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Paulo Francisco dos Santos
    Pastor, escritor, poeta e Teólogo




1
Índice

Introdução...........................03


      Parte 01
      Lembranças da vida e a dura realidade.....04


Parte 02
Em busca da vida ...............10



    Parte 03
    O encontro com a vida (Epílogo)........14




                                     2
Introdução

         Virgilio é o retrato do típico brasileiro que se aventura fora de sua terra natal. Ele emigra em busca
de melhora financeira encontra dificuldades, mas não desiste, ele sabe que tem que viver. Viver para Virgilio
é compartilhar, é trabalhar, é estar do lado de Ritinha, é ser simplesmente quem ele é. Não há muito mais a
dizer sobre nosso protagonista, apenas minha sincera exclamação: “– Boa leitura!”




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Parte 1— lembranças da vida e a dura realidade.

          Hoje é mais um dia comum. Estando apenas há alguns minutos acordado, depois de realizar minha
higiene pessoal, posso contemplar o nascimento do Sol... É lindo, às vezes me ponho a pensar que isso vem
acontecendo a milhares de anos e ainda assim não deixa de ser estrondosamente magnífico! Desde minha
tenra idade tenho me colocado neste telhado a observar esta estonteante paisagem e as horas passam...Gosto
de meditar... Pensar é uma dádiva que não se pode evitar ou igualar...Que ligação tão intima tem o existir e o
pensar; penso e existo, existindo penso e no pensar vejo minha existência cada vez mais intensa do que nunca.
          Ainda que o balbuciar do tempo me chame para a realidade, posso por instantes incorrer no tempo e
mergulhar em lembranças do passado, que não mais estão disponíveis para se tocar.
          Quando criança sonhei ser poeta, adolescente em ser ator, jovem em me casar e ao passo que chego a
maturidade penso em viver... Doce vida que a cada segundo escapa pelos dedos, seria isto uma utopia? A cada
minuto que vivo é um a menos que viverei, mas que importa? Seria terrível olhar para trás e descobrir que
vivi sem viver e nada aproveitei! Ainda conto com o bombear do meu doce amigo, que comigo
inseparavelmente tem trabalhado e trabalhado.
          Tudo que posso dizer que escrevendo me encontro voando entre milhares de milhares que vivem
num amontoado de preocupações justificáveis, porém, eu ainda sim, tomo trilhos que me levam para onde
possa dizer com clareza a viagem não terminou.
          Quantas colocações são dadas aos pobres que estão no sofrimento? Ainda podemos ver que soluções
não estão tão perto, apenas desculpas, ou coisas em si corriqueiras. Um mundo que não para, gira-gira de
opiniões que nos enche de situações. Há quem olhar? Com olhos que possam enxergar o que não esta lá, mas
de ilusões vivem os que assim se apresentam.
          Não gostaria de fugir do que primeiro pensava, coisas de escritor? Onde estava? Ah! Sim, no Sol que
nascia... Era comum pra mim esta visão, ao despertar de um novo dia subir ao ponto mais alto de nossa
humilde casa. A visão era que me ia ao lado de meu pai e onze irmãos ao plantio do feijão, milho e algodão.
          Mãos rudes, pés rachados, sol não tão belo quanto na manhã, mas forte e abrasador. O gosto salgado
das gotas que entram em meus lábios é tão vivo que tenho sede! Vai e volta, vai e volta... jogue o milho que
vou tampar o arado. Comida quentinha, quem dera! Depois de algumas horas estava fria, mas a fome dá gosto
ao paladar que não rejeita nem uma bóia fria. Ruim!? Oh, não! Tempo bons que não voltam...Mas como
pode? Coisas de sertanejo, só entende quem lá viveu...
          Cinco da manhã, na cidade que não para, e parece que não dorme...Apenas isto? Um querido sonho!
Ao abrir a janela, não vejo mais o sono que saiu mais cedo hoje, sem dizer se volta, vejo um céu cinzento,
sem expressão, diferente deste último encontro com o subconsciente. Ainda assim fico fascinado com a visão
unicolorida e contraste com o passado.
          Ambiente hostil! Toca a primeira sirene, a firma de produtos químicos não para... Milionários ou
estressados eis a questão? São Paulo grande teatro onde figuram tantos espetáculos que não se pode numerar...
Quantos livros e ainda assim não se poderia escrever... Não devemos estar tão preocupados! Podemos de
apenas um nos entreter. Vivia solitário um jovem fleumático, sim um verdadeiro anjo calado... Aguardando e
buscando seu tão esperado prêmio chamado sucesso; as angustias de que a pouco passara como uma bomba
relógio em breve o farão explodir em lágrimas de socorro, mas longe de seu habitat, a solução vem com a
aspirina e o repouso.
          Nunca pensei estar descrevendo as senas de um que como eu. Ele e eu nos identificamos. Queria
vencer as frustrações do cotidiano lar recém adotado. Seria por demais, apresentar-lhes nosso amigo? Virgílio
um herói em meio uma selva de concreto. Olhar triste e sereno, rosto moreno, não alto e nem baixo...Médio
ligeiro!? Sonhador convicto, vindo de terra distante, percebeu que era um entre milhares que emigraram do
Nordeste para Sul. Apesar de um grão de Areia entre ondas e terra firme, não teve dúvidas em pelo menos
lutar.
          Seu primeiro emprego foi de garçom, havia feito um curso em Bom Conselho, cidade ilustre, de
gente Cortez que sabe receber e dar o que tem... Hospitalidade e calor... Humano e solar! Não impressionava
pela aparência, mas seus modos conquistaram o gerente que ao notar sua proposta pequena, não pensou duas
vezes em dizer:
          - De Bom Conselho! Que Ótimo! Escute o bom conselho que agora vou te dar, não demores a
              começar a trabalhar, as roupas estão naquela salinha.
          Atônito Virgílio se pôs a dizer:
          - O senhor não vai se arrepender.




                                                      4
Sem folga nos primeiros três meses? Sem registro? Doze horas por dia? Que vida dura encontrou
Virgílio, não era nenhuma plantação de notas verdinhas que iriam garantir sua sobrevivência, mas o salgado
gosto entre seus lábios não o abandonara, apenas mudará de lugar.
          Para descansar era uma dificuldade... Morava em uma pensão de rapazes, lugar familiar, onde todos
tentavam se entender. Os colegas de quarto eram grandes preocupações para nosso amigo desterrado. Não se
podia esquecer nada, uma lei ali regia – “o achado não é roubado” – que diferença do respeito em que as
recordações lhe serviam as saudades dos seus patrícios.
          O sono com facilidade se ia entre as tentativas furtivas de um efeminado colega de quarto de lhe
abraçar durante as noites que não se sabia que eram frias ou quentes... Hoje se não vê a terra que garoava...
Mudanças inesperadas no tempo... Efeito estufa... Poluição... Coisas de poderosos, apenas simples negócios.
Ao abrir a janela apenas o cinza e ao passar dos minutos se aproximava à hora da partida, a correria logo se
via, lutar pela sobrevivência não é fácil entre os animais que vivem no concreto! Um certo colega de ponto ao
vê-lo disse:
          - Foi-se o segundo e não deu pra subir! Mas este não passa, vou entrar nem que tenha que
               derrubar uns dez!
          O que se costuma a ver não impressiona. Lógico! A explicação óbvia é que as conduções de São
Paulo são assim mesmo. Isso ficou normal ao nosso anfitrião, que sem perceber passara a ser um gladiador
inerente ao limbo de forças que lutam pelo espaço da vida. Poderia fazer-se um suave poema da situação que
não expira coragem aos locutores do rodeio pedregoso e a dar aos seus tais, um boa porção de pizza!?
Camaradagem não é a piada do aumento dos vinte reais anuais, mais sim, o respeito de um salário meio
decente (tendo a certeza que falta muito para o meio) que é aguardado há anos pelos tapeados das épocas
codenomeadas “CARNAVALESCAS”.
          Dureza tem passado o Virgilio, aprendido a se comportar como uma sardinha em lata...Coisas de
condução paulista, difícil para os de fora entender. Ainda que não estivesse numa lata ambulante, como
poderia chegar a tempo de encarar a rigidez de um novo dia-a-dia de exploração. Quando completava oito
meses de trabalho, passados já os penosos e famosos três de uma experiência bem experimentada, sem ver
cumpridas as promessas da folga, sua paciência foi abalada pela insensatez de um freguês desajustado.
          - Hei, garçom! Por favor.
          - Sim, senhor, pois não?
          - Você tem coca ou guaraná?
          - Os dois, senhor. Qual você gostaria?
          - Eu quero então um refrigerante... Ah! Ah! Ah! Caiu na risada.
          E como se não bastasse as piadas sem graça do já mencionado desajustado, a custo convencido a
escolher um daqueles pratos tipicamente comuns ao bolso escasso - arroz, feijão, salada, bife acebolado -, não
perdoou a oportunidade recebida de um pedido de tenra feijoada por um tal vizinho recém chegado e mais
prontamente atendido; oportunidade de colocar os artelhos a funcionar colocando os pezinhos número
quarenta e quatro na frente de Virgilio, que voou sem asas sobre aquele tal infeliz que não saboreara a
esperada feijoada com o palato, mas com o pasmo de ver-se banhado de temperos e da lesão recebido pela
quentura do prato.
          - Seu grandississimooooooooo idiota!!!!!!! O homem todo sujo gritou.
          - Desculpe-me senhor! Virgilio envergonhado balbuciou.
          Agora como se não bastasse a zombaria dos clientes, o autor do atentado se pôs a provoca-lo com
piores palhaças, a ponto de Virgilio ir para cima dele, afinal anjos de carne e osso podem perder a paciência.
          - Você pensa que eu não vi seus pés de lancha no caminho seu artista de circo. Com os nervos em
               frangalhos berrou Virgilio.
          - Pé de chinelo, garçonzinho de uma figa! Replicou o freguês folgado.
          - Vai querer encarar? Pensa que tenho sangue de barata? Vou te ensinar a não se meter com cabra-
               macho de Pernambuco!
          - Estou tremendo de medo... Ah! Ah!
          Quando ia começar a grande peleja entrou em ação os juizes de mesa para acalmar o torneio de
elogios recém começado. Os colegas conseguiram apartar a mera tentativa de briga e Virgilio depois de algum
tempo, de cabeça fresca e conformado viu o que nestes meses quisera esconder, “não nascera para ser
escravo” e logo se dispôs a falar com seu Afrânio, o gerente que nunca mais lhe mostrara o rosto sereno do
dia em que lhe colocou os aguilhões, inclinou a cabeça dizendo inconformado: –“hoje em dia não se
encontram bons escravos...digo funcionários. Afinal de contas o freguês sempre tem razão, não se pode deixar
um garçom tão nervoso em nossos recintos, precisamos comprar tranqüilizantes ou sangue de baratas para



                                                      5
estes infelizes trabalharem direito”. Na verdade a preocupação de Afrânio estava no que os muitos
freqüentadores de seu tão bem afeiçoado restaurante poderiam dizer um a outro sobre o tal acontecido e fez o
que todo patrão ajuizado faria. Ordenou que Virgilio pedisse a conta, o que este prontamente recusou e logo
foi obrigado a retirar-se do tal recinto que a muito havia virado seu lar sem ao menos um obrigado pelos
serviços prestados, com promessa de pagamento deste seu último salário depois do quinto dia útil do mês
seguinte. Virgilio pensativo começa a caminhar entre as ruas movimentados deste nosso centro badalado e
põe-se a voar nas asas da imaginação à Bom Conselho.
         - Que cheiro boum de manga. Cidinha vamos buscar umas pra nóis.
         Os tempos de criança são inesquecíveis, é normal em momentos de dificuldades sermos levados ao
principio de nossa jornada, ao ponto em que não havia preocupações, ao momento em que elas não existiam.
Somente as famosas e formosas peraltices e brincadeiras dos anos que não voltam.
         Disposto a não voltar à realidade Virgilio se vê forçado a despertar com uma voz que o atordoa.
         - Mãos pra cabeça moço! Documentos!?
         - Calma.
         - Calado, se você se mexer leva chumbo!
         - Não sou bandido.
         - É o que todos dizem.
         Confundido com um certo criminoso Virgilio se depara em uma delegacia prestando depoimento,
sobre sua vida em São Paulo.
         - Você é o Zé Pistoeiro, não é? Grita o Delegado Paixão, depois de Bater com a mão na mesa que
              quase desmorona pelo impacto.
         - Não sei do que o senhor está falando, até a alguns minutos atrás o pessoal me chamada de
              Paraíba no restaurante que trabalhava.
         - Não quer falar em!? Nós vamos puxar sua capivara 1 e te daremos uma bela hospedagem neste
              xilindró2.
         - Que é isso Dr. Sou Virgilio seu criado. Vim de Pernambuco no fim do ano passado e estou
              tentando ganhar a vida.
         - Esse é o nosso problema, o jeito de você ganhar a vida.
         - É proibido trabalhar de garçom?
         - Não acredito! Estou conversando com um lunático.
         - Pernambucano doutor e não lunático.
         - Ponha esse Zé...Paraíba, ou sei lá o que na cela quatro Augusto. Estressado o Del. Paixão
              continua desabafando:
         - Até quando tenho que aturar esses loucos ou malandros?
         Na cela Vigilio encontra mais oito companhias que não são nem notadas na sua entrada marcada pelo
desesperado grito:
         - Não sou culpado, não fiz nada!
         As lágrimas que sentidas nos lábios apenas o fazem recordar de seu pai a lhe dizer:
         - Filho cabra-macho não entra em delegacia, com suor se vive, o pouco com Deus é muito!
         Mas o quê? Não fiz nada para estar aqui, imagine se meu pai me visse desse jeito. O que seria de
mim? Agora entendo a frase que Jorge de vez em quando dizia: “Hoje não é o meu dia”. Virgilio parece num
transe viajando em pensamentos mil até ser interrompido por um dos detentos, que lhe diz:
         - A menina tá chorando porque? Quer carinho?
         Sem saber o que responder fica atônito com a visão de um monstrengo careca e todo tatuado, lhe
fazendo juras, ainda meio atrapalhado e perplexo com os últimos fatos, não lhe responde palavra. Noite fria,
lugar mal cheiroso, ânimos alterados e barriga vazia. Tudo agora contribuía para uma briga logo na entrada da
cela fria. Quando Virgilio pensava em dar um golpe no autor da dita cantada, o comandante da cela, de
apelido engraçado – Zé Verdiano – fala ao Dom Ruan:


        - Cai fora e deixa o rapaz em paz oh Negojalo!
        Como um cão treinado o tal Negojalo sai de perto do Pernambucano que aliviado diz :

1
  CAPIVARA=Gíria que significa vou pesquisar sua conduta, tirar seu atestado de antecedente criminal que
deve ter muitas ocorrências.
2
  Xilondró= A cela onde Virgilio iria ficar preso.


                                                     6
- Obrigado!
          - Não se pode chorar aqui. Isto é sinal de homem desajeitado. Comentado o Zé Verdiano
          - Não sabia. E nem sei por que estou aqui. Retorna Virgilio.
          - Que é isso? Pra nós não precisa mentir. O meu B.O. é o 123 e o teu?
          Emudeceu o Virgilio, que escutou mais perguntas do tal esverdeado.
          - Não sabes? Tráfico de drogas.
          - Male-male entendo de cabo de enxada!
          - Você é da terrinha?
          - De Bom Conselho e tu?
          - Sou de Codó no Maranhão, lugar que nunca deveria de ter deixado.
          Virgilio compreendendo que encontrara um conterrâneo, parente de terra próxima, pôs –se a falar do
Nordeste amado.
          - As lembranças são tantas... Rapadura... Plantio e gente que gosta da gente.
          - Moço se pudesse amanhã mesmo voltaria.
          - Quando saíres daqui corra pra lá.
          - Não posso, você sabe, sem o maldito não se vive!
          - Sem o maldito?
          - Ora, lá não se ganha fácil... Apesar de que viver lá me parece mais fácil!
          - Mas que raio de maldito!?
          - Você parece tapado! O Dinheiro, bufunfa, money, cascalho! Tu não és nenhum otário, pra não
              entender isso?
          Nesta altura do campeonato um tal azarado como ele não estava entendendo nada mesmo.
Despedido, preso e desconsolado. Tudo estava acontecendo numa mesma ordem de acontecimentos que ao
ver de Virgilio era:
          - Isto tudo é por que de manhã passei debaixo de uma escada!
          Quem pode adivinhar o que acontecerá daqui a pouco. Continuar lendo ou dormir? Experiência tua e
não minha. Ainda que não sabemos o importante é vivermos. Tão depressa foi ele encerrado. Para sair um
tanto demorado, há minutos que se eternizam. Mas enfim de lá tirado, recebeu um cafezinho meio gelado e
um pedido de desculpas meio que obrigado.
          - Informação errada. Não queríamos ter te incomodado. O delegado com cara de quem errou, mas
              não deu o braço a torcer assim falou.
          O que nos pensamentos não se media, era o inconformado dito:
          - “Que café sem graça e amargo”.
          Ainda mal terminara de toma-lo quando ouviu:
          - Pode ir seu Virgilio, ou queres ficar, ou ainda mudar-se, ou quem sabe morar aqui? Riu-se o
              chefe do pedaço.
          - Não, não obrigado. Já estou indo. Tenho certeza que aqui não volto. Nunca mais volto.
          Convencido de que tudo erra mesmo um simples engano, sem saber que poderia recorrer aos maus
tratos e a humilhante situação, Virgilio o desinformado foi-se seu caminho cantarolando algo assim:
          - Vou embora, vou embora e não volto mais aqui. Não sou daqui! Não sou daqui!
          Alegria de ter saído? Não, estresse acumulado de meses sem folga. Sim, começo de delírio. Pobre
Virgilio estava correndo para não parar e dar-se conta que estava totalmente cansado.
          - Bom dia! Disse ele a uma senhora.
          - Que a virgem te acuda! Respondeu ela olhando firme em seus olhos vermelhos.
          - A todos nós. E foi-se, ofegante, mas como que teleguiado naquelas tantas horas da noite, em
              direção a pensão.
          Chegando, abriu a porta e foi logo deitar. Sumiu aquele dia. Existem dias que não queríamos que
existissem, isto é normal, creio assim ou estou enganado? Como psicólogo não sou atestado, somente
achológo inerente deste nosso contristado desempregado. Eu acho e tu o que achas? Ora, ele acha e eles o que
acham? Bom ele achava-se deitado sonhando com sua terrinha amada e num excesso de sonambulia por vezes
repetia:
          - Não devia ter de deixado, amiga minha!
          Seus colegas ao ouvi-lo diziam:
          - Isto só pode ser amor não correspondido, o pobre Paraíba está frustrado.

3
    O número 12 no código civil significa que a pessoa cometeu o delito de tráfego de drogas.


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-     Rejeitou o meu amor, agora esta recebendo na pele o resultado. Disse o efeminado Rone que
              sempre quis namora-lo.
          Mas feliz é o sono do trabalhador, ainda que no dia anterior tenha ficado desempregado.
          - Ei, ei! Acorde está na hora. Chamava-o a dona Gertrudes, proprietária do pensionato, que sabia a
              hora que Virgilio tinha que ir ao trabalho.
          - Não, não hoje estou de folga. Dizia meio atordoado de sono e cansaço o que convenceu-a a sair
              sem mais insistência.
          Quinze horas de sono bem dormidas, algo que nestes últimos meses ele não via. Sonhava então, com
o vento quente e gostoso das noites de verão. Das chuvas de inverno, onde temperatura baixa era só da água
da cacimba. Mergulhos e mais mergulhos no açude que ainda lhe dava um almoço reforçado. Um peixe
assado, um... Uhmmm! Que delicia, hoje vou fazer um grande ensopado... Depois do galo cantar, entre a brisa
e o estridente som dos grilos, ia-se andando despreocupadamente e com poucos minutos se chegava à fazenda
dos Covedos. Glum...Glum... – “Leite fresco se toma desse jeito”. Neste sonho ele dizia.; Com os dois litros
na mão e já de volta, mãeinha preparando do milho a merenda para iniciar mais um dia...
          - Oh, oh, acorda. Moço você está bem? Pergunta Raimundo.
          - Como? O que foi? Bem? Por que?
          - Sai e tu estavas dormindo, cheguei e tu ainda estás dormindo. É preocupante, não é?
          - Não, não estava apenas cansado. Mas já estou melhor. Que horas são?
          - Oito horas da noite, e o jornal já esta passando.
          - Nossa! Fazia tempo que não dormia tão bem assim.
          - Dá pra ver. Você não esqueceu do forrozão que vai acontecer hoje lá no Sertão danças? Daqui a
              pouco nós temos de ir pegar a Laura e a Ritinha. Seu Zé vê se come alguma coisa e se arruma.
          - Tá O.K.
          Raimundo Nonato (porque todo Raimundo é Nonato?) veio juntamente com Virgilio tentar a vida
também na cidade dos sonhos de papelão. Teve mais sorte, conseguiu um emprego na grande Metalúrgica e
agora estava até estudando. Em breve planejava sair da pensão. Amigo de infância de nosso Paraíba, e bom
sertanejo, não perdia um forró, pois era uma de suas paixões. Outra paixão era Laura, cearense da gema, da
cidade de Independência e tinha ancestrais indígenas, sua aparência não negava. Era recém chegada em
Papelão City e já era vendedora de uma loja no paraíso das compras. Formalmente solteira, livre e
desimpedida, sua única preocupação era seus três filhos que deixara em cuidados de sua mãe para cria-los.
Casada? Não, obra do acaso. Simplesmente desilusões da adolescência. Uma grande lutadora que não pensou
duas vezes em mandar a metade do salário ao berço dourado. O seu sonho era o já conhecido... Esperando o
novo namorado comentava com Ritinha:
          - Acho o Raimundo muito ciumento.
          - Vai vê teve alguma decepção no passado, a insegurança é marca disto.
          - E ai? Gostou do Virgilio?
          - Mais ou menos, ele é muito calado. Tenho de usar uma escavadeira para arrancar palavras dele.
          - É assim mesmo, homens tímidos tem vergonha pra falar. Ganhe a confiança dele e ele vai virar
              um papagaio tagarela.
          - Ele tem um ar tão sofrido Laura.
          - Olha Ritinha, quem veio daquele pedaço de terra que eu vim, têm motivos pra ter esse olhar.
              Paulista como tu não conhece isto.
          - Você que pensa. Fernandópolis também é um lugar difícil.
          - Lá deve ser como aqui.
          - È um lugar formidável Laura, Bonito, sossegado como toda cidadezinha do interior.
          Ao terminar as referencias de sua terra natal passou o gel no cabelo e se trocou, colocou a melhor
roupa que havia adquirido por um mês de serviço, uma coisa fina, roupa de marca ou grife é assim mesmo,
consome o salário dos pobres. Do outro lado o parceiro do tão esperado forrózão colocava o perfume que não
podia ser diferente, combinando com a loção após barba tinha o toque de incensar o ambiente, outro mês de
serviço pra variar. Já estava com aquela vontade louca de se requebrar no som que o levava em direção a sua
terra, e o que mais ele precisa? Sua terra e uma linda mulher eram o suficiente. Que pena que sua terra estava
tão longe e a Ritinha era simplesmente a Ritinha. Assim que estava pronto sentou na sala da pensão e
esperava o Raimundo voltar da casa de seu Agenor, pois soubera que havia ganhado alguns trocados no Bicho
e correu para confirmar, afinal de contas uma grana a mais não faz mal. Na sala a televisão estava ligada e
passava um daqueles filmes sem pé nem cabeça criados pelos tão soberbos donos do mundo e que os
subalternos dominados admiram. Virgilio, porém achava estes e outros uma verdadeira chatice, não que fosse



                                                      8
um pensador ou filosofo que se procurasse com coisas melhores, mas como não estava acostumado com ela
na sua infância e adolescência e parte de sua recém começada juventude era um dos poucos que não se
incluía nos laudos dos maníacos-telespectadores. Raimundo chegou. Eles foram buscar as duas moçoilas e
passaram a noite toda no forró, se divertiram muito e pela manhã deixaram-nas em suas casas e se foram para
a pensão.




                                                    9
Parte 2 – Em busca da vida.

          O dinheiro que Virgilio recebeu foi muito pouco e prevendo um possível momento de desespero
decidiu ir atrás de outro emprego antes que o pouco que possuía se acabasse. Ouviu falar que existia um lugar
que apoiava os desempregados indicando-os para as empresas e assim decidiu ir ver se isso era verdade.
Quando lá chegou concluiu que lá só poderia ser um centro de apoio aos desempregados pela quantidade de
pessoas que lá estavam. –Hoje em dia os desempregados são muitos –. Depois de ficar horas na fila
finalmente foi atendido. A atendente Marta pediu seus documentos, fez seu cadastro e disse:
          - Infelizmente não temos em nossos terminais vagas para sua profissão.
          - Que pena. Triste respondeu Virgilio.
          O desespero nos olhos de Virgilio parece que comoveu tanto a atendente que ela lhe perguntou:
          - Senhor Virgilio se você quiser temos uma vaga temporária numa empresa que faz entrega de
              listas telefônicas e de classificados.
          - Mas não tenho experiência. Retrucou.
          - Esta empresa não está exigindo experiência. É o melhor que tenho no momento para você.
              Conclui.
          Virgilio mais que depressa disse que gostaria muito de tentar essa vaga com um novo brilho em seus
olhos, a esperança dele foi renovada. A atendente imprimiu uma carta de apresentação e lhe entregou dizendo
que fosse no dia seguinte se apresentar no escritório da tal firma. Virgilio pegou a carta na mão com tal olforia
que os que ainda estavam na fila imaginaram que ele conseguiu um tremendo emprego.
          No dia seguinte Virgilio foi ao tal emprego. Fez a entrevista e começou a trabalhar na outra semana,
pois já era quinta-feira e a empresa tinha por costume colocar os novos funcionários a trabalhar na terça-feira.
Imagine só, Virgilio que ganhava tão pouco iria ganhar um pouco mais, no outro serviço de garçom ele
ganhava quase um salário mínimo e nesse agora iria ganhar um salário e uns quebrados. Ao chegar na pensão
foi logo contando a novidade para Raimundo e no fim de semana festejou que só o emprego que lhe ajudaria a
melhor um pouco a vida. Se alguém lhe perguntava qual era seu novo emprego ele dizia: “ – Entregador de
listas temporário!”. Para Virgilio temporário era titulo que tornava a palavra entregador mais importante,
desconhecia que seu novo emprego era por período determinado e que não passaria de seus míseros noventa
dias.
          Chegou o dia tão esperado. Virgilio levantou às quatro horas da manhã e foi para base, o rapaz do
RH4 lhe. O lugar onde todos os entregadores se reuniam para receber as comandas (listas de entrega com
nomes e endereços dos clientes) se chamava base. Lá ele pode ver que fazia parte de um grupo de mais de
quinhentas pessoas. O trabalho era dividido em equipes de mais ou menos trinta pessoas ao comando de um
líder chamado listeiro. Cada um recebeu um jaleco 5, um boné e um crachá provisório. Os listeiros se
posicionaram em um local e os entregadores formaram uma fila indiana até a quantidade suficiente para
realizar o serviço. Virgilio ficou na equipe do listeiro Marcus e recebeu sua comanda com o numero de cento
e doze listas para entregar, foi lhe dito para escolher um carinho para tal feito. O carrinho de entrega de listas
possuía duas rodas e seu funcionamento era na vertical ficando meio inclinado dando assim condições do
entregador empurra-lo pela rua. Às sete horas da manhã os entregadores entraram nas vans e foram até o lugar
da desova6. A equipe de Virgilio foi a primeira a chegar e na van apenas uma coisa lhe incomodava, ele havia
estranhado o fato de não terem levado as listas com eles e pensava: “ – Como entregaremos listas se não
estamos levando nenhuma?”; porém para sua surpresa ao chegarem no local onde iriam realizar seu trabalho
estava parado o caminhão da firma colocando as listas num mesmo lugar, ele nunca havia visto tantas listas na
vida. Ao saber que era a primeira vez que Virgilio entregaria listas Marcus o listeiro deixou que ele fizesse
uma das comandas mais fáceis onde à entrega se realizaria em apenas uma rua. Virgilio se achou o máximo,
pois antes das quatro horas da tarde seu trabalho havia sido realizado e ao ver outros que chegaram após as
seis dizia consigo mesmo: “ – Que pobres coitados, não sabem trabalhar!” Quando retornaram todos das
entregas já era quase sete horas da noite e Virgilio estava irritado, afinal ele havia terminado seu serviço cedo
e os outros lhe estavam lhe impedindo de ir embora. Dentro da van ele pode ver muitos entregadores com o

4
  RH= Esta sigla significa Recursos Humanos, que é o departamento da empresa que cuida das contratações e
demais responsabilidades contábeis e etc. dos funcionários.
5
  Jaleco= Uniforme padronizado com emblema da empresa que entrega as listas e da que é proprietária das
listas.
6
  Desova. Para os entregadores de listas é o local em que o caminhão deixa a carga total de listas que será
distribuída naquela região.


                                                       10
sorriso estampado e contando muita vantagem. Um diziam: “ – Consegui trinta mangos7!” Outro disse: “ –
Consegui vinte e cinco” e assim ele pode ver cada um conquistou entre quinze a cinqüenta Reais pedindo
caixinha8. Virgilio perguntou a um dos seus companheiros como havia conseguido que as pessoas lhe dessem
tanto reais como caixinha, pois ele não havia ganhado nada. A resposta foi: “– Se você não pedir o máximo
que irá ganhar é umas miseras moedas. Então pensou consigo: “ –Se cada um ganha este tanto de caixinha
eles tem razão de pedi-las, mas não sei se também vou fazer assim, pois na entrevista me disseram que é
proibido pedir essa tal de caixinha”. Quando Virgilio estava pensando em pedir ou não as tão atraentes
caixinhas a porta da van se abriu, eles haviam chegado na base e foram liberados para ir de volta as seus lares.
Ao chegar na pensão contou aos colegas de quarto quão bom entregador ele se saiu no seu primeiro dia e que
ouvira dizer que aqueles que se esforçassem e fossem os melhores entregadores ganharão como prêmio a
efetivação na empresa e irão fazer leitura de energia nas casas. Virgilio dizia: “ – Essa boquinha9 já é minha”.
Depois de comer um pouco e tagarelar mais alguns minutos nosso herói desmaiou e só acordou com o barulho
do relógio que dizia que já eram quatro horas da manhã, hora de ir trabalhar.
          Virgilio viu se repetir todos os acontecimentos do dia anterior. Chegou na base, viu os mais de
quinhentos entregadores formando filas para pegarem suas comandas com os listeiros. Entraram nas vans e
foram para o local da desova. Quase tudo se repetiu, exceto que a equipe de Virgilio foi à última a sair e que
sua comanda lhe atribuía a entrega de cento e trinta listas em pelos menos vinte e duas ruas. O local da desova
era no bairro de Vila Moraes. Eram quase nove horas da manhã e o motorista da van que ia levar Virgilio ao
melhor ponto entre as ruas que ele havia de fazer suas entregas ainda não havia voltado de levar a penúltima
leva de companheiros. As vans levavam de três ou quatro entregadores com suas listas e carrinhos aos lugares
que lhe dariam melhores condições de entregar as listas e por isso Virgilio esperava sua vez quando chegou o
motorista da van e lhe disse:
          - Porque você ainda está aqui Virgilio a suas ruas são próximas daqui, encha seu carrinho de listas
               e vá indo, você não terá trabalho nenhum para fazer seu serviço. Estes outros entregadores estão
               com ruas mais longes e eu devo leva-los para não atrasar nosso serviço.
          Pobre Virgilio. Acreditou nas palavras do Motorista e logo encheu o carrinho indo em direção as ruas
que deveria entregar suas listas. Ao andar três quarteirões e chegar ao local de suas entregas levou um
tremendo susto. As ruas em que estava determinadas suas entregas eram todas com declives grandes. Na
primeira rua ele olhou e viu que seria difícil descer com seu carrinho, mas mesmo assim tentou. Que bela
tentativa foi esta de descer uma rua tão íngreme, seu carrinho desgovernou e foi lista para todo lado. Lá se foi
ele a ajuntar as listas e tentar subir a rua com seu carrinho cheio, mas não conseguiu. Parece que nem um
halterofilista poderia subir e descer qualquer ladeira com um carrinho daquele cheio, muito menos Virgilio
que apenas um moço franzino. Um carrinho daquele de Virgilio cabia cento e dez listas, mas apertando no
máximo cento e trinta que se multiplicarmos por um quilo e novecentas gramas que é o peso de cada listas
nós temos duzentos e quarenta e sete quilos. Nosso herói estava numa posição difícil, tentou levar os pacotes
com cinco listas cada. Pegou um pacote numa mão e outro noutra e foi até a próxima rua, mas ao levar a
quarta viagem disse: “ – Desisto. Mal comecei a carregar e os fitilhos que seguram estas listas estão a
machucar minhas mãos e ainda por cima o local para começar minhas entregas ainda esta um pouco distante”.
Ainda bem que Virgilio tinha uma dádiva dos céus em sua vida – a perseverança – Ele não desanimou. Ao
ver um carro com carroceria passar lhe fez sinal e este parou. Nosso herói pediu que lhe levasse suas listas até
o cruzamento da rua dez que ficava no ponto chave para ele realizar suas entregas e assim ele fez. Como em
cada uma das vinte e duas ruas ele não tinha mais que seis listas para entregar, colocou poucas listas no
carrinho e passou a fazer quatro ruas de cada vez. Mal pode ter tempo para comer. Ao entregar uma lista em
um bar recebeu como caixinha um refrigerante e um salgado. Em outra casa uma senhora lhe viu o rosto
sofrido e lhe deu um copo com suco de maracujá dizendo que deveria se acalmar. O dia se foi, e o homem que
se gabava por ter sido mais rápido que seus companheiros se via sendo o último a chegar na desova, quase as
oito horas da noite ainda por que o mesmo motorista da van que lhe havia dito que as ruas para ele realizar
suas entregas eram perto e fáceis lhe foi buscar e o encontrou fazendo a última entrega e disse:
          - O quê aconteceu com você rapaz, todos estavam preocupados.
          - Nada. Apenas me embaralhei um pouco, mas consegui fazer o serviço.


7
  Mangos= Significa dinheiro e no texto acima que ele conseguiu trinta Reais.
8
  Caixinha= A caixinha seria uma contribuição em forma de dinheiro ou um presente dado ao entregador no
momento em que ele entrega a lista.
9
  Boquinha= É uma gíria que quer dizer emprego, ou seja, Esse emprego já é meu!


                                                      11
Marcus não gostou do horário que o ex-super entregador voltou e ainda mais porque não recebeu
nada de Virgilio. Os outros dias também foram difíceis para Virgilio que não conseguia terminar suas
entregas antes das seis horas e pela expressão de Marcus que ao perguntar onde estava o dele ouvia sempre
como resposta: “ –Ainda não entendi esta piada”. Tudo estava tão difícil até que no sexto dia da campanha 10
as comandas de entrega vieram reduzidas e por isso dois entregadores tiveram de dividir uma mesma
comanda. Virgilio fez par com um entregador chamado Hugo o qual já era experiente e de longas datas
participava das campanhas promovidas por essa empresa de logística que os contratará. Hugo incentivou
Virgilio entregar as listas e pedir com um jeitinho especial uma colaboração para cada casa que era visitada
por eles. Os dois se saíram bem. Entregaram as listas antes das três horas da tarde e ainda cada um estava com
vinte e cinco reais no bolso. Ao voltarem para desova Hugo disse a Virgilio:
          - Virgilio separe sete reais para entregarmos ao Marcus.
          - Por quê? Disse Virgilio.
          - Ele sabe quais são as melhores comandas e amanhã ele pode nos entregar. Replicou Hugo.
          Agora Virgilio entendeu porque nos outros dias Marcus sempre pedia o dele. Os dois deram para
Marcus quinze reais. Hugo disse que estava entregando a sua parte e a de Virgilio e que no dia seguinte se as
comandas fossem boas o agrado para o café de Marcus poderia ser melhor, este apenas sorriu. Imagine que
dos trinta entregadores cada um desse para o listeiro todo dia uns dez reais e isso se somasse ao seu salário.
Virgilio pensou nisso, porém ao lembrar que alguns políticos, policiais, juizes fazem coisas parecidas
desanimou (talvez nem em tudo dá pra perseverar!?) de falar algo contra esta prática e se ajuntou aos outros.
Começou a pedir caixinha e reservar a parte do seu ganancioso listeiro.
          Entregar lista não é fácil. Em dia de sol o suor e a fadiga são inimigos terríveis. Nos dias nublados se
o serviço não for rápido, pode se voltar para a van todo ensopado. Como era final de ano entre caixinhas e seu
salário Virgilio conseguiu ajuntar um tamanho dinheiro que ele mesmo nem acreditava. Do seu emprego
anterior iria levar pelo menos um ano para receber o mesmo tanto. Veja só, em apenas um dia em vésperas de
natal recebeu quase duzentos reais em caixinhas. Estava tão feliz nosso herói que sua felicidade era quase...
talvez me pergunte porque quase? A campanha chegou ao final. Ele não conseguiu ser promovido a leitor de
relógio de energia. Ficou novamente desempregado.
          Lá se foi Virgilio novamente ao centro de apoio ao desempregado tentar novamente arrumar algum
emprego. Era época eleitoreira e aquele sujeito que idealizou (na verdade não foi quem inventou o centro de
apoio ao desempregado, mas um entre tantos oportunistas) este projeto de apoio ao desempregado tentava se
beneficiar em sua campanha com os votos dos necessitados desempregados. Feita a pesquisa para Virgilio
depois de umas oito horas de fila a resposta a sua ansiedade foi dura, ou seja, “não há vaga” em nossos
registros. Tristonho e desconsolado lá se vai nosso Paraíba retornando a sua tão bela pensão. Como pobre não
pode ver dinheiro aconteceu o inevitável com o nosso protagonista do agreste: gastou e gastou e ainda gastou.
Teve de sair da pensão, sabe como é, sem dinheiro, sem condições de pagar aluguel em pensão não se pode
morar. Ele foi morar no fundo da casa de um entregador de listas que conheceu na sua primeira campanha.
Morou por um período de dois meses e foi-se. Parece que ouvi sua pergunta. Tu perguntaste para onde, né?
Como amizade não paga despesa o bom amigo e ex- entregador mandou Virgilio se virar e ir embora, o qual
encontrou abrigo na casa de sua querida Ritinha. Ritinha tinha se apropriado de um terreno que ninguém sabia
qual era o proprietário. Você pode dizer isso se chama roubo. Espera ai calúnia e difamação dão cadeia e cada
um de nós e inclusive você caro leitor deve tomar cuidado com palavras mal colocadas. Não, não fique com
medo. Eu e os meus caros personagens te perdoamos, pois talvez você nunca esteve a morar em uma cidade
como São Paulo. Ei, já estava me esquecendo. Nós estávamos falando que Ritinha havia adquirido um
terreno, mas não sozinha. Ela e mais umas quinhentas famílias entraram em uma área desocupada e não
utilizada e demarcaram os terrenos. Cada um pegou a metragem de cinco por vinte cinco e tratou logo de
construir. Pra correr da pensão ela construiu com a ajuda do Zezão pedreiro um primo bem disposto um
cômodo e um banheiro e pulou para dentro. Como todo leitor que se preze você é daqueles indagadores e já
deve ter pensado o por que de Virgilio não ter ajudado. Daremos as devidas explicações. Em uma das famosas
festas do arrasta pé, ou forrozão – “gosto não se discute” – por causa de ciúmes eles brigaram e enquanto
aconteceu este incidente (Ritinha e a casa) e o outro incidente (Virgilio mora de favor na casa do amigo ex-
entregador) os dois não entraram em contato, porém, quando Virgilio a exemplo de filmes antigos caminhava
desconsolado com suas trouxas nas costas perto da pensão onde morava foi avistado por Ritinha que morando
de dó o levou para sua casinha. “Comovente, não é!?”


10
     Campanha = É denominada campanha o período de dias para a entrega das listas.


                                                       12
Na casa de Ritinha os dois fazem as pazes e conversam e conversam até entrar na madrugada e
depois... Ops! Eu acredito que você já sabe, não quero detalhar estás cenas, ainda porque este livro está nas
mãos de... Como se tu tens ou não idade vou pular para os diálogos.
          Ha! ha! ha! (risos, meus é lógico) talvez tu me aches um chato, talvez aches alguma coisa que não
sei, mas na verdade eu não quero saber e se continuar a escrever esse parágrafo que não leva a lugar... Espere
ai, estou me criticando... Não, não e não eu sou um escritor e devo zelar por minhas... Na verdade devo voltar
a historia. Nós estamos na conversa que adentrou pela madrugada. Ritinha perguntou a Virgilio:
          - Quando você estava morando estes dois meses na Casa de tal de Leleco você não trabalhou, não
              fez nada Virgilio?
          - Claro que sim Ritinha. Depois de ir lá no centro de apoio ao desempregado e não conseguir nada
              chegou uma carta na casa de Leleco pedindo meu voto e me oferecendo um trabalho.
          - Mas como sabiam seu endereço, pois não fazia nem uma semana que você estava morando no
              Leleco?
          - Acho que foi porque eu falei para a atendente que estava morando na casa de Leleco.
          - Mas você não ganhou dinheiro para pagar o aluguel que ele queria?
          - Trabalhei um mês e quinze dias como um camelo e quando achei que ia receber alguma coisa,
              depois de tanta enrolação quando cheguei num dia bem cedo para trabalhar e cobrar o
              pagamento o comitê político havia se mudado.
          - Pra onde, home?
          - Num sei, muié!
          Ambos caíram na risada. Ao falarem dessa maneira estavam não somente brincando com o sotaque
nordestino, mas fazendo uma terapia para não chorar com as dificuldades e ficar mais e mais irado com certos
tipos de pessoas que não tem honra nas suas atitudes.
          - Uma coisa eu te digo. Esse tal de fulaninho não terá meu voto. Disse Virgilio.
          - Você já transferiu o seu titulo meu amor. Ritinha perguntou.
          - Não, mas sei que se tivesse transferido não votaria nele. Retrucou Virgilio.
          - O voto é muito importante Virgilio, pena que eu sempre o desprezei. Eu nem lembro em quem
              eu votei na penúltima eleição, mas agora, nesta que passou a pouco dias eu anotei e vou ver o
              desempenho dele e se não fazer nada na próxima o meu voto ele não vai ter, não.
          - Hora Ritinha, você acha que uma Zé ninguém como você pode impedir que algum político vá
              para o poder?
          - Todo o povão pensa como você Virgilio e é por isso que nosso município, estado e país estão do
              jeito que estão. Uma coisa eu te digo se depender de mim está historia vai mudar e ponto final.
          Será que este dialogo se identifica com alguém caro leitor?




                                                     13
Parte 3 – O encontro com a vida.

         Virgilio foi um homem afortunado. Não se preocupe com a palavra foi, não quero dizer que ele
morreu, pelo menos não agora, apesar de Virgilio ser um homem que figura apenas nestas linhas e em minha
memória e espero que também na tua. Estou decorrendo ao epílogo de nossa história e pedi a ajuda de um
amigo critico e fictício para analisar o conteúdo das linhas a seguir.
         Virgilio se casou com Ritinha (aparentemente não tem nada de especial, apesar que a moda é se
amigar e não casar) . Teve dois lindos filhos (demonstra planejamento familiar, ou falta de dinheiro mesmo).
Concluiu o ensino fundamental e médio e ainda fez um curso técnico (algo difícil de ver entre os...
desiludidos com a vida). Conseguiu um emprego numa grande firma de construção e trabalhou uns três anos
com a carteira fichada e um salário razoável ( por incrível que pareça isto está virando algo difícil). ajuntou
uma boa grana nestes três anos e foi passear com a família em sua terra natal. Lá comprou um jornal e viu um
edital de abertura de algumas vagas para um emprego público na cidade e logo se escreveu, pagou a taxa e no
dia certo fez a prova. Não passou (em semelhança da iniciativa privada existe empregos que só o Q.I.11 bem
forte pode fazer o cidadão conquistar). Queria ficar por lá, mas sem emprego decidiu voltar para a terra dos
ovos quase de ouro (algo aparentemente inteligente, ou melhor, a necessidade é urgente). Em São Paulo
passou dois anos desempregado, mas mesmo assim conseguiu fazer uns bicos 12, fez um curso de cabeleireiro
porque ouviu dizer que era a profissão do momento e que não iria mais ficar duro, sem dinheiro. Na verdade o
que ele ouviu não era uma mentira, porém, ele não foi o único a ouvir está frase e por isso ao terminar seu
curso e trabalhar alguns meses nesta profissão compreendeu que era um entre milhares. Com dividas até o
pescoço e quase a desanimar Virgilio recebeu o convite para trabalhar na área de segurança em uma fundação
de auxilio ao adolescente infrator. Mesmo sem curso de segurança ele topou o convite. Ele não estava
assistindo ultimamente os programas televisivos, você lembra que ele não gostava muito disto? Sim, o salário
não tão ruim e lá se foi ele. Que dificuldades ele passou, você nem pode imaginar (De medico, psicólogo e
louco todos tem um pouco). O engraçado que mesmo sendo por algumas vezes refém desses pobres anjinhos
recebendo medidas sócio-educativas ele, nosso herói (ou louco) fez um concurso público para continuar
trabalhando entre ferros afiados e pessoas ajustadas (não acredito). Não precisou de grande Q.I., pois a
necessidade de empurrar alguns para dentro foi maior do que o próprio Virgilio pensava. Depois de dois anos
afastado da função por problemas neurológicos e psiquiátricos (Eu sabia). Talvez você me perguntes porque
estes dois problemas e antes disso eu lhe respondo que o neurológicos foi por causa de uma fratura no crânio
devido a pancada, entendeu? E psiquiátricos porque ao escutar em um tumulto de pequenas proporções
televisivas o balbuciar eufórico de “mata ele” nunca mais foi esquecido em sua memória. Virgilio conseguiu.
Está novamente em seu seio materno. Comprou uma casinha e a de São Paulo que era quase sua, vendeu.
Agora ele planta e colhe. Comprou também um terreninho que dá pra levar a vida. De manhã bem cedo sente
o ar puro e sempre lê as cartas dos filhos que nas férias trabalhistas iram passear no seu apê 13 (isso é de se
esperar). Ritinha gosta de estar junto de seu enrugado companheiro, os anos se foram, mas afinal de contas os
sonhos não envelhecem. Nesta cidadezinha que respira ares de progresso os dois são comerciantes de
legumes. Eles já foram assaltados..E daí isso parece algo como comum você vai me dizer (claro!). Mas este
foi motivo pelo qual se desgostaram daquele lugar que eles adoravam. Na verdade eles se cansaram daquela
vidinha e depois de alguns anos eles se foram. Não, não ainda não morreram, apenas voltaram para São Paulo
não agüentaram mais aquele vida sossegada de cidade interiorana e no lar doce lar puderam, sim, puderam ir.
Passaram ainda alguns anos no meio da correria paulistana, porém eles faleceram e foram sepultados em um
dos cemitérios superlotados da cidade que mal se lembra daqueles que lhe foram adotados como filhos e
foram esquecidos. A não ser por estas linhas que você acabou de ler.




11
   Q.I. = Esta sigla Q.I. não está ligado ao termo que indica inteligência, mas é uma abreviação da frase
“QUEM INDICA!” que significa que a indicação é fundamental para assumir o cargo.
12
   Bico = Chama-se bico o trabalho informal sem registro e etc.
13
   Apê = abreviatura de apartamento, mas que denota o sentido de casa ou lugar onde se mora.


                                                      14

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Virgilio

  • 1. Paulo Francisco dos Santos Pastor, escritor, poeta e Teólogo 1
  • 2. Índice Introdução...........................03 Parte 01 Lembranças da vida e a dura realidade.....04 Parte 02 Em busca da vida ...............10 Parte 03 O encontro com a vida (Epílogo)........14 2
  • 3. Introdução Virgilio é o retrato do típico brasileiro que se aventura fora de sua terra natal. Ele emigra em busca de melhora financeira encontra dificuldades, mas não desiste, ele sabe que tem que viver. Viver para Virgilio é compartilhar, é trabalhar, é estar do lado de Ritinha, é ser simplesmente quem ele é. Não há muito mais a dizer sobre nosso protagonista, apenas minha sincera exclamação: “– Boa leitura!” 3
  • 4. Parte 1— lembranças da vida e a dura realidade. Hoje é mais um dia comum. Estando apenas há alguns minutos acordado, depois de realizar minha higiene pessoal, posso contemplar o nascimento do Sol... É lindo, às vezes me ponho a pensar que isso vem acontecendo a milhares de anos e ainda assim não deixa de ser estrondosamente magnífico! Desde minha tenra idade tenho me colocado neste telhado a observar esta estonteante paisagem e as horas passam...Gosto de meditar... Pensar é uma dádiva que não se pode evitar ou igualar...Que ligação tão intima tem o existir e o pensar; penso e existo, existindo penso e no pensar vejo minha existência cada vez mais intensa do que nunca. Ainda que o balbuciar do tempo me chame para a realidade, posso por instantes incorrer no tempo e mergulhar em lembranças do passado, que não mais estão disponíveis para se tocar. Quando criança sonhei ser poeta, adolescente em ser ator, jovem em me casar e ao passo que chego a maturidade penso em viver... Doce vida que a cada segundo escapa pelos dedos, seria isto uma utopia? A cada minuto que vivo é um a menos que viverei, mas que importa? Seria terrível olhar para trás e descobrir que vivi sem viver e nada aproveitei! Ainda conto com o bombear do meu doce amigo, que comigo inseparavelmente tem trabalhado e trabalhado. Tudo que posso dizer que escrevendo me encontro voando entre milhares de milhares que vivem num amontoado de preocupações justificáveis, porém, eu ainda sim, tomo trilhos que me levam para onde possa dizer com clareza a viagem não terminou. Quantas colocações são dadas aos pobres que estão no sofrimento? Ainda podemos ver que soluções não estão tão perto, apenas desculpas, ou coisas em si corriqueiras. Um mundo que não para, gira-gira de opiniões que nos enche de situações. Há quem olhar? Com olhos que possam enxergar o que não esta lá, mas de ilusões vivem os que assim se apresentam. Não gostaria de fugir do que primeiro pensava, coisas de escritor? Onde estava? Ah! Sim, no Sol que nascia... Era comum pra mim esta visão, ao despertar de um novo dia subir ao ponto mais alto de nossa humilde casa. A visão era que me ia ao lado de meu pai e onze irmãos ao plantio do feijão, milho e algodão. Mãos rudes, pés rachados, sol não tão belo quanto na manhã, mas forte e abrasador. O gosto salgado das gotas que entram em meus lábios é tão vivo que tenho sede! Vai e volta, vai e volta... jogue o milho que vou tampar o arado. Comida quentinha, quem dera! Depois de algumas horas estava fria, mas a fome dá gosto ao paladar que não rejeita nem uma bóia fria. Ruim!? Oh, não! Tempo bons que não voltam...Mas como pode? Coisas de sertanejo, só entende quem lá viveu... Cinco da manhã, na cidade que não para, e parece que não dorme...Apenas isto? Um querido sonho! Ao abrir a janela, não vejo mais o sono que saiu mais cedo hoje, sem dizer se volta, vejo um céu cinzento, sem expressão, diferente deste último encontro com o subconsciente. Ainda assim fico fascinado com a visão unicolorida e contraste com o passado. Ambiente hostil! Toca a primeira sirene, a firma de produtos químicos não para... Milionários ou estressados eis a questão? São Paulo grande teatro onde figuram tantos espetáculos que não se pode numerar... Quantos livros e ainda assim não se poderia escrever... Não devemos estar tão preocupados! Podemos de apenas um nos entreter. Vivia solitário um jovem fleumático, sim um verdadeiro anjo calado... Aguardando e buscando seu tão esperado prêmio chamado sucesso; as angustias de que a pouco passara como uma bomba relógio em breve o farão explodir em lágrimas de socorro, mas longe de seu habitat, a solução vem com a aspirina e o repouso. Nunca pensei estar descrevendo as senas de um que como eu. Ele e eu nos identificamos. Queria vencer as frustrações do cotidiano lar recém adotado. Seria por demais, apresentar-lhes nosso amigo? Virgílio um herói em meio uma selva de concreto. Olhar triste e sereno, rosto moreno, não alto e nem baixo...Médio ligeiro!? Sonhador convicto, vindo de terra distante, percebeu que era um entre milhares que emigraram do Nordeste para Sul. Apesar de um grão de Areia entre ondas e terra firme, não teve dúvidas em pelo menos lutar. Seu primeiro emprego foi de garçom, havia feito um curso em Bom Conselho, cidade ilustre, de gente Cortez que sabe receber e dar o que tem... Hospitalidade e calor... Humano e solar! Não impressionava pela aparência, mas seus modos conquistaram o gerente que ao notar sua proposta pequena, não pensou duas vezes em dizer: - De Bom Conselho! Que Ótimo! Escute o bom conselho que agora vou te dar, não demores a começar a trabalhar, as roupas estão naquela salinha. Atônito Virgílio se pôs a dizer: - O senhor não vai se arrepender. 4
  • 5. Sem folga nos primeiros três meses? Sem registro? Doze horas por dia? Que vida dura encontrou Virgílio, não era nenhuma plantação de notas verdinhas que iriam garantir sua sobrevivência, mas o salgado gosto entre seus lábios não o abandonara, apenas mudará de lugar. Para descansar era uma dificuldade... Morava em uma pensão de rapazes, lugar familiar, onde todos tentavam se entender. Os colegas de quarto eram grandes preocupações para nosso amigo desterrado. Não se podia esquecer nada, uma lei ali regia – “o achado não é roubado” – que diferença do respeito em que as recordações lhe serviam as saudades dos seus patrícios. O sono com facilidade se ia entre as tentativas furtivas de um efeminado colega de quarto de lhe abraçar durante as noites que não se sabia que eram frias ou quentes... Hoje se não vê a terra que garoava... Mudanças inesperadas no tempo... Efeito estufa... Poluição... Coisas de poderosos, apenas simples negócios. Ao abrir a janela apenas o cinza e ao passar dos minutos se aproximava à hora da partida, a correria logo se via, lutar pela sobrevivência não é fácil entre os animais que vivem no concreto! Um certo colega de ponto ao vê-lo disse: - Foi-se o segundo e não deu pra subir! Mas este não passa, vou entrar nem que tenha que derrubar uns dez! O que se costuma a ver não impressiona. Lógico! A explicação óbvia é que as conduções de São Paulo são assim mesmo. Isso ficou normal ao nosso anfitrião, que sem perceber passara a ser um gladiador inerente ao limbo de forças que lutam pelo espaço da vida. Poderia fazer-se um suave poema da situação que não expira coragem aos locutores do rodeio pedregoso e a dar aos seus tais, um boa porção de pizza!? Camaradagem não é a piada do aumento dos vinte reais anuais, mais sim, o respeito de um salário meio decente (tendo a certeza que falta muito para o meio) que é aguardado há anos pelos tapeados das épocas codenomeadas “CARNAVALESCAS”. Dureza tem passado o Virgilio, aprendido a se comportar como uma sardinha em lata...Coisas de condução paulista, difícil para os de fora entender. Ainda que não estivesse numa lata ambulante, como poderia chegar a tempo de encarar a rigidez de um novo dia-a-dia de exploração. Quando completava oito meses de trabalho, passados já os penosos e famosos três de uma experiência bem experimentada, sem ver cumpridas as promessas da folga, sua paciência foi abalada pela insensatez de um freguês desajustado. - Hei, garçom! Por favor. - Sim, senhor, pois não? - Você tem coca ou guaraná? - Os dois, senhor. Qual você gostaria? - Eu quero então um refrigerante... Ah! Ah! Ah! Caiu na risada. E como se não bastasse as piadas sem graça do já mencionado desajustado, a custo convencido a escolher um daqueles pratos tipicamente comuns ao bolso escasso - arroz, feijão, salada, bife acebolado -, não perdoou a oportunidade recebida de um pedido de tenra feijoada por um tal vizinho recém chegado e mais prontamente atendido; oportunidade de colocar os artelhos a funcionar colocando os pezinhos número quarenta e quatro na frente de Virgilio, que voou sem asas sobre aquele tal infeliz que não saboreara a esperada feijoada com o palato, mas com o pasmo de ver-se banhado de temperos e da lesão recebido pela quentura do prato. - Seu grandississimooooooooo idiota!!!!!!! O homem todo sujo gritou. - Desculpe-me senhor! Virgilio envergonhado balbuciou. Agora como se não bastasse a zombaria dos clientes, o autor do atentado se pôs a provoca-lo com piores palhaças, a ponto de Virgilio ir para cima dele, afinal anjos de carne e osso podem perder a paciência. - Você pensa que eu não vi seus pés de lancha no caminho seu artista de circo. Com os nervos em frangalhos berrou Virgilio. - Pé de chinelo, garçonzinho de uma figa! Replicou o freguês folgado. - Vai querer encarar? Pensa que tenho sangue de barata? Vou te ensinar a não se meter com cabra- macho de Pernambuco! - Estou tremendo de medo... Ah! Ah! Quando ia começar a grande peleja entrou em ação os juizes de mesa para acalmar o torneio de elogios recém começado. Os colegas conseguiram apartar a mera tentativa de briga e Virgilio depois de algum tempo, de cabeça fresca e conformado viu o que nestes meses quisera esconder, “não nascera para ser escravo” e logo se dispôs a falar com seu Afrânio, o gerente que nunca mais lhe mostrara o rosto sereno do dia em que lhe colocou os aguilhões, inclinou a cabeça dizendo inconformado: –“hoje em dia não se encontram bons escravos...digo funcionários. Afinal de contas o freguês sempre tem razão, não se pode deixar um garçom tão nervoso em nossos recintos, precisamos comprar tranqüilizantes ou sangue de baratas para 5
  • 6. estes infelizes trabalharem direito”. Na verdade a preocupação de Afrânio estava no que os muitos freqüentadores de seu tão bem afeiçoado restaurante poderiam dizer um a outro sobre o tal acontecido e fez o que todo patrão ajuizado faria. Ordenou que Virgilio pedisse a conta, o que este prontamente recusou e logo foi obrigado a retirar-se do tal recinto que a muito havia virado seu lar sem ao menos um obrigado pelos serviços prestados, com promessa de pagamento deste seu último salário depois do quinto dia útil do mês seguinte. Virgilio pensativo começa a caminhar entre as ruas movimentados deste nosso centro badalado e põe-se a voar nas asas da imaginação à Bom Conselho. - Que cheiro boum de manga. Cidinha vamos buscar umas pra nóis. Os tempos de criança são inesquecíveis, é normal em momentos de dificuldades sermos levados ao principio de nossa jornada, ao ponto em que não havia preocupações, ao momento em que elas não existiam. Somente as famosas e formosas peraltices e brincadeiras dos anos que não voltam. Disposto a não voltar à realidade Virgilio se vê forçado a despertar com uma voz que o atordoa. - Mãos pra cabeça moço! Documentos!? - Calma. - Calado, se você se mexer leva chumbo! - Não sou bandido. - É o que todos dizem. Confundido com um certo criminoso Virgilio se depara em uma delegacia prestando depoimento, sobre sua vida em São Paulo. - Você é o Zé Pistoeiro, não é? Grita o Delegado Paixão, depois de Bater com a mão na mesa que quase desmorona pelo impacto. - Não sei do que o senhor está falando, até a alguns minutos atrás o pessoal me chamada de Paraíba no restaurante que trabalhava. - Não quer falar em!? Nós vamos puxar sua capivara 1 e te daremos uma bela hospedagem neste xilindró2. - Que é isso Dr. Sou Virgilio seu criado. Vim de Pernambuco no fim do ano passado e estou tentando ganhar a vida. - Esse é o nosso problema, o jeito de você ganhar a vida. - É proibido trabalhar de garçom? - Não acredito! Estou conversando com um lunático. - Pernambucano doutor e não lunático. - Ponha esse Zé...Paraíba, ou sei lá o que na cela quatro Augusto. Estressado o Del. Paixão continua desabafando: - Até quando tenho que aturar esses loucos ou malandros? Na cela Vigilio encontra mais oito companhias que não são nem notadas na sua entrada marcada pelo desesperado grito: - Não sou culpado, não fiz nada! As lágrimas que sentidas nos lábios apenas o fazem recordar de seu pai a lhe dizer: - Filho cabra-macho não entra em delegacia, com suor se vive, o pouco com Deus é muito! Mas o quê? Não fiz nada para estar aqui, imagine se meu pai me visse desse jeito. O que seria de mim? Agora entendo a frase que Jorge de vez em quando dizia: “Hoje não é o meu dia”. Virgilio parece num transe viajando em pensamentos mil até ser interrompido por um dos detentos, que lhe diz: - A menina tá chorando porque? Quer carinho? Sem saber o que responder fica atônito com a visão de um monstrengo careca e todo tatuado, lhe fazendo juras, ainda meio atrapalhado e perplexo com os últimos fatos, não lhe responde palavra. Noite fria, lugar mal cheiroso, ânimos alterados e barriga vazia. Tudo agora contribuía para uma briga logo na entrada da cela fria. Quando Virgilio pensava em dar um golpe no autor da dita cantada, o comandante da cela, de apelido engraçado – Zé Verdiano – fala ao Dom Ruan: - Cai fora e deixa o rapaz em paz oh Negojalo! Como um cão treinado o tal Negojalo sai de perto do Pernambucano que aliviado diz : 1 CAPIVARA=Gíria que significa vou pesquisar sua conduta, tirar seu atestado de antecedente criminal que deve ter muitas ocorrências. 2 Xilondró= A cela onde Virgilio iria ficar preso. 6
  • 7. - Obrigado! - Não se pode chorar aqui. Isto é sinal de homem desajeitado. Comentado o Zé Verdiano - Não sabia. E nem sei por que estou aqui. Retorna Virgilio. - Que é isso? Pra nós não precisa mentir. O meu B.O. é o 123 e o teu? Emudeceu o Virgilio, que escutou mais perguntas do tal esverdeado. - Não sabes? Tráfico de drogas. - Male-male entendo de cabo de enxada! - Você é da terrinha? - De Bom Conselho e tu? - Sou de Codó no Maranhão, lugar que nunca deveria de ter deixado. Virgilio compreendendo que encontrara um conterrâneo, parente de terra próxima, pôs –se a falar do Nordeste amado. - As lembranças são tantas... Rapadura... Plantio e gente que gosta da gente. - Moço se pudesse amanhã mesmo voltaria. - Quando saíres daqui corra pra lá. - Não posso, você sabe, sem o maldito não se vive! - Sem o maldito? - Ora, lá não se ganha fácil... Apesar de que viver lá me parece mais fácil! - Mas que raio de maldito!? - Você parece tapado! O Dinheiro, bufunfa, money, cascalho! Tu não és nenhum otário, pra não entender isso? Nesta altura do campeonato um tal azarado como ele não estava entendendo nada mesmo. Despedido, preso e desconsolado. Tudo estava acontecendo numa mesma ordem de acontecimentos que ao ver de Virgilio era: - Isto tudo é por que de manhã passei debaixo de uma escada! Quem pode adivinhar o que acontecerá daqui a pouco. Continuar lendo ou dormir? Experiência tua e não minha. Ainda que não sabemos o importante é vivermos. Tão depressa foi ele encerrado. Para sair um tanto demorado, há minutos que se eternizam. Mas enfim de lá tirado, recebeu um cafezinho meio gelado e um pedido de desculpas meio que obrigado. - Informação errada. Não queríamos ter te incomodado. O delegado com cara de quem errou, mas não deu o braço a torcer assim falou. O que nos pensamentos não se media, era o inconformado dito: - “Que café sem graça e amargo”. Ainda mal terminara de toma-lo quando ouviu: - Pode ir seu Virgilio, ou queres ficar, ou ainda mudar-se, ou quem sabe morar aqui? Riu-se o chefe do pedaço. - Não, não obrigado. Já estou indo. Tenho certeza que aqui não volto. Nunca mais volto. Convencido de que tudo erra mesmo um simples engano, sem saber que poderia recorrer aos maus tratos e a humilhante situação, Virgilio o desinformado foi-se seu caminho cantarolando algo assim: - Vou embora, vou embora e não volto mais aqui. Não sou daqui! Não sou daqui! Alegria de ter saído? Não, estresse acumulado de meses sem folga. Sim, começo de delírio. Pobre Virgilio estava correndo para não parar e dar-se conta que estava totalmente cansado. - Bom dia! Disse ele a uma senhora. - Que a virgem te acuda! Respondeu ela olhando firme em seus olhos vermelhos. - A todos nós. E foi-se, ofegante, mas como que teleguiado naquelas tantas horas da noite, em direção a pensão. Chegando, abriu a porta e foi logo deitar. Sumiu aquele dia. Existem dias que não queríamos que existissem, isto é normal, creio assim ou estou enganado? Como psicólogo não sou atestado, somente achológo inerente deste nosso contristado desempregado. Eu acho e tu o que achas? Ora, ele acha e eles o que acham? Bom ele achava-se deitado sonhando com sua terrinha amada e num excesso de sonambulia por vezes repetia: - Não devia ter de deixado, amiga minha! Seus colegas ao ouvi-lo diziam: - Isto só pode ser amor não correspondido, o pobre Paraíba está frustrado. 3 O número 12 no código civil significa que a pessoa cometeu o delito de tráfego de drogas. 7
  • 8. - Rejeitou o meu amor, agora esta recebendo na pele o resultado. Disse o efeminado Rone que sempre quis namora-lo. Mas feliz é o sono do trabalhador, ainda que no dia anterior tenha ficado desempregado. - Ei, ei! Acorde está na hora. Chamava-o a dona Gertrudes, proprietária do pensionato, que sabia a hora que Virgilio tinha que ir ao trabalho. - Não, não hoje estou de folga. Dizia meio atordoado de sono e cansaço o que convenceu-a a sair sem mais insistência. Quinze horas de sono bem dormidas, algo que nestes últimos meses ele não via. Sonhava então, com o vento quente e gostoso das noites de verão. Das chuvas de inverno, onde temperatura baixa era só da água da cacimba. Mergulhos e mais mergulhos no açude que ainda lhe dava um almoço reforçado. Um peixe assado, um... Uhmmm! Que delicia, hoje vou fazer um grande ensopado... Depois do galo cantar, entre a brisa e o estridente som dos grilos, ia-se andando despreocupadamente e com poucos minutos se chegava à fazenda dos Covedos. Glum...Glum... – “Leite fresco se toma desse jeito”. Neste sonho ele dizia.; Com os dois litros na mão e já de volta, mãeinha preparando do milho a merenda para iniciar mais um dia... - Oh, oh, acorda. Moço você está bem? Pergunta Raimundo. - Como? O que foi? Bem? Por que? - Sai e tu estavas dormindo, cheguei e tu ainda estás dormindo. É preocupante, não é? - Não, não estava apenas cansado. Mas já estou melhor. Que horas são? - Oito horas da noite, e o jornal já esta passando. - Nossa! Fazia tempo que não dormia tão bem assim. - Dá pra ver. Você não esqueceu do forrozão que vai acontecer hoje lá no Sertão danças? Daqui a pouco nós temos de ir pegar a Laura e a Ritinha. Seu Zé vê se come alguma coisa e se arruma. - Tá O.K. Raimundo Nonato (porque todo Raimundo é Nonato?) veio juntamente com Virgilio tentar a vida também na cidade dos sonhos de papelão. Teve mais sorte, conseguiu um emprego na grande Metalúrgica e agora estava até estudando. Em breve planejava sair da pensão. Amigo de infância de nosso Paraíba, e bom sertanejo, não perdia um forró, pois era uma de suas paixões. Outra paixão era Laura, cearense da gema, da cidade de Independência e tinha ancestrais indígenas, sua aparência não negava. Era recém chegada em Papelão City e já era vendedora de uma loja no paraíso das compras. Formalmente solteira, livre e desimpedida, sua única preocupação era seus três filhos que deixara em cuidados de sua mãe para cria-los. Casada? Não, obra do acaso. Simplesmente desilusões da adolescência. Uma grande lutadora que não pensou duas vezes em mandar a metade do salário ao berço dourado. O seu sonho era o já conhecido... Esperando o novo namorado comentava com Ritinha: - Acho o Raimundo muito ciumento. - Vai vê teve alguma decepção no passado, a insegurança é marca disto. - E ai? Gostou do Virgilio? - Mais ou menos, ele é muito calado. Tenho de usar uma escavadeira para arrancar palavras dele. - É assim mesmo, homens tímidos tem vergonha pra falar. Ganhe a confiança dele e ele vai virar um papagaio tagarela. - Ele tem um ar tão sofrido Laura. - Olha Ritinha, quem veio daquele pedaço de terra que eu vim, têm motivos pra ter esse olhar. Paulista como tu não conhece isto. - Você que pensa. Fernandópolis também é um lugar difícil. - Lá deve ser como aqui. - È um lugar formidável Laura, Bonito, sossegado como toda cidadezinha do interior. Ao terminar as referencias de sua terra natal passou o gel no cabelo e se trocou, colocou a melhor roupa que havia adquirido por um mês de serviço, uma coisa fina, roupa de marca ou grife é assim mesmo, consome o salário dos pobres. Do outro lado o parceiro do tão esperado forrózão colocava o perfume que não podia ser diferente, combinando com a loção após barba tinha o toque de incensar o ambiente, outro mês de serviço pra variar. Já estava com aquela vontade louca de se requebrar no som que o levava em direção a sua terra, e o que mais ele precisa? Sua terra e uma linda mulher eram o suficiente. Que pena que sua terra estava tão longe e a Ritinha era simplesmente a Ritinha. Assim que estava pronto sentou na sala da pensão e esperava o Raimundo voltar da casa de seu Agenor, pois soubera que havia ganhado alguns trocados no Bicho e correu para confirmar, afinal de contas uma grana a mais não faz mal. Na sala a televisão estava ligada e passava um daqueles filmes sem pé nem cabeça criados pelos tão soberbos donos do mundo e que os subalternos dominados admiram. Virgilio, porém achava estes e outros uma verdadeira chatice, não que fosse 8
  • 9. um pensador ou filosofo que se procurasse com coisas melhores, mas como não estava acostumado com ela na sua infância e adolescência e parte de sua recém começada juventude era um dos poucos que não se incluía nos laudos dos maníacos-telespectadores. Raimundo chegou. Eles foram buscar as duas moçoilas e passaram a noite toda no forró, se divertiram muito e pela manhã deixaram-nas em suas casas e se foram para a pensão. 9
  • 10. Parte 2 – Em busca da vida. O dinheiro que Virgilio recebeu foi muito pouco e prevendo um possível momento de desespero decidiu ir atrás de outro emprego antes que o pouco que possuía se acabasse. Ouviu falar que existia um lugar que apoiava os desempregados indicando-os para as empresas e assim decidiu ir ver se isso era verdade. Quando lá chegou concluiu que lá só poderia ser um centro de apoio aos desempregados pela quantidade de pessoas que lá estavam. –Hoje em dia os desempregados são muitos –. Depois de ficar horas na fila finalmente foi atendido. A atendente Marta pediu seus documentos, fez seu cadastro e disse: - Infelizmente não temos em nossos terminais vagas para sua profissão. - Que pena. Triste respondeu Virgilio. O desespero nos olhos de Virgilio parece que comoveu tanto a atendente que ela lhe perguntou: - Senhor Virgilio se você quiser temos uma vaga temporária numa empresa que faz entrega de listas telefônicas e de classificados. - Mas não tenho experiência. Retrucou. - Esta empresa não está exigindo experiência. É o melhor que tenho no momento para você. Conclui. Virgilio mais que depressa disse que gostaria muito de tentar essa vaga com um novo brilho em seus olhos, a esperança dele foi renovada. A atendente imprimiu uma carta de apresentação e lhe entregou dizendo que fosse no dia seguinte se apresentar no escritório da tal firma. Virgilio pegou a carta na mão com tal olforia que os que ainda estavam na fila imaginaram que ele conseguiu um tremendo emprego. No dia seguinte Virgilio foi ao tal emprego. Fez a entrevista e começou a trabalhar na outra semana, pois já era quinta-feira e a empresa tinha por costume colocar os novos funcionários a trabalhar na terça-feira. Imagine só, Virgilio que ganhava tão pouco iria ganhar um pouco mais, no outro serviço de garçom ele ganhava quase um salário mínimo e nesse agora iria ganhar um salário e uns quebrados. Ao chegar na pensão foi logo contando a novidade para Raimundo e no fim de semana festejou que só o emprego que lhe ajudaria a melhor um pouco a vida. Se alguém lhe perguntava qual era seu novo emprego ele dizia: “ – Entregador de listas temporário!”. Para Virgilio temporário era titulo que tornava a palavra entregador mais importante, desconhecia que seu novo emprego era por período determinado e que não passaria de seus míseros noventa dias. Chegou o dia tão esperado. Virgilio levantou às quatro horas da manhã e foi para base, o rapaz do RH4 lhe. O lugar onde todos os entregadores se reuniam para receber as comandas (listas de entrega com nomes e endereços dos clientes) se chamava base. Lá ele pode ver que fazia parte de um grupo de mais de quinhentas pessoas. O trabalho era dividido em equipes de mais ou menos trinta pessoas ao comando de um líder chamado listeiro. Cada um recebeu um jaleco 5, um boné e um crachá provisório. Os listeiros se posicionaram em um local e os entregadores formaram uma fila indiana até a quantidade suficiente para realizar o serviço. Virgilio ficou na equipe do listeiro Marcus e recebeu sua comanda com o numero de cento e doze listas para entregar, foi lhe dito para escolher um carinho para tal feito. O carrinho de entrega de listas possuía duas rodas e seu funcionamento era na vertical ficando meio inclinado dando assim condições do entregador empurra-lo pela rua. Às sete horas da manhã os entregadores entraram nas vans e foram até o lugar da desova6. A equipe de Virgilio foi a primeira a chegar e na van apenas uma coisa lhe incomodava, ele havia estranhado o fato de não terem levado as listas com eles e pensava: “ – Como entregaremos listas se não estamos levando nenhuma?”; porém para sua surpresa ao chegarem no local onde iriam realizar seu trabalho estava parado o caminhão da firma colocando as listas num mesmo lugar, ele nunca havia visto tantas listas na vida. Ao saber que era a primeira vez que Virgilio entregaria listas Marcus o listeiro deixou que ele fizesse uma das comandas mais fáceis onde à entrega se realizaria em apenas uma rua. Virgilio se achou o máximo, pois antes das quatro horas da tarde seu trabalho havia sido realizado e ao ver outros que chegaram após as seis dizia consigo mesmo: “ – Que pobres coitados, não sabem trabalhar!” Quando retornaram todos das entregas já era quase sete horas da noite e Virgilio estava irritado, afinal ele havia terminado seu serviço cedo e os outros lhe estavam lhe impedindo de ir embora. Dentro da van ele pode ver muitos entregadores com o 4 RH= Esta sigla significa Recursos Humanos, que é o departamento da empresa que cuida das contratações e demais responsabilidades contábeis e etc. dos funcionários. 5 Jaleco= Uniforme padronizado com emblema da empresa que entrega as listas e da que é proprietária das listas. 6 Desova. Para os entregadores de listas é o local em que o caminhão deixa a carga total de listas que será distribuída naquela região. 10
  • 11. sorriso estampado e contando muita vantagem. Um diziam: “ – Consegui trinta mangos7!” Outro disse: “ – Consegui vinte e cinco” e assim ele pode ver cada um conquistou entre quinze a cinqüenta Reais pedindo caixinha8. Virgilio perguntou a um dos seus companheiros como havia conseguido que as pessoas lhe dessem tanto reais como caixinha, pois ele não havia ganhado nada. A resposta foi: “– Se você não pedir o máximo que irá ganhar é umas miseras moedas. Então pensou consigo: “ –Se cada um ganha este tanto de caixinha eles tem razão de pedi-las, mas não sei se também vou fazer assim, pois na entrevista me disseram que é proibido pedir essa tal de caixinha”. Quando Virgilio estava pensando em pedir ou não as tão atraentes caixinhas a porta da van se abriu, eles haviam chegado na base e foram liberados para ir de volta as seus lares. Ao chegar na pensão contou aos colegas de quarto quão bom entregador ele se saiu no seu primeiro dia e que ouvira dizer que aqueles que se esforçassem e fossem os melhores entregadores ganharão como prêmio a efetivação na empresa e irão fazer leitura de energia nas casas. Virgilio dizia: “ – Essa boquinha9 já é minha”. Depois de comer um pouco e tagarelar mais alguns minutos nosso herói desmaiou e só acordou com o barulho do relógio que dizia que já eram quatro horas da manhã, hora de ir trabalhar. Virgilio viu se repetir todos os acontecimentos do dia anterior. Chegou na base, viu os mais de quinhentos entregadores formando filas para pegarem suas comandas com os listeiros. Entraram nas vans e foram para o local da desova. Quase tudo se repetiu, exceto que a equipe de Virgilio foi à última a sair e que sua comanda lhe atribuía a entrega de cento e trinta listas em pelos menos vinte e duas ruas. O local da desova era no bairro de Vila Moraes. Eram quase nove horas da manhã e o motorista da van que ia levar Virgilio ao melhor ponto entre as ruas que ele havia de fazer suas entregas ainda não havia voltado de levar a penúltima leva de companheiros. As vans levavam de três ou quatro entregadores com suas listas e carrinhos aos lugares que lhe dariam melhores condições de entregar as listas e por isso Virgilio esperava sua vez quando chegou o motorista da van e lhe disse: - Porque você ainda está aqui Virgilio a suas ruas são próximas daqui, encha seu carrinho de listas e vá indo, você não terá trabalho nenhum para fazer seu serviço. Estes outros entregadores estão com ruas mais longes e eu devo leva-los para não atrasar nosso serviço. Pobre Virgilio. Acreditou nas palavras do Motorista e logo encheu o carrinho indo em direção as ruas que deveria entregar suas listas. Ao andar três quarteirões e chegar ao local de suas entregas levou um tremendo susto. As ruas em que estava determinadas suas entregas eram todas com declives grandes. Na primeira rua ele olhou e viu que seria difícil descer com seu carrinho, mas mesmo assim tentou. Que bela tentativa foi esta de descer uma rua tão íngreme, seu carrinho desgovernou e foi lista para todo lado. Lá se foi ele a ajuntar as listas e tentar subir a rua com seu carrinho cheio, mas não conseguiu. Parece que nem um halterofilista poderia subir e descer qualquer ladeira com um carrinho daquele cheio, muito menos Virgilio que apenas um moço franzino. Um carrinho daquele de Virgilio cabia cento e dez listas, mas apertando no máximo cento e trinta que se multiplicarmos por um quilo e novecentas gramas que é o peso de cada listas nós temos duzentos e quarenta e sete quilos. Nosso herói estava numa posição difícil, tentou levar os pacotes com cinco listas cada. Pegou um pacote numa mão e outro noutra e foi até a próxima rua, mas ao levar a quarta viagem disse: “ – Desisto. Mal comecei a carregar e os fitilhos que seguram estas listas estão a machucar minhas mãos e ainda por cima o local para começar minhas entregas ainda esta um pouco distante”. Ainda bem que Virgilio tinha uma dádiva dos céus em sua vida – a perseverança – Ele não desanimou. Ao ver um carro com carroceria passar lhe fez sinal e este parou. Nosso herói pediu que lhe levasse suas listas até o cruzamento da rua dez que ficava no ponto chave para ele realizar suas entregas e assim ele fez. Como em cada uma das vinte e duas ruas ele não tinha mais que seis listas para entregar, colocou poucas listas no carrinho e passou a fazer quatro ruas de cada vez. Mal pode ter tempo para comer. Ao entregar uma lista em um bar recebeu como caixinha um refrigerante e um salgado. Em outra casa uma senhora lhe viu o rosto sofrido e lhe deu um copo com suco de maracujá dizendo que deveria se acalmar. O dia se foi, e o homem que se gabava por ter sido mais rápido que seus companheiros se via sendo o último a chegar na desova, quase as oito horas da noite ainda por que o mesmo motorista da van que lhe havia dito que as ruas para ele realizar suas entregas eram perto e fáceis lhe foi buscar e o encontrou fazendo a última entrega e disse: - O quê aconteceu com você rapaz, todos estavam preocupados. - Nada. Apenas me embaralhei um pouco, mas consegui fazer o serviço. 7 Mangos= Significa dinheiro e no texto acima que ele conseguiu trinta Reais. 8 Caixinha= A caixinha seria uma contribuição em forma de dinheiro ou um presente dado ao entregador no momento em que ele entrega a lista. 9 Boquinha= É uma gíria que quer dizer emprego, ou seja, Esse emprego já é meu! 11
  • 12. Marcus não gostou do horário que o ex-super entregador voltou e ainda mais porque não recebeu nada de Virgilio. Os outros dias também foram difíceis para Virgilio que não conseguia terminar suas entregas antes das seis horas e pela expressão de Marcus que ao perguntar onde estava o dele ouvia sempre como resposta: “ –Ainda não entendi esta piada”. Tudo estava tão difícil até que no sexto dia da campanha 10 as comandas de entrega vieram reduzidas e por isso dois entregadores tiveram de dividir uma mesma comanda. Virgilio fez par com um entregador chamado Hugo o qual já era experiente e de longas datas participava das campanhas promovidas por essa empresa de logística que os contratará. Hugo incentivou Virgilio entregar as listas e pedir com um jeitinho especial uma colaboração para cada casa que era visitada por eles. Os dois se saíram bem. Entregaram as listas antes das três horas da tarde e ainda cada um estava com vinte e cinco reais no bolso. Ao voltarem para desova Hugo disse a Virgilio: - Virgilio separe sete reais para entregarmos ao Marcus. - Por quê? Disse Virgilio. - Ele sabe quais são as melhores comandas e amanhã ele pode nos entregar. Replicou Hugo. Agora Virgilio entendeu porque nos outros dias Marcus sempre pedia o dele. Os dois deram para Marcus quinze reais. Hugo disse que estava entregando a sua parte e a de Virgilio e que no dia seguinte se as comandas fossem boas o agrado para o café de Marcus poderia ser melhor, este apenas sorriu. Imagine que dos trinta entregadores cada um desse para o listeiro todo dia uns dez reais e isso se somasse ao seu salário. Virgilio pensou nisso, porém ao lembrar que alguns políticos, policiais, juizes fazem coisas parecidas desanimou (talvez nem em tudo dá pra perseverar!?) de falar algo contra esta prática e se ajuntou aos outros. Começou a pedir caixinha e reservar a parte do seu ganancioso listeiro. Entregar lista não é fácil. Em dia de sol o suor e a fadiga são inimigos terríveis. Nos dias nublados se o serviço não for rápido, pode se voltar para a van todo ensopado. Como era final de ano entre caixinhas e seu salário Virgilio conseguiu ajuntar um tamanho dinheiro que ele mesmo nem acreditava. Do seu emprego anterior iria levar pelo menos um ano para receber o mesmo tanto. Veja só, em apenas um dia em vésperas de natal recebeu quase duzentos reais em caixinhas. Estava tão feliz nosso herói que sua felicidade era quase... talvez me pergunte porque quase? A campanha chegou ao final. Ele não conseguiu ser promovido a leitor de relógio de energia. Ficou novamente desempregado. Lá se foi Virgilio novamente ao centro de apoio ao desempregado tentar novamente arrumar algum emprego. Era época eleitoreira e aquele sujeito que idealizou (na verdade não foi quem inventou o centro de apoio ao desempregado, mas um entre tantos oportunistas) este projeto de apoio ao desempregado tentava se beneficiar em sua campanha com os votos dos necessitados desempregados. Feita a pesquisa para Virgilio depois de umas oito horas de fila a resposta a sua ansiedade foi dura, ou seja, “não há vaga” em nossos registros. Tristonho e desconsolado lá se vai nosso Paraíba retornando a sua tão bela pensão. Como pobre não pode ver dinheiro aconteceu o inevitável com o nosso protagonista do agreste: gastou e gastou e ainda gastou. Teve de sair da pensão, sabe como é, sem dinheiro, sem condições de pagar aluguel em pensão não se pode morar. Ele foi morar no fundo da casa de um entregador de listas que conheceu na sua primeira campanha. Morou por um período de dois meses e foi-se. Parece que ouvi sua pergunta. Tu perguntaste para onde, né? Como amizade não paga despesa o bom amigo e ex- entregador mandou Virgilio se virar e ir embora, o qual encontrou abrigo na casa de sua querida Ritinha. Ritinha tinha se apropriado de um terreno que ninguém sabia qual era o proprietário. Você pode dizer isso se chama roubo. Espera ai calúnia e difamação dão cadeia e cada um de nós e inclusive você caro leitor deve tomar cuidado com palavras mal colocadas. Não, não fique com medo. Eu e os meus caros personagens te perdoamos, pois talvez você nunca esteve a morar em uma cidade como São Paulo. Ei, já estava me esquecendo. Nós estávamos falando que Ritinha havia adquirido um terreno, mas não sozinha. Ela e mais umas quinhentas famílias entraram em uma área desocupada e não utilizada e demarcaram os terrenos. Cada um pegou a metragem de cinco por vinte cinco e tratou logo de construir. Pra correr da pensão ela construiu com a ajuda do Zezão pedreiro um primo bem disposto um cômodo e um banheiro e pulou para dentro. Como todo leitor que se preze você é daqueles indagadores e já deve ter pensado o por que de Virgilio não ter ajudado. Daremos as devidas explicações. Em uma das famosas festas do arrasta pé, ou forrozão – “gosto não se discute” – por causa de ciúmes eles brigaram e enquanto aconteceu este incidente (Ritinha e a casa) e o outro incidente (Virgilio mora de favor na casa do amigo ex- entregador) os dois não entraram em contato, porém, quando Virgilio a exemplo de filmes antigos caminhava desconsolado com suas trouxas nas costas perto da pensão onde morava foi avistado por Ritinha que morando de dó o levou para sua casinha. “Comovente, não é!?” 10 Campanha = É denominada campanha o período de dias para a entrega das listas. 12
  • 13. Na casa de Ritinha os dois fazem as pazes e conversam e conversam até entrar na madrugada e depois... Ops! Eu acredito que você já sabe, não quero detalhar estás cenas, ainda porque este livro está nas mãos de... Como se tu tens ou não idade vou pular para os diálogos. Ha! ha! ha! (risos, meus é lógico) talvez tu me aches um chato, talvez aches alguma coisa que não sei, mas na verdade eu não quero saber e se continuar a escrever esse parágrafo que não leva a lugar... Espere ai, estou me criticando... Não, não e não eu sou um escritor e devo zelar por minhas... Na verdade devo voltar a historia. Nós estamos na conversa que adentrou pela madrugada. Ritinha perguntou a Virgilio: - Quando você estava morando estes dois meses na Casa de tal de Leleco você não trabalhou, não fez nada Virgilio? - Claro que sim Ritinha. Depois de ir lá no centro de apoio ao desempregado e não conseguir nada chegou uma carta na casa de Leleco pedindo meu voto e me oferecendo um trabalho. - Mas como sabiam seu endereço, pois não fazia nem uma semana que você estava morando no Leleco? - Acho que foi porque eu falei para a atendente que estava morando na casa de Leleco. - Mas você não ganhou dinheiro para pagar o aluguel que ele queria? - Trabalhei um mês e quinze dias como um camelo e quando achei que ia receber alguma coisa, depois de tanta enrolação quando cheguei num dia bem cedo para trabalhar e cobrar o pagamento o comitê político havia se mudado. - Pra onde, home? - Num sei, muié! Ambos caíram na risada. Ao falarem dessa maneira estavam não somente brincando com o sotaque nordestino, mas fazendo uma terapia para não chorar com as dificuldades e ficar mais e mais irado com certos tipos de pessoas que não tem honra nas suas atitudes. - Uma coisa eu te digo. Esse tal de fulaninho não terá meu voto. Disse Virgilio. - Você já transferiu o seu titulo meu amor. Ritinha perguntou. - Não, mas sei que se tivesse transferido não votaria nele. Retrucou Virgilio. - O voto é muito importante Virgilio, pena que eu sempre o desprezei. Eu nem lembro em quem eu votei na penúltima eleição, mas agora, nesta que passou a pouco dias eu anotei e vou ver o desempenho dele e se não fazer nada na próxima o meu voto ele não vai ter, não. - Hora Ritinha, você acha que uma Zé ninguém como você pode impedir que algum político vá para o poder? - Todo o povão pensa como você Virgilio e é por isso que nosso município, estado e país estão do jeito que estão. Uma coisa eu te digo se depender de mim está historia vai mudar e ponto final. Será que este dialogo se identifica com alguém caro leitor? 13
  • 14. Parte 3 – O encontro com a vida. Virgilio foi um homem afortunado. Não se preocupe com a palavra foi, não quero dizer que ele morreu, pelo menos não agora, apesar de Virgilio ser um homem que figura apenas nestas linhas e em minha memória e espero que também na tua. Estou decorrendo ao epílogo de nossa história e pedi a ajuda de um amigo critico e fictício para analisar o conteúdo das linhas a seguir. Virgilio se casou com Ritinha (aparentemente não tem nada de especial, apesar que a moda é se amigar e não casar) . Teve dois lindos filhos (demonstra planejamento familiar, ou falta de dinheiro mesmo). Concluiu o ensino fundamental e médio e ainda fez um curso técnico (algo difícil de ver entre os... desiludidos com a vida). Conseguiu um emprego numa grande firma de construção e trabalhou uns três anos com a carteira fichada e um salário razoável ( por incrível que pareça isto está virando algo difícil). ajuntou uma boa grana nestes três anos e foi passear com a família em sua terra natal. Lá comprou um jornal e viu um edital de abertura de algumas vagas para um emprego público na cidade e logo se escreveu, pagou a taxa e no dia certo fez a prova. Não passou (em semelhança da iniciativa privada existe empregos que só o Q.I.11 bem forte pode fazer o cidadão conquistar). Queria ficar por lá, mas sem emprego decidiu voltar para a terra dos ovos quase de ouro (algo aparentemente inteligente, ou melhor, a necessidade é urgente). Em São Paulo passou dois anos desempregado, mas mesmo assim conseguiu fazer uns bicos 12, fez um curso de cabeleireiro porque ouviu dizer que era a profissão do momento e que não iria mais ficar duro, sem dinheiro. Na verdade o que ele ouviu não era uma mentira, porém, ele não foi o único a ouvir está frase e por isso ao terminar seu curso e trabalhar alguns meses nesta profissão compreendeu que era um entre milhares. Com dividas até o pescoço e quase a desanimar Virgilio recebeu o convite para trabalhar na área de segurança em uma fundação de auxilio ao adolescente infrator. Mesmo sem curso de segurança ele topou o convite. Ele não estava assistindo ultimamente os programas televisivos, você lembra que ele não gostava muito disto? Sim, o salário não tão ruim e lá se foi ele. Que dificuldades ele passou, você nem pode imaginar (De medico, psicólogo e louco todos tem um pouco). O engraçado que mesmo sendo por algumas vezes refém desses pobres anjinhos recebendo medidas sócio-educativas ele, nosso herói (ou louco) fez um concurso público para continuar trabalhando entre ferros afiados e pessoas ajustadas (não acredito). Não precisou de grande Q.I., pois a necessidade de empurrar alguns para dentro foi maior do que o próprio Virgilio pensava. Depois de dois anos afastado da função por problemas neurológicos e psiquiátricos (Eu sabia). Talvez você me perguntes porque estes dois problemas e antes disso eu lhe respondo que o neurológicos foi por causa de uma fratura no crânio devido a pancada, entendeu? E psiquiátricos porque ao escutar em um tumulto de pequenas proporções televisivas o balbuciar eufórico de “mata ele” nunca mais foi esquecido em sua memória. Virgilio conseguiu. Está novamente em seu seio materno. Comprou uma casinha e a de São Paulo que era quase sua, vendeu. Agora ele planta e colhe. Comprou também um terreninho que dá pra levar a vida. De manhã bem cedo sente o ar puro e sempre lê as cartas dos filhos que nas férias trabalhistas iram passear no seu apê 13 (isso é de se esperar). Ritinha gosta de estar junto de seu enrugado companheiro, os anos se foram, mas afinal de contas os sonhos não envelhecem. Nesta cidadezinha que respira ares de progresso os dois são comerciantes de legumes. Eles já foram assaltados..E daí isso parece algo como comum você vai me dizer (claro!). Mas este foi motivo pelo qual se desgostaram daquele lugar que eles adoravam. Na verdade eles se cansaram daquela vidinha e depois de alguns anos eles se foram. Não, não ainda não morreram, apenas voltaram para São Paulo não agüentaram mais aquele vida sossegada de cidade interiorana e no lar doce lar puderam, sim, puderam ir. Passaram ainda alguns anos no meio da correria paulistana, porém eles faleceram e foram sepultados em um dos cemitérios superlotados da cidade que mal se lembra daqueles que lhe foram adotados como filhos e foram esquecidos. A não ser por estas linhas que você acabou de ler. 11 Q.I. = Esta sigla Q.I. não está ligado ao termo que indica inteligência, mas é uma abreviação da frase “QUEM INDICA!” que significa que a indicação é fundamental para assumir o cargo. 12 Bico = Chama-se bico o trabalho informal sem registro e etc. 13 Apê = abreviatura de apartamento, mas que denota o sentido de casa ou lugar onde se mora. 14