SlideShare una empresa de Scribd logo
1 de 4
HENRIQUE GOMES DE LIMA
                                                                                   1

              UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ
                    CENTRO DE EDUCAÇÃO
 CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM METODOLOGIA DO ENSINO DE ARTE
     DISCIPLINA: FUNDAMENTOS ANTROPOLÓGICOS DA ARTE
            PROFESSOR: Dr. ALEXANDRE BARBALHO
               ALUNO: HENRIQUE GOMES DE LIMA


         Pensando a Arte como Sistema Cultural, a partir de Geertz


        As variações de um povo para outro e também de um indivíduo para
outro e de todas as demais capacidades humanas constituem uma experiência
coletiva que transcende no tempo e no espaço. A bagagem intelectual com a
qual ordenamos nossa experiência é muito variável e grande parte desta
bagagem é culturalmente relativa, pois é determinada pela sociedade.
        Nesse contexto as manifestações da Arte incorporam em sí um
significado cultural e que pode, partir de uma realidade local, buscar coro em
outros espaços e tempos. A compreensão dessa realidade, adquire um caráter
de sistema a partir do momento em que ao explorar a sensibilidade percebe-se
que sua formação é essencialmente coletiva e que suas bases são tão amplas
e tão profundas como a própria vida social. A ligação entre arte e vida coletiva
existe no plano simiótico e se materializam em uma forma de viver e traz ainda
um modelo específico de pensar o mundo e com este relacionar-se.
        Por isso, a cultura é vista pelo autor como um sistema simbólico,
oriundo da concepção simbólica da linguagem, por considerar que a presença
do homem no mundo não é imediata, mas mediatizada pela linguagem. Nesse
sistema, a linguagem desempenha funções de significação que estão na
origem das elaborações dos sentidos do homem no mundo ao expressar as
diferentes maneiras de sua relação com uma mesma realidade, e ao expressar
de uma mesma maneira a sua relação com realidades diferentes. Ao falar, o
homem não se limita a designar e a significar a sua relação com um mundo
preexistente; constrói também sentidos novos já que as palavras não são
etiquetas coladas a uma realidade singular, mas construções culturais
destinadas a mediatizar a relação do homem com o mundo. E é na elaboração
e construção desse mundo que a mediação com a realidade é feita sob os
auspícios de uma epistemologia do senso comum, visto por Geertz como um
sistema cultural, construído historicamente e, portanto, sujeito a padrões de
HENRIQUE GOMES DE LIMA
                                                                                    2

juízo também historicamente definidos e validados pela convicção de quem o
possui. Afirma o autor que: (...) “Tornar-se humano é tornar-se individual, e nós
nos tornamos individuais sob a direção dos padrões culturais, sistemas de
significação criados historicamente em termos dos quais damos forma, ordem,
objetivo e direção às nossas vidas. (...) Assim como a cultura nos modelou
como espécie única - e sem dúvida ainda nos está modelando - assim também
ela nos modela como indíviduos separados. É isso o que temos realmente em
comum - nem um ser subcultural imutável, nem um consenso de cruzamento
cultural estabelecido.” (GEERTZ,l989,p.64)
        Segundo Geertz, o argumento do senso comum não se baseia em
coisa alguma, a não ser na vida como um todo. Nesse caso, trabalha com a
sabedoria coloquial que julga e avalia a realidade com bom senso, ou seja, lida
com os problemas cotidianos com critério, inteligência, discernimento e reflexão
prévia. O senso comum é, dessa forma, um modo de ver o mundo, através da
aceitação desse mundo, dos seus objetos e dos seus processos exatamente
como se apresentam, como parecem ser. Há também um desejo de atuar
sobre esse mundo de forma a dirigi-lo para propósitos práticos, dominá-lo ou
ajustar-se a ele. Neste universo, nem totalmente material nem puramente
simbólico, ora fasto ora nefasto, cada coisa tem seu peso, seu lugar, seu
significado, sua qualidade, seu sentido. O bom senso, assim, é uma
capacidade que o sujeito possui de captar as realidades básicas através da
experiência e de chegar a conclusões sensatas, sem fazer distinções entre a
ordem natural, o domínio da linguagem, o mundo da cultura e a esfera da
consciência individual. Não há diferenciação brusca e racional entre um
universo material e um universo simbólico, visto que as necessidades
orgânicas e as morais confundem-se no cotidiano da vida grupal, dando-lhe um
realismo prático, um senso vivo dos limites e das possibilidades de ação que
convergem para uma sabedoria cotidiana.
        Para Geertz, “A limitação da análise interpretativa na maior parte da
antropologia contemporânea ao aspecto supostamente mais ‘simbólico’ da
cultura é um mero preconceito, nascido da noção, também presenteada pelo
século XIX, de que o ‘simbólico’ se opõe ao ‘real’.(GEERTZ 1980:170)”. Em
sua obra, o autor propõe uma refiguraçãodo pensamento social deslocando a
análise dos produtos culturais de leis e instâncias para casos e interpretações
ao trabalhar com o que denomina uma etnografia do pensamento, isto é, como
HENRIQUE GOMES DE LIMA
                                                                                    3

as estruturas do pensamento mudam; como as províncias do pensamento são
demarcadas; como as normas de pensamento são mantidas; como os modelos
de pensamento são adquiridos e como o trabalho do pensamento é dividido
para compor o que ele denomina do processo da intersubjetividade dos sujeitos
da ação.
        Essa intersubjetividade é um traço objetivo, na medida em que não é
mais subjetividade do autor d a obra, nem tampouco, apenas a subjetividade
do apreciador, mas uma espécie de linguagem mediada dessas subjetividades.
O caráter objetivo da intersubjetividade, portanto, vem do fato de ela ser uma
mediação necessária entre objetividade e subjetividade, quando da situação de
interpretação. Diz ainda que: “a escrita fixa o significado do acontecimento: “um
pedaço da interpretação antropológica consiste em traçar a curva do discurso
social; fixá-lo numa forma analisável”. Geertz parte de Max Weber e de sua
concepção de cultura não codificável mas interpenetrável, para dizer que o
homem é um animal suspenso em teias de significados que ele mesmo tece ao
longo de sua existência social e histórica. São essas teias que definem a
cultura e sua análise não deve se constituir numa ciência experimental em
busca de leis, mas numa ciência interpretativa em busca de significados para
os sujeitos da ação.
        O entendimento desse sistema, “não como complexo de padrões
concretos de comportamentos - costumes, usos, tradições, feixes de hábitos -,
mas como um conjunto de mecanismos de controle - planos, receitas, regras,
instruções, programas e pré-programas - para governar o comportamento. O
homem é precisamente o animal mais dependente de tais mecanismos de
controle, extragenéticos, fora da pele, de tais programas culturais, para ordenar
seu comportamento”. A seu ver, a cultura engloba, no interior da prática
cultural, todo um conjunto de códigos e convenções simbólicas onde as
mediações são feitas, fundamentando relações de sentidos explícitos e
implícitos, segundo os significados dados em cada momento. É em função
disso que a cultura pressupõe que um campo semântico seja partilhado para
que possa ser lida e seus sentidos interpretados, mesmo numa leitura de
segunda mão, por sobre os ombros, isto é a leitura de uma leitura.
        Para o autor interessa perguntar não qual o status ontológico de um
fenômeno, mas o que foi transmitido com a ocorrência de cada teia dentro do
sistema simbólico. Onde e para quem cada teia diz o que, em que momento,
HENRIQUE GOMES DE LIMA
                                                                                4

com qual intenção? Neste caso, a cultura - a totalidade acumulada de padrões
culturais - em vez de ser acrescentada a um animal acabado, é um ingrediente
essencial na produção desse mesmo animal. A cultura fornece o vínculo entre
o que os homens são intrinsecamente capazes de se tornar e o que cada um
efetivamente se torna. O autor trabalha na direção de uma antropologia
interpretativa e propõe uma definição de cultura, a partir da noção de homem,
numa tentativa de resolver o paradoxo entre a idéia de uma imensa variedade
cultural em contraste com a idéia de uma espécie humana única. Para isto,
refuta tanto a idéia de uma forma ideal e essencial de homem natural, dotado
de habilidades inatas, proposta pelo iluminismo, quanto a idéia de um
homemconsensual (e, como consequência, a noção de consensus gentium),
relacionada ao comportamento real, proposta pela antropologia clássica.
        Conclui-se portanto, que as rugosidades do espaço e as impressões
materiais e imateriais nele postas, constituem um complexo sistema de
significados e que têm na arte uma das formas de se manifestar.

Más contenido relacionado

La actualidad más candente

A analise pragmatica_da_narrativa_jornal
A analise pragmatica_da_narrativa_jornalA analise pragmatica_da_narrativa_jornal
A analise pragmatica_da_narrativa_jornalcjaraujo2
 
Seminário de historia e memória -
Seminário de historia e memória - Seminário de historia e memória -
Seminário de historia e memória - Cristiano Gomes Lopes
 
Entre praticas e_representacoes_os_folhetins_nos_anos_sessenta
Entre praticas e_representacoes_os_folhetins_nos_anos_sessentaEntre praticas e_representacoes_os_folhetins_nos_anos_sessenta
Entre praticas e_representacoes_os_folhetins_nos_anos_sessentaSilvana Oliveira
 
122949157 oliveirafilho-a-cultura-na-modernidade-tardia
122949157 oliveirafilho-a-cultura-na-modernidade-tardia122949157 oliveirafilho-a-cultura-na-modernidade-tardia
122949157 oliveirafilho-a-cultura-na-modernidade-tardiaDany Pereira
 
Mídia, educação e cultura
Mídia, educação e culturaMídia, educação e cultura
Mídia, educação e culturagutopina2
 
Matriz de referência pas 3° etapa
Matriz de referência pas 3° etapaMatriz de referência pas 3° etapa
Matriz de referência pas 3° etapaGuilherme Lima
 
Arte e literatura cacgm
Arte e literatura cacgmArte e literatura cacgm
Arte e literatura cacgmJoão Lima
 
Comentários contextuais acerca do texto “cultura y culturas desde la colonial...
Comentários contextuais acerca do texto “cultura y culturas desde la colonial...Comentários contextuais acerca do texto “cultura y culturas desde la colonial...
Comentários contextuais acerca do texto “cultura y culturas desde la colonial...ajr_tyler
 
Desenhando na Amazônia: Mediações educativo-culturais entre imagem e imaginário
Desenhando na Amazônia: Mediações educativo-culturais entre imagem e imaginárioDesenhando na Amazônia: Mediações educativo-culturais entre imagem e imaginário
Desenhando na Amazônia: Mediações educativo-culturais entre imagem e imagináriocmarinho1
 
505. fenomenologia da literatura de auto ajuda financeira e subjetividade
505. fenomenologia da literatura de auto ajuda financeira e subjetividade505. fenomenologia da literatura de auto ajuda financeira e subjetividade
505. fenomenologia da literatura de auto ajuda financeira e subjetividadeUFMA Universidade Federal do Maranhão
 
Teoria da literatura - Eagleton
Teoria da literatura - Eagleton Teoria da literatura - Eagleton
Teoria da literatura - Eagleton Fabian Muñoz
 
Sobre o problema da tipologia da cultura
Sobre o problema da tipologia da culturaSobre o problema da tipologia da cultura
Sobre o problema da tipologia da culturavinivs
 
Disculta aproximações e afastamentos entre marshal sahlins e hortner (salvo a...
Disculta aproximações e afastamentos entre marshal sahlins e hortner (salvo a...Disculta aproximações e afastamentos entre marshal sahlins e hortner (salvo a...
Disculta aproximações e afastamentos entre marshal sahlins e hortner (salvo a...Willian Rozendo
 
Dissertao -rubens_gomes_lacerda
Dissertao  -rubens_gomes_lacerdaDissertao  -rubens_gomes_lacerda
Dissertao -rubens_gomes_lacerdaSandra Oliveira
 

La actualidad más candente (19)

A analise pragmatica_da_narrativa_jornal
A analise pragmatica_da_narrativa_jornalA analise pragmatica_da_narrativa_jornal
A analise pragmatica_da_narrativa_jornal
 
Seminário de historia e memória -
Seminário de historia e memória - Seminário de historia e memória -
Seminário de historia e memória -
 
Entre praticas e_representacoes_os_folhetins_nos_anos_sessenta
Entre praticas e_representacoes_os_folhetins_nos_anos_sessentaEntre praticas e_representacoes_os_folhetins_nos_anos_sessenta
Entre praticas e_representacoes_os_folhetins_nos_anos_sessenta
 
122949157 oliveirafilho-a-cultura-na-modernidade-tardia
122949157 oliveirafilho-a-cultura-na-modernidade-tardia122949157 oliveirafilho-a-cultura-na-modernidade-tardia
122949157 oliveirafilho-a-cultura-na-modernidade-tardia
 
Mídia, educação e cultura
Mídia, educação e culturaMídia, educação e cultura
Mídia, educação e cultura
 
Matriz de referência pas 3° etapa
Matriz de referência pas 3° etapaMatriz de referência pas 3° etapa
Matriz de referência pas 3° etapa
 
Faces da história
Faces da históriaFaces da história
Faces da história
 
Abordagens 0606
Abordagens 0606Abordagens 0606
Abordagens 0606
 
Arte e literatura cacgm
Arte e literatura cacgmArte e literatura cacgm
Arte e literatura cacgm
 
Terry eagleton cultura
Terry eagleton   culturaTerry eagleton   cultura
Terry eagleton cultura
 
Comentários contextuais acerca do texto “cultura y culturas desde la colonial...
Comentários contextuais acerca do texto “cultura y culturas desde la colonial...Comentários contextuais acerca do texto “cultura y culturas desde la colonial...
Comentários contextuais acerca do texto “cultura y culturas desde la colonial...
 
Desenhando na Amazônia: Mediações educativo-culturais entre imagem e imaginário
Desenhando na Amazônia: Mediações educativo-culturais entre imagem e imaginárioDesenhando na Amazônia: Mediações educativo-culturais entre imagem e imaginário
Desenhando na Amazônia: Mediações educativo-culturais entre imagem e imaginário
 
505. fenomenologia da literatura de auto ajuda financeira e subjetividade
505. fenomenologia da literatura de auto ajuda financeira e subjetividade505. fenomenologia da literatura de auto ajuda financeira e subjetividade
505. fenomenologia da literatura de auto ajuda financeira e subjetividade
 
Introdução entre o mito e a fronteira
Introdução entre o mito e a fronteiraIntrodução entre o mito e a fronteira
Introdução entre o mito e a fronteira
 
Teoria da literatura - Eagleton
Teoria da literatura - Eagleton Teoria da literatura - Eagleton
Teoria da literatura - Eagleton
 
Sobre o problema da tipologia da cultura
Sobre o problema da tipologia da culturaSobre o problema da tipologia da cultura
Sobre o problema da tipologia da cultura
 
Genre por ana_ale
Genre por ana_aleGenre por ana_ale
Genre por ana_ale
 
Disculta aproximações e afastamentos entre marshal sahlins e hortner (salvo a...
Disculta aproximações e afastamentos entre marshal sahlins e hortner (salvo a...Disculta aproximações e afastamentos entre marshal sahlins e hortner (salvo a...
Disculta aproximações e afastamentos entre marshal sahlins e hortner (salvo a...
 
Dissertao -rubens_gomes_lacerda
Dissertao  -rubens_gomes_lacerdaDissertao  -rubens_gomes_lacerda
Dissertao -rubens_gomes_lacerda
 

Destacado

As campanhas publicitárias da tock & stok à luz da teoria bakhtiniana dos gên...
As campanhas publicitárias da tock & stok à luz da teoria bakhtiniana dos gên...As campanhas publicitárias da tock & stok à luz da teoria bakhtiniana dos gên...
As campanhas publicitárias da tock & stok à luz da teoria bakhtiniana dos gên...Atitude Digital
 
Carta de um americano...
Carta de um americano...Carta de um americano...
Carta de um americano...Louana Pires
 
Panorama comercio exterior_mg-dezembro2012_preliminar
Panorama comercio exterior_mg-dezembro2012_preliminarPanorama comercio exterior_mg-dezembro2012_preliminar
Panorama comercio exterior_mg-dezembro2012_preliminarCentral Exportaminas
 
Sessão 7 actividade_2_análise e comentário à referência da be nos relatórios ige
Sessão 7 actividade_2_análise e comentário à referência da be nos relatórios igeSessão 7 actividade_2_análise e comentário à referência da be nos relatórios ige
Sessão 7 actividade_2_análise e comentário à referência da be nos relatórios igeAnaigreja
 
Porto Alegre Antiga
Porto Alegre AntigaPorto Alegre Antiga
Porto Alegre AntigaKarenbru
 
"Gestionar los aprovisionamientos, clave estratégica de la empresa" - TACTIOM...
"Gestionar los aprovisionamientos, clave estratégica de la empresa" - TACTIOM..."Gestionar los aprovisionamientos, clave estratégica de la empresa" - TACTIOM...
"Gestionar los aprovisionamientos, clave estratégica de la empresa" - TACTIOM...TACTIO
 
Tarefa 2 tabela relatorio_avaliacao_a1
Tarefa 2 tabela relatorio_avaliacao_a1Tarefa 2 tabela relatorio_avaliacao_a1
Tarefa 2 tabela relatorio_avaliacao_a1Anaigreja
 
Adolfo yanez casal cap.3 para uma epistemologia do discurso
Adolfo yanez casal   cap.3 para uma epistemologia do discursoAdolfo yanez casal   cap.3 para uma epistemologia do discurso
Adolfo yanez casal cap.3 para uma epistemologia do discursoRaquel Marcelino Viegas
 

Destacado (20)

As campanhas publicitárias da tock & stok à luz da teoria bakhtiniana dos gên...
As campanhas publicitárias da tock & stok à luz da teoria bakhtiniana dos gên...As campanhas publicitárias da tock & stok à luz da teoria bakhtiniana dos gên...
As campanhas publicitárias da tock & stok à luz da teoria bakhtiniana dos gên...
 
Carta de um americano...
Carta de um americano...Carta de um americano...
Carta de um americano...
 
Imperialismo
ImperialismoImperialismo
Imperialismo
 
Proposta para hoteis
Proposta para hoteisProposta para hoteis
Proposta para hoteis
 
Criação de campanha
Criação de campanhaCriação de campanha
Criação de campanha
 
Panorama comercio exterior_mg-dezembro2012_preliminar
Panorama comercio exterior_mg-dezembro2012_preliminarPanorama comercio exterior_mg-dezembro2012_preliminar
Panorama comercio exterior_mg-dezembro2012_preliminar
 
Sociologia
SociologiaSociologia
Sociologia
 
Sessão 7 actividade_2_análise e comentário à referência da be nos relatórios ige
Sessão 7 actividade_2_análise e comentário à referência da be nos relatórios igeSessão 7 actividade_2_análise e comentário à referência da be nos relatórios ige
Sessão 7 actividade_2_análise e comentário à referência da be nos relatórios ige
 
Porto Alegre Antiga
Porto Alegre AntigaPorto Alegre Antiga
Porto Alegre Antiga
 
Decreto lei n.º 137-2012
Decreto lei n.º 137-2012Decreto lei n.º 137-2012
Decreto lei n.º 137-2012
 
"Gestionar los aprovisionamientos, clave estratégica de la empresa" - TACTIOM...
"Gestionar los aprovisionamientos, clave estratégica de la empresa" - TACTIOM..."Gestionar los aprovisionamientos, clave estratégica de la empresa" - TACTIOM...
"Gestionar los aprovisionamientos, clave estratégica de la empresa" - TACTIOM...
 
Tarefa 2 tabela relatorio_avaliacao_a1
Tarefa 2 tabela relatorio_avaliacao_a1Tarefa 2 tabela relatorio_avaliacao_a1
Tarefa 2 tabela relatorio_avaliacao_a1
 
02. panorama comex mg fev2011
02. panorama comex mg fev201102. panorama comex mg fev2011
02. panorama comex mg fev2011
 
Hakumana
HakumanaHakumana
Hakumana
 
Adolfo yanez casal cap.3 para uma epistemologia do discurso
Adolfo yanez casal   cap.3 para uma epistemologia do discursoAdolfo yanez casal   cap.3 para uma epistemologia do discurso
Adolfo yanez casal cap.3 para uma epistemologia do discurso
 
Definiciones Recreacion, Ocio, Tiempo libre
Definiciones Recreacion, Ocio, Tiempo libreDefiniciones Recreacion, Ocio, Tiempo libre
Definiciones Recreacion, Ocio, Tiempo libre
 
Siscorpit
SiscorpitSiscorpit
Siscorpit
 
03. panorama comex mg mar2011
03. panorama comex mg mar201103. panorama comex mg mar2011
03. panorama comex mg mar2011
 
Diego
DiegoDiego
Diego
 
Trabalho de isomeria
Trabalho de isomeria Trabalho de isomeria
Trabalho de isomeria
 

Similar a A Arte como Sistema Cultural segundo Geertz

O paradigma da educação multicultural amazônica
O paradigma da educação multicultural amazônicaO paradigma da educação multicultural amazônica
O paradigma da educação multicultural amazônicaHebert Balieiro
 
Linguagem, pensamento e cultura na filosofia
Linguagem, pensamento e cultura na filosofiaLinguagem, pensamento e cultura na filosofia
Linguagem, pensamento e cultura na filosofiaequacao
 
Foucault aula 2
Foucault aula 2Foucault aula 2
Foucault aula 2jmarruda
 
O uso do conceito de cultura como exercício de poder - Bruno Carrasco
O uso do conceito de cultura como exercício de poder - Bruno CarrascoO uso do conceito de cultura como exercício de poder - Bruno Carrasco
O uso do conceito de cultura como exercício de poder - Bruno CarrascoBruno Carrasco
 
A antropologia
A antropologiaA antropologia
A antropologialukinha10
 
Como o ser humano se tornou ser humano
Como o ser humano se tornou ser humanoComo o ser humano se tornou ser humano
Como o ser humano se tornou ser humanoAndressa Joao Bidoia
 
Antropologia da Comunicação
Antropologia da ComunicaçãoAntropologia da Comunicação
Antropologia da ComunicaçãoDaniel Buchmann
 
Questionario
QuestionarioQuestionario
QuestionarioNenycv
 
introdução chartier - metodologia.pptx
introdução chartier - metodologia.pptxintrodução chartier - metodologia.pptx
introdução chartier - metodologia.pptxJooBraatz1
 
Historia fontes historicas
Historia fontes historicasHistoria fontes historicas
Historia fontes historicasLoredana Ruffo
 
CULTURA E IDEOLOGIA [Salvo automaticamente].ppt
CULTURA E IDEOLOGIA   [Salvo automaticamente].pptCULTURA E IDEOLOGIA   [Salvo automaticamente].ppt
CULTURA E IDEOLOGIA [Salvo automaticamente].pptAdelmaFerreiradeSouz
 
Cultura e Sociedade - Texto de Apoio.pdf
Cultura e Sociedade - Texto de Apoio.pdfCultura e Sociedade - Texto de Apoio.pdf
Cultura e Sociedade - Texto de Apoio.pdfaulasgege
 

Similar a A Arte como Sistema Cultural segundo Geertz (20)

O paradigma da educação multicultural amazônica
O paradigma da educação multicultural amazônicaO paradigma da educação multicultural amazônica
O paradigma da educação multicultural amazônica
 
Eti cid sus_09_pdf
Eti cid sus_09_pdfEti cid sus_09_pdf
Eti cid sus_09_pdf
 
Linguagem, pensamento e cultura na filosofia
Linguagem, pensamento e cultura na filosofiaLinguagem, pensamento e cultura na filosofia
Linguagem, pensamento e cultura na filosofia
 
Foucault aula 2
Foucault aula 2Foucault aula 2
Foucault aula 2
 
Paper sociologia urbana
Paper sociologia urbanaPaper sociologia urbana
Paper sociologia urbana
 
O uso do conceito de cultura como exercício de poder - Bruno Carrasco
O uso do conceito de cultura como exercício de poder - Bruno CarrascoO uso do conceito de cultura como exercício de poder - Bruno Carrasco
O uso do conceito de cultura como exercício de poder - Bruno Carrasco
 
Relativizando- da matta
Relativizando- da matta Relativizando- da matta
Relativizando- da matta
 
A antropologia
A antropologiaA antropologia
A antropologia
 
Cp aula 4
Cp aula 4Cp aula 4
Cp aula 4
 
Como o ser humano se tornou ser humano
Como o ser humano se tornou ser humanoComo o ser humano se tornou ser humano
Como o ser humano se tornou ser humano
 
Antropologia
AntropologiaAntropologia
Antropologia
 
Antropologia
AntropologiaAntropologia
Antropologia
 
Antropologia da Comunicação
Antropologia da ComunicaçãoAntropologia da Comunicação
Antropologia da Comunicação
 
éTica e serviço social
éTica e serviço socialéTica e serviço social
éTica e serviço social
 
Geografia cultural
Geografia culturalGeografia cultural
Geografia cultural
 
Questionario
QuestionarioQuestionario
Questionario
 
introdução chartier - metodologia.pptx
introdução chartier - metodologia.pptxintrodução chartier - metodologia.pptx
introdução chartier - metodologia.pptx
 
Historia fontes historicas
Historia fontes historicasHistoria fontes historicas
Historia fontes historicas
 
CULTURA E IDEOLOGIA [Salvo automaticamente].ppt
CULTURA E IDEOLOGIA   [Salvo automaticamente].pptCULTURA E IDEOLOGIA   [Salvo automaticamente].ppt
CULTURA E IDEOLOGIA [Salvo automaticamente].ppt
 
Cultura e Sociedade - Texto de Apoio.pdf
Cultura e Sociedade - Texto de Apoio.pdfCultura e Sociedade - Texto de Apoio.pdf
Cultura e Sociedade - Texto de Apoio.pdf
 

Más de HENRIQUE GOMES DE LIMA

Más de HENRIQUE GOMES DE LIMA (12)

Desafio National Geographic 2009 1ª fase
Desafio National Geographic  2009   1ª faseDesafio National Geographic  2009   1ª fase
Desafio National Geographic 2009 1ª fase
 
Desafio national geographic 2010 prova 1ª fase
Desafio national geographic 2010 prova 1ª faseDesafio national geographic 2010 prova 1ª fase
Desafio national geographic 2010 prova 1ª fase
 
Projeto gema
Projeto gema Projeto gema
Projeto gema
 
Resumos sobre urbanização
Resumos sobre urbanizaçãoResumos sobre urbanização
Resumos sobre urbanização
 
Metodologia de aula de campo
Metodologia de aula de campoMetodologia de aula de campo
Metodologia de aula de campo
 
Análise ambiental
Análise ambientalAnálise ambiental
Análise ambiental
 
Seminários história da arte nota 10,0
Seminários história da arte   nota 10,0Seminários história da arte   nota 10,0
Seminários história da arte nota 10,0
 
Metodologia do ensino das artes visuais
Metodologia do ensino das artes visuais   Metodologia do ensino das artes visuais
Metodologia do ensino das artes visuais
 
Cultura popular uma reflexão necessária
Cultura popular uma reflexão necessáriaCultura popular uma reflexão necessária
Cultura popular uma reflexão necessária
 
Teorias da criatividade
Teorias da criatividade Teorias da criatividade
Teorias da criatividade
 
Fund. filosóficos e sociológicos da arte nota 10,0
Fund. filosóficos e sociológicos da arte   nota 10,0Fund. filosóficos e sociológicos da arte   nota 10,0
Fund. filosóficos e sociológicos da arte nota 10,0
 
Curriculo Breve HistóRico Na Prefeitura De Fortaleza
Curriculo  Breve HistóRico Na Prefeitura De FortalezaCurriculo  Breve HistóRico Na Prefeitura De Fortaleza
Curriculo Breve HistóRico Na Prefeitura De Fortaleza
 

A Arte como Sistema Cultural segundo Geertz

  • 1. HENRIQUE GOMES DE LIMA 1 UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ CENTRO DE EDUCAÇÃO CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM METODOLOGIA DO ENSINO DE ARTE DISCIPLINA: FUNDAMENTOS ANTROPOLÓGICOS DA ARTE PROFESSOR: Dr. ALEXANDRE BARBALHO ALUNO: HENRIQUE GOMES DE LIMA Pensando a Arte como Sistema Cultural, a partir de Geertz As variações de um povo para outro e também de um indivíduo para outro e de todas as demais capacidades humanas constituem uma experiência coletiva que transcende no tempo e no espaço. A bagagem intelectual com a qual ordenamos nossa experiência é muito variável e grande parte desta bagagem é culturalmente relativa, pois é determinada pela sociedade. Nesse contexto as manifestações da Arte incorporam em sí um significado cultural e que pode, partir de uma realidade local, buscar coro em outros espaços e tempos. A compreensão dessa realidade, adquire um caráter de sistema a partir do momento em que ao explorar a sensibilidade percebe-se que sua formação é essencialmente coletiva e que suas bases são tão amplas e tão profundas como a própria vida social. A ligação entre arte e vida coletiva existe no plano simiótico e se materializam em uma forma de viver e traz ainda um modelo específico de pensar o mundo e com este relacionar-se. Por isso, a cultura é vista pelo autor como um sistema simbólico, oriundo da concepção simbólica da linguagem, por considerar que a presença do homem no mundo não é imediata, mas mediatizada pela linguagem. Nesse sistema, a linguagem desempenha funções de significação que estão na origem das elaborações dos sentidos do homem no mundo ao expressar as diferentes maneiras de sua relação com uma mesma realidade, e ao expressar de uma mesma maneira a sua relação com realidades diferentes. Ao falar, o homem não se limita a designar e a significar a sua relação com um mundo preexistente; constrói também sentidos novos já que as palavras não são etiquetas coladas a uma realidade singular, mas construções culturais destinadas a mediatizar a relação do homem com o mundo. E é na elaboração e construção desse mundo que a mediação com a realidade é feita sob os auspícios de uma epistemologia do senso comum, visto por Geertz como um sistema cultural, construído historicamente e, portanto, sujeito a padrões de
  • 2. HENRIQUE GOMES DE LIMA 2 juízo também historicamente definidos e validados pela convicção de quem o possui. Afirma o autor que: (...) “Tornar-se humano é tornar-se individual, e nós nos tornamos individuais sob a direção dos padrões culturais, sistemas de significação criados historicamente em termos dos quais damos forma, ordem, objetivo e direção às nossas vidas. (...) Assim como a cultura nos modelou como espécie única - e sem dúvida ainda nos está modelando - assim também ela nos modela como indíviduos separados. É isso o que temos realmente em comum - nem um ser subcultural imutável, nem um consenso de cruzamento cultural estabelecido.” (GEERTZ,l989,p.64) Segundo Geertz, o argumento do senso comum não se baseia em coisa alguma, a não ser na vida como um todo. Nesse caso, trabalha com a sabedoria coloquial que julga e avalia a realidade com bom senso, ou seja, lida com os problemas cotidianos com critério, inteligência, discernimento e reflexão prévia. O senso comum é, dessa forma, um modo de ver o mundo, através da aceitação desse mundo, dos seus objetos e dos seus processos exatamente como se apresentam, como parecem ser. Há também um desejo de atuar sobre esse mundo de forma a dirigi-lo para propósitos práticos, dominá-lo ou ajustar-se a ele. Neste universo, nem totalmente material nem puramente simbólico, ora fasto ora nefasto, cada coisa tem seu peso, seu lugar, seu significado, sua qualidade, seu sentido. O bom senso, assim, é uma capacidade que o sujeito possui de captar as realidades básicas através da experiência e de chegar a conclusões sensatas, sem fazer distinções entre a ordem natural, o domínio da linguagem, o mundo da cultura e a esfera da consciência individual. Não há diferenciação brusca e racional entre um universo material e um universo simbólico, visto que as necessidades orgânicas e as morais confundem-se no cotidiano da vida grupal, dando-lhe um realismo prático, um senso vivo dos limites e das possibilidades de ação que convergem para uma sabedoria cotidiana. Para Geertz, “A limitação da análise interpretativa na maior parte da antropologia contemporânea ao aspecto supostamente mais ‘simbólico’ da cultura é um mero preconceito, nascido da noção, também presenteada pelo século XIX, de que o ‘simbólico’ se opõe ao ‘real’.(GEERTZ 1980:170)”. Em sua obra, o autor propõe uma refiguraçãodo pensamento social deslocando a análise dos produtos culturais de leis e instâncias para casos e interpretações ao trabalhar com o que denomina uma etnografia do pensamento, isto é, como
  • 3. HENRIQUE GOMES DE LIMA 3 as estruturas do pensamento mudam; como as províncias do pensamento são demarcadas; como as normas de pensamento são mantidas; como os modelos de pensamento são adquiridos e como o trabalho do pensamento é dividido para compor o que ele denomina do processo da intersubjetividade dos sujeitos da ação. Essa intersubjetividade é um traço objetivo, na medida em que não é mais subjetividade do autor d a obra, nem tampouco, apenas a subjetividade do apreciador, mas uma espécie de linguagem mediada dessas subjetividades. O caráter objetivo da intersubjetividade, portanto, vem do fato de ela ser uma mediação necessária entre objetividade e subjetividade, quando da situação de interpretação. Diz ainda que: “a escrita fixa o significado do acontecimento: “um pedaço da interpretação antropológica consiste em traçar a curva do discurso social; fixá-lo numa forma analisável”. Geertz parte de Max Weber e de sua concepção de cultura não codificável mas interpenetrável, para dizer que o homem é um animal suspenso em teias de significados que ele mesmo tece ao longo de sua existência social e histórica. São essas teias que definem a cultura e sua análise não deve se constituir numa ciência experimental em busca de leis, mas numa ciência interpretativa em busca de significados para os sujeitos da ação. O entendimento desse sistema, “não como complexo de padrões concretos de comportamentos - costumes, usos, tradições, feixes de hábitos -, mas como um conjunto de mecanismos de controle - planos, receitas, regras, instruções, programas e pré-programas - para governar o comportamento. O homem é precisamente o animal mais dependente de tais mecanismos de controle, extragenéticos, fora da pele, de tais programas culturais, para ordenar seu comportamento”. A seu ver, a cultura engloba, no interior da prática cultural, todo um conjunto de códigos e convenções simbólicas onde as mediações são feitas, fundamentando relações de sentidos explícitos e implícitos, segundo os significados dados em cada momento. É em função disso que a cultura pressupõe que um campo semântico seja partilhado para que possa ser lida e seus sentidos interpretados, mesmo numa leitura de segunda mão, por sobre os ombros, isto é a leitura de uma leitura. Para o autor interessa perguntar não qual o status ontológico de um fenômeno, mas o que foi transmitido com a ocorrência de cada teia dentro do sistema simbólico. Onde e para quem cada teia diz o que, em que momento,
  • 4. HENRIQUE GOMES DE LIMA 4 com qual intenção? Neste caso, a cultura - a totalidade acumulada de padrões culturais - em vez de ser acrescentada a um animal acabado, é um ingrediente essencial na produção desse mesmo animal. A cultura fornece o vínculo entre o que os homens são intrinsecamente capazes de se tornar e o que cada um efetivamente se torna. O autor trabalha na direção de uma antropologia interpretativa e propõe uma definição de cultura, a partir da noção de homem, numa tentativa de resolver o paradoxo entre a idéia de uma imensa variedade cultural em contraste com a idéia de uma espécie humana única. Para isto, refuta tanto a idéia de uma forma ideal e essencial de homem natural, dotado de habilidades inatas, proposta pelo iluminismo, quanto a idéia de um homemconsensual (e, como consequência, a noção de consensus gentium), relacionada ao comportamento real, proposta pela antropologia clássica. Conclui-se portanto, que as rugosidades do espaço e as impressões materiais e imateriais nele postas, constituem um complexo sistema de significados e que têm na arte uma das formas de se manifestar.