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GÊNEROS TEXTUAIS E ENSINO DE LÍNGUA MATERNA


          Faraco (2000) afirma que podemos encontrar em Bakhtin os pressupostos
necessários para o ensino de Língua Portuguesa nas escolas, também porque esse autor
atribui um novo enfoque para a relação homem/linguagem/sociedade, enfim entender a
mudança de concepção de linguagem que seja voltado para o fenômeno de interlocução
viva. “A língua vive e evolui historicamente na comunicação verbal concreta”
(BAKHTIN, 1986), ou seja, a linguagem é como um intercâmbio entre os sujeitos
historicamente estabelecidos. Entendemos, a partir de Bakhtin, que a linguagem deve
ser entendida como um produto de interação do sujeito com o mundo e com os outros.
          A concepção de linguagem de Bakhtin fundamenta uma proposta lingüística
pedagógica interacional, portanto, dá um suporte inicial necessário para uma mudança
qualitativa no ensino tradicional da língua.
          A língua é viva, produzida historicamente, e ao mesmo tempo, produtora da
história humana. Para Bakhtin, a língua materializa-se nas diversas enunciações, em
diferentes situações sociais, através dos gêneros discursivos. O “querer dizer do locutor
se realiza acima de tudo na escolha de um gênero discursivo”. (BAKHTIN, 1992,
p.301).
          O ensino de diversos gêneros que socialmente circulam entre nós, além de
ampliar sobremaneira a competência lingüística e discursiva dos alunos, aponta
inúmeras formas concretas de participação social.
          Um processo de ensino-aprendizagem que priorize o trabalho com os diferentes
gêneros do discurso, prepara o aluno para as diferentes práticas lingüísticas, e também
amplia sua compreensão da realidade, apontando-lhe formas concretas de participação
social como cidadão.
          Quando um aluno aprende a produzir, por exemplo, uma carta do leitor para ser
enviada a um jornal ou revista, toma consciência de que pode como cidadão, manifestar
seus pontos de vista, opinar e interferir nos acontecimentos do mundo concreto.
          A escola deve trabalhar com os mais diversos gêneros que circulam socialmente
como, por exemplo, no jornalismo: a notícia, o editorial, a reportagem, o artigo de
opinião, a carta do leitor, etc., para que os alunos sejam preparados para as situações de
interação existentes na sociedade em que vivem e, assim possam agir de forma crítica e
consciente em relação a assuntos e situações do dia-a-dia. Os gêneros devem ser
periodicamente retomados e seu estudo aprofundado e ampliado, de acordo com a série,
com o grau de maturidade dos alunos, com suas habilidades lingüísticas e com a área
temática de seu interesse.
       Segundo Faraco e Castro (2000), o professor deve incentivar o aluno a refletir
sobre as diferenças existentes entre os gêneros, assim como o papel desses no processo
social de interação verbal a que ele poderá ser exposto, fora do ambiente escolar.
       É possível que até algum aluno, ao se apropriar dos procedimentos que
envolvem a produção de crônica, não apresente tanta habilidade quanto outro aluno,
mas ele poderá, por exemplo, produzir textos publicitários muito criativos ou ser um
ótimo argumentador em debates públicos em textos argumentativos escritos. Por isso,
em relação à avaliação das produções textuais dos gêneros, devemos abandonar os
critérios quase exclusivamente literários ou gramaticais e deslocar seu foco para outro
ponto: o bom texto não é aquele que apresenta, ou só apresenta características literárias,
mas aquele que é adequado à situação comunicacional para tanto, aspectos como a
adequação ao conteúdo, da estrutura e da linguagem como um todo e o cumprimento da
finalidade que motivou a produção.
       Bezerra (2005) afirma que em qualquer contexto social ou cultural que envolva a
leitura e /ou escrita é um evento de letramento, o que implica a existência de inúmeros
gêneros textuais, culturalmente determinados, de acordo com as diferentes instituições e
usados em situações comunicativas reais. Os estudos sobre letramento investigam as
práticas sociais que envolvem a escrita, seus usos, funções e efeitos sobre o indivíduo e
a sociedade como um todo.
       Rossi (2003) afirma que a produção escrita implica em atividades de leitura para
que os alunos se apropriem das características dos gêneros que produzirão. Por isso, a
autora sugere que antes de iniciar um trabalho pedagógico de produção escrita de
gêneros o professor deve propor aos alunos um trabalho didático de leitura, para ocorrer
a apropriação do gênero a ser produzido.
       Marcuschi (2005) relata que a escrita é usada em contextos sociais básicos da
vida cotidiana, como por exemplo, o trabalho, a escola, o dia-a-dia, a família, a vida
burocrática, atividade intelectual, em paralelo direto com a oralidade. Em cada um
desses contextos, as ênfases e os objetivos da escrita são variados e diversos, fazendo
surgir gêneros textuais e formas comunicativas.
       O ensino de língua deve oferecer incentivos e meios para que os alunos leiam,
desenvolvam a competência de compreender e produzir textos nas mais diversas
situações de interação. Enfim, o texto é produto de uma determinada visão de mundo,
de uma integração, de um momento de produção histórica e socialmente marcado.
        A leitura da literatura de ficção de não-ficção, de jornais, revistas, enfim de
vários gêneros que circulam na sociedade é uma forma de oferecer condições para que
os alunos ampliem seus conhecimentos e assim possam desenvolver o raciocínio, o
senso crítico, a compreensão do real, a curiosidade intelectual, que são essenciais para a
constituição de uma sociedade mais politizada.
        A partir destas reflexões, o que se pretende é que o ensino de língua materna se
torne mais concreto, que o espaço de sala de aula seja um ambiente de interlocução viva
entre alunos e professores.
Em vista estas considerações, escolhemos para aprofundamento, neste artigo, dentre os
muitos gêneros textuais existentes em nossa sociedade, o gênero cartas do leitor.


CARTAS DO LEITOR


        Bezerra (2005) afirma que o gênero cartas do leitor são uma espécie de
subgênero carta. Isto porque as cartas têm em comum a estrutura básica, (como por
exemplo, o núcleo da carta). No entanto, as cartas são variadas em suas formas de
realização, em seus objetivos, intenções, propósitos (carta pedido, carta resposta, carta
pessoal, carta ao leitor...).
        As cartas do leitor diferenciam-se um pouco das cartas tradicionais por
abordarem diretamente o assunto a ser discutido, por serem curtas e não apresentarem as
saudações (prezado senhor, querido amigo), nem as despedidas tradicionais (um grande
abraço).
        Nos jornais e revistas, há um espaço próprio destinado para que as cartas dos
leitores sejam publicadas. Quando uma carta é enviada para a publicação, o leitor
precisa identificar-se colocando nome completo, o nº. de identidade e endereço e é
responsabilizado pelo que escreve. Nem todas as cartas são publicadas, pois passam por
uma seleção e podem ser resumidas ou parafraseadas. Cada jornal ou revista segue
critérios próprios de publicação.
        O propósito comunicativo de uma revista ou jornal pode variar. Os temas podem
ser diferentes, assim como um mesmo assunto pode ser abordado de formas variadas.
Cada um tem um público alvo (homem, mulher, jovem, criança). Estes fatores
influenciam os leitores frente às reportagens, notícias, em outras pedem conselhos,
orientações, sobre assuntos relacionados à adolescência: gravidez e relacionamentos
pessoais.
A publicação das cartas segue normas, que variam de acordo com cada revista ou jornal,
como por exemplo, as que são enviadas à Revista Veja devem trazer assinatura, o
endereço, o número da identidade e o telefone do autor. A seleção das cartas parte de
alguns critérios como clareza, conteúdo, que são adotados pela direção da revista.
Também, não há espaço para a publicação de todas as cartas recebidas. Assim, são lidas,
analisadas e somente publicadas as selecionadas pelo editor da seção Cartas e pela
direção da Veja.
       Além disso, os objetivos das revistas ou jornais devem ser observados. Não se
escreve para uma revista de informação como a Veja da mesma forma que se escreve
para a revista Capricho, como podemos verificar nas seguintes cartas publicadas em
julho de 2008:
                          Galeraa, Capricho, eu gostariaa de pedir novamente que vocês
                          façam uma matéria sobre a luta livre (WWE). Sou fanática e
                          gostaria de saber mais, muito mais desse esporte.
                                                          Obrigadaa, Bzo Laizinha Hardy
                                                                          Laizinha Hardy
                                                                              Campinas-SP


FÁBULAS
       As fábulas pertencem ao grupo de histórias criadas pela tradição oral,
juntamente com os contos de fadas, as lendas e os mitos. Elas são um tipo de narrativa
que se caracterizam pela estrutura simples, são pequenas histórias que têm a intenção de
transmitir “lição de moral”, ou seja, refletir sobre concepções de viver. Esta moral da
fábula não constitui uma conclusão definitiva. Portanto a moral pode variar de acordo
com quem lê a história.
       A origem da fábula é oriental e muitas foram encontradas no Egito antigo e na
Índia, mas ficaram conhecidas no Ocidente graças, principalmente, a fontes gregas, em
especial a de Esopo, escravo grego que teria vivido no século V a.C. Esopo criava
histórias baseadas em animais para mostrar como devemos agir com sabedoria. Suas
fábulas foram reescritas em versos por Fedro, escravo romano, e no século XVII d.C.
por Jean de La Fontaine, um poeta francês. La Fontaine criava suas histórias com um
único objetivo: tornar os animais os principais agentes da educação dos homens. Para
isso, os animais foram colocados em situações que serviam de exemplos para todos, ou
seja, tornaram-se símbolos.
        No Brasil, o grande responsável por reavivar as antigas fábulas foi Monteiro
Lobato, que ao final de suas narrativas oportuniza às crianças opinarem sobre a
possibilidade de alteração da história ou da moral sugerida, e criticarem as atitudes que
consideram errôneas e moralistas ou seja, embora mantenha a idéia de que a fábula
tenha uma moral, Lobato sugere que o leitor deva tirar sua própria conclusão.


ESTRUTURA DA FÁBULA
• Histórias curtas: há um só conflito, isso resulta numa narrativa resumida;
• Diálogo: no que se refere à linguagem, a fábula é objetiva gerando poucas descrições e
muitos diálogos;
• Personagens: os animais são usados como personagens que representam virtudes,
defeitos e características dos seres humanos. São utilizados de forma simbólica para
criticar ou exaltar esses comportamentos;
• Moral: a moral escrita no final da fábula reproduz um provérbio, um dito popular,
cujos temas principais são lealdade, generosidade e as virtudes do trabalho.


A CABRA E O ASNO
        Uma cabra e um asno comiam ao mesmo tempo no estábulo. A cabra começou a
invejar o asno porque acreditava que ele estava melhor alimentado, e lhe disse:
        - Tua vida é um tormento inacabável. Finge um ataque e deixa-te cair num fosso
para que te dêem umas férias.
        Aceitou o asno o conselho, e deixando-se cair, machucou todo o corpo.
        Vendo-o o amo, chamou o veterinário e lhe pediu um remédio para o pobre.
Prescreveu o curandeiro que necessitava uma infusão com o pulmão de uma cabra, pois
era muito eficiente para devolver o vigor. Para isso então degolaram a cabra e assim
curaram o asno.
Moral da História:
Em todo plano de maldade, a vítima principal sempre é seu próprio criador
Esopo


A CERVA NA GRUTA DO LEÃO
Uma cerva que fugia de uns caçadores, chegou a uma gruta onde não sabia que
morava o leão. Entrando nela para se esconder, caiu nas garras do leão. Vendo-se sem
remédio, perdida, exclamou:
        - Infeliz de mim! Fugindo dos homens, caí nas garras de um feroz animal.
Moral da História:
Se tratas de sair de um problema, busca uma saída que não seja cair em outro.
Esopo


A CERVA TORTA
        Uma cerva a qual faltava um olho, passeava à beira-mar, voltando seu olho
intacto em direção à terra para observar a possível chegada de caçadores, e dando ao
mar o lado que faltava o olho, pois dali não esperava nenhum perigo. Mas resultou que
uma gente navegava por este lugar, e ao ver a cerva, abateram-na com seus dardos. E a
cerva agonizando, disse para si:
        - Pobre de mim! Vigiava a terra, que acreditava cheia de perigos, e o mar, que
considerava um refúgio, me foi muito mais funesto.
Moral da História:
Nunca excedas a valoração das coisas. Procura ver sempre suas vantagens.
Esopo


A FORMIGA
        Diz uma lenda que a formiga atual era em outros tempos um homem que,
consagrado aos trabalhos de agricultura, não se contentava com o produto de seu
próprio esforço, senão que olhava com inveja o produto alheio e roubava os frutos de
seus vizinhos.
Indignado Zeus pela avareza deste homem, transformou-o em formiga.
        Porém ainda que tenha mudado de forma, não mudou seu caráter, pois até hoje
percorre os campos e recolhe o trigo e a cevada alheios e os guarda para seu uso.
Moral da História:
Ainda que aos malvados se lhes castigue severamente, dificilmente mudarão sua
natureza.
Esopo


A FORMIGA E A POMBA
Uma formiga foi à margem do rio para beber água, e, sendo arrastada pela forte
correnteza, estava prestes a se afogar.
         Uma pomba que estava numa árvore sobre a água, arrancou uma folha, e a
deixou cair na correnteza perto dela. A formiga, subiu na folha, e flutuou em segurança
até a margem.
         Pouco tempo depois, um caçador de pássaros, veio por baixo da árvore, e se
preparava para colocar varas com visgo perto da pomba que repousava nos galhos
alheia ao perigo.
         A formiga, percebendo sua intenção, deu-lhe uma ferroada no pé. Ele
repentinamente deixou cair sua armadilha, e isso deu chance para que a pomba voasse
para longe a salvo.
Moral da História:
O grato de coração sempre encontrará oportunidades para mostrar sua gratidão.
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Como sugestão de tema para carta de reclamação, vejam essa proposta da UFES
(Universidade Federal do Espírito Santo). Se desejarem, enviem suas cartas para mim
que eu terei prazer em corrigi-las e comentá-las.

O brasileiro tem feito inúmeras reclamações relacionadas à prestação de serviços,
tanto públicos como privados. Redija uma carta ao departamento de vendas de uma
empresa de plano de saúde ou de telefonia, apresentando seu pedido de desligamento
em decorrência de sua insatisfação com os serviços prestados.

Sugestões:

1. Procure detalhar com objetividade e precisão quais foram os eventos que geraram sua
insatisfação com os serviços prestados (convenhamos: não é preciso muita imaginação
para pensar em, pelo menos, meia dúzia de possibilidades); portanto, evite fazer alusões
genéricas sobre a incompetência, por exemplo, da empresa prestadora de serviços;
2. O pedido de desligamento precisa ser acompanhado de um tom firme, mas educado.
Não é xingando o responsável pelo setor de vendas que você irá justificar seu pedido,
certo?
3. A interlocução e a criação das imagens de emissor e receptor também fazem parte da
construção desse tipo de carta. Você pode, por exemplo, chamar a atenção do receptor
(interlocutor) sobre sua frustração em relação à empresa, pois esperava, por seu renome,
que ela oferecesse serviços de melhor qualidade.




CARTA DE RECLAMAÇÃO
À:
Nome da Empresa


No que diz respeito ao pedido nº (informar), realizado em (informar a data), venho
manifestar meu descontentamento, pois a entrega estava prevista para, no máximo, até o
dia (informar).
Ou seja, já se passaram (xxx) dias no prazo limite de entrega e até o momento não
recebi as mercadorias adquiridas ou qualquer explicação consistente sobre o ocorrido.
Dessa forma, caso o pedido não seja entregue até o dia (informar), a compra deve ser
considerada cancelada, ficando, desde já, solicitada a restituição dos valores pagos.




ou utilizar o parágrafo abaixo




Dessa forma, venho solicitar o cancelamento imediato do pedido, pois já desisti da
compra em função do descumprimento do prazo de entrega, de modo que requeiro a
restituição dos valores pagos.


Aguardo resposta.


A PRODUÇÃO DE CARTAS DE RECLAMAÇÃO: SEMELHANÇAS ENTRE
TEXTOS DE ADULTOS E CRIANÇAS
SILVA, Leila Nascimento da∗ – UFPE
GT-10: Alfabetização, Leitura e Escrita
Agência Financiadora: CAPES
       De acordo com os estudos realizados por Schneuwly e Dolz (2004), o gênero
textual “carta de reclamação” estaria dentro da ordem do argumentar, uma vez que o
mesmo apresenta uma predominância de seqüências tipológicas argumentativas. Estes
textos teriam como função primordial convencer o leitor de algo. São exemplos, as
cartas ao leitor, os textos de opinião, as resenhas críticas e as dissertações.
         No texto predominantemente argumentativo, a presença de um diálogo é
marcante, visto que a relação escritor/leitor é muito próxima e dependente. Para lançar
mão de um argumento, se faz necessário refletir sobre o que os possíveis interlocutores
podem pensar a respeito da situação de produção e do texto criado. Essa habilidade de
lidar com diferentes leitores só pode ser adquirida pelas crianças no ato das produções
orais e escritas, em situações semelhantes às que acontecem fora da escola.
         Além desse pensar sobre o destinatário do texto a ser escrito, uma questão
primeira emerge: a relevância do ato de argumentar naquela determinada situação. Para
que haja a necessidade de argumentar é preciso que exista um assunto que dê margens a
um debate, proposições que justifiquem e/ou refutem a declaração, enfim, alguém
apresentando resistências.
         Apesar dessa predominância argumentativa, pode-se lançar mão, em seu corpo,
de outras seqüências tipológicas, o que faria a carta de reclamação ser chamada de texto
heterogêneo (Bronckart, 1999).
         No levantamento bibliográfico, fomos à procura de materiais que trouxessem
informações mais específicas sobre esse gênero. No entanto, detectamos uma escassez
de publicações, apenas uma foi encontrada (Wilson, 2001). Foi possível encontrarmos
um número maior de estudos sobre outros subgêneros da carta, como carta de pedido de
conselho (Cristóvão, Durão, Nascimento e Santos, 2006) e carta à redação (Melo,
1999).
         Então, diante dessa constatação, buscaremos apresentar não só de Wilson, mas
também o estudo de Melo que trás contribuições para um melhor entendimento do
referido gênero textual.
         A pesquisa de Wilson (2001) teve como objetivo maior refletir sobre a
problemática que envolve a categorização dos gêneros do discurso, especialmente, no
que diz respeito ao gênero textual carta. Em particular se deteve na carta de reclamação
e algumas questões se fizeram presentes: Como distinguir tipologicamente uma carta de
reclamação de uma carta pessoal ou de um pedido se não forem estabelecidos
parâmetros flexíveis? Como enquadrar cartas de reclamação em que são empregadas
diferentes estruturas discursivas?
         O corpus de análise foi de cartas de reclamação escritas por proprietários de
imóveis residenciais de classe média e média alta de um importante centro urbano do
país, dirigidas a uma empresa do ramo da construção civil. Nestas cartas era observada,
especificamente, a dimensão afetiva e como esses reclamantes atuam diante de uma
situação de confronto.
         Para uma abordagem mais completa, as cartas de reclamação foram interpretadas
em sua natureza tipológica, atentando, assim, para aspectos importantes de sua
constituição.
Um deles é o nível das estruturas discursivas e dos recursos lingüísticos típicos de cada
nível.
         Foi constatado, entre outras coisas, que ao expor um problema referente a um
dano material, o reclamante lança mão da estrutura narrativa para relatar o problema ou
da estrutura descritiva para informar minuciosamente o tipo de dano material ocorrido.
Wilson salienta, no entanto, que o emprego de tais estruturas concorre para dar a
impressão de que a função referencial ocupa o plano principal, quando, na verdade, o
foco, o conteúdo informacional dessas cartas é uma reclamação.
         A reclamação, por sua vez, como ato e objeto, traduz uma informação que
envolve a expressão de um estado psicológico, em geral de insatisfação. Por isso, não há
como não se referir à função expressiva que nelas aparece, nem deixar de chamar a
atenção para o fato de que estruturas expressivas se superpõem ou se entrecruzam às
estruturas narrativa e descritiva e também às expositivo-argumentativas. Na verdade, a
autora do estudo quer ressaltar que a afetividade também está presente na carta de
reclamação e deve ser objeto de investigação.
         A partir dessa observação, uma outra conclusão foi tirada: a certeza de que para
compreender a reclamação se faz necessário um rastreamento das suas condições de
produção, uma vez que o querer-dizer do locutor se realiza acima de tudo na escolha de
um gênero do discurso que, por sua vez, apresenta uma relação imediata com a
realidade existente, além de ser constituído como uma resposta a enunciados anteriores
dentro de uma dada esfera comunicativa e social. Ou seja, não é possível, ao analisar
cartas de reclamação, se prender apenas ao material lingüístico, exposto como resultado
final. As decisões que tomamos na hora da escrita (Uso uma linguagem mais formal?
Qual palavra é a mais apropriada neste caso? Como denuncio sem ser grosseira?)
dependem da nossa intenção com aquele texto, das nossas condições de produção .
         Tudo isso pôde ser visto nas cartas. Wilson, por exemplo, percebeu que em
muitas delas o escritor utiliza o pedido como força ilocucionária para atenuar o grau de
ofensa latente na reclamação. Desta forma, evitando afirmativa do tipo “venho aqui para
fazer uma reclamação”, o autor da carta acaba empregando mais freqüentemente a
forma verbal “solicitar” ou o seu correlato “pedir”. Isso demonstra que selecionamos as
palavras segundo as especificidades do gênero e, sobretudo, pela nossa intenção.
       Em seu corpus, a estudiosa também observou uma composição mista em função
do significado afetivo construído na interação cliente/empresa. Ou seja, foi possível
encontrar cartas de reclamação que ora foram escritas de forma não-ofensiva, buscando
não romper definitivamente com os laços de camaradagem e reciprocidade (afeto
positivo) e ora foram produzidas em tom de ameaça velada em virtude de atitude
vitimizada para envolver (negativamente) o reclamado, colocando-o na condição de
culpado.
       Wilson chama a atenção para esse jogo distanciamento/alinhamento afetivo. Pois
ele faz emergir um sentimento de ambivalência, produzindo um efeito misto: uma carta
de cunho pessoal em que o locutor age às vezes como pessoa e outras vezes como
consumidor, misturando as relações formais às mais informais. Como resultado disso,
os (as) reclamantes acabam empregando em seus textos modos de organização mais
fixos e padronizados em meio a outras formas socialmente pouco recomendáveis ou
aprovadas em contextos de natureza semi-institucional.
       Embora algumas cartas apresentem organizações não recomendáveis, estas não
deixam de ser cartas de reclamação. Apesar da existência de formas padronizadas e
típicas já disponíveis, a constituição dos gêneros de discurso vão se ajustando às novas e
diferentes realidades. Ratificamos, portanto, o posicionamento de Wilson: não há como
estudar tal gênero sem essa flexibilidade e sem uma análise das condições de produção,
pois são elas que podem nos ajudar a entender o porquê de tal reclamação e porque tal
forma de escrita foi escolhida.
       Outro estudo que traz importantes descobertas, embora não tenha o gênero
“carta de reclamação” como objeto de análise especificamente, é a pesquisa de Melo
(1999) sobre carta à redação. A pesquisadora, assim como Wilson, levanta uma
discussão sobre o discurso pessoal e impessoal nas cartas. Ela analisou 293 cartas
publicadas nos jornais O Estado de São Paulo, Folha de São Paulo, O Globo e Jornal do
Brasil, que traziam comentários sobre as seguintes reportagens: a greve dos petroleiros
(esfera pública), a agressão à imagem de Nossa Senhora Aparecida pelo bispo Sérgio
Von Helde e sobre a possível homossexualidade de Zumbi dos Palmares (ambas da
esfera privada).
A hipótese levantada neste estudo é a de que cada tipo de discurso apresenta
marcas textuais próprias, ou seja, discursos que abordam temas de caráter público têm
características "x", diferenciando-se de discursos que abordam temas de caráter privado
que, por sua vez, têm características textuais "y". Melo, então, buscou verificar se isso
realmente ocorre e como as características se materializam nas cartas.
       Em seus resultados, a estudiosa pôde ver sua hipótese comprovada. Percebeu
que, de fato, quando se trata de assuntos da esfera privada, não se convence o outro
exclusivamente através da argumentação lógica:
       (...) o debate não se centra na objetividade dos argumentos, não importa se a
origem do debate é objetiva ou racional; busca-se, isto sim, a simpatia, a boa vontade do
interlocutor. Assim, com relação aos temas religiosidade e sexualidade, as opções dos
sujeitos não são consideradas mutáveis com base em argumentos: ou é fé ou é
preferência (pp. 39).
       As pessoas que escreveram sobre “homossexualidade de Zumbi” e “chute na
santa” parecem supor não poder mudar a opinião do outro. Diante disso, investem bem
mais em marcar sua própria posição. O resultado dessa posição é o uso freqüente do
emprego de pronomes e verbos em primeira pessoa para marcar a subjetividade no
discurso.
       Já com relação aos temas da esfera pública, constatou-se que os escritores das
cartas buscavam, sim, a adesão do outro à sua causa. Supostamente, com argumentos
objetivos.
       Para conseguir este efeito de persuasão, usaram uma estratégia argumentativa
que imaginavam eficaz, cujo efeito é de "objetividade": imprimiram ao texto um tom
impessoal, esconderam-se atrás de uma suposta voz coletiva, dissimulando o caráter
autoritário/pessoal do seu discurso, utilizando-se para isso de expressões como: "fala-
se", "comenta-se", "todos dizem que", etc. (Melo, pp. 39) Como se pode perceber há
estruturas discursivas diferenciadas quando se trata de assuntos da esfera pública e
privada nas cartas. Acreditamos que esse mesmo movimento discursivo ocorra em
cartas de reclamação propriamente. Possivelmente, as que envolvem temáticas da esfera
pública apresentem características textuais distintas das cartas relacionadas à esfera
privada.
       No caso do nosso estudo, o tema da produção foi da esfera pública (reclamações
sobre a escola na qual se estuda), de modo geral, buscamos investigar se os textos dos
nossos alunos são semelhantes às cartas de reclamação de circulação social efetiva, ou
seja, averiguar se a estrutura e estratégias usuais das cartas de circulação são
encontradas nas cartas das crianças. Mais especificamente, era nossa intenção identificar
os componentes e modelos textuais mais encontrados em Cartas de Reclamação escritas
por adultos fora da escola. Em seguida, verificar se tais componentes também estavam
presentes nas cartas das crianças; e por fim, identificar se os modelos textuais mais
adotados pelos adultos também foram os mais adotados pelas crianças.


METODOLOGIA


       Participaram da pesquisa alunos de seis turmas (duas turmas de 2ª séries, duas de
4ª e duas de 6ª) que estudam na Rede Pública de Ensino. De cada série selecionamos
apenas 20 textos, totalizando, assim, 60 cartas. Excluímos da amostra todos os textos
não atenderam ao comando da atividade solicitada ou foram escritos de forma não
convencional e ilegível. Mesmo com tais critérios tivemos um número maior de textos,
então, optamos ainda por realizar um sorteio.
       As cartas coletadas foram escritas ao final de uma seqüência de atividades que
explorava o gênero “Carta de Reclamação”. A intenção com tais momentos era a de
ativar os conhecimentos prévios das crianças e contribuir para construção de
representações/conhecimentos sobre tal gêneros e também outros tipos de cartas.
       Primeiro aconteceu uma conversa com toda a turma sobre a escola e seus
problemas. Em seguida, os alunos leram e analisaram cartas variadas (carta de amor,
carta de reclamação, carta à redação,). Criado o contexto de produção, os alunos
partiram para conhecer melhor a carta de reclamação. Analisaram coletivamente e com
a ajuda da professora uma carta de reclamação, depois analisaram outras cartas em
pequenos grupos.
       Após todo esse processo, foram convidados a produzirem uma carta de
reclamação para o (a) diretor(a) da escola.
       Para traçar o paralelo com os textos das crianças, selecionamos 20 (vinte) cartas
de reclamação de circulação social. Estes textos foram retirados de várias fontes
(sindicatos, cartas publicadas em sites de denúncia, cartas escritas por pessoas de nosso
circulo social).


RESULTADOS
As cartas de reclamação de circulação extra-escolar


       As observações feitas das cartas de reclamação de circulação social trouxeram
informações bastante relevantes sobre como, possivelmente, se caracterizaria tal gênero.
       Também nos ajudou a perceber como comumente é construída sua cadeia
argumentativa.
       Foi possível identificar sete componentes textuais que configurariam uma carta
de reclamação. São eles: 1) indicação do objeto alvo de reclamação; 2) justificativa para
convencimento de que o objeto pode ser (merece ser) alvo de reclamação 3) indicação
de sugestões de providências a serem tomadas; 4) justificativa para convencimento de
que a sugestão é adequada; 5) Indicação das causas do objeto alvo da reclamação; 6)
Contraargumentação relativa ao objeto alvo de reclamação; 7) Contra-argumentação
relativa às sugestões.
       Nestas cartas de circulação, os componentes 1 (indicação do objeto alvo de
reclamação) e 2 (justificativa da reclamação) foram os que mais apareceram. Estavam
presentes em todos os 20 textos analisados. Desta forma, para reconhecermos que uma
carta é uma carta de reclamação precisamos identificar a indicação do objeto alvo da
denúncia e o movimento de justificação da relevância de tal indicação.
       Em seguida, encontramos um amplo uso do componente 3, a indicação de
sugestões tendo em vista a resolução do problema, que teve 12 aparições (60%). Tal
componente esteve muito presente nos textos analisados, constituindo uma estratégia de
mostrar para a parte que está recebendo a queixa de que era possível resolver o
problema descrito (ex: “Reparar ou substituir o frigorífico no prazo de 10 dias”).
       O movimento de justificar a(s) sugestão(ões) dada(s) na tentativa de convencer o
leitor da sua adequação e pertinência (componente 4) também foi utilizado em várias
cartas - 8 das 20 cartas (40%). Do mesmo modo, encontramos em 8 cartas a tentativa de
apontar e explicar as possíveis causas para o problema em foco ter acontecido -
componente 5 - (ex: provável causa para o desgaste do calçamento - “(ele) suporta
diariamente o peso dos ônibus e carros”).
       Outros movimentos, no entanto, tiveram baixa incidência. Foi o caso da
contraargumentação relativa ao objeto alvo de reclamação (componente 6) e da
contraargumentação relativa às sugestões (componente 7); ambas tiveram apenas 3
aparições (15%).
Essa baixa incidência, no entanto, não pode ser interpretada como indício de que
tais componentes são irrelevantes. Eles são fundamentais em situações em que as partes
envolvidas já estejam em processo de negociação e não haja um consenso sobre quem é
o culpado ou, então, em situações em que a parte que sofre a queixa queira adotar um
procedimento não interessante para o reclamante. Um exemplo de contra-argumentação
relativa ao objeto estava presente numa carta em que se reclamava de avarias sofridas
numa mala (“Os objetos que sofreram estragos são relativamente fáceis de serem
substituídos” – “Porém o fato que desapontou foi a maneira relapsa com que o diretor
foi tratado quando reclamou verbalmente no balcão de informações da companhia”).
       Defendemos, portanto, que, dependendo do contexto, diferentes estratégias de
construção da cadeia argumentativa podem ser encontradas. As análises das cartas de
circulação social também nos mostraram que quanto maior for o uso desses diversos
componentes, maiores são as chances de o texto ter uma cadeia argumentativa
apropriada para as finalidades previstas. Mesmo com tais dados, reconhecemos que uma
carta pode ser consistente sem ter todos esses componentes textuais, pois, conforme o
próprio Bakthin (1997) coloca, os gêneros são relativamente flexíveis.
       Após essa análise dos componentes textuais presentes nas cartas extra-escolares,
montamos categorias que nos permitiram enxergar melhor como estas cartas de
reclamação se caracterizavam. Diferenciamos as cartas pela presença ou não dos
componentes. Tais categorias, portanto, se configuram como modelos textuais.
Chegamos a encontrar 3 modelos adotados pelos escritores dos textos.


Modelo 1 - Indica e argumenta a respeito do objeto da reclamação


Neste modelo percebemos um cuidado em defender a relevância do que está sendo
reclamado, mas sem dar sugestões para a resolução do problema denunciado. Cerca de
30% das cartas foram escritas assim.


Exemplo:
       Eu, XX, sou Cliente desta empresa desde maio/2006. Foi instalado na minha
moto o rastreador da YY. Durante este curto período em que utilizei seus serviços foram
feitas manutenções no equipamento e a última manutenção feita foi no dia 11/11/06 as
14:00 horas, pelo Técnico da empresa, Sr. ZZ. Ocorre, que poucas horas após a
liberação do equipamento e minha moto pelo técnico da YY, fui roubado a mão armada
e minha moto foi levada.
       Imediatamente liguei para vocês e pedi que fosse feito o rastreamento/bloqueio
de minha nenhuma notícia me foi dada sobre o bloqueio e rastreamento da minha moto.
       A Empresa não efetuou o rastreamento nem o bloqueio.
       Até o momento vocês não me deram nenhum retorno sobre o ocorrido, falando
somente que não houve o rastreamento nem o bloqueio. Instalei o equipamento
justamente para me assegurar em caso de roubo, fui roubado e a empresa não cumpriu
sua função.


       Ora, a função da empresa é justamente rastrear e bloquear a minha moto. Fiz o
contrato com vocês por ser reconhecida no mercado, porém quando precisei o serviço
não foi efetuado. Paguei pelo serviço que não foi prestado e fiquei no prejuízo tanto da
moto, como pelo serviço.
       Como vemos, o objeto alvo da reclamação foi o descumprimento pela empresa
de suas funções. O reclamante justifica a relevância de sua reclamação dizendo que
contratou a empresa, mas o serviço não foi feito.
Modelo 2 - Indica e argumenta a respeito do objeto da reclamação, indica sugestões


Ao contrário das cartas do grupo anterior, nestas, além de indicar e argumentar sobre o
objeto a ser reclamado há também uma indicação de providências a serem tomadas, mas
não se argumenta em favor dessa sugestão. 25% das cartas foram escritas dentro deste


modelo.
Exemplo:
       Lamentamos informar que em vôo realizado por essa Companhia, no trecho
Maceió/ São Paulo no dia 21/01/05, detectamos que a mala de viagem pertencente a
nosso Diretor-Presidente, Dr. YY sofreu sérias avarias, o que terminou por danificar
permanentemente alguns de seus mais estimados pertences. Estamos cientes de que os
objetos que sofreram estragos são relativamente fáceis de serem substituídos, porém, o
fato que nos desapontou de maneira significativa foi a maneira relapsa com que nosso
ilustre Diretor foi tratado quando de sua reclamação verbal junto ao balcão de
informações da Companhia.
       E, sendo assim, informamos que entraremos com pedido de reembolso junto ao
Departamento Financeiro de sua empresa para podermos recuperar, pelo menos,
o prejuízo material, porque quesito confiança, a relação entre nossa empresa e a XX
sofreu um considerável abalo.
        Vemos que o escritor reclama de objetos quebrados durante uma viagem e
também da forma como foi tratado o dono da mala ao reclamar. Argumenta que embora
tais objetos sejam relativamente fáceis de serem substituídos, o caso mereça atenção e
sugere reembolso, mas sem argumentar a favor dessa sugestão.


Modelo 3 - Indica e argumenta sobre o objeto de reclamação, indica e argumenta sobre
as sugestões


        Foi o modelo mais adotado. Trata-se de cartas que não só indicam e argumentam
em favor do objeto alvo da denúncia, como também apresentam sugestões e
argumentam a seu favor. Cerca de 45% das cartas de reclamação de circulação social
analisadas podem ser consideradas como pertencente a este grupo.
        Na carta abaixo, o autor reclama da não entrega de um colchão e de um fone de
ouvido.
        Inicialmente gostaria de deixar claro que o atendimento de vocês é precário.
Estou desde dia 08/12/06 para receber um colchão que me foi entregue rasgado. Após
uma semana foi retirado apenas o BOX rasgado e depois de 10 dias fui avisado que não
havia mais o produto para me atender. Para eu receber o crédito vocês enrolaram mais
10 dias para retirar o colchão e me dar o crédito integral.
        Após isso fiz nova compra e estou esperando entregar até hoje. Coloquei o fone
de ouvido na compra para completar o valor e vocês novamente não tem a mercadoria
para me entregar. Até quando vocês vão tratar os clientes dessa forma? Porque o fone de
ouvido continua disponível no site? Que site tabajara é esse?
        Quero uma solução para isso hoje, caso contrário vou entrar no PROCON com
uma reclamação, afinal das contas está tudo pago e vocês que estão causando
problemas. Estou de saco cheio. Não há um similar para o fone de ouvido, sendo assim
conforme código do consumidor, vocês são obrigados a me oferecer um produto de
igual ou superior qualidade.
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A técnica da notícia
Dentre todos os gêneros jornalísticos, a notícia é o que mais usufrui da aura de
imparcialidade que leva o leitor a aceitar, a priori, aquele relato dos fatos como
verdadeiro e isento. É principalmente em torno dela que foi construído o mito da
objetividade, responsável pela enorme acolhida e o potencial de convencimento que o
jornalismo tem.
Para gozar de uma aura de objetividade, para alimentar esse mito, o jornalismo
estabeleceu uma espécie de acordo com o indivíduo e as coletividades, acordo esse que
vem sustentando em grande parte a aceitação do jornalismo nas sociedades
contemporâneas. Sua parte no trato é produzir notícias sem distorções ou mentiras em
relação aos fatos concretos. Nomes, datas e eventos veiculados na notícia podem ser
comprovados até mesmo pela comparação de diferentes jornais, pois todos trazem mais
ou menos as mesmas informações. Para Adriano
       Duarte Rodrigues, há um acordo tácito entre público e veículo:
       Lemos a notícia acreditando que os profissionais não irão transgredir esse
“acordo de cavalheiros” entre jornalistas e leitores pelo respeito dessa fronteira que
torna possível a leitura de notícias enquanto índices do real.5
       Por ser considerada a matéria-prima do jornalismo6 contemporâneo, a notícia é
produzida segundo técnicas específicas que foram adotadas, em seu conjunto, de forma
quase unânime pela grande imprensa. Essas técnicas dizem respeito à apuração e
seleção dos fatos, escolha do vocabulário, ordenação de informações, tratamento das
fontes etc.
       Mas o que é notícia? De forma simplista, pode-se dizer que é o anúncio de um
fato novo, o anúncio da novidade. Nem mesmo para os jornalistas parece fácil a tarefa
de defini-la de modo mais satisfatório. Alguns autores tentaram explicá-la por seu
conteúdo, mas a diversidade dos temas e enfoques em milhões de jornais do mundo
inteiro leva à conclusão de que qualquer fato novo, qualquer fenômeno recém-percebido
pode virar notícia, desde que seja capaz de gerar interesse. Isso inclui não só eventos
naturalmente considerados como importantes por serem capazes de provocar
conseqüências políticas e econômicas, a exemplo de uma decisão governamental, mas
também ocorrências banais, como uma briga de condôminos por causa da presença de
cachorros no edifício.
       Para Nilson Lage, a diferença entre a notícia e outros formatos de texto não está
no seu conteúdo ou na natureza das informações, mas na forma em que ela é redigida.
Notícia, segundo ele7, é o fato redigido a partir do dado mais importante ou capaz de
gerar maior interesse, seguindo- se as demais informações em ordem decrescente de
importância.
        Para Lage, notícia é qualquer informação redigida em forma de notícia, o que
equivale a dizer, do mais para o menos importante.
        Em seu livro mais recente, Lage8 observa que a linguagem jornalística é
transnacional: as técnicas básicas servem para redatores em diversos idiomas e culturas.
Tanto nos jornais russos como nos norte-americanos, franceses e brasileiros, observa-se
a ordenação dos fatos por sua importância, o uso da terceira pessoa9, preferência por
verbos no pretérito perfeito10 e a exclusão de adjetivos11 que não sejam absolutamente
necessários, entre outras “regras”. Também é teoricamente consensual (embora não o
seja na prática) que a notícia (salvo matérias especiais, assinadas, cuja apresentação
gráfica identifique aquela cobertura como excepcional) deve apresentar ao leitor um
relato objetivo e distante dos fatos, isento de avaliações pessoais ou julgamentos tanto
explícitos quanto implícitos. Na notícia, de acordo com a técnica predominante na
grande imprensa, só quem opina é a fonte e o texto precisa deixar bem claro de quem é
a opinião, para que aquele juízo de valor não seja entendido pelo leitor como uma
interferência indevida do repórter ou do veículo.
        Diz ainda a técnica que toda notícia polêmica tem dois lados e ambos precisam
ser ouvidos. Se alguém faz uma denúncia, a notícia tem que registrar também o que diz
o acusado; se uma pessoa reclama é preciso dar voz também a quem seria o alvo da
queixa; se há uma greve, a notícia tem que incluir tanto a posição do sindicato quanto a
da empresa. Caso um dos lados não queira se manifestar ou não tenha sido encontrado,
essa informação tem que ser passada ao leitor a fim de certificar a isenção da matéria.
        A estas somam-se também técnicas específicas de apuração dos fatos, como a
seleção de fontes segundo o grau de confiabilidade12, o cruzamento de informações13 e
os limites técnicos e éticos para o uso de declarações em off 14, ou seja, sem que a
identidade da fonte seja revelada.
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A coletânea de textos a seguir aborda a temática O destino dos resíduos urbanos
atualmente nas cidades. Tendo-a como apoio, redija os gêneros textuais solicitados.
        Lixo urbano
        Jairo Augusto Nogueira Pinheiro
        Desde o surgimento dos primeiros centros urbanos, a produção de lixo se
apresenta como um problema de difícil solução. A partir da Revolução Industrial, com a
intensificação da migração dos trabalhadores do campo para a cidade, aumentaram as
dificuldades referentes à produção de resíduos sólidos de diferentes naturezas
(domésticos, industriais, serviços de saúde, etc.).
       (...)
       Os excedentes vão se acumulando cada vez em maior escala, colocando a
questão do lixo urbano como uma das mais sérias a ser enfrentada atualmente. Com a
elevação da população e, principalmente, com o estímulo dado ao consumismo, o
problema tende a se agravar.
       (...)
       A grande preocupação em torno do destino do lixo se dá principalmente em face
da sua característica de inesgotabilidade, comprometimento de grandes áreas e pela sua
complexidade estrutural, devido à grande variedade de materiais, desde substâncias
inertes a substâncias altamente tóxicas. A heterogeneidade é uma das características
principais dos resíduos sólidos urbanos, que apresentam uma composição qualitativa e
quantitativa muito variada. Essas variações ocorrem geralmente em função do nível de
vida e educação da população, do clima, dos modos de consumo, das mudanças
tecnológicas, etc.
       (...)
       A partir da Revolução Industrial, as fábricas começaram a produzir objetos de
consumo em larga escala e a introduzir novas embalagens no mercado, aumentando
consideravelmente o volume e a diversidade de resíduos gerados nas áreas urbanas. O
homem passou a viver então a era dos descartáveis, em que a maior parte dos produtos –
desde guardanapos de papel e latas de refrigerante, até computadores – são utilizados e
jogados fora com enorme rapidez. Ao mesmo tempo, o crescimento acelerado das
metrópoles fez com que as áreas disponíveis para colocar o lixo se tornassem escassas.
A sujeira acumulada no ambiente aumentou a poluição do solo e das águas e piorou as
condições de saúde das populações em todo o mundo, especialmente nas regiões menos
desenvolvidas.
       Até hoje, no Brasil, a maior parte dos resíduos recolhidos nos centros urbanos é
simplesmente jogada sem qualquer cuidado em depósitos existentes nas periferias das
cidades. O lixo urbano é, portanto, um dos maiores problemas da atualidade, pois os
moldes de consumo adotados pela maioria das sociedades modernas estão provocando
um aumento contínuo e exagerado na quantidade de lixo produzido.
(Texto           adaptado     de      http://www.webartigos.com/articles/10684/1/Lixo-
Urbano/pagina1.html)


Destinação correta dos resíduos sólidos urbanos requer inicialmente investimentos
da ordem de R$ 1,3 bilhão
Mônica Pinto
         O Panorama dos Resíduos Sólidos no Brasil é um estudo realizado pela
Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais – Abrelpe
– desde 2003. Em sua segunda edição, com dados referentes ao ano de 2004, ele mostra
que a questão do lixo no país demanda não só vontade política para fazer andarem os
projetos, para levar ao povo procedimentos de asseio basilares.
         Mais que isso, todo esse processo requer investimentos vultuosos, da ordem de
R$ 1,3 bilhão na fase pré-operacional e R$ 80 milhões/mês na fase operacional.
         (...)
         O Brasil tem hoje 237 cidades, em todas as regiões, com coleta seletiva de lixo.
Parece pouco diante do universo de 5.560 sob a bandeira verde-amarela, mas a curva é
ascendente e os números otimistas. Ainda mais se observados os estímulos à
reciclagem, que invariavelmente caminham junto com a coleta seletiva. Os dados mais
significativos quanto à reciclagem podem ser sintetizados a seguir:
• a taxa de recuperação de papéis recicláveis evoluiu de 30,7%, em 1980, para 43,9%,
em 2002;
• a reciclagem de plásticos pós-consumo é da ordem de 17,5, sendo que, na Grande São
Paulo, o índice é de 15,8% e, no Rio Grande do Sul, é da ordem de 27,6%;
• a reciclagem de embalagens PET cresceu de 16,25%, em 1994, para 35%, em 2002;
• a reciclagem das embalagens de vidro cresceu de 42% para 45% entre 2001 e 2003;
• o índice de reciclagem de latas de aço para bebidas evolui de 43%, em 2001, para
75%, em 2003.


Você sabe a diferença entre lixão, aterro controlado e aterro sanitário?


         Um lixão é uma área de disposição final de resíduos sólidos sem nenhuma
preparação anterior do solo. Não tem sistema de tratamento de fluentes líquidos – o
chorume (líquido preto que escorre do lixo). Este penetra pela terra levando substâncias
contaminantes para o solo e para o lençol freático. (...) No lixão, o lixo fica exposto sem
nenhum procedimento que evite as consequências ambientais e sociais negativas.
          Já o aterro controlado (...) é uma célula adjacente ao lixão (...) que recebeu
cobertura de argila, grama (idealmente selado com manta impermeável para proteger a
pilha de água de chuva), captação de chorume e gás. (...) Tem também recirculação do
chorume que é coletado e levado para cima da pilha do lixo, diminuindo a sua absorção
pela terra ou eventualmente outro tipo de tratamento. (...)
          Aterro sanitário (...) tem o terreno preparado previamente com o nivelamento
de terra e com o selamento da base com argila e mantas de PVC extremamente
resistente. Com essa impermeabilização do solo, o lençol freático não será contaminado
pelo chorume.
          (...) A operação do aterro sanitário, assim como a do aterro controlado, prevê a
cobertura diária do lixo, não ocorrendo a proliferação de vetores, mau cheiro e poluição
visual.
(Texto              adaptado             de            http://www.lixo.com.br/index.php?
option=com_content&task=view&id=144&Itemid=251)


GÊNERO TEXTUAL 1
Redija uma notícia, com até 15 linhas, aos leitores do Jornal da Cidade, apresentando
informações sobre o destino dos resíduos urbanos nas cidades brasileiras.




GÊNERO TEXTUAL 2
Redija, em 15 linhas, uma resposta interpretativa, que indique quais são as formas de
tratamento dos resíduos urbanos no Brasil, definindo aquela(s) que melhor atenda(m) as
cidades atualmente




Os textos desta prova abordam assuntos que dizem respeito à nossa vida, tais como
leitura, literatura, cidadania, livros, imaginação, criatividade, memórias de infância,
lugares imaginários, entre outros. Os temas de redação apresentados a seguir, como é
tradição no Concurso Vestibular da PUCRS, têm relação com alguns desses assuntos.
Leia as propostas e as orientações com atenção, escolha uma delas e elabore seu texto.


GÊNERO TEXTUAL 3


Mesmo que não sejamos adeptos da geoficção, somos capazes de criar lugares
imaginários. Podemos, por exemplo, imaginar como seria a cidade, a região ou o país
ideal para viver, a partir daquilo que mais valorizamos.
Produza um texto narrativo, em até 30 linhas, que apresente o lugar que, para você, seria
ideal para viver, defendendo os princípios que você valoriza e que orientariam a criação
desse lugar.
Não esqueça: seu texto poderá utilizar a primeira pessoa e apresentar trechos
descritivos, mas o que deve predominar são seus argumentos em defesa das qualidades
que importam para você.


TEMA 2
Crianças pequenas costumam ter imaginação muito fértil. Com o passar dos anos,
geralmente vai-se reduzindo essa abertura para a fantasia, essa criatividade tão
acentuada nos primeiros anos de vida, e que nos permite criar mundos imaginários,
seres superpoderosos, amigos invisíveis.
Entretanto, a criatividade é um importante atributo em todos os campos humanos, do
pessoal ao profissional.
Profissionais criativos, atualizados, abertos a inovações são pessoas que provavelmente
não deixaram morrer a fantasia, direcionando seu foco e adequando-a a diferentes
situações.
Se você escolher este tema, deverá escrever sobre a importância da criatividade na vida
profissional, apresentando exemplos ou situações em que ela seja um fator decisivo para
o sucesso.


TEMA 3
A escola tem sido bastante criticada por não estimular a formação de um aluno
reflexivo, questionador, que perceba a importância de desenvolver referenciais que lhe
possibilitem constituir-se como cidadão atuante na sociedade e no meio profissional.
A partir de sua experiência de vida e do que você tem observado e aprendido, reflita:
Que características deve ter a escola e tudo que nela se inclui – professores, alunos, pais,
direção, recursos – para ser realmente efetiva?
Para desenvolver seu texto, você pode focalizar um ou dois desses componentes do
universo escolar, discorrendo sobre o seu papel e a contribuição que ele(s) pode(m)
trazer para a melhoria dessa instituição.
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Resumo

      Ler não é apenas passar os olhos no texto. É preciso saber tirar dele o que é mais
importante, facilitando o trabalho da memória. Saber resumir as idéias expressas em um
texto não é difícil. Resumir um texto é reproduzir com poucas palavras aquilo que o
autor disse.

      Para se realizar um bom resumo, são necessárias algumas recomendações:

 1.      Ler todo o texto para descobrir do que se trata.
 2.      Reler uma ou mais vezes, sublinhando frases ou palavras importantes. Isto ajuda
      a identificar.
 3.      Distinguir os exemplos ou detalhes das idéias principais.
 4.      Observar as palavras que fazem a ligação entre as diferentes idéias do texto,
      também chamadas de conectivos: "por causa de", "assim sendo", "além do mais",
      "pois", "em decorrência de", "por outro lado", "da mesma forma".
 5.      Fazer o resumo de cada parágrafo, porque cada um encerra uma idéia diferente.
 6.      Ler os parágrafos resumidos e observar se há uma estrutura coerente, isto é, se
      todas as partes estão bem encadeadas e se formam um todo.
 7.      Num resumo, não se devem comentar as idéias do autor. Deve-se registrar
      apenas o que ele escreveu, sem usar expressões como "segundo o autor", "o autor
      afirmou que".
8.       O tamanho do resumo pode variar conforme o tipo de assunto abordado. É
      recomendável que nunca ultrapasse vinte por cento da extensão do texto original.
 9.       Nos resumos de livros, não devem aparecer diálogos, descrições detalhadas,
      cenas ou personagens secundárias. Somente as personagens, os ambientes e as
      ações mais importantes devem ser registrados.




RESUMO

          Tenho notado nos alunos universitários uma dificuldade incrível em sintetizar
ideias, isto é, em fazer resumos. O fato é que esse tipo de atividade raramente é
explicada na escola, quando muito solicitada, por isso os alunos chegam à faculdade
sem a menor noção sobre como extrair as idéias principais de um texto.

          Antes de mais nada, vale dizer que um resumo nada mais é do que um texto
reduzido a seus tópicos principais, sem a presença de comentários ou julgamentos. Um
resumo não é uma crítica, assim como a resenha o é; o objetivo do resumo é informar
sobre o que é mais importante em determinado texto.

          Para Platão e Fiorin (1995), resumir um texto significa condensá-lo a sua
estrutura essencial sem perder de vista três elementos:


           1. as partes essenciais do texto;

           2. a progressão em que elas aparecem no texto;
           3. a correlação entre cada uma das partes.

          Se o texto que estamos resumindo for do tipo narrativo, devemos prestar atenção
aos elementos de causa e sequências de tempo; se for descritivo, nos aspectos visuais e
espaciais; caso o texto for dissertativo, é bom cuidar da organização e construção das
idéias.


Existem, segundo van Dijk & Kintsch (apud FONTANA, 1995, p.89), basicamente 3
técnicas que podem ser úteis ao escrevermos uma síntese. São elas o apagamento, a
generalização e a construção.
Apagamento

       Como no nome já diz, o apagamento consiste em apagar, em cortar as partes que
são desnecessárias. Geralmente essas partes são os adjetivos e os advérbios, ou frases
equivalentes a eles. Vamos ver um exemplo.


       O velho jardineiro trabalhava muito bem. Ele arrumava muitos jardins
diariamente.


Sendo essa a frase a ser resumida através do apagamento, poderia ficar assim:


       O jardineiro trabalhava bem.


       Cortamos os adjetivo “velho” e o advérbio “muito” na primeira frase e
eliminamos a segunda. Ora, se o jardineiro trabalhava bem, é porque arrumava jardins; a
segunda informação é redundante.


Generalização

       A generalização é uma estratégia que consiste em reduzir os elementos da frase
através do critério semântico, ou seja, do significado. Exemplo:


Pedro comeu picanha, costela, alcatra e coração no almoço.


As palavras em destaque são carnes. Então, o resumo da frase fica:


Pedro comeu carne no almoço.


Construção

       A técnica da construção consiste em substituir uma sequência de fatos ou
proposições por uma única, que possa ser presumida a partir delas, também baseando-se
no significado. Exemplo:


       Maria comprou farinha, ovos e leite. Foi para casa, ligou a batedeira, misturou os
ingredientes e colocou-os no forno.
Todas essas ações praticadas por Maria nos remetem a uma síntese:


Maria fez um bolo.


       Além dessas três, ainda existe uma quarta dica que pode ajudar muito a resumir
um texto. É a técnica de sublinhar.


       Enquanto você estiver lendo o texto, sublinhe as palavras ou frases que fazem
mais sentido, que expressam ideias que tenham mais importância. Depois, junte seus
sublinhados, formando um texto a partir deles e aplique as três primeiras técnicas.


Fontes:
Prática Textual: atividades de leitura e escrita / Vanilda Salton Köche, Odete Benetti
Boff, Cinara Ferreira Pavani. — Petrópolis, RJ: Vozes, 2006.


Definindo conceitos – o que é um conto?

Conto é uma narrativa curta e que se diferencia dos romances não apenas pelo tamanho,
mas também pela sua estrutura: há poucas personagens, nunca analisadas
profundamente; há acontecimentos breves, sem grandes complicações de enredo; e há
apenas um clímax, no qual a tensão da história atinge seu auge.


No conto, tempo e espaço são elementos secundários, podendo até não existir. Além
disso, os próprios acontecimentos podem ser dispensáveis. Há, por exemplo, contos de
Machado de Assis ou Tchekov nos quais, simplesmente, não tem nada que acontece. O
essencial está no ar, na atmosfera, na forma de narrar, no estilo.


  •    Leia uma definição BEM mais extensa e detalhada de conto, na Wikipedia.

Grandes escritores de contos do século XIX

O século XIX foi o que teve o maior número de mestres na arte de escrever contos. Foi
nesse período que surgiram os contos clássicos mais lidos até hoje, como O Gato Preto,
de Allan Poe; O Alienista, de Machado de Assis; Bola de Sebo, de Guy de Maupassant;
entre outros.
Fases

Há várias fases do conto. Tais fases nada têm a ver com aquelas estudadas por Vladimir
Propp no livro "A morfologia do conto maravilhoso", no qual, para descrever o conto,
Propp o "desmonta" e o "classifica" em unidades estruturais – constantes, variantes,
sistemas, fontes, funções, assuntos, etc. Além disso, ele fala de uma "primeira fase"
(religiosa) e uma "segunda fase" (da história do conto). Aqui, quando falamos em fases,
temos a intenção de apenas darmos um "passeio" pela linha evolutiva do gênero.

[editar] Fase oral

Logicamente a primeira fase é a "oral", a qual não é impossivel precisar o seu início: o
conto se origina num tempo em que nem sequer existia a escrita; as histórias eram
narradas oralmente ao redor das fogueiras das habitações dos povos primitivos –
geralmente à noite. Por isso o suspense, o fantástico, que o caracterizou

[editar] Fase escrita

A primeira fase escrita é provavelmente aquela em que os egípcios registraram O livro
do mágico (cerca de 4000 a.C.). Daí vamos passando pela Bíblia – veja-se como a
história de Caim e Abel (2000 a.C.) tem a precisa estrutura de um conto. O antigo e
novo testamento trazem muitas outras histórias com a estrutura do conto, como os
episódios de José e seus irmãos, de Sansão, de Ruth, de Suzana, de Judith, Salomé; as
parábolas: o Bom Samaritano, o Filho Pródigo, a Figueira Estéril, a do Semeador, entre
outras.




Geoffrey Chaucer.
No século VI a.C. temos a Ilíada e a Odisséia, de Homero e na literatura Hindu há o
Pantchatantra (século II a.C?). De um modo geral, Luciano de Samosata (125-192) é
considerado o primeiro grande nome da história do conto. Ele escreveu "O cínico", "O
asno" etc. Da mesma época é Lucio Apuleyo (125-180), que escreveu "O asno de ouro".
Outro nome importante é o de Caio Petrônio (século I), autor de Satiricon, livro que
continua sendo reeditado até hoje. As "Mil e uma Noites" aparecem na Pérsia no século
X da era cristã.
A segunda fase escrita começa por volta do século XIV, quando registram-se as
primeiras preocupações estéticas. Giovanni Boccaccio (1313-1375) aparece com seu
Decameron, que se tornou um clássico e lançou as bases do conto tal como o
conhecemos hoje, além de ter influenciado, Charles Perrault, La Fontaine, entre outros.
Miguel de Cervantes (1547-1616) escreve as "Novelas Exemplares". Francisco Gómez
de Quevedo y Villegas (1580-1645) traz "Os sonhos", satirizando a sociedade da época.
Os "Contos da Cantuária", de Chaucer (1340?-1400) são publicados por volta de 1700.
Perrault (1628-1703) publica "O barba azul", "O gato de botas", "Cinderela", "O
soldadinho de chumbo" etc. Jean de La Fontaine (1621-1695) é o contador de fábulas
por excelência: "A cigarra e a formiga", "A tartaruga e a lebre", "Aquelas Bolas
Cabeludas", "A raposa e as uvas" etc.
No século XVIII o mestre foi Voltairetaynata (1694-1778). Ele escreveu obras
importantes como Zadig e Cândido.
Chegando ao século XIX o conto "decola" através da imprensa escrita, toma força e se
moderniza. Washington Irving (1783-1859) é o primeiro contista norte-americano de
importância. Os irmãos Grimm (Jacob, 1785-1863 e Wilhelm, 1786-1859) publicam
"Branca de Neve", "Rapunzel", "O Gato de Botas", "A Bela Adormecida", "O Pequeno
Polegar", "Chapeuzinho Vermelho" etc. Os Grimm recontam contos que já haviam sido
contados por Perrault, por exemplo. Eles foram tão importantes para o gênero que
André Jolles diz que "o conto só adotou verdadeiramente o sentido de forma literária
determinada, no momento em que os irmãos Grimm deram a uma coletânea de
narrativas o título de Contos para crianças e famílias", ("O conto" em formas simples).
O século XIX foi pródigo em mestres: Nathaniel Hawthorne (1804-1864), Poe,
Maupassant (1850-1893), Flaubert (1821-1880), Leo Tolstoy (1828-1910), Mary
Shelley (1797–1851), Tchekhov, Machado de Assis (1839-1908), Conan Doyle (1859-
1930), Balzac, Stendhal, Eça de Queirós, Aluízio Azevedo.
Não podemos esquecer de nomes como: Hoffman (um dos pais do conto fantástico, que
viria influenciar Poe, Machado de Assis, Álvares de Azevedo e outros), Sade, Adalbert
von Chamisso, Nerval, Gogol, Dickens, Turguenev, Stevenson, Kipling, entre outros.

[editar] Críticas

Mesmo com tanta história para "contar", o conto continua sendo alvo de preconceitos,
chegando ao ponto de algumas editoras terem como política não publicar o gênero. É
uma questão de mercado? O conto não vende? E, se não vende, quais os motivos? Sua
excessiva banalização através de revistas e jornais? Ou a falsa idéia de que seria uma
literatura fácil, secundária, menor? Veja o que pensa Mempo Giardinelli: "Sustento
sempre que o conto é o gênero literário mais moderno e que maior vitalidade possui,
pela simples razão que as pessoas jamais deixarão de contar o que se passa, nem de
interessar-se pelo que lhes contam bem contado". "Comecei escrevendo contos, mas me
vi forçado a mudar de rumo por pedidos de editores que queriam romances. Mas, cada
vez que me vejo livre dessas pressões editoriais, volto ao conto… porque, em literatura,
                                                              [carece de fontes?]
o que me deixa realmente satisfeito é escrever um conto"                            (René Avilés
Fabila em Assim se escreve um conto). Maupassant dizia que escrever contos era mais
difícil do que escrever romances. Ele escreveu cerca de 300 contos e, segundo se diz,
ficou rico com eles. Machado de Assis também não achava fácil escrever contos: "É
gênero difícil, a despeito de sua aparente facilidade", (citado por Nádia Battella Gotlib
em Teoria do Conto). Faulkner (1897-1962) pensava da mesma maneira: "…quando
seriamente explorada, a história curta é a mais difícil e a mais disciplinada forma de
escrever prosa… Num romance, pode o escritor ser mais descuidado e deixar escórias e
superfluidades, que seriam descartáveis. Mas num conto… quase todas as palavras
devem estar em seus lugares exatos", (citado por R. Magalhães Júnior em A arte do
conto).
Numa entrevista ao jornal Folha de S. Paulo (de 4 de fevereiro de 1996, página 5-11),
Moacyr Scliar (1937), mais conhecido como romancista do que como contista, revela
sua preferência pelo conto: "Eu valorizo mais o conto como forma literária. Em termos
de criação, o conto exige muito mais do que o romance… Eu me lembro de vários
romances em que pulei pedaços, trechos muito chatos. Já o conto não tem meio termo,
ou é bom ou é ruim. É um desafio fantástico. As limitações do conto estão associadas ao
fato de ser um gênero curto, que as pessoas ligam a uma idéia de facilidade; é por isso
que todo escritor começa contista". "Penso que, não por casualidade, a nossa época
(anos 80) é a época do conto, do romance breve", diz Italo Calvino (1923-1985) em Por
que ler os clássicos. Num artigo sobre Borges (1899-1986), Calvino disse que lendo
Borges veio-lhe muitas vezes a tentação de formular uma poética do escrever breve,
louvando suas vantagens em relação ao escrever longo. "A última grande invenção de
um gênero literário a que assistimos foi levada a efeito por um mestre da escrita breve,
Jorge Luis Borges, que se inventou a si mesmo como narrador, um ovo de Colombo que
lhe permitiu superar o bloqueio que lhe impedia, por volta dos 40 anos, passar da prosa
ensaística à prosa narrativa." (Italo Calvino, Seis propostas para o próximo milênio).
"No decurso de uma vida devotada principalmente aos livros, tenho lido poucos
romances e, na maioria dos casos, apenas o senso do dever me deu forças para abrir
caminho até a última página. Ao mesmo tempo, sempre fui um leitor e releitor de
contos… A impressão de que grandes romances como Dom Quixote e Huckleberry
Finn são virtualmente amorfos, serviu para reforçar meu gosto pela forma do conto,
cujos elementos indispensáveis são economia e um começo, meio e fim claramente
determinados. Como escritor, todavia, pensei durante anos que o conto estava acima de
meus poderes e foi só depois de uma longa e indireta série de tímidas experiências
narrativas que tomei assento para escrever estórias propriamente ditas." (Jorge Luis
Borges, Elogio da sombra/Perfis - Um ensaio autobiográfico).

[editar] Influência

Está evidente a identificação do conto com a "falta" de tempo dos habitantes dos
grandes centros urbanos, com a industrialização. Afinal, foi graças à imprensa escrita,
que o gênero se popularizou no Brasil, no século XIX: os grandes jornais sempre davam
espaço ao conto. Antônio Hohlfeldt em "Conto brasileiro contemporâneo" diz que
"pode-se verificar que, na evolução do conto, há uma relação entre a revolução
tecnológica e a técnica do conto".
Na introdução de Maravilhas do conto universal, Edgard Cavalheiro diz: "A autonomia
do conto, seu êxito social, o experimentalismo exercido sobre ele, deram ao gênero
grande realce na literatura, destaque esse favorecido pela facilidade de circulação em
diferentes órgãos da imprensa periódica. Creio que o sucesso do conto nos últimos
tempos (anos 60 e 70) deve ser atribuído, em parte, à expansão da imprensa".
Além de criar o mercado de consumo e a necessidade de alfabetização em massa, a
industrialização também criou a necessidade de informações sintéticas. No século
passado essas informações vinham do jornalismo e do livro; neste século vêm do
cinema, rádio e televisão. Assim, no seu início, o conto pegou uma carona na imprensa
escrita; agora não tem mais esse espaço. Será que o conto se adaptará às novas
tecnologias? TV, Internet etc? De qualquer forma, no Brasil, o conto surgiu mesmo foi
através da imprensa em meados do século XIX. Por isso, naquela época, quase todos os
contistas eram jornalistas. E não foi só no Brasil que isso ocorreu.
Essa tecnologia é, também, em parte, "culpada" pelo preconceito em relação ao gênero.
"A linha normativa gera uma série de manuais que prescrevem como escrever contos. E
a revista popular propicia uma comercialização gradativa do gênero. Tais fatos são tidos
como responsáveis pela degradação técnica e pela formação de estereótipos de contos
que, na era industrializada do capitalismo americano, passa a ser arte padronizada,
impessoal, uniformizada, de produção veloz e barata. Tais preocupações provocam, por
sua vez, um movimento de diferenciação entre o conto comercial e o conto literário. Daí
talvez tenha surgido o preconceito contra o conto…" (Nádia Battella Gotlib, op. cit.).
Esse fenômeno também foi notado no Brasil no início dos anos 70. As influências
exercidas pela imprensa escrita, revistas, TVs, levaram o conto a um ponto de
praticamente perder sua "identidade": sendo "quase tudo", passou a ser quase "nada".
Na década de 20 temos os modernistas e o conto agora é essencialmente
urbano/suburbano. Eles propuseram a renovação das formas, a ruptura com a linguagem
tradicional, a renovação dos meios de expressão etc. Procura-se evitar rebuscamentos na
linguagem, a narrativa é mais objetiva, a frase torna-se mais curta e a comunicação mais
breve.
Nesta mesma linha, Poe, que também foi o primeiro teórico do gênero, diz: "Temos
necessidade de uma literatura curta, concentrada, penetrante, concisa, ao invés de
extensa, verbosa, pormenorizada… É um sinal dos tempos… A indicação de uma época
na qual o homem é forçado a escolher o curto, o condensado, o resumido, em lugar do
volumoso" (citado por Edgard Cavalheiro na introdução de Maravilhas do conto
universal).

[editar] Extensão
Segundo outras definições, o conto não deve ocupar mais de 7.500 palavras. Atualmente
entende-se que pode variar entre um mínimo de 1.000 e um máximo de 20.000 palavras.
Mas toda e qualquer limitação de um mínimo ou máximo de palavras é descartada e
ignorada por escritores e leitores.
O romance "Vidas secas" (de Graciliano Ramos), "A festa" (de Ivan Ângelo) e alguns
romances de Bernardo Guimarães (1825-1884) e Autran Dourado, podem ser lidos
como uma série de contos. Também "Memórias Póstumas de Brás Cubas" e "Quincas
Borba" (de Machado de Assis), "O Processo" (de Franz Kafka), são constituídos por
pequenos contos. São os chamados "romances desmontáveis". Assis Brasil vai mais
longe ao afirmar que "Grande Sertão: veredas" (de Guimarães Rosa), é um conto
alongado, pois o escritor tê-lo-ia como narrativa curta. O "Grande Sertão", como
sabemos, tem mais de 500 páginas. Todas essas colocações demonstram como é difícil
definir o conto; mesmo assim, quem o conhece, não o confunde com outro gênero.
Neste século podemos incluir entre os grandes: O. Henry, Anatole France, Virginia
Woolf, Katherine Mansfield, Kafka, James Joyce, William Faulkner, Ernest
Hemingway, Máximo Gorki, Mário de Andrade, Monteiro Lobato, Aníbal Machado,
Alcântara Machado, Guimarães Rosa,Isaac Bashevis Singer,Nelson Rodrigues, Dalton
Trevisan, Rubem Fonseca, Osman Lins, Clarice Lispector, Jorge Luís Borges, Lima
Barreto.
Outros nomes importantes do conto no Brasil: Julieta Godoy Ladeira, Otto Lara
Resende, Manoel Lobato, Sérgio Sant’Anna, Moreira Campos, Ricardo Ramos,
Edilberto Coutinho, Breno Accioly, Murilo Rubião, Moacyr Scliar, Péricles Prade,
Guido Wilmar Sassi, Samuel Rawet, Domingos Pellegrini Jr, José J. Veiga, Luiz Vilela,
Sergio Faraco, Victor Giudice, Lygia Fagundes Telles, entre outros. Em Portugal
destaca-se, entre outros, Eça de Queirós.
Para um escritor que faz da sua escrita, arte, a trama/o enredo não têm muita
importância; o que mais importa é como (forma) contar e não o que (conteúdo) contar.
Borges dizia que contamos sempre a mesma fábula. Julio Cortázar (1914-1984) diz que
não há temas bons nem temas ruins; há somente um tratamento bom ou ruim para
determinado tema. ("Alguns aspectos do conto", in Valise de cronópio). Claro que há
que ter cuidado com o excesso de formalismos para não virar personagem daquela
piada: um escritor passou a vida toda trabalhando as formas para criar um estilo perfeito
para impressionar o mundo; quando conseguiu alcançá-lo, descobriu que não tinha nada
para dizer com ele.
[editar] Conteúdo e forma

Forma: expressão ou linguagem mais os elementos concretos e estruturados, como as
palavras e as frases. Conteúdo: é imaterial (fixado e carregado pela forma); são as
personagens, suas ações, a história (ver Céu, inferno, Alfredo Bosi).
Há contos de Machado de Assis, de Katherine Mansfield, de José J. Veiga, de Tchecov,
de Clarice Lispector, por exemplo, que não são "contáveis", não há "nada" acontecendo.
O essencial está no "ar", na atmosfera, na forma de narrar, no "estilo". No livro "Que é a
literatura?" de Jean-Paul Sartre diz que "ninguém é escritor por haver decidido dizer
certas coisas, mas por haver decidido dizê-las de determinado modo. E o "estilo",
decerto, é o que determina o valor da prosa".

[editar] Necessidades básicas

O conto necessita de tensão, ritmo, o imprevisto dentro dos parâmetros previstos,
unidade, compactação, concisão, conflito, início, meio e fim; o passado e o futuro têm
significado menor. O "flashback" pode acontecer, mas só se absolutamente necessário,
mesmo assim da forma mais curta possível.

[editar] Final enigmático

O final enigmático prevaleceu até Maupassant (fim do século XIX) e era muito
importante, pois trazia o desenlace surpreendente (o fechamento com "chave de ouro",
como se dizia). Hoje em dia tem pouca importância; alguns críticos e escritores acham-
no perfeitamente dispensável, sinônimo de anacronismo. Mesmo assim não há como
negar que o final no conto é sempre mais carregado de tensão do que no romance ou na
novela e que um bom final é fundamental no gênero. "Eu diria que o que opera no conto
desde o começo é a noção de fim. Tudo chama, tudo convoca a um final" (Antonio
Skármeta, Assim se escreve um conto).
Neste gênero, como afirmou Tchecov, é melhor não dizer o suficiente do que dizer
demais. Para não dizer demais é melhor, então, "sugerir" como se tivesse de haver um
certo "silêncio" entremeando o texto, sustentando a intriga, mantendo a tensão. Não é o
que acontece no conto "A missa do galo", de Machado de Assis? Especialmente nos
diálogos; não exatamente pelo que estes dizem, mas pelo que deixam de dizer. Ricardo
Piglia, comentando alguns contos de Hemingway (1898-1961), diz que o mais
importante nunca se conta: "O conto se constrói para fazer aparecer artificialmente algo
que estava oculto. Reproduz a busca sempre renovada de uma experiência única que nos
permite ver, sob a superfície opaca da vida, uma verdade secreta" (O laboratório do
escritor). Piglia diz que conta uma história como se tivesse contando outra. Como se o
escritor estivesse narrando uma história "visível", disfarçando, escondendo uma história
secreta. "Narrar é como jogar pôquer: todo segredo consiste em fingir que se mente
quando se está dizendo a verdade." (Prisão perpétua). É como se o contista pegasse na
mão do leitor é desse a entender que o levaria para um lugar, mas Rebeca , no fim, leva-
o para outro. Talvez por isso, D.H. Lawrence tenha dito que o leitor deve confiar no
conto, não no contista. O contista é o terrorista que se finge de diplomata, como diz
Alfredo Bosi sobre Machado de Assis (op. cit.).
Segundo Cristina Perí-Rossi, o escritor contemporâneo de contos não narra somente
pelo prazer de encadear fatos de uma maneira mais ou menos casual, senão para revelar
o que há por trás deles (citada por Mempo Giardinelli, op. cit). Desse ponto de vista a
surpresa se produz quando, no fim, a história secreta vem à superfície.
No conto a trama é linear, objetiva, pois o conto, ao começar, já está quase no fim e é
preciso que o leitor "veja" claramente os acontecimentos. Se no romance o
espaço/tempo é móvel, no conto a linearidade é a sua forma narrativa por excelência.
"A intriga completa consiste na passagem de um equilíbrio a outro. A narrativa ideal, a
meu ver, começa por uma situação estável que será perturbada por alguma força,
resultando num desequilíbrio. Aí entra em ação outra força, inversa, restabelecendo o
equilíbrio; sendo este equilíbrio parecido com o primeiro, mas nunca idêntico." (Gom
Jabbar em Hardcore, baseado em Tzvetan Todorov).
Em outras palavras: no geral o conto "se apresenta" com "uma ordem". O conflito traz
uma "desordem" e a solução desse conflito (favorável ou não) faz retornar à "ordem" –
agora com ganhos e perdas, portanto essa ordem difere da primeira. "O conto é um
problema e uma solução", diz Enrique Aderson Imbert.

[editar] Diálogos

Os diálogos são de suma importância; sem eles não há discórdia, conflito, fundamentais
ao gênero. A melhor forma de se informar é através dos diálogos; mesmo no conto em
que o ingrediente narrativo seja importante. "A função do diálogo é expor." (Henry
James, 1843-1916).
Em alguns escritores o diálogo é uma ferramenta absolutamente indispensável. Caio
Porfírio Carneiro, por exemplo, chega ao ponto de escrever contos compostos apenas
por diálogos, sem que, em nenhum instante, apareça um narrador. Em 172 páginas de
Trapiá, um clássico da década de 60, há apenas seis páginas sem diálogos. Vejamos os
tipos de diálogos:
   1. Direto: (discurso direto) as personagens conversam entre si; usam-se os
       travessões. Além de ser o mais conhecido é, também, predominante no conto.
   2. Indireto: (discurso indireto) quando o escritor resume a fala da personagem em
       forma narrativa, sem destacá-la. Vamos dizer que a personagem conta como
       aconteceu o diálogo, quase que reproduzindo-o. Essas duas primeiras formas
       podem ser observadas no conto "A Missa do Galo", Machado de Assis.
   3. Indireto livre (discurso indireto livre) é a fusão entre autor e personagem
       (primeira e terceira pessoa da narrativa); o narrador narra, mas no meio da
       narrativa surgem diálogos indiretos da personagem como que complementando
       o que disse o narrador.

Veja-se o caso de "Vidas secas": em certas passagens não sabemos exatamente quem
fala – é o narrador (terceira pessoa) ou a consciência de Fabiano (primeira pessoa)?
Este tipo de discurso permite expor os pensamentos da personagem sem que o narrador
perca seu poder de mediador.
   1. Monólogo interior (ou fluxo de consciência) é o que se passa "dentro" do
       mundo psíquico da personagem; "falando" consigo mesma; veja algumas
       passagens de Perto do coração selvagem, de Clarice Lispector. O livro A canção
       dos loureiros (1887), de Édouard Dujardin é o precursor moderno deste tipo de
       discurso da personagem. O Lazarillo de Tormes, de autor desconhecido, é
       considerado o verdadeiro precursor deste tipo de discurso. Em Ulisses, Joyce
       (inspirado em Dujardin) radicalizou no monólogo interior.

[editar] Focos narrativos

   1. Primeira pessoa: Personagem principal conta sua história; este narrador limita-
       se ao saber de si próprio, fala de sua própria vivência. Esta é uma narrativa típica
       do romance epistolar (século XVIII).
   2. Terceira pessoa: O texto é narrado em 3ª pessoa e neste caso podemos ter:
A) Narrador observador: o narrador limita-se a descrever o que está acontecendo,
"falando" do exterior, não nos colocando dentro da cabeça da personagem; assim não
sabemos suas emoções, idéias, pensamentos. O narrador apenas descreve o que vê, no
mais, especula.
B) Narrador onisciente conta a história; o narrador tudo sabe sobre a vida das
personagens, sobre seus destinos, idéias, pensamentos. Como se narrasse de dentro da
cabeça delas.



Relato de um Miserável




1
Wanderley. · Goiânia, GO
23/4/2008 · 177 · 3


       Me chamo Jahari e pretendo relatar aqui a vocês um pouco da minha deplorável
vida, ou existência.
       Meus pais morreram em uma invasão à aldeia em que vivíamos quando eu tinha
apenas 6 anos. Tenho infelizes lembranças daquele acontecido. Lembro-me dos meus
pais gritando, berrando, urrando, suplicando por piedade, fato que se sucedera por um
estrondo de tiro. Eu ficara ali, estático, naquele cubículo onde meus pais haviam me
aconselhado esconder. Observara àquilo com um ar intrigante e inquieto, tentando
entender o que estava acontecendo, pois naquela época não tinha maturidade o
suficiente para entender o que, de fato, significava a morte. Não tinha maturidade o
suficiente para compreender que, a partir daquele momento, nunca mais os veria
novamente.
Aqueles gritos atormentam minha mente a todo instante até os dias atuais.
Hoje completo 14 anos. Mas e daí? Quem se importa? Quem ao menos sabe disso? Bem
queria ganhar um pão de presente. Mas não tenho amigos a quem posso confiar tal
pedido. E mesmo se tivesse, não creio que se dariam ao trabalho de me arrumar algo tão
valioso.
        Até tento evitar de me lembrar de comida, ainda mais hoje que estou faminto,
pois, sempre que o faço, meus olhos se enchem d'água e minha boca seca
automaticamente dá-se lugar a uma acelerada salivação.
        Faz pouco mais de quatro dias que não como nada. Juro que, neste instante, seria
capaz de comer até carne humana.
        Além da fome, o cansaço também me domina, pois há muito tempo sigo essa
minha      caminhada sem rumo sob o efeito desse maldito sol escaldante.
Paro para descansar sempre quando a noite chega. Deito no chão e tento dormir, mas
meu estômago ronca tão alto que não me permite fazê-lo muito bem.
        A jornada prossegue. O forte bodum que exalava do meu corpo começa a ficar
insuportável até mesmo para mim. Não consigo nem me lembrar de quando fora a
última vez que tomara um banho decente.
        A água do meu cantil improvisado está acabando. A última vez que o
reabastecera tinha sido na última aldeia que encontrara há exatos três dias. Infelizmente,
a água, não tão pura, fora a única coisa que puderam me oferecer. Aquele povo, assim
como eu, era completamente miserável. Optei por continuar minha jornada em busca de
um lugar melhor.
        Pode tudo isso até soar exagero de minha parte, mas meu estado de pobreza é
realmente crítico, lamentável, e, sinceramente, não sei até quando conseguirei
sobreviver. Minha desgraçada realidade se resume em uma nua e crua miséria. Vivo
apenas alimentado por minhas expectativas e esperanças.
Não consigo imaginar a catástrofe que fizera para ter sido tão castigado assim. Não
consigo achar um porquê para tudo isso estar acontecendo comigo. Não consigo
entender por que EU fora escolhido e predestinado a sofrer tanto durante TODA minha
existência. Me pergunto a todo momento: Por que EU?
        E, pode nem todo mundo concordar, mas tudo isso sempre me põe a refletir,
questionar e duvidar sobre a existência de um Deus.
São várias perguntas sobre minha existência em si que definitivamente me
intrigam. Minha mente está sempre em constante trabalho, apesar de meu lastimável
estado físico não deixar transparecer isso.
       Às vezes prefiria não ter nem nascido. Já pensei várias vezes em, simplesmente,
desistir de continuar lutando, mas, apesar de tudo, tenho bastante fé de que, em breve,
encontrarei uma pequena aldeia que tenha condição de me acolher, de me fornecer
qualquer coisa conceituada comestível.
       Apesar de toda miséria, fome e carência de lar, família e amigos, ainda vivo,
mas o faço com a plena consciência de que meu grande objetivo vital é, simplesmente...
sobreviver.
       Espero que, no mundo afora, quem tem a oportunidade de fazer isso
intensamente, que o faça! E que se alegre por ter tudo que tem, porque existem pessoas,
assim como eu, que não têm absolutamente nada.
       Mais do que uma dica, isso é um apelo.


A SITUAÇÃO COMUNICATIVA DO GÊNERO RELATO DE EXPERIÊNCIA
DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL


Jocília Rodrigues da Silva (UFBP)
Poliana Dayse Vasconcelos Leitão (UFPB)
     1. INTRODUÇÃO
     Para transformar as atuais práticas de ensino-aprendizagem da língua materna faz-
se necessário adotar a noção de gênero, visto que os gêneros textuais articulam as
práticas sociais e os objetos escolares, constituindo-se em instrumentos privilegiados
para o desenvolvimento das capacidades necessárias à compreensão/ produção oral e
escrita dos mais variados textos existentes, pois, como afirmam muitos estudiosos,
aprender a falar, ler e escrever é, principalmente, aprender a compreender e produzir
enunciados através de gêneros. Entretanto, em virtude de o trabalho com esta noção ser
ainda recente e estar se expandindo, verifica-se a necessidade de pesquisas voltadas para
a descrição dos gêneros e para a intervenção, com vistas ao desenvolvimento das
habilidades para apropriação de gêneros.
     Tendo em vista tal necessidade, pretendemos esboçar um modelo escolar de relato
de experiência, que favoreça, sobretudo, a formação de professores. Nesse sentido, a
pesquisa sobre a descrição dos gêneros se torna imprescindível e anterior a qualquer
projeto de intervenção didática, pois segundo Schneuwly & Dolz (1997), o gênero
trabalhado como objeto de ensino-aprendizagem é sempre uma variação do gênero de
referência.
     Com essa visão, o presente trabalho tem por objetivo reunir elementos para a
descrição do gênero relato de experiência, observando o nível da situação de ação de
linguagem, isto é, a situação comunicativa em que os textos pertencentes a esse gênero
são produzidos. O corpus deste trabalho está constituído de 15 relatos de experiência,
sendo 05 relatos da revista Leitura: Teoria e Prática, 05 da revista Psicopedagogia e 05
da revista Linha D’água.
     2. SITUANDO O RELATO DE EXPERIÊNCIA NOS AGRUPAMENTOS DOS
         GÊNEROS
     De acordo Schneuwly (1998:04), o termo gênero, advindo da retórica e da
literatura, ganhou extensão na obra de Bakhtin (1979), que define gênero como sendo
tipos relativamente estáveis de enunciados elaborados em cada esfera de troca (lugar
social dos interlocutores), os quais são caracterizados pelo conteúdo temático, estilo e
construção composicional, e escolhidos em função de uma situação definida por alguns
parâmetros (finalidade, destinatários, conteúdo). Ou seja, os gêneros do discurso seriam
formas de dizer sócio-historicamente cristalizadas provenientes das necessidades
produzidas em diferentes lugares sociais da comunicação humana.
     Como afirmam Santos & Barbosa (1999: 04), a noção de gênero considera, além
dos elementos da ordem do social e do histórico, aspectos estruturais do texto, situação
de produção e forma de dizer. Esta noção de gênero vem sendo adotada para o processo
de ensino/ aprendizagem de língua materna, favorecendo uma melhor produção e
compreensão de textos orais e escritos, através da seleção que oriente as propostas
curriculares, definindo princípios, delimitando objetivos, conteúdos e atividades (Santos
& Barbosa, op.cit. p. 05).
     Dolz & Schneuwly (1996), vislumbrando o processo ensino/aprendizagem,
propuseram cinco agrupamentos de gêneros com base em três critérios: domínio social
da comunicação a que pertencem; capacidades de linguagem envolvidas na produção e
compreensão desses gêneros e sua tipologia geral. São eles:
     a) Agrupamento da ordem do narrar – envolve os gêneros cujo domínio é o da
         cultura literária ficcional, marcados pela manifestação estética e caracterizados
         pela mimesis da ação através da criação, da intriga no domínio do verossímil..
         Exemplos: contos de fada, fábulas, lendas, narrativas de aventura, de enigma,
ficção científica, crônica literária, romance, entre outros.
     b) Agrupamento da ordem do relatar – comporta os gêneros pertencentes ao
         domínio social da memorização e documentação das experiências humanas,
         situando-as no tempo. Exemplos: relato de experiências vividas, diários
         íntimos, diários de viagem, notícias, reportagens, crônicas jornalísticas, relatos
         históricos, biografias, autobiografias, testemunhos etc.
     c) Agrupamento da ordem do argumentar – inclui os gêneros relacionados ao
         domínio social da discussão de assuntos sociais controversos, objetivando um
         entendimento e um posicionamento frente a eles, exigindo para tanto,
         sustentação, refutação e negociação de tomadas de posição. Exemplos: textos
         de opinião, diálogos argumentativos, cartas de leitor, cartas de reclamação,
         cartas de solicitação, debates regrados, editoriais, requerimentos, ensaios
         argumentativos, resenhas críticas, artigos assinados, entre outros.
     d) Agrupamento da ordem do expor – engloba os gêneros relacionados ao domínio
         social de transmissão e construção de saberes, visando de forma sistemática
         possibilitar a apreensão dos conhecimentos científicos e afins, numa
         perspectiva menos assertiva e mais interpretativa, exigindo a apresentação
         textual de diferentes formas dos saberes. Exemplos: textos expositivos,
         conferências, seminários, resenha, artigos, tomadas de notas, resumos de
         textos expositivos e explicativos, relatos de experiência científica.
     e) Agrupamento da ordem do descrever ações – reúne os gêneros cujo domínio
         social é o das instruções e prescrições, revisando a regulação ou normatização
         de comportamentos. Exemplos: receitas, instruções de uso, instruções de
         montagens, bulas, regulamentos, regimentos, estatutos, constituições, regras de
         jogo.
     Neste enfoque, o relato de experiência de atuação profissional é entendido com um
gênero de texto que pertence ao agrupamento dos gêneros da ordem do expor, cujo
domínio social de comunicação é o da transmissão e construção de saberes. Nesse
sentido, quando informado teoricamente, o relato de experiência permite a apreensão de
conteúdos numa perspectiva que envolve a interpretação ao lado da asserção,
constituindo-se num instrumento relevante para registrar a produção do conhecimento
sobre a construção do processo de ensino-aprendizagem em sala de aula.
         2. 1. Situação de ação de linguagem (ou comunicativa).
     De acordo com Schneuwly (1998, apud Machado, 1999, p. 97), toda produção
textual tem como base de orientação uma situação de ação de linguagem, que envolve
representações do produtor sobre aspectos dos mundos físico e sócio-subjetivo. Essas
representações se manifestam em duas direções: a do contexto de produção, constituído
por oito tipos de representações: local, momento de produção, emissor, receptor,
instituição onde se dá a interação, o papel social representado pelo emissor e receptor,
objetivos que o enunciador quer atingir sobre o destinatário; e a do conteúdo temático,
aquilo que é ou pode ser dito, através do gênero, marcado por uma construção
composicional, estilo.
     Considerando esta perspectiva, tentaremos descrever como se manifestam as
representações do contexto de produção em relatos de experiência de atuação
profissional, publicados em periódicos. A observarmos os relatos de experiência de
atuação profissional em três diferentes periódicos de divulgação científica, verificamos
que o primeiro agente a influenciar a produção desse gênero é a instituição onde se dá a
interação, representada pela Associação de Leitura do Brasil (ALB) encarregada da
publicação da Revista Leitura: Teoria e Prática; Associação Brasileira de
Psicopedagogia (ABP) responsável pela publicação da Revista Psicopedagogia, e a
Associação de Professores de Língua e Literatura (APLL) que publica a Revista Linha
D’água. É interessante ressaltar que o fato de as revistas estarem vinculadas a
associações revela que elas têm um posicionamento sócio-histórico e ideológico
determinado e que seus informantes, bem como os assinantes aceitam esse
posicionamento. Outro aspecto importante é que todas as revistas analisadas afirmam
que os artigos assinados são de responsabilidade dos autores, mas se reservam o direito
de publicar ou não as matérias enviadas. A partir, desta afirmação constata-se que o
conselho editorial das revistas mantém controle sobre o que é publicado e, num tom
sugestivo, direciona a leitura do leitor, uma vez que acredita conhecer o perfil de seus
leitores-modelo, dessa forma, o como de ação adotado no e pelo discurso se constrói no
conteúdo previsto.
     Levando em conta os leitores-modelo, constatamos nos periódicos analisados, três
tipos: 1) Na revista Leitura: Teoria e Prática, segundo Silva (1998), seu destinatário é
um professor-leitor em formação que assume a postura reflexiva e crítica diante da
leitura1[1]; 2) Na revista Linha D’água, o leitor é um professor de Língua e Literatura
em nível de 1º e 2º graus “interessado, à procura de questões que possam levá-lo a rever
sua prática ou um professor cansado e explorado, querendo respostas, caminhos claros

1
que facilitem sua tarefa tão pouco satisfatória quanto aos resultados educacionais e
financeiros. Em um ou outro caso, é um professor que ainda não perdeu o entusiasmo e
se interessa por publicações de sua área e procurando respostas prontas questiona as que
obteve e ao encontrar novas questões assume-as com rigor de certeza” (Mariano, 1988);
3) Na revista Psicopedagogia, os destinatários são profissionais atuantes na área de
Psicopedagogia e áreas afins (Fonoaudiologia, Psicologia, Pedagogia, Serviço Social),
preocupados em definir as abordagens preventivas e terapêuticas de Psicopedagogia.
(Noffs, 1998).
     Percebemos que ao controlar os artigos a serem publicados, a instituição através
do conselho editorial também seleciona os papéis de produtor, que se assemelham ao
perfil de leitor-modelo esperado pela revista. Desse modo, vamos ter como emissor da
revista Leitura: Teoria e Prática, alunos e/ou professores envolvidos com atividades em
nível de 3º grau ou pós-graduação e bibliotecários, preocupados com o ensino-
aprendizagem de leitura nos seus aspectos teóricos e práticos. Na revista Linha d’água,
o emissor está representado por professores do 3º grau ou mestrandos, interessados em
divulgar seus trabalhos e contribuir para a melhoria das práticas de leitura e produção de
textos no ensino de 1º e 2º graus. Na revista Psicopedagogia, o emissor é um
profissional graduado em Pedagogia, Fonoaudiologia, Psicologia, Serviço Social e área
afins, com pós-graduação em nível de mestrado e/ou doutorado em Psicopedagogia,
preocupados com os problemas de aprendizagem escolar.
     Tendo em vista os perfis de leitores e produtores, podemos constatar que as
revistas Leitura: Teoria e Prática e Linha d’água têm como finalidade estabelecer um
diálogo com o receptor, possibilitando-lhe o acesso a informações e experiências a
respeito da leitura e produção de textos, a reflexão sobre sua própria prática e a
mudança de perspectiva. Além de se preocupar com a formação do professor-leitor
reflexivo e crítico, a revista Psicopedagogia objetiva informar os profissionais de
Psicopedagogia e áreas afins quanto às possíveis soluções para os problemas de ensino-
aprendizagem de ordem patológica ou não.
     Em função dos objetivos traçados por cada revista, verificamos que estes refletem
o discurso de transformação social, divulgado pelo momento sócio-histórico em que
vivemos, assimilado no contexto educacional, através da teoria sócio-interacionista de
Vygotsky e da de leiturização de Foucambert, fundamentada nas idéias de Paulo Freire.
     3. CONSIDERAÇÕES FINAIS
     Diante da observação das direções que norteiam as representações dos gêneros
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Gêneros textuais e ensino de língua materna

  • 1. GÊNEROS TEXTUAIS E ENSINO DE LÍNGUA MATERNA Faraco (2000) afirma que podemos encontrar em Bakhtin os pressupostos necessários para o ensino de Língua Portuguesa nas escolas, também porque esse autor atribui um novo enfoque para a relação homem/linguagem/sociedade, enfim entender a mudança de concepção de linguagem que seja voltado para o fenômeno de interlocução viva. “A língua vive e evolui historicamente na comunicação verbal concreta” (BAKHTIN, 1986), ou seja, a linguagem é como um intercâmbio entre os sujeitos historicamente estabelecidos. Entendemos, a partir de Bakhtin, que a linguagem deve ser entendida como um produto de interação do sujeito com o mundo e com os outros. A concepção de linguagem de Bakhtin fundamenta uma proposta lingüística pedagógica interacional, portanto, dá um suporte inicial necessário para uma mudança qualitativa no ensino tradicional da língua. A língua é viva, produzida historicamente, e ao mesmo tempo, produtora da história humana. Para Bakhtin, a língua materializa-se nas diversas enunciações, em diferentes situações sociais, através dos gêneros discursivos. O “querer dizer do locutor se realiza acima de tudo na escolha de um gênero discursivo”. (BAKHTIN, 1992, p.301). O ensino de diversos gêneros que socialmente circulam entre nós, além de ampliar sobremaneira a competência lingüística e discursiva dos alunos, aponta inúmeras formas concretas de participação social. Um processo de ensino-aprendizagem que priorize o trabalho com os diferentes gêneros do discurso, prepara o aluno para as diferentes práticas lingüísticas, e também amplia sua compreensão da realidade, apontando-lhe formas concretas de participação social como cidadão. Quando um aluno aprende a produzir, por exemplo, uma carta do leitor para ser enviada a um jornal ou revista, toma consciência de que pode como cidadão, manifestar seus pontos de vista, opinar e interferir nos acontecimentos do mundo concreto. A escola deve trabalhar com os mais diversos gêneros que circulam socialmente como, por exemplo, no jornalismo: a notícia, o editorial, a reportagem, o artigo de opinião, a carta do leitor, etc., para que os alunos sejam preparados para as situações de interação existentes na sociedade em que vivem e, assim possam agir de forma crítica e consciente em relação a assuntos e situações do dia-a-dia. Os gêneros devem ser periodicamente retomados e seu estudo aprofundado e ampliado, de acordo com a série,
  • 2. com o grau de maturidade dos alunos, com suas habilidades lingüísticas e com a área temática de seu interesse. Segundo Faraco e Castro (2000), o professor deve incentivar o aluno a refletir sobre as diferenças existentes entre os gêneros, assim como o papel desses no processo social de interação verbal a que ele poderá ser exposto, fora do ambiente escolar. É possível que até algum aluno, ao se apropriar dos procedimentos que envolvem a produção de crônica, não apresente tanta habilidade quanto outro aluno, mas ele poderá, por exemplo, produzir textos publicitários muito criativos ou ser um ótimo argumentador em debates públicos em textos argumentativos escritos. Por isso, em relação à avaliação das produções textuais dos gêneros, devemos abandonar os critérios quase exclusivamente literários ou gramaticais e deslocar seu foco para outro ponto: o bom texto não é aquele que apresenta, ou só apresenta características literárias, mas aquele que é adequado à situação comunicacional para tanto, aspectos como a adequação ao conteúdo, da estrutura e da linguagem como um todo e o cumprimento da finalidade que motivou a produção. Bezerra (2005) afirma que em qualquer contexto social ou cultural que envolva a leitura e /ou escrita é um evento de letramento, o que implica a existência de inúmeros gêneros textuais, culturalmente determinados, de acordo com as diferentes instituições e usados em situações comunicativas reais. Os estudos sobre letramento investigam as práticas sociais que envolvem a escrita, seus usos, funções e efeitos sobre o indivíduo e a sociedade como um todo. Rossi (2003) afirma que a produção escrita implica em atividades de leitura para que os alunos se apropriem das características dos gêneros que produzirão. Por isso, a autora sugere que antes de iniciar um trabalho pedagógico de produção escrita de gêneros o professor deve propor aos alunos um trabalho didático de leitura, para ocorrer a apropriação do gênero a ser produzido. Marcuschi (2005) relata que a escrita é usada em contextos sociais básicos da vida cotidiana, como por exemplo, o trabalho, a escola, o dia-a-dia, a família, a vida burocrática, atividade intelectual, em paralelo direto com a oralidade. Em cada um desses contextos, as ênfases e os objetivos da escrita são variados e diversos, fazendo surgir gêneros textuais e formas comunicativas. O ensino de língua deve oferecer incentivos e meios para que os alunos leiam, desenvolvam a competência de compreender e produzir textos nas mais diversas
  • 3. situações de interação. Enfim, o texto é produto de uma determinada visão de mundo, de uma integração, de um momento de produção histórica e socialmente marcado. A leitura da literatura de ficção de não-ficção, de jornais, revistas, enfim de vários gêneros que circulam na sociedade é uma forma de oferecer condições para que os alunos ampliem seus conhecimentos e assim possam desenvolver o raciocínio, o senso crítico, a compreensão do real, a curiosidade intelectual, que são essenciais para a constituição de uma sociedade mais politizada. A partir destas reflexões, o que se pretende é que o ensino de língua materna se torne mais concreto, que o espaço de sala de aula seja um ambiente de interlocução viva entre alunos e professores. Em vista estas considerações, escolhemos para aprofundamento, neste artigo, dentre os muitos gêneros textuais existentes em nossa sociedade, o gênero cartas do leitor. CARTAS DO LEITOR Bezerra (2005) afirma que o gênero cartas do leitor são uma espécie de subgênero carta. Isto porque as cartas têm em comum a estrutura básica, (como por exemplo, o núcleo da carta). No entanto, as cartas são variadas em suas formas de realização, em seus objetivos, intenções, propósitos (carta pedido, carta resposta, carta pessoal, carta ao leitor...). As cartas do leitor diferenciam-se um pouco das cartas tradicionais por abordarem diretamente o assunto a ser discutido, por serem curtas e não apresentarem as saudações (prezado senhor, querido amigo), nem as despedidas tradicionais (um grande abraço). Nos jornais e revistas, há um espaço próprio destinado para que as cartas dos leitores sejam publicadas. Quando uma carta é enviada para a publicação, o leitor precisa identificar-se colocando nome completo, o nº. de identidade e endereço e é responsabilizado pelo que escreve. Nem todas as cartas são publicadas, pois passam por uma seleção e podem ser resumidas ou parafraseadas. Cada jornal ou revista segue critérios próprios de publicação. O propósito comunicativo de uma revista ou jornal pode variar. Os temas podem ser diferentes, assim como um mesmo assunto pode ser abordado de formas variadas. Cada um tem um público alvo (homem, mulher, jovem, criança). Estes fatores influenciam os leitores frente às reportagens, notícias, em outras pedem conselhos,
  • 4. orientações, sobre assuntos relacionados à adolescência: gravidez e relacionamentos pessoais. A publicação das cartas segue normas, que variam de acordo com cada revista ou jornal, como por exemplo, as que são enviadas à Revista Veja devem trazer assinatura, o endereço, o número da identidade e o telefone do autor. A seleção das cartas parte de alguns critérios como clareza, conteúdo, que são adotados pela direção da revista. Também, não há espaço para a publicação de todas as cartas recebidas. Assim, são lidas, analisadas e somente publicadas as selecionadas pelo editor da seção Cartas e pela direção da Veja. Além disso, os objetivos das revistas ou jornais devem ser observados. Não se escreve para uma revista de informação como a Veja da mesma forma que se escreve para a revista Capricho, como podemos verificar nas seguintes cartas publicadas em julho de 2008: Galeraa, Capricho, eu gostariaa de pedir novamente que vocês façam uma matéria sobre a luta livre (WWE). Sou fanática e gostaria de saber mais, muito mais desse esporte. Obrigadaa, Bzo Laizinha Hardy Laizinha Hardy Campinas-SP FÁBULAS As fábulas pertencem ao grupo de histórias criadas pela tradição oral, juntamente com os contos de fadas, as lendas e os mitos. Elas são um tipo de narrativa que se caracterizam pela estrutura simples, são pequenas histórias que têm a intenção de transmitir “lição de moral”, ou seja, refletir sobre concepções de viver. Esta moral da fábula não constitui uma conclusão definitiva. Portanto a moral pode variar de acordo com quem lê a história. A origem da fábula é oriental e muitas foram encontradas no Egito antigo e na Índia, mas ficaram conhecidas no Ocidente graças, principalmente, a fontes gregas, em especial a de Esopo, escravo grego que teria vivido no século V a.C. Esopo criava histórias baseadas em animais para mostrar como devemos agir com sabedoria. Suas fábulas foram reescritas em versos por Fedro, escravo romano, e no século XVII d.C. por Jean de La Fontaine, um poeta francês. La Fontaine criava suas histórias com um único objetivo: tornar os animais os principais agentes da educação dos homens. Para
  • 5. isso, os animais foram colocados em situações que serviam de exemplos para todos, ou seja, tornaram-se símbolos. No Brasil, o grande responsável por reavivar as antigas fábulas foi Monteiro Lobato, que ao final de suas narrativas oportuniza às crianças opinarem sobre a possibilidade de alteração da história ou da moral sugerida, e criticarem as atitudes que consideram errôneas e moralistas ou seja, embora mantenha a idéia de que a fábula tenha uma moral, Lobato sugere que o leitor deva tirar sua própria conclusão. ESTRUTURA DA FÁBULA • Histórias curtas: há um só conflito, isso resulta numa narrativa resumida; • Diálogo: no que se refere à linguagem, a fábula é objetiva gerando poucas descrições e muitos diálogos; • Personagens: os animais são usados como personagens que representam virtudes, defeitos e características dos seres humanos. São utilizados de forma simbólica para criticar ou exaltar esses comportamentos; • Moral: a moral escrita no final da fábula reproduz um provérbio, um dito popular, cujos temas principais são lealdade, generosidade e as virtudes do trabalho. A CABRA E O ASNO Uma cabra e um asno comiam ao mesmo tempo no estábulo. A cabra começou a invejar o asno porque acreditava que ele estava melhor alimentado, e lhe disse: - Tua vida é um tormento inacabável. Finge um ataque e deixa-te cair num fosso para que te dêem umas férias. Aceitou o asno o conselho, e deixando-se cair, machucou todo o corpo. Vendo-o o amo, chamou o veterinário e lhe pediu um remédio para o pobre. Prescreveu o curandeiro que necessitava uma infusão com o pulmão de uma cabra, pois era muito eficiente para devolver o vigor. Para isso então degolaram a cabra e assim curaram o asno. Moral da História: Em todo plano de maldade, a vítima principal sempre é seu próprio criador Esopo A CERVA NA GRUTA DO LEÃO
  • 6. Uma cerva que fugia de uns caçadores, chegou a uma gruta onde não sabia que morava o leão. Entrando nela para se esconder, caiu nas garras do leão. Vendo-se sem remédio, perdida, exclamou: - Infeliz de mim! Fugindo dos homens, caí nas garras de um feroz animal. Moral da História: Se tratas de sair de um problema, busca uma saída que não seja cair em outro. Esopo A CERVA TORTA Uma cerva a qual faltava um olho, passeava à beira-mar, voltando seu olho intacto em direção à terra para observar a possível chegada de caçadores, e dando ao mar o lado que faltava o olho, pois dali não esperava nenhum perigo. Mas resultou que uma gente navegava por este lugar, e ao ver a cerva, abateram-na com seus dardos. E a cerva agonizando, disse para si: - Pobre de mim! Vigiava a terra, que acreditava cheia de perigos, e o mar, que considerava um refúgio, me foi muito mais funesto. Moral da História: Nunca excedas a valoração das coisas. Procura ver sempre suas vantagens. Esopo A FORMIGA Diz uma lenda que a formiga atual era em outros tempos um homem que, consagrado aos trabalhos de agricultura, não se contentava com o produto de seu próprio esforço, senão que olhava com inveja o produto alheio e roubava os frutos de seus vizinhos. Indignado Zeus pela avareza deste homem, transformou-o em formiga. Porém ainda que tenha mudado de forma, não mudou seu caráter, pois até hoje percorre os campos e recolhe o trigo e a cevada alheios e os guarda para seu uso. Moral da História: Ainda que aos malvados se lhes castigue severamente, dificilmente mudarão sua natureza. Esopo A FORMIGA E A POMBA
  • 7. Uma formiga foi à margem do rio para beber água, e, sendo arrastada pela forte correnteza, estava prestes a se afogar. Uma pomba que estava numa árvore sobre a água, arrancou uma folha, e a deixou cair na correnteza perto dela. A formiga, subiu na folha, e flutuou em segurança até a margem. Pouco tempo depois, um caçador de pássaros, veio por baixo da árvore, e se preparava para colocar varas com visgo perto da pomba que repousava nos galhos alheia ao perigo. A formiga, percebendo sua intenção, deu-lhe uma ferroada no pé. Ele repentinamente deixou cair sua armadilha, e isso deu chance para que a pomba voasse para longe a salvo. Moral da História: O grato de coração sempre encontrará oportunidades para mostrar sua gratidão. ---------------------------------------------------------------------------------------------------------- Como sugestão de tema para carta de reclamação, vejam essa proposta da UFES (Universidade Federal do Espírito Santo). Se desejarem, enviem suas cartas para mim que eu terei prazer em corrigi-las e comentá-las. O brasileiro tem feito inúmeras reclamações relacionadas à prestação de serviços, tanto públicos como privados. Redija uma carta ao departamento de vendas de uma empresa de plano de saúde ou de telefonia, apresentando seu pedido de desligamento em decorrência de sua insatisfação com os serviços prestados. Sugestões: 1. Procure detalhar com objetividade e precisão quais foram os eventos que geraram sua insatisfação com os serviços prestados (convenhamos: não é preciso muita imaginação para pensar em, pelo menos, meia dúzia de possibilidades); portanto, evite fazer alusões genéricas sobre a incompetência, por exemplo, da empresa prestadora de serviços; 2. O pedido de desligamento precisa ser acompanhado de um tom firme, mas educado. Não é xingando o responsável pelo setor de vendas que você irá justificar seu pedido, certo? 3. A interlocução e a criação das imagens de emissor e receptor também fazem parte da construção desse tipo de carta. Você pode, por exemplo, chamar a atenção do receptor
  • 8. (interlocutor) sobre sua frustração em relação à empresa, pois esperava, por seu renome, que ela oferecesse serviços de melhor qualidade. CARTA DE RECLAMAÇÃO À: Nome da Empresa No que diz respeito ao pedido nº (informar), realizado em (informar a data), venho manifestar meu descontentamento, pois a entrega estava prevista para, no máximo, até o dia (informar). Ou seja, já se passaram (xxx) dias no prazo limite de entrega e até o momento não recebi as mercadorias adquiridas ou qualquer explicação consistente sobre o ocorrido. Dessa forma, caso o pedido não seja entregue até o dia (informar), a compra deve ser considerada cancelada, ficando, desde já, solicitada a restituição dos valores pagos. ou utilizar o parágrafo abaixo Dessa forma, venho solicitar o cancelamento imediato do pedido, pois já desisti da compra em função do descumprimento do prazo de entrega, de modo que requeiro a restituição dos valores pagos. Aguardo resposta. A PRODUÇÃO DE CARTAS DE RECLAMAÇÃO: SEMELHANÇAS ENTRE TEXTOS DE ADULTOS E CRIANÇAS SILVA, Leila Nascimento da∗ – UFPE GT-10: Alfabetização, Leitura e Escrita Agência Financiadora: CAPES De acordo com os estudos realizados por Schneuwly e Dolz (2004), o gênero textual “carta de reclamação” estaria dentro da ordem do argumentar, uma vez que o mesmo apresenta uma predominância de seqüências tipológicas argumentativas. Estes
  • 9. textos teriam como função primordial convencer o leitor de algo. São exemplos, as cartas ao leitor, os textos de opinião, as resenhas críticas e as dissertações. No texto predominantemente argumentativo, a presença de um diálogo é marcante, visto que a relação escritor/leitor é muito próxima e dependente. Para lançar mão de um argumento, se faz necessário refletir sobre o que os possíveis interlocutores podem pensar a respeito da situação de produção e do texto criado. Essa habilidade de lidar com diferentes leitores só pode ser adquirida pelas crianças no ato das produções orais e escritas, em situações semelhantes às que acontecem fora da escola. Além desse pensar sobre o destinatário do texto a ser escrito, uma questão primeira emerge: a relevância do ato de argumentar naquela determinada situação. Para que haja a necessidade de argumentar é preciso que exista um assunto que dê margens a um debate, proposições que justifiquem e/ou refutem a declaração, enfim, alguém apresentando resistências. Apesar dessa predominância argumentativa, pode-se lançar mão, em seu corpo, de outras seqüências tipológicas, o que faria a carta de reclamação ser chamada de texto heterogêneo (Bronckart, 1999). No levantamento bibliográfico, fomos à procura de materiais que trouxessem informações mais específicas sobre esse gênero. No entanto, detectamos uma escassez de publicações, apenas uma foi encontrada (Wilson, 2001). Foi possível encontrarmos um número maior de estudos sobre outros subgêneros da carta, como carta de pedido de conselho (Cristóvão, Durão, Nascimento e Santos, 2006) e carta à redação (Melo, 1999). Então, diante dessa constatação, buscaremos apresentar não só de Wilson, mas também o estudo de Melo que trás contribuições para um melhor entendimento do referido gênero textual. A pesquisa de Wilson (2001) teve como objetivo maior refletir sobre a problemática que envolve a categorização dos gêneros do discurso, especialmente, no que diz respeito ao gênero textual carta. Em particular se deteve na carta de reclamação e algumas questões se fizeram presentes: Como distinguir tipologicamente uma carta de reclamação de uma carta pessoal ou de um pedido se não forem estabelecidos parâmetros flexíveis? Como enquadrar cartas de reclamação em que são empregadas diferentes estruturas discursivas? O corpus de análise foi de cartas de reclamação escritas por proprietários de imóveis residenciais de classe média e média alta de um importante centro urbano do
  • 10. país, dirigidas a uma empresa do ramo da construção civil. Nestas cartas era observada, especificamente, a dimensão afetiva e como esses reclamantes atuam diante de uma situação de confronto. Para uma abordagem mais completa, as cartas de reclamação foram interpretadas em sua natureza tipológica, atentando, assim, para aspectos importantes de sua constituição. Um deles é o nível das estruturas discursivas e dos recursos lingüísticos típicos de cada nível. Foi constatado, entre outras coisas, que ao expor um problema referente a um dano material, o reclamante lança mão da estrutura narrativa para relatar o problema ou da estrutura descritiva para informar minuciosamente o tipo de dano material ocorrido. Wilson salienta, no entanto, que o emprego de tais estruturas concorre para dar a impressão de que a função referencial ocupa o plano principal, quando, na verdade, o foco, o conteúdo informacional dessas cartas é uma reclamação. A reclamação, por sua vez, como ato e objeto, traduz uma informação que envolve a expressão de um estado psicológico, em geral de insatisfação. Por isso, não há como não se referir à função expressiva que nelas aparece, nem deixar de chamar a atenção para o fato de que estruturas expressivas se superpõem ou se entrecruzam às estruturas narrativa e descritiva e também às expositivo-argumentativas. Na verdade, a autora do estudo quer ressaltar que a afetividade também está presente na carta de reclamação e deve ser objeto de investigação. A partir dessa observação, uma outra conclusão foi tirada: a certeza de que para compreender a reclamação se faz necessário um rastreamento das suas condições de produção, uma vez que o querer-dizer do locutor se realiza acima de tudo na escolha de um gênero do discurso que, por sua vez, apresenta uma relação imediata com a realidade existente, além de ser constituído como uma resposta a enunciados anteriores dentro de uma dada esfera comunicativa e social. Ou seja, não é possível, ao analisar cartas de reclamação, se prender apenas ao material lingüístico, exposto como resultado final. As decisões que tomamos na hora da escrita (Uso uma linguagem mais formal? Qual palavra é a mais apropriada neste caso? Como denuncio sem ser grosseira?) dependem da nossa intenção com aquele texto, das nossas condições de produção . Tudo isso pôde ser visto nas cartas. Wilson, por exemplo, percebeu que em muitas delas o escritor utiliza o pedido como força ilocucionária para atenuar o grau de ofensa latente na reclamação. Desta forma, evitando afirmativa do tipo “venho aqui para
  • 11. fazer uma reclamação”, o autor da carta acaba empregando mais freqüentemente a forma verbal “solicitar” ou o seu correlato “pedir”. Isso demonstra que selecionamos as palavras segundo as especificidades do gênero e, sobretudo, pela nossa intenção. Em seu corpus, a estudiosa também observou uma composição mista em função do significado afetivo construído na interação cliente/empresa. Ou seja, foi possível encontrar cartas de reclamação que ora foram escritas de forma não-ofensiva, buscando não romper definitivamente com os laços de camaradagem e reciprocidade (afeto positivo) e ora foram produzidas em tom de ameaça velada em virtude de atitude vitimizada para envolver (negativamente) o reclamado, colocando-o na condição de culpado. Wilson chama a atenção para esse jogo distanciamento/alinhamento afetivo. Pois ele faz emergir um sentimento de ambivalência, produzindo um efeito misto: uma carta de cunho pessoal em que o locutor age às vezes como pessoa e outras vezes como consumidor, misturando as relações formais às mais informais. Como resultado disso, os (as) reclamantes acabam empregando em seus textos modos de organização mais fixos e padronizados em meio a outras formas socialmente pouco recomendáveis ou aprovadas em contextos de natureza semi-institucional. Embora algumas cartas apresentem organizações não recomendáveis, estas não deixam de ser cartas de reclamação. Apesar da existência de formas padronizadas e típicas já disponíveis, a constituição dos gêneros de discurso vão se ajustando às novas e diferentes realidades. Ratificamos, portanto, o posicionamento de Wilson: não há como estudar tal gênero sem essa flexibilidade e sem uma análise das condições de produção, pois são elas que podem nos ajudar a entender o porquê de tal reclamação e porque tal forma de escrita foi escolhida. Outro estudo que traz importantes descobertas, embora não tenha o gênero “carta de reclamação” como objeto de análise especificamente, é a pesquisa de Melo (1999) sobre carta à redação. A pesquisadora, assim como Wilson, levanta uma discussão sobre o discurso pessoal e impessoal nas cartas. Ela analisou 293 cartas publicadas nos jornais O Estado de São Paulo, Folha de São Paulo, O Globo e Jornal do Brasil, que traziam comentários sobre as seguintes reportagens: a greve dos petroleiros (esfera pública), a agressão à imagem de Nossa Senhora Aparecida pelo bispo Sérgio Von Helde e sobre a possível homossexualidade de Zumbi dos Palmares (ambas da esfera privada).
  • 12. A hipótese levantada neste estudo é a de que cada tipo de discurso apresenta marcas textuais próprias, ou seja, discursos que abordam temas de caráter público têm características "x", diferenciando-se de discursos que abordam temas de caráter privado que, por sua vez, têm características textuais "y". Melo, então, buscou verificar se isso realmente ocorre e como as características se materializam nas cartas. Em seus resultados, a estudiosa pôde ver sua hipótese comprovada. Percebeu que, de fato, quando se trata de assuntos da esfera privada, não se convence o outro exclusivamente através da argumentação lógica: (...) o debate não se centra na objetividade dos argumentos, não importa se a origem do debate é objetiva ou racional; busca-se, isto sim, a simpatia, a boa vontade do interlocutor. Assim, com relação aos temas religiosidade e sexualidade, as opções dos sujeitos não são consideradas mutáveis com base em argumentos: ou é fé ou é preferência (pp. 39). As pessoas que escreveram sobre “homossexualidade de Zumbi” e “chute na santa” parecem supor não poder mudar a opinião do outro. Diante disso, investem bem mais em marcar sua própria posição. O resultado dessa posição é o uso freqüente do emprego de pronomes e verbos em primeira pessoa para marcar a subjetividade no discurso. Já com relação aos temas da esfera pública, constatou-se que os escritores das cartas buscavam, sim, a adesão do outro à sua causa. Supostamente, com argumentos objetivos. Para conseguir este efeito de persuasão, usaram uma estratégia argumentativa que imaginavam eficaz, cujo efeito é de "objetividade": imprimiram ao texto um tom impessoal, esconderam-se atrás de uma suposta voz coletiva, dissimulando o caráter autoritário/pessoal do seu discurso, utilizando-se para isso de expressões como: "fala- se", "comenta-se", "todos dizem que", etc. (Melo, pp. 39) Como se pode perceber há estruturas discursivas diferenciadas quando se trata de assuntos da esfera pública e privada nas cartas. Acreditamos que esse mesmo movimento discursivo ocorra em cartas de reclamação propriamente. Possivelmente, as que envolvem temáticas da esfera pública apresentem características textuais distintas das cartas relacionadas à esfera privada. No caso do nosso estudo, o tema da produção foi da esfera pública (reclamações sobre a escola na qual se estuda), de modo geral, buscamos investigar se os textos dos nossos alunos são semelhantes às cartas de reclamação de circulação social efetiva, ou
  • 13. seja, averiguar se a estrutura e estratégias usuais das cartas de circulação são encontradas nas cartas das crianças. Mais especificamente, era nossa intenção identificar os componentes e modelos textuais mais encontrados em Cartas de Reclamação escritas por adultos fora da escola. Em seguida, verificar se tais componentes também estavam presentes nas cartas das crianças; e por fim, identificar se os modelos textuais mais adotados pelos adultos também foram os mais adotados pelas crianças. METODOLOGIA Participaram da pesquisa alunos de seis turmas (duas turmas de 2ª séries, duas de 4ª e duas de 6ª) que estudam na Rede Pública de Ensino. De cada série selecionamos apenas 20 textos, totalizando, assim, 60 cartas. Excluímos da amostra todos os textos não atenderam ao comando da atividade solicitada ou foram escritos de forma não convencional e ilegível. Mesmo com tais critérios tivemos um número maior de textos, então, optamos ainda por realizar um sorteio. As cartas coletadas foram escritas ao final de uma seqüência de atividades que explorava o gênero “Carta de Reclamação”. A intenção com tais momentos era a de ativar os conhecimentos prévios das crianças e contribuir para construção de representações/conhecimentos sobre tal gêneros e também outros tipos de cartas. Primeiro aconteceu uma conversa com toda a turma sobre a escola e seus problemas. Em seguida, os alunos leram e analisaram cartas variadas (carta de amor, carta de reclamação, carta à redação,). Criado o contexto de produção, os alunos partiram para conhecer melhor a carta de reclamação. Analisaram coletivamente e com a ajuda da professora uma carta de reclamação, depois analisaram outras cartas em pequenos grupos. Após todo esse processo, foram convidados a produzirem uma carta de reclamação para o (a) diretor(a) da escola. Para traçar o paralelo com os textos das crianças, selecionamos 20 (vinte) cartas de reclamação de circulação social. Estes textos foram retirados de várias fontes (sindicatos, cartas publicadas em sites de denúncia, cartas escritas por pessoas de nosso circulo social). RESULTADOS
  • 14. As cartas de reclamação de circulação extra-escolar As observações feitas das cartas de reclamação de circulação social trouxeram informações bastante relevantes sobre como, possivelmente, se caracterizaria tal gênero. Também nos ajudou a perceber como comumente é construída sua cadeia argumentativa. Foi possível identificar sete componentes textuais que configurariam uma carta de reclamação. São eles: 1) indicação do objeto alvo de reclamação; 2) justificativa para convencimento de que o objeto pode ser (merece ser) alvo de reclamação 3) indicação de sugestões de providências a serem tomadas; 4) justificativa para convencimento de que a sugestão é adequada; 5) Indicação das causas do objeto alvo da reclamação; 6) Contraargumentação relativa ao objeto alvo de reclamação; 7) Contra-argumentação relativa às sugestões. Nestas cartas de circulação, os componentes 1 (indicação do objeto alvo de reclamação) e 2 (justificativa da reclamação) foram os que mais apareceram. Estavam presentes em todos os 20 textos analisados. Desta forma, para reconhecermos que uma carta é uma carta de reclamação precisamos identificar a indicação do objeto alvo da denúncia e o movimento de justificação da relevância de tal indicação. Em seguida, encontramos um amplo uso do componente 3, a indicação de sugestões tendo em vista a resolução do problema, que teve 12 aparições (60%). Tal componente esteve muito presente nos textos analisados, constituindo uma estratégia de mostrar para a parte que está recebendo a queixa de que era possível resolver o problema descrito (ex: “Reparar ou substituir o frigorífico no prazo de 10 dias”). O movimento de justificar a(s) sugestão(ões) dada(s) na tentativa de convencer o leitor da sua adequação e pertinência (componente 4) também foi utilizado em várias cartas - 8 das 20 cartas (40%). Do mesmo modo, encontramos em 8 cartas a tentativa de apontar e explicar as possíveis causas para o problema em foco ter acontecido - componente 5 - (ex: provável causa para o desgaste do calçamento - “(ele) suporta diariamente o peso dos ônibus e carros”). Outros movimentos, no entanto, tiveram baixa incidência. Foi o caso da contraargumentação relativa ao objeto alvo de reclamação (componente 6) e da contraargumentação relativa às sugestões (componente 7); ambas tiveram apenas 3 aparições (15%).
  • 15. Essa baixa incidência, no entanto, não pode ser interpretada como indício de que tais componentes são irrelevantes. Eles são fundamentais em situações em que as partes envolvidas já estejam em processo de negociação e não haja um consenso sobre quem é o culpado ou, então, em situações em que a parte que sofre a queixa queira adotar um procedimento não interessante para o reclamante. Um exemplo de contra-argumentação relativa ao objeto estava presente numa carta em que se reclamava de avarias sofridas numa mala (“Os objetos que sofreram estragos são relativamente fáceis de serem substituídos” – “Porém o fato que desapontou foi a maneira relapsa com que o diretor foi tratado quando reclamou verbalmente no balcão de informações da companhia”). Defendemos, portanto, que, dependendo do contexto, diferentes estratégias de construção da cadeia argumentativa podem ser encontradas. As análises das cartas de circulação social também nos mostraram que quanto maior for o uso desses diversos componentes, maiores são as chances de o texto ter uma cadeia argumentativa apropriada para as finalidades previstas. Mesmo com tais dados, reconhecemos que uma carta pode ser consistente sem ter todos esses componentes textuais, pois, conforme o próprio Bakthin (1997) coloca, os gêneros são relativamente flexíveis. Após essa análise dos componentes textuais presentes nas cartas extra-escolares, montamos categorias que nos permitiram enxergar melhor como estas cartas de reclamação se caracterizavam. Diferenciamos as cartas pela presença ou não dos componentes. Tais categorias, portanto, se configuram como modelos textuais. Chegamos a encontrar 3 modelos adotados pelos escritores dos textos. Modelo 1 - Indica e argumenta a respeito do objeto da reclamação Neste modelo percebemos um cuidado em defender a relevância do que está sendo reclamado, mas sem dar sugestões para a resolução do problema denunciado. Cerca de 30% das cartas foram escritas assim. Exemplo: Eu, XX, sou Cliente desta empresa desde maio/2006. Foi instalado na minha moto o rastreador da YY. Durante este curto período em que utilizei seus serviços foram feitas manutenções no equipamento e a última manutenção feita foi no dia 11/11/06 as 14:00 horas, pelo Técnico da empresa, Sr. ZZ. Ocorre, que poucas horas após a
  • 16. liberação do equipamento e minha moto pelo técnico da YY, fui roubado a mão armada e minha moto foi levada. Imediatamente liguei para vocês e pedi que fosse feito o rastreamento/bloqueio de minha nenhuma notícia me foi dada sobre o bloqueio e rastreamento da minha moto. A Empresa não efetuou o rastreamento nem o bloqueio. Até o momento vocês não me deram nenhum retorno sobre o ocorrido, falando somente que não houve o rastreamento nem o bloqueio. Instalei o equipamento justamente para me assegurar em caso de roubo, fui roubado e a empresa não cumpriu sua função. Ora, a função da empresa é justamente rastrear e bloquear a minha moto. Fiz o contrato com vocês por ser reconhecida no mercado, porém quando precisei o serviço não foi efetuado. Paguei pelo serviço que não foi prestado e fiquei no prejuízo tanto da moto, como pelo serviço. Como vemos, o objeto alvo da reclamação foi o descumprimento pela empresa de suas funções. O reclamante justifica a relevância de sua reclamação dizendo que contratou a empresa, mas o serviço não foi feito. Modelo 2 - Indica e argumenta a respeito do objeto da reclamação, indica sugestões Ao contrário das cartas do grupo anterior, nestas, além de indicar e argumentar sobre o objeto a ser reclamado há também uma indicação de providências a serem tomadas, mas não se argumenta em favor dessa sugestão. 25% das cartas foram escritas dentro deste modelo. Exemplo: Lamentamos informar que em vôo realizado por essa Companhia, no trecho Maceió/ São Paulo no dia 21/01/05, detectamos que a mala de viagem pertencente a nosso Diretor-Presidente, Dr. YY sofreu sérias avarias, o que terminou por danificar permanentemente alguns de seus mais estimados pertences. Estamos cientes de que os objetos que sofreram estragos são relativamente fáceis de serem substituídos, porém, o fato que nos desapontou de maneira significativa foi a maneira relapsa com que nosso ilustre Diretor foi tratado quando de sua reclamação verbal junto ao balcão de informações da Companhia. E, sendo assim, informamos que entraremos com pedido de reembolso junto ao
  • 17. Departamento Financeiro de sua empresa para podermos recuperar, pelo menos, o prejuízo material, porque quesito confiança, a relação entre nossa empresa e a XX sofreu um considerável abalo. Vemos que o escritor reclama de objetos quebrados durante uma viagem e também da forma como foi tratado o dono da mala ao reclamar. Argumenta que embora tais objetos sejam relativamente fáceis de serem substituídos, o caso mereça atenção e sugere reembolso, mas sem argumentar a favor dessa sugestão. Modelo 3 - Indica e argumenta sobre o objeto de reclamação, indica e argumenta sobre as sugestões Foi o modelo mais adotado. Trata-se de cartas que não só indicam e argumentam em favor do objeto alvo da denúncia, como também apresentam sugestões e argumentam a seu favor. Cerca de 45% das cartas de reclamação de circulação social analisadas podem ser consideradas como pertencente a este grupo. Na carta abaixo, o autor reclama da não entrega de um colchão e de um fone de ouvido. Inicialmente gostaria de deixar claro que o atendimento de vocês é precário. Estou desde dia 08/12/06 para receber um colchão que me foi entregue rasgado. Após uma semana foi retirado apenas o BOX rasgado e depois de 10 dias fui avisado que não havia mais o produto para me atender. Para eu receber o crédito vocês enrolaram mais 10 dias para retirar o colchão e me dar o crédito integral. Após isso fiz nova compra e estou esperando entregar até hoje. Coloquei o fone de ouvido na compra para completar o valor e vocês novamente não tem a mercadoria para me entregar. Até quando vocês vão tratar os clientes dessa forma? Porque o fone de ouvido continua disponível no site? Que site tabajara é esse? Quero uma solução para isso hoje, caso contrário vou entrar no PROCON com uma reclamação, afinal das contas está tudo pago e vocês que estão causando problemas. Estou de saco cheio. Não há um similar para o fone de ouvido, sendo assim conforme código do consumidor, vocês são obrigados a me oferecer um produto de igual ou superior qualidade. ------------------------------------------------------------------------------------------- A técnica da notícia
  • 18. Dentre todos os gêneros jornalísticos, a notícia é o que mais usufrui da aura de imparcialidade que leva o leitor a aceitar, a priori, aquele relato dos fatos como verdadeiro e isento. É principalmente em torno dela que foi construído o mito da objetividade, responsável pela enorme acolhida e o potencial de convencimento que o jornalismo tem. Para gozar de uma aura de objetividade, para alimentar esse mito, o jornalismo estabeleceu uma espécie de acordo com o indivíduo e as coletividades, acordo esse que vem sustentando em grande parte a aceitação do jornalismo nas sociedades contemporâneas. Sua parte no trato é produzir notícias sem distorções ou mentiras em relação aos fatos concretos. Nomes, datas e eventos veiculados na notícia podem ser comprovados até mesmo pela comparação de diferentes jornais, pois todos trazem mais ou menos as mesmas informações. Para Adriano Duarte Rodrigues, há um acordo tácito entre público e veículo: Lemos a notícia acreditando que os profissionais não irão transgredir esse “acordo de cavalheiros” entre jornalistas e leitores pelo respeito dessa fronteira que torna possível a leitura de notícias enquanto índices do real.5 Por ser considerada a matéria-prima do jornalismo6 contemporâneo, a notícia é produzida segundo técnicas específicas que foram adotadas, em seu conjunto, de forma quase unânime pela grande imprensa. Essas técnicas dizem respeito à apuração e seleção dos fatos, escolha do vocabulário, ordenação de informações, tratamento das fontes etc. Mas o que é notícia? De forma simplista, pode-se dizer que é o anúncio de um fato novo, o anúncio da novidade. Nem mesmo para os jornalistas parece fácil a tarefa de defini-la de modo mais satisfatório. Alguns autores tentaram explicá-la por seu conteúdo, mas a diversidade dos temas e enfoques em milhões de jornais do mundo inteiro leva à conclusão de que qualquer fato novo, qualquer fenômeno recém-percebido pode virar notícia, desde que seja capaz de gerar interesse. Isso inclui não só eventos naturalmente considerados como importantes por serem capazes de provocar conseqüências políticas e econômicas, a exemplo de uma decisão governamental, mas também ocorrências banais, como uma briga de condôminos por causa da presença de cachorros no edifício. Para Nilson Lage, a diferença entre a notícia e outros formatos de texto não está no seu conteúdo ou na natureza das informações, mas na forma em que ela é redigida. Notícia, segundo ele7, é o fato redigido a partir do dado mais importante ou capaz de
  • 19. gerar maior interesse, seguindo- se as demais informações em ordem decrescente de importância. Para Lage, notícia é qualquer informação redigida em forma de notícia, o que equivale a dizer, do mais para o menos importante. Em seu livro mais recente, Lage8 observa que a linguagem jornalística é transnacional: as técnicas básicas servem para redatores em diversos idiomas e culturas. Tanto nos jornais russos como nos norte-americanos, franceses e brasileiros, observa-se a ordenação dos fatos por sua importância, o uso da terceira pessoa9, preferência por verbos no pretérito perfeito10 e a exclusão de adjetivos11 que não sejam absolutamente necessários, entre outras “regras”. Também é teoricamente consensual (embora não o seja na prática) que a notícia (salvo matérias especiais, assinadas, cuja apresentação gráfica identifique aquela cobertura como excepcional) deve apresentar ao leitor um relato objetivo e distante dos fatos, isento de avaliações pessoais ou julgamentos tanto explícitos quanto implícitos. Na notícia, de acordo com a técnica predominante na grande imprensa, só quem opina é a fonte e o texto precisa deixar bem claro de quem é a opinião, para que aquele juízo de valor não seja entendido pelo leitor como uma interferência indevida do repórter ou do veículo. Diz ainda a técnica que toda notícia polêmica tem dois lados e ambos precisam ser ouvidos. Se alguém faz uma denúncia, a notícia tem que registrar também o que diz o acusado; se uma pessoa reclama é preciso dar voz também a quem seria o alvo da queixa; se há uma greve, a notícia tem que incluir tanto a posição do sindicato quanto a da empresa. Caso um dos lados não queira se manifestar ou não tenha sido encontrado, essa informação tem que ser passada ao leitor a fim de certificar a isenção da matéria. A estas somam-se também técnicas específicas de apuração dos fatos, como a seleção de fontes segundo o grau de confiabilidade12, o cruzamento de informações13 e os limites técnicos e éticos para o uso de declarações em off 14, ou seja, sem que a identidade da fonte seja revelada. ---------------------------------------------------------------------------------------------------------- A coletânea de textos a seguir aborda a temática O destino dos resíduos urbanos atualmente nas cidades. Tendo-a como apoio, redija os gêneros textuais solicitados. Lixo urbano Jairo Augusto Nogueira Pinheiro Desde o surgimento dos primeiros centros urbanos, a produção de lixo se apresenta como um problema de difícil solução. A partir da Revolução Industrial, com a
  • 20. intensificação da migração dos trabalhadores do campo para a cidade, aumentaram as dificuldades referentes à produção de resíduos sólidos de diferentes naturezas (domésticos, industriais, serviços de saúde, etc.). (...) Os excedentes vão se acumulando cada vez em maior escala, colocando a questão do lixo urbano como uma das mais sérias a ser enfrentada atualmente. Com a elevação da população e, principalmente, com o estímulo dado ao consumismo, o problema tende a se agravar. (...) A grande preocupação em torno do destino do lixo se dá principalmente em face da sua característica de inesgotabilidade, comprometimento de grandes áreas e pela sua complexidade estrutural, devido à grande variedade de materiais, desde substâncias inertes a substâncias altamente tóxicas. A heterogeneidade é uma das características principais dos resíduos sólidos urbanos, que apresentam uma composição qualitativa e quantitativa muito variada. Essas variações ocorrem geralmente em função do nível de vida e educação da população, do clima, dos modos de consumo, das mudanças tecnológicas, etc. (...) A partir da Revolução Industrial, as fábricas começaram a produzir objetos de consumo em larga escala e a introduzir novas embalagens no mercado, aumentando consideravelmente o volume e a diversidade de resíduos gerados nas áreas urbanas. O homem passou a viver então a era dos descartáveis, em que a maior parte dos produtos – desde guardanapos de papel e latas de refrigerante, até computadores – são utilizados e jogados fora com enorme rapidez. Ao mesmo tempo, o crescimento acelerado das metrópoles fez com que as áreas disponíveis para colocar o lixo se tornassem escassas. A sujeira acumulada no ambiente aumentou a poluição do solo e das águas e piorou as condições de saúde das populações em todo o mundo, especialmente nas regiões menos desenvolvidas. Até hoje, no Brasil, a maior parte dos resíduos recolhidos nos centros urbanos é simplesmente jogada sem qualquer cuidado em depósitos existentes nas periferias das cidades. O lixo urbano é, portanto, um dos maiores problemas da atualidade, pois os moldes de consumo adotados pela maioria das sociedades modernas estão provocando um aumento contínuo e exagerado na quantidade de lixo produzido.
  • 21. (Texto adaptado de http://www.webartigos.com/articles/10684/1/Lixo- Urbano/pagina1.html) Destinação correta dos resíduos sólidos urbanos requer inicialmente investimentos da ordem de R$ 1,3 bilhão Mônica Pinto O Panorama dos Resíduos Sólidos no Brasil é um estudo realizado pela Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais – Abrelpe – desde 2003. Em sua segunda edição, com dados referentes ao ano de 2004, ele mostra que a questão do lixo no país demanda não só vontade política para fazer andarem os projetos, para levar ao povo procedimentos de asseio basilares. Mais que isso, todo esse processo requer investimentos vultuosos, da ordem de R$ 1,3 bilhão na fase pré-operacional e R$ 80 milhões/mês na fase operacional. (...) O Brasil tem hoje 237 cidades, em todas as regiões, com coleta seletiva de lixo. Parece pouco diante do universo de 5.560 sob a bandeira verde-amarela, mas a curva é ascendente e os números otimistas. Ainda mais se observados os estímulos à reciclagem, que invariavelmente caminham junto com a coleta seletiva. Os dados mais significativos quanto à reciclagem podem ser sintetizados a seguir: • a taxa de recuperação de papéis recicláveis evoluiu de 30,7%, em 1980, para 43,9%, em 2002; • a reciclagem de plásticos pós-consumo é da ordem de 17,5, sendo que, na Grande São Paulo, o índice é de 15,8% e, no Rio Grande do Sul, é da ordem de 27,6%; • a reciclagem de embalagens PET cresceu de 16,25%, em 1994, para 35%, em 2002; • a reciclagem das embalagens de vidro cresceu de 42% para 45% entre 2001 e 2003; • o índice de reciclagem de latas de aço para bebidas evolui de 43%, em 2001, para 75%, em 2003. Você sabe a diferença entre lixão, aterro controlado e aterro sanitário? Um lixão é uma área de disposição final de resíduos sólidos sem nenhuma preparação anterior do solo. Não tem sistema de tratamento de fluentes líquidos – o chorume (líquido preto que escorre do lixo). Este penetra pela terra levando substâncias
  • 22. contaminantes para o solo e para o lençol freático. (...) No lixão, o lixo fica exposto sem nenhum procedimento que evite as consequências ambientais e sociais negativas. Já o aterro controlado (...) é uma célula adjacente ao lixão (...) que recebeu cobertura de argila, grama (idealmente selado com manta impermeável para proteger a pilha de água de chuva), captação de chorume e gás. (...) Tem também recirculação do chorume que é coletado e levado para cima da pilha do lixo, diminuindo a sua absorção pela terra ou eventualmente outro tipo de tratamento. (...) Aterro sanitário (...) tem o terreno preparado previamente com o nivelamento de terra e com o selamento da base com argila e mantas de PVC extremamente resistente. Com essa impermeabilização do solo, o lençol freático não será contaminado pelo chorume. (...) A operação do aterro sanitário, assim como a do aterro controlado, prevê a cobertura diária do lixo, não ocorrendo a proliferação de vetores, mau cheiro e poluição visual. (Texto adaptado de http://www.lixo.com.br/index.php? option=com_content&task=view&id=144&Itemid=251) GÊNERO TEXTUAL 1 Redija uma notícia, com até 15 linhas, aos leitores do Jornal da Cidade, apresentando informações sobre o destino dos resíduos urbanos nas cidades brasileiras. GÊNERO TEXTUAL 2
  • 23. Redija, em 15 linhas, uma resposta interpretativa, que indique quais são as formas de tratamento dos resíduos urbanos no Brasil, definindo aquela(s) que melhor atenda(m) as cidades atualmente Os textos desta prova abordam assuntos que dizem respeito à nossa vida, tais como leitura, literatura, cidadania, livros, imaginação, criatividade, memórias de infância, lugares imaginários, entre outros. Os temas de redação apresentados a seguir, como é tradição no Concurso Vestibular da PUCRS, têm relação com alguns desses assuntos. Leia as propostas e as orientações com atenção, escolha uma delas e elabore seu texto. GÊNERO TEXTUAL 3 Mesmo que não sejamos adeptos da geoficção, somos capazes de criar lugares imaginários. Podemos, por exemplo, imaginar como seria a cidade, a região ou o país ideal para viver, a partir daquilo que mais valorizamos. Produza um texto narrativo, em até 30 linhas, que apresente o lugar que, para você, seria ideal para viver, defendendo os princípios que você valoriza e que orientariam a criação desse lugar. Não esqueça: seu texto poderá utilizar a primeira pessoa e apresentar trechos descritivos, mas o que deve predominar são seus argumentos em defesa das qualidades que importam para você. TEMA 2
  • 24. Crianças pequenas costumam ter imaginação muito fértil. Com o passar dos anos, geralmente vai-se reduzindo essa abertura para a fantasia, essa criatividade tão acentuada nos primeiros anos de vida, e que nos permite criar mundos imaginários, seres superpoderosos, amigos invisíveis. Entretanto, a criatividade é um importante atributo em todos os campos humanos, do pessoal ao profissional. Profissionais criativos, atualizados, abertos a inovações são pessoas que provavelmente não deixaram morrer a fantasia, direcionando seu foco e adequando-a a diferentes situações. Se você escolher este tema, deverá escrever sobre a importância da criatividade na vida profissional, apresentando exemplos ou situações em que ela seja um fator decisivo para o sucesso. TEMA 3 A escola tem sido bastante criticada por não estimular a formação de um aluno reflexivo, questionador, que perceba a importância de desenvolver referenciais que lhe possibilitem constituir-se como cidadão atuante na sociedade e no meio profissional. A partir de sua experiência de vida e do que você tem observado e aprendido, reflita: Que características deve ter a escola e tudo que nela se inclui – professores, alunos, pais, direção, recursos – para ser realmente efetiva? Para desenvolver seu texto, você pode focalizar um ou dois desses componentes do universo escolar, discorrendo sobre o seu papel e a contribuição que ele(s) pode(m) trazer para a melhoria dessa instituição.
  • 25. ------------------------------------------------------------------------------------------- Resumo Ler não é apenas passar os olhos no texto. É preciso saber tirar dele o que é mais importante, facilitando o trabalho da memória. Saber resumir as idéias expressas em um texto não é difícil. Resumir um texto é reproduzir com poucas palavras aquilo que o autor disse. Para se realizar um bom resumo, são necessárias algumas recomendações: 1. Ler todo o texto para descobrir do que se trata. 2. Reler uma ou mais vezes, sublinhando frases ou palavras importantes. Isto ajuda a identificar. 3. Distinguir os exemplos ou detalhes das idéias principais. 4. Observar as palavras que fazem a ligação entre as diferentes idéias do texto, também chamadas de conectivos: "por causa de", "assim sendo", "além do mais", "pois", "em decorrência de", "por outro lado", "da mesma forma". 5. Fazer o resumo de cada parágrafo, porque cada um encerra uma idéia diferente. 6. Ler os parágrafos resumidos e observar se há uma estrutura coerente, isto é, se todas as partes estão bem encadeadas e se formam um todo. 7. Num resumo, não se devem comentar as idéias do autor. Deve-se registrar apenas o que ele escreveu, sem usar expressões como "segundo o autor", "o autor afirmou que".
  • 26. 8. O tamanho do resumo pode variar conforme o tipo de assunto abordado. É recomendável que nunca ultrapasse vinte por cento da extensão do texto original. 9. Nos resumos de livros, não devem aparecer diálogos, descrições detalhadas, cenas ou personagens secundárias. Somente as personagens, os ambientes e as ações mais importantes devem ser registrados. RESUMO Tenho notado nos alunos universitários uma dificuldade incrível em sintetizar ideias, isto é, em fazer resumos. O fato é que esse tipo de atividade raramente é explicada na escola, quando muito solicitada, por isso os alunos chegam à faculdade sem a menor noção sobre como extrair as idéias principais de um texto. Antes de mais nada, vale dizer que um resumo nada mais é do que um texto reduzido a seus tópicos principais, sem a presença de comentários ou julgamentos. Um resumo não é uma crítica, assim como a resenha o é; o objetivo do resumo é informar sobre o que é mais importante em determinado texto. Para Platão e Fiorin (1995), resumir um texto significa condensá-lo a sua estrutura essencial sem perder de vista três elementos: 1. as partes essenciais do texto; 2. a progressão em que elas aparecem no texto; 3. a correlação entre cada uma das partes. Se o texto que estamos resumindo for do tipo narrativo, devemos prestar atenção aos elementos de causa e sequências de tempo; se for descritivo, nos aspectos visuais e espaciais; caso o texto for dissertativo, é bom cuidar da organização e construção das idéias. Existem, segundo van Dijk & Kintsch (apud FONTANA, 1995, p.89), basicamente 3 técnicas que podem ser úteis ao escrevermos uma síntese. São elas o apagamento, a generalização e a construção.
  • 27. Apagamento Como no nome já diz, o apagamento consiste em apagar, em cortar as partes que são desnecessárias. Geralmente essas partes são os adjetivos e os advérbios, ou frases equivalentes a eles. Vamos ver um exemplo. O velho jardineiro trabalhava muito bem. Ele arrumava muitos jardins diariamente. Sendo essa a frase a ser resumida através do apagamento, poderia ficar assim: O jardineiro trabalhava bem. Cortamos os adjetivo “velho” e o advérbio “muito” na primeira frase e eliminamos a segunda. Ora, se o jardineiro trabalhava bem, é porque arrumava jardins; a segunda informação é redundante. Generalização A generalização é uma estratégia que consiste em reduzir os elementos da frase através do critério semântico, ou seja, do significado. Exemplo: Pedro comeu picanha, costela, alcatra e coração no almoço. As palavras em destaque são carnes. Então, o resumo da frase fica: Pedro comeu carne no almoço. Construção A técnica da construção consiste em substituir uma sequência de fatos ou proposições por uma única, que possa ser presumida a partir delas, também baseando-se no significado. Exemplo: Maria comprou farinha, ovos e leite. Foi para casa, ligou a batedeira, misturou os ingredientes e colocou-os no forno.
  • 28. Todas essas ações praticadas por Maria nos remetem a uma síntese: Maria fez um bolo. Além dessas três, ainda existe uma quarta dica que pode ajudar muito a resumir um texto. É a técnica de sublinhar. Enquanto você estiver lendo o texto, sublinhe as palavras ou frases que fazem mais sentido, que expressam ideias que tenham mais importância. Depois, junte seus sublinhados, formando um texto a partir deles e aplique as três primeiras técnicas. Fontes: Prática Textual: atividades de leitura e escrita / Vanilda Salton Köche, Odete Benetti Boff, Cinara Ferreira Pavani. — Petrópolis, RJ: Vozes, 2006. Definindo conceitos – o que é um conto? Conto é uma narrativa curta e que se diferencia dos romances não apenas pelo tamanho, mas também pela sua estrutura: há poucas personagens, nunca analisadas profundamente; há acontecimentos breves, sem grandes complicações de enredo; e há apenas um clímax, no qual a tensão da história atinge seu auge. No conto, tempo e espaço são elementos secundários, podendo até não existir. Além disso, os próprios acontecimentos podem ser dispensáveis. Há, por exemplo, contos de Machado de Assis ou Tchekov nos quais, simplesmente, não tem nada que acontece. O essencial está no ar, na atmosfera, na forma de narrar, no estilo. • Leia uma definição BEM mais extensa e detalhada de conto, na Wikipedia. Grandes escritores de contos do século XIX O século XIX foi o que teve o maior número de mestres na arte de escrever contos. Foi nesse período que surgiram os contos clássicos mais lidos até hoje, como O Gato Preto, de Allan Poe; O Alienista, de Machado de Assis; Bola de Sebo, de Guy de Maupassant; entre outros.
  • 29. Fases Há várias fases do conto. Tais fases nada têm a ver com aquelas estudadas por Vladimir Propp no livro "A morfologia do conto maravilhoso", no qual, para descrever o conto, Propp o "desmonta" e o "classifica" em unidades estruturais – constantes, variantes, sistemas, fontes, funções, assuntos, etc. Além disso, ele fala de uma "primeira fase" (religiosa) e uma "segunda fase" (da história do conto). Aqui, quando falamos em fases, temos a intenção de apenas darmos um "passeio" pela linha evolutiva do gênero. [editar] Fase oral Logicamente a primeira fase é a "oral", a qual não é impossivel precisar o seu início: o conto se origina num tempo em que nem sequer existia a escrita; as histórias eram narradas oralmente ao redor das fogueiras das habitações dos povos primitivos – geralmente à noite. Por isso o suspense, o fantástico, que o caracterizou [editar] Fase escrita A primeira fase escrita é provavelmente aquela em que os egípcios registraram O livro do mágico (cerca de 4000 a.C.). Daí vamos passando pela Bíblia – veja-se como a história de Caim e Abel (2000 a.C.) tem a precisa estrutura de um conto. O antigo e novo testamento trazem muitas outras histórias com a estrutura do conto, como os episódios de José e seus irmãos, de Sansão, de Ruth, de Suzana, de Judith, Salomé; as parábolas: o Bom Samaritano, o Filho Pródigo, a Figueira Estéril, a do Semeador, entre outras. Geoffrey Chaucer.
  • 30. No século VI a.C. temos a Ilíada e a Odisséia, de Homero e na literatura Hindu há o Pantchatantra (século II a.C?). De um modo geral, Luciano de Samosata (125-192) é considerado o primeiro grande nome da história do conto. Ele escreveu "O cínico", "O asno" etc. Da mesma época é Lucio Apuleyo (125-180), que escreveu "O asno de ouro". Outro nome importante é o de Caio Petrônio (século I), autor de Satiricon, livro que continua sendo reeditado até hoje. As "Mil e uma Noites" aparecem na Pérsia no século X da era cristã. A segunda fase escrita começa por volta do século XIV, quando registram-se as primeiras preocupações estéticas. Giovanni Boccaccio (1313-1375) aparece com seu Decameron, que se tornou um clássico e lançou as bases do conto tal como o conhecemos hoje, além de ter influenciado, Charles Perrault, La Fontaine, entre outros. Miguel de Cervantes (1547-1616) escreve as "Novelas Exemplares". Francisco Gómez de Quevedo y Villegas (1580-1645) traz "Os sonhos", satirizando a sociedade da época. Os "Contos da Cantuária", de Chaucer (1340?-1400) são publicados por volta de 1700. Perrault (1628-1703) publica "O barba azul", "O gato de botas", "Cinderela", "O soldadinho de chumbo" etc. Jean de La Fontaine (1621-1695) é o contador de fábulas por excelência: "A cigarra e a formiga", "A tartaruga e a lebre", "Aquelas Bolas Cabeludas", "A raposa e as uvas" etc. No século XVIII o mestre foi Voltairetaynata (1694-1778). Ele escreveu obras importantes como Zadig e Cândido. Chegando ao século XIX o conto "decola" através da imprensa escrita, toma força e se moderniza. Washington Irving (1783-1859) é o primeiro contista norte-americano de importância. Os irmãos Grimm (Jacob, 1785-1863 e Wilhelm, 1786-1859) publicam "Branca de Neve", "Rapunzel", "O Gato de Botas", "A Bela Adormecida", "O Pequeno Polegar", "Chapeuzinho Vermelho" etc. Os Grimm recontam contos que já haviam sido contados por Perrault, por exemplo. Eles foram tão importantes para o gênero que André Jolles diz que "o conto só adotou verdadeiramente o sentido de forma literária determinada, no momento em que os irmãos Grimm deram a uma coletânea de narrativas o título de Contos para crianças e famílias", ("O conto" em formas simples). O século XIX foi pródigo em mestres: Nathaniel Hawthorne (1804-1864), Poe, Maupassant (1850-1893), Flaubert (1821-1880), Leo Tolstoy (1828-1910), Mary Shelley (1797–1851), Tchekhov, Machado de Assis (1839-1908), Conan Doyle (1859- 1930), Balzac, Stendhal, Eça de Queirós, Aluízio Azevedo.
  • 31. Não podemos esquecer de nomes como: Hoffman (um dos pais do conto fantástico, que viria influenciar Poe, Machado de Assis, Álvares de Azevedo e outros), Sade, Adalbert von Chamisso, Nerval, Gogol, Dickens, Turguenev, Stevenson, Kipling, entre outros. [editar] Críticas Mesmo com tanta história para "contar", o conto continua sendo alvo de preconceitos, chegando ao ponto de algumas editoras terem como política não publicar o gênero. É uma questão de mercado? O conto não vende? E, se não vende, quais os motivos? Sua excessiva banalização através de revistas e jornais? Ou a falsa idéia de que seria uma literatura fácil, secundária, menor? Veja o que pensa Mempo Giardinelli: "Sustento sempre que o conto é o gênero literário mais moderno e que maior vitalidade possui, pela simples razão que as pessoas jamais deixarão de contar o que se passa, nem de interessar-se pelo que lhes contam bem contado". "Comecei escrevendo contos, mas me vi forçado a mudar de rumo por pedidos de editores que queriam romances. Mas, cada vez que me vejo livre dessas pressões editoriais, volto ao conto… porque, em literatura, [carece de fontes?] o que me deixa realmente satisfeito é escrever um conto" (René Avilés Fabila em Assim se escreve um conto). Maupassant dizia que escrever contos era mais difícil do que escrever romances. Ele escreveu cerca de 300 contos e, segundo se diz, ficou rico com eles. Machado de Assis também não achava fácil escrever contos: "É gênero difícil, a despeito de sua aparente facilidade", (citado por Nádia Battella Gotlib em Teoria do Conto). Faulkner (1897-1962) pensava da mesma maneira: "…quando seriamente explorada, a história curta é a mais difícil e a mais disciplinada forma de escrever prosa… Num romance, pode o escritor ser mais descuidado e deixar escórias e superfluidades, que seriam descartáveis. Mas num conto… quase todas as palavras devem estar em seus lugares exatos", (citado por R. Magalhães Júnior em A arte do conto). Numa entrevista ao jornal Folha de S. Paulo (de 4 de fevereiro de 1996, página 5-11), Moacyr Scliar (1937), mais conhecido como romancista do que como contista, revela sua preferência pelo conto: "Eu valorizo mais o conto como forma literária. Em termos de criação, o conto exige muito mais do que o romance… Eu me lembro de vários romances em que pulei pedaços, trechos muito chatos. Já o conto não tem meio termo, ou é bom ou é ruim. É um desafio fantástico. As limitações do conto estão associadas ao fato de ser um gênero curto, que as pessoas ligam a uma idéia de facilidade; é por isso
  • 32. que todo escritor começa contista". "Penso que, não por casualidade, a nossa época (anos 80) é a época do conto, do romance breve", diz Italo Calvino (1923-1985) em Por que ler os clássicos. Num artigo sobre Borges (1899-1986), Calvino disse que lendo Borges veio-lhe muitas vezes a tentação de formular uma poética do escrever breve, louvando suas vantagens em relação ao escrever longo. "A última grande invenção de um gênero literário a que assistimos foi levada a efeito por um mestre da escrita breve, Jorge Luis Borges, que se inventou a si mesmo como narrador, um ovo de Colombo que lhe permitiu superar o bloqueio que lhe impedia, por volta dos 40 anos, passar da prosa ensaística à prosa narrativa." (Italo Calvino, Seis propostas para o próximo milênio). "No decurso de uma vida devotada principalmente aos livros, tenho lido poucos romances e, na maioria dos casos, apenas o senso do dever me deu forças para abrir caminho até a última página. Ao mesmo tempo, sempre fui um leitor e releitor de contos… A impressão de que grandes romances como Dom Quixote e Huckleberry Finn são virtualmente amorfos, serviu para reforçar meu gosto pela forma do conto, cujos elementos indispensáveis são economia e um começo, meio e fim claramente determinados. Como escritor, todavia, pensei durante anos que o conto estava acima de meus poderes e foi só depois de uma longa e indireta série de tímidas experiências narrativas que tomei assento para escrever estórias propriamente ditas." (Jorge Luis Borges, Elogio da sombra/Perfis - Um ensaio autobiográfico). [editar] Influência Está evidente a identificação do conto com a "falta" de tempo dos habitantes dos grandes centros urbanos, com a industrialização. Afinal, foi graças à imprensa escrita, que o gênero se popularizou no Brasil, no século XIX: os grandes jornais sempre davam espaço ao conto. Antônio Hohlfeldt em "Conto brasileiro contemporâneo" diz que "pode-se verificar que, na evolução do conto, há uma relação entre a revolução tecnológica e a técnica do conto". Na introdução de Maravilhas do conto universal, Edgard Cavalheiro diz: "A autonomia do conto, seu êxito social, o experimentalismo exercido sobre ele, deram ao gênero grande realce na literatura, destaque esse favorecido pela facilidade de circulação em diferentes órgãos da imprensa periódica. Creio que o sucesso do conto nos últimos tempos (anos 60 e 70) deve ser atribuído, em parte, à expansão da imprensa".
  • 33. Além de criar o mercado de consumo e a necessidade de alfabetização em massa, a industrialização também criou a necessidade de informações sintéticas. No século passado essas informações vinham do jornalismo e do livro; neste século vêm do cinema, rádio e televisão. Assim, no seu início, o conto pegou uma carona na imprensa escrita; agora não tem mais esse espaço. Será que o conto se adaptará às novas tecnologias? TV, Internet etc? De qualquer forma, no Brasil, o conto surgiu mesmo foi através da imprensa em meados do século XIX. Por isso, naquela época, quase todos os contistas eram jornalistas. E não foi só no Brasil que isso ocorreu. Essa tecnologia é, também, em parte, "culpada" pelo preconceito em relação ao gênero. "A linha normativa gera uma série de manuais que prescrevem como escrever contos. E a revista popular propicia uma comercialização gradativa do gênero. Tais fatos são tidos como responsáveis pela degradação técnica e pela formação de estereótipos de contos que, na era industrializada do capitalismo americano, passa a ser arte padronizada, impessoal, uniformizada, de produção veloz e barata. Tais preocupações provocam, por sua vez, um movimento de diferenciação entre o conto comercial e o conto literário. Daí talvez tenha surgido o preconceito contra o conto…" (Nádia Battella Gotlib, op. cit.). Esse fenômeno também foi notado no Brasil no início dos anos 70. As influências exercidas pela imprensa escrita, revistas, TVs, levaram o conto a um ponto de praticamente perder sua "identidade": sendo "quase tudo", passou a ser quase "nada". Na década de 20 temos os modernistas e o conto agora é essencialmente urbano/suburbano. Eles propuseram a renovação das formas, a ruptura com a linguagem tradicional, a renovação dos meios de expressão etc. Procura-se evitar rebuscamentos na linguagem, a narrativa é mais objetiva, a frase torna-se mais curta e a comunicação mais breve. Nesta mesma linha, Poe, que também foi o primeiro teórico do gênero, diz: "Temos necessidade de uma literatura curta, concentrada, penetrante, concisa, ao invés de extensa, verbosa, pormenorizada… É um sinal dos tempos… A indicação de uma época na qual o homem é forçado a escolher o curto, o condensado, o resumido, em lugar do volumoso" (citado por Edgard Cavalheiro na introdução de Maravilhas do conto universal). [editar] Extensão
  • 34. Segundo outras definições, o conto não deve ocupar mais de 7.500 palavras. Atualmente entende-se que pode variar entre um mínimo de 1.000 e um máximo de 20.000 palavras. Mas toda e qualquer limitação de um mínimo ou máximo de palavras é descartada e ignorada por escritores e leitores. O romance "Vidas secas" (de Graciliano Ramos), "A festa" (de Ivan Ângelo) e alguns romances de Bernardo Guimarães (1825-1884) e Autran Dourado, podem ser lidos como uma série de contos. Também "Memórias Póstumas de Brás Cubas" e "Quincas Borba" (de Machado de Assis), "O Processo" (de Franz Kafka), são constituídos por pequenos contos. São os chamados "romances desmontáveis". Assis Brasil vai mais longe ao afirmar que "Grande Sertão: veredas" (de Guimarães Rosa), é um conto alongado, pois o escritor tê-lo-ia como narrativa curta. O "Grande Sertão", como sabemos, tem mais de 500 páginas. Todas essas colocações demonstram como é difícil definir o conto; mesmo assim, quem o conhece, não o confunde com outro gênero. Neste século podemos incluir entre os grandes: O. Henry, Anatole France, Virginia Woolf, Katherine Mansfield, Kafka, James Joyce, William Faulkner, Ernest Hemingway, Máximo Gorki, Mário de Andrade, Monteiro Lobato, Aníbal Machado, Alcântara Machado, Guimarães Rosa,Isaac Bashevis Singer,Nelson Rodrigues, Dalton Trevisan, Rubem Fonseca, Osman Lins, Clarice Lispector, Jorge Luís Borges, Lima Barreto. Outros nomes importantes do conto no Brasil: Julieta Godoy Ladeira, Otto Lara Resende, Manoel Lobato, Sérgio Sant’Anna, Moreira Campos, Ricardo Ramos, Edilberto Coutinho, Breno Accioly, Murilo Rubião, Moacyr Scliar, Péricles Prade, Guido Wilmar Sassi, Samuel Rawet, Domingos Pellegrini Jr, José J. Veiga, Luiz Vilela, Sergio Faraco, Victor Giudice, Lygia Fagundes Telles, entre outros. Em Portugal destaca-se, entre outros, Eça de Queirós. Para um escritor que faz da sua escrita, arte, a trama/o enredo não têm muita importância; o que mais importa é como (forma) contar e não o que (conteúdo) contar. Borges dizia que contamos sempre a mesma fábula. Julio Cortázar (1914-1984) diz que não há temas bons nem temas ruins; há somente um tratamento bom ou ruim para determinado tema. ("Alguns aspectos do conto", in Valise de cronópio). Claro que há que ter cuidado com o excesso de formalismos para não virar personagem daquela piada: um escritor passou a vida toda trabalhando as formas para criar um estilo perfeito para impressionar o mundo; quando conseguiu alcançá-lo, descobriu que não tinha nada para dizer com ele.
  • 35. [editar] Conteúdo e forma Forma: expressão ou linguagem mais os elementos concretos e estruturados, como as palavras e as frases. Conteúdo: é imaterial (fixado e carregado pela forma); são as personagens, suas ações, a história (ver Céu, inferno, Alfredo Bosi). Há contos de Machado de Assis, de Katherine Mansfield, de José J. Veiga, de Tchecov, de Clarice Lispector, por exemplo, que não são "contáveis", não há "nada" acontecendo. O essencial está no "ar", na atmosfera, na forma de narrar, no "estilo". No livro "Que é a literatura?" de Jean-Paul Sartre diz que "ninguém é escritor por haver decidido dizer certas coisas, mas por haver decidido dizê-las de determinado modo. E o "estilo", decerto, é o que determina o valor da prosa". [editar] Necessidades básicas O conto necessita de tensão, ritmo, o imprevisto dentro dos parâmetros previstos, unidade, compactação, concisão, conflito, início, meio e fim; o passado e o futuro têm significado menor. O "flashback" pode acontecer, mas só se absolutamente necessário, mesmo assim da forma mais curta possível. [editar] Final enigmático O final enigmático prevaleceu até Maupassant (fim do século XIX) e era muito importante, pois trazia o desenlace surpreendente (o fechamento com "chave de ouro", como se dizia). Hoje em dia tem pouca importância; alguns críticos e escritores acham- no perfeitamente dispensável, sinônimo de anacronismo. Mesmo assim não há como negar que o final no conto é sempre mais carregado de tensão do que no romance ou na novela e que um bom final é fundamental no gênero. "Eu diria que o que opera no conto desde o começo é a noção de fim. Tudo chama, tudo convoca a um final" (Antonio Skármeta, Assim se escreve um conto). Neste gênero, como afirmou Tchecov, é melhor não dizer o suficiente do que dizer demais. Para não dizer demais é melhor, então, "sugerir" como se tivesse de haver um certo "silêncio" entremeando o texto, sustentando a intriga, mantendo a tensão. Não é o que acontece no conto "A missa do galo", de Machado de Assis? Especialmente nos diálogos; não exatamente pelo que estes dizem, mas pelo que deixam de dizer. Ricardo Piglia, comentando alguns contos de Hemingway (1898-1961), diz que o mais
  • 36. importante nunca se conta: "O conto se constrói para fazer aparecer artificialmente algo que estava oculto. Reproduz a busca sempre renovada de uma experiência única que nos permite ver, sob a superfície opaca da vida, uma verdade secreta" (O laboratório do escritor). Piglia diz que conta uma história como se tivesse contando outra. Como se o escritor estivesse narrando uma história "visível", disfarçando, escondendo uma história secreta. "Narrar é como jogar pôquer: todo segredo consiste em fingir que se mente quando se está dizendo a verdade." (Prisão perpétua). É como se o contista pegasse na mão do leitor é desse a entender que o levaria para um lugar, mas Rebeca , no fim, leva- o para outro. Talvez por isso, D.H. Lawrence tenha dito que o leitor deve confiar no conto, não no contista. O contista é o terrorista que se finge de diplomata, como diz Alfredo Bosi sobre Machado de Assis (op. cit.). Segundo Cristina Perí-Rossi, o escritor contemporâneo de contos não narra somente pelo prazer de encadear fatos de uma maneira mais ou menos casual, senão para revelar o que há por trás deles (citada por Mempo Giardinelli, op. cit). Desse ponto de vista a surpresa se produz quando, no fim, a história secreta vem à superfície. No conto a trama é linear, objetiva, pois o conto, ao começar, já está quase no fim e é preciso que o leitor "veja" claramente os acontecimentos. Se no romance o espaço/tempo é móvel, no conto a linearidade é a sua forma narrativa por excelência. "A intriga completa consiste na passagem de um equilíbrio a outro. A narrativa ideal, a meu ver, começa por uma situação estável que será perturbada por alguma força, resultando num desequilíbrio. Aí entra em ação outra força, inversa, restabelecendo o equilíbrio; sendo este equilíbrio parecido com o primeiro, mas nunca idêntico." (Gom Jabbar em Hardcore, baseado em Tzvetan Todorov). Em outras palavras: no geral o conto "se apresenta" com "uma ordem". O conflito traz uma "desordem" e a solução desse conflito (favorável ou não) faz retornar à "ordem" – agora com ganhos e perdas, portanto essa ordem difere da primeira. "O conto é um problema e uma solução", diz Enrique Aderson Imbert. [editar] Diálogos Os diálogos são de suma importância; sem eles não há discórdia, conflito, fundamentais ao gênero. A melhor forma de se informar é através dos diálogos; mesmo no conto em que o ingrediente narrativo seja importante. "A função do diálogo é expor." (Henry James, 1843-1916).
  • 37. Em alguns escritores o diálogo é uma ferramenta absolutamente indispensável. Caio Porfírio Carneiro, por exemplo, chega ao ponto de escrever contos compostos apenas por diálogos, sem que, em nenhum instante, apareça um narrador. Em 172 páginas de Trapiá, um clássico da década de 60, há apenas seis páginas sem diálogos. Vejamos os tipos de diálogos: 1. Direto: (discurso direto) as personagens conversam entre si; usam-se os travessões. Além de ser o mais conhecido é, também, predominante no conto. 2. Indireto: (discurso indireto) quando o escritor resume a fala da personagem em forma narrativa, sem destacá-la. Vamos dizer que a personagem conta como aconteceu o diálogo, quase que reproduzindo-o. Essas duas primeiras formas podem ser observadas no conto "A Missa do Galo", Machado de Assis. 3. Indireto livre (discurso indireto livre) é a fusão entre autor e personagem (primeira e terceira pessoa da narrativa); o narrador narra, mas no meio da narrativa surgem diálogos indiretos da personagem como que complementando o que disse o narrador. Veja-se o caso de "Vidas secas": em certas passagens não sabemos exatamente quem fala – é o narrador (terceira pessoa) ou a consciência de Fabiano (primeira pessoa)? Este tipo de discurso permite expor os pensamentos da personagem sem que o narrador perca seu poder de mediador. 1. Monólogo interior (ou fluxo de consciência) é o que se passa "dentro" do mundo psíquico da personagem; "falando" consigo mesma; veja algumas passagens de Perto do coração selvagem, de Clarice Lispector. O livro A canção dos loureiros (1887), de Édouard Dujardin é o precursor moderno deste tipo de discurso da personagem. O Lazarillo de Tormes, de autor desconhecido, é considerado o verdadeiro precursor deste tipo de discurso. Em Ulisses, Joyce (inspirado em Dujardin) radicalizou no monólogo interior. [editar] Focos narrativos 1. Primeira pessoa: Personagem principal conta sua história; este narrador limita- se ao saber de si próprio, fala de sua própria vivência. Esta é uma narrativa típica do romance epistolar (século XVIII). 2. Terceira pessoa: O texto é narrado em 3ª pessoa e neste caso podemos ter:
  • 38. A) Narrador observador: o narrador limita-se a descrever o que está acontecendo, "falando" do exterior, não nos colocando dentro da cabeça da personagem; assim não sabemos suas emoções, idéias, pensamentos. O narrador apenas descreve o que vê, no mais, especula. B) Narrador onisciente conta a história; o narrador tudo sabe sobre a vida das personagens, sobre seus destinos, idéias, pensamentos. Como se narrasse de dentro da cabeça delas. Relato de um Miserável 1 Wanderley. · Goiânia, GO 23/4/2008 · 177 · 3 Me chamo Jahari e pretendo relatar aqui a vocês um pouco da minha deplorável vida, ou existência. Meus pais morreram em uma invasão à aldeia em que vivíamos quando eu tinha apenas 6 anos. Tenho infelizes lembranças daquele acontecido. Lembro-me dos meus pais gritando, berrando, urrando, suplicando por piedade, fato que se sucedera por um estrondo de tiro. Eu ficara ali, estático, naquele cubículo onde meus pais haviam me aconselhado esconder. Observara àquilo com um ar intrigante e inquieto, tentando entender o que estava acontecendo, pois naquela época não tinha maturidade o suficiente para entender o que, de fato, significava a morte. Não tinha maturidade o suficiente para compreender que, a partir daquele momento, nunca mais os veria novamente.
  • 39. Aqueles gritos atormentam minha mente a todo instante até os dias atuais. Hoje completo 14 anos. Mas e daí? Quem se importa? Quem ao menos sabe disso? Bem queria ganhar um pão de presente. Mas não tenho amigos a quem posso confiar tal pedido. E mesmo se tivesse, não creio que se dariam ao trabalho de me arrumar algo tão valioso. Até tento evitar de me lembrar de comida, ainda mais hoje que estou faminto, pois, sempre que o faço, meus olhos se enchem d'água e minha boca seca automaticamente dá-se lugar a uma acelerada salivação. Faz pouco mais de quatro dias que não como nada. Juro que, neste instante, seria capaz de comer até carne humana. Além da fome, o cansaço também me domina, pois há muito tempo sigo essa minha caminhada sem rumo sob o efeito desse maldito sol escaldante. Paro para descansar sempre quando a noite chega. Deito no chão e tento dormir, mas meu estômago ronca tão alto que não me permite fazê-lo muito bem. A jornada prossegue. O forte bodum que exalava do meu corpo começa a ficar insuportável até mesmo para mim. Não consigo nem me lembrar de quando fora a última vez que tomara um banho decente. A água do meu cantil improvisado está acabando. A última vez que o reabastecera tinha sido na última aldeia que encontrara há exatos três dias. Infelizmente, a água, não tão pura, fora a única coisa que puderam me oferecer. Aquele povo, assim como eu, era completamente miserável. Optei por continuar minha jornada em busca de um lugar melhor. Pode tudo isso até soar exagero de minha parte, mas meu estado de pobreza é realmente crítico, lamentável, e, sinceramente, não sei até quando conseguirei sobreviver. Minha desgraçada realidade se resume em uma nua e crua miséria. Vivo apenas alimentado por minhas expectativas e esperanças. Não consigo imaginar a catástrofe que fizera para ter sido tão castigado assim. Não consigo achar um porquê para tudo isso estar acontecendo comigo. Não consigo entender por que EU fora escolhido e predestinado a sofrer tanto durante TODA minha existência. Me pergunto a todo momento: Por que EU? E, pode nem todo mundo concordar, mas tudo isso sempre me põe a refletir, questionar e duvidar sobre a existência de um Deus.
  • 40. São várias perguntas sobre minha existência em si que definitivamente me intrigam. Minha mente está sempre em constante trabalho, apesar de meu lastimável estado físico não deixar transparecer isso. Às vezes prefiria não ter nem nascido. Já pensei várias vezes em, simplesmente, desistir de continuar lutando, mas, apesar de tudo, tenho bastante fé de que, em breve, encontrarei uma pequena aldeia que tenha condição de me acolher, de me fornecer qualquer coisa conceituada comestível. Apesar de toda miséria, fome e carência de lar, família e amigos, ainda vivo, mas o faço com a plena consciência de que meu grande objetivo vital é, simplesmente... sobreviver. Espero que, no mundo afora, quem tem a oportunidade de fazer isso intensamente, que o faça! E que se alegre por ter tudo que tem, porque existem pessoas, assim como eu, que não têm absolutamente nada. Mais do que uma dica, isso é um apelo. A SITUAÇÃO COMUNICATIVA DO GÊNERO RELATO DE EXPERIÊNCIA DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL Jocília Rodrigues da Silva (UFBP) Poliana Dayse Vasconcelos Leitão (UFPB) 1. INTRODUÇÃO Para transformar as atuais práticas de ensino-aprendizagem da língua materna faz- se necessário adotar a noção de gênero, visto que os gêneros textuais articulam as práticas sociais e os objetos escolares, constituindo-se em instrumentos privilegiados para o desenvolvimento das capacidades necessárias à compreensão/ produção oral e escrita dos mais variados textos existentes, pois, como afirmam muitos estudiosos, aprender a falar, ler e escrever é, principalmente, aprender a compreender e produzir enunciados através de gêneros. Entretanto, em virtude de o trabalho com esta noção ser ainda recente e estar se expandindo, verifica-se a necessidade de pesquisas voltadas para a descrição dos gêneros e para a intervenção, com vistas ao desenvolvimento das habilidades para apropriação de gêneros. Tendo em vista tal necessidade, pretendemos esboçar um modelo escolar de relato de experiência, que favoreça, sobretudo, a formação de professores. Nesse sentido, a pesquisa sobre a descrição dos gêneros se torna imprescindível e anterior a qualquer
  • 41. projeto de intervenção didática, pois segundo Schneuwly & Dolz (1997), o gênero trabalhado como objeto de ensino-aprendizagem é sempre uma variação do gênero de referência. Com essa visão, o presente trabalho tem por objetivo reunir elementos para a descrição do gênero relato de experiência, observando o nível da situação de ação de linguagem, isto é, a situação comunicativa em que os textos pertencentes a esse gênero são produzidos. O corpus deste trabalho está constituído de 15 relatos de experiência, sendo 05 relatos da revista Leitura: Teoria e Prática, 05 da revista Psicopedagogia e 05 da revista Linha D’água. 2. SITUANDO O RELATO DE EXPERIÊNCIA NOS AGRUPAMENTOS DOS GÊNEROS De acordo Schneuwly (1998:04), o termo gênero, advindo da retórica e da literatura, ganhou extensão na obra de Bakhtin (1979), que define gênero como sendo tipos relativamente estáveis de enunciados elaborados em cada esfera de troca (lugar social dos interlocutores), os quais são caracterizados pelo conteúdo temático, estilo e construção composicional, e escolhidos em função de uma situação definida por alguns parâmetros (finalidade, destinatários, conteúdo). Ou seja, os gêneros do discurso seriam formas de dizer sócio-historicamente cristalizadas provenientes das necessidades produzidas em diferentes lugares sociais da comunicação humana. Como afirmam Santos & Barbosa (1999: 04), a noção de gênero considera, além dos elementos da ordem do social e do histórico, aspectos estruturais do texto, situação de produção e forma de dizer. Esta noção de gênero vem sendo adotada para o processo de ensino/ aprendizagem de língua materna, favorecendo uma melhor produção e compreensão de textos orais e escritos, através da seleção que oriente as propostas curriculares, definindo princípios, delimitando objetivos, conteúdos e atividades (Santos & Barbosa, op.cit. p. 05). Dolz & Schneuwly (1996), vislumbrando o processo ensino/aprendizagem, propuseram cinco agrupamentos de gêneros com base em três critérios: domínio social da comunicação a que pertencem; capacidades de linguagem envolvidas na produção e compreensão desses gêneros e sua tipologia geral. São eles: a) Agrupamento da ordem do narrar – envolve os gêneros cujo domínio é o da cultura literária ficcional, marcados pela manifestação estética e caracterizados pela mimesis da ação através da criação, da intriga no domínio do verossímil.. Exemplos: contos de fada, fábulas, lendas, narrativas de aventura, de enigma,
  • 42. ficção científica, crônica literária, romance, entre outros. b) Agrupamento da ordem do relatar – comporta os gêneros pertencentes ao domínio social da memorização e documentação das experiências humanas, situando-as no tempo. Exemplos: relato de experiências vividas, diários íntimos, diários de viagem, notícias, reportagens, crônicas jornalísticas, relatos históricos, biografias, autobiografias, testemunhos etc. c) Agrupamento da ordem do argumentar – inclui os gêneros relacionados ao domínio social da discussão de assuntos sociais controversos, objetivando um entendimento e um posicionamento frente a eles, exigindo para tanto, sustentação, refutação e negociação de tomadas de posição. Exemplos: textos de opinião, diálogos argumentativos, cartas de leitor, cartas de reclamação, cartas de solicitação, debates regrados, editoriais, requerimentos, ensaios argumentativos, resenhas críticas, artigos assinados, entre outros. d) Agrupamento da ordem do expor – engloba os gêneros relacionados ao domínio social de transmissão e construção de saberes, visando de forma sistemática possibilitar a apreensão dos conhecimentos científicos e afins, numa perspectiva menos assertiva e mais interpretativa, exigindo a apresentação textual de diferentes formas dos saberes. Exemplos: textos expositivos, conferências, seminários, resenha, artigos, tomadas de notas, resumos de textos expositivos e explicativos, relatos de experiência científica. e) Agrupamento da ordem do descrever ações – reúne os gêneros cujo domínio social é o das instruções e prescrições, revisando a regulação ou normatização de comportamentos. Exemplos: receitas, instruções de uso, instruções de montagens, bulas, regulamentos, regimentos, estatutos, constituições, regras de jogo. Neste enfoque, o relato de experiência de atuação profissional é entendido com um gênero de texto que pertence ao agrupamento dos gêneros da ordem do expor, cujo domínio social de comunicação é o da transmissão e construção de saberes. Nesse sentido, quando informado teoricamente, o relato de experiência permite a apreensão de conteúdos numa perspectiva que envolve a interpretação ao lado da asserção, constituindo-se num instrumento relevante para registrar a produção do conhecimento sobre a construção do processo de ensino-aprendizagem em sala de aula. 2. 1. Situação de ação de linguagem (ou comunicativa). De acordo com Schneuwly (1998, apud Machado, 1999, p. 97), toda produção
  • 43. textual tem como base de orientação uma situação de ação de linguagem, que envolve representações do produtor sobre aspectos dos mundos físico e sócio-subjetivo. Essas representações se manifestam em duas direções: a do contexto de produção, constituído por oito tipos de representações: local, momento de produção, emissor, receptor, instituição onde se dá a interação, o papel social representado pelo emissor e receptor, objetivos que o enunciador quer atingir sobre o destinatário; e a do conteúdo temático, aquilo que é ou pode ser dito, através do gênero, marcado por uma construção composicional, estilo. Considerando esta perspectiva, tentaremos descrever como se manifestam as representações do contexto de produção em relatos de experiência de atuação profissional, publicados em periódicos. A observarmos os relatos de experiência de atuação profissional em três diferentes periódicos de divulgação científica, verificamos que o primeiro agente a influenciar a produção desse gênero é a instituição onde se dá a interação, representada pela Associação de Leitura do Brasil (ALB) encarregada da publicação da Revista Leitura: Teoria e Prática; Associação Brasileira de Psicopedagogia (ABP) responsável pela publicação da Revista Psicopedagogia, e a Associação de Professores de Língua e Literatura (APLL) que publica a Revista Linha D’água. É interessante ressaltar que o fato de as revistas estarem vinculadas a associações revela que elas têm um posicionamento sócio-histórico e ideológico determinado e que seus informantes, bem como os assinantes aceitam esse posicionamento. Outro aspecto importante é que todas as revistas analisadas afirmam que os artigos assinados são de responsabilidade dos autores, mas se reservam o direito de publicar ou não as matérias enviadas. A partir, desta afirmação constata-se que o conselho editorial das revistas mantém controle sobre o que é publicado e, num tom sugestivo, direciona a leitura do leitor, uma vez que acredita conhecer o perfil de seus leitores-modelo, dessa forma, o como de ação adotado no e pelo discurso se constrói no conteúdo previsto. Levando em conta os leitores-modelo, constatamos nos periódicos analisados, três tipos: 1) Na revista Leitura: Teoria e Prática, segundo Silva (1998), seu destinatário é um professor-leitor em formação que assume a postura reflexiva e crítica diante da leitura1[1]; 2) Na revista Linha D’água, o leitor é um professor de Língua e Literatura em nível de 1º e 2º graus “interessado, à procura de questões que possam levá-lo a rever sua prática ou um professor cansado e explorado, querendo respostas, caminhos claros 1
  • 44. que facilitem sua tarefa tão pouco satisfatória quanto aos resultados educacionais e financeiros. Em um ou outro caso, é um professor que ainda não perdeu o entusiasmo e se interessa por publicações de sua área e procurando respostas prontas questiona as que obteve e ao encontrar novas questões assume-as com rigor de certeza” (Mariano, 1988); 3) Na revista Psicopedagogia, os destinatários são profissionais atuantes na área de Psicopedagogia e áreas afins (Fonoaudiologia, Psicologia, Pedagogia, Serviço Social), preocupados em definir as abordagens preventivas e terapêuticas de Psicopedagogia. (Noffs, 1998). Percebemos que ao controlar os artigos a serem publicados, a instituição através do conselho editorial também seleciona os papéis de produtor, que se assemelham ao perfil de leitor-modelo esperado pela revista. Desse modo, vamos ter como emissor da revista Leitura: Teoria e Prática, alunos e/ou professores envolvidos com atividades em nível de 3º grau ou pós-graduação e bibliotecários, preocupados com o ensino- aprendizagem de leitura nos seus aspectos teóricos e práticos. Na revista Linha d’água, o emissor está representado por professores do 3º grau ou mestrandos, interessados em divulgar seus trabalhos e contribuir para a melhoria das práticas de leitura e produção de textos no ensino de 1º e 2º graus. Na revista Psicopedagogia, o emissor é um profissional graduado em Pedagogia, Fonoaudiologia, Psicologia, Serviço Social e área afins, com pós-graduação em nível de mestrado e/ou doutorado em Psicopedagogia, preocupados com os problemas de aprendizagem escolar. Tendo em vista os perfis de leitores e produtores, podemos constatar que as revistas Leitura: Teoria e Prática e Linha d’água têm como finalidade estabelecer um diálogo com o receptor, possibilitando-lhe o acesso a informações e experiências a respeito da leitura e produção de textos, a reflexão sobre sua própria prática e a mudança de perspectiva. Além de se preocupar com a formação do professor-leitor reflexivo e crítico, a revista Psicopedagogia objetiva informar os profissionais de Psicopedagogia e áreas afins quanto às possíveis soluções para os problemas de ensino- aprendizagem de ordem patológica ou não. Em função dos objetivos traçados por cada revista, verificamos que estes refletem o discurso de transformação social, divulgado pelo momento sócio-histórico em que vivemos, assimilado no contexto educacional, através da teoria sócio-interacionista de Vygotsky e da de leiturização de Foucambert, fundamentada nas idéias de Paulo Freire. 3. CONSIDERAÇÕES FINAIS Diante da observação das direções que norteiam as representações dos gêneros