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Antes e depois da Abril…
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EXPOSIÇÃO
POETAS DE ABRIL
Antes e depois da Abril…
Página2
SOPHIA DE MELLO BREYNER ANDRESEN
O Velho Abutre1
O velho abutre é sábio e alisa as suas penas
A podridão lhe agrada e seus discursos
Têm o dom de tornar as almas mais pequenas
In Livro Sexto, 1962
Sophia de Mello Breyner Andresen
1
Salazar
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Antes e depois da Abril…
Página3
CATARINA EUFÉMIA2
O primeiro tema da reflexão grega é a justiça
E eu penso nesse instante em que ficaste exposta
Estavas grávida porém não recuaste
Porque a tua lição é esta: fazer frente
Pois não deste homem por ti
E não ficaste em casa a cozinhar intrigas
Segundo o antiquíssimo método oblíquo das mulheres
Nem usaste de manobra ou de calúnia
E não serviste apenas para chorar os mortos
Tinha chegado o tempo
Em que era preciso que alguém não recuasse
E a terra bebeu um sangue duas vezes puro
Porque eras a mulher e não somente a fêmea
Eras a inocência frontal que não recua
Antígona poisou a sua mão sobre o teu ombro no instante em que morreste
E a busca da justiça continua
2
Catarina Efigénia Sabino Eufémia nasceu em Baleizão, no Alentejo, a 13 de fevereiro de 1928. Dedicou a sua vida ao trabalho rural, como ceifeira, analfabeta. Durante uma greve, a 19 de maio de 1954, foi baleada por
um tenente da Guarda Nacional Republicana. Tinha então 26 anos e carregava ao colo um filho de oito meses, no momento em que é assassinada.
Aquele… Poema dedicado a Salgueiro Maia
Revolução — Descobrimento
Revolução isto é: descobrimento
Mundo recomeçado a partir da praia pura
Como poema a partir da página em branco
— Katharsis emergir verdade exposta
Tempo terrestre a perguntar seu rosto
in O Nome das Coisas, 1977
Aquele que na hora da vitória
Respeitou o vencido
Aquele que deu tudo e não pediu a paga
Aquele que na hora da ganância
Perdeu o apetite
Aquele que amou os outros e por isso
Não colaborou com a sua ignorância ou vício
Aquele que foi «Fiel à palavra dada à ideia tida»
Como antes dele mas também por ele
Pessoa disse.
.Poe
Antes e depois da Abril…
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NATÁLIA CORREIA
SONETO DE ABRIL
Evoé! de pâmpano os soldados
rompem do tempo em que Evoé! a terra
salvé rainha descruzando os braços
com seu pé de papiro pisa a fera.
Na écloga dos rostos despontados
onde dos corvos se retira a treva,
de beijo em beijo as ruas são bailados
mudam-se as casas para a primavera.
Evoé! o povo abre o touril
e sai o Sol perfeitamente Abril
maravilha da Pátria ressurrecta.
Evoé! evoé! Tágides minhas
outras vez prateadas campainhas
sois na cabeça em fogo do poeta.
(Inédito)
PoemAbril Antologia de autores organizada por Carlos Loures e Manuel Simões Fora do Texto - Cooperativa Editorial de Coimbra, CRL. Coimbra, 1994
http://2.bp.blogspot.com/Iu578SN6FC8/UjwxaA7v1LI/AAAAAAAABx0/HEh1LzNZl2I/s1600/Natalia_Correia.jpg
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Cântico do País Emerso3
3
Entre 21 e 22 de Janeiro de 1961, o maior e melhor paquete da Companhia Colonial de Navegação, o ‘Santa Maria’ foi tomado de assalto pelo Directório Revolucionário Ibérico de Libertação (DRIL), chefiado pelo
capitão Henrique Galvão e por Jorge de Sottomayor, desencadeando a chamada ‘Operação Dulcineia’. O paquete foi então chamado de ‘Santa Liberdade’.
Os previdentes e os presidentes tomam de ponta
Os inocentes que têm pressa de voar
Os revoltados fazem de conta, fazem de conta...
Os revoltantes fazem as contas de somar.
Embebo-me na solidão como uma esponja
Por becos que me conduzem a hospitais.
O medo é um tenente que faz a ronda
E a ronda abre sepulcros fecha portais;
Os edifícios são malefícios da conjura
Municipal de um desalento e de uma Porta.
Salvo a ranhura para sair o funeral
Não há inquilinos nos edifícios vistos por fora
(…)
E essa ansiedade de mim mesma me virgula
Paula de pátria entressonhada. É um crisol.
E, o fruto agreste da linfa ardente que em mim circula
Sabe-me a sol. Sabe-me a pássaro. Pássaro ao sol.
Entre mim e a cidade se ateia a perspectiva
De uma angústia florida em narinas frementes.
Apalpo-me estou viva e o tacto subjectiva-me
a galope num sonho com espuma nos dentes.
E invoco-vos, irmãos, Capitães-Mores do Instinto!
Que me acenais do mar com um lenço cor da aurora
E com a tinta azulada desse aceno me pinto.
O cais é a urgência. O embarque é agora.
Natália Correia
Antes e depois da Abril…
Página6
FERNANDO ASSIS PACHECO
Aqui [em Villanueva do silêncio/ del Fresno]4
Porque o mataram com um tiro
nas costas, em Villanueva.
Aqui, aqui - não fosse falar.
Porque o mataram em Villanueva,
isto é, longe. Ficou sem voz.
Os olhos parados, girassóis
na névoa. Breves pulsos
desatados. Em Villanueva,
com um tiro nas costas.
Não fosse falar, mover-se
pelas estradas - isto é, perto.
Em Villanueva del Fresno.
4
A 13 de Fevereiro de 1965, em Villanueva del Fresno, Humberto Delgado foi assassinado pela PIDE
http://www.livroscotovia.pt/fotos/autores/assispacheco_0723671001294165517.jpgEste
Olha o mapa. É aqui.
Este pequeno ponto
quase imperceptível.
Aqui, aqui - mostro
a quem quer ouvir-me.
No silêncio do Outono.
Em Villanueva do silêncio
del Fresno. Com um tiro.
Assim se mata longe, perto.
(Francisco Assis,Pacheco, Poemas Livres 3, Porto, Edição dos
Autores, 1968, 94 páginas. Coordenação dos Autores.
(Francisco Assis,Pacheco, Poemas Livres 3, Porto,
Edição dos Autores, 1968, 94 páginas.
Coordenação dos Autores. (s/ Depósito Legal; s/
ISBN)).
Antes e depois da Abril…
Página7
MIGUEL TORGA
Lamento
Pátria sem rumo, minha voz parada
Diante do futuro!
Em que rosa-dos-ventos há um caminho
Português?
Um brumoso caminho
De inédita aventura,
Que o poeta, adivinho,
Veja com nitidez
Da gávea da loucura?
HTTP://3.BP.BLOGSPOT.COM/_WZ4ANMKKCFE/TDY_VLAGTJI/AAAAAAAABZE/S79P5AQG62W/S1600/MIGUEL
+TORGA_THUMB%5B2%5D.JPG
Ah, Camões, que não sou, afortunado!
Também desiludido,
Mas ainda lembrado da epopeia...
Ah, meu povo traído,
Mansa colmeia
A que ninguém colhe o mel!...
Ah, meu pobre corcel
Impaciente,
Alado
E condenado
A choutar nesta praia do Ocidente...
Miguel Torga, in Diário XII, 136.(1975)
Antes e depois da Abril…
Página8
MANUEL ALEGRE
http://www.infopedia.pt/mostra_imagem.jsp?recid=12340
CRÓNICA DE ABRIL
(Segundo Fernão Lopes)
A rosa a espada o Tempo a lua cheia
entre Abril e Abril memória e ato
este oculto invisível coração.
E a trote dos cavalos os blindados
(quem me acorda no meio do meu sono?)
«Lisboa está tomada». A rosa e a espada.
Subitamente às três da madrugada.
Andando o Povo levantado andando
Álvaro Pais de rua em rua: «Acudam
ao Mestre cá ele é filho d’El-rei. D.
Pedro». Entre Abril e Abril. Memória e ato.
Verás florir as armas: lua cheia.
Saiu de Santarém o Capitão
já o Mestre matou o Conde Andeiro
e Álvaro Pais nas ruas cavalgando:
Matam o Mestre nos Paços da Rainha.
Antes e depois da Abril…
Página9
E o microfone às três e tal. E as gentes
que isto ouviram saíram pelas ruas
a ver que coisa era. E começando
a falar uns com outros começavam
a tomar armas. Aqui Posto de
Comando. E soavam vozes de arruído
pela cidade. E assim como viúva
que rei não tinha se moveram todos
com mão armada. E Álvaro Pais gritando:
Acudamos ao Mestre meus amigos
Acudamos que o matam porquê.
E o rouxinol cantou. Ouvi dizer
que na torre soaram badaladas.
O doce cheiro a terra. O respirar
da amada. «E sobre cada povo (Nietzche)
está suspensa uma tábua de valores».
Verás florir o Tempo. A rosa e a espada.
Nel mezzo del camin di nostra vita.
Subitamente às três da madrugada.
E começava a gente de juntar-se
e tanta que era estranha de se ver.
Não cabiam nas ruas principais
cada um desejando ser primeiro
e todos feitos d’um só coração.
Não sei se a História tem um fio se
não tem. Mas já de Santarém partiu
o Capitão. De negro vem vestido
em cima da Chaimite. Ouves? É o trote
das lagartas. Cavalos e cavalos.
O exército da noite e seus blindados.
Ó com quanto cuidado e diligência
escrever verdade sem outra mistura.
Andando o Povo levantando andando
um Major aos seus homens perguntando:
Adere ou não adere? É só. Mais nada.
E o segundo-sargento perfilando-se:
Há vinte anos que espero este momento.
Antes e depois da Abril…
Página10
Verás florir o Tempo. E as armas de-
sabrochadas: às três da madrugada.
Soem às vezes altos feitos ter
começo por pessoas cujo azo
nenhum povo podia imaginar.
E pois assim aveio que em Lisboa
um cidadão chamado Álvaro Pais:
Onde matam o Mestre? Que é do Mestre?
De cima não faltava quem gritasse
que o Mestre estava vivo e o Conde morto.
Mas isto já ninguém o queria crer.
Continuidade. Descontinuidade.
E o que é rutura? E a História? Um caos de acasos.
Kairos (dizem os gregos). Conjunturas
favoráveis.
Verás florir as armas.
E já o Capitão entra na Praça
andando o Povo levantado andando
apoiando a coluna quando avança
para cercar o Carmo às doze e trinta.
Traziam uns carqueja e outros lenha
alguns pediam escadas e bradavam
que viesse lume para porem fogo
e queimarem o traidor e a aleivosa.
E em tudo isto era o tumulto assim
tão grande que uns aos outros não se ouviam
e não determinavam coisa alguma.
E o trote dos cavalos os blindados.
(Quem te acorda no meio do teu sono?)
Verás florir o Tempo: rosa e espada.
Subitamente às três da madrugada.
Antes e depois da Abril…
Página11
De cortinas corridas está o Carmo.
Da torre da Chaimite uma rajada
saltam vidros e cal da frontaria
e o tempo vai correndo sem resposta.
E não parava gente de juntar-se.
Onde matam o Mestre? Que é do Mestre?
De cima não faltava quem gritasse
que o Mestre estava vivo e o Conde morto.
Se está vivo mostrai-o e vê-lo-emos.
E a gente não parava de juntar-se.
Quem fechou estas portas? perguntavam.
E já o blindado toma posição.
O Capitão olha o relógio e conta
e antes que diga três irrompem vivas.
Verás florir o Tempo: espada e rosa.
Já saiu a cavalo Álvaro Pais
já o Mestre matou o Conde Andeiro
está caído no Paço trespassado
ó Lisboa prezada venham ver
o Capitão em cima do blindado
Arraial Arraial. E então o Mestre
assomado à varanda a todos diz:
Amigos sossegai: estou vivo e são.
E o rouxinol cantou. Olhai as armas
desabrochadas. Cravo a cravo (ouvi
dizer). Andando o Povo levantado.
E não vereis na crónica senão
(sem falsidade) a certidão da História.
Manuel Alegre, Atlântico, 1981
Antes e depois da Abril…
Página12
TROVAS DO MÊS DE ABRIL
Foram dias foram anos a esperar por um só dia.
Alegrias. Desenganos. Foi o tempo que doía
Com seus riscos e seus danos. Foi a noite e foi o dia
Na esperança de um só dia.
Foram batalhas perdidas. Foram derrotas vitórias.
Foi a vida (foram vidas). Foi a História (foram histórias)
Mil encontros despedidas. Foram vidas (foi a vida)
Por um só dia vivida.
Foi o tempo que passava como nunca se passasse.
E uma flauta que cantava como se a noite rasgasse
Toda a vida e uma palavra: liberdade que vivia
Na esperança de um só dia.
Musa minha vem dizer o que nunca então disse
Esse morrer de viver por um dia em que se visse
um só dia e então morrer. Musa minha que tecias
um só dia dos teus dias.
Vem dizer o puro exemplo dos que nunca se cansaram
musa minha onde contemplo os dias que se passaram
sem nunca passar o tempo. Nesse tempo em que daria
a vida por um só dia.
Já muitas águas correram já muitos rios secaram
batalhas que se perderam batalhas que se ganharam.
Só os dias morreram em que era tão curta a vida
Por um só dia vivida.
E as quatros estações rolaram com seus ritmos e seus ritos.
Ventos do Norte levaram festas jogos brincos ditos.
E as chamas não se apagaram. Que na ideia a lenha ardia
Toda a vida por um dia.
Fogos-fátuos cinza fria. Musa minha que cantavas
A canção que se vestia com bandeiras nas palavras:
Armas que o tempo tecia. Minha vida toda a vida
Por um só dia vivida.
Antes e depois da Abril…
Página13
JORGE DE SENA
CANTIGA DE ABRIL
Às Forças Armadas e ao povo de Portugal
«Não hei-de morrer sem saber qual a cor da liberdade»
J. de S.
Qual a cor da liberdade?
É verde, verde e vermelha.
Quase, quase cinquenta anos
reinaram neste pais,
e conta de tantos danos,
de tantos crimes e enganos,
chegava até à raiz.
Qual a cor da liberdade?
É verde, verde e vermelha.
Tantos morreram sem ver
o dia do despertar!
Tantos sem poder saber
com que letras escrever,
com que palavras gritar!
Qual a cor da liberdade?
http://2.bp.blogspot.com/4GaYrcw61DI/T1KW2HEknKI/AAAAAAAAAGo/4CEmcWXdkbQ/s1600/Jorge+de+Sena.jpg
Antes e depois da Abril…
Página14
É verde, verde e vermelha.
Essa paz de cemitério
toda prisão ou censura,
e o poder feito galdério.
sem limite e sem cautério,
todo embófia e sinecura.
Qual a cor da liberdade?
É verde, verde e vermelha.
Esses ricos sem vergonha,
esses pobres sem futuro,
essa emigração medonha,
e a tristeza uma peçonha
envenenando o ar puro.
Qual a cor da liberdade?
É verde, verde e vermelha.
Essas guerras de além-mar
gastando as armas e a gente,
esse morrer e matar
sem sinal de se acabar
por politica demente.
Qual a cor da liberdade?
É verde, verde e vermelha.
Esse perder-se no mundo
o nome de Portugal,
essa amargura sem fundo,
só miséria sem segundo,
só desespero fatal.
Qual a cor da liberdade?
É verde, verde e vermelha.
Quase, quase cinquenta anos
durou esta eternidade,
numa sombra de gusanos
e em negócios de ciganos,
entre mentira e maldade.
Qual a cor da liberdade?
E verde, verde e vermelha.
Saem tanques para a rua,
sai o povo logo atrás:
estala enfim altiva e nua,
com força que não recua,
a verdade mais veraz.
Qual a cor da liberdade?
É verde, verde e vermelha.
26-28(?)/4/1974
Antes e depois da Abril…
Página15
JOSÉ CARLOS ARY DOS SANTOS
http://2.bp.blogspot.com/-XINQXMdMhM8/UXFMzAJnQLI/AAAAAAAACOI/_U-WWBWjjaU/s400/arydossantos.jpg
É preciso dizer-se o que acontece
no meu país de sal
há gente que arrefece que arrefece
de sol a sol
de mal a mal.
É preciso dizer-se o que acontece
no meu país de sal.
Passando o Tejo para além da ponte
que não nos liga a nada
só se vê horizonte
horizonte
e tristeza queimada.
feita de pus no sangue
de lama na barriga
nasce da terra exangue e inimiga
Antes e depois da Abril…
Página16
É preciso dizer-se o que se passa
no meu país de treva:
uma fome tão grande que trespassa
o ventre de quem a leva.
É preciso dizer-se o que se passa
no meu país de treva:
mal finda a noite escurece logo o dia
e uma espessa energia
É o vapor da sede é o calor do medo.
a cama do ganhão
a casca do sobredo.
É o suor com pão que se come em segredo.
É preciso dizer-se o que nos dão
no meu país de boa lavra
aonde um homem morre como um cão
à míngua de palavra:
Por cada tronco desnudado um lado
do nosso orgulho ferido
e por cada sobreiro despojado
um homem esfomeado e mal parido.
Ah não, filhos da mãe!
Ah não, filhos da terra!
Os enjeitados também vão à guerra.
José Carlos Ary dos Santos, “Insofrimento in Sofrimento” (1969)
in Op. Cit., pág. 243-244.
Antes e depois da Abril…
Página17
O FUTURO
Isto vai meus amigos isto vai
um passo atrás são sempre dois em frente
e um povo verdadeiro não se trai
não quer gente mais gente que outra gente
Isto vai meus amigos isto vai
o que é preciso é ter sempre presente
que o presente é um tempo que se vai
e o futuro é o tempo resistente
Depois da tempestade há a bonança
que é verde como a cor que tem a esperança
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Poetas de abril

  • 1. Antes e depois da Abril… Página1 EXPOSIÇÃO POETAS DE ABRIL
  • 2. Antes e depois da Abril… Página2 SOPHIA DE MELLO BREYNER ANDRESEN O Velho Abutre1 O velho abutre é sábio e alisa as suas penas A podridão lhe agrada e seus discursos Têm o dom de tornar as almas mais pequenas In Livro Sexto, 1962 Sophia de Mello Breyner Andresen 1 Salazar http://images.wook.pt/getresourcesservlet/GetResource?xby/7jBdtRGd/bqLZ8PSSqQdjX8EuTlh+sI3rtz9bi8=
  • 3. Antes e depois da Abril… Página3 CATARINA EUFÉMIA2 O primeiro tema da reflexão grega é a justiça E eu penso nesse instante em que ficaste exposta Estavas grávida porém não recuaste Porque a tua lição é esta: fazer frente Pois não deste homem por ti E não ficaste em casa a cozinhar intrigas Segundo o antiquíssimo método oblíquo das mulheres Nem usaste de manobra ou de calúnia E não serviste apenas para chorar os mortos Tinha chegado o tempo Em que era preciso que alguém não recuasse E a terra bebeu um sangue duas vezes puro Porque eras a mulher e não somente a fêmea Eras a inocência frontal que não recua Antígona poisou a sua mão sobre o teu ombro no instante em que morreste E a busca da justiça continua 2 Catarina Efigénia Sabino Eufémia nasceu em Baleizão, no Alentejo, a 13 de fevereiro de 1928. Dedicou a sua vida ao trabalho rural, como ceifeira, analfabeta. Durante uma greve, a 19 de maio de 1954, foi baleada por um tenente da Guarda Nacional Republicana. Tinha então 26 anos e carregava ao colo um filho de oito meses, no momento em que é assassinada. Aquele… Poema dedicado a Salgueiro Maia Revolução — Descobrimento Revolução isto é: descobrimento Mundo recomeçado a partir da praia pura Como poema a partir da página em branco — Katharsis emergir verdade exposta Tempo terrestre a perguntar seu rosto in O Nome das Coisas, 1977 Aquele que na hora da vitória Respeitou o vencido Aquele que deu tudo e não pediu a paga Aquele que na hora da ganância Perdeu o apetite Aquele que amou os outros e por isso Não colaborou com a sua ignorância ou vício Aquele que foi «Fiel à palavra dada à ideia tida» Como antes dele mas também por ele Pessoa disse. .Poe
  • 4. Antes e depois da Abril… Página4 NATÁLIA CORREIA SONETO DE ABRIL Evoé! de pâmpano os soldados rompem do tempo em que Evoé! a terra salvé rainha descruzando os braços com seu pé de papiro pisa a fera. Na écloga dos rostos despontados onde dos corvos se retira a treva, de beijo em beijo as ruas são bailados mudam-se as casas para a primavera. Evoé! o povo abre o touril e sai o Sol perfeitamente Abril maravilha da Pátria ressurrecta. Evoé! evoé! Tágides minhas outras vez prateadas campainhas sois na cabeça em fogo do poeta. (Inédito) PoemAbril Antologia de autores organizada por Carlos Loures e Manuel Simões Fora do Texto - Cooperativa Editorial de Coimbra, CRL. Coimbra, 1994 http://2.bp.blogspot.com/Iu578SN6FC8/UjwxaA7v1LI/AAAAAAAABx0/HEh1LzNZl2I/s1600/Natalia_Correia.jpg
  • 5. Antes e depois da Abril… Página5 Cântico do País Emerso3 3 Entre 21 e 22 de Janeiro de 1961, o maior e melhor paquete da Companhia Colonial de Navegação, o ‘Santa Maria’ foi tomado de assalto pelo Directório Revolucionário Ibérico de Libertação (DRIL), chefiado pelo capitão Henrique Galvão e por Jorge de Sottomayor, desencadeando a chamada ‘Operação Dulcineia’. O paquete foi então chamado de ‘Santa Liberdade’. Os previdentes e os presidentes tomam de ponta Os inocentes que têm pressa de voar Os revoltados fazem de conta, fazem de conta... Os revoltantes fazem as contas de somar. Embebo-me na solidão como uma esponja Por becos que me conduzem a hospitais. O medo é um tenente que faz a ronda E a ronda abre sepulcros fecha portais; Os edifícios são malefícios da conjura Municipal de um desalento e de uma Porta. Salvo a ranhura para sair o funeral Não há inquilinos nos edifícios vistos por fora (…) E essa ansiedade de mim mesma me virgula Paula de pátria entressonhada. É um crisol. E, o fruto agreste da linfa ardente que em mim circula Sabe-me a sol. Sabe-me a pássaro. Pássaro ao sol. Entre mim e a cidade se ateia a perspectiva De uma angústia florida em narinas frementes. Apalpo-me estou viva e o tacto subjectiva-me a galope num sonho com espuma nos dentes. E invoco-vos, irmãos, Capitães-Mores do Instinto! Que me acenais do mar com um lenço cor da aurora E com a tinta azulada desse aceno me pinto. O cais é a urgência. O embarque é agora. Natália Correia
  • 6. Antes e depois da Abril… Página6 FERNANDO ASSIS PACHECO Aqui [em Villanueva do silêncio/ del Fresno]4 Porque o mataram com um tiro nas costas, em Villanueva. Aqui, aqui - não fosse falar. Porque o mataram em Villanueva, isto é, longe. Ficou sem voz. Os olhos parados, girassóis na névoa. Breves pulsos desatados. Em Villanueva, com um tiro nas costas. Não fosse falar, mover-se pelas estradas - isto é, perto. Em Villanueva del Fresno. 4 A 13 de Fevereiro de 1965, em Villanueva del Fresno, Humberto Delgado foi assassinado pela PIDE http://www.livroscotovia.pt/fotos/autores/assispacheco_0723671001294165517.jpgEste Olha o mapa. É aqui. Este pequeno ponto quase imperceptível. Aqui, aqui - mostro a quem quer ouvir-me. No silêncio do Outono. Em Villanueva do silêncio del Fresno. Com um tiro. Assim se mata longe, perto. (Francisco Assis,Pacheco, Poemas Livres 3, Porto, Edição dos Autores, 1968, 94 páginas. Coordenação dos Autores. (Francisco Assis,Pacheco, Poemas Livres 3, Porto, Edição dos Autores, 1968, 94 páginas. Coordenação dos Autores. (s/ Depósito Legal; s/ ISBN)).
  • 7. Antes e depois da Abril… Página7 MIGUEL TORGA Lamento Pátria sem rumo, minha voz parada Diante do futuro! Em que rosa-dos-ventos há um caminho Português? Um brumoso caminho De inédita aventura, Que o poeta, adivinho, Veja com nitidez Da gávea da loucura? HTTP://3.BP.BLOGSPOT.COM/_WZ4ANMKKCFE/TDY_VLAGTJI/AAAAAAAABZE/S79P5AQG62W/S1600/MIGUEL +TORGA_THUMB%5B2%5D.JPG Ah, Camões, que não sou, afortunado! Também desiludido, Mas ainda lembrado da epopeia... Ah, meu povo traído, Mansa colmeia A que ninguém colhe o mel!... Ah, meu pobre corcel Impaciente, Alado E condenado A choutar nesta praia do Ocidente... Miguel Torga, in Diário XII, 136.(1975)
  • 8. Antes e depois da Abril… Página8 MANUEL ALEGRE http://www.infopedia.pt/mostra_imagem.jsp?recid=12340 CRÓNICA DE ABRIL (Segundo Fernão Lopes) A rosa a espada o Tempo a lua cheia entre Abril e Abril memória e ato este oculto invisível coração. E a trote dos cavalos os blindados (quem me acorda no meio do meu sono?) «Lisboa está tomada». A rosa e a espada. Subitamente às três da madrugada. Andando o Povo levantado andando Álvaro Pais de rua em rua: «Acudam ao Mestre cá ele é filho d’El-rei. D. Pedro». Entre Abril e Abril. Memória e ato. Verás florir as armas: lua cheia. Saiu de Santarém o Capitão já o Mestre matou o Conde Andeiro e Álvaro Pais nas ruas cavalgando: Matam o Mestre nos Paços da Rainha.
  • 9. Antes e depois da Abril… Página9 E o microfone às três e tal. E as gentes que isto ouviram saíram pelas ruas a ver que coisa era. E começando a falar uns com outros começavam a tomar armas. Aqui Posto de Comando. E soavam vozes de arruído pela cidade. E assim como viúva que rei não tinha se moveram todos com mão armada. E Álvaro Pais gritando: Acudamos ao Mestre meus amigos Acudamos que o matam porquê. E o rouxinol cantou. Ouvi dizer que na torre soaram badaladas. O doce cheiro a terra. O respirar da amada. «E sobre cada povo (Nietzche) está suspensa uma tábua de valores». Verás florir o Tempo. A rosa e a espada. Nel mezzo del camin di nostra vita. Subitamente às três da madrugada. E começava a gente de juntar-se e tanta que era estranha de se ver. Não cabiam nas ruas principais cada um desejando ser primeiro e todos feitos d’um só coração. Não sei se a História tem um fio se não tem. Mas já de Santarém partiu o Capitão. De negro vem vestido em cima da Chaimite. Ouves? É o trote das lagartas. Cavalos e cavalos. O exército da noite e seus blindados. Ó com quanto cuidado e diligência escrever verdade sem outra mistura. Andando o Povo levantando andando um Major aos seus homens perguntando: Adere ou não adere? É só. Mais nada. E o segundo-sargento perfilando-se: Há vinte anos que espero este momento.
  • 10. Antes e depois da Abril… Página10 Verás florir o Tempo. E as armas de- sabrochadas: às três da madrugada. Soem às vezes altos feitos ter começo por pessoas cujo azo nenhum povo podia imaginar. E pois assim aveio que em Lisboa um cidadão chamado Álvaro Pais: Onde matam o Mestre? Que é do Mestre? De cima não faltava quem gritasse que o Mestre estava vivo e o Conde morto. Mas isto já ninguém o queria crer. Continuidade. Descontinuidade. E o que é rutura? E a História? Um caos de acasos. Kairos (dizem os gregos). Conjunturas favoráveis. Verás florir as armas. E já o Capitão entra na Praça andando o Povo levantado andando apoiando a coluna quando avança para cercar o Carmo às doze e trinta. Traziam uns carqueja e outros lenha alguns pediam escadas e bradavam que viesse lume para porem fogo e queimarem o traidor e a aleivosa. E em tudo isto era o tumulto assim tão grande que uns aos outros não se ouviam e não determinavam coisa alguma. E o trote dos cavalos os blindados. (Quem te acorda no meio do teu sono?) Verás florir o Tempo: rosa e espada. Subitamente às três da madrugada.
  • 11. Antes e depois da Abril… Página11 De cortinas corridas está o Carmo. Da torre da Chaimite uma rajada saltam vidros e cal da frontaria e o tempo vai correndo sem resposta. E não parava gente de juntar-se. Onde matam o Mestre? Que é do Mestre? De cima não faltava quem gritasse que o Mestre estava vivo e o Conde morto. Se está vivo mostrai-o e vê-lo-emos. E a gente não parava de juntar-se. Quem fechou estas portas? perguntavam. E já o blindado toma posição. O Capitão olha o relógio e conta e antes que diga três irrompem vivas. Verás florir o Tempo: espada e rosa. Já saiu a cavalo Álvaro Pais já o Mestre matou o Conde Andeiro está caído no Paço trespassado ó Lisboa prezada venham ver o Capitão em cima do blindado Arraial Arraial. E então o Mestre assomado à varanda a todos diz: Amigos sossegai: estou vivo e são. E o rouxinol cantou. Olhai as armas desabrochadas. Cravo a cravo (ouvi dizer). Andando o Povo levantado. E não vereis na crónica senão (sem falsidade) a certidão da História. Manuel Alegre, Atlântico, 1981
  • 12. Antes e depois da Abril… Página12 TROVAS DO MÊS DE ABRIL Foram dias foram anos a esperar por um só dia. Alegrias. Desenganos. Foi o tempo que doía Com seus riscos e seus danos. Foi a noite e foi o dia Na esperança de um só dia. Foram batalhas perdidas. Foram derrotas vitórias. Foi a vida (foram vidas). Foi a História (foram histórias) Mil encontros despedidas. Foram vidas (foi a vida) Por um só dia vivida. Foi o tempo que passava como nunca se passasse. E uma flauta que cantava como se a noite rasgasse Toda a vida e uma palavra: liberdade que vivia Na esperança de um só dia. Musa minha vem dizer o que nunca então disse Esse morrer de viver por um dia em que se visse um só dia e então morrer. Musa minha que tecias um só dia dos teus dias. Vem dizer o puro exemplo dos que nunca se cansaram musa minha onde contemplo os dias que se passaram sem nunca passar o tempo. Nesse tempo em que daria a vida por um só dia. Já muitas águas correram já muitos rios secaram batalhas que se perderam batalhas que se ganharam. Só os dias morreram em que era tão curta a vida Por um só dia vivida. E as quatros estações rolaram com seus ritmos e seus ritos. Ventos do Norte levaram festas jogos brincos ditos. E as chamas não se apagaram. Que na ideia a lenha ardia Toda a vida por um dia. Fogos-fátuos cinza fria. Musa minha que cantavas A canção que se vestia com bandeiras nas palavras: Armas que o tempo tecia. Minha vida toda a vida Por um só dia vivida.
  • 13. Antes e depois da Abril… Página13 JORGE DE SENA CANTIGA DE ABRIL Às Forças Armadas e ao povo de Portugal «Não hei-de morrer sem saber qual a cor da liberdade» J. de S. Qual a cor da liberdade? É verde, verde e vermelha. Quase, quase cinquenta anos reinaram neste pais, e conta de tantos danos, de tantos crimes e enganos, chegava até à raiz. Qual a cor da liberdade? É verde, verde e vermelha. Tantos morreram sem ver o dia do despertar! Tantos sem poder saber com que letras escrever, com que palavras gritar! Qual a cor da liberdade? http://2.bp.blogspot.com/4GaYrcw61DI/T1KW2HEknKI/AAAAAAAAAGo/4CEmcWXdkbQ/s1600/Jorge+de+Sena.jpg
  • 14. Antes e depois da Abril… Página14 É verde, verde e vermelha. Essa paz de cemitério toda prisão ou censura, e o poder feito galdério. sem limite e sem cautério, todo embófia e sinecura. Qual a cor da liberdade? É verde, verde e vermelha. Esses ricos sem vergonha, esses pobres sem futuro, essa emigração medonha, e a tristeza uma peçonha envenenando o ar puro. Qual a cor da liberdade? É verde, verde e vermelha. Essas guerras de além-mar gastando as armas e a gente, esse morrer e matar sem sinal de se acabar por politica demente. Qual a cor da liberdade? É verde, verde e vermelha. Esse perder-se no mundo o nome de Portugal, essa amargura sem fundo, só miséria sem segundo, só desespero fatal. Qual a cor da liberdade? É verde, verde e vermelha. Quase, quase cinquenta anos durou esta eternidade, numa sombra de gusanos e em negócios de ciganos, entre mentira e maldade. Qual a cor da liberdade? E verde, verde e vermelha. Saem tanques para a rua, sai o povo logo atrás: estala enfim altiva e nua, com força que não recua, a verdade mais veraz. Qual a cor da liberdade? É verde, verde e vermelha. 26-28(?)/4/1974
  • 15. Antes e depois da Abril… Página15 JOSÉ CARLOS ARY DOS SANTOS http://2.bp.blogspot.com/-XINQXMdMhM8/UXFMzAJnQLI/AAAAAAAACOI/_U-WWBWjjaU/s400/arydossantos.jpg É preciso dizer-se o que acontece no meu país de sal há gente que arrefece que arrefece de sol a sol de mal a mal. É preciso dizer-se o que acontece no meu país de sal. Passando o Tejo para além da ponte que não nos liga a nada só se vê horizonte horizonte e tristeza queimada. feita de pus no sangue de lama na barriga nasce da terra exangue e inimiga
  • 16. Antes e depois da Abril… Página16 É preciso dizer-se o que se passa no meu país de treva: uma fome tão grande que trespassa o ventre de quem a leva. É preciso dizer-se o que se passa no meu país de treva: mal finda a noite escurece logo o dia e uma espessa energia É o vapor da sede é o calor do medo. a cama do ganhão a casca do sobredo. É o suor com pão que se come em segredo. É preciso dizer-se o que nos dão no meu país de boa lavra aonde um homem morre como um cão à míngua de palavra: Por cada tronco desnudado um lado do nosso orgulho ferido e por cada sobreiro despojado um homem esfomeado e mal parido. Ah não, filhos da mãe! Ah não, filhos da terra! Os enjeitados também vão à guerra. José Carlos Ary dos Santos, “Insofrimento in Sofrimento” (1969) in Op. Cit., pág. 243-244.
  • 17. Antes e depois da Abril… Página17 O FUTURO Isto vai meus amigos isto vai um passo atrás são sempre dois em frente e um povo verdadeiro não se trai não quer gente mais gente que outra gente Isto vai meus amigos isto vai o que é preciso é ter sempre presente que o presente é um tempo que se vai e o futuro é o tempo resistente Depois da tempestade há a bonança que é verde como a cor que tem a esperança quando a água de Abril sobre nós cai. O que é preciso é termos confiança se fizermos de maio a nossa lança isto vai meus amigos isto vai