SlideShare una empresa de Scribd logo
1 de 8
Descargar para leer sin conexión
Cap´ıtulo 5
Trigonometria esf´erica
A astronomia esf´erica, ou astronomia de posi¸c˜ao, diz respeito, fundamental-
mente, `as dire¸c˜oes nas quais os astros s˜ao vistos, sem se preocupar com sua
distˆancia. ´E conveniente expressar essas dire¸c˜oes em termos das posi¸c˜oes
sobre a superf´ıcie de uma esfera – a esfera celeste. Essas posi¸c˜oes s˜ao medi-
das unicamente em ˆangulos. Dessa forma, o raio da esfera, que ´e totalmente
arbitr´ario, n˜ao entra nas equa¸c˜oes.
5.1 Defini¸c˜oes b´asicas
Se um plano passa pelo centro de uma esfera, ele a dividir´a em dois he-
misf´erios idˆenticos, ao longo de um grande c´ırculo, ou c´ırculo m´aximo. Qual-
quer plano que corta a esfera sem passar pelo seu centro a intercepta em um
c´ırculo menor ou pequeno.
Quando dois c´ırculos m´aximos se interceptam em um ponto, formam
entre si um ˆangulo esf´erico. A medida de um ˆangulo esf´erico ´e igual a
medida do ˆangulo plano entre as tangentes dos dois arcos que o formam.
Um ˆangulo esf´erico tamb´em ´e medido pelo arco esf´erico correspondente,
que ´e o arco de um c´ırculo m´aximo contido entre os dois lados do ˆangulo
esf´erico e distantes 90◦ de seu v´ertice. A medida de um arco esf´erico, por
sua vez, ´e igual ao ˆangulo que ele subentende no centro da circunferˆencia.
5.2 Triˆangulos esf´ericos
Um triˆangulo esf´erico n˜ao ´e qualquer figura de trˆes lados sobre a esfera; seus
lados devem ser arcos de grandes c´ırculos, ou seja, arcos esf´ericos. Denota-
25
mos os ˆangulos de um triˆangulo esf´erico por letras mai´usculas (A,B,C), e os
seus lados por letras min´usculas (a,b,c).
C
A
Ba
c
b
5.2.1 Propriedades dos triˆangulos esf´ericos
1. A soma dos ˆangulos de um triˆangulo esf´erico ´e sempre maior que 180
graus e menor do que 540 graus e n˜ao ´e constante, dependendo do
triˆangulo. De fato, o excesso a 180 graus ´e diretamente proporcional
`a ´area do triˆangulo.
2. A soma dos lados de um triˆangulos esf´erico ´e maior do que zero e
menor do que 180 graus.
3. Os lados maiores est˜ao opostos aos ˆangulos maiores no triˆangulo.
4. A soma de dois lados do triˆangulo ´e sempre maior do que o terceiro
lado, e a diferen¸ca ´e sempre menor.
5. Cada um dos lados do triˆangulo ´e menor do que 180 graus e isso se
aplica tamb´em aos ˆangulos.
5.2.2 Solu¸c˜ao de triˆangulos esf´ericos
Ao contr´ario da trigonometria plana, n˜ao ´e suficiente conhecer dois ˆangulos
para resolver o triˆangulo. ´E sempre necess´ario conhecer no m´ınimo trˆes
26
elementos: ou trˆes ˆangulos, ou trˆes lados, ou dois lados e um ˆangulo, ou um
ˆangulo e dois lados.
Seja ABC um triˆangulo esf´erico como na figura, chamando os lados BC
de a, CA de b e AB de c. O lado a mede o ˆangulo BOC subentendido no
centro da esfera O pelo arco de grande c´ırculo BC. Similarmente, b ´e medido
pelo ˆangulo AOC e c pelo ˆangulo AOB. Seja AD a tangente em A do grande
c´ırculo AB, e AE a tangente em A do grande c´ırculo AC. Neste caso, a reta
OA ´e perpendicular a AD e AE. Por constru¸c˜ao, AD est´a no plano do grande
c´ırculo AB. Portanto, extendendo a reta OB, ela interceptar´a a tangente AD
no ponto D. E OC interceptar´a a tangente AE em E. O ˆangulo esf´erico BAC
´e definido como o ˆangulo entre as tangentes, em A, aos grandes c´ırculos AB
e AC. Logo, BAC=DAE e chamamos de A.
No triˆangulo plano OAD, o ˆangulo OAD ´e 90o e o ˆangulo AOD ´e idˆentico
ao ˆangulo AOB, que chamamos de c. Portanto
AD = OA tan c
OD = OA sec c
Do triˆangulo plano OAE podemos deduzir
AE = OA tan b
OE = OA sec b
E do triˆangulo plano DAE temos
DE2
= AD2
+ AE2
− 2AD · AE cos DAE
ou
DE2
= OA2
[tan2
c + tan2
b − 2 tan b tan c cos A]
Do triˆangulo plano DOE
DE2
= OD2
+ OE2
− 2OD · OE cos DOE
Como DOE=BOC=a,
DE2
= OA2
[sec2
c + sec2
b − 2 sec b sec c cos a]
das quais obtemos
sec2
c + sec2
b − 2 sec b sec c cos a = tan2
c + tan2
b − 2 tan b tan c cos A
27
Como
sec2
c = 1 + tan2
c
sec2
b = 1 + tan2
b
obtemos
cos a = cos b cos c + senb senc cos A
As f´ormulas principais para a solu¸c˜ao dos triˆangulos esf´ericos s˜ao:
F´ormula dos cossenos:
cos a = cos b cos c + sen b sen c cos A
F´ormula dos senos:
sen a
sen A
=
sen b
sen B
=
sen c
sen C
5.3 O triˆangulo de posi¸c˜ao
Denomina-se triˆangulo de posi¸c˜ao o triˆangulo esf´erico situado na esfera ce-
leste cujos v´ertices s˜ao o p´olo elevado, o astro e o zˆenite.
Os lados e ˆangulos do triˆangulo de posi¸c˜ao s˜ao:
• arco entre o zˆenite e o p´olo = 90◦ - |φ|
• arco entre o zˆenite e astro = z
28
• arco entre o p´olo e o astro = 90◦ - |δ|
• ˆangulo com v´ertice no zˆenite = A (no Hemisf´erio Norte) ou A - 180◦
(no Hemisf´erio Sul)
• ˆangulo com v´ertice no p´olo = H
• ˆangulo com v´ertice na estrela
O triˆangulo de posi¸c˜ao ´e usado para derivar as coordenadas do astro
quando conhecida a posi¸c˜ao geogr´afica do lugar, ou determinar as coor-
denadas geogr´aficas do lugar quando conhecidas as coordenadas do astro.
Tamb´em permite fazer as transforma¸c˜oes de um sistema de coordenadas
para outro.
Rela¸c˜oes entre distˆancia zenital (z), azimute (A), ˆangulo hor´ario
(H), e declina¸c˜ao (δ)
Pela f´ormula dos cossenos, podemos tirar duas rela¸c˜oes b´asicas entre os
sistemas de coordenadas:
1.
cos z = cos(90◦
− φ)cos(90◦
− δ) + sen (90◦
− φ) sen (90◦
− δ) cos H
Donde:
cos z = sen φ sen δ + cos φ cos δ cos H
e:
cos H = cos z sec φ sec δ − tan φ tan δ
2.
cos(90◦
− δ) = cos(90◦
− φ) cos z + sen (90◦
− φ) sen z cos A
De modo que:
sen δ = sen φ cos z + cos φsenz cos A
e
cos A = sen δ csc z sec φ − tan φ cot z
29
5.4 Algumas aplica¸c˜oes:
5.4.1 ˆAngulo hor´ario no ocaso
Determinar o ˆangulo hor´ario no ocaso (z = 90◦) para uma estrela de de-
clina¸c˜ao δ, em um local de latitude φ.
cos ZF = cos PZ cos PF + sen PZ sen PF cos ZPF
ou
cos 90◦
= sen φ sen δ + cos φ cos δ cos H
ou seja:
cos H = − tan φ tan δ
Com essa f´ormula podemos calcular, por exemplo, quanto tempo o Sol per-
manece acima do horizonte em um certo local e em certa data do ano, pois,
para qualquer astro, o tempo de permanˆencia acima do horizonte ser´a duas
vezes o ˆangulo hor´ario desse astro no momento do nascer ou ocaso.
Sol acima do horizonte
Quanto tempo o Sol permanece acima do horizonte, em Porto Alegre (φ =
−30◦), no dia do solst´ıcio de ver˜ao no HS (δ = −23◦27 ).
Especificamente em Porto Alegre, o Sol estar´a acima do horizonte apro-
ximadamente 14 h e 10 min em 21 de dezembro, e 10 h e 10 min em 21 de
junho. Note que a diferen¸ca de 10 minutos ´e devido `a defini¸c˜ao de que o dia
come¸ca com a borda superior do Sol no horizonte e termina com a borda
superior do Sol no horizonte, e n˜ao o centro do disco solar, como assumido
na f´ormula anterior.
O azimute do astro no nascer (ou ocaso) tamb´em pode ser deduzido da
figura:
cos A = sen δ sec φ
cos A = sen (−23◦
27 ) sec(30◦
) = −0, 46
Logo, A = 117◦ (243◦), o que significa entre o leste (A = 90◦) e o sul
(A = 180◦).
5.4.2 Determinar a separa¸c˜ao angular entre duas estrelas.
A separa¸c˜ao angular entre duas estrelas ´e a distˆancia medida ao longo do
c´ırculo m´aximo passando pelas duas estrelas. Sejam A e B as duas estrelas,
e sejam αA, δA, αB e δB as suas coordenadas.
30
Podemos construir um triˆangulo esf´erico em que um dos lados seja a
separa¸c˜ao angular entre elas e os outros dois lados sejam as suas distˆancias
polares, ou seja, os arcos ao longo dos meridianos das estrelas desde o p´olo
(P) at´e as estrelas. Pela f´ormula dos cossenos temos:
δΑ
δΒ
αΑ−αΒ
Α
Β
cosAB = cosPA cosPB + sen PA sen PB cosAPB
Onde:
AB = distˆancia polar entre A e B
PA = distˆancia polar de A = 90◦
− δA
PB = distˆancia polar de B = 90◦
− δB
APB = ˆangulo entre o meridiano de A e o meridiano de B = αA − αB
E portanto:
cos PA = sen δA
cos PB = sen δB
sen PA = cos δA
sen PB = cos δB
31
cos APB = cos (αA − αB)
E finalmente:
cos AB = senδA senδB + cos δA cos δB cos(αA − αB)
Exemplo:
Qual o tamanho da constela¸c˜ao do Cruzeiro do Sul, medido pelo eixo maior
da Cruz?
O eixo maior da Cruz ´e formado pelas estrelas Gacrux (α = 12h 31m 11s;
δ = −57◦ 07 ) e Acrux (α = 12h 26m 37s; δ = −63◦ 06 )
Chamando D o tamanho do eixo maior da Cruz, e aplicando a equa¸c˜ao
acima, temos:
cos D = senδGacrux senδAcrux + cos δGacrux cos δAcrux cos(αGacrux − αAcrux)
δGacrux = −57◦
07 = −57, 11◦
αGacrux = 12h 31m 11s = 187, 80◦
δAcrux = −63◦
06 = −63, 10◦
αAcrux = 12h 26m 37s = 186, 65◦
Substituindo esses valores na equa¸c˜ao temos:
cos D = sen (−57, 11◦
) sen (−63, 10◦
)+
+ cos (−57, 11◦
) cos (−63, 10◦
) cos(187, 80◦
− 186, 65◦
)
Portanto:
cos D = 0, 9945 ⇒ D = 6◦
32

Más contenido relacionado

La actualidad más candente

2 lista-de-exercicios-de-angulos-7-serie-8-ano
2 lista-de-exercicios-de-angulos-7-serie-8-ano2 lista-de-exercicios-de-angulos-7-serie-8-ano
2 lista-de-exercicios-de-angulos-7-serie-8-anoMarcio Santos
 
Círculo e circunferência
Círculo e circunferênciaCírculo e circunferência
Círculo e circunferênciamariacferreira
 
8971 circunferencia trigonometrica
8971 circunferencia trigonometrica8971 circunferencia trigonometrica
8971 circunferencia trigonometricaRobson Aguiar
 
Trigonometria no triângulo retângulo
Trigonometria no triângulo retânguloTrigonometria no triângulo retângulo
Trigonometria no triângulo retângulonaygno
 
Aula 01: Lugar Geométrico
Aula 01: Lugar GeométricoAula 01: Lugar Geométrico
Aula 01: Lugar GeométricoJosimar M. Rocha
 
Noções de geometria
Noções de geometriaNoções de geometria
Noções de geometriarosania39
 
Trigonometria sem mistérios - Primeiro Passo
Trigonometria sem mistérios -  Primeiro PassoTrigonometria sem mistérios -  Primeiro Passo
Trigonometria sem mistérios - Primeiro PassoOrientador
 
ângulos na circunferência
ângulos na circunferênciaângulos na circunferência
ângulos na circunferênciaLuiza Meneses
 
Razões trigonométricas no triângulo retângulo
Razões trigonométricas no triângulo retânguloRazões trigonométricas no triângulo retângulo
Razões trigonométricas no triângulo retânguloSandra Barreto
 
Origem da trigonometria
Origem da trigonometriaOrigem da trigonometria
Origem da trigonometriaisabelrorig
 
Geometria grafica 2014_tipo_a
Geometria grafica 2014_tipo_aGeometria grafica 2014_tipo_a
Geometria grafica 2014_tipo_aCarol Monteiro
 
âNgulos na circunferência
âNgulos na circunferênciaâNgulos na circunferência
âNgulos na circunferênciaRodrigo Carvalho
 
Ficha nº 2 ângulos
Ficha nº 2 ângulosFicha nº 2 ângulos
Ficha nº 2 ângulosruiseixas
 
Circunferências
CircunferênciasCircunferências
Circunferênciasinfoeducp2
 

La actualidad más candente (20)

Trigonometria
TrigonometriaTrigonometria
Trigonometria
 
Trigonometria
TrigonometriaTrigonometria
Trigonometria
 
2 lista-de-exercicios-de-angulos-7-serie-8-ano
2 lista-de-exercicios-de-angulos-7-serie-8-ano2 lista-de-exercicios-de-angulos-7-serie-8-ano
2 lista-de-exercicios-de-angulos-7-serie-8-ano
 
Trigonometria
TrigonometriaTrigonometria
Trigonometria
 
Círculo e circunferência
Círculo e circunferênciaCírculo e circunferência
Círculo e circunferência
 
Trigonometria
TrigonometriaTrigonometria
Trigonometria
 
8971 circunferencia trigonometrica
8971 circunferencia trigonometrica8971 circunferencia trigonometrica
8971 circunferencia trigonometrica
 
Trigonometria no triângulo retângulo
Trigonometria no triângulo retânguloTrigonometria no triângulo retângulo
Trigonometria no triângulo retângulo
 
Círculo e Circunferência
Círculo e Circunferência Círculo e Circunferência
Círculo e Circunferência
 
Aula 01: Lugar Geométrico
Aula 01: Lugar GeométricoAula 01: Lugar Geométrico
Aula 01: Lugar Geométrico
 
Noções de geometria
Noções de geometriaNoções de geometria
Noções de geometria
 
Trigonometria
TrigonometriaTrigonometria
Trigonometria
 
Trigonometria sem mistérios - Primeiro Passo
Trigonometria sem mistérios -  Primeiro PassoTrigonometria sem mistérios -  Primeiro Passo
Trigonometria sem mistérios - Primeiro Passo
 
ângulos na circunferência
ângulos na circunferênciaângulos na circunferência
ângulos na circunferência
 
Razões trigonométricas no triângulo retângulo
Razões trigonométricas no triângulo retânguloRazões trigonométricas no triângulo retângulo
Razões trigonométricas no triângulo retângulo
 
Origem da trigonometria
Origem da trigonometriaOrigem da trigonometria
Origem da trigonometria
 
Geometria grafica 2014_tipo_a
Geometria grafica 2014_tipo_aGeometria grafica 2014_tipo_a
Geometria grafica 2014_tipo_a
 
âNgulos na circunferência
âNgulos na circunferênciaâNgulos na circunferência
âNgulos na circunferência
 
Ficha nº 2 ângulos
Ficha nº 2 ângulosFicha nº 2 ângulos
Ficha nº 2 ângulos
 
Circunferências
CircunferênciasCircunferências
Circunferências
 

Destacado

Uncme manifesto cme curitiba
Uncme   manifesto cme curitibaUncme   manifesto cme curitiba
Uncme manifesto cme curitibauncmers
 
Libros recomendados para motivar el aprendizaje de las matematicas
Libros  recomendados  para   motivar  el  aprendizaje  de  las  matematicasLibros  recomendados  para   motivar  el  aprendizaje  de  las  matematicas
Libros recomendados para motivar el aprendizaje de las matematicasgrupocooperativo49
 
UNCME Clélia Santos
UNCME   Clélia SantosUNCME   Clélia Santos
UNCME Clélia Santosuncmers
 
1.07.14. bilan ede pep juin
1.07.14. bilan ede pep juin1.07.14. bilan ede pep juin
1.07.14. bilan ede pep juinFAESHAITI
 
Top de la s10 herramientas
Top de la s10 herramientasTop de la s10 herramientas
Top de la s10 herramientasacj
 
Digital memories
Digital memoriesDigital memories
Digital memoriesNick Hodge
 
DAd Perfil Profesional Karin BIA cristales femeninos
DAd Perfil Profesional Karin BIA cristales femeninosDAd Perfil Profesional Karin BIA cristales femeninos
DAd Perfil Profesional Karin BIA cristales femeninosKarin Bia
 
Ingilis dili 3 ismayilli 1 mirzayeva mehri elsad
Ingilis dili 3 ismayilli 1 mirzayeva mehri elsadIngilis dili 3 ismayilli 1 mirzayeva mehri elsad
Ingilis dili 3 ismayilli 1 mirzayeva mehri elsadmimio_azerbaijan
 
Gora Begira (Derrigorrezko Bigarren hezkuntza / Izar-eskola / Pamplonetario)
Gora Begira (Derrigorrezko Bigarren hezkuntza / Izar-eskola / Pamplonetario)Gora Begira (Derrigorrezko Bigarren hezkuntza / Izar-eskola / Pamplonetario)
Gora Begira (Derrigorrezko Bigarren hezkuntza / Izar-eskola / Pamplonetario)Planetario de Pamplona
 
IkasBitartekaritza zerbitzua (Gasteiz)
IkasBitartekaritza zerbitzua (Gasteiz)IkasBitartekaritza zerbitzua (Gasteiz)
IkasBitartekaritza zerbitzua (Gasteiz)Uxu Haizeorrazia
 
Trabajo grupal agenda 9 equipos de aprendizaje
Trabajo grupal agenda 9 equipos de aprendizajeTrabajo grupal agenda 9 equipos de aprendizaje
Trabajo grupal agenda 9 equipos de aprendizajegrupocooperativo49
 
Presentación1 resumen de un intruso en mi cuaderno diego
Presentación1 resumen de un intruso en mi cuaderno   diegoPresentación1 resumen de un intruso en mi cuaderno   diego
Presentación1 resumen de un intruso en mi cuaderno diegoluisablancovillanueva
 

Destacado (20)

Government As Venture Capitalist
Government As Venture CapitalistGovernment As Venture Capitalist
Government As Venture Capitalist
 
Quintana
QuintanaQuintana
Quintana
 
Eleições2
Eleições2Eleições2
Eleições2
 
Uncme manifesto cme curitiba
Uncme   manifesto cme curitibaUncme   manifesto cme curitiba
Uncme manifesto cme curitiba
 
Libros recomendados para motivar el aprendizaje de las matematicas
Libros  recomendados  para   motivar  el  aprendizaje  de  las  matematicasLibros  recomendados  para   motivar  el  aprendizaje  de  las  matematicas
Libros recomendados para motivar el aprendizaje de las matematicas
 
UNCME Clélia Santos
UNCME   Clélia SantosUNCME   Clélia Santos
UNCME Clélia Santos
 
1.07.14. bilan ede pep juin
1.07.14. bilan ede pep juin1.07.14. bilan ede pep juin
1.07.14. bilan ede pep juin
 
Top de la s10 herramientas
Top de la s10 herramientasTop de la s10 herramientas
Top de la s10 herramientas
 
Categorias maria
Categorias mariaCategorias maria
Categorias maria
 
La materia
La materiaLa materia
La materia
 
Momentos na Escola
Momentos na EscolaMomentos na Escola
Momentos na Escola
 
Digital memories
Digital memoriesDigital memories
Digital memories
 
DAd Perfil Profesional Karin BIA cristales femeninos
DAd Perfil Profesional Karin BIA cristales femeninosDAd Perfil Profesional Karin BIA cristales femeninos
DAd Perfil Profesional Karin BIA cristales femeninos
 
Novidade na essência
Novidade na essênciaNovidade na essência
Novidade na essência
 
Projeto huga
Projeto hugaProjeto huga
Projeto huga
 
Ingilis dili 3 ismayilli 1 mirzayeva mehri elsad
Ingilis dili 3 ismayilli 1 mirzayeva mehri elsadIngilis dili 3 ismayilli 1 mirzayeva mehri elsad
Ingilis dili 3 ismayilli 1 mirzayeva mehri elsad
 
Gora Begira (Derrigorrezko Bigarren hezkuntza / Izar-eskola / Pamplonetario)
Gora Begira (Derrigorrezko Bigarren hezkuntza / Izar-eskola / Pamplonetario)Gora Begira (Derrigorrezko Bigarren hezkuntza / Izar-eskola / Pamplonetario)
Gora Begira (Derrigorrezko Bigarren hezkuntza / Izar-eskola / Pamplonetario)
 
IkasBitartekaritza zerbitzua (Gasteiz)
IkasBitartekaritza zerbitzua (Gasteiz)IkasBitartekaritza zerbitzua (Gasteiz)
IkasBitartekaritza zerbitzua (Gasteiz)
 
Trabajo grupal agenda 9 equipos de aprendizaje
Trabajo grupal agenda 9 equipos de aprendizajeTrabajo grupal agenda 9 equipos de aprendizaje
Trabajo grupal agenda 9 equipos de aprendizaje
 
Presentación1 resumen de un intruso en mi cuaderno diego
Presentación1 resumen de un intruso en mi cuaderno   diegoPresentación1 resumen de un intruso en mi cuaderno   diego
Presentación1 resumen de un intruso en mi cuaderno diego
 

Similar a Trigonometria esférica e triângulos celestes

Geofísica
GeofísicaGeofísica
GeofísicaUFES
 
Aula introdução cartografia
Aula   introdução cartografiaAula   introdução cartografia
Aula introdução cartografiaOmar Fürst
 
geografia-6oanos-umepedroii-15_a_26-marco-2021.pdf
geografia-6oanos-umepedroii-15_a_26-marco-2021.pdfgeografia-6oanos-umepedroii-15_a_26-marco-2021.pdf
geografia-6oanos-umepedroii-15_a_26-marco-2021.pdfceir26
 
Astronomia e astrof´+¢sica parte 001
Astronomia e astrof´+¢sica parte 001Astronomia e astrof´+¢sica parte 001
Astronomia e astrof´+¢sica parte 001Thommas Kevin
 
O que estuda a trigonometria
O que estuda a trigonometriaO que estuda a trigonometria
O que estuda a trigonometriaisabelrorig
 
Aula-05_-_Trigonometria-no-triangulo-retangulo.pdf
Aula-05_-_Trigonometria-no-triangulo-retangulo.pdfAula-05_-_Trigonometria-no-triangulo-retangulo.pdf
Aula-05_-_Trigonometria-no-triangulo-retangulo.pdfRafaelVictorMorenoPo
 
Identificando os quadrantes do ciclo trigonométrico
Identificando os quadrantes do ciclo trigonométricoIdentificando os quadrantes do ciclo trigonométrico
Identificando os quadrantes do ciclo trigonométricotrigono_metria
 
Trigonometria radianos graus
Trigonometria radianos grausTrigonometria radianos graus
Trigonometria radianos graustrigono_metria
 
Circunferência trigonometrica apresentacao.ppt
Circunferência trigonometrica apresentacao.pptCircunferência trigonometrica apresentacao.ppt
Circunferência trigonometrica apresentacao.pptAntonioAdelmo1
 
Ciclo trigonometrico apresentacao e sua representação gráfica
Ciclo trigonometrico apresentacao e sua representação gráficaCiclo trigonometrico apresentacao e sua representação gráfica
Ciclo trigonometrico apresentacao e sua representação gráficaFabioFarias29
 
Cartografia2.
Cartografia2.Cartografia2.
Cartografia2.Professor
 
Amostra apostila-ibge-2011
Amostra apostila-ibge-2011Amostra apostila-ibge-2011
Amostra apostila-ibge-2011jjfneto83
 

Similar a Trigonometria esférica e triângulos celestes (20)

Geofísica
GeofísicaGeofísica
Geofísica
 
Aula introdução cartografia
Aula   introdução cartografiaAula   introdução cartografia
Aula introdução cartografia
 
geografia-6oanos-umepedroii-15_a_26-marco-2021.pdf
geografia-6oanos-umepedroii-15_a_26-marco-2021.pdfgeografia-6oanos-umepedroii-15_a_26-marco-2021.pdf
geografia-6oanos-umepedroii-15_a_26-marco-2021.pdf
 
Latitude
LatitudeLatitude
Latitude
 
Manual de sobrevivência - Vol: 6
Manual de sobrevivência - Vol: 6Manual de sobrevivência - Vol: 6
Manual de sobrevivência - Vol: 6
 
Paralaxe
ParalaxeParalaxe
Paralaxe
 
Astronomia e astrof´+¢sica parte 001
Astronomia e astrof´+¢sica parte 001Astronomia e astrof´+¢sica parte 001
Astronomia e astrof´+¢sica parte 001
 
O que estuda a trigonometria
O que estuda a trigonometriaO que estuda a trigonometria
O que estuda a trigonometria
 
Coordenadas equatoriais
Coordenadas equatoriaisCoordenadas equatoriais
Coordenadas equatoriais
 
Aula-05_-_Trigonometria-no-triangulo-retangulo.pdf
Aula-05_-_Trigonometria-no-triangulo-retangulo.pdfAula-05_-_Trigonometria-no-triangulo-retangulo.pdf
Aula-05_-_Trigonometria-no-triangulo-retangulo.pdf
 
Identificando os quadrantes do ciclo trigonométrico
Identificando os quadrantes do ciclo trigonométricoIdentificando os quadrantes do ciclo trigonométrico
Identificando os quadrantes do ciclo trigonométrico
 
Arcos e Ângulos
Arcos e Ângulos Arcos e Ângulos
Arcos e Ângulos
 
Trigonometria radianos graus
Trigonometria radianos grausTrigonometria radianos graus
Trigonometria radianos graus
 
Circunferência trigonometrica apresentacao.ppt
Circunferência trigonometrica apresentacao.pptCircunferência trigonometrica apresentacao.ppt
Circunferência trigonometrica apresentacao.ppt
 
Ciclo trigonometrico apresentacao e sua representação gráfica
Ciclo trigonometrico apresentacao e sua representação gráficaCiclo trigonometrico apresentacao e sua representação gráfica
Ciclo trigonometrico apresentacao e sua representação gráfica
 
Cartografia2.
Cartografia2.Cartografia2.
Cartografia2.
 
Geografia cartografia
Geografia cartografiaGeografia cartografia
Geografia cartografia
 
terra.ppt
terra.pptterra.ppt
terra.ppt
 
Cartografia Primeiros Anos
Cartografia Primeiros AnosCartografia Primeiros Anos
Cartografia Primeiros Anos
 
Amostra apostila-ibge-2011
Amostra apostila-ibge-2011Amostra apostila-ibge-2011
Amostra apostila-ibge-2011
 

Más de Thommas Kevin

Coment obf nivel3_3fase
Coment obf nivel3_3faseComent obf nivel3_3fase
Coment obf nivel3_3faseThommas Kevin
 
Coment obf nivel1_3fase
Coment obf nivel1_3faseComent obf nivel1_3fase
Coment obf nivel1_3faseThommas Kevin
 
Coment obf nivel2_3fase
Coment obf nivel2_3faseComent obf nivel2_3fase
Coment obf nivel2_3faseThommas Kevin
 
Unicamp2011 2fase 3dia_parte_001
Unicamp2011 2fase 3dia_parte_001Unicamp2011 2fase 3dia_parte_001
Unicamp2011 2fase 3dia_parte_001Thommas Kevin
 
Unicamp2002 2fase 2dia_parte_001
Unicamp2002 2fase 2dia_parte_001Unicamp2002 2fase 2dia_parte_001
Unicamp2002 2fase 2dia_parte_001Thommas Kevin
 
Unicamp2012 2fase 3dia_parte_001
Unicamp2012 2fase 3dia_parte_001Unicamp2012 2fase 3dia_parte_001
Unicamp2012 2fase 3dia_parte_001Thommas Kevin
 
Unicamp2010 2fase 3dia_parte_001
Unicamp2010 2fase 3dia_parte_001Unicamp2010 2fase 3dia_parte_001
Unicamp2010 2fase 3dia_parte_001Thommas Kevin
 
Unicamp2009 2fase 3dia_parte_001
Unicamp2009 2fase 3dia_parte_001Unicamp2009 2fase 3dia_parte_001
Unicamp2009 2fase 3dia_parte_001Thommas Kevin
 
Unicamp2008 2fase 3dia_parte_001
Unicamp2008 2fase 3dia_parte_001Unicamp2008 2fase 3dia_parte_001
Unicamp2008 2fase 3dia_parte_001Thommas Kevin
 
Unicamp2007 2fase 3dia_parte_001
Unicamp2007 2fase 3dia_parte_001Unicamp2007 2fase 3dia_parte_001
Unicamp2007 2fase 3dia_parte_001Thommas Kevin
 
Unicamp2006 2fase 3dia_parte_001
Unicamp2006 2fase 3dia_parte_001Unicamp2006 2fase 3dia_parte_001
Unicamp2006 2fase 3dia_parte_001Thommas Kevin
 
Unicamp2005 2fase 3dia_parte_001
Unicamp2005 2fase 3dia_parte_001Unicamp2005 2fase 3dia_parte_001
Unicamp2005 2fase 3dia_parte_001Thommas Kevin
 
Unicamp2004 2fase 3dia_parte_001
Unicamp2004 2fase 3dia_parte_001Unicamp2004 2fase 3dia_parte_001
Unicamp2004 2fase 3dia_parte_001Thommas Kevin
 
Unicamp2003 2fase 2dia_parte_001
Unicamp2003 2fase 2dia_parte_001Unicamp2003 2fase 2dia_parte_001
Unicamp2003 2fase 2dia_parte_001Thommas Kevin
 
Unicamp2002 2fase 2dia_parte_001
Unicamp2002 2fase 2dia_parte_001Unicamp2002 2fase 2dia_parte_001
Unicamp2002 2fase 2dia_parte_001Thommas Kevin
 
Unicamp2001 2fase 3dia_parte_001
Unicamp2001 2fase 3dia_parte_001Unicamp2001 2fase 3dia_parte_001
Unicamp2001 2fase 3dia_parte_001Thommas Kevin
 
Unicamp1998 2fase (1) parte_001
Unicamp1998 2fase (1) parte_001Unicamp1998 2fase (1) parte_001
Unicamp1998 2fase (1) parte_001Thommas Kevin
 
Unicamp2013 2fase 3dia_parte_001
Unicamp2013 2fase 3dia_parte_001Unicamp2013 2fase 3dia_parte_001
Unicamp2013 2fase 3dia_parte_001Thommas Kevin
 
Astronomia e astrof´+¢sica parte 001
Astronomia e astrof´+¢sica parte 001Astronomia e astrof´+¢sica parte 001
Astronomia e astrof´+¢sica parte 001Thommas Kevin
 

Más de Thommas Kevin (20)

01 parte 001
01 parte 00101 parte 001
01 parte 001
 
Coment obf nivel3_3fase
Coment obf nivel3_3faseComent obf nivel3_3fase
Coment obf nivel3_3fase
 
Coment obf nivel1_3fase
Coment obf nivel1_3faseComent obf nivel1_3fase
Coment obf nivel1_3fase
 
Coment obf nivel2_3fase
Coment obf nivel2_3faseComent obf nivel2_3fase
Coment obf nivel2_3fase
 
Unicamp2011 2fase 3dia_parte_001
Unicamp2011 2fase 3dia_parte_001Unicamp2011 2fase 3dia_parte_001
Unicamp2011 2fase 3dia_parte_001
 
Unicamp2002 2fase 2dia_parte_001
Unicamp2002 2fase 2dia_parte_001Unicamp2002 2fase 2dia_parte_001
Unicamp2002 2fase 2dia_parte_001
 
Unicamp2012 2fase 3dia_parte_001
Unicamp2012 2fase 3dia_parte_001Unicamp2012 2fase 3dia_parte_001
Unicamp2012 2fase 3dia_parte_001
 
Unicamp2010 2fase 3dia_parte_001
Unicamp2010 2fase 3dia_parte_001Unicamp2010 2fase 3dia_parte_001
Unicamp2010 2fase 3dia_parte_001
 
Unicamp2009 2fase 3dia_parte_001
Unicamp2009 2fase 3dia_parte_001Unicamp2009 2fase 3dia_parte_001
Unicamp2009 2fase 3dia_parte_001
 
Unicamp2008 2fase 3dia_parte_001
Unicamp2008 2fase 3dia_parte_001Unicamp2008 2fase 3dia_parte_001
Unicamp2008 2fase 3dia_parte_001
 
Unicamp2007 2fase 3dia_parte_001
Unicamp2007 2fase 3dia_parte_001Unicamp2007 2fase 3dia_parte_001
Unicamp2007 2fase 3dia_parte_001
 
Unicamp2006 2fase 3dia_parte_001
Unicamp2006 2fase 3dia_parte_001Unicamp2006 2fase 3dia_parte_001
Unicamp2006 2fase 3dia_parte_001
 
Unicamp2005 2fase 3dia_parte_001
Unicamp2005 2fase 3dia_parte_001Unicamp2005 2fase 3dia_parte_001
Unicamp2005 2fase 3dia_parte_001
 
Unicamp2004 2fase 3dia_parte_001
Unicamp2004 2fase 3dia_parte_001Unicamp2004 2fase 3dia_parte_001
Unicamp2004 2fase 3dia_parte_001
 
Unicamp2003 2fase 2dia_parte_001
Unicamp2003 2fase 2dia_parte_001Unicamp2003 2fase 2dia_parte_001
Unicamp2003 2fase 2dia_parte_001
 
Unicamp2002 2fase 2dia_parte_001
Unicamp2002 2fase 2dia_parte_001Unicamp2002 2fase 2dia_parte_001
Unicamp2002 2fase 2dia_parte_001
 
Unicamp2001 2fase 3dia_parte_001
Unicamp2001 2fase 3dia_parte_001Unicamp2001 2fase 3dia_parte_001
Unicamp2001 2fase 3dia_parte_001
 
Unicamp1998 2fase (1) parte_001
Unicamp1998 2fase (1) parte_001Unicamp1998 2fase (1) parte_001
Unicamp1998 2fase (1) parte_001
 
Unicamp2013 2fase 3dia_parte_001
Unicamp2013 2fase 3dia_parte_001Unicamp2013 2fase 3dia_parte_001
Unicamp2013 2fase 3dia_parte_001
 
Astronomia e astrof´+¢sica parte 001
Astronomia e astrof´+¢sica parte 001Astronomia e astrof´+¢sica parte 001
Astronomia e astrof´+¢sica parte 001
 

Trigonometria esférica e triângulos celestes

  • 1. Cap´ıtulo 5 Trigonometria esf´erica A astronomia esf´erica, ou astronomia de posi¸c˜ao, diz respeito, fundamental- mente, `as dire¸c˜oes nas quais os astros s˜ao vistos, sem se preocupar com sua distˆancia. ´E conveniente expressar essas dire¸c˜oes em termos das posi¸c˜oes sobre a superf´ıcie de uma esfera – a esfera celeste. Essas posi¸c˜oes s˜ao medi- das unicamente em ˆangulos. Dessa forma, o raio da esfera, que ´e totalmente arbitr´ario, n˜ao entra nas equa¸c˜oes. 5.1 Defini¸c˜oes b´asicas Se um plano passa pelo centro de uma esfera, ele a dividir´a em dois he- misf´erios idˆenticos, ao longo de um grande c´ırculo, ou c´ırculo m´aximo. Qual- quer plano que corta a esfera sem passar pelo seu centro a intercepta em um c´ırculo menor ou pequeno. Quando dois c´ırculos m´aximos se interceptam em um ponto, formam entre si um ˆangulo esf´erico. A medida de um ˆangulo esf´erico ´e igual a medida do ˆangulo plano entre as tangentes dos dois arcos que o formam. Um ˆangulo esf´erico tamb´em ´e medido pelo arco esf´erico correspondente, que ´e o arco de um c´ırculo m´aximo contido entre os dois lados do ˆangulo esf´erico e distantes 90◦ de seu v´ertice. A medida de um arco esf´erico, por sua vez, ´e igual ao ˆangulo que ele subentende no centro da circunferˆencia. 5.2 Triˆangulos esf´ericos Um triˆangulo esf´erico n˜ao ´e qualquer figura de trˆes lados sobre a esfera; seus lados devem ser arcos de grandes c´ırculos, ou seja, arcos esf´ericos. Denota- 25
  • 2. mos os ˆangulos de um triˆangulo esf´erico por letras mai´usculas (A,B,C), e os seus lados por letras min´usculas (a,b,c). C A Ba c b 5.2.1 Propriedades dos triˆangulos esf´ericos 1. A soma dos ˆangulos de um triˆangulo esf´erico ´e sempre maior que 180 graus e menor do que 540 graus e n˜ao ´e constante, dependendo do triˆangulo. De fato, o excesso a 180 graus ´e diretamente proporcional `a ´area do triˆangulo. 2. A soma dos lados de um triˆangulos esf´erico ´e maior do que zero e menor do que 180 graus. 3. Os lados maiores est˜ao opostos aos ˆangulos maiores no triˆangulo. 4. A soma de dois lados do triˆangulo ´e sempre maior do que o terceiro lado, e a diferen¸ca ´e sempre menor. 5. Cada um dos lados do triˆangulo ´e menor do que 180 graus e isso se aplica tamb´em aos ˆangulos. 5.2.2 Solu¸c˜ao de triˆangulos esf´ericos Ao contr´ario da trigonometria plana, n˜ao ´e suficiente conhecer dois ˆangulos para resolver o triˆangulo. ´E sempre necess´ario conhecer no m´ınimo trˆes 26
  • 3. elementos: ou trˆes ˆangulos, ou trˆes lados, ou dois lados e um ˆangulo, ou um ˆangulo e dois lados. Seja ABC um triˆangulo esf´erico como na figura, chamando os lados BC de a, CA de b e AB de c. O lado a mede o ˆangulo BOC subentendido no centro da esfera O pelo arco de grande c´ırculo BC. Similarmente, b ´e medido pelo ˆangulo AOC e c pelo ˆangulo AOB. Seja AD a tangente em A do grande c´ırculo AB, e AE a tangente em A do grande c´ırculo AC. Neste caso, a reta OA ´e perpendicular a AD e AE. Por constru¸c˜ao, AD est´a no plano do grande c´ırculo AB. Portanto, extendendo a reta OB, ela interceptar´a a tangente AD no ponto D. E OC interceptar´a a tangente AE em E. O ˆangulo esf´erico BAC ´e definido como o ˆangulo entre as tangentes, em A, aos grandes c´ırculos AB e AC. Logo, BAC=DAE e chamamos de A. No triˆangulo plano OAD, o ˆangulo OAD ´e 90o e o ˆangulo AOD ´e idˆentico ao ˆangulo AOB, que chamamos de c. Portanto AD = OA tan c OD = OA sec c Do triˆangulo plano OAE podemos deduzir AE = OA tan b OE = OA sec b E do triˆangulo plano DAE temos DE2 = AD2 + AE2 − 2AD · AE cos DAE ou DE2 = OA2 [tan2 c + tan2 b − 2 tan b tan c cos A] Do triˆangulo plano DOE DE2 = OD2 + OE2 − 2OD · OE cos DOE Como DOE=BOC=a, DE2 = OA2 [sec2 c + sec2 b − 2 sec b sec c cos a] das quais obtemos sec2 c + sec2 b − 2 sec b sec c cos a = tan2 c + tan2 b − 2 tan b tan c cos A 27
  • 4. Como sec2 c = 1 + tan2 c sec2 b = 1 + tan2 b obtemos cos a = cos b cos c + senb senc cos A As f´ormulas principais para a solu¸c˜ao dos triˆangulos esf´ericos s˜ao: F´ormula dos cossenos: cos a = cos b cos c + sen b sen c cos A F´ormula dos senos: sen a sen A = sen b sen B = sen c sen C 5.3 O triˆangulo de posi¸c˜ao Denomina-se triˆangulo de posi¸c˜ao o triˆangulo esf´erico situado na esfera ce- leste cujos v´ertices s˜ao o p´olo elevado, o astro e o zˆenite. Os lados e ˆangulos do triˆangulo de posi¸c˜ao s˜ao: • arco entre o zˆenite e o p´olo = 90◦ - |φ| • arco entre o zˆenite e astro = z 28
  • 5. • arco entre o p´olo e o astro = 90◦ - |δ| • ˆangulo com v´ertice no zˆenite = A (no Hemisf´erio Norte) ou A - 180◦ (no Hemisf´erio Sul) • ˆangulo com v´ertice no p´olo = H • ˆangulo com v´ertice na estrela O triˆangulo de posi¸c˜ao ´e usado para derivar as coordenadas do astro quando conhecida a posi¸c˜ao geogr´afica do lugar, ou determinar as coor- denadas geogr´aficas do lugar quando conhecidas as coordenadas do astro. Tamb´em permite fazer as transforma¸c˜oes de um sistema de coordenadas para outro. Rela¸c˜oes entre distˆancia zenital (z), azimute (A), ˆangulo hor´ario (H), e declina¸c˜ao (δ) Pela f´ormula dos cossenos, podemos tirar duas rela¸c˜oes b´asicas entre os sistemas de coordenadas: 1. cos z = cos(90◦ − φ)cos(90◦ − δ) + sen (90◦ − φ) sen (90◦ − δ) cos H Donde: cos z = sen φ sen δ + cos φ cos δ cos H e: cos H = cos z sec φ sec δ − tan φ tan δ 2. cos(90◦ − δ) = cos(90◦ − φ) cos z + sen (90◦ − φ) sen z cos A De modo que: sen δ = sen φ cos z + cos φsenz cos A e cos A = sen δ csc z sec φ − tan φ cot z 29
  • 6. 5.4 Algumas aplica¸c˜oes: 5.4.1 ˆAngulo hor´ario no ocaso Determinar o ˆangulo hor´ario no ocaso (z = 90◦) para uma estrela de de- clina¸c˜ao δ, em um local de latitude φ. cos ZF = cos PZ cos PF + sen PZ sen PF cos ZPF ou cos 90◦ = sen φ sen δ + cos φ cos δ cos H ou seja: cos H = − tan φ tan δ Com essa f´ormula podemos calcular, por exemplo, quanto tempo o Sol per- manece acima do horizonte em um certo local e em certa data do ano, pois, para qualquer astro, o tempo de permanˆencia acima do horizonte ser´a duas vezes o ˆangulo hor´ario desse astro no momento do nascer ou ocaso. Sol acima do horizonte Quanto tempo o Sol permanece acima do horizonte, em Porto Alegre (φ = −30◦), no dia do solst´ıcio de ver˜ao no HS (δ = −23◦27 ). Especificamente em Porto Alegre, o Sol estar´a acima do horizonte apro- ximadamente 14 h e 10 min em 21 de dezembro, e 10 h e 10 min em 21 de junho. Note que a diferen¸ca de 10 minutos ´e devido `a defini¸c˜ao de que o dia come¸ca com a borda superior do Sol no horizonte e termina com a borda superior do Sol no horizonte, e n˜ao o centro do disco solar, como assumido na f´ormula anterior. O azimute do astro no nascer (ou ocaso) tamb´em pode ser deduzido da figura: cos A = sen δ sec φ cos A = sen (−23◦ 27 ) sec(30◦ ) = −0, 46 Logo, A = 117◦ (243◦), o que significa entre o leste (A = 90◦) e o sul (A = 180◦). 5.4.2 Determinar a separa¸c˜ao angular entre duas estrelas. A separa¸c˜ao angular entre duas estrelas ´e a distˆancia medida ao longo do c´ırculo m´aximo passando pelas duas estrelas. Sejam A e B as duas estrelas, e sejam αA, δA, αB e δB as suas coordenadas. 30
  • 7. Podemos construir um triˆangulo esf´erico em que um dos lados seja a separa¸c˜ao angular entre elas e os outros dois lados sejam as suas distˆancias polares, ou seja, os arcos ao longo dos meridianos das estrelas desde o p´olo (P) at´e as estrelas. Pela f´ormula dos cossenos temos: δΑ δΒ αΑ−αΒ Α Β cosAB = cosPA cosPB + sen PA sen PB cosAPB Onde: AB = distˆancia polar entre A e B PA = distˆancia polar de A = 90◦ − δA PB = distˆancia polar de B = 90◦ − δB APB = ˆangulo entre o meridiano de A e o meridiano de B = αA − αB E portanto: cos PA = sen δA cos PB = sen δB sen PA = cos δA sen PB = cos δB 31
  • 8. cos APB = cos (αA − αB) E finalmente: cos AB = senδA senδB + cos δA cos δB cos(αA − αB) Exemplo: Qual o tamanho da constela¸c˜ao do Cruzeiro do Sul, medido pelo eixo maior da Cruz? O eixo maior da Cruz ´e formado pelas estrelas Gacrux (α = 12h 31m 11s; δ = −57◦ 07 ) e Acrux (α = 12h 26m 37s; δ = −63◦ 06 ) Chamando D o tamanho do eixo maior da Cruz, e aplicando a equa¸c˜ao acima, temos: cos D = senδGacrux senδAcrux + cos δGacrux cos δAcrux cos(αGacrux − αAcrux) δGacrux = −57◦ 07 = −57, 11◦ αGacrux = 12h 31m 11s = 187, 80◦ δAcrux = −63◦ 06 = −63, 10◦ αAcrux = 12h 26m 37s = 186, 65◦ Substituindo esses valores na equa¸c˜ao temos: cos D = sen (−57, 11◦ ) sen (−63, 10◦ )+ + cos (−57, 11◦ ) cos (−63, 10◦ ) cos(187, 80◦ − 186, 65◦ ) Portanto: cos D = 0, 9945 ⇒ D = 6◦ 32