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“MISERICÓRDIA QUERO, E NÃO SACRIFÍCIO, E O CONHECIMENTO
          DE DEUS, MAIS DO QUE HOLOCAUSTOS”



INTRODUÇÃO:

      Queridos irmãos e irmãs...

    Segundo o Calendário Litúrgico estamos na segunda parte do Tempo
Comum, no 3º Domingo após o Pentecostes.

        O fato de haver no Calendário Litúrgico o Tempo Comum, ressalta o
significado de que Deus não é SENHOR somente das coisas extraordinárias, mas o
é também do cotidiano, do dia a dia.

      O Lecionário Comum nos propõe as seguintes leituras bíblicas para hoje:

             1ª Leitura: Oséias 6,3-6

             2ª Leitura: Romanos 4,18-25

             Evangelho: Mateus 9,9-13

       A proposta é a de refletirmos sobre o fato de que Deus prefere a misericórdia
ao invés do sacrifício. É um questionamento quanto a religiosidade superficial, um
questionamento quanto as atitudes externas (liturgias e ritos) que não representam o
verdadeiro sentimento do coração.

        Na 1ª leitura (Oséias 6,3-6) o profeta questiona a sinceridade do povo em
seguir os preceitos de Deus. As liturgias do culto público, ainda que belas, não
significam nada, se não houver amor (quer o amor a Deus, quer o amor ao próximo
– que é a outra face do amor a Deus).

       Na 2ª leitura (Romanos 4,18-25) Paulo apresenta aos cristãos a única coisa
essencial: a fé. A figura de Abraão é exemplar: aquilo que o tornou um modelo para
todos, não foram suas obras, mas sim sua adesão total, incondicional, plena, a Deus
e aos seus projetos.

      Na leitura do Evangelho (Mateus 9,9-13) encontramos um ensinamento
sobre a resposta que devemos dar ao Deus que chama todos os homens, sem
exceção. O exemplo de Mateus sugere que o decisivo, do ponto de vista de Deus, é
a resposta pronta ao seu convite para integrar o Reino.

      Hoje somos convidados a refletir sobre o discurso e a prática. Como cristãos,
nossa prática deve ser condizente ao nosso discurso.

       De nada adianta elaborarmos discursos e liturgias sobre os preceitos divinos,
muito bem elaborados teologicamente, se não vivermos de forma condizentes a
eles. Serão meras palavras.

      O texto de Oséias 6,3-6 é de grande valia para a nossa reflexão. Pois como
metodistas, um dos pontos de nossa teologia é o equilíbrio entre os Atos de
Piedade (relação vertical – nós e Deus) e as Obras de Misericórdia (relação
horizontal – nós e o próximo).

      Portanto, convido-os neste instante a refletirmos sobre este texto bíblico.

      Ouçamos a leitura do texto sagrado.



TEXTO: Oséias 5,15-6,6

      15 Irei e voltarei para o meu lugar, até que se reconheçam culpados e
      busquem a minha face; estando eles angustiados, cedo me buscarão,
      dizendo:

      1 Vinde, e tornemos para o SENHOR, porque ele nos despedaçou e nos
      sarará; fez a ferida e a ligará.

      2 Depois de dois dias, nos revigorará; ao terceiro dia, nos levantará, e
      viveremos diante dele.

      3 Conheçamos e prossigamos em conhecer ao SENHOR; como a alva, a sua
      vinda é certa; e ele descerá sobre nós como a chuva, como chuva serôdia
      que rega a terra.

      4 Que te farei, ó Efraim? Que te farei, ó Judá? Porque o vosso amor é como
      a nuvem da manhã e como o orvalho da madrugada, que cedo passa.

      5 Por isso, os abati por meio dos profetas; pela palavra da minha boca, os
      matei; e os meus juízos sairão como a luz.

      6 Pois misericórdia quero, e não sacrifício, e o conhecimento de Deus, mais
      do que holocaustos.



CONTEXTO

      Oseias exerceu o seu ministério profético no reino do Norte (Israel), a partir de
750 a.C., numa época de grande conturbação.

      Em termos políticos, foi uma fase marcada pela violência, insegurança e
derramamento de muito sangue.

      Os reinados eram muito curtos e terminavam sempre em revoluções,
assassinatos e massacres.

        Na tentativa de se manter no poder, alguns dirigentes assumiam alianças
políticas com as potências da época. Isto causava uma grande instabilidade no
Reino.

      Em 721 a.C. Israel vai ser invadida por Salamanasar V, da Assíria, perdendo
assim a sua soberania nacional.
Em termos religiosos, é uma época de grande confusão… Exposto à
influência cultural e religiosa dos povos circunvizinhos, Israel acolhe diversos deuses
estrangeiros.

       Misturam-se elementos do Culto ao SENHOR, com elemento do culto a Baal.

     Oséias sente profundamente o drama do sincretismo religioso que está pondo
em perigo a fé do seu Povo.

        A sua mensagem é um apelo para que Israel não se deixe dominar pela
idolatria (a que Oséias chama “prostituição”: o Povo é como uma “esposa” que
abandonou o “marido” para correr atrás dos “amantes”).

      O profeta convoca o seu Povo a redescobrir o amor de Deus – sempre
presente na história de Israel – e a responder-Lhe com uma vontade sincera de viver
em comunhão com Ele.



MENSAGEM

      Vejamos a mensagem do texto:

       No versículo 15, vemos uma expressão de Deus: “Irei e voltarei para o meu
lugar, até que se reconheçam culpados e busquem a minha face; estando eles
angustiados, cedo me buscarão”.

      No início do capítulo 6, o profeta coloca na boca do Povo uma fórmula de
arrependimento ou de penitência, provavelmente tomada da tradição cultual: “vinde,
voltemos para o Senhor: Ele nos despedaçou, Ele nos curará; Ele fez a ferida, Ele
nos porá o penso que cura”.

      Contudo, o profeta olha para esta expressão com um olhar irónico…

      Porquê a conversão do Povo não é sincera. Haverá, por parte do Povo, um
desejo real de voltar para Deus e de deixar definitivamente a idolatria?

      É a esta questão que Oséias levanta através deste texto. Ele parece ter
dúvidas da sinceridade da “conversão” do Povo.

      O que Israel diz é: “o Senhor é como a aurora, pontual e inevitável, como a
chuva que empapa a terra”.

      Já sabemos como é que Ele funciona, pois Ele é perfeitamente previsível; se
soubermos fazer bem as coisas, podemos controlá-l’O, pô-l’O do nosso lado e
recuperar a vida que perdemos (vers. 3).

      Isto parece mais o resultado de uma atitude calculista de quem está
convencido de que conhece Deus perfeitamente e é capaz de manejá-l’O e de
manipulá-l’O, do que o resultado de uma atitude coerente e sincera, de um desejo
verdadeiro de “conversão”.

      A isto, como é que Deus reage?
O profeta descreve como que uma luta interior de Deus… “Que farei?” –
pergunta Deus…

       Mas logo vem a resposta: repetindo as imagens usadas pelo Povo, Deus
assume que não vai ceder, pois essa “conversão” de Israel é totalmente superficial
e, portanto, não passa de “conversa fiada” (“o vosso amor é como o nevoeiro da
manhã, como o orvalho da madrugada que logo se evapora” – vers. 4).

       Israel não está disposto a mudar o coração; só está disposto a “controlar”
Deus para readquirir a vida… Ora, se não houver uma verdadeira transformação do
coração, o amor do Povo por Deus não passa de uma piedosa declaração de boas
intenções.

      Como é que Israel manifesta no dia a dia a Deus essa sua vontade de “voltar
para o Senhor”? É através de uma vida coerente com os mandamentos? É através
de um amor que lhes sai do fundo do coração e que se expressa em gestos
concretos de bondade, de justiça, de misericórdia?

       Não. O “amor” de Israel ao SENHOR expressa-se através de ritos externos,
de atos de culto… No entanto, os atos rituais (os “sacrifícios”) não significam nada
por si próprios; são apenas atos exteriores ao homem… Não valerá de nada um
culto – ainda que belo – que não resulte de uma atitude interior de amor e de
vontade de comunhão com Deus (“conhecimento de Deus”).

       O culto não pode ser um conjunto de ritos desligados da vida, destinados a
aplacar Deus ou a comprar as suas bênçãos; mas tem de ser expressão de uma
vida voltada para Ele, vivida ao ritmo da aliança, no respeito por Deus e pelas suas
propostas.

       Dizer que Deus quer “a misericórdia (“hesed”) e não os sacrifícios, o
conhecimento de Deus (“daat Elohim”), mais que os holocaustos” (vers. 6), insere-se
nesta lógica…

      Significa que Deus não está interessado em rituais externos – mesmo que
muito bem elaborados – que não sejam expressão dos sentimentos que vão no
coração; o que interessa a Deus é um coração que aceita verdadeiramente viver em
comunhão com Ele (“conhecimento de Deus”) e que é capaz de gestos concretos de
amor, de ternura, de bondade, de misericórdia (“hesed”) em favor dos irmãos.



CONCLUSÃO

      Vejamos algumas lições que podemos retirar deste texto:

      O problema principal que aqui nos é posto é o da nossa relação com Deus.
Deus chama-nos a viver em aliança com Ele… Como é que nós respondemos ao
Seu chamado? Com uma adesão verdadeira e sincera, que implica a totalidade da
nossa vida, ou com um falso compromisso, sem exigência nem radicalidade?

        Como numa relação humana, também na nossa relação com Deus a rotina, a
monotonia, o cansaço, podem descolorir o amor. Entramos então num esquema
religioso de resposta a Deus, que se baseia em gestos rituais, talvez corretos do
ponto de vista litúrgico, mas que não são a expressão dos sentimentos do nosso
coração.

       João Wesley publicou vários de seus sermões. Seu objetivo era que os
pregadores metodistas aprendessem através de seus textos e pregassem o
Evangelho. Enquanto preparava este sermão, me veio à mente um dos sermões de
Wesley. É o de número 17 que ele intitulou de “A circuncisão do Coração”. Ele vai
afirmar que de nada adianta cumprir os ritos da lei (circuncisão), se o coração não
estiver sendo fiel no ato (circuncisão do coração).

       Podemos nos perguntar: Quando participamos do culto expressamos algumas
palavras porque são impostas pela liturgia, ou é a expressão verdadeira de nossa
louvor ao SENHOR?

    A nossa oração é um momento de repetir palavras “sagradas”, ou um
momento íntimo de encontro com o Senhor e de resposta ao seu amor?

      A Ceia do SENHOR é, para nós, um ritual obrigatório, que cumprimos
mensalmente para não ficarmos com peso da consciência, ou é um momento
fundamental de encontro com o Deus que nos dá a sua Palavra e o seu Pão?

      Somos chamados a viver de acordo com os preceitos do SENHOR. De nada
adianta um culto que não represente a vida, o nosso dia a dia.

      O que vemos através deste texto é que Deus é misericordioso, e se
desejamos viver conforme sua vontade, devemos exercer a misericórdia.

       Não basta apenas discursarmos sobre ela, somos chamados a vivê-la. Nossa
prática e nosso discurso devem estar em coerência.

       Portanto, se   servimos    a   um   Deus    misericordioso,   devemos   ser
misericordiosos.

      Que ao participarmos da Ceia do SENHOR nesta noite possamos nos
alimentar desta verdade, assumindo o compromisso de sermos um povo do coração
aquecido, que está disposto a aquecer outros corações.

      Que o povo metodista da IMCP seja um povo solidário.

      Que Deus nos abençoe!


                                                       Rev. Paulo Dias Nogueira
                                           IMCP – Culto Vespertino – 22/05//2005

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Misericórdia quero, não sacrifícios 05 06 2005 - 3 dom após o pentecostes - culto vespertino

  • 1. “MISERICÓRDIA QUERO, E NÃO SACRIFÍCIO, E O CONHECIMENTO DE DEUS, MAIS DO QUE HOLOCAUSTOS” INTRODUÇÃO: Queridos irmãos e irmãs... Segundo o Calendário Litúrgico estamos na segunda parte do Tempo Comum, no 3º Domingo após o Pentecostes. O fato de haver no Calendário Litúrgico o Tempo Comum, ressalta o significado de que Deus não é SENHOR somente das coisas extraordinárias, mas o é também do cotidiano, do dia a dia. O Lecionário Comum nos propõe as seguintes leituras bíblicas para hoje: 1ª Leitura: Oséias 6,3-6 2ª Leitura: Romanos 4,18-25 Evangelho: Mateus 9,9-13 A proposta é a de refletirmos sobre o fato de que Deus prefere a misericórdia ao invés do sacrifício. É um questionamento quanto a religiosidade superficial, um questionamento quanto as atitudes externas (liturgias e ritos) que não representam o verdadeiro sentimento do coração. Na 1ª leitura (Oséias 6,3-6) o profeta questiona a sinceridade do povo em seguir os preceitos de Deus. As liturgias do culto público, ainda que belas, não significam nada, se não houver amor (quer o amor a Deus, quer o amor ao próximo – que é a outra face do amor a Deus). Na 2ª leitura (Romanos 4,18-25) Paulo apresenta aos cristãos a única coisa essencial: a fé. A figura de Abraão é exemplar: aquilo que o tornou um modelo para todos, não foram suas obras, mas sim sua adesão total, incondicional, plena, a Deus e aos seus projetos. Na leitura do Evangelho (Mateus 9,9-13) encontramos um ensinamento sobre a resposta que devemos dar ao Deus que chama todos os homens, sem exceção. O exemplo de Mateus sugere que o decisivo, do ponto de vista de Deus, é a resposta pronta ao seu convite para integrar o Reino. Hoje somos convidados a refletir sobre o discurso e a prática. Como cristãos, nossa prática deve ser condizente ao nosso discurso. De nada adianta elaborarmos discursos e liturgias sobre os preceitos divinos, muito bem elaborados teologicamente, se não vivermos de forma condizentes a eles. Serão meras palavras. O texto de Oséias 6,3-6 é de grande valia para a nossa reflexão. Pois como metodistas, um dos pontos de nossa teologia é o equilíbrio entre os Atos de
  • 2. Piedade (relação vertical – nós e Deus) e as Obras de Misericórdia (relação horizontal – nós e o próximo). Portanto, convido-os neste instante a refletirmos sobre este texto bíblico. Ouçamos a leitura do texto sagrado. TEXTO: Oséias 5,15-6,6 15 Irei e voltarei para o meu lugar, até que se reconheçam culpados e busquem a minha face; estando eles angustiados, cedo me buscarão, dizendo: 1 Vinde, e tornemos para o SENHOR, porque ele nos despedaçou e nos sarará; fez a ferida e a ligará. 2 Depois de dois dias, nos revigorará; ao terceiro dia, nos levantará, e viveremos diante dele. 3 Conheçamos e prossigamos em conhecer ao SENHOR; como a alva, a sua vinda é certa; e ele descerá sobre nós como a chuva, como chuva serôdia que rega a terra. 4 Que te farei, ó Efraim? Que te farei, ó Judá? Porque o vosso amor é como a nuvem da manhã e como o orvalho da madrugada, que cedo passa. 5 Por isso, os abati por meio dos profetas; pela palavra da minha boca, os matei; e os meus juízos sairão como a luz. 6 Pois misericórdia quero, e não sacrifício, e o conhecimento de Deus, mais do que holocaustos. CONTEXTO Oseias exerceu o seu ministério profético no reino do Norte (Israel), a partir de 750 a.C., numa época de grande conturbação. Em termos políticos, foi uma fase marcada pela violência, insegurança e derramamento de muito sangue. Os reinados eram muito curtos e terminavam sempre em revoluções, assassinatos e massacres. Na tentativa de se manter no poder, alguns dirigentes assumiam alianças políticas com as potências da época. Isto causava uma grande instabilidade no Reino. Em 721 a.C. Israel vai ser invadida por Salamanasar V, da Assíria, perdendo assim a sua soberania nacional.
  • 3. Em termos religiosos, é uma época de grande confusão… Exposto à influência cultural e religiosa dos povos circunvizinhos, Israel acolhe diversos deuses estrangeiros. Misturam-se elementos do Culto ao SENHOR, com elemento do culto a Baal. Oséias sente profundamente o drama do sincretismo religioso que está pondo em perigo a fé do seu Povo. A sua mensagem é um apelo para que Israel não se deixe dominar pela idolatria (a que Oséias chama “prostituição”: o Povo é como uma “esposa” que abandonou o “marido” para correr atrás dos “amantes”). O profeta convoca o seu Povo a redescobrir o amor de Deus – sempre presente na história de Israel – e a responder-Lhe com uma vontade sincera de viver em comunhão com Ele. MENSAGEM Vejamos a mensagem do texto: No versículo 15, vemos uma expressão de Deus: “Irei e voltarei para o meu lugar, até que se reconheçam culpados e busquem a minha face; estando eles angustiados, cedo me buscarão”. No início do capítulo 6, o profeta coloca na boca do Povo uma fórmula de arrependimento ou de penitência, provavelmente tomada da tradição cultual: “vinde, voltemos para o Senhor: Ele nos despedaçou, Ele nos curará; Ele fez a ferida, Ele nos porá o penso que cura”. Contudo, o profeta olha para esta expressão com um olhar irónico… Porquê a conversão do Povo não é sincera. Haverá, por parte do Povo, um desejo real de voltar para Deus e de deixar definitivamente a idolatria? É a esta questão que Oséias levanta através deste texto. Ele parece ter dúvidas da sinceridade da “conversão” do Povo. O que Israel diz é: “o Senhor é como a aurora, pontual e inevitável, como a chuva que empapa a terra”. Já sabemos como é que Ele funciona, pois Ele é perfeitamente previsível; se soubermos fazer bem as coisas, podemos controlá-l’O, pô-l’O do nosso lado e recuperar a vida que perdemos (vers. 3). Isto parece mais o resultado de uma atitude calculista de quem está convencido de que conhece Deus perfeitamente e é capaz de manejá-l’O e de manipulá-l’O, do que o resultado de uma atitude coerente e sincera, de um desejo verdadeiro de “conversão”. A isto, como é que Deus reage?
  • 4. O profeta descreve como que uma luta interior de Deus… “Que farei?” – pergunta Deus… Mas logo vem a resposta: repetindo as imagens usadas pelo Povo, Deus assume que não vai ceder, pois essa “conversão” de Israel é totalmente superficial e, portanto, não passa de “conversa fiada” (“o vosso amor é como o nevoeiro da manhã, como o orvalho da madrugada que logo se evapora” – vers. 4). Israel não está disposto a mudar o coração; só está disposto a “controlar” Deus para readquirir a vida… Ora, se não houver uma verdadeira transformação do coração, o amor do Povo por Deus não passa de uma piedosa declaração de boas intenções. Como é que Israel manifesta no dia a dia a Deus essa sua vontade de “voltar para o Senhor”? É através de uma vida coerente com os mandamentos? É através de um amor que lhes sai do fundo do coração e que se expressa em gestos concretos de bondade, de justiça, de misericórdia? Não. O “amor” de Israel ao SENHOR expressa-se através de ritos externos, de atos de culto… No entanto, os atos rituais (os “sacrifícios”) não significam nada por si próprios; são apenas atos exteriores ao homem… Não valerá de nada um culto – ainda que belo – que não resulte de uma atitude interior de amor e de vontade de comunhão com Deus (“conhecimento de Deus”). O culto não pode ser um conjunto de ritos desligados da vida, destinados a aplacar Deus ou a comprar as suas bênçãos; mas tem de ser expressão de uma vida voltada para Ele, vivida ao ritmo da aliança, no respeito por Deus e pelas suas propostas. Dizer que Deus quer “a misericórdia (“hesed”) e não os sacrifícios, o conhecimento de Deus (“daat Elohim”), mais que os holocaustos” (vers. 6), insere-se nesta lógica… Significa que Deus não está interessado em rituais externos – mesmo que muito bem elaborados – que não sejam expressão dos sentimentos que vão no coração; o que interessa a Deus é um coração que aceita verdadeiramente viver em comunhão com Ele (“conhecimento de Deus”) e que é capaz de gestos concretos de amor, de ternura, de bondade, de misericórdia (“hesed”) em favor dos irmãos. CONCLUSÃO Vejamos algumas lições que podemos retirar deste texto: O problema principal que aqui nos é posto é o da nossa relação com Deus. Deus chama-nos a viver em aliança com Ele… Como é que nós respondemos ao Seu chamado? Com uma adesão verdadeira e sincera, que implica a totalidade da nossa vida, ou com um falso compromisso, sem exigência nem radicalidade? Como numa relação humana, também na nossa relação com Deus a rotina, a monotonia, o cansaço, podem descolorir o amor. Entramos então num esquema religioso de resposta a Deus, que se baseia em gestos rituais, talvez corretos do
  • 5. ponto de vista litúrgico, mas que não são a expressão dos sentimentos do nosso coração. João Wesley publicou vários de seus sermões. Seu objetivo era que os pregadores metodistas aprendessem através de seus textos e pregassem o Evangelho. Enquanto preparava este sermão, me veio à mente um dos sermões de Wesley. É o de número 17 que ele intitulou de “A circuncisão do Coração”. Ele vai afirmar que de nada adianta cumprir os ritos da lei (circuncisão), se o coração não estiver sendo fiel no ato (circuncisão do coração). Podemos nos perguntar: Quando participamos do culto expressamos algumas palavras porque são impostas pela liturgia, ou é a expressão verdadeira de nossa louvor ao SENHOR? A nossa oração é um momento de repetir palavras “sagradas”, ou um momento íntimo de encontro com o Senhor e de resposta ao seu amor? A Ceia do SENHOR é, para nós, um ritual obrigatório, que cumprimos mensalmente para não ficarmos com peso da consciência, ou é um momento fundamental de encontro com o Deus que nos dá a sua Palavra e o seu Pão? Somos chamados a viver de acordo com os preceitos do SENHOR. De nada adianta um culto que não represente a vida, o nosso dia a dia. O que vemos através deste texto é que Deus é misericordioso, e se desejamos viver conforme sua vontade, devemos exercer a misericórdia. Não basta apenas discursarmos sobre ela, somos chamados a vivê-la. Nossa prática e nosso discurso devem estar em coerência. Portanto, se servimos a um Deus misericordioso, devemos ser misericordiosos. Que ao participarmos da Ceia do SENHOR nesta noite possamos nos alimentar desta verdade, assumindo o compromisso de sermos um povo do coração aquecido, que está disposto a aquecer outros corações. Que o povo metodista da IMCP seja um povo solidário. Que Deus nos abençoe! Rev. Paulo Dias Nogueira IMCP – Culto Vespertino – 22/05//2005