trabalhar. Muitos autores questionam
o ensino puramente histórico da filosofia versus o chamado “ensinar a
filosofar”.
O ensino de Filosofia na escola deve colaborar para o desenvolvimento
da capacidade crítica do aluno, em sua formação ética, e ainda, em sua
preparação para o mundo do trabalho. Deve integrar temas transversais,
dialogando com outras áreas do saber e assim, garantir uma educação integral.
O estudante deve dominar também os conteúdos trabalhados. Toda essa
formação é base necessária para o cumprimento da cidadania que o aluno é
estimulado a assumir.
Longe de querer reduzir o ensino da Filosofia a uma prática de
desenvolvimento da cidadania, o que iria descaracterizá-lo, queremos destacar
uma parte específica dos objetivos de sua aplicação no Ensino Médio.
2.1.1.1 A proposta do governo para o ensino
A educação deve ser um projeto abrangente, que inclui diversos
processos educativos a serem desenvolvidos junto aos alunos. A legislação
brasileira prevê uma série de finalidades à educação. Tendo como base a LDB,
destaca-se:
[...] a educação escolar deverá vincular-se ao mundo do trabalho e à
prática social. [...] para a promoção do exercício da cidadania,
fundamentada nos ideais de igualdade, liberdade, solidariedade,
democracia, justiça social e felicidade humana, no trabalho como
fonte de riqueza, dignidade e bem-estar universais [...] para a
formação de cidadãos capazes de compreender criticamente a
realidade social e conscientes de seus direitos e responsabilidades,
desenvolvendo-lhes os valores éticos e o aprendizado da
participação. (SAVIANI, 2007, p.22).
É importante ressaltar que o documento enfatiza a ligação da educação
e do desenvolvimento pleno dos alunos com sua participação ativa na
sociedade, seja através do mundo do trabalho ou do efetivo exercício da
cidadania. A educação deve orientar o indivíduo à consciência de sua
responsabilidade diante da sociedade. Não pode, ao contrario, torná-lo apático
às necessidades coletivas que o rodeiam.
Neste sentido, o desafio que se nos apresenta é grande. A filosofia como
disciplina no ensino médio vem ao encontro dessas finalidades, mas acarreta a
necessidade de se pensar na oferta de um ensino de qualidade, que só serão
possíveis se forem estabelecidas condições adequadas para sua presença
como disciplina, implicando a garantia de recursos materiais e humanos.
2.2 Mas o que é Cidadania?
Se o ensino de Filosofia deve colaborar para o desenvolvimento da
consciência crítica do aluno, para que este assuma seu papel de cidadão na
sociedade, é preciso antes, conceituar o que entendemos por cidadania. Ela
não pode ser entendida apenas como a atitude de reivindicar melhores
condições de vida para o ser humano, tais como saneamento básico, saúde,
educação, fim de preconceitos e discriminações sociais, entre outros.
A cidadania foi objeto de muito estudo e de discussões importantes, que
marcam a ruptura de paradigmas acerca dos direitos e da dignidade das
pessoas. Ser cidadão significa, grosso modo, ter respeitados seus direitos e
deveres. Esta ideia está fundamentada e documentada e deve ser garantida às
pessoas pelo governo de cada nação:
Tal situação está descrita na carta de Direitos da Organização das
Nações Unidas (ONU), de 1948, que tem suas primeiras matrizes
marcantes nas cartas de Direito dos Estados Unidos (1776) e da
Revolução Francesa (1798). Sua proposta mais funda de cidadania é
a de que todos os homens são iguais e que perante a lei, sem
discriminação de raça, credo ou cor. E ainda: a todos cabem o
domínio sobre o seu corpo e sua vida, o acesso a um salário
condizente para promover a própria vida, o direito à educação, à
saúde, à habitação, ao lazer [...]. (COVRE, 1991, p. 9).
O próprio direito à vida, no sentido pleno, caracteriza o que vem a ser
cidadania. Este direito precisa ser construído de modo coletivo, visando
atender às necessidades básicas do homem.
A cidadania é constituída de três conjuntos de direitos que compõem os
direitos do cidadão, não podendo ser desvinculados um do outro. A realização
efetiva dos direitos depende dessa relação de complementaridade. Esses
direitos são ainda dependentes de organização política, econômica e social
para que se realizem. Em síntese, todos devem ter o mesmo tipo de direitos,
sem discriminação.
Os direitos do cidadão estão divididos em civis, políticos e sociais. Os
direitos Civis garantem que o indivíduo possa dispor do seu próprio corpo, de
locomover-se e de ter garantida a sua própria segurança. É o direito à
Liberdade, contrário a qualquer regime que se caracterize como escravidão. Os
diretos políticos referem-se ao atendimento das necessidades básicas do ser
humano, como alimentação, moradia, acesso à saúde e educação. E os
sociais, estão ligados ao direito de livre expressão e de prática política e
religiosa.
A própria origem da concepção da cidadania está ligada à filosofia, pois
se relaciona ao surgimento e organização da vida em sociedade (o que
concebemos como cidades). Podemos atribuir em princípio à cidade ou à polis
grega, que era composta de homens livres, com participação política contínua
numa democracia direta, em que o conjunto de suas vidas em coletividade era
debatido em função de direitos e deveres. Neste sentido, o homem grego era
um homem livre e participativo. A atuação do indivíduo naquelas coisas que
dizem respeito a ele mesmo e a seus convivas. Cidadania só se faz mediante
uma relação de igualdade, onde prevalece o diálogo e não existe nenhuma
forma de violência.
Para melhor elucidar esta questão, podemos recorrer à filosofia de Kant,
que fala do cidadão e do súdito, que devem obedecer às normas da lei. O
homem é um ser racional que deve usar de sua racionalidade para colaborar
num processo contínuo de crítica as leis se consideram que elas são injustas,
para que exista um processo de reformulação daqueles que são considerados
direitos do homem. Ele afirma que “o homem é um animal que, quando vive
entre os outros de sua espécie, tem necessidade de um senhor”. (KANT, 1986,
p. 10).
Tal necessidade se dá pelo fato de que ele, por vezes, abusa de sua
liberdade, condicionando a liberdade dos outros aos limites de uma lei. Um
senhor ajudaria a “direcionar” sua liberdade, e o faria ponderar suas ações.
Esta ideia não contraria a dialética do esclarecimento elaborada por Kant, e
segundo a qual há um processo de saída do homem de sua minoridade, da
qual ele é o próprio responsável.
A minoridade se caracteriza como a incapacidade de servir-se de seu
próprio entendimento sem a tutela de outrem. É um estado de dependência
que o homem é, muitas vezes, incapaz de perceber. A questão é encontrar um
homem que seja justo em si mesmo para governar os outros de modo
igualitário e o mais próximo da perfeição possível.
Kant, elabora assim, uma visão de mundo. A racionalidade proposta pelo
filósofo, também tem fins de promover a coletividade. O homem desenvolve a
própria racionalidade, e esse desenvolvimento está ancorado também na
inteligibilidade, no altruísmo, na liberdade. “No homem (única criatura racional
sobre a Terra) aquelas disposições naturais que estão voltadas para o uso de
sua razão devem desenvolver-se completamente apenas na espécie e não
apenas no indivíduo.” (KANT, 1986, p. 5). Então, a racionalidade deve
promover o desenvolvimento social e histórico dos homens; sua prática política
está no entre, no vínculo e na participação que estabelece.
A revolução que a vivência plena da cidadania pode efetivar se dá na
possibilidade de o homem romper com a alienação, com o esmaecimento
diante da realidade. Ele precisa passar a perceber a necessidade de sua
participação. Isso se daria, a todo instante, nas relações diárias, na criação de
relações que apontem, dentro do homem, as potencialidades que possui.
Não há mudança sem uma efetiva investida do cidadão. A luta pela
cidadania plena deve ser transformar o cotidiano das pessoas em algo bom e
satisfatório, sob condições que respeitem a própria vida. Deve haver o trabalho
coletivo na construção de um mundo mais humano e justo.
Então, torna-se possível o desenvolvimento daquela ação social de
conteúdo coletivo dos trabalhadores, no campo econômico, para
obter os bens e direitos a que fazem jus. E também, o exercício da
ação social no nível político, como construção da democracia em seu
sentido mais amplo – de uso da persuasão, do argumento, de
construção da justiça, liberdade, igualdade. (COVRE, 1991, p. 74).
Podemos dizer então, que a cidadania passa por um processo de
conscientização da necessidade da própria participação na organização da
sociedade. A filosofia pode contribuir em muito nessa dinâmica, pois estimula e
fomenta a formação ética, a autonomia intelectual e o pensamento crítico das
pessoas, fazendo-as cada vez mais atentas e participativas.
2.2.1 Ensino de Filosofia e desenvolvimento da consciência cidadã
Um estudo tem caráter filosófico quando assume uma postura
diferenciada diante do mundo. Busca-se novas alternativas de entendimento. A
filosofia é, portanto, atitude reflexiva. Ela busca as raízes e os fundamentos dos
problemas sobre os quais se propõe refletir. É dotada de rigor, sistematização
e métodos. E ainda, examina as questões de modo global, no seu conjunto ou
meio em que está inserido.
Evidentemente, não podemos dizer que a filosofia se justifica apenas por
sua contribuição como instrumental para a cidadania. Tal afirmação seria
limitada. O estudo da Filosofia abre os horizontes do educando, podemos dizer
até que em dimensão transdisciplinar7
. Torna-o mais crítico e capaz de exercer
a própria cidadania. Tanto os conteúdos quanto as metodologias utilizadas
desenvolvem capacidades que são importantes no processo educacional que o
aluno vive. Prepará-lo para a vida – eis o desafio no qual a filosofia pode
colaborar.
[...] “o papel peculiar da filosofia no desenvolvimento da competência
geral de fala, leitura e escrita – competência aqui compreendida de
um modo bastante especial e ligado à natureza argumentativa da
7
Pode-se compreender transdisciplinaridade como não-linearidade. É a razão transversal,
portanto, que escapa à lógica seqüencial e linear de alocação de disciplinas.
filosofia e à sua tradição histórica. Cabe, então, especificamente à
Filosofia a capacidade de análise, de reconstrução racional e de
crítica, a partir da compreensão de que tomar posições diante de
textos propostos de qualquer tipo (tanto textos filosóficos quanto
textos não filosóficos e formações discursivas não explicitadas em
textos) e emitir opiniões acerca deles é um pressuposto indispensável
para o exercício da cidadania”. (SAVIANI, 2007, p. 26).
A Filosofia cumpre um papel formador, visto que ela articula o saber.
Evita que a consciência assuma algo como verdadeiro em razão de
aparências. Não se restringe a meras opiniões ou ao senso comum, pelo
contrário, aprofunda questões e as conecta à vida do aluno. Um conhecimento
assim, imbricado na vida do aluno, é capaz de transformar e significar a
concepção de mundo que ele tem.
Ainda podemos caracterizar a filosofia como diálogo. Afinal, ela examina
minuciosamente, debate e levanta os prós e contras de um determinado
assunto ou problema. Apresenta abertura às outras diversas áreas do
conhecimento e corrobora assim, na elaboração de conceitos. Os objetivos do
ensino de Filosofia, quando bem definidos, atuam também na compreensão
das outras disciplinas. Ela pode trazer esses conhecimentos adquiridos,
acompanhando ou, pelo menos, respeitando o movimento do pensar à luz de
grandes obras, independentemente do autor ou da teoria escolhida. Quando o
aluno consegue realizar esta conexão, pode haver uma nova/maior motivação
para o seu estudo. Então,
[...] essa significação subjetiva ganha corpo quando o sujeito
consegue relacionar um novo conhecimento com aqueles que já
fazem parte de sua estrutura cognitiva, ou seja, quando o ato de
conhecimento tem condições de configurar-se, em alguma medida,
com um ato de reconhecimento. O que o aluno já sabe acaba
funcionando como uma espécie de ponto de ancoragem para novas
aquisições cognitivas. ((RODRIGO, 2009, p. 38).
A Filosofia aparece, neste contexto, como uma experiência modificadora
do pensamento e de si mesmo. Sempre partindo do momento em que os
conteúdos estudados e as conexões que se realiza tomam um novo sentido
para o indivíduo. Os espaços para o diálogo permitem que o aluno se expresse
livremente, incentivando-o a participar e exercitar o diálogo filosófico. Esse
processo educativo se efetiva na colaboração e no intercâmbio das idéias,
reflexões e pontos de vista daquelas que participam , transformando-as em
uma comunidade de investigação.
Inicia-se o aluno no mundo da Filosofia através de uma combinação
entre o exame dos textos filosóficos e das situações vividas por ele. Isso não
faz a Filosofia perder sua identidade e especificidade como uma disciplina
curricular do ensino médio. Diferentemente, leva o aluno a colocar em questão
aquilo que já sabe e a buscar novas fontes de conhecimento.
Os estudantes podem passar de um estado de ignorância para um
estado de conhecimento sobre temas concretos. É necessário, porém, que a
escola seja o contexto onde se constrói a autonomia. Quando o aluno é capaz
de pensar por si próprio, se percebe também como agente transformador da
sociedade. A filosofia serve como que um suporte, pano de fundo ou subsídio,
que desvela o aluno das sombras da ignorância e o faz despertar para um
vasto mundo de possibilidades.
3.1 Ensino de Filosofia e Trabalho Voluntário
A filosofia nos capacita à criticidade. A liberdade e autonomia de
pensamento a que ela nos leva, nos insere de modo mais contundente na
sociedade. Como disciplina ela pode nos instigar a uma busca criativa de
soluções para as carências da vida comum.
3.1.1 Pensamento crítico e participação: a filosofia como “pano de fundo”
para o projeto de Voluntariado
Quando procura modificar a sociedade, o homem acaba por modificar-se
a si mesmo. Essa situação só se dá quando o homem assume uma nova
maneira de pensar, livre e crítica, capaz de colocar em questão os próprios
valores e de avaliar as próprias ações e posturas.
O homem precisa então, desenvolver a capacidade reflexiva e o espírito
crítico, características próprias do verdadeiro filósofo. Quando reflete, a pessoa
consegue filtrar as informações que recebe (considerando o contexto atual,
vivemos em meio a uma enxurrada de informações). Pensamento crítico é a
capacidade de dosar a validade e significado destas informações e ainda, a
capacidade de aplicação e aprimoramento.
Essa autonomia de pensamento leva a uma atitude de posicionamento
diante do mundo. A influência dos outros sobre nós pode “ameaçar nossa
independência, pois se esse outro fosse inócuo e não pudesse interferir em
nossa independência, não teria sentido ser autônomo”. (GALLO, 2004, p. 68).
Ela ainda leva a uma atitude de compartilhamento, pois a compreensão de
mundo leva a perceber que o mundo é conjunto, e não apenas a minha
individualizada presença no mundo. Assim,
O outro assume um papel importante nessa ação. Ela não pode ser
uma ação solitária ou solipsista. Não pressupõe que o mundo seja o
meu mundo, mas que este seja um mundo compartilhado e onde
minha ação, mesmo a ação do pensamento, seja de intervenção no
mundo. O mundo não seria o mesmo sem essa ação – isto é, nega
radicalmente o ditado que afirma que a filosofia é aquilo que com ou
sem a qual o mundo continua tal e qual. Então a filosofia não seria
uma ação inócua, apesar de não podermos esperar um produto
definido dela, assim como se espera da resolução de um cálculo.
(GALLO, 2004, p. 76).
Não se trata aqui de uma espécie de pragmatismo, mas de uma
conseqüência. A prática filosófica é intervenção no mundo. Ela muda a visão, a
compreensão e acarreta em uma nova forma de agir. Tem sua dimensão
teórica com as ideias e conceitos e desemboca em sua dimensão prática, com
ações e inferências práxiológicas.
A filosofia ainda pode servir como suporte para o desenvolvimento da
criatividade. O aluno, quando consegue perceber que os conteúdos estudados
têm uma intervenção prática no mundo, buscará, por meio de maneiras
diferenciadas, desenvolver aquilo que se espera. A criatividade está então,
associada à inovação e em fazer as coisas que se espera de modos novo e
original.
Dentre os objetivos traçados para o projeto de voluntariado, é importante
destacar o desenvolvimento da consciência cidadã do aluno. Tal característica
pode ser observada também como um dos objetivos traçados para a disciplina
de Filosofia.
Podemos observar que existe a possibilidade de uma relação de
complementaridade entre o Voluntariado como proposta educativa e o ensino
de Filosofia. Estas duas instâncias colaboram no aprimoramento de uma série
de capacidades que o aluno deve desenvolver ao longo do Ensino Médio, e
que o acompanharão por toda a vida.
A questão fundamental é instigar o aluno a buscar soluções para as
questões e problemáticas que o incomodam. Esta é uma atitude filosófica,
relacionada ao aprofundamento e busca por respostas; e é atitude de cidadão
consciente, que se depara com a realidade, muitas vezes, marcada por
injustiças sociais, e estabelece propostas e se empenha pela mudança.
Trata-se da criatividade, da curiosidade, da capacidade de pensar
múltiplas alternativas para a solução de um problema, ou seja, do
desenvolvimento do pensamento crítico, da capacidade de trabalhar
em equipe, da disposição para procurar e aceitar críticas, da
disposição para o risco, de saber comunicar-se, da capacidade de
buscar conhecimentos. De forma um tanto sumária, pode-se afirmar
que se trata tanto de competências comunicativas, que parecem
solicitar da Filosofia um refinamento do uso argumentativo da
linguagem, para o qual podem contribuir conteúdos lógicos próprios
da Filosofia, quanto de competências, digamos, cívicas, que podem
fixar-se igualmente à luz de conteúdos filosóficos.” (GALLO, 2004, p.
30)
O trabalho desenvolvido não pode se limitar à interpretação ou à
contextualização dos filósofos de forma fragmentada e unívoca, nem mesmo se
reduzir a debates e discussões embasadas em textos filosóficos. Diversas
metodologias podem ser utilizadas para que se alcance de forma mais eficaz
os objetivos. As atividades devem conduzir o aluno a uma conexão de ideias e
à capacidade de relacionar conteúdos com a própria vida, de modo especial,
com a atividade voluntária.
Em síntese, pode-se dizer que a filosofia pode contribuir em muito com o
desenvolvimento da consciência cidadã. Podemos apontar a reflexão como um
dos objetivos desse processo educacional. É na escola que o aluno aprofunda
as mais diversas reflexões que o levam a ampliar o próprio horizonte de sentido
e de significação do mundo. E enfim, esse exercício deve levar a um outro: ao
da plena cidadania, que também está vinculada ao fato de que a educação
deve aperfeiçoar o aluno como pessoa, inerente à sua formação ética, à sua
liberdade, autonomia de pensamento e capacidade crítica.

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O papel do voluntariado na construção da cidadania

  • 1. O PAPEL DA FILOSOFIA NA CONSTRUÇÃO DA CIDADANIA – UMA PROPOSTA A PARTIR DO PROJETO DE VOLUNTARIADO DO COLÉGIO SÃO JOAQUIM 1.1 Voluntariado Juvenil: uma contextualização O voluntariado é uma prática bastante atual. Pode ser visto como uma resposta às problemáticas presentes em nossa sociedade. Essa atividade pode servir de proposta pedagógica que colabora diretamente no desenvolvimento de capacidades necessárias para os jovens alunos do ensino médio. 1.1.1 Projeto de Voluntariado no Colégio São Joaquim Para início de conversa, é necessário entender o que é o Voluntariado e como surgiu tal Projeto no Colégio São Joaquim. Ele é realizado com jovens que buscam doar parte de seu tempo para ajudar pessoas que estão à margem da sociedade, um dos motivos que torna o voluntariado uma atividade educacional humanizadora, tanto para quem pratica a ação quanto para quem a recebe. Essa atividade ajuda o jovem a formar uma consciência e a construir estratégias que beneficiem pessoas que vivem em situações menos favorecidas. O projeto nasceu no ano de 2007, a partir de uma iniciativa do setor de pastoral do Colégio São Joaquim1 . Os responsáveis pela atividade articularam um grupo de jovens alunos do Ensino Médio que se mostravam desejosos de um trabalho que fosse além da sala de aula e que atingisse as pessoas mais carentes. Elaborado o projeto e estruturado um grupo, os responsáveis realizaram uma série de formações, visando preparar os alunos para o contato com as pessoas que seriam atendidas pelo projeto. Desde o primeiro encontro com o grupo, das formações e das primeiras visitas a entidades carentes da cidade de Lorena, a avaliação da iniciativa foi 1 Por se tratar de um colégio confessional católico, o Colégio São Joaquim conta com um setor denominado de Pastoral. Tal setor é responsável por uma série de atividades de cunho pedagógico, religioso e social. Estão vinculadas à Pastoral, iniciativas como ensaios de bandas, dança, teatro; e ainda, as atividades relacionadas aos chamados “momentos fortes” da espiritualidade cristã e salesiana.
  • 2. bastante positiva. Resultado disso é que o projeto continua a acontecer. Agora com a participação de novos alunos e com a presença de estagiários do curso de filosofia que colaboram na formação e no acompanhamento dos alunos nas atividades realizadas. 1.1.2 Mas o que é Voluntariado? A sociedade hodierna encontra grandes dificuldades quando se fala em “relações humanas”. Diante de uma realidade onde as desigualdades sociais aumentam a cada dia, o homem parece ter se acostumado com os problemas que assolam a humanidade. Percebemos assim, uma falta de motivação dos jovens pela atuação ativa na sociedade como cidadãos. Em contrapartida, percebe-se um grande número de pessoas (dentre estas, muitos jovens), que desejam ser agentes de transformação social, sentem-se responsáveis e buscam meios de ajudar o próximo através de trabalhos voluntários. O voluntariado pode ser entendido de diversas formas. Do ponto de vista religioso, podemos dizer que se trata de uma doação ao próximo numa perspectiva transcendental, ou seja, motivados pelo amor à Deus que se manifesta no serviço aos outros. Na visão social, podemos recorrer à elucidação de DOMENEGETTI que versa: O voluntariado constitui-se como sujeito social e político diverso do Estado e do Mercado, como “Terceiro Setor”, que supera a tensão entre público e privado, no desenvolvimento de um novo espaço (o privado-social), que não funciona segundo a lógica do lucro nem da coerção, mas segue o principio da gratuidade e da participação voluntária. (DOMENEGETTI, 2001, p. 13) O trabalho voluntário é realizado naquele que chamamos de “Terceiro setor”. Este termo é referente às organizações que cuidam de problemas ligados à educação, saúde, meio ambiente, assistência social, abuso de álcool e drogas, sindicatos, museus etc., que cria capital social (composto por voluntários) e empregos. É chamado de terceiro setor, pois difere do Primeiro e Segundo setor, público e privado respectivamente, que são os setores que dividem a sociedade. Apesar de ser diferente desses referidos setores de
  • 3. nossa sociedade, o terceiro setor enfatiza a relação entre as ações públicas e as privadas. Assim dizendo, a Lei nº 9.608/982 caracteriza como trabalho voluntário a atividade não remunerada prestada por pessoa física a entidade pública de qualquer natureza, ou a instituição privada de fins não lucrativos que tenha objetivos cívicos, culturais, educacionais, científicos, recreativos ou de assistência social, inclusive de mutualidade. Esta lei estabelece que o trabalho voluntário esteja previsto em contrato escrito, termo de adesão que destaca a não existência de vínculo trabalhista no serviço voluntário. O Voluntariado também pode ser entendido como a forma de estimular a cidadania ativa e o envolvimento comunitário. Ou seja, uma pessoa que adere a este tipo de serviço, trabalha, através de iniciativas pontuais, em vista de melhoria das condições de vida das pessoas. Não somente espera de braços cruzados por políticas públicas que atendam a estas necessidades, mas elabora, articula e pratica tais ações. É importante evidenciar que o terceiro setor e o trabalho voluntário têm seu surgimento intimamente ligados exatamente à carência de políticas públicas que defendam e garantam a dignidade e as condições mínimas para os cidadãos. Em especial para as pessoas mais jovens, o voluntariado assume um caráter altamente educativo. Pode colaborar inclusive, no rendimento escolar, pois aumenta a motivação do aluno em buscar coisas novas e conhecimentos que subsidiarão o trabalho que realizam. No voluntariado, os alunos encontram “um espaço de liberdade e iniciativa; [...] o que se torna contestação corajosa da mentalidade individualista e consumista que insidia muitos estratos sociais.” (DOMENEGETTI, 2001, p. 17). A partir de então, o voluntário adquire uma visão global e crítica da realidade social e contribui para a remoção das causas da injustiça. Se considerarmos a realidade sociocultural, somada aos diversos e complexos desafios e situações conflitivas em que o jovem vive, o voluntariado se apresenta como um espaço alternativo não só de inserção social e compromisso de cidadania responsável, mas também como uma proposta que ajuda o jovem a conhecer a si mesmo e a descobrir suas potencialidades. 2 A íntegra da Lei está disponibilizada pelo Governo Federal no seguinte endereço eletrônico: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9608.htm.
  • 4. Em se tratando de jovens, o voluntariado assume um papel de ação e reflexão e torna-se um espaço de educação sociopolítica. Tudo isso ajuda no desenvolvimento do senso crítico, na conscientização sobre os direitos humanos e sociais, no respeito às diferenças culturais e na vivência da solidariedade. O contato com uma realidade diferente da sua (e muitas vezes mais dura que a sua), leva o jovem à reflexão e preenche os anseios que ele carrega consigo: Voluntario é o ator social e agente de transformação, que presta serviços não remunerados em benefício da comunidade. Doando seu tempo e conhecimentos, realiza um trabalho gerado pela energia de seu impulso solidário, e atende não só às necessidades do próximo, como também aos imperativos de uma causa. O voluntário atende também suas próprias motivações pessoais, sejam elas de caráter religioso, cultural, filosófico ou emocional. (DOMENEGETTI, 2001, p. 17). Em suma, o trabalho voluntário difere do esquema social e político tanto do Mercado quanto do Estado. No terceiro setor, a tensão entre público e privado é superada e se dá abertura a um novo espaço, que se distingue por seguir o princípio da gratuidade e da relação voluntária. Assim, o voluntariado estabelece relação com o mercado (pois produz e gera benefícios), com o Estado (preza pela garantia de direitos e bem comum) e ainda com as pessoas – desenvolvendo relações humanas marcadas pelo altruísmo e envolvimento. Como foi dito, o voluntariado se insere no que denomina-se terceiro setor. Para compreender como essa atividade pode ser uma prática educativa e pedagógica que despertará sua consciência cidadão, é preciso clarificar onde se inserem as iniciativas voluntárias. 1.1.3 O que é o Terceiro Setor? O primeiro setor é o Governo, responsável pelas questões sociais. O segundo setor é o Privado, responsável pelas questões individuais. Com a falência do Estado em algumas áreas, o setor privado começou a ajudar nas questões sociais, através das inúmeras instituições que compõem o chamado Terceiro Setor. Ou seja, o terceiro setor é constituído por organizações sem
  • 5. fins lucrativos e não governamentais, que têm como objetivo gerar serviços de caráter público. 1.1.3.1 Principais responsáveis do Terceiro Setor3 Existem diversos órgãos que cuidam das atividades e iniciativas realizadas no chamado terceiro setor. Dentre elas: a) As fundações, que são as instituições que financiam o terceiro setor, fazendo doações às entidades beneficentes. b) As Entidades Beneficentes, que são as operadoras de fato e que cuidam dos carentes, idosos, meninos de rua, drogados e alcoólatras, órfãos e mães solteiras; protegem testemunhas; ajudam a preservar o meio ambiente; educam jovens, velhos e adultos; profissionalizam; doam sangue, merenda, livros, sopão etc. Enfim, fazem tudo. c) Os Fundos Comunitários, que consiste na doação de várias empresas para um dado fundo, sendo que os empresários avaliam, estabelecem prioridades, e administram efetivamente a distribuição do dinheiro. d) As Entidades Sem Fins Lucrativos, que infelizmente, são, na realidade, lucrativas ou atendem os interesses dos próprios usuários. Um clube esportivo, por exemplo, é sem fins lucrativos, mas beneficia somente os seus respectivos sócios. e) Temos ainda as ONGs (Organizações Não Governamentais). Ajuda prestando serviços a pessoas direta e indiretamente. Uma ONG que defenda os direitos da mulher, fazendo pressão sobre nossos deputados, está ajudando indiretamente todas as mulheres. f) As Empresas com Responsabilidade Social (diga-se que no fundo, a Responsabilidade Social é sempre do indivíduo, nunca de uma empresa jurídica, nem de um Estado impessoal. Caso contrário, as pessoas repassariam as suas responsabilidades às empresas e ao governo, ao invés de assumirem para si). Porém, algumas empresas vão além da sua verdadeira responsabilidade principal (isto é, a financeira) e 3 O sub-item que se segue foi baseado em: CONFERÊNCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL. Sem Trabalho... Por quê? Fraternidade e os desempregados: Texto-base CF 1999. Brasília: Edições CNBB, 1999.
  • 6. incentivam outras atitudes, como fazer produtos seguros, acessíveis, produzidos sem danos ambientais, e de estimular seus funcionários a serem mais responsáveis. g) As Empresas Doadoras, que financiam atividades de cunho social. h) A Elite Filantrópica, que são os empresários que fazem doações financeiras em seu nome. i) As Pessoas Físicas, notadamente da classe média, que somam 90% da verba filantrópica global. As empresas contribuem somente com 10% dessa verba. j) A Imprensa, que atua como meio de divulgação do Terceiro Setor. k) E enfim, as Empresas Juniores Sociais, que caracterizam os projetos comunitários associados à área acadêmica. Não se pode confundir o ‘Terceiro Setor’ com as atividades do ‘Setor Terciário’ da economia do comércio e serviços. Uma coisa não tem não nada a ver com a outra. Para a Economia há três setores de renda: 1) a agricultura como setor primário; 2) a indústria como setor secundário; 3) e o comércio como setor terciário. Por isso, em vista desta possível confusão ou semelhança de termos, existem alguns estudiosos, como Roger Sue, que preferem chamar o Terceiro Setor de ‘Setor Quaternário’, incluindo-o nos setores da Economia, justamente para evitar qualquer outro tipo de equivoco. Então, tendo entendido o que é voluntariado e em que contexto se insere, tratar-se-á agora, quais os aspectos mais importantes de tal iniciativa como método educativo e pedagógico. 1.1.4 Objetivos do Projeto O projeto específico do Colégio São Joaquim se insere nas áreas educativo-cultural e ainda na área social, que compreendem, entre outras coisas, iniciativas educativas de caráter informal que visam à animação da cultura, do lazer e do esporte. Também estão presentes uma série de atividades que visam recuperar a dignidade das pessoas e satisfazer algumas necessidades básicas, como a alimentação (através da arrecadação de mantimentos). Além do grupo de voluntariado, existe um grupo de adolescência
  • 7. missionária, que realiza um trabalho semelhante ao do voluntariado, só que em menor escala devido à idade dos alunos. Dentre tantas características importantes do projeto, a motivação principal é o serviço prestado pelos jovens alunos às pessoas atendidas. Os próprios jovens acreditam e partilham, o quanto a experiência obtida com os destinatários (somado ao respaldo teórico e o acompanhamento dos educadores) são subsídios para suas próprias vidas. Além das ações pontuais que beneficiam os atendidos, o projeto colabora na formação humana do aluno. Perceber as necessidades sociais e “tomar partido”, buscar soluções, é resultado de uma educação que possibilita ao jovem colocar em prática os conhecimentos adquiridos. 1.1.5 Voluntariado Juvenil Salesiano: a experiência de Dom Bosco O referido projeto possui uma dimensão espiritual. Por estar vinculado a uma escola confessional, de denominação católica, ele tem características evangélicas e cristãs. Nessa dinâmica cristã, os jovens descobrem a liberdade na iniciativa, “[...] entrevêem um caminho que os leva ao serviço pelos outros, reconhecem a possibilidade de uma profecia, que se torna contestação corajosa da mentalidade individualista e consumista que insidia muitos estratos sociais” 4 . Devemos situá-lo ainda, na realidade salesiana5 . O voluntariado salesiano possui uma identidade própria e deve garantir uma qualidade educativo-pastoral em suas experiências. Preza por dirigir sua atenção ao 4 DIREÇÃO GERAL OBRAS DE DOM BOSCO: Dicastério para a pastoral juvenil e para as missões. O voluntariado na Missão salesiana: manual de roteiro e orientações. Trad. Pe. José Antenor Velho. Roma, 2009, p. 16. (Inspetoria Salesiana de São Paulo – circulação interna) 5 Os “Salesianos de Dom Bosco” são parte de uma organização internacional de pessoas dedicadas, em tempo integral, à educação e ao serviço dos jovens, especialmente os mais pobres e abandonados. Fundados por são João Bosco, um santo educador italiano do século 19. Presente hoje, em mais de 128 países, têm como centro de sua missão a educação e evangelização. O serviço ou projeto educativo-pastoral que realizam tem por objetivo a promoção integral da pessoa. São realizadas atividades e obras nos oratórios e centros juvenis, escolas e centros de formação profissional, universidades, paróquias, obras e serviços sociais para jovens em situação de risco, comunicação social e em outras formas de presença, como a Articulação da Juventude Salesiana, o voluntariado, serviços de orientação vocacional e de formação cristã. Disponível em: http://www.salesianos.com.br. Acesso em 22 de setembro de 2009, às 10h54min.
  • 8. crescimento humano do aluno, seu desdobramento cristão e religioso, sua inserção na vida social e em comunidades de fé. É considerado um voluntariado salesiano quando realizado dentro de um contexto ou vinculado a uma obra salesiana. Tem de estar inspirado nos valores próprios da tradição e espiritualidade salesiana, inserida no projeto educativo-pastoral e carregar os traços da pedagogia e do sistema preventivo de Dom Bosco. A pedagogia salesiana tem como fundamento o sistema preventivo de Dom Bosco, que por sua vez, sustenta-se por três pilares: a razão, a religião e a amorevollezza6 . Este “método” educativo nasceu da própria experiência de Dom Bosco. Ele era contra todo tipo de educação repressiva, pelo contrário, testemunhou “[...] uma educação motivada pelo amor, pela caridade e pela alegria.” (CHALITA, 2004, p. 11, apud BRAIDO, 2004). Na raiz da missão de Dom Bosco, o trabalho com os jovens e adolescentes com os quais trabalhara, tinha como meta torná-los bons cristãos e honestos cidadãos. O desenvolvimento da cidadania também fez parte dos objetivos do trabalho de Dom Bosco. Este não se restringia à evangelização, mas visava criar “homens novos” para uma sociedade nova. Tinha a peito a salvação das almas, mas esta missão devia ainda fazer com que o jovem tomasse uma nova postura diante da sociedade. Ele “realizou a própria obra educativa para consecução de fins ao mesmo tempo antigos e novos, levando os jovens a acolher e formar em si, tanto a fidelidade à perene novidade cristã quanto à capacidade de inserir-se em uma sociedade libertada [...]”. (BRAIDO, 2004, p. 211). Portanto, a atividade educativa salesiana também ajuda (e tem como objetivo) o desenvolvimento da capacidade e consciência cidadã. Inspirados no trabalho realizado por Dom Bosco, busca-se o desenvolvimento do jovem em sua totalidade, integrando a dimensão espiritual com a dimensão histórico- social. 2.1 Ensino de Filosofia e desenvolvimento da consciência cidadã 6 Esta é uma palavra do idioma italiano que não possui tradução literal para o português. Pode ser aproximada de carinho e amabilidade.
  • 9. O ensino de Filosofia tem uma série de objetivos a serem alcançados. Eles não devem ser fins em si mesmos, ao contrário, devem colaborar no processo educacional do aluno. O despertar para a cidadania também é finalidade da filosofia como disciplina, visando inserir o aluno de forma significativa no contexto social. 2.1.1 O Ensino de Filosofia no Ensino Médio: Novas propostas metodológicas O retorno da disciplina de Filosofia para a grade curricular do Ensino Médio trouxe consigo diversas preocupações. Busca-se novas metodologias que tornem a disciplina mais entusiasmaste para o aluno e que não reduzam de alguma forma as especificidades da Filosofia. Um embate que tem-se desenvolvido é sobre os conteúdos a se trabalhar. Muitos autores questionam o ensino puramente histórico da filosofia versus o chamado “ensinar a filosofar”. O ensino de Filosofia na escola deve colaborar para o desenvolvimento da capacidade crítica do aluno, em sua formação ética, e ainda, em sua preparação para o mundo do trabalho. Deve integrar temas transversais, dialogando com outras áreas do saber e assim, garantir uma educação integral. O estudante deve dominar também os conteúdos trabalhados. Toda essa formação é base necessária para o cumprimento da cidadania que o aluno é estimulado a assumir. Longe de querer reduzir o ensino da Filosofia a uma prática de desenvolvimento da cidadania, o que iria descaracterizá-lo, queremos destacar uma parte específica dos objetivos de sua aplicação no Ensino Médio. 2.1.1.1 A proposta do governo para o ensino A educação deve ser um projeto abrangente, que inclui diversos processos educativos a serem desenvolvidos junto aos alunos. A legislação brasileira prevê uma série de finalidades à educação. Tendo como base a LDB, destaca-se:
  • 10. [...] a educação escolar deverá vincular-se ao mundo do trabalho e à prática social. [...] para a promoção do exercício da cidadania, fundamentada nos ideais de igualdade, liberdade, solidariedade, democracia, justiça social e felicidade humana, no trabalho como fonte de riqueza, dignidade e bem-estar universais [...] para a formação de cidadãos capazes de compreender criticamente a realidade social e conscientes de seus direitos e responsabilidades, desenvolvendo-lhes os valores éticos e o aprendizado da participação. (SAVIANI, 2007, p.22). É importante ressaltar que o documento enfatiza a ligação da educação e do desenvolvimento pleno dos alunos com sua participação ativa na sociedade, seja através do mundo do trabalho ou do efetivo exercício da cidadania. A educação deve orientar o indivíduo à consciência de sua responsabilidade diante da sociedade. Não pode, ao contrario, torná-lo apático às necessidades coletivas que o rodeiam. Neste sentido, o desafio que se nos apresenta é grande. A filosofia como disciplina no ensino médio vem ao encontro dessas finalidades, mas acarreta a necessidade de se pensar na oferta de um ensino de qualidade, que só serão possíveis se forem estabelecidas condições adequadas para sua presença como disciplina, implicando a garantia de recursos materiais e humanos. 2.2 Mas o que é Cidadania? Se o ensino de Filosofia deve colaborar para o desenvolvimento da consciência crítica do aluno, para que este assuma seu papel de cidadão na sociedade, é preciso antes, conceituar o que entendemos por cidadania. Ela não pode ser entendida apenas como a atitude de reivindicar melhores condições de vida para o ser humano, tais como saneamento básico, saúde, educação, fim de preconceitos e discriminações sociais, entre outros. A cidadania foi objeto de muito estudo e de discussões importantes, que marcam a ruptura de paradigmas acerca dos direitos e da dignidade das pessoas. Ser cidadão significa, grosso modo, ter respeitados seus direitos e deveres. Esta ideia está fundamentada e documentada e deve ser garantida às pessoas pelo governo de cada nação: Tal situação está descrita na carta de Direitos da Organização das Nações Unidas (ONU), de 1948, que tem suas primeiras matrizes marcantes nas cartas de Direito dos Estados Unidos (1776) e da
  • 11. Revolução Francesa (1798). Sua proposta mais funda de cidadania é a de que todos os homens são iguais e que perante a lei, sem discriminação de raça, credo ou cor. E ainda: a todos cabem o domínio sobre o seu corpo e sua vida, o acesso a um salário condizente para promover a própria vida, o direito à educação, à saúde, à habitação, ao lazer [...]. (COVRE, 1991, p. 9). O próprio direito à vida, no sentido pleno, caracteriza o que vem a ser cidadania. Este direito precisa ser construído de modo coletivo, visando atender às necessidades básicas do homem. A cidadania é constituída de três conjuntos de direitos que compõem os direitos do cidadão, não podendo ser desvinculados um do outro. A realização efetiva dos direitos depende dessa relação de complementaridade. Esses direitos são ainda dependentes de organização política, econômica e social para que se realizem. Em síntese, todos devem ter o mesmo tipo de direitos, sem discriminação. Os direitos do cidadão estão divididos em civis, políticos e sociais. Os direitos Civis garantem que o indivíduo possa dispor do seu próprio corpo, de locomover-se e de ter garantida a sua própria segurança. É o direito à Liberdade, contrário a qualquer regime que se caracterize como escravidão. Os diretos políticos referem-se ao atendimento das necessidades básicas do ser humano, como alimentação, moradia, acesso à saúde e educação. E os sociais, estão ligados ao direito de livre expressão e de prática política e religiosa. A própria origem da concepção da cidadania está ligada à filosofia, pois se relaciona ao surgimento e organização da vida em sociedade (o que concebemos como cidades). Podemos atribuir em princípio à cidade ou à polis grega, que era composta de homens livres, com participação política contínua numa democracia direta, em que o conjunto de suas vidas em coletividade era debatido em função de direitos e deveres. Neste sentido, o homem grego era um homem livre e participativo. A atuação do indivíduo naquelas coisas que dizem respeito a ele mesmo e a seus convivas. Cidadania só se faz mediante uma relação de igualdade, onde prevalece o diálogo e não existe nenhuma forma de violência. Para melhor elucidar esta questão, podemos recorrer à filosofia de Kant, que fala do cidadão e do súdito, que devem obedecer às normas da lei. O
  • 12. homem é um ser racional que deve usar de sua racionalidade para colaborar num processo contínuo de crítica as leis se consideram que elas são injustas, para que exista um processo de reformulação daqueles que são considerados direitos do homem. Ele afirma que “o homem é um animal que, quando vive entre os outros de sua espécie, tem necessidade de um senhor”. (KANT, 1986, p. 10). Tal necessidade se dá pelo fato de que ele, por vezes, abusa de sua liberdade, condicionando a liberdade dos outros aos limites de uma lei. Um senhor ajudaria a “direcionar” sua liberdade, e o faria ponderar suas ações. Esta ideia não contraria a dialética do esclarecimento elaborada por Kant, e segundo a qual há um processo de saída do homem de sua minoridade, da qual ele é o próprio responsável. A minoridade se caracteriza como a incapacidade de servir-se de seu próprio entendimento sem a tutela de outrem. É um estado de dependência que o homem é, muitas vezes, incapaz de perceber. A questão é encontrar um homem que seja justo em si mesmo para governar os outros de modo igualitário e o mais próximo da perfeição possível. Kant, elabora assim, uma visão de mundo. A racionalidade proposta pelo filósofo, também tem fins de promover a coletividade. O homem desenvolve a própria racionalidade, e esse desenvolvimento está ancorado também na inteligibilidade, no altruísmo, na liberdade. “No homem (única criatura racional sobre a Terra) aquelas disposições naturais que estão voltadas para o uso de sua razão devem desenvolver-se completamente apenas na espécie e não apenas no indivíduo.” (KANT, 1986, p. 5). Então, a racionalidade deve promover o desenvolvimento social e histórico dos homens; sua prática política está no entre, no vínculo e na participação que estabelece. A revolução que a vivência plena da cidadania pode efetivar se dá na possibilidade de o homem romper com a alienação, com o esmaecimento diante da realidade. Ele precisa passar a perceber a necessidade de sua participação. Isso se daria, a todo instante, nas relações diárias, na criação de relações que apontem, dentro do homem, as potencialidades que possui. Não há mudança sem uma efetiva investida do cidadão. A luta pela cidadania plena deve ser transformar o cotidiano das pessoas em algo bom e
  • 13. satisfatório, sob condições que respeitem a própria vida. Deve haver o trabalho coletivo na construção de um mundo mais humano e justo. Então, torna-se possível o desenvolvimento daquela ação social de conteúdo coletivo dos trabalhadores, no campo econômico, para obter os bens e direitos a que fazem jus. E também, o exercício da ação social no nível político, como construção da democracia em seu sentido mais amplo – de uso da persuasão, do argumento, de construção da justiça, liberdade, igualdade. (COVRE, 1991, p. 74). Podemos dizer então, que a cidadania passa por um processo de conscientização da necessidade da própria participação na organização da sociedade. A filosofia pode contribuir em muito nessa dinâmica, pois estimula e fomenta a formação ética, a autonomia intelectual e o pensamento crítico das pessoas, fazendo-as cada vez mais atentas e participativas. 2.2.1 Ensino de Filosofia e desenvolvimento da consciência cidadã Um estudo tem caráter filosófico quando assume uma postura diferenciada diante do mundo. Busca-se novas alternativas de entendimento. A filosofia é, portanto, atitude reflexiva. Ela busca as raízes e os fundamentos dos problemas sobre os quais se propõe refletir. É dotada de rigor, sistematização e métodos. E ainda, examina as questões de modo global, no seu conjunto ou meio em que está inserido. Evidentemente, não podemos dizer que a filosofia se justifica apenas por sua contribuição como instrumental para a cidadania. Tal afirmação seria limitada. O estudo da Filosofia abre os horizontes do educando, podemos dizer até que em dimensão transdisciplinar7 . Torna-o mais crítico e capaz de exercer a própria cidadania. Tanto os conteúdos quanto as metodologias utilizadas desenvolvem capacidades que são importantes no processo educacional que o aluno vive. Prepará-lo para a vida – eis o desafio no qual a filosofia pode colaborar. [...] “o papel peculiar da filosofia no desenvolvimento da competência geral de fala, leitura e escrita – competência aqui compreendida de um modo bastante especial e ligado à natureza argumentativa da 7 Pode-se compreender transdisciplinaridade como não-linearidade. É a razão transversal, portanto, que escapa à lógica seqüencial e linear de alocação de disciplinas.
  • 14. filosofia e à sua tradição histórica. Cabe, então, especificamente à Filosofia a capacidade de análise, de reconstrução racional e de crítica, a partir da compreensão de que tomar posições diante de textos propostos de qualquer tipo (tanto textos filosóficos quanto textos não filosóficos e formações discursivas não explicitadas em textos) e emitir opiniões acerca deles é um pressuposto indispensável para o exercício da cidadania”. (SAVIANI, 2007, p. 26). A Filosofia cumpre um papel formador, visto que ela articula o saber. Evita que a consciência assuma algo como verdadeiro em razão de aparências. Não se restringe a meras opiniões ou ao senso comum, pelo contrário, aprofunda questões e as conecta à vida do aluno. Um conhecimento assim, imbricado na vida do aluno, é capaz de transformar e significar a concepção de mundo que ele tem. Ainda podemos caracterizar a filosofia como diálogo. Afinal, ela examina minuciosamente, debate e levanta os prós e contras de um determinado assunto ou problema. Apresenta abertura às outras diversas áreas do conhecimento e corrobora assim, na elaboração de conceitos. Os objetivos do ensino de Filosofia, quando bem definidos, atuam também na compreensão das outras disciplinas. Ela pode trazer esses conhecimentos adquiridos, acompanhando ou, pelo menos, respeitando o movimento do pensar à luz de grandes obras, independentemente do autor ou da teoria escolhida. Quando o aluno consegue realizar esta conexão, pode haver uma nova/maior motivação para o seu estudo. Então, [...] essa significação subjetiva ganha corpo quando o sujeito consegue relacionar um novo conhecimento com aqueles que já fazem parte de sua estrutura cognitiva, ou seja, quando o ato de conhecimento tem condições de configurar-se, em alguma medida, com um ato de reconhecimento. O que o aluno já sabe acaba funcionando como uma espécie de ponto de ancoragem para novas aquisições cognitivas. ((RODRIGO, 2009, p. 38). A Filosofia aparece, neste contexto, como uma experiência modificadora do pensamento e de si mesmo. Sempre partindo do momento em que os conteúdos estudados e as conexões que se realiza tomam um novo sentido para o indivíduo. Os espaços para o diálogo permitem que o aluno se expresse livremente, incentivando-o a participar e exercitar o diálogo filosófico. Esse processo educativo se efetiva na colaboração e no intercâmbio das idéias,
  • 15. reflexões e pontos de vista daquelas que participam , transformando-as em uma comunidade de investigação. Inicia-se o aluno no mundo da Filosofia através de uma combinação entre o exame dos textos filosóficos e das situações vividas por ele. Isso não faz a Filosofia perder sua identidade e especificidade como uma disciplina curricular do ensino médio. Diferentemente, leva o aluno a colocar em questão aquilo que já sabe e a buscar novas fontes de conhecimento. Os estudantes podem passar de um estado de ignorância para um estado de conhecimento sobre temas concretos. É necessário, porém, que a escola seja o contexto onde se constrói a autonomia. Quando o aluno é capaz de pensar por si próprio, se percebe também como agente transformador da sociedade. A filosofia serve como que um suporte, pano de fundo ou subsídio, que desvela o aluno das sombras da ignorância e o faz despertar para um vasto mundo de possibilidades. 3.1 Ensino de Filosofia e Trabalho Voluntário A filosofia nos capacita à criticidade. A liberdade e autonomia de pensamento a que ela nos leva, nos insere de modo mais contundente na sociedade. Como disciplina ela pode nos instigar a uma busca criativa de soluções para as carências da vida comum. 3.1.1 Pensamento crítico e participação: a filosofia como “pano de fundo” para o projeto de Voluntariado Quando procura modificar a sociedade, o homem acaba por modificar-se a si mesmo. Essa situação só se dá quando o homem assume uma nova maneira de pensar, livre e crítica, capaz de colocar em questão os próprios valores e de avaliar as próprias ações e posturas. O homem precisa então, desenvolver a capacidade reflexiva e o espírito crítico, características próprias do verdadeiro filósofo. Quando reflete, a pessoa consegue filtrar as informações que recebe (considerando o contexto atual, vivemos em meio a uma enxurrada de informações). Pensamento crítico é a
  • 16. capacidade de dosar a validade e significado destas informações e ainda, a capacidade de aplicação e aprimoramento. Essa autonomia de pensamento leva a uma atitude de posicionamento diante do mundo. A influência dos outros sobre nós pode “ameaçar nossa independência, pois se esse outro fosse inócuo e não pudesse interferir em nossa independência, não teria sentido ser autônomo”. (GALLO, 2004, p. 68). Ela ainda leva a uma atitude de compartilhamento, pois a compreensão de mundo leva a perceber que o mundo é conjunto, e não apenas a minha individualizada presença no mundo. Assim, O outro assume um papel importante nessa ação. Ela não pode ser uma ação solitária ou solipsista. Não pressupõe que o mundo seja o meu mundo, mas que este seja um mundo compartilhado e onde minha ação, mesmo a ação do pensamento, seja de intervenção no mundo. O mundo não seria o mesmo sem essa ação – isto é, nega radicalmente o ditado que afirma que a filosofia é aquilo que com ou sem a qual o mundo continua tal e qual. Então a filosofia não seria uma ação inócua, apesar de não podermos esperar um produto definido dela, assim como se espera da resolução de um cálculo. (GALLO, 2004, p. 76). Não se trata aqui de uma espécie de pragmatismo, mas de uma conseqüência. A prática filosófica é intervenção no mundo. Ela muda a visão, a compreensão e acarreta em uma nova forma de agir. Tem sua dimensão teórica com as ideias e conceitos e desemboca em sua dimensão prática, com ações e inferências práxiológicas. A filosofia ainda pode servir como suporte para o desenvolvimento da criatividade. O aluno, quando consegue perceber que os conteúdos estudados têm uma intervenção prática no mundo, buscará, por meio de maneiras diferenciadas, desenvolver aquilo que se espera. A criatividade está então, associada à inovação e em fazer as coisas que se espera de modos novo e original. Dentre os objetivos traçados para o projeto de voluntariado, é importante destacar o desenvolvimento da consciência cidadã do aluno. Tal característica pode ser observada também como um dos objetivos traçados para a disciplina de Filosofia. Podemos observar que existe a possibilidade de uma relação de complementaridade entre o Voluntariado como proposta educativa e o ensino
  • 17. de Filosofia. Estas duas instâncias colaboram no aprimoramento de uma série de capacidades que o aluno deve desenvolver ao longo do Ensino Médio, e que o acompanharão por toda a vida. A questão fundamental é instigar o aluno a buscar soluções para as questões e problemáticas que o incomodam. Esta é uma atitude filosófica, relacionada ao aprofundamento e busca por respostas; e é atitude de cidadão consciente, que se depara com a realidade, muitas vezes, marcada por injustiças sociais, e estabelece propostas e se empenha pela mudança. Trata-se da criatividade, da curiosidade, da capacidade de pensar múltiplas alternativas para a solução de um problema, ou seja, do desenvolvimento do pensamento crítico, da capacidade de trabalhar em equipe, da disposição para procurar e aceitar críticas, da disposição para o risco, de saber comunicar-se, da capacidade de buscar conhecimentos. De forma um tanto sumária, pode-se afirmar que se trata tanto de competências comunicativas, que parecem solicitar da Filosofia um refinamento do uso argumentativo da linguagem, para o qual podem contribuir conteúdos lógicos próprios da Filosofia, quanto de competências, digamos, cívicas, que podem fixar-se igualmente à luz de conteúdos filosóficos.” (GALLO, 2004, p. 30) O trabalho desenvolvido não pode se limitar à interpretação ou à contextualização dos filósofos de forma fragmentada e unívoca, nem mesmo se reduzir a debates e discussões embasadas em textos filosóficos. Diversas metodologias podem ser utilizadas para que se alcance de forma mais eficaz os objetivos. As atividades devem conduzir o aluno a uma conexão de ideias e à capacidade de relacionar conteúdos com a própria vida, de modo especial, com a atividade voluntária. Em síntese, pode-se dizer que a filosofia pode contribuir em muito com o desenvolvimento da consciência cidadã. Podemos apontar a reflexão como um dos objetivos desse processo educacional. É na escola que o aluno aprofunda as mais diversas reflexões que o levam a ampliar o próprio horizonte de sentido e de significação do mundo. E enfim, esse exercício deve levar a um outro: ao da plena cidadania, que também está vinculada ao fato de que a educação deve aperfeiçoar o aluno como pessoa, inerente à sua formação ética, à sua liberdade, autonomia de pensamento e capacidade crítica.