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Os escritores/cantores dos países lusófonos. Num momento em que falamos de Zeca
Afonso e de Chico Buarque, “unidos por uma causa maior” recebemos a notícia de uma
amizade que continua a unir países: hoje temos o sobrinho de Zeca Afonso - João Afonso
Lima – a trabalhar os textos de Mia Couto e José Eduardo Agualusa.
Uma notícia do jornal “Público”, publicada hoje, 8 de maio de 2014” que assumimos
como uma continuidade entre países irmãos.
João Afonso canta Agualusa e Mia Couto, vozes africanas num “mapa cor-
de-rosa cultural”1
Os poemas são de Mia Couto e José Eduardo Agualusa, a voz e a música são de João
Afonso: Sangue Bom estreia-se esta quinta-feira B.Leza, em Lisboa.
Mia Couto, Agualusa e João Afonso JOSÉ RUI/TEATRO ACERT
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http://www.publico.pt/cultura/noticia/joao-afonso-canta-agualusa-e-mia-couto-vozes-africanas-num-mapa-corderosa-cultural-
1635031?page=2#follow
http://imagens0.publico.pt/imagens.aspx/838590?tp=UH&db=IMAGENS&w=749
Página2
João Afonso canta "Verde para Crer", "Na Grande Casa Branca" e "Estrada do Sumbe"
Quinto disco de estúdio de João Afonso, Sangue Bom tem uma história antiga. Não
tanto, mas quase, quanto a própria carreira discográfica do cantor. Nascido em
Moçambique em 1965 (sobrinho de José Afonso), João Afonso lançou em 1997 o
aplaudido Missangas, gravando depois Barco Voador (1999), Zanzibar (2002) e Outra
Vida (2006). A ideia que deu agora vida a Sangue Bom nasceu em 2001, como ele
recorda agora ao PÚBLICO.
“Foi um desafio do Mia Couto, em Tondela, no ACERT, onde eu fiz a primeira parte do
Compay Segundo, nunca mais me hei-de esquecer. Depois do concerto, estivemos a
comer qualquer coisa e ele fez-me essa proposta. E eu fiquei todo orgulhoso porque nessa
altura já era um fã nos livros dele. E já ouvia falar da família Couto por via do meu tio, que
morava na Beira.” Isso foi há uma dúzia de anos. A verdade é que, depois, por razões
várias, o projecto “foi-se arrastando, em ritmo luso-moçambicano”. No disco Outra vida sai
a canção Eco, primeira música de João Afonso sobre um poema de Mia. Antes, no
disco Zanzibar, já escrevera uma canção inspirada no livro Mar Me Quer, um poema com
as personagens criadas por Mia Couto. Mas a parceria mais ampla tardava. Então, João
Afonso começou suavemente a “pressioná-lo”. E enviou-lhe dois poemas gravados.
Entretanto, João conversa sobre o projecto com José Eduardo Agualusa, seu amigo e
ex-colega universitário dos tempos de Agronomia. “Conversávamos muito, antes ele ser
sequer escritor. Ele falava muito do período político de Angola no pós-independência e eu
ficava a ouvir. E ficámos muito amigos. Quando lhe contei do projecto com o Mia Couto, ele
deu-me um caderninho de poemas, escrito ainda com máquina de escrever, ainda o tenho
Página3
lá. E disse-me: ‘vê lá se tem alguma piada’. Gostei muito, chamou-me logo a atenção a
Canção de Goa, que comecei a musicar.” Depois encontraram-se os três na Casa
Fernando Pessoa. “O Mia Couto já sabia. E disse-me: ‘então já sei que me andas a trair
com o Agualusa…’ Era brincadeira, porque eles são muito amigos.”
Ficaram, assim, ambos como co-autores do disco. O que, para João Afonso, foi
excelente. “Cada um à sua maneira são ambos dois grandes escritores e pessoas que têm
tido uma postura corajosa a enfrentar os poderes em Angola e em Moçambique.” E assim
foram chegando os poemas e nascendo muitas canções: as 14 do disco mais quatro
também gravadas mas que serão difundidas à parte (“provavelmente numa plataforma
digital”) e outras que não chegaram a tomar forma de canção. “De tal maneira que se
começou a consolidar a ideia deste mapa cor-de-rosa cultural. Inicialmente, aliás, o disco
era para se chamar 'Mapa cor-de-rosa'. Até o título foi muito conversado entre os três.”
Além disso, João Afonso teve autorização dos autores para trabalhar os poemas como
quisesse: “Deram-me a liberdade de mexer. Não mexi muito, mas essa liberdade de corte e
costura nos poemas andou a par com uma dialéctica, uma comunicação muito grande.”
A canção que dá título ao disco acaba por ser um quase-manifesto de miscigenação. “A
frase ‘eu não creio em raça não’ é a afirmação de uma raça especial, uma identidade
nossa, que é a lusofonia, onde as pessoas têm um elo de ligação, uma comunhão histórica
e a língua. E entre nós os três há essa mesma comunhão. Só tenho pena de não termos
estado a trabalhar mesmo à beira do mar, os três, porque merecia. E é um poema forte:
contra a discriminação religiosa, rácica, homofóbica, tudo. Assumindo mesmo isso.”
Página4
A linguagem do disco é, de algum modo, pan-africana, mas “assumindo as origens”,
como diz João Afonso. “O Mia Couto é moçambicano tem família que nasceu em Portugal,
o Agualusa também… O poema Na grande casa branca, do Agualusa, é um assumir da
história. Há sempre um tabu, um preconceito, por exemplo em relação aos retornados e eu,
que sou de uma família de retornados, de Moçambique, identifiquei-me muito com essa
canção, ao cantá-la. Porque, como diz o Fernando Dacosta num livro que ainda há pouco
li, e que é um livro fortíssimo, de facto os retornados mudaram o rosto de Portugal. O
Agualusa e o Mia Couto não negam a história, têm muita coisa em comum.”
No disco, diz João, “há poemas introspectivos, filosóficos, como Sementes ou A dor e o
tempo. Neste incorporei ‘Primeiro, nenhum sentimento me doía/ agora dói-me sentir’,
porque me lembrei da morte do meu pai. Primeiro é o choque, ficamos como que
anestesiados, mas a dor vem depois e vem muito mais forte. Eu pelo menos interpretei
assim, talvez ele [o Mia Couto] tivesse uma explicação mais profunda.” E há, também,
“imagens muito fortes da diáspora portuguesa. Goa, Porto Amboim, a estrada quente…
Além dos temas universais, o amor, os desamores, a Canção da Despedida que a Aline
Frazão [jovem cantora angolana] interpreta a música com uma sensualidade especial.”
Esta quinta-feira à noite, pelas 23h30, o disco vai ser estreado no palco do B.Leza, em
Lisboa. Com João Afonso (voz e guitarra) estarão Vítor Milhanas (contrabaixo e baixo
eléctrico), António Pinto, Miguel Fevereiro (guitarras) e Quiné Teles (bateria/percussão).
Nos textos de apresentação do disco, Mia Couto diz que João Afonso lhe traz, “na voz, a
infância e, nas canções, Moçambique”. E Agualusa escreve que as canções do João têm
Página5
vindo a acompanhá-lo ao longo da vida, enquanto escreve – “e acredito que os meus livros
são melhores por isso.” Percebe-se o que uniu os três: um Sangue Bom.
NUNO PACHECO, 08/05/2014

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Os escritores lusófonos de João Afonso

  • 1. Página1 Os escritores/cantores dos países lusófonos. Num momento em que falamos de Zeca Afonso e de Chico Buarque, “unidos por uma causa maior” recebemos a notícia de uma amizade que continua a unir países: hoje temos o sobrinho de Zeca Afonso - João Afonso Lima – a trabalhar os textos de Mia Couto e José Eduardo Agualusa. Uma notícia do jornal “Público”, publicada hoje, 8 de maio de 2014” que assumimos como uma continuidade entre países irmãos. João Afonso canta Agualusa e Mia Couto, vozes africanas num “mapa cor- de-rosa cultural”1 Os poemas são de Mia Couto e José Eduardo Agualusa, a voz e a música são de João Afonso: Sangue Bom estreia-se esta quinta-feira B.Leza, em Lisboa. Mia Couto, Agualusa e João Afonso JOSÉ RUI/TEATRO ACERT Vídeo 1 http://www.publico.pt/cultura/noticia/joao-afonso-canta-agualusa-e-mia-couto-vozes-africanas-num-mapa-corderosa-cultural- 1635031?page=2#follow http://imagens0.publico.pt/imagens.aspx/838590?tp=UH&db=IMAGENS&w=749
  • 2. Página2 João Afonso canta "Verde para Crer", "Na Grande Casa Branca" e "Estrada do Sumbe" Quinto disco de estúdio de João Afonso, Sangue Bom tem uma história antiga. Não tanto, mas quase, quanto a própria carreira discográfica do cantor. Nascido em Moçambique em 1965 (sobrinho de José Afonso), João Afonso lançou em 1997 o aplaudido Missangas, gravando depois Barco Voador (1999), Zanzibar (2002) e Outra Vida (2006). A ideia que deu agora vida a Sangue Bom nasceu em 2001, como ele recorda agora ao PÚBLICO. “Foi um desafio do Mia Couto, em Tondela, no ACERT, onde eu fiz a primeira parte do Compay Segundo, nunca mais me hei-de esquecer. Depois do concerto, estivemos a comer qualquer coisa e ele fez-me essa proposta. E eu fiquei todo orgulhoso porque nessa altura já era um fã nos livros dele. E já ouvia falar da família Couto por via do meu tio, que morava na Beira.” Isso foi há uma dúzia de anos. A verdade é que, depois, por razões várias, o projecto “foi-se arrastando, em ritmo luso-moçambicano”. No disco Outra vida sai a canção Eco, primeira música de João Afonso sobre um poema de Mia. Antes, no disco Zanzibar, já escrevera uma canção inspirada no livro Mar Me Quer, um poema com as personagens criadas por Mia Couto. Mas a parceria mais ampla tardava. Então, João Afonso começou suavemente a “pressioná-lo”. E enviou-lhe dois poemas gravados. Entretanto, João conversa sobre o projecto com José Eduardo Agualusa, seu amigo e ex-colega universitário dos tempos de Agronomia. “Conversávamos muito, antes ele ser sequer escritor. Ele falava muito do período político de Angola no pós-independência e eu ficava a ouvir. E ficámos muito amigos. Quando lhe contei do projecto com o Mia Couto, ele deu-me um caderninho de poemas, escrito ainda com máquina de escrever, ainda o tenho
  • 3. Página3 lá. E disse-me: ‘vê lá se tem alguma piada’. Gostei muito, chamou-me logo a atenção a Canção de Goa, que comecei a musicar.” Depois encontraram-se os três na Casa Fernando Pessoa. “O Mia Couto já sabia. E disse-me: ‘então já sei que me andas a trair com o Agualusa…’ Era brincadeira, porque eles são muito amigos.” Ficaram, assim, ambos como co-autores do disco. O que, para João Afonso, foi excelente. “Cada um à sua maneira são ambos dois grandes escritores e pessoas que têm tido uma postura corajosa a enfrentar os poderes em Angola e em Moçambique.” E assim foram chegando os poemas e nascendo muitas canções: as 14 do disco mais quatro também gravadas mas que serão difundidas à parte (“provavelmente numa plataforma digital”) e outras que não chegaram a tomar forma de canção. “De tal maneira que se começou a consolidar a ideia deste mapa cor-de-rosa cultural. Inicialmente, aliás, o disco era para se chamar 'Mapa cor-de-rosa'. Até o título foi muito conversado entre os três.” Além disso, João Afonso teve autorização dos autores para trabalhar os poemas como quisesse: “Deram-me a liberdade de mexer. Não mexi muito, mas essa liberdade de corte e costura nos poemas andou a par com uma dialéctica, uma comunicação muito grande.” A canção que dá título ao disco acaba por ser um quase-manifesto de miscigenação. “A frase ‘eu não creio em raça não’ é a afirmação de uma raça especial, uma identidade nossa, que é a lusofonia, onde as pessoas têm um elo de ligação, uma comunhão histórica e a língua. E entre nós os três há essa mesma comunhão. Só tenho pena de não termos estado a trabalhar mesmo à beira do mar, os três, porque merecia. E é um poema forte: contra a discriminação religiosa, rácica, homofóbica, tudo. Assumindo mesmo isso.”
  • 4. Página4 A linguagem do disco é, de algum modo, pan-africana, mas “assumindo as origens”, como diz João Afonso. “O Mia Couto é moçambicano tem família que nasceu em Portugal, o Agualusa também… O poema Na grande casa branca, do Agualusa, é um assumir da história. Há sempre um tabu, um preconceito, por exemplo em relação aos retornados e eu, que sou de uma família de retornados, de Moçambique, identifiquei-me muito com essa canção, ao cantá-la. Porque, como diz o Fernando Dacosta num livro que ainda há pouco li, e que é um livro fortíssimo, de facto os retornados mudaram o rosto de Portugal. O Agualusa e o Mia Couto não negam a história, têm muita coisa em comum.” No disco, diz João, “há poemas introspectivos, filosóficos, como Sementes ou A dor e o tempo. Neste incorporei ‘Primeiro, nenhum sentimento me doía/ agora dói-me sentir’, porque me lembrei da morte do meu pai. Primeiro é o choque, ficamos como que anestesiados, mas a dor vem depois e vem muito mais forte. Eu pelo menos interpretei assim, talvez ele [o Mia Couto] tivesse uma explicação mais profunda.” E há, também, “imagens muito fortes da diáspora portuguesa. Goa, Porto Amboim, a estrada quente… Além dos temas universais, o amor, os desamores, a Canção da Despedida que a Aline Frazão [jovem cantora angolana] interpreta a música com uma sensualidade especial.” Esta quinta-feira à noite, pelas 23h30, o disco vai ser estreado no palco do B.Leza, em Lisboa. Com João Afonso (voz e guitarra) estarão Vítor Milhanas (contrabaixo e baixo eléctrico), António Pinto, Miguel Fevereiro (guitarras) e Quiné Teles (bateria/percussão). Nos textos de apresentação do disco, Mia Couto diz que João Afonso lhe traz, “na voz, a infância e, nas canções, Moçambique”. E Agualusa escreve que as canções do João têm
  • 5. Página5 vindo a acompanhá-lo ao longo da vida, enquanto escreve – “e acredito que os meus livros são melhores por isso.” Percebe-se o que uniu os três: um Sangue Bom. NUNO PACHECO, 08/05/2014