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Relações Raciais entre a Monarquia
e a República no Brasil
Apontamentos segundo GUIMARÃES (2011)
Anna Karolyne Guia, Fernanda Aldave, Victor Azambuja
Disciplina: Brasil Republicano
IGHD - UFMT | 2023
Prof. Antonio Sérgio Alfredo Guimarães tem graduação e
mestrado em Ciências Sociais pela Universidade Federal
da Bahia (UFBA) e Doutorado em Sociologia pela
University of Wisconsin, Madison. Professor Titular
(Sênior) do Departamento de Sociologia da Universidade
de São Paulo (USP). A partir da década de 1990, Antônio
Sérgio Alfredo Guimarães passou a se dedicar aos
estudos sobre o racismo e o antirracismo.
Posteriormente, em 1996, passa então a dedicar-se
quase que exclusivamente aos estudos das relações de
raça.
Antônio Sérgio Alfredo Guimarães
Discussão historiografica: acerca do imaginário brasileiro referido como
mestiço ou “negro” e a identidade nacional inter-racial de mistura ou recriação
de identidades pós-africanas em oposição ao pensamento colonizador sobre o
Brasil.
Tese: "a formação nacional acabou por reduzir os ideais de liberdade ao fim do
cativeiro, limitou a igualdade aos limites das classes sociais, e fez da
fraternidade entre as raças o solo único da solidariedade social.
Palavras-chave: República, relações raciais, identidade nacional, pensamento
brasileiro.
Recorte temporal em análise: 1870 até a crise da Primeira República, em 1930
O pós-Revolução Francesa (1789)
a) "liberdade, igualdade, fraternidade;
b) impactos nas Américas;
c) riscos ao sistema escravocrata: disparidades entre escravizados, libertos e
colonos.
Primeira República: autoritária e anti-popular na recriação da nação partindo
de "ideais iluministas, civilizatórios e positivistas, domesticando à força a
plebe urbana e rural, que resistia por meio de revoltas [...]" (p. 21)
GUIMARÃES, Antonio. A República de 1889: utopia de branco, medo de preto. Contemporânea, 2, 17-36, jun-
dez 2011.
Sevcenko, Nicolau. “O prelúdio republicano, astúcias da ordem e ilusões do progresso”. In: Introdução à
história da vida privada no Brasil. vol. 3. São Paulo: Cia. das Letras, 1998. p. 7-48.
Abolicionismo e Republicanismo: movimentos político-sociais de "ideias de
liberdade, igualdade racial e cultura mestiça, valores e sentimentos que
marcarão a modernidade e a contemporaneidade políticas brasileiras." (p. 19)
Hipóteses: a classe média urbana de negros (escravos, libertos ou mestiços) e
negros-mestiços que eram funcionários, jornalistas, profissionais liberais e
intelectuais, se aproximavam das ideias de: liberdade, direitos do indivíduo,
mais do que das de igualdade de direitos e de cidadania.
Já as elites agrárias, cujos direitos civis e políticos já foram estabelecidos pelo
Império, estavam em torno de aspirações de igualdade política e social.
Republicanismo: entre militares e as camadas médias urbanas, funcionários e
empregados do comércio.
Guimarães utiliza Carvalho (1987: 48), que caracteriza, em termos ideológicos e de
posição social, os republicanos. Assim, o movimento abarcava interesses de
escravocratas, abolicionistas, fazendeiros, civis, estudantes, militares, comerciantes e
profissionais liberais.
Após a Abolição, as elites açucareiras e cafeeiras, antes monarquistas, aderiram ao
movimento.
A monarquia perdeu importância aos oligarcas e escravocratas após a abolição da
escravidão sem indenizações.
Por que a abolição da escravidão foi
"tardia"? Devido fatores:
a) econômicos;
b) políticos;
c) sociais;
d) ideológicos.
O pós-abolição: Guimarães diz que "a
legitimidade do trono transformou-se
mesmo em veneração à Princesa
Isabel e na defesa de um futuro
Terceiro Reinado." (p. 19)
"Não sou um homem e um irmão?". Medalhão de 1787
desenhado por Josiah Wedgwood para a campanha
abolicionista britânica
Entre 1870 e 1888, a abolição gerou impactos às oligarquias
agrárias: um problema de mão de obra.
Extinta a escravidão, o sistema econômico escravista devia "manter
a disciplina do trabalho" a partir de novos modos de gestão
(cafeicultura paulista) ou na atualização das formas de
subordinação (como no nordeste açucareiro, onde havia "mão de
obra livre abundante, como os engenhos de Bahia, Pernambuco e
Maranhão, ou tinham na imigração estrangeira uma fonte
sucedânea de mão de obra [...]. (p. 24).
Guarda Negra (1888) - defesa da Monarquia e resistência à República:
abolicionistas monarquistas, ex-escravos e libertos.
Defendiam a liberdade recém conquistada e representada por Isabel.
Temiam cerceamentos que poderiam ser impostos pelos republicanos.
Ponto de radicalização: em 30/12/1888 no Rio de Janeiro, a Guarda atacou
um comício republicano. Houve mortes de manifestantes, em geral negros.
Gomes (1999): à elite brasileira, o perigo era a participação autônoma dos
setores populares e de ex-escravos na política nacional.
Guerra de Canudos (1893-
1897): Nicolau Sevcenko
nomeia esta guerra como
"sintoma" da desestabilidade
social causada pela
modernização elitista a
qualquer custo.
O conflito na Bahia se deu pois
Canudos foi vista como uma
organização de "conspiradores
monarquistas", logo deveria
ser eliminada para preservar o
futuro da República.
Memorial Antonio Conselheiro (Canudos, BA)
A Revolta da Vacina
Fonte: Agência Fiocruz de Notícias
Revolta da Vacina (1904): outro
momento em que o "hiato entre o
povo e o estado republicano" era
evidente.
Para Sevcenko, foi o segundo
"episódio" de Canudos por ser,
também, um motim popular.
Revolta contra as atitudes
descabidas da "Tripla reforma"
(ou ditadura) engajada por Lauro
Muller, Oswaldo Cruz e Pereira
Passos para a modernização, o
saneamento e a reforma urbana.
A Utopia - política de reconstrução nacional
GUIMARÃES, Antonio. A República de 1889: utopia de branco, medo de preto. Contemporânea, 2, 17-36, jun-
dez 2011.
"os grupos subalternos, seja nos sertões, seja nas antigas áreas de plantação, vivenciaram a
República de 1889 como poder que frustrava a liberdade almejada com a Abolição." (p. 22)
O Medo - relação de poder no trabalho e no emprego de mão de obra
GUIMARÃES, Antonio. A República de 1889: utopia de branco, medo de preto. Contemporânea, 2, 17-36, jun-
dez 2011.
Houveram intelectuais negros porta-vozes de um sentimento popular de
pertencimento que aspirava mais do que respeito, igualdade de tratamento e
de oportunidades, para "livrar-se do preconceito de cor e do estigma da
escravidão, pensando a nação brasileira como mestiça" (p. 32).
Isso, nos segmentos urbanos, fundia-se aos ideais de fraternidade e de
solidariedade nacional, passando a ver e pensar os crioulos, pardos e
mestiços como brasileiros.
Nos meios negros, prevaleceram ideais de:
a) liberdade como autonomia pessoal;
b) igualdade como pertença à nação, onde a cor não mais causava
cerceamentos.
Articulação da exclusão
Abolição garantiu a liberdade na forma da lei;
Exclusão do negro nos processos políticos, econômicos
e sociais;
De que forma se dá a marginalização do povo preto?
Referências bibliográficas
Sevcenko, Nicolau. “O prelúdio republicano, astúcias da ordem e ilusões do progresso”. In: Introdução à
história da vida privada no Brasil. vol. 3. São Paulo: Cia. das Letras, 1998. p. 7-48.
GUIMARÃES, Antonio S. A. A República de 1889: utopia de branco, medo de preto (a liberdade é negra; a
igualdade, branca e a fraternidade, mestiça). Contemporânea – Revista de Sociologia da UFSCar. São Carlos,
Departamento e Programa de Pós- -Graduação em Sociologia, 2011, n. 2, p. 17-36.
Canudos -Bahia |Turismo. Disponível em: < http://www.bahia.com.br/canudos-2/ >. Acesso em: 08/03/2023
A Revolita da Vacina. Agência Fiocruz de Notícias, 2005. Disponível em <
https://portal.fiocruz.br/noticia/revolta-da-vacina-3 >. Acesso em 08/03/2023
Escravidão, racismo e antirracismo. Blog do Professor Marciano Dantas, 2022. Disponível em: <
https://professormarcianodantas.blogspot.com/2022/03/escravidao-racismo-e-antirracismo.html >. Acesso
em: 08/03/2023.
Apartheid à brasileira. Disponível emhttps://theintercept.com/2020/11/10/apartheid-a-brasileira-
como-a-falacia-da-democracia-racial-escamoteou-o-racismo-das-leis/

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  • 1. Relações Raciais entre a Monarquia e a República no Brasil Apontamentos segundo GUIMARÃES (2011) Anna Karolyne Guia, Fernanda Aldave, Victor Azambuja Disciplina: Brasil Republicano IGHD - UFMT | 2023
  • 2.
  • 3. Prof. Antonio Sérgio Alfredo Guimarães tem graduação e mestrado em Ciências Sociais pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) e Doutorado em Sociologia pela University of Wisconsin, Madison. Professor Titular (Sênior) do Departamento de Sociologia da Universidade de São Paulo (USP). A partir da década de 1990, Antônio Sérgio Alfredo Guimarães passou a se dedicar aos estudos sobre o racismo e o antirracismo. Posteriormente, em 1996, passa então a dedicar-se quase que exclusivamente aos estudos das relações de raça. Antônio Sérgio Alfredo Guimarães
  • 4. Discussão historiografica: acerca do imaginário brasileiro referido como mestiço ou “negro” e a identidade nacional inter-racial de mistura ou recriação de identidades pós-africanas em oposição ao pensamento colonizador sobre o Brasil. Tese: "a formação nacional acabou por reduzir os ideais de liberdade ao fim do cativeiro, limitou a igualdade aos limites das classes sociais, e fez da fraternidade entre as raças o solo único da solidariedade social. Palavras-chave: República, relações raciais, identidade nacional, pensamento brasileiro. Recorte temporal em análise: 1870 até a crise da Primeira República, em 1930
  • 5. O pós-Revolução Francesa (1789) a) "liberdade, igualdade, fraternidade; b) impactos nas Américas; c) riscos ao sistema escravocrata: disparidades entre escravizados, libertos e colonos. Primeira República: autoritária e anti-popular na recriação da nação partindo de "ideais iluministas, civilizatórios e positivistas, domesticando à força a plebe urbana e rural, que resistia por meio de revoltas [...]" (p. 21)
  • 6. GUIMARÃES, Antonio. A República de 1889: utopia de branco, medo de preto. Contemporânea, 2, 17-36, jun- dez 2011. Sevcenko, Nicolau. “O prelúdio republicano, astúcias da ordem e ilusões do progresso”. In: Introdução à história da vida privada no Brasil. vol. 3. São Paulo: Cia. das Letras, 1998. p. 7-48.
  • 7. Abolicionismo e Republicanismo: movimentos político-sociais de "ideias de liberdade, igualdade racial e cultura mestiça, valores e sentimentos que marcarão a modernidade e a contemporaneidade políticas brasileiras." (p. 19) Hipóteses: a classe média urbana de negros (escravos, libertos ou mestiços) e negros-mestiços que eram funcionários, jornalistas, profissionais liberais e intelectuais, se aproximavam das ideias de: liberdade, direitos do indivíduo, mais do que das de igualdade de direitos e de cidadania. Já as elites agrárias, cujos direitos civis e políticos já foram estabelecidos pelo Império, estavam em torno de aspirações de igualdade política e social.
  • 8. Republicanismo: entre militares e as camadas médias urbanas, funcionários e empregados do comércio. Guimarães utiliza Carvalho (1987: 48), que caracteriza, em termos ideológicos e de posição social, os republicanos. Assim, o movimento abarcava interesses de escravocratas, abolicionistas, fazendeiros, civis, estudantes, militares, comerciantes e profissionais liberais. Após a Abolição, as elites açucareiras e cafeeiras, antes monarquistas, aderiram ao movimento. A monarquia perdeu importância aos oligarcas e escravocratas após a abolição da escravidão sem indenizações.
  • 9. Por que a abolição da escravidão foi "tardia"? Devido fatores: a) econômicos; b) políticos; c) sociais; d) ideológicos. O pós-abolição: Guimarães diz que "a legitimidade do trono transformou-se mesmo em veneração à Princesa Isabel e na defesa de um futuro Terceiro Reinado." (p. 19) "Não sou um homem e um irmão?". Medalhão de 1787 desenhado por Josiah Wedgwood para a campanha abolicionista britânica
  • 10. Entre 1870 e 1888, a abolição gerou impactos às oligarquias agrárias: um problema de mão de obra. Extinta a escravidão, o sistema econômico escravista devia "manter a disciplina do trabalho" a partir de novos modos de gestão (cafeicultura paulista) ou na atualização das formas de subordinação (como no nordeste açucareiro, onde havia "mão de obra livre abundante, como os engenhos de Bahia, Pernambuco e Maranhão, ou tinham na imigração estrangeira uma fonte sucedânea de mão de obra [...]. (p. 24).
  • 11. Guarda Negra (1888) - defesa da Monarquia e resistência à República: abolicionistas monarquistas, ex-escravos e libertos. Defendiam a liberdade recém conquistada e representada por Isabel. Temiam cerceamentos que poderiam ser impostos pelos republicanos. Ponto de radicalização: em 30/12/1888 no Rio de Janeiro, a Guarda atacou um comício republicano. Houve mortes de manifestantes, em geral negros. Gomes (1999): à elite brasileira, o perigo era a participação autônoma dos setores populares e de ex-escravos na política nacional.
  • 12. Guerra de Canudos (1893- 1897): Nicolau Sevcenko nomeia esta guerra como "sintoma" da desestabilidade social causada pela modernização elitista a qualquer custo. O conflito na Bahia se deu pois Canudos foi vista como uma organização de "conspiradores monarquistas", logo deveria ser eliminada para preservar o futuro da República. Memorial Antonio Conselheiro (Canudos, BA)
  • 13. A Revolta da Vacina Fonte: Agência Fiocruz de Notícias Revolta da Vacina (1904): outro momento em que o "hiato entre o povo e o estado republicano" era evidente. Para Sevcenko, foi o segundo "episódio" de Canudos por ser, também, um motim popular. Revolta contra as atitudes descabidas da "Tripla reforma" (ou ditadura) engajada por Lauro Muller, Oswaldo Cruz e Pereira Passos para a modernização, o saneamento e a reforma urbana.
  • 14. A Utopia - política de reconstrução nacional GUIMARÃES, Antonio. A República de 1889: utopia de branco, medo de preto. Contemporânea, 2, 17-36, jun- dez 2011.
  • 15. "os grupos subalternos, seja nos sertões, seja nas antigas áreas de plantação, vivenciaram a República de 1889 como poder que frustrava a liberdade almejada com a Abolição." (p. 22) O Medo - relação de poder no trabalho e no emprego de mão de obra GUIMARÃES, Antonio. A República de 1889: utopia de branco, medo de preto. Contemporânea, 2, 17-36, jun- dez 2011.
  • 16. Houveram intelectuais negros porta-vozes de um sentimento popular de pertencimento que aspirava mais do que respeito, igualdade de tratamento e de oportunidades, para "livrar-se do preconceito de cor e do estigma da escravidão, pensando a nação brasileira como mestiça" (p. 32). Isso, nos segmentos urbanos, fundia-se aos ideais de fraternidade e de solidariedade nacional, passando a ver e pensar os crioulos, pardos e mestiços como brasileiros. Nos meios negros, prevaleceram ideais de: a) liberdade como autonomia pessoal; b) igualdade como pertença à nação, onde a cor não mais causava cerceamentos.
  • 17. Articulação da exclusão Abolição garantiu a liberdade na forma da lei; Exclusão do negro nos processos políticos, econômicos e sociais; De que forma se dá a marginalização do povo preto?
  • 18. Referências bibliográficas Sevcenko, Nicolau. “O prelúdio republicano, astúcias da ordem e ilusões do progresso”. In: Introdução à história da vida privada no Brasil. vol. 3. São Paulo: Cia. das Letras, 1998. p. 7-48. GUIMARÃES, Antonio S. A. A República de 1889: utopia de branco, medo de preto (a liberdade é negra; a igualdade, branca e a fraternidade, mestiça). Contemporânea – Revista de Sociologia da UFSCar. São Carlos, Departamento e Programa de Pós- -Graduação em Sociologia, 2011, n. 2, p. 17-36. Canudos -Bahia |Turismo. Disponível em: < http://www.bahia.com.br/canudos-2/ >. Acesso em: 08/03/2023 A Revolita da Vacina. Agência Fiocruz de Notícias, 2005. Disponível em < https://portal.fiocruz.br/noticia/revolta-da-vacina-3 >. Acesso em 08/03/2023 Escravidão, racismo e antirracismo. Blog do Professor Marciano Dantas, 2022. Disponível em: < https://professormarcianodantas.blogspot.com/2022/03/escravidao-racismo-e-antirracismo.html >. Acesso em: 08/03/2023. Apartheid à brasileira. Disponível emhttps://theintercept.com/2020/11/10/apartheid-a-brasileira- como-a-falacia-da-democracia-racial-escamoteou-o-racismo-das-leis/