1. A África dos grandes
reinos e impérios
Descobrindo a África Histórica
2. Antes de os europeus escravizarem os africanos, a partir do século XV, e
colonizarem a África, no século XIX, diversas sociedades autônomas já
existiam nesse continente, ou seja, as sociedades africanas já tinham a sua
própria história. Algumas sociedades africanas pré-coloniais, sob o
comando de chefes poderosos, ampliaram suas áreas de influência e
dominaram outros povos, transformando-se, assim, em impérios e reinos
prósperos e organizados, conforme relatos da época. Vamos falar sobre
quatro dos grandes reinos africanos: Gana, Mali, Congo e Benin, mas antes
faz-se necessário conhecer um pouco mais do retrato físico deste
continente.A diversidade social, política e cultural da África ocorreu graças
à extensão do continente e suas características geográficas.
3. A África é cercada a nordeste pelo mar Vermelho, ao norte pelo
Mediterrâneo, a oeste pelo oceano Atlântico e a leste pelo oceano Índico. Em
termos geográficos, suas principais marcas são o deserto do Saara ao norte
que divide o continente, o deserto do Calahari a sudoeste, a floresta tropical
do centro do continente, as savanas, ou campos de vegetação esparsa e
rasteira, que separam áreas desérticas de áreas de florestas, e algumas
terras altas, como aquelas nas quais nascem os rios que formam o Rio Nilo.
Os rios são os meios de comunicação mais importantes do continente.
4. Essas diversidades naturais levaram estudiosos a falar de duas Áfricas,
demarcadas pelo deserto do Saara: a África saariana que se localiza ao
norte do continente e estende-se pela região que vai do atual Egito até
Marrocos e a África subsaariana que estende-se do Saara até o Cabo da
Boa Esperança, ao sul do continente, como podemos ver no mapa abaixo
que representa a atual divisão territorial da África.
5. DIVISÃO GEOGRÁFICA:
• ) ÁFRICA SAARIANA
• Localização: norte do continente (estende-se pela região que vai do atual Egito até o Marrocos).
• Povos que habitavam a região: egípcios e líbios
• Organização: em aldeias de agricultores e tinham leis com base nos costumes e nas assembleias, que estipulavam as decisões
políticas.
• Outros grupos dedicaram-se ao pastoreio e eram nômades. Formavam confederações e eram liderados por conselhos de anciãos ou por
um único chefe.
• Século III a.C. - união das aldeias levou à formação dos reinos.
• II) ÁFRICA SUBSAARIANA
• Localização: ao sul do deserto do Saara até o cabo da Boa Esperança, no extremo sul do continente.
• Povos que habitavam a região: vários grupos étnicos, com línguas e culturas diversas.
• Para melhor estudar essa região, alguns historiadores dividem-na em quatro áreas:
• a) África ocidental: região mais urbana em razão do comércio com os islâmicos ao norte, com a predominância das etnias haussa e
iorubá;
• b) África central e meridional: ocupada por povos cuja língua era originária dos bantos, ou seja, dos povos que migraram para a
região, expulsando de lá os antigos habitantes, que não se adaptaram à nova cultura;
• c) África etíope: o contato com os povos da costa do mar Vermelho e do mar Mediterrâneo trouxe para os etíopes o cristianismo, que
se tornou sua principal religião. Persas e muçulmanos, nos séculos VI e VII, respectivamente, dificultaram o contato dos etíopes com os
bizantinos, que eram seus aliados. Assim, barrados de leste a oeste, os reis etíopes expandiram seus reinos para o sul;
• d) África da costa oriental: região povoada por bantos, mas também por outros povos, como os malaios, que vinham da Indonésia,
sendo influenciados pela cultura árabe e muçulmana.
6. OS POVOS AFRICANOS
Enorme diversidade social, política e cultural no continente, ocorrida graças à
sua extensão e às características geográficas.
• I) Aspectos política:
• Outros estavam organizados em aldeias, formadas por conjuntos de
famílias que viviam sob o comando de conselhos de anciãos e de chefes de
clãs.
• Alguns deles possuíam governos centralizados;
•
• II) Aspectos social:
• Povos nômades e povos sedentários.
• A propriedade da terra e o trabalho eram coletivos e havia a escravidão
doméstica (prisioneiros de guerra eram obrigados a trabalhar para toda a
aldeia).
•
7. III) Aspectos econômica:
Praticava a agricultura e o pastoreio,
Desenvolviam a agrícolas, viviam também da caça, da pesca e da extração de minérios.
Outras dedicavam-se ao comércio e às trocas de produtos artesanais e agrícolas
Exploração de jazidas de ouro e de pedras preciosas, como o diamante.
Existência de minas de cobre, ouro e sal atraíram comerciantes e possibilitaram o
desenvolvimento do comércio.
O desenvolvimento do comércio mais o excedente de alimentos levou à formação de
núcleos urbanos comerciais, constituídas por famílias independentes e autônomas.
Era comum que diversas aldeias vizinhas fossem ligadas por uma mesma rede comercial
e governadas pela autoridade de um só chefe político.
Algumas dessas cidades controlavam a extração e a fundição de metais, o que
possibilitou a produção de armas com ferro ou cobre, desenvolvendo assim maior poderio
bélico e militar.
Essas cidades acabaram por dominar outras, constituindo assim os impérios e reinos,
que se destacariam política, economicamente e militarmente.
8. IV) Aspectos culturais:
Religião: politeísta animista - acreditavam que as formas da natureza – plantas, animais,
minerais – possuíam alma e intencionalidade, eram consideradas inferiores. (Havia uma
concepção de profunda relação entre as forças naturais, as sobrenaturais e as humanas, na qual
todo o Universo seria interligado: árvores, montanhas, pedras e astros exerceriam influência sobre
a Terra e a vida dos seres humanos, e vice-versa).
As máscaras são as formas mais conhecidas da arte africana no Ocidente. (Muitas mascaras,
bem como outros objetos, eram usados para reverenciar os ancestrais e as forças da natureza,
invocar forças vitais e boas colheitas e acompanhar os ritos, as danças e as cerimônias religiosas.
Esses objetos também serviam para relembrar as origens míticas de cada comunidade.
Simbolizavam espíritos naturais e eram utilizadas durante as cerimônias, associadas a novas
colheitas, iniciações masculina e feminina, casamentos, nascimentos e funerais).
Cada grupo social da África tradicional tinha sua maneira de conceber o mundo e explicar sua
origem.
9. A chegada do islamismo
No século VII - Os árabes dominaram a região, converteram ao islamismo a maioria da
população e ampliaram o contato com povos da África subsaariana.
Atrativo que o continente africano oferecia aos islâmicos era a possibilidade de
desenvolvimento do comércio e a obtenção de riquezas minerais, como o ouro.
Foi a partir da chegada dos povos islâmicos que o registro da história de muitas regiões
da África começou a ser feito.
Os comerciantes árabes negociavam com os africanos ouro extraído nas proximidades
dos rios Senegal e Níger e seus afluentes, produtos de caça – como plumas de avestruz,
peles, marfim –, cornos de rinoceronte, óleos, animais, pigmeus e escravos. Em troca, os
mercadores árabes traziam artigos de luxo, como louças, talheres finos, incensos, espadas
ricamente decoradas, cavalos e cobre.
10. OS GRANDES REINOS DA ÁFRICA
Antes das Grandes Navegações (séculos XV e XVI) e da colonização europeia (século XIX), já
existiam no continente, chamado África tradicional, sociedades diversas e independentes, com organizações
econômicas, políticas e culturais próprias.
O reino de Gana: a “terra do ouro”
O império do Mali: o “lugar onde o senhor reside”
Reino do Congo: “saudações ao manicongo”
Reino do Benin: “os feitos de obá”
O CONTINENTE AFRICANO (SÉCULOS X–XIV
11. O reino de Gana: a “terra do ouro”
Localizado a oeste do continente africano, em uma zona chamada Sael e ao sul do Deserto do Saara,
região também conhecida como África Subsaariana, o Reino de Gana cresceu a partir do ano 300 e teve
seu apogeu entre os séculos IX e X, quando dominou os povos vizinhos e ocupou uma faixa territorial
maior do que ocupa nos dias de hoje.
O rei recebia o título de gana e era visto como elo entre os deuses e os homens. Ele liderava um
poderoso exército e ocupava o topo de uma sociedade hierarquizada. Sacerdotes, nobres e funcionários
cuidavam da administração do reino.
A população se dedicava à agricultura e à criação de gado, mas o comércio era a principal atividade
econômica do reino. O Reino de Gana controlava as rotas de comércio que atravessavam o Saara e
chegava às cidades e aos portos do norte África. Esse comércio era feito por meio de caravanas de
camelos, pois esses animais conseguem viver com pouca quantidade de água.
O principal artigo transportado era o ouro retirado das minas do sul de Gana, isso explica por que
seus reis eram chamados pelos povos do norte de “senhores do ouro”. Durante o domínio português,
Gana era chamada de Costa de Ouro, por causa da grande quantidade de jazidas de ouro nessa região.
Atualmente, ao lado da exportação de cacau e de madeira, a exploração de ouro ainda é uma das
atividades econômicas mais importantes do país. Gana é um dos maiores produtores de ouro do mundo.
Também se comercializava o sal, extraído das salinas do litoral ou das jazidas no deserto. Do norte
vinham produtos manufaturados, tecidos europeus asiáticos, barras de cobre, contas de vidro e tipos
diferentes de arma que abasteciam as sociedades africanas.
12. O império do Mali: o “lugar onde o senhor reside”
Este império desenvolveu-se entre os séculos XIII e XVI, período em que impôs sua hegemonia sobre a
bacia do Rio Níger. Constituído pela atual República de Mali e algumas regiões dos atuais Senegal e
Guiné, o reino do Mali, no século XIV, expandiu-se por meio da anexação das cidades de Tombuctu, Gao
e Djenne que foram importantes cidades, centros de troca e de concentração de pessoas, graças à rede de
rios que fertilizava as terras e facilitava o transporte na região.
O Mali era um império poderoso, pois controlava o comércio transaariano e as rotas caravaneiras que se
dirigiam para as principais cidades do reino, localizados em sua maioria às bordas do Rio Níger,
semelhante a rota comercial de Gana. O comércio e principalmente as taxas sobre o tráfico de ouro, sal,
escravos, marfim, noz-de-cola e outros produtos eram fundamentais para a manutenção do Estado, da
corte e do mansa. O artesanato era bastante desenvolvido. Cada grupo de artesãos tinha seu representante
junto ao imperador. Os governantes do Mali recebiam o título de mansa. Viajantes árabes relatavam
histórias de alguns governantes que se tornaram famosos, como Sundiata, herói fundador que reinou de
1230 a 1255, e Mansa Musa, que governou entre 1312 e 1337.
.
13. Mansa Musa - (Extraído do blog: civilizacoesafricanas.blogspot.com)
A cidade de Tombuctu destacou-se como grande centro cultural do continente africano, onde havia vastas
bibliotecas, madrassas (universidades islâmicas) e magníficas mesquitas que é o lugar onde a comunidade
muçulmana se reúne para tratar de todas as questões que lhe interessa, questões religiosas, sociais,
políticas e locais e também para rezar. Além disso, a cidade passou a ser o ponto de encontro de poetas,
intelectuais e artistas da África e do Oriente Médio. Mesmo após o declino do império, Tombuctu
permaneceu como um dos principais pólos islâmicos da África subsaariana. Em 1988, a cidade de
Timbuctu foi declarada patrimônio mundial pela UNESCO.
Vale destacar que as 150 escolas que existiam em Tombuctu eram muito diferentes das escolas medievais
européias. Não possuíam uma administração central, registros de estudantes ou cursos pré- determinados.
Eram formadas por diversas faculdades independentes. Os estudantes se associavam a um único
professor, o objetivo do ensino era transmitir os ensinamentos do Alcorão, livro sagrado do islamismo.
É importante mencionar que o império do Mali e também de Gana assimilaram a cultura e a religião
islâmica. Maomé que viveu entre Meca e Medina, de 570 a 632, foi fundador do Islã, que significa
submissão a um deus, única e onipotente. A religião vinha acompanhada de maneiras de viver e de
governar próprias do mundo árabe, chamadas de muçulmanas, sobre este assunto estudaremos com mais
detalhes mais adiante
14. Reino do Congo: “saudações ao manicongo”
Fundado no século XIV, o reino do Congo abrangia grande extensão da África centro-ocidental e se
compunha de diversas províncias, governado por um rei que recebia o título de Manicongo. Hoje a região
que fazia parte do reino Congo, recebe o nome de Republica Democrática do Congo.Os habitantes do
reino do Congo organizavam-se em vários clãs. Esses clãs eram compostos de pessoas que acreditavam
descender de um mesmo antepassado.
A base da economia do Congo era a agricultura, pastoreio e o comércio. O comércio no território do
Congo era intenso, os comerciantes congoleses lucravam com a comercialização de tecidos, sal, metais e
derivados de animais, como o marfim. O comércio poderia ser à base de trocas ou com moedas (conchas
chamadas de nzimbu) encontradas na região de Luanda em Angola.
O manicongo, cercado de seus conselheiros, controlava o comércio, o trânsito de pessoas, recebia
impostos, exercia a justiça, buscava garantir a harmonia da vida do reino e das pessoas que viviam nele.
Os limites do reino eram traçados pelo conjunto de aldeias que pagavam tributos ao poder central,
devendo fidelidade a ele, recebendo proteção, tanto para assuntos deste mundo como para os assuntos do
além, pois manicongo também era responsável pelas boas relações com os espíritos e os ancestrais.
Em 1483 iniciou no reino do Congo o contato com os portugueses.
15. Reino do Benin: “os feitos de obá”
Há indícios de que este reino tenha se desenvolvido entre os séculos XII e XIII, onde hoje estão Nigéria e Camarões.
Desde cedo, essa região passou por um processo de urbanização, e as cidades se converteram em reinos. Sua
localização favorecia o encontro de mercadores.
A principal atividade econômica do reino de Benim era o comércio de sal, peixe seco, inhame, dendê, feijão, animais
de criação, o cobre, produto raro, só possível para os mais poderosos, ou seja , os mais ricos. Produtos como
pimenta, marfim, tecidos e escravos eram comercializados ativamente com os reinos de Ifê e o reino Iorubá. Para
prevenir a redução da população nativa, o governo proibiu a exportação de escravos masculinos e os importou da
África ocidental para comerciá-los com os europeus a partir do século XVI.
Cronistas descreveram a cidade do Benin com grandes muralhas e um palácio decorados com placas de latão presas
às paredes. Nessas placas, era contada a história do reino: feitos do obá (titulo do principal chefe do reino que se
tornou o supremo poder na região), as caçadas, as guerras e os primeiros contatos com os portugueses, por volta de
1485. A chegada dos europeus foi registrada pelos artistas africanos com imagens esculpidas nessas placas e em
pequenas estatuetas de marfim.
Cabeça de marfim, Império de Benim, século XVI (Metropolitan Museum of Art). (Extraído do blog:
civilizacoesafricanas.blogspot.com)
O reino de Benin se desintegrou no século XIX, sob o domínio dos ingleses.
16. O contato entre os reinos africanos
A interação destes reinos acima estudados, e demais reinos africanos ocorreu através
do comércio, ora através de relações pacificas , ora conflituosas, como foi o caso do
reino de Gana que no século XIII foi governado por Sundiata Keita, rei do Império do
Mali.
Quando os europeus começaram a explorar a costa africana, no século XV,
encontraram diferentes povos, com línguas, tradições e costumes distintos. O contato
dos europeus com essa diversidade de etnias, por meio da exploração das terras
africanas e do escravismo, produziu um intercâmbio cultural que se pode notar em
quase todo o planeta. No Brasil podemos reconhecer a África na capoeira, embalada
pelo berimbau; a culinária, enriquecida com o vatapá, o caruru e outros quitutes; as
influências musicais do batuque e a ginga do samba e dos instrumentos como cuícas,
atabaques e agogôs. Estamos ligados ao continente africano de forma indissolúvel.
18. Reino do Congo • Fundado no século XIV, centro-ocidental; • População formada principalmente pelos bankogo,
etnia banto; • Maior parte veio para Brasil, na grande fase da mineração, em Minas Gerais, no séc. XVIII; •
Comercialização intensa de tecidos, sal, metais e derivados de animais; • Manicongo, nome dado ao rei do Congo. Este
batizado ao cristianismo com o nome de D. João I do Congo; • Após conflitos pela sucessão do trono congolês,
assume o D. Afonso I, o mais importante rei da história luso- congolês. Governou por 37 anos.
• A escravidão Africana Os escravos eram considerados bens móveis,
podendo ser comprados ou vendidos; A escravidão mantinha o prestígios
dos reis e chefes das aldeias; Começou com as guerras e conflitos entre as
tribos rivais; banditismo e sequestro faziam parte deste processo; Era
utilizado também como punição para assassinatos e roubos; Finalmente, a
escravidão voluntária, devido a fome.