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    REPRESENTAÇÃO DO NEGRO NO LIVRO DIDÁTICO DE CIÊNCIAS PARA O
                                       ENSINO FUNDAMENTAL
                           ÁREA DO CONHECIMENTO: EDUCAÇÃO
                                                                                Sonia Helena Furtado Costa 1
                                                                     Helena do Socorro Campos da Rocha 2
                                                                                     Ronaldo Martins Gomes 3


RESUMO
Este trabalho tem por objetivo analisar de que forma o negro está representado no livro
didático de Ciências para o ensino fundamental. Textos e imagens que apresentaram negros
como personagens, foram analisados, verificando-se a existência ou não de estereótipos e
formas discriminatórias aos mesmos. As análises indicaram, além da sub-representação do
negro, a presença de estereótipos e formas de preconceitos presentes tanto nas imagens como
nos textos, de forma explicita ou implícita, evidenciando um descaso e/ou preconceito com a
etnia negra por parte dos autores e/ou ilustradores. Tendo em vista que o professor é o
mediador das informações previamente estabelecidas nos livros didáticos, acreditamos que o
mesmo deva estar apto a detectar e observar fragilidades implícitas nos livros, tais como a
presença de preconceitos raciais. Nesse sentido, propõem-se o desenvolvimento de cursos de
educação continuada, cursos de aperfeiçoamento, extensão, especialização, abordando a
temática étnico-racial, como os que têm acontecido na instituição no Centro Federal de
Educação Tecnológica do Pará.

Palavras-chave: negro. livro didático. ciências.

Introdução
           Falar sobre preconceito racial no Brasil pode parecer, para muitos, coisa do passado,
algo que foi deixado para trás com a abolição da escravatura. Há tempos, a classe hegemônica
dominante branca insiste em simular um quadro democraticamente racial, onde todos vivem
de maneira harmônica, sem discriminações ou preconceitos. Sabe-se, entretanto, que tal
democracia não existe, pois a realidade brasileira é totalmente contrária a qual a classe
dominante insiste em fazer prevalecer como a real. A literatura não deixa margem para
dúvidas, pois está repleta de informações que mostram ao longo das décadas a presença de
racismo e formas discriminatória ao negro na sociedade Brasileira (ROSEMBERG, 2003;
AQUINO, 2003; GOMES, 2003; ROCHA, 2006; MAGGIE, 2006; KALCKMANN, 2007).


1
  Mestre em Ciências Veterinárias – UECE; Bacharel em Biologia – UFPA; Licenciada Plena em Biologia – CEFET-PA;
Concluinte do Curso de Especialização em Educação para Relações Étnico Raciais. sonia_helena35@yahoo.com.br;
2
  Orientadora do Artigo. Professora de Educação Especial do CEFET-PA. Mestre em Teoria e Pesquisa do Comportamento –
Psicologia Experimental – UFPA; Doutoranda em Teoria e Pesquisa do Comportamento – Psicologia Experimental – UFPA;
Coordenadora do Curso de Especialização em Educação para Relações Étnico Raciais – CEFET-PA;
3
  Co-orientador do Artigo. Graduando em Licenciatura Plena em Pedagogia do CEFET-PA; Bolsista da Diretoria de
Ensino Superior CEFET-PA e vice-presidente do DCE – CEFET-PA.
2




         O racismo, na maioria das vezes, acontece de forma subliminar, implícita, silenciosa
e, tão sutilmente articulado que passa despercebido por muitos, porém não deixa de atingir
seu objetivo, que é desvalorizar, marginalizar, diminuir, destruir, execrar a auto-estima, a
dignidade, a cultura e a história da classe social africana e afro-brasileira. Segundo Lima &
Vala (2004), as novas expressões de racismo, mais veladas e hipócritas, são tão ou mais
danosas e nefastas do que as expressões mais abertas e flagrantes, uma vez que, por serem
mais difíceis de serem identificadas, são também mais difíceis de ser combatidas.
         Diversas pesquisas têm demonstrado, ao longo dos anos, que o Livro didático têm
sido utilizado na reprodução de estereótipos e formas discriminatória ao negro, contribuindo
para o fortalecimento das desigualdades (ROSEMBERG, 1980, 2003; NEGRÃO, 1990;
SILVA, 1995; FREITA, 2005; CARVALHO, 2006). Essa questão é preocupante, haja vista o
livro didático, enquanto recurso pedagógico, fazer-se presente “desde os momentos iniciais de
escolarização das crianças, que aprendem a percebê-los como legitimadores de ‘verdades’”
(COSTA, 2008).
         Nesse contexto é que o presente estudo tem por objetivo verificar de que forma o
negro está representado no livro didático de ciências para o Ensino Fundamental, e dessa
forma tentar contribuir para o fim do preconceito racial ainda tão latente nas práticas
pedagógicas.
         A maioria dos livros de Ciências presente no Guia de Ciências do Programa
Nacional do Livro Didático para o Ensino Fundamental apresenta um manual do professor, há
um tópico que trata da relevância que as Ciências têm para os jovens. Neste, lê-se que na
medida que o jovem aumenta sua compreensão da estrutura e do funcionamento da natureza,
ele aprenderá a observar intencionalmente, a formular hipóteses, a experimentar para testá-las,
a concluir e, finalmente, a operar com os conceitos adquiridos para solucionar novos
problemas; que o aluno constrói, gradualmente, valores e princípios que lhe permitem melhor
enfrentar os desafios do dia-a-dia, tanto àqueles relacionados ao mundo do trabalho como os
que exigem um posicionamento ético diante dos fatos.
          Aprender Ciência, portanto, faz parte de um dos objetivos maiores da educação, que
é o de formar cidadãos conscientes, participantes e solidários.
       Após a implementação da Lei 10.639, promulgada em 9 de fevereiro de 2003, que
tornou obrigatório a inclusão no currículo oficial da Rede de Ensino a temática “História e
Cultura Afro-Brasileira”, em especial nas áreas de Educação Artística, Literatura e História
Brasileira (BRASIL, 2008), acredita-se que outras disciplinas, tais como as Ciências, tenham
também incluído em seus livros didáticos tal temática, contribuindo, dessa maneira, para
3




minimizar o preconceito racial, além de contribuir para a formação de uma escola voltada
para a diversidade cultural pronta a respeitar as diferenças raciais.
       Estando plenamente de acordo que o livro de Ciência exerce forte influência na
formação do aluno e do cidadão brasileiro, é que nos propusemos a examinar imagens e textos
utilizados nos livros didáticos de Ciências para verificar se tais livros têm incorporado o que
prega a Lei 10.639. Para nortear esse exame, delimitamos nossos problemas em algumas
questões, tais como: o número de ilustrações de pessoas negras e pardas nos livros de
Ciências do ensino fundamental é proporcional ao de ilustrações de pessoas brancas? Há
presença de estereótipos e formas discriminatórias ao negro nas imagens e textos que
apresentam o negro como personagem?
       Diante do exposto, o presente artigo tem por objetivo geral, analisar a maneira pela
qual os negros são representados nos livros didáticos de Ciências do Ensino Fundamental e,
como objetivos específicos, verificar se o número de imagens de negros é proporcional ao
número de imagens de brancos; identificar, ainda, a presença de estereótipos e formas
discriminatórias ao negro nas ilustrações que apresentam o negro como personagem, bem
como identificar a presença de estereótipos e formas discriminatórias ao negro nos textos que
o apresentam como personagem.
       Para tanto, selecionamos um livro de Ciências da 6ª série do ensino fundamental que
faz parte do guia de Ciências do Programa Nacional do Livro Didático (PNLD): “Entendendo
a Natureza: os seres vivos no ambiente” dos autores César da Silva Júnior, Sezar Sasson e
Paulo Sérgio Bedaque Sanches, Editora Saraiva, ano 2007. O critério utilizado para a seleção
do livro didático neste estudo foi justamente sua presença no PNLD.
         Nesta pesquisa, são tomados como instrumentos de análise os textos e as imagens,
presentes no livro didático de Ciências, que mostram o negro como personagem,
identificando-se a existência da presença de formas discriminatórias à etnia, construídas pelos
autores e ilustradores; enfocando situações atribuídas, o meio sócio-cultural e a forma pela
qual o negro destacado aparece ilustrado. Vale ressaltar, que, para fins de classificação,
considerou-se como ilustrações: fotos, figuras e desenhos de seres humanos.
       Selecionadas as imagens, iniciou-se um trabalho de descrição minuciosa, nas quais
pudéssemos encontrar negros retratados. Realizamos também um estudo quantitativo, no qual
comparamos os números de imagens que representavam sujeitos negros com aquelas imagens
que traziam sujeitos brancos retratados, bem como a análise dos textos e legendas, buscando
estabelecer relações destas com as imagens.
4




         Vale ressaltar que é difícil definir quem é considerado negro no Brasil. Segundo
Munanga (2004), a classificação racial no Brasil é “baseada na marca e na cor da pele, e não
na origem ou no sangue, como nos Estados Unidos e na África do Sul”. Dessa forma,
utilizamos neste estudo uma classificação por cor, baseada nas categorias usadas pelo Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística, que considera negro todos pretos e pardos (OLIVEIRA,
2004).
         O presente artigo está subdividido em três partes. A primeira parte trata da abordagem
da imagem de negros no livro didático de Ciências para o ensino fundamental; a segunda
parte trata de estereótipos e formas discriminatórias ao negro nas ilustrações dos livros
didáticos de Ciências e, finalmente, a terceira parte deste artigo trata de estereótipos e formas
discriminatórias ao negro nos textos dos livros didáticos de Ciências.
         Sabendo-se que os afro-descendentes que compõem a população brasileira são da
maior importância na constituição do estado, a relevância do presente artigo se dá pela
necessidade que esse segmento tem de se ver representado nos livros didáticos das várias
áreas, não apenas naquelas apontadas pela Lei 10.639/03, ou seja, Educação Artística,
Literatura e História Brasileiras.


1. Abordagem quantitativa das imagens do negro no livro didático de Ciências


         Nessa seção, pretendemos mostrar ao leitor como o negro está representado no livro
didático de Ciências, ou seja, se o número de ilustrações de personagens negros é
proporcionalmente similar ao número de personagens não negros; mostrando, dessa forma, se
os autores estão, de fato, dando a devida atenção a esse segmento, tendo em vista os mesmos
a merecem, não apenas por que ficaram por anos na “invisibilidade”, mas por ser um direito
previsto em Lei (10.639/08), e como tal deve ser respeitado.
         Muitas vezes, o livro didático se constitui como a única fonte de acesso ao
conhecimento, tanto por professores, em razão das condições de trabalho, ou seja, salas de
aulas repletas de alunos e escassez de materiais pedagógicos, como também pelos alunos, que
oriundos das classes populares e de baixa renda, é pouco provável que tenham contato com
outras leituras. Assim, “em virtude da importância que lhe é atribuída e do caráter de verdade
que lhe é conferido, o livro didático pode ser um veículo de expansão de estereótipos não
percebidos pelo professor” (MUNANGA, 2005, p. 23).
         Nosella (1981, apud COSTA, 2008) descreve que a maioria dos livros didáticos está
repleta de estereótipos. Segundo a autora, a forma de representar os valores, noções e crenças,
5




é dada pelos “dominantes” que querem continuar o processo de dominação. A autora
menciona, ainda, que a mensagem visual se torna um eficiente instrumento ideológico
complementar dos textos, devido à sua força comunicativa, rapidez e impacto emotivo, muitas
vezes maior que a própria comunicação escrita.
       A representação de imagens visuais resulta de processos produtivos que acompanham
a existência humana desde os tempos mais remotos. Assim, estudar as imagens tornou-se
tarefa quase obrigatória não só para historiadores e professores de História, de Comunicação e
de Arte, como também para quem queira saber interpretá-las numa sociedade onde grande
parte dos valores é regida por signos ou códigos visuais, carregadas de ideologias e
estereótipos.
       Para a análise do tratamento dispensado ao negro nos livros didáticos de Ciências,
conforme citado anteriormente, procedeu-se à contagem do número de vezes que pessoas
negras aparecem nas ilustrações, sendo estas representadas por fotos, figuras e desenhos que
mostrem o corpo inteiro de personagens humanos negros, bem como partes do corpo ou
simplesmente sua epiderme.
       Após contagem das ilustrações apresentadas no livro, observamos um total de 39
imagens de personagens humanos, onde apenas 6 eram negros. Esses resultados nos permitem
dizer que para cada 7 personagens identificados no livro de Ciências analisado, apenas 1
personagem era negro. Diante destes resultados, podemos afirmar que o negro aparece de
forma sub-representada nos livros didáticos de Ciências do ensino fundamental. Além disso,
essa diferença marcante observada entre o número de ilustrações de personagens negros e
brancos analisados no livro, leva-nos a perceber claramente um silenciamento sobre a questão
étnico-racial e sugere que os poucos negros que aparecem servem apenas para simular um
quadro de igualdade racial, sem êxito, pois, fica claro, pela grande quantidade de personagens
brancos presentes nos livros, que o branco ainda é tido como norma de humanidade.
       Rosemberg (1985 apud ROSEMBERG, 2003), analisando a literatura infanto-juvenil,
da mesma forma, verificou a sub-representação de personagens negros em textos e
ilustrações.
       Freitas (2005), em seu estudo sobre a relação negros, brancos e índios nos manuais
didáticos de História, mostrou uma situação majoritária da representação de brancos (180
ocorrências), seguida de uma sub-representação de negros (20).
       Silva (2007) verificou uma desproporção entre personagens brancos e negros em
livros didáticos de Língua Portuguesa, onde para cada personagem negro eram observados
16,7 personagens brancos.
6




       Sales Jr. (2006), afirma, porém, que a discriminação de caráter racial, muitas vezes,
ocorre sem nenhuma enunciação explícita ou implícita e que as relações raciais constituem,
nesse caso, um discurso silencioso, um jogo de linguagem não-verbal, não-dito.
       Além disso, podemos dizer que o silenciamento referente ao segmento negro pode ser
verificado não apenas pela omissão de palavras textuais, mas também pela ocultação ou
redução quase completa de suas imagens. Nós, professores, devemos, portanto, ter o cuidado
para não cairmos nessas armadilhas, compactuar com esse silenciamento.
       Segundo Aquino (2003), silenciar a história de determinado grupo social é reforçar o
racismo, é silenciar os saberes históricos; é condená-los ao holocausto cultural. O autor diz
ainda que “silenciar a cultura do outro por meio de estratégias de submissão e inferiorização é
apagar as vozes da história, é extirpar a memória” (AQUINO, 2003, p.11).
       Após a identificação de problemas acerca da representação do negro no livro didático
de Ciências, tais como a sub-representação e silenciamento, nada mais justo que apontar
proposições para melhoria desse livro. Sugerimos, inicialmente, aos autores, às editoras, aos
ilustradores, aos professores, aos órgãos competentes e a todos àqueles que, de alguma forma,
sintam-se responsável pela educação e formação de uma sociedade livre de preconceitos e
racismos, que, inicialmente, buscassem realmente compreender a importância social que a
cultura africana e afro-descendente tem para um país marcado pela diversidade étnica e
cultural - o Brasil; que buscassem reconhecer a relevância de incluir a cultura negra nos livros
didáticos; pois dessa maneira, será muito mais fácil tratar de questões como preconceito e
estereótipos nos livros didáticos.
       Ainda no que diz respeito aos livros didáticos, sabe-se que estes têm se constituído em
fontes inesgotáveis de pesquisa que abordam os mais diversos temas, dentre os quais os
estereótipos que veiculam e que contribuem para o fortalecimento das desigualdades
existentes entre os atores que atuam no cotidiano social (GOMES, 2002; ROSEMBERG,
2003). A seguir, passaremos à próxima seção do artigo, onde analisamos justamente a
presença de estereótipos nas imagens dos personagens negros no livro de Ciência.


2. Estereótipos e formas discriminatórias ao negro nas imagens dos livros didáticos de
Ciências


       Nessa seção, mostraremos ao leitor como a figura do negro está representada no livro
didático de Ciências, através da análise das imagens presentes no livro dos autores César da
Silva Júnior, Sezar Sasson e Paulo Sérgio Bedaque Sanches, verificando se e como este livro
7




estereotipifica a figura do negro. Lembramos que as ilustrações foram analisadas conforme
critério descrito na primeira seção deste artigo.
       Ninguém duvida que o mundo que nos circunda é imagético e complexo, visto que nos
deparamos o tempo todo com os mais variados tipos de imagens, tais como outdoors, painéis,
fotografias, faixas, banners, filmes, programas televisivos, sites, anúncios, dentre outros.
       A fotografia é, muitas vezes, tomada como uma copia do real, é um “fio de uma rede
que conecta sujeitos entre si e ao mundo. Um mundo que ao ser representado e, de alguma
forma, recriado. Vê-la como um signo é um caminho que, percorrido, poderá nos levar ao
encontro da potencia simbólica da imagem” (VAZ, 2003. p. 98).
       Assim, refletir acerca de possíveis leituras de imagens pode significar também
investigar que padrões de visualidade um dado contexto sócio-histórico organiza e conforma,
ou seja, devemos sempre considerar o caráter ideológico subjacente e qual a idéia essencial
que quer ser transmitida.
       O termo Ideologia Imagética tem sido bastante utilizado em textos que tratam de
análises de obras de artes, cartazes, livros, televisão etc. Nelson Fernando Inocêncio da Silva
em seu livro “Consciência negra em cartaz”, valendo-se dos pressupostos teóricos de Nico
Hadjinicolauou, define Ideologia Imagética como “uma combinação específica de elementos
formais e temáticos da imagem, que constitui uma das formas particulares da ideologia global
de uma classe (categoria)” (SILVA, 2001, p.49).
       Tendo em vista a construção histórica e imagética dos livros didáticos, que, via de
regra, retratam o segmento negro de forma estereotipada, destituído de história, de passado, de
inteligência, faz-se necessário aprendermos a “ler” as imagens que retratam o negro nos livros
didáticos e saber qual a condição e posição que o segmento negro está ocupando nestes livros.
       Carvalho (2006), analisando artigos que tratam de estereótipos relacionados ao negro
em livros didáticos, concluiu que o preconceito e racismo veiculados nos textos e imagens dos
Livros Didáticos são multifacetados, ou seja, podem ser apresentados de diversas formas, seja
através dos fenótipos e estereótipos criados em torno do corpo negro como cor da pele,
formato e espessura do nariz e lábios, textura dos cabelos; associando-os à feiúra e
inferioridade biológica em relação ao corpo branco; através das características dos
personagens negros que aparecem em situações de subjugação e inferioridade social e
intelectual em relação aos personagens brancos; entre outras constatações que evidenciam a
veiculação de preconceitos e posições racistas de forma implícita e explicitamente nos
conteúdos e gravuras dos Livros Didáticos (CARVALHO, 2006).
8




       A partir de agora iremos verificar de que forma o negro está representado nas imagens
encontradas no livro didático de Ciências dos autores César da Silva Júnior, Sezar Sasson e
Paulo Sérgio Bedaque Sanches (Silva Júnior, Sasson, Bedaque, 2005).
       Gostaríamos, inicialmente, de tecer algumas considerações acerca da imagem que nos
chamou a atenção. A imagem está situada logo na primeira página do livro, onde os autores
mostram a relevância do livro de Ciências aos alunos, e mostra uma criança do gênero
masculino, branca, elevando um globo terrestre com suas mãos (Figura 1).
           FIGURA 1. CRIANÇA BRANCA COM GLOBO TERRESTRE NAS MÃOS




                          FONTE: SILVA Jr; SASSON; SANCHES, 2005.


       A imagem anterior, em nossa concepção, ilustra muito bem a idéia eurocêntrica de
uma cultura monolítica de poder, ou seja: homem, jovem e branco. Assim, não somente o
preconceito de raça fica tipificado na imagem, mas o de sexo também. Os autores propõem,
de forma explicita, que tal fato deve ser considerado normal e essa normalidade deve ser
assumida por todos os alunos, seja negro ou não negro.
       A branquidade passou a ser mais do que ela própria; ela simboliza objetividade,
normalidade, verdade, conhecimento, mérito, motivação, sucesso e credibilidade; além disso,
acumula apoios invisíveis que contribuem anonimamente para o capital já acumulado e
reforçado dos brancos. Raramente, porém, se reconhece que a branquidade exige e constitui a
hierarquia, a exclusão e a destituição (FINE et al., 1997 apud WILSON, 2005),
9




       Wilson (2005) menciona em seu artigo, que trata da invisibilidade da branquidade, que
o privilégio branco é discurso mono cultural e contestar este discurso aumenta o incômodo
dos que têm o privilégio e ajuda àqueles que não têm a falar. A autora acredita que se
educadores e futuros professores não estivermos disponíveis a desconstruir esses privilégios e
a colaborar no sentido de alterar o discurso enraizado do racismo no âmbito dos cursos de
licenciatura e pós-graduação, teremos de assumir a responsabilidade pelas conseqüências do
privilégio branco que continuarão a manifestar-se na nossa sociedade.
       No capítulo 19, que trata as relações animais-seres humanos, na página 191,
observamos a imagem das mãos de um homem negro abrindo a boca de uma jararaca viva
(Figura 2), mostrando as grandes presas inoculadoras de veneno, tendo em vista que o tópico
trata de acidentes com cobras e a produção de soro antiofídico. Será o homem negro um
pesquisador? Pouco provável, pois se assim o fosse, teria seu rosto visível, como verificado
no presente livro didático analisado, onde se verificou que todos os pesquisadores presentes
eram da cor branca. Em nossa concepção, o homem em questão é, provavelmente, um tratador
de animais, o que só reforça a idéia de que subempregos, bem como aqueles de alta
periculosidade, são, na maioria das vezes, destinados a uma maioria, como exemplo os negros
e pobres.
               FIGURA 2. HOMEM NEGRO ABRINDO A BOCA DE UMA
               JARARACA VIVA: MOSTRANDO AS GRANDES PRESAS
                          INOCULADORAS DE VENENO.




            FONTE: SILVA Jr; SASSON; SANCHES, 2005. p. 191

       Nota-se que, quanto à questão do “trabalho”, os afro-descendentes ainda são
confinados em um micro-espaço para exercer funções menos favorecidas no discurso social,
sobrando-lhes, apenas, a representação de papéis servis, socialmente pouco significativos
(AQUINO, 2003, p.7).
10




       As práticas culturais dominantes disseminam a idéia de que os afrodescendentes são
incompetentes e inábeis para certas atividades no mundo da produção cultural. A partir dessas
percepções, são produzidas imagens negativas em relação “a cultura, o conhecimento e o
trabalho” dessa população, negando-lhes a sua força de trabalho como um elemento decisivo
no processo histórico-social e cultural da formação do País (CUNHA Jr, 2001).

       Gostaríamos de lembrar mais uma vez que a discriminação racial, muitas vezes, se dá
sem nenhuma enunciação explícita ou implícita. Porém, segundo Sales Jr. (2006), confrontar
os comportamentos observados com outros comportamentos ou inseri-lo numa série
divergente de comportamentos repetidos que separam e distribuem “brancos” e “negros”,
talvez seja uma maneira de caracterizar melhor tal prática.
       Fazendo um paralelo entre o que Sales Jr. disse com os tipos empregos e/ou cargos e
seus respectivos ocupantes, podemos citar como exemplos uma imagem verificada na página
10, onde observamos um homem negro no garimpo, segurando uma peneira, tendo com isso
seu corpo inclinado para frente, de modo que sua face não está visível (Figura 3A), uma outra
imagem, na página 240, mostrando um seringueiro negro (Figura 3B).

             FIGURA 3. FORMAS DE SUBEMPREGOS DESTINADOS AOS
                     NEGROS: GARIMPEIRO E SERINGUEIRO




       FONTE: SILVA Jr; SASSON; SANCHES, 2005.

       Para nós, o objetivo ideológico das imagens observadas acima é convencer o leitor de
que trabalhos pesados e inferiores, como garimpeiro, por exemplo, fazem parte da vida do
negro, pois como exerciam atividades similares antes, como escravos, é de sua natureza se
submeter a esse tipo de trabalho. Ao mostrar imagens como esta, o livro didático só contribui
para reforçar estereótipos do tipo “negros deverão sempre ocupar cargos inferiores”. Além
11




disso, a postura em que o negro se encontra na Figura 3A – abaixado, sem o rosto amostra
indica a forma como os negros devem se portar diante da sociedade dominantemente branca,
submissos e obedientes.
       A correlação de personagens negros com profissões socialmente desvalorizadas
também foi percebida por Rosemberg (1985, apud ROSEMBERG, 2003) ao analisar textos e
ilustrações na literatura infanto-juvenil publicada entre 1955 e 1975. Observem que apesar de
já terem se passado 33 anos, estereótipos como estes ainda continuam sendo reproduzidos em
obras didáticas.
       Outro exemplo relacionado a empregos, ou subempregos, pode ser verificado no
capítulo 13 (p.130), onde identificamos a imagem de 3 homens no interior de um helicóptero:
1 homem branco, vitima de acidente, e 2 profissionais habilitados que o estão prestando
socorro ao primeiro. Sendo, que um dos “profissionais” é negro e está trajando blusa azul e
calça escura, traje este muito parecido com um uniforme (Figura 4). Apesar dos autores terem
usado o termo “profissionais habilitados”, não sabemos, ao certo, qual a profissão do negro,
tendo em vista que o outro profissional parece ser o piloto do helicóptero.


                        FIGURA 4. PROFISSIONAIS HABILITADOS
                        SOCORRENDO VÍTIMA DE ACIDENTE DE
                                     TRÂNSITO.




                   FONTE: SILVA Jr; SASSON; SANCHES, 2005. p.130.


       A imagem acima além de reforçar a idéia de que atendimento hospitalar de qualidade
só beneficia pessoas brancas, deixando o negro apenas como um mero coadjuvante da classe
dominante branca, a qual insiste em reforçar estereótipos, tais como pessoas negras, na área
médica, só chegam a ser, no máximo, auxiliares.
12




       Rocha (2006) cita que a formação profissional, desde as suas origens, sempre foi
reservada às classes menos favorecidas, estabelecendo-se uma nítida distinção entre àqueles
que detinham o saber e os que executavam tarefas manuais. Ao trabalho, freqüentemente
associado ao esforço manual e físico, acabou se agregando ainda a idéia de sofrimento. A
autora ainda diz que a herança colonial do Brasil escravista influenciou preconceituosamente
as relações sociais e a visão de sociedade sobre a educação e a formação profissional.
       Analisando figuras, na página 65, observamos dois esquemas representando o ciclo de
vida do Trypanosoma cruzi, transmissor da doença de chagas. O primeiro esquema mostras o
parasita Trypanosoma cruzi, seu agente transmissor (o inseto barbeiro) e o seu hospedeiro (o
ser humano). Este representado pela figura de um menino negro, colorido artificialmente
(Figura 5). O segundo esquema mostra três tipos de hospedeiros do Tripanosoma cruzi: o
inseto barbeiro, o tatu e o ser humano. Este último, porém, representado pela figura de um
menino branco, colorido também artificialmente (Figura 6).
                 FIGURA 5. DESENHO ESQUEMÁTICO MOSTRANDO
                      O CICLO DE VIDA DO Trypanosoma cruzi.




                FONTE: SILVA Jr; SASSON; SANCHES, 2005. p.65.
13




        FIGURA 6. DESENHO ESQUEMÁTICO MOSTRANDO TRÊS TIPOS DE
                     HOSPEDEIROS DO Trypanosoma cruzi..




        FONTE: SILVA Jr; SASSON; SANCHES, 2005. p.65.

       A partir das análises dos esquemas ilustrativos, surgiu-nos o seguinte questionamento:
se os desenhos foram coloridos artificialmente, ficando, portanto, a escolha das cores a
critério dos autores e/ou ilustradores, então por que o livro mostra apenas um único desenho
ilustrativo de personagem negro? Lembrando que, no presente livro, existe várias figuras
ilustrativas de personagens humanos e que as mesmas foram coloridas ora em tonalidades
rosa, ora amarela.
       Tais resultados evidenciam claramente o modelo de estética considerado pelos autores
e/ou ilustradores, ou seja, a classe hegemônica branca.
       No capítulo 10, que trata das relações animais-seres humanos, na página 184,
percebemos a imagem de uma mulher negra na praia, trajando um maiô, brincando com seu
cão (Figura 7). A imagem em questão apresenta a seguinte legenda: “Mesmo cães mansos
podem ferir seus donos. Mantenha seus cães e gatos vacinados e tenha cuidado ao brincar
com eles”. Esta ilustração complementa o texto que trata de acidentes vulnerantes, como
aqueles causados por mordeduras de animais como cães, gato, cobras, cavalos, peixes,
macacos etc. Essa imagem revela uma forma bastante comum de representação do negro: a
sensual, que passa por uma estetização do corpo. A exploração do corpo feminino ganhou
destaque nessa imagem.
14




                      FIGURA 7. MULHER NEGRA BRINCANDO
                                 COM SEU CÃO.




                     FONTE: SILVA Jr; SASSON; SANCHES, 2005. p.184.

       Segundo Silva (2001), a ideologia imagética hegemônica existente em nosso contexto
produz, ao nível imaginário, uma forte associação do corpo negro com a virilidade e com a
promiscuidade. Certamente, isso não isenta algumas imagens nos livros didáticos analisadas
dos estereótipos sexuais, nem mesmo quando a proposta é bem diferente, como o caso da
imagem acima.
       Dessa forma, ainda que hoje a mulher negra esteja aparentemente mais assimilada na
cultura brasileira, esta se vê aprisionada a alguns lugares ou estereótipos, tais como: a
sambista, a mulata, a doméstica, herança de um passado histórico (NOGUEIRA, 1999).


3. Estereótipos e formas discriminatórias ao negro nos textos dos livros didáticos de
Ciências

       Nessa última seção, procuramos mostrar ao leitor se e como o negro está representado
nos textos do livro didático de Ciências, se os autores fazem alusão a personagens negros e
qual o tratamento dado a cada uma deles.
       O livro didático exerce um papel fundamental na cultura escolar, posto que é um dos
instrumentos importantes para se pensar a questão dos conteúdos, das imagens, dos
15




estereótipos, dos valores, e conseqüentemente, da tendência do pensamento histórico
educacional brasileiro (DIAS, 2004 apud CARVALHO 2006, p. 61).
       Os resultados apresentados no presente artigo mostraram, até então, sinais claros de
estereótipos e preconceito atribuídos aos personagens negros, conforme observado através de
imagens analisadas no livro didático de Ciências.
       Com relação à análise da representação do negro nos textos do livro didático,
chamamos a atenção para o texto correspondente à figura 1 (ilustrado na primeira seção desse
artigo), onde os autores expressam seus desejos, aos alunos, de que o trabalho com Ciências
possa ajudá-los a pensar de forma cada vez mais clara, rejeitando superstições e preconceitos.
Apesar dos autores não explicitarem os tipos de preconceitos, levando-nos a deduzir que
sejam todos e quaisquer tipos, acreditamos que se os desejos dos autores forem realmente
verdadeiros, eles devam dar maior atenção à imagem correspondente ao texto, tendo em vista
estar “carregada” de preconceitos, haja vista que os autores passam, através da imagem, o
modelo de estética preferencialmente, ainda, de população eurocêntrica.
       No tocante às figuras 5 e 6 (ver foto na seção 2), em que mostra o desenho
esquemático do ciclo de vida do Tripanosoma cruzi, a principio, não percebemos nenhuma
forma de preconceito ou estereótipos ao negro no texto referente a estas figuras. Porém, um
pequeno detalhe: chamou nossa atenção, a legenda que identifica o menino negro, pois além
da palavra “ser humano”, observamos uma outra legenda com o termo “hospedeiro”; já no
desenho esquemático em que aparece o menino de cor branca, o termo “hospedeiro” foi
omitido, ficando apenas a legenda “ser humano” (Figura 6). Essa “inocente” ou aparente
omissão de uma simples legenda contribui para fomentar estereótipos tais como a associação
do negro às doenças, visto que ele é um “hospedeiro” de seres patogênicos.
       Segundo Vaz (2003), existe uma relação de contigüidade entre a foto e a legenda, ou
seja, quando se vê uma fotografia, os olhos do leitor, obedecendo a uma pulsão, percorrem as
margens da foto a procura da tão esperada etiqueta que ira lhe informar exatamente de que se
trata a imagem. Nessa perspectiva, cada foto, somada a sua legenda, consiste numa narrativa,
numa história sendo contada. O autor menciona também que a leitura das fotos pode ser
influenciada consideravelmente pelo simples fato de a legenda nomear ou não seus
personagens (VAZ, 2003, p. 230).
       Segundo Orlandi (1987) o discurso pedagógico pode ser entendido como um discurso
do poder que, em suas estratégias discursivas, tende para o “esmagamento” do outro. Esse
discurso pedagógico, freqüentemente, na sua função de “informar, explicar, influenciar ou
16




mesmo persuadir reproduz as fórmulas da cultura do racismo e do preconceito” (ORLANDI,
2003).
         Além do que foi descrito acima, em nenhum momento no texto contido no livro os
autores fizeram referência quanto aos personagens negros ilustrados no livro ou quem
qualquer outra página. Assim, exceto pelas imagens, notou-se um silenciamento completo
sobre a população negra. Esse silenciamento, a nosso ver, contribui sobremaneira para o
fortalecimento da exclusão racial tão presente ainda no Brasil.
         Segundo Silva (1995, p.47 apud MANEGASSI e SOUZA, 2005), “a quase total
ausência dos negros nos livros e a sua presença de forma estereotipada concorrem em grande
parte para a fragmentação da identidade e auto estima desse segmento, além de estimular
preconceitos às pessoas pertencentes ao grupo do qual foram associadas características
distorcidas”.
         Sei que alguns podem dizer que por se tratar de um livro de Ciências, e não de
Historia, Geografia, Arte, aquele não teria como abordar questões relacionadas à etnia negra.
Entretanto, o bom senso nos mostra que é possível abordar a cultura, os costumes da etnia
negra e afrodescendentes brasileiros.


Considerações Finais


         Pretendeu-se com este estudo verificar como o negro está representado no livro
didático de Ciências para alunos do ensino fundamental. Para tanto, imagens representando
seres humanos negros e brancos foram quantificadas, objetivando descobrir se a proporção
entre negros e brancos são proporcionais. Analisou-se, ainda, a presença de formas de
preconceitos e estereótipos aos negros nos textos e imagens do livro didático.
         Os resultados em nosso estudo mostraram que o negro aparece de forma sub-
representada no livro didático de Ciências analisado. Além disso, indicaram a presença de
estereótipos e formas de preconceitos tanto nas imagens como nos textos contidos no livro,
evidenciando, dessa maneira, uma falta de preocupação com a etnia negra, além de ter
deixado claro a visão eurocêntrica e discriminatória por parte dos autores e/ou ilustradores do
livro de Ciência.
         Nos últimos anos, o Ministério da Educação (MEC) tem incentivado o
desenvolvimento de atividades visando à avaliação do livro didático. Em junho de 1998 o
MEC lançou o Guia de Livros Didáticos de 5ª a 8ª Séries, que foi elaborado com a intenção de
17




"subsidiar" a escolha do livro didático pelo professor, já que dezenas de livros são inscritos no
Plano Nacional do Livro Didático – PNLD (SILVA, 2005).
       O PNLD tem como objetivo básico, a aquisição e a distribuição universal e gratuita de
livros didáticos para alunos das escolas públicas do ensino fundamental brasileiro. Vale
ressaltar que um dos critérios eliminatório dos livros do PNLD é a expressão de preconceitos
de origem, raça, sexo, cor, idade ou quaisquer outras formas de descriminação.
        Infelizmente, os resultados apresentados em nosso estudo mostram que os critérios
mencionados acima não estão sendo respeitados pela comissão de “especialistas”,
encarregados da avaliação.
        Mesmo sabendo que a Lei 10639/03 obriga as escolas a trabalhar com essa temática,
os autores de livros didáticos, em sua maioria, não têm se empenhado em explorar a História
e Cultura dessas etnias. Além disso, esses mesmos autores ainda têm contribuindo para
reforçar estereótipos e formas de preconceitos ao negro como àqueles observados no livro
didático de Ciências analisado no presente trabalho.
        Tendo em vista que o professor é o mediador das informações previamente
estabelecidas nos livros didáticos, acreditamos que o mesmo desempenha um papel
extremamente importante nesse contexto, pois, poderá, em suas aulas, trabalhar na
desconstrução de toda e qualquer forma de preconceito e discriminação presentes nos livros
didáticos, tais como desmistificar questões que envolvem negros, haja vista os critérios não
serem cumpridos de maneira rigorosa, conforme mencionado acima.
        Entretanto, para tomar tal postura, faz-se necessário que o professor seja qualificado
para detectar essas deficiências. Qualificado, o professor saberá identificar estereótipos e
formas de preconceitos implícitos encontrados nos livros didáticos, esclarecendo os alunos
sobre tais questões e mostrar os tipos de estratégias e artifícios utilizados para manipular
grupos e incutir ideologias, bem como àquelas em que negros são seres inferiores e que o
modelo de estética e poder é o branco.
       Nesse sentido, propõem-se o investimento maciço na qualificação de professores,
intensificando   desenvolvimento     de    cursos   de   educação     continuada,    cursos   de
aperfeiçoamento, extensão, especialização, abordando a temática étnico-racial, como os que
têm acontecido na instituição CEFET-PA.
18




Referência Bibliográfica
AQUINO, Miriam de Albuquerque. A imagem do afrodescendente na escola: a versão que
ficou. In: IV Semana de Letras, 2003, João Pessoa. Curso de Letras: novos paradigmas e
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nacional. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/2003/L10.639.htm>
Acesso em: 14 jun.2008.

CARVALHO, Andréa Aparecida de Moraes Cândido. As Imagens dos Negros em Livros
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Educação da – UFMT. Extraído de [http://www.Ipp-uerj.net/olped/documentos/0758.pdf] em
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19




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Pedro C. A representação visual do outro na mídia impressa. Relatório Final de Pesquisa.
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20




WILSON, Anna V. Borboletas, pássaros e teias de aranha: Interrogar o privilégio de ser
branco por meio da investigação narrativa. Currículo sem Fronteiras, v.5, n.2, pp.86-100,
Jul/Dez 2005.

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  • 1. 1 REPRESENTAÇÃO DO NEGRO NO LIVRO DIDÁTICO DE CIÊNCIAS PARA O ENSINO FUNDAMENTAL ÁREA DO CONHECIMENTO: EDUCAÇÃO Sonia Helena Furtado Costa 1 Helena do Socorro Campos da Rocha 2 Ronaldo Martins Gomes 3 RESUMO Este trabalho tem por objetivo analisar de que forma o negro está representado no livro didático de Ciências para o ensino fundamental. Textos e imagens que apresentaram negros como personagens, foram analisados, verificando-se a existência ou não de estereótipos e formas discriminatórias aos mesmos. As análises indicaram, além da sub-representação do negro, a presença de estereótipos e formas de preconceitos presentes tanto nas imagens como nos textos, de forma explicita ou implícita, evidenciando um descaso e/ou preconceito com a etnia negra por parte dos autores e/ou ilustradores. Tendo em vista que o professor é o mediador das informações previamente estabelecidas nos livros didáticos, acreditamos que o mesmo deva estar apto a detectar e observar fragilidades implícitas nos livros, tais como a presença de preconceitos raciais. Nesse sentido, propõem-se o desenvolvimento de cursos de educação continuada, cursos de aperfeiçoamento, extensão, especialização, abordando a temática étnico-racial, como os que têm acontecido na instituição no Centro Federal de Educação Tecnológica do Pará. Palavras-chave: negro. livro didático. ciências. Introdução Falar sobre preconceito racial no Brasil pode parecer, para muitos, coisa do passado, algo que foi deixado para trás com a abolição da escravatura. Há tempos, a classe hegemônica dominante branca insiste em simular um quadro democraticamente racial, onde todos vivem de maneira harmônica, sem discriminações ou preconceitos. Sabe-se, entretanto, que tal democracia não existe, pois a realidade brasileira é totalmente contrária a qual a classe dominante insiste em fazer prevalecer como a real. A literatura não deixa margem para dúvidas, pois está repleta de informações que mostram ao longo das décadas a presença de racismo e formas discriminatória ao negro na sociedade Brasileira (ROSEMBERG, 2003; AQUINO, 2003; GOMES, 2003; ROCHA, 2006; MAGGIE, 2006; KALCKMANN, 2007). 1 Mestre em Ciências Veterinárias – UECE; Bacharel em Biologia – UFPA; Licenciada Plena em Biologia – CEFET-PA; Concluinte do Curso de Especialização em Educação para Relações Étnico Raciais. sonia_helena35@yahoo.com.br; 2 Orientadora do Artigo. Professora de Educação Especial do CEFET-PA. Mestre em Teoria e Pesquisa do Comportamento – Psicologia Experimental – UFPA; Doutoranda em Teoria e Pesquisa do Comportamento – Psicologia Experimental – UFPA; Coordenadora do Curso de Especialização em Educação para Relações Étnico Raciais – CEFET-PA; 3 Co-orientador do Artigo. Graduando em Licenciatura Plena em Pedagogia do CEFET-PA; Bolsista da Diretoria de Ensino Superior CEFET-PA e vice-presidente do DCE – CEFET-PA.
  • 2. 2 O racismo, na maioria das vezes, acontece de forma subliminar, implícita, silenciosa e, tão sutilmente articulado que passa despercebido por muitos, porém não deixa de atingir seu objetivo, que é desvalorizar, marginalizar, diminuir, destruir, execrar a auto-estima, a dignidade, a cultura e a história da classe social africana e afro-brasileira. Segundo Lima & Vala (2004), as novas expressões de racismo, mais veladas e hipócritas, são tão ou mais danosas e nefastas do que as expressões mais abertas e flagrantes, uma vez que, por serem mais difíceis de serem identificadas, são também mais difíceis de ser combatidas. Diversas pesquisas têm demonstrado, ao longo dos anos, que o Livro didático têm sido utilizado na reprodução de estereótipos e formas discriminatória ao negro, contribuindo para o fortalecimento das desigualdades (ROSEMBERG, 1980, 2003; NEGRÃO, 1990; SILVA, 1995; FREITA, 2005; CARVALHO, 2006). Essa questão é preocupante, haja vista o livro didático, enquanto recurso pedagógico, fazer-se presente “desde os momentos iniciais de escolarização das crianças, que aprendem a percebê-los como legitimadores de ‘verdades’” (COSTA, 2008). Nesse contexto é que o presente estudo tem por objetivo verificar de que forma o negro está representado no livro didático de ciências para o Ensino Fundamental, e dessa forma tentar contribuir para o fim do preconceito racial ainda tão latente nas práticas pedagógicas. A maioria dos livros de Ciências presente no Guia de Ciências do Programa Nacional do Livro Didático para o Ensino Fundamental apresenta um manual do professor, há um tópico que trata da relevância que as Ciências têm para os jovens. Neste, lê-se que na medida que o jovem aumenta sua compreensão da estrutura e do funcionamento da natureza, ele aprenderá a observar intencionalmente, a formular hipóteses, a experimentar para testá-las, a concluir e, finalmente, a operar com os conceitos adquiridos para solucionar novos problemas; que o aluno constrói, gradualmente, valores e princípios que lhe permitem melhor enfrentar os desafios do dia-a-dia, tanto àqueles relacionados ao mundo do trabalho como os que exigem um posicionamento ético diante dos fatos. Aprender Ciência, portanto, faz parte de um dos objetivos maiores da educação, que é o de formar cidadãos conscientes, participantes e solidários. Após a implementação da Lei 10.639, promulgada em 9 de fevereiro de 2003, que tornou obrigatório a inclusão no currículo oficial da Rede de Ensino a temática “História e Cultura Afro-Brasileira”, em especial nas áreas de Educação Artística, Literatura e História Brasileira (BRASIL, 2008), acredita-se que outras disciplinas, tais como as Ciências, tenham também incluído em seus livros didáticos tal temática, contribuindo, dessa maneira, para
  • 3. 3 minimizar o preconceito racial, além de contribuir para a formação de uma escola voltada para a diversidade cultural pronta a respeitar as diferenças raciais. Estando plenamente de acordo que o livro de Ciência exerce forte influência na formação do aluno e do cidadão brasileiro, é que nos propusemos a examinar imagens e textos utilizados nos livros didáticos de Ciências para verificar se tais livros têm incorporado o que prega a Lei 10.639. Para nortear esse exame, delimitamos nossos problemas em algumas questões, tais como: o número de ilustrações de pessoas negras e pardas nos livros de Ciências do ensino fundamental é proporcional ao de ilustrações de pessoas brancas? Há presença de estereótipos e formas discriminatórias ao negro nas imagens e textos que apresentam o negro como personagem? Diante do exposto, o presente artigo tem por objetivo geral, analisar a maneira pela qual os negros são representados nos livros didáticos de Ciências do Ensino Fundamental e, como objetivos específicos, verificar se o número de imagens de negros é proporcional ao número de imagens de brancos; identificar, ainda, a presença de estereótipos e formas discriminatórias ao negro nas ilustrações que apresentam o negro como personagem, bem como identificar a presença de estereótipos e formas discriminatórias ao negro nos textos que o apresentam como personagem. Para tanto, selecionamos um livro de Ciências da 6ª série do ensino fundamental que faz parte do guia de Ciências do Programa Nacional do Livro Didático (PNLD): “Entendendo a Natureza: os seres vivos no ambiente” dos autores César da Silva Júnior, Sezar Sasson e Paulo Sérgio Bedaque Sanches, Editora Saraiva, ano 2007. O critério utilizado para a seleção do livro didático neste estudo foi justamente sua presença no PNLD. Nesta pesquisa, são tomados como instrumentos de análise os textos e as imagens, presentes no livro didático de Ciências, que mostram o negro como personagem, identificando-se a existência da presença de formas discriminatórias à etnia, construídas pelos autores e ilustradores; enfocando situações atribuídas, o meio sócio-cultural e a forma pela qual o negro destacado aparece ilustrado. Vale ressaltar, que, para fins de classificação, considerou-se como ilustrações: fotos, figuras e desenhos de seres humanos. Selecionadas as imagens, iniciou-se um trabalho de descrição minuciosa, nas quais pudéssemos encontrar negros retratados. Realizamos também um estudo quantitativo, no qual comparamos os números de imagens que representavam sujeitos negros com aquelas imagens que traziam sujeitos brancos retratados, bem como a análise dos textos e legendas, buscando estabelecer relações destas com as imagens.
  • 4. 4 Vale ressaltar que é difícil definir quem é considerado negro no Brasil. Segundo Munanga (2004), a classificação racial no Brasil é “baseada na marca e na cor da pele, e não na origem ou no sangue, como nos Estados Unidos e na África do Sul”. Dessa forma, utilizamos neste estudo uma classificação por cor, baseada nas categorias usadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, que considera negro todos pretos e pardos (OLIVEIRA, 2004). O presente artigo está subdividido em três partes. A primeira parte trata da abordagem da imagem de negros no livro didático de Ciências para o ensino fundamental; a segunda parte trata de estereótipos e formas discriminatórias ao negro nas ilustrações dos livros didáticos de Ciências e, finalmente, a terceira parte deste artigo trata de estereótipos e formas discriminatórias ao negro nos textos dos livros didáticos de Ciências. Sabendo-se que os afro-descendentes que compõem a população brasileira são da maior importância na constituição do estado, a relevância do presente artigo se dá pela necessidade que esse segmento tem de se ver representado nos livros didáticos das várias áreas, não apenas naquelas apontadas pela Lei 10.639/03, ou seja, Educação Artística, Literatura e História Brasileiras. 1. Abordagem quantitativa das imagens do negro no livro didático de Ciências Nessa seção, pretendemos mostrar ao leitor como o negro está representado no livro didático de Ciências, ou seja, se o número de ilustrações de personagens negros é proporcionalmente similar ao número de personagens não negros; mostrando, dessa forma, se os autores estão, de fato, dando a devida atenção a esse segmento, tendo em vista os mesmos a merecem, não apenas por que ficaram por anos na “invisibilidade”, mas por ser um direito previsto em Lei (10.639/08), e como tal deve ser respeitado. Muitas vezes, o livro didático se constitui como a única fonte de acesso ao conhecimento, tanto por professores, em razão das condições de trabalho, ou seja, salas de aulas repletas de alunos e escassez de materiais pedagógicos, como também pelos alunos, que oriundos das classes populares e de baixa renda, é pouco provável que tenham contato com outras leituras. Assim, “em virtude da importância que lhe é atribuída e do caráter de verdade que lhe é conferido, o livro didático pode ser um veículo de expansão de estereótipos não percebidos pelo professor” (MUNANGA, 2005, p. 23). Nosella (1981, apud COSTA, 2008) descreve que a maioria dos livros didáticos está repleta de estereótipos. Segundo a autora, a forma de representar os valores, noções e crenças,
  • 5. 5 é dada pelos “dominantes” que querem continuar o processo de dominação. A autora menciona, ainda, que a mensagem visual se torna um eficiente instrumento ideológico complementar dos textos, devido à sua força comunicativa, rapidez e impacto emotivo, muitas vezes maior que a própria comunicação escrita. A representação de imagens visuais resulta de processos produtivos que acompanham a existência humana desde os tempos mais remotos. Assim, estudar as imagens tornou-se tarefa quase obrigatória não só para historiadores e professores de História, de Comunicação e de Arte, como também para quem queira saber interpretá-las numa sociedade onde grande parte dos valores é regida por signos ou códigos visuais, carregadas de ideologias e estereótipos. Para a análise do tratamento dispensado ao negro nos livros didáticos de Ciências, conforme citado anteriormente, procedeu-se à contagem do número de vezes que pessoas negras aparecem nas ilustrações, sendo estas representadas por fotos, figuras e desenhos que mostrem o corpo inteiro de personagens humanos negros, bem como partes do corpo ou simplesmente sua epiderme. Após contagem das ilustrações apresentadas no livro, observamos um total de 39 imagens de personagens humanos, onde apenas 6 eram negros. Esses resultados nos permitem dizer que para cada 7 personagens identificados no livro de Ciências analisado, apenas 1 personagem era negro. Diante destes resultados, podemos afirmar que o negro aparece de forma sub-representada nos livros didáticos de Ciências do ensino fundamental. Além disso, essa diferença marcante observada entre o número de ilustrações de personagens negros e brancos analisados no livro, leva-nos a perceber claramente um silenciamento sobre a questão étnico-racial e sugere que os poucos negros que aparecem servem apenas para simular um quadro de igualdade racial, sem êxito, pois, fica claro, pela grande quantidade de personagens brancos presentes nos livros, que o branco ainda é tido como norma de humanidade. Rosemberg (1985 apud ROSEMBERG, 2003), analisando a literatura infanto-juvenil, da mesma forma, verificou a sub-representação de personagens negros em textos e ilustrações. Freitas (2005), em seu estudo sobre a relação negros, brancos e índios nos manuais didáticos de História, mostrou uma situação majoritária da representação de brancos (180 ocorrências), seguida de uma sub-representação de negros (20). Silva (2007) verificou uma desproporção entre personagens brancos e negros em livros didáticos de Língua Portuguesa, onde para cada personagem negro eram observados 16,7 personagens brancos.
  • 6. 6 Sales Jr. (2006), afirma, porém, que a discriminação de caráter racial, muitas vezes, ocorre sem nenhuma enunciação explícita ou implícita e que as relações raciais constituem, nesse caso, um discurso silencioso, um jogo de linguagem não-verbal, não-dito. Além disso, podemos dizer que o silenciamento referente ao segmento negro pode ser verificado não apenas pela omissão de palavras textuais, mas também pela ocultação ou redução quase completa de suas imagens. Nós, professores, devemos, portanto, ter o cuidado para não cairmos nessas armadilhas, compactuar com esse silenciamento. Segundo Aquino (2003), silenciar a história de determinado grupo social é reforçar o racismo, é silenciar os saberes históricos; é condená-los ao holocausto cultural. O autor diz ainda que “silenciar a cultura do outro por meio de estratégias de submissão e inferiorização é apagar as vozes da história, é extirpar a memória” (AQUINO, 2003, p.11). Após a identificação de problemas acerca da representação do negro no livro didático de Ciências, tais como a sub-representação e silenciamento, nada mais justo que apontar proposições para melhoria desse livro. Sugerimos, inicialmente, aos autores, às editoras, aos ilustradores, aos professores, aos órgãos competentes e a todos àqueles que, de alguma forma, sintam-se responsável pela educação e formação de uma sociedade livre de preconceitos e racismos, que, inicialmente, buscassem realmente compreender a importância social que a cultura africana e afro-descendente tem para um país marcado pela diversidade étnica e cultural - o Brasil; que buscassem reconhecer a relevância de incluir a cultura negra nos livros didáticos; pois dessa maneira, será muito mais fácil tratar de questões como preconceito e estereótipos nos livros didáticos. Ainda no que diz respeito aos livros didáticos, sabe-se que estes têm se constituído em fontes inesgotáveis de pesquisa que abordam os mais diversos temas, dentre os quais os estereótipos que veiculam e que contribuem para o fortalecimento das desigualdades existentes entre os atores que atuam no cotidiano social (GOMES, 2002; ROSEMBERG, 2003). A seguir, passaremos à próxima seção do artigo, onde analisamos justamente a presença de estereótipos nas imagens dos personagens negros no livro de Ciência. 2. Estereótipos e formas discriminatórias ao negro nas imagens dos livros didáticos de Ciências Nessa seção, mostraremos ao leitor como a figura do negro está representada no livro didático de Ciências, através da análise das imagens presentes no livro dos autores César da Silva Júnior, Sezar Sasson e Paulo Sérgio Bedaque Sanches, verificando se e como este livro
  • 7. 7 estereotipifica a figura do negro. Lembramos que as ilustrações foram analisadas conforme critério descrito na primeira seção deste artigo. Ninguém duvida que o mundo que nos circunda é imagético e complexo, visto que nos deparamos o tempo todo com os mais variados tipos de imagens, tais como outdoors, painéis, fotografias, faixas, banners, filmes, programas televisivos, sites, anúncios, dentre outros. A fotografia é, muitas vezes, tomada como uma copia do real, é um “fio de uma rede que conecta sujeitos entre si e ao mundo. Um mundo que ao ser representado e, de alguma forma, recriado. Vê-la como um signo é um caminho que, percorrido, poderá nos levar ao encontro da potencia simbólica da imagem” (VAZ, 2003. p. 98). Assim, refletir acerca de possíveis leituras de imagens pode significar também investigar que padrões de visualidade um dado contexto sócio-histórico organiza e conforma, ou seja, devemos sempre considerar o caráter ideológico subjacente e qual a idéia essencial que quer ser transmitida. O termo Ideologia Imagética tem sido bastante utilizado em textos que tratam de análises de obras de artes, cartazes, livros, televisão etc. Nelson Fernando Inocêncio da Silva em seu livro “Consciência negra em cartaz”, valendo-se dos pressupostos teóricos de Nico Hadjinicolauou, define Ideologia Imagética como “uma combinação específica de elementos formais e temáticos da imagem, que constitui uma das formas particulares da ideologia global de uma classe (categoria)” (SILVA, 2001, p.49). Tendo em vista a construção histórica e imagética dos livros didáticos, que, via de regra, retratam o segmento negro de forma estereotipada, destituído de história, de passado, de inteligência, faz-se necessário aprendermos a “ler” as imagens que retratam o negro nos livros didáticos e saber qual a condição e posição que o segmento negro está ocupando nestes livros. Carvalho (2006), analisando artigos que tratam de estereótipos relacionados ao negro em livros didáticos, concluiu que o preconceito e racismo veiculados nos textos e imagens dos Livros Didáticos são multifacetados, ou seja, podem ser apresentados de diversas formas, seja através dos fenótipos e estereótipos criados em torno do corpo negro como cor da pele, formato e espessura do nariz e lábios, textura dos cabelos; associando-os à feiúra e inferioridade biológica em relação ao corpo branco; através das características dos personagens negros que aparecem em situações de subjugação e inferioridade social e intelectual em relação aos personagens brancos; entre outras constatações que evidenciam a veiculação de preconceitos e posições racistas de forma implícita e explicitamente nos conteúdos e gravuras dos Livros Didáticos (CARVALHO, 2006).
  • 8. 8 A partir de agora iremos verificar de que forma o negro está representado nas imagens encontradas no livro didático de Ciências dos autores César da Silva Júnior, Sezar Sasson e Paulo Sérgio Bedaque Sanches (Silva Júnior, Sasson, Bedaque, 2005). Gostaríamos, inicialmente, de tecer algumas considerações acerca da imagem que nos chamou a atenção. A imagem está situada logo na primeira página do livro, onde os autores mostram a relevância do livro de Ciências aos alunos, e mostra uma criança do gênero masculino, branca, elevando um globo terrestre com suas mãos (Figura 1). FIGURA 1. CRIANÇA BRANCA COM GLOBO TERRESTRE NAS MÃOS FONTE: SILVA Jr; SASSON; SANCHES, 2005. A imagem anterior, em nossa concepção, ilustra muito bem a idéia eurocêntrica de uma cultura monolítica de poder, ou seja: homem, jovem e branco. Assim, não somente o preconceito de raça fica tipificado na imagem, mas o de sexo também. Os autores propõem, de forma explicita, que tal fato deve ser considerado normal e essa normalidade deve ser assumida por todos os alunos, seja negro ou não negro. A branquidade passou a ser mais do que ela própria; ela simboliza objetividade, normalidade, verdade, conhecimento, mérito, motivação, sucesso e credibilidade; além disso, acumula apoios invisíveis que contribuem anonimamente para o capital já acumulado e reforçado dos brancos. Raramente, porém, se reconhece que a branquidade exige e constitui a hierarquia, a exclusão e a destituição (FINE et al., 1997 apud WILSON, 2005),
  • 9. 9 Wilson (2005) menciona em seu artigo, que trata da invisibilidade da branquidade, que o privilégio branco é discurso mono cultural e contestar este discurso aumenta o incômodo dos que têm o privilégio e ajuda àqueles que não têm a falar. A autora acredita que se educadores e futuros professores não estivermos disponíveis a desconstruir esses privilégios e a colaborar no sentido de alterar o discurso enraizado do racismo no âmbito dos cursos de licenciatura e pós-graduação, teremos de assumir a responsabilidade pelas conseqüências do privilégio branco que continuarão a manifestar-se na nossa sociedade. No capítulo 19, que trata as relações animais-seres humanos, na página 191, observamos a imagem das mãos de um homem negro abrindo a boca de uma jararaca viva (Figura 2), mostrando as grandes presas inoculadoras de veneno, tendo em vista que o tópico trata de acidentes com cobras e a produção de soro antiofídico. Será o homem negro um pesquisador? Pouco provável, pois se assim o fosse, teria seu rosto visível, como verificado no presente livro didático analisado, onde se verificou que todos os pesquisadores presentes eram da cor branca. Em nossa concepção, o homem em questão é, provavelmente, um tratador de animais, o que só reforça a idéia de que subempregos, bem como aqueles de alta periculosidade, são, na maioria das vezes, destinados a uma maioria, como exemplo os negros e pobres. FIGURA 2. HOMEM NEGRO ABRINDO A BOCA DE UMA JARARACA VIVA: MOSTRANDO AS GRANDES PRESAS INOCULADORAS DE VENENO. FONTE: SILVA Jr; SASSON; SANCHES, 2005. p. 191 Nota-se que, quanto à questão do “trabalho”, os afro-descendentes ainda são confinados em um micro-espaço para exercer funções menos favorecidas no discurso social, sobrando-lhes, apenas, a representação de papéis servis, socialmente pouco significativos (AQUINO, 2003, p.7).
  • 10. 10 As práticas culturais dominantes disseminam a idéia de que os afrodescendentes são incompetentes e inábeis para certas atividades no mundo da produção cultural. A partir dessas percepções, são produzidas imagens negativas em relação “a cultura, o conhecimento e o trabalho” dessa população, negando-lhes a sua força de trabalho como um elemento decisivo no processo histórico-social e cultural da formação do País (CUNHA Jr, 2001). Gostaríamos de lembrar mais uma vez que a discriminação racial, muitas vezes, se dá sem nenhuma enunciação explícita ou implícita. Porém, segundo Sales Jr. (2006), confrontar os comportamentos observados com outros comportamentos ou inseri-lo numa série divergente de comportamentos repetidos que separam e distribuem “brancos” e “negros”, talvez seja uma maneira de caracterizar melhor tal prática. Fazendo um paralelo entre o que Sales Jr. disse com os tipos empregos e/ou cargos e seus respectivos ocupantes, podemos citar como exemplos uma imagem verificada na página 10, onde observamos um homem negro no garimpo, segurando uma peneira, tendo com isso seu corpo inclinado para frente, de modo que sua face não está visível (Figura 3A), uma outra imagem, na página 240, mostrando um seringueiro negro (Figura 3B). FIGURA 3. FORMAS DE SUBEMPREGOS DESTINADOS AOS NEGROS: GARIMPEIRO E SERINGUEIRO FONTE: SILVA Jr; SASSON; SANCHES, 2005. Para nós, o objetivo ideológico das imagens observadas acima é convencer o leitor de que trabalhos pesados e inferiores, como garimpeiro, por exemplo, fazem parte da vida do negro, pois como exerciam atividades similares antes, como escravos, é de sua natureza se submeter a esse tipo de trabalho. Ao mostrar imagens como esta, o livro didático só contribui para reforçar estereótipos do tipo “negros deverão sempre ocupar cargos inferiores”. Além
  • 11. 11 disso, a postura em que o negro se encontra na Figura 3A – abaixado, sem o rosto amostra indica a forma como os negros devem se portar diante da sociedade dominantemente branca, submissos e obedientes. A correlação de personagens negros com profissões socialmente desvalorizadas também foi percebida por Rosemberg (1985, apud ROSEMBERG, 2003) ao analisar textos e ilustrações na literatura infanto-juvenil publicada entre 1955 e 1975. Observem que apesar de já terem se passado 33 anos, estereótipos como estes ainda continuam sendo reproduzidos em obras didáticas. Outro exemplo relacionado a empregos, ou subempregos, pode ser verificado no capítulo 13 (p.130), onde identificamos a imagem de 3 homens no interior de um helicóptero: 1 homem branco, vitima de acidente, e 2 profissionais habilitados que o estão prestando socorro ao primeiro. Sendo, que um dos “profissionais” é negro e está trajando blusa azul e calça escura, traje este muito parecido com um uniforme (Figura 4). Apesar dos autores terem usado o termo “profissionais habilitados”, não sabemos, ao certo, qual a profissão do negro, tendo em vista que o outro profissional parece ser o piloto do helicóptero. FIGURA 4. PROFISSIONAIS HABILITADOS SOCORRENDO VÍTIMA DE ACIDENTE DE TRÂNSITO. FONTE: SILVA Jr; SASSON; SANCHES, 2005. p.130. A imagem acima além de reforçar a idéia de que atendimento hospitalar de qualidade só beneficia pessoas brancas, deixando o negro apenas como um mero coadjuvante da classe dominante branca, a qual insiste em reforçar estereótipos, tais como pessoas negras, na área médica, só chegam a ser, no máximo, auxiliares.
  • 12. 12 Rocha (2006) cita que a formação profissional, desde as suas origens, sempre foi reservada às classes menos favorecidas, estabelecendo-se uma nítida distinção entre àqueles que detinham o saber e os que executavam tarefas manuais. Ao trabalho, freqüentemente associado ao esforço manual e físico, acabou se agregando ainda a idéia de sofrimento. A autora ainda diz que a herança colonial do Brasil escravista influenciou preconceituosamente as relações sociais e a visão de sociedade sobre a educação e a formação profissional. Analisando figuras, na página 65, observamos dois esquemas representando o ciclo de vida do Trypanosoma cruzi, transmissor da doença de chagas. O primeiro esquema mostras o parasita Trypanosoma cruzi, seu agente transmissor (o inseto barbeiro) e o seu hospedeiro (o ser humano). Este representado pela figura de um menino negro, colorido artificialmente (Figura 5). O segundo esquema mostra três tipos de hospedeiros do Tripanosoma cruzi: o inseto barbeiro, o tatu e o ser humano. Este último, porém, representado pela figura de um menino branco, colorido também artificialmente (Figura 6). FIGURA 5. DESENHO ESQUEMÁTICO MOSTRANDO O CICLO DE VIDA DO Trypanosoma cruzi. FONTE: SILVA Jr; SASSON; SANCHES, 2005. p.65.
  • 13. 13 FIGURA 6. DESENHO ESQUEMÁTICO MOSTRANDO TRÊS TIPOS DE HOSPEDEIROS DO Trypanosoma cruzi.. FONTE: SILVA Jr; SASSON; SANCHES, 2005. p.65. A partir das análises dos esquemas ilustrativos, surgiu-nos o seguinte questionamento: se os desenhos foram coloridos artificialmente, ficando, portanto, a escolha das cores a critério dos autores e/ou ilustradores, então por que o livro mostra apenas um único desenho ilustrativo de personagem negro? Lembrando que, no presente livro, existe várias figuras ilustrativas de personagens humanos e que as mesmas foram coloridas ora em tonalidades rosa, ora amarela. Tais resultados evidenciam claramente o modelo de estética considerado pelos autores e/ou ilustradores, ou seja, a classe hegemônica branca. No capítulo 10, que trata das relações animais-seres humanos, na página 184, percebemos a imagem de uma mulher negra na praia, trajando um maiô, brincando com seu cão (Figura 7). A imagem em questão apresenta a seguinte legenda: “Mesmo cães mansos podem ferir seus donos. Mantenha seus cães e gatos vacinados e tenha cuidado ao brincar com eles”. Esta ilustração complementa o texto que trata de acidentes vulnerantes, como aqueles causados por mordeduras de animais como cães, gato, cobras, cavalos, peixes, macacos etc. Essa imagem revela uma forma bastante comum de representação do negro: a sensual, que passa por uma estetização do corpo. A exploração do corpo feminino ganhou destaque nessa imagem.
  • 14. 14 FIGURA 7. MULHER NEGRA BRINCANDO COM SEU CÃO. FONTE: SILVA Jr; SASSON; SANCHES, 2005. p.184. Segundo Silva (2001), a ideologia imagética hegemônica existente em nosso contexto produz, ao nível imaginário, uma forte associação do corpo negro com a virilidade e com a promiscuidade. Certamente, isso não isenta algumas imagens nos livros didáticos analisadas dos estereótipos sexuais, nem mesmo quando a proposta é bem diferente, como o caso da imagem acima. Dessa forma, ainda que hoje a mulher negra esteja aparentemente mais assimilada na cultura brasileira, esta se vê aprisionada a alguns lugares ou estereótipos, tais como: a sambista, a mulata, a doméstica, herança de um passado histórico (NOGUEIRA, 1999). 3. Estereótipos e formas discriminatórias ao negro nos textos dos livros didáticos de Ciências Nessa última seção, procuramos mostrar ao leitor se e como o negro está representado nos textos do livro didático de Ciências, se os autores fazem alusão a personagens negros e qual o tratamento dado a cada uma deles. O livro didático exerce um papel fundamental na cultura escolar, posto que é um dos instrumentos importantes para se pensar a questão dos conteúdos, das imagens, dos
  • 15. 15 estereótipos, dos valores, e conseqüentemente, da tendência do pensamento histórico educacional brasileiro (DIAS, 2004 apud CARVALHO 2006, p. 61). Os resultados apresentados no presente artigo mostraram, até então, sinais claros de estereótipos e preconceito atribuídos aos personagens negros, conforme observado através de imagens analisadas no livro didático de Ciências. Com relação à análise da representação do negro nos textos do livro didático, chamamos a atenção para o texto correspondente à figura 1 (ilustrado na primeira seção desse artigo), onde os autores expressam seus desejos, aos alunos, de que o trabalho com Ciências possa ajudá-los a pensar de forma cada vez mais clara, rejeitando superstições e preconceitos. Apesar dos autores não explicitarem os tipos de preconceitos, levando-nos a deduzir que sejam todos e quaisquer tipos, acreditamos que se os desejos dos autores forem realmente verdadeiros, eles devam dar maior atenção à imagem correspondente ao texto, tendo em vista estar “carregada” de preconceitos, haja vista que os autores passam, através da imagem, o modelo de estética preferencialmente, ainda, de população eurocêntrica. No tocante às figuras 5 e 6 (ver foto na seção 2), em que mostra o desenho esquemático do ciclo de vida do Tripanosoma cruzi, a principio, não percebemos nenhuma forma de preconceito ou estereótipos ao negro no texto referente a estas figuras. Porém, um pequeno detalhe: chamou nossa atenção, a legenda que identifica o menino negro, pois além da palavra “ser humano”, observamos uma outra legenda com o termo “hospedeiro”; já no desenho esquemático em que aparece o menino de cor branca, o termo “hospedeiro” foi omitido, ficando apenas a legenda “ser humano” (Figura 6). Essa “inocente” ou aparente omissão de uma simples legenda contribui para fomentar estereótipos tais como a associação do negro às doenças, visto que ele é um “hospedeiro” de seres patogênicos. Segundo Vaz (2003), existe uma relação de contigüidade entre a foto e a legenda, ou seja, quando se vê uma fotografia, os olhos do leitor, obedecendo a uma pulsão, percorrem as margens da foto a procura da tão esperada etiqueta que ira lhe informar exatamente de que se trata a imagem. Nessa perspectiva, cada foto, somada a sua legenda, consiste numa narrativa, numa história sendo contada. O autor menciona também que a leitura das fotos pode ser influenciada consideravelmente pelo simples fato de a legenda nomear ou não seus personagens (VAZ, 2003, p. 230). Segundo Orlandi (1987) o discurso pedagógico pode ser entendido como um discurso do poder que, em suas estratégias discursivas, tende para o “esmagamento” do outro. Esse discurso pedagógico, freqüentemente, na sua função de “informar, explicar, influenciar ou
  • 16. 16 mesmo persuadir reproduz as fórmulas da cultura do racismo e do preconceito” (ORLANDI, 2003). Além do que foi descrito acima, em nenhum momento no texto contido no livro os autores fizeram referência quanto aos personagens negros ilustrados no livro ou quem qualquer outra página. Assim, exceto pelas imagens, notou-se um silenciamento completo sobre a população negra. Esse silenciamento, a nosso ver, contribui sobremaneira para o fortalecimento da exclusão racial tão presente ainda no Brasil. Segundo Silva (1995, p.47 apud MANEGASSI e SOUZA, 2005), “a quase total ausência dos negros nos livros e a sua presença de forma estereotipada concorrem em grande parte para a fragmentação da identidade e auto estima desse segmento, além de estimular preconceitos às pessoas pertencentes ao grupo do qual foram associadas características distorcidas”. Sei que alguns podem dizer que por se tratar de um livro de Ciências, e não de Historia, Geografia, Arte, aquele não teria como abordar questões relacionadas à etnia negra. Entretanto, o bom senso nos mostra que é possível abordar a cultura, os costumes da etnia negra e afrodescendentes brasileiros. Considerações Finais Pretendeu-se com este estudo verificar como o negro está representado no livro didático de Ciências para alunos do ensino fundamental. Para tanto, imagens representando seres humanos negros e brancos foram quantificadas, objetivando descobrir se a proporção entre negros e brancos são proporcionais. Analisou-se, ainda, a presença de formas de preconceitos e estereótipos aos negros nos textos e imagens do livro didático. Os resultados em nosso estudo mostraram que o negro aparece de forma sub- representada no livro didático de Ciências analisado. Além disso, indicaram a presença de estereótipos e formas de preconceitos tanto nas imagens como nos textos contidos no livro, evidenciando, dessa maneira, uma falta de preocupação com a etnia negra, além de ter deixado claro a visão eurocêntrica e discriminatória por parte dos autores e/ou ilustradores do livro de Ciência. Nos últimos anos, o Ministério da Educação (MEC) tem incentivado o desenvolvimento de atividades visando à avaliação do livro didático. Em junho de 1998 o MEC lançou o Guia de Livros Didáticos de 5ª a 8ª Séries, que foi elaborado com a intenção de
  • 17. 17 "subsidiar" a escolha do livro didático pelo professor, já que dezenas de livros são inscritos no Plano Nacional do Livro Didático – PNLD (SILVA, 2005). O PNLD tem como objetivo básico, a aquisição e a distribuição universal e gratuita de livros didáticos para alunos das escolas públicas do ensino fundamental brasileiro. Vale ressaltar que um dos critérios eliminatório dos livros do PNLD é a expressão de preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade ou quaisquer outras formas de descriminação. Infelizmente, os resultados apresentados em nosso estudo mostram que os critérios mencionados acima não estão sendo respeitados pela comissão de “especialistas”, encarregados da avaliação. Mesmo sabendo que a Lei 10639/03 obriga as escolas a trabalhar com essa temática, os autores de livros didáticos, em sua maioria, não têm se empenhado em explorar a História e Cultura dessas etnias. Além disso, esses mesmos autores ainda têm contribuindo para reforçar estereótipos e formas de preconceitos ao negro como àqueles observados no livro didático de Ciências analisado no presente trabalho. Tendo em vista que o professor é o mediador das informações previamente estabelecidas nos livros didáticos, acreditamos que o mesmo desempenha um papel extremamente importante nesse contexto, pois, poderá, em suas aulas, trabalhar na desconstrução de toda e qualquer forma de preconceito e discriminação presentes nos livros didáticos, tais como desmistificar questões que envolvem negros, haja vista os critérios não serem cumpridos de maneira rigorosa, conforme mencionado acima. Entretanto, para tomar tal postura, faz-se necessário que o professor seja qualificado para detectar essas deficiências. Qualificado, o professor saberá identificar estereótipos e formas de preconceitos implícitos encontrados nos livros didáticos, esclarecendo os alunos sobre tais questões e mostrar os tipos de estratégias e artifícios utilizados para manipular grupos e incutir ideologias, bem como àquelas em que negros são seres inferiores e que o modelo de estética e poder é o branco. Nesse sentido, propõem-se o investimento maciço na qualificação de professores, intensificando desenvolvimento de cursos de educação continuada, cursos de aperfeiçoamento, extensão, especialização, abordando a temática étnico-racial, como os que têm acontecido na instituição CEFET-PA.
  • 18. 18 Referência Bibliográfica AQUINO, Miriam de Albuquerque. A imagem do afrodescendente na escola: a versão que ficou. In: IV Semana de Letras, 2003, João Pessoa. Curso de Letras: novos paradigmas e desafios, 2003. BRASIL. Lei nº. 10.639 de 9 de janeiro de 2003. Altera lei de diretrizes e bases da educação nacional. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/2003/L10.639.htm> Acesso em: 14 jun.2008. CARVALHO, Andréa Aparecida de Moraes Cândido. As Imagens dos Negros em Livros Didáticos de História. Tese de doutoramento. Florianópolis. Out/2006.pdf. COSTA, Candida Soares da. Imagens do Negro em Livros Didáticos Adotados para o I Triênio do Século XXI, segundo indicado pelo MEC. Grupo de Trabalho: Afro-brasileiro e Educação da – UFMT. Extraído de [http://www.Ipp-uerj.net/olped/documentos/0758.pdf] em maio de 2008. CUNHA Jr, Henrique. Imagens de africanos e afrodescendentes na escola. In. AQUINO, Miriam de Albuquerque. A imagem do afrodescendente na escola: a versão que ficou. In: IV Semana de Letras, João Pessoa. Curso de Letras: novos paradigmas e desafios, 2003. FREITAS, Itamar. “Negros, brancos e índios”: Ideologia e Poder nos manuais didáticos de História. Palestra proferida na UNIT, em 13 set. 2005, dentro do Seminário de História e Cultura Africana.Set/2005. Disponível em http://www.ensinodehistoria.com.br/producao.htm. GOMES, Nilma Lino. Trajetórias escolares, corpo negro e cabelo crespo: reprodução de estereótipos ou ressignificação cultural?. Rev. Bras. Educ., Sept./Dec. 2002, no.21, p.40-51. KALCKMANN, Suzana, SANTOS, Claudete Gomes dos, BATISTA, Luís Eduardo et al. Racismo institucional: um desafio para a eqüidade no SUS? . Saude soc., maio/ago. vol.16, no.2, p.146-155.2007. OLIVEIRA, Fátima. Ser negro no Brasil: alcances e limites. Estud. av., vol.18, no.50, 2004, p.57-60. MAGGIE, Yvonne. Racismo e anti-racismo: preconceito, discriminação e os jovens estudantes nas escolas cariocas. Educ. Soc., out. vol.27, no.96, p.739-751. 2006. MANEGASSI, Renilson José; SOUZA, Neucimara Ferreira. A Visão do negro no livro didático de Português. Revista Espaço Acadêmico. N0 47. Abril/2005. P P MEC. Ministério da Educação. Guias do Programa Nacional do Livro Didático. Disponível em <http://portal.mec.gov.br/seb/index.php?option=content&task=view&id=377> acesso em 15 de junho de 2008. MUNANGA, Kabengele, Mestiçagem e experiências interculturais no Brasil. In:MENDONÇA, R.F.; VAZ, P.B.F. Só preto sem preconceito?. In: Congresso brasileiro de Ciências da Comunicação, 27., 2004. Porto Alegre. Anais... São Paulo: Intercom, 2004.
  • 19. 19 MUNANGA, Kabengele - Org. Superando o Racismo na Escola. Ministério da Educação, Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade, 2005. Brasília – DF. NEGRÃO, Esmeralda V. & PINTO, Regina P. De olho no preconceito: um guia para professores sobre racismo em livros para crianças. São Paulo, Fundação Carlos Chagas, 1990. NOGUEIRA, Izildinha B. O corpo da mulher negra. Pulsional Revista de Psicanálise. Disponível em <www.editoraescuta.com.br/pulsional/135_04.pdf> acesso em 15 de junho. T T 2008. ORLANDI, Eni Pulcinelli. O discurso fundador: a formação do país e a construção da identidade nacional. In. AQUINO, Miriam de Albuquerque. A imagem do afrodescendente na escola: a versão que ficou. In: IV Semana de Letras, 2003, João Pessoa. Curso de Letras: novos paradigmas e desafios, 2003. ROCHA, H.S.C.; DUARTE, S.R.S. & FERREIRA, A. C. R. Resgate e mapeamento da exclusão de afrodescendentes no ensino superior nos CEFET da região norte e nordeste - implicações nas políticas públicas. I CONNEPT, Natal-RN. 2006. ROSEMBERG, Fúlvia. Análise dos modelos culturais na literatura infanto-juvenil brasileira. São Paulo, Fundação Carlos Chagas, volumes 1 a 9, 1980. ROSEMBERG, Fúlvia, BAZILLI, Chirley e SILVA, Paulo Vinícius Baptista da. Racismo em livros didáticos brasileiros e seu combate: uma revisão da literatura. Educ. Pesqui., Jan./June 2003, vol.29, no.1, p.125-146. SALES Júnior, Ronaldo. Democracia Racial: o não-dito racista. Temp. Soc. Vol. 18. No 2. São Paulo. Nov/2003. SILVA, Ana Célia da. Discriminação do negro no livro didático. Salvador, Editora CEAO, 1995. SILVA, Nelson Fernando Inocencio da. Consciência negra em Cartaz. Editora Universidade de Brasília. 2001. 136 p. SILVA, Paulo Vinicius Baptista da. Relações raciais em livros didáticos de língua portuguesa. Tese (Doutorado). Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. 2005. _______________________________. Racismo Discursivo na Mídia: pesquisa brasileira e movimentação social. Disponível em <www.congresoaled2005.puc.cl/pdf/vinicius.pdf> acesso em abril de 2008. SILVA Júnior, Cesar da; SASSON, Sezar; SANCHES, Paulo Sérgio Bedaque. Ciências: entendendo a natureza: o homem no ambiente. 6ª série. 7º ano. Ens. Fundamental. São Paulo: Saraiva, 2005. VAZ, Paulo B. F., MENDONÇA, Ricardo F., TAVARES, Frederico M. B., COUTINHO, Pedro C. A representação visual do outro na mídia impressa. Relatório Final de Pesquisa. Belo Horizonte:Fafich/UFMG, Março/2003.
  • 20. 20 WILSON, Anna V. Borboletas, pássaros e teias de aranha: Interrogar o privilégio de ser branco por meio da investigação narrativa. Currículo sem Fronteiras, v.5, n.2, pp.86-100, Jul/Dez 2005.