1) A produção de etanol nos EUA tem aumentado a demanda por milho e pressionado os preços para cima.
2) Isso tem impactado os custos de ração no Brasil através da alta dos preços de milho e soja.
3) Porém, a produção de subprodutos como o DDG pode ajudar a reduzir os custos com farelos protéicos.
1. AGRONEGÓCIO
O custo da ração é movido a
E
ntre as muitas preocupações deste sécu- a partir da cana-de-açúcar (tecnologia predomi-
lo, destacam-se aquelas relacionadas ao nante no Brasil) e do milho (predominante nos
meio ambiente, em especial, o aquecimen- Estados Unidos). O governo norte-americano tem,
to global. Neste cenário, o petróleo tem tido papel entre suas prioridades, o forte crescimento da pro-
central no debate político e acadêmico devido a dução de etanol. Estima-se que os EUA investi-
Roberto A. de
sua volatilidade de preços, instabilidade política de ram, apenas em 2006, 35 bilhões de dólares na
Souza Lima
Professor Doutor da importantes países produtores, nível de estoques produção de álcool combustível. Este foco na pro-
Escola Superior de e geração de gases de efeito estufa na sua utiliza- dução de etanol tem elevado a demanda de sua
Agricultura “Luiz de ção. Entre as potenciais soluções, ainda que par- matéria-prima, o milho, conforme pode ser obser-
Queiroz” da
ciais, está a substituição de combustíveis fósseis vado na Figura 1.
Universidade de São
Paulo (ESALQ/USP) por etanol. O programa norte-americano para o setor pre-
raslima@esalq.usp.br A produção de etanol ocorre, principalmente, vê a substituição de 20% do consumo de gasolina
Rudy Taransantchi
Graduando da
FMVZ/USP.
FONTE: WWW.EARTH-POLICY.ORG
Figura 1: Estados Unidos - uso de milho na produção de etanol.
2. por etanol no prazo de dez anos. Isto implica em da área plantada. Adicionalmente, deve-se obser-
aumento superior a 500% no consumo de etanol var que o aumento da área plantada de milho im-
nos Estados Unidos até 2017, elevando o consu- plica em redução da área anteriormente ocupada
mo médio anual dos atuais 20 bilhões de litros para por outras culturas, em especial a soja. Reduzin-
132 bilhões. Conseqüência direta desta política, a do a previsão de oferta destas culturas, seus pre-
pressão para elevar a produção de milho tem sido ços também se elevam. As cotações do milho e
crescente. Reforçando a necessidade de maior da soja no mercado futuro refletem este cenário
oferta de milho, o governo chinês anunciou em 9 (Figura 3).
de abril deste ano que a China tornar-se-á impor- Pelos dados comentados nos parágrafos ante-
tadora de milho dentro de poucos anos. riores, observa-se que o custo da alimentação de
Para atender a esta crescente demanda, a pro- nossa tropa será impactada pela atual “febre do
dução mundial desta commodity tem se elevado etanol”. Os custos do milho e da soja deverão se
em nível mundial. Comparando as safras 1990/91 elevar, o que provocará alterações nas formula-
e 2006/07 de milho do Brasil, Estados Unidos e ções das rações. Deve-se observar que as eleva-
do Mundo como um todo, nota-se incremento de ções dos custos internacionais, na atual economia
76%, 35% e 44%, respectivamente (Figura 2). globalizada, são transmitidos aos preços internos
Os preços do milho, em nível mundial, têm se no Brasil. A forte valorização do real frente ao
elevado, mesmo com o aumento da produção e dólar, verificada nos últimos anos (e que deverá
Figura 2: Produção de milho, em milhões de toneladas, no Brasil, Estados Unidos e Mundial.
Figura 3: Cotações do milho e da soja no mercado futuro, Bolsa de Chicago (CBOT), em 30/04/2007.
3. AGRONEGÓCIO
persistir nos próximos meses), Um importante alerta deve ser destacado: a
tem amenizado os efeitos da velocidade do crescimento da oferta agrícola, res-
alta nas cotações, em dólar, trita às áreas disponíveis para plantio e inúmeros
das commodities. fatores ambientais, difere-se muito da velocida-
Ainda na linha dos efei- de de crescimento da capacidade de produção
tos do mercado do etanol so- de etanol. Esta, por sua vez, não responde, ne-
bre os custos da ração para cessariamente, na mesma velocidade do cresci-
eqüinos, deve-se destacar que mento da demanda. Em outras palavras, oferta e
FONTE: WWW.VERASUN.COM
a produção de DDG deverá demanda caminham com ritmos diferente. Isto
se elevar, o que contribuirá implica em momentos de desequilíbrio, positivos
para redução dos preços de e negativos, entre oferta e demanda, causando
farelos protéicos, como o pró- flutuações nos preços.
prio DDG e o farelo de soja. Conclui-se, de tudo que foi dito, que os custos
Figura 4:
DDG - destillers
O DDG (do inglês, distillers dried grain) é o sub- e formulações das rações deverão sofrer oscila-
dried grain. produto da produção de etanol de milho. Assim ções nos próximos meses, sendo que no longo
como a produção de álcool de cana-de-açúcar prazo, milho e soja deverão estar relativamente
implica na produção de grandes quantidades de mais caros, e os farelos protéicos relativamente
bagaço, na produção do etanol, cerca de um terço mais baratos. Como vivemos no curto prazo (Key-
do milho transforma-se neste “bagaço” (DDG, nes já dizia que “no longo prazo, todos estaremos
Figura 4). Empresas como a Cargill (dona da mortos”), fabricantes de ração e criadores de ca-
marca Purina) já estão utilizando o DDG em suas valos devem ficar atentos ao mercado do etanol
formulações. e seus reflexos nos seus custos de produção.