O documento descreve um laudo técnico sobre a restauração de um imóvel histórico localizado na Av. Paulista em São Paulo. O laudo detalha o estado atual do imóvel, identificando problemas como infiltrações, deterioração do revestimento de fachada e necessidade de reparos na cobertura. O laudo conclui com as considerações finais e serviços de restauração necessários, como a remoção e substituição de telhas danificadas, a restauração do revestimento de fachada e a impermeabilização dos terraços.
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LAUDO TÉCNICO
Construtora Marino Barros Ltda., sediada a Rua Oscar Pereira da Silva, n.º 60
– crea 17.725-D, representada por sua diretora Maria Cristina de Oliveira Barros, e
seu responsável técnico, eng.º Alberto Barth – crea 060.101.356.4, e assessorado
pelo Arq.º Dr. Carlos Lemos, tendo sido distinguida pelo Escritório Técnico de
Arquitetura Júlio Neves S.C. Ltda., para realizar o estudo sobre a restauração do
imóvel localizado na Av. Paulista, n.º 37, de propriedade de Pedra Grande S. C.
Ltda., e Boa Esperança Comercial e Administradora Ltda., após proceder às
pesquisas e verificações pertinentes que se fizeram necessárias passa a expor os
resultados obtidos através do presente trabalho.
DO OBJETIVO DO TRABALHO
Consiste fundamentalmente em determinar a exeqüibilidade dos serviços de
restauração, bem como a metodologia de trabalho a ser traçada a fim de atingir os
melhores resultados sob o ponto de vista técnico, arquitetônico e histórico.
HISTÓRICO
Depreende-se da Lei Estadual n.º 149, promulgada em 15/08/1969 que os
imóveis de interesse histórico,cultural ou artístico sob o ponto de vista arquitetônico
ou histórico encontram-se tombados pelo Condephaat – Conselho de Defesa do
Patrimônio Histórico, Artístico e Arqueológico do Estado de São Paulo,órgão ligado
a Secretaria Estadual da Cultura. Sob tal lei fica estabelecido que os proprietários de
tais imóveis tornam-se obrigados a submeter às determinações do Condephaat,
quaisquer reformas, reparos ou alterações a serem efetuadas quer para manutenção
ou melhora da unidade construída.
O imóvel do presente laudo, conhecido popularmente por “Casa das Rosas”,
foi projetado pelo Arq.º Ramos de Azevedo durante o primeiro quarto deste século,
possuindo estilo eclético, de requintados detalhes de acabamento, executado com os
melhores materiais para construção, grande parte deles de qualidade superior aos
encontrados atualmente em nosso mercado.
DO LOCAL
Trata-se de um prédio residencial, unifamiliar, isolado, possuindo um
subsolo, pavimento térreo e dois andares no seu corpo principal, construído ao nível,
porém recuado do alinhamento legal da via pública. Precede-a uma área ajardinada,
vedada no limite com a calçada por meio de uma mureta encimada de gradil metálico
interrompida por dois portões da mesma essência. Ladeiam-no, uma passagem lateral
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para veículos e um amplo jardim que vão ter a uma vasta área limitada aos fundos
com a Al. Santos, onde se situa uma edícula com dois pavimentos, uma estrutura
metálica para estufa de flores, e mais ao fundo do lote erguem-se as fundações de um
edifício para fins comerciais, denominado Ed. Parque Cultural Paulista.
ELEMENTOS DE INFORMAÇÃO E CONVICÇÃO
O presente capítulo se prende precipuamente, em apontar os elementos mais
notáveis aos trabalhos de restauração necessários ao imóvel, baseados nos exames
levados a efeito pela direção e corpo técnico da Construtora Marino Barros Ltda., e
do assessor especial de restaurações Arq.º Dr. Carlos Lemos.
Assim cumpre destacar inicialmente, que se observaram os seguintes
elementos externos constitutivos da edificação:
a. Cobertura da casa principal executada em chapas metálicas de zinco e
painéis laterais (oitões) de telhas planas de fibrocimento, imitando
placas de ardósia, complementadas por rufos e calhas de cobre e chapa
galvanizada;
b. As fachadas da casa principal, guarita e edícula são executadas em
massa raspada e massa batida, todas preparadas àquela época no
próprio canteiro de obras. As fachadas, dentro do estilo arquitetônico
característico, constituem-se de painéis entremeados por molduras,
ornatos e demais detalhes artísticos, contando, também, com a
presença de condutores externos de águas pluviais, executados em
chapa de cobre trabalhada;
c. O corpo principal do imóvel apresenta dois terraços de cobertura, um
deles junto à fachada principal e a lateral direita e o outro na fachada
dos fundos, ambos revestidos de piso cerâmico e ladeados por peitoris
dotados de ornatos característicos;
d. Os caixilhos integrantes do corpo principal da casa são constituídos
por janelas de abrir e por portas-balcão executadas na sua maioria em
chapas e perfis metálicos de aço pintado;
e. O gradil da fachada principal do imóvel é executado em chapa e perfis
de aço, com ornatos de latão, dotado de dois portões providos de
folhas duplas, destinados ao acesso de veículos e estende-se sobre toda
a testada do lote;
f. Os pisos externos da residência utilizados nos passeios, pátios e
alamedas externas são do tipo ladrilho hidráulico quadrado, na
varanda da casa, junto à sua fachada principal e lateral direita, são
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utilizados ladrilhos cerâmicos decorados e os degraus da escadaria de
mármore branco;
g. No lado direito do terço médio do lote, existe uma estrutura de perfis
metálicos, praticamente toda corroída, destinada a estufa de plantas
ornamentais.
DOS EXAMES
Preliminarmente, torna-se preciso evidenciar, que, quando do apurado e
minucioso exame levado a efeito no local e atendendo ao objetivo do trabalho, os
técnicos responsáveis se inteiraram dos lugares básicos dos serviços e com o
propósito único e exclusivamente voltado as restaurações externas do imóvel,
relacionaram os serviços necessários à sua restauração, inclusive da mureta gradil,
guarita, estufa e edícula.
Diante deste quadro, cumpre dar ao conhecimento, que, dos exames efetuados
junto à cobertura da casa principal, os técnicos verificaram de pronto que se
apresenta em razoável estado de conservação, não obstante as avarias atribuídas às
intempéries e ao desgaste natural motivado pelo uso e tempo. Deste modo, a
cobertura da casa principal guarnecida de chapas de zinco exibia-se com a superfície
externa totalmente enferrujada; as calhas e os rufos de chapas galvanizadas
apresentavam-se com corrosões profundas e inúmeras perfurações, e as calhas e
rufos de cobre em bom estado de conservação. Quanto às coberturas efetuadas com
telhas de fibrocimento, imitando placas de ardósia, constatou-se a ausência de
algumas, bem como parte da cobertura junto ao reservatório d’água ali existente,
mostrou-se executada em desacordo com a boa técnica, posto que, as telhas
apresentavam furos ocasionados por pregos em seu lado exposto ao tempo,
ocasionado assim infiltrações (vide fotos anexas n.º 1, 2, 28).
Outrossim, cumpre ressaltar, que, as coberturas impermeabilizadas, situadas
no andar superior em número de duas, sendo uma revestida com piso cerâmico
decorado e outra com piso cerâmico liso vermelho sem camada de vidrado, não
original ao projeto do imóvel, apresentavam suas impermeabilizações asfálticas
totalmente comprometidas, posto que os processos aplicados, atuais à época da
execução, atingiram hoje o final de sua vida útil, vindo assim a ocasionar as
infiltrações presentes nas fachadas e ambientes internos (vide fotos anexas n.º 6, 7, 8,
10, 14, 17, 29, 30).
Denota-se, também, a existência de trincas de diversas dimensões, junto aos
peitoris do tipo pré-moldado, localizados nas fachadas principal e lateral direita,
(vide fotos anexas n.º 1, 2), ocasionando desta forma graves infiltrações na laje de
piso do pavimento superior e fachadas, exigindo calafetação com material adequado.
Observa-se ainda, devido às trincas nos peitoris externos, que parte deles estavam
descolados de sua posição original (vide fotos anexas n.º 10, 11, 12), em posição de
apôio instável e com seus ornatos centrais deteriorados pela ação do tempo.
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Agora, no que concerne às fachadas, cumpre ressaltar com destaque, que,
através de análise efetuada constatou-se a existência de dois tipos de massa de
revestimento – massa raspada aplicada nos painéis e ornatos e massa batida aplicada
sobre os sócolos de colunas e embasamento do corpo principal do imóvel.
Ressaltamos que devido a ação do tempo e agentes poluidores resultantes da
atmosfera altamente agressiva do local, as fachadas do todos os blocos edificados
constituintes do imóvel apresentavam-se enegrecidas e amareladas, distantes,
portanto de sua cor original, não possibilitando em seu estado atual sequer distinguir
as diferenças de textura e cor existentes entre as duas massas. Em amostras de
painéis de fachada e sócolos retirados do local, por firma especializada na fabricação
deste revestimento, após lavagem das amostras por processo adequado, constatou-se
serem da cor branca, ambas as massas lá aplicadas.
A situação em que encontra-se o revestimento de fachada é de total
deterioração, apresentando como já citado anteriormente, enegrecimento da cor da
massa de revestimento, agravada pelo fato, de que todos os painéis externos estarem
praticamente destacados da alvenaria, o mesmo acontecendo com alguns ornatos e
molduras constitutivos das fachadas (vide fotos anexas n.º 3, 6, 7, 8, 9, 10, 14, 17, 20,
22, 23). Salientamos ainda que parte dos condutores de águas pluviais executados em
chapa de cobre ornada com detalhes arquitetônicos característicos foi substituída por
condutores de chapa lisa não originais ao projeto (vide fotos anexas n.º 16, 21, 23).
CONSIDERAÇÕES FINAIS E CONCLUSÕES
Ante a evidência da análise determinada pelos acurados exames e vistorias
procedidos no local e pelo exposto até então, os técnicos relatores se vêem levados a
tecer considerações adiante postas a vista e ao final oferecer a conclusão dos
trabalhos.
Cumpre registrar no caso vertente, que os serviços de restauração a serem
executados externamente aos blocos edificados do imóvel, necessitam de:
a. Recuperação do telhado de cobertura da casa principal, executado em
chapas metálicas, removendo a camada de corrosão superficial,
procedendo a substituição das partes irrecuperáveis, para a execução
de tratamento anticorrosivo e adequada pintura do conjunto todo;
b. Revisão das calhas e rufos de chapa galvanizada integrantes da
cobertura da casa principal e edícula, procedendo a substituição das
partes afetadas pela corrosão;
c. Revisão das calhas e rufos de cobre, a fim de eliminar-se qualquer
vazamento em juntas soldadas, rebitadas ou cravadas;
d. Substituição dos degraus e capeamento de muretas de mármore
branco, que apresentam-se quebrados;
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e. Proceder à substituição das telhas de fibrocimento danificadas e
executar corretamente a sua colocação junto ao reservatório superior
d’água;
f. Limpeza geral de rufos, calhas e telhas de cobertura da casa principal
e edícula;
g. Revisão do reservatório superior d’água, procedendo a sua
impermeabilização, troca de torneira de bóia, dos flanges e registros
de saída do mesmo;
h. Remoção do piso de ladrilhos cerâmicos dos terraços de cobertura,
bem como da camada de isolamento térmico constituído de tijolos
furados, e da camada regularizadora e impermeabilizante existente,
procedendo à nova impermeabilização. Analisando as calhas captoras
de águas pluviais oriundas dos terraços de cobertura, constatou-se que
para a perfeita impermeabilização torna-se necessária a retirada dos
peitoris ali existentes, a fim de que a impermeabilização entre o
terraço e a já citada calha seja contínua e uniforme;
i. Revestimento dos terraços de cobertura com material igual ou de
melhor qualidade do que o encontrado;
j. Revisão dos caixilhos das fachadas por marceneiros e serralheiros
especializados, com posterior aplicação de pintura sobre suas
superfícies;
k. Restauração do revestimento de fachada – Neste item incluiremos os
resultados de nossa análise sobre o revestimento local aplicado.
Convém relembrar que conforme afirmado no CAPÍTULO EXAMES,
fl. 3, todo o revestimento externo encontra-se destacado da alvenaria,
ou seja, o revestimento externo fino e reboco. Tal fato pode ter
ocorrido devido a duas ocorrências distintas:
• Recalques diferenciais de fundações;
• Infiltração e deposição de água nas camadas de revestimento;
• Analisando o primeiro item, procedida a verificação das
prumadas da edificação em todo o seu entorno, constatou-se
estarem elas aprumadas, não revelando inclinação ou
tendência de inclinação do bloco edificado em determinada
direção, configurando assim recalques diferenciais;
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• Agora o segundo item – Infiltração e deposição de água nas
camadas de revestimento, é que explica o fato dele estar em
processo de descolamento da alvenaria. Vale observar que pela
técnica executiva utilizada àquela época, não verifica-se a
presença de chapisco sobre a alvenaria externa, aplicando-se
diretamente o reboco sobre a mesma. Assim sendo, com o
decorrer do tempo em função das variações térmicas locais, e,
sobretudo pela forte infiltração d’água, a que a edificação
esteve sujeita, devido aos vazamentos constatados nas calhas e
rufos da cobertura do telhado, bem como da
impermeabilização dos terraços de cobertura, toda a umidade
localizada permanentemente sob o revestimento, agravada
pelo fato de possuir diluídos nela agentes ácidos provenientes
da poluição atmosférica, passe a influir sobre o
comportamento físico-químico de alguns minerais não estáveis
presentes na composição desta argamassa. A ação da umidade
acima faz com que estes minerais (gipsita, p. ex.), passem a
sofrer o processo de expansão volumétrica, com a liberação
de alguns gases, que tendem com o passar do tempo a
provocar o descolamento da argamassa de revestimento da
alvenaria.
A descrição do fato acima sugere, à primeira vista, a substituição total do
revestimento externo, porém levando-se em conta outros parâmetros intervenientes,
tais como, prazo de execução e custos, fica sugerida a substituição somente dos
painéis lisos requadrados das fachadas, evitando-se ao máximo a reexecução de
ornatos e molduras, aplicando-se sobre estes somente retoques e lavagem desta
massa com máquinas especiais e mão de obra especializada, considerando ainda que
todas as peças que deverão ser embutidas nas paredes já deverão estar em seu lugar,
tais como, suportes de calhas, buzinotes, carrancas de venezianas, etc.
Sobre a cor final das fachadas, uma vez que a massa raspada ou batida não
pode ser emendada ou retocada, já que qualquer tentativa neste sentido será inútil,
pois ficará sempre aparecendo o remendo, fica sugerido, sempre a nível de tentativa,
de utilizar-se a massa raspada que apresente coloração próxima dos ornatos e
molduras originais lavados, compondo desta forma o conjunto mais homogêneo
possível.
Finalmente resta concluir, que, devidamente apreciados com a mais rigorosa
objetividade, todos os elementos intervenientes no processo de restauração a ser
executado nas partes externas do imóvel, tudo converge plena e coerentemente no
sentido de ser exeqüível a restauração do imóvel, procedendo-se a revisão das
coberturas metálicas e de telhas, executando-se nova impermeabilização dos terraços
de cobertura externos, bem como, inicialmente tentar-se apenas remover os painéis
de revestimento das fachadas que estejam soltos, efetuando-se a limpeza enérgica
sobre molduras e ornatos, aplicando-se em seguida o revestimento em cor próxima a
estas peças lavadas, sempre obedecendo rigorosamente ao desenho existente.
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Era o que havia a relatar.
Este laudo vai datilografado no anverso de sete folhas desse mesmo papel.
Ilustram-no 30 fotografias.
São Paulo, 08 de maio de 1.987
ALBERTO BARTH
engenheiro civil
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