Este artigo descreve um estudo que:
1) Estimou a perda de solo em Áreas de Preservação Permanente (APPs) em uma microbacia hidrográfica no município de Alegre, ES, comparando dois cenários.
2) O cenário 1 considerou o uso real do solo e sem práticas conservacionistas, enquanto o cenário 2 considerou as APPs reflorestadas com práticas conservacionistas.
3) Os resultados mostraram que as classes de APPs que apresentaram maiores perdas de solo no cen
Similar a Perda de solo por erosão hídrica em áreas de preservação permanente na microbacia hidrográfica córrego do horizonte, alegre, espírito santo (20)
Perda de solo por erosão hídrica em áreas de preservação permanente na microbacia hidrográfica córrego do horizonte, alegre, espírito santo
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PERDA DE SOLO POR EROSÃO HÍDRICA EM ÁREAS DE PRESERVAÇÃO
PERMANENTE NA MICROBACIA HIDROGRÁFICA CÓRREGO DO
HORIZONTE, ALEGRE, ESPÍRITO SANTO.
Benvindo Sirtoli Gardiman Junior1, Dayvid Rodrigues Couto2, Fabiana Baleeiro Coelho
Souza2, Gabriel Nunes dos Santos Junior3, Alexandre Rosa dos Santos4
RESUMO
No presente trabalho, estimou-se a perda de solo em Áreas de Preservação Permanente (APP) de uma microbacia
hidrográfica, localizada no distrito de Rive, município de Alegre, ES em dois cenários. Para tanto, foi elaborada
uma base de dados para determinação dos fatores antrópicos (C e P) para os dois cenários, no primeiro com uso
real do solo e sem práticas conservacionistas, no segundo considerando as APPs reflorestadas com práticas
conservacionistas. Para os demais fatores, de origem natural (R, K, LS) que subsidiam o cálculo da Equação
Universal de Perda de Solo (EUPS) permanecem constantes. Associados à um Sistema de Informação
Geográfica (SIG), estes permitiram a obtenção de mapas temáticos e informações sobre perda de solo de APPs
de nascente, declividade, topo de morro e de curso d’água. Para o cenário 1 e 2, as classes de APPs que
apresentaram maiores perdas de solo foram APP’s de nascentes e de topo de morro com 52,070 e 48,973 t ha-1
ano-1 para o cenário 1 e 0,082 e 0,070 t ha-1 ano-1 no cenário 2, respectivamente. De acordo com os resultados
obtidos, 99,85% da perda de solo seria reduzida com a adoção de práticas de manejo e mudança no uso e
cobertura do solo, justificando, assim a preservação dessas áreas.
Palavras-chave: Equação Universal de Perda de Solos; Áreas de Preservação Permanente; Sistema de
Informações Geográficas.
LOSS OF SOIL BY EROSION WATER IN AREAS OF PERMANENT PRESERVATION IN THE
STREAM WATERSHED HORIZONTE RIVER, ALEGRE, ESPÍRITO SANTO
ABTRACT
In this present work, calculate the soil loss in the permanent areas of perservation (APP) in the stream watershed,
adressed in Rive District, Alegre City, ES in two scenery. This why, it was ilaborated by dades in a base to
determinet the anthropic factors (C e P) for two scenery, in the first with a real use of soil and without
conservationist practices, in the second reminding the reflorestation APPs with conservationist practices. For the
others factores, the natural source (R,K,LS) to assist the loss of soil in universal equation calculation be constant.
Associate with a Geografic Information System (SIG), they alow a thematic map results and informations about
loss of soil in spring ASPPs, declivitous, hill of top and the torrent. The scenery 1 and 2, the APP classes that
showed the biggest losses of soil was spring APPs and the hill of top with 52.070 and 48.973 t ha-1 ano-1 for the
scenery 1 and 0.082 e 0.070 t ha-1 ano-1 to scenery, respective. According the results, 99.85% of loss soil would
be reduced with management practces embrace and changes for the use and soil coverture, justifying, therefore
the preservation of those areas.
Keywords: Equation Universal Soil Loss; Permanent Preservation Areas; Geographical Information System
Trabalho recebido em 27/07/2011 e aceito para publicação em 30/06/2012
1
Engenheiro Ambiental, Mestrando em Ciências Florestais da UFES/Jerônimo Monteiro-ES, gardimanjunior@yahoo.com.br
2 Biólogos, Mestrandos em Ciências Florestais da UFES/Jerônimo Monteiro-ES
3 Engenheiro Agrônomo, Mestrando em Ciências Florestais da UFES/Jerônimo Monteiro-ES
4 Engenheiro Agrônomo, Professor da UFES/Jerônimo Monteiro-ES
Engenharia Ambiental - Espírito Santo do Pinhal, v. 9, n. 2, p. 0 21-034 , maio/jun. 2012
2. 22
1. INTRODUÇÃO A perda de solo por erosão hídrica
depende de uma série de fatores, dentre os
A preocupação com o efeito da
quais se destacam a cobertura vegetal
ocupação desordenada do solo e da
(SILVA, 1986), a declividade da área
contaminação dos recursos naturais é
(COGO et al., 2003) e a pluviosidade. O
justificativa para o crescente número de
transporte de partículas se dá quando o
publicações que consideram como tema o
solo está saturado ou quando a velocidade
meio natural com base na gestão territorial.
e volume de água precipitada é superior a
Neste contexto, a bacia hidrográfica vem
sua capacidade de infiltração, ocasionando
sendo utilizada com sucesso como unidade
o escoamento superficial do excesso de
de planejamento e gerenciamento das
água e o arraste do solo desagregado, para
atividades antrópicas em determinado
áreas de baixo declive.
território.
O processo erosivo se finaliza
A ação antrópica, no que diz
quando todo material carreado é
respeito a exploração agropecuária de
depositado, seja em depressões naturais do
maneira irregular, e outras atividades de
terreno ou em ecossistemas fluviais como
ordem econômica, vem sendo a maior
rios, lagos, açudes, represas (ELTZ et al.,
causa do desequilíbrio dentro de bacias
1984) e áreas brejosas, acarretando sérios
hidrográficas. Tais atividades ocasionam
problemas ambientais, como assoreamento,
dentre outros fatores, a erosão, a poluição
eutrofização da água e a mortandade de
da água, a extinção de espécies e
organismos.
principalmente degradação do solo.
Com intuito de regularizar,
Uma das principais formas de
minimizar os impactos antrópicos e
degradação dos solos é a erosão hídrica.
monitorar a exploração de recursos
Segundo Cassol e Lima (2003), este é um
naturais, instituiu-se, em 1965, o Código
processo físico de desagregação, transporte
Florestal Brasileiro, Lei n.º 4.771, de 15 de
e deposição de partículas de solo,
setembro de 1965, onde obriga a
provocado pela ação da água das chuvas,
implementação das Áreas de Preservação
que se dá através do escoamento
Permanente (APP’s) dentro das
superficial. Este processo é diretamente
propriedades rurais (BRASIL, 1965).
intensificado pela ação antrópica, ou seja,
Referenciando ainda à Resolução nº
áreas que apresentam uso incorreto do solo
303 (CONAMA, 2002) que dispõe sobre
sofrem maior impacto com a erosão
Áreas de Preservação Permanente “ao
hídrica.
Engenharia Ambiental - Espírito Santo do Pinhal, v. 9, n. 2, p. 021-034 , maio/jun. 2012
3. 23
redor das lagoas, lagos ou reservatórios determinação automática dessas áreas de
d'água naturais ou artificiais; nas preservação permanente, desde que se
nascentes, ainda que intermitentes e nos utilizassem metodologias e parâmetros
chamados "olhos d'água", qualquer que adequados a esse fim.
seja a sua situação topográfica, num raio Para diversos autores (DONZELI et
mínimo de 50 m de largura; no topo de al., 1992; CASTRO; VALÉRIO FILHO,
morros, montes, montanhas e serras; e nas 1997; MORAES et al., 2000, Apud
encostas ou partes destas, com declividade Tavares et al., 2003) a integração da
superior a 45 graus, equivalente a 100% na tecnologia SIG com modelos matemáticos
linha de maior declive; nas restingas, como de estimativa de perdas de solo por erosão
fixadoras de dunas ou estabilizadoras de vem sendo aplicada com eficiência no
mangues; nas bordas dos tabuleiros ou planejamento agroambiental de
chapadas, a partir da linha de ruptura do microbacias hidrográficas, principalmente
relevo, em faixa nunca inferior a 100 m em no diagnóstico do risco de erosão.
projeções horizontais; em altitude superior Dentre as modelagens utilizadas, a
a 1.800 m, qualquer que seja a vegetação”. Equação Universal de Perda de Solos
Nas últimas décadas, com a (EUPS) é frequentemente adotada para
popularização da tecnologia, o determinar, em níveis médios anuais, o
planejamento do meio natural ganhou um volume de solo perdido por erosão hídrica,
forte aliado, os chamados Sistemas de possibilitando contextualizar os resultados
Informações Geográficas. Essa tecnologia obtidos em função do uso e ocupação das
é capaz de auxiliar na captura de dados, na terras, pluviosidade, práticas
análise e nas tomada de decisão. A conservacionistas e declividade do terreno
previsão ordenada que antecipe a (VIEIRA, 2008).
conseqüência de um fator em determinado
Compreender os processos erosivos
espaço geográfico é baseada em e quantificar as perdas de solo assume
modelagens matemáticas (DOMINGOS, grande importância, principalmente em
2006). áreas de preservação permanente. Esses
Miranda et al. (2002), Santos et al. dados servem de base na elaboração de
(2007) e Cota e Moura (2009) descrevem medidas que visam maximizar o uso dos
que a utilização de produtos de recursos hídricos disponíveis e evitar os
Sensoriamento Remoto e de técnicas de efeitos negativos decorrentes da produção,
Geoprocessamento pode contribuir na
Engenharia Ambiental - Espírito Santo do Pinhal, v. 9, n. 2, p. 021-034 , maio/jun. 2012
4. 24
transporte e deposição de sedimentos perda de solo projetada nas APP’s com
(PAIVA, 2001). manejo do solo, considerando estas áreas
Desta forma, o presente estudo com cobertura florestal e práticas
objetivou avaliar a perda de solo por conservacionistas.
erosão hídrica na microbacia hidrográfica 2. MATERIAL E MÉTODOS
do Córrego Horizonte localizada no A área de estudo compreende a
município de Alegre, estado do Espírito microbacia hidrográfica do Córrego
Santo, estimando estas perdas em áreas de Horizonte, contribuinte do rio Itapemirim,
preservação permanente (APP’s) utilizando situada no distrito de Rive, município de
®
o Software ArcGIS versão 10 (ESRI, Alegre, estado do Espírito Santo. Localiza-
2010), comparando dois cenários, sendo o se entre as coordenadas geográficas 41º 24’
cenário 1 composto pela perda de solo na 55” e 41º 31’ 50” de longitude Oeste e 20º
área da microbacia com uso do solo real 44’ 39” e 20º 54’ 30” de latitude Sul
interpretada e o cenário 2 estimando a conforme mostra Figura 1.
20°45'0"S
41°29'0"W 41°28'0"W 41°27'0"W
SUB-BACIA HIDROGRÁFICA
DO CÓRREGO HORIZONTE
ESTADO DO ESPÍRITO
20°46'0"S
SANTO
20°46'0"S
20°47'0"S
20°47'0"S
Sub-bacia hidrográfica
0 0,5 1
20°48'0"S
km
20°48'0"S
E: 1:33.000
Projeção Universal Transversa de Mercartor - UTM
Datum: WGS 84 - Zona 24 K
Organizadora:. Telma Machado de Oliveira Peluzio.
Orientandor:. Dr. Alexandre Rosa dos Santos.
41°30'0"W 41°29'0"W 41°28'0"W 41°27'0"W
Figura 1: Microbacia do córrego Horizonte, Alegre-ES. Fonte: Pelúzio e Santos, (2010).
A microbacia hidrográfica do De acordo com a classificação de
Córrego Horizonte em sua maior porção Köppen, o clima enquadra-se no tipo Cwa
envolve pequenas propriedades rurais de (Inverno seco e Verão chuvoso),
gestão familiar, possuindo área total de temperatura média anual de 24ºC,
1316,61 hectares e 20 km de perímetro, pluviosidade média anual de 1.200 mm,
tendo como parte a zona urbana do distrito podendo, dependendo da localização,
de Rive. atingir até 1.600 mm possuindo de quatro a
Engenharia Ambiental - Espírito Santo do Pinhal, v. 9, n. 2, p. 021-034 , maio/jun. 2012
5. 25
seis meses secos (INCAPER; NEPUT, Etapa 3 – Geração do mapa de
1999). comprimento de rampa, L, utilizando a
A hidrografia é constituída por Equação 1 dentro do comando Map
densa e diversificada rede de drenagem, Algebra.
formando rios encaixados e cachoeiras. (1)
O relevo apresenta regiões
Sendo: P é o tamanho do pixel
divergentes, com altitude variando entre
adotado (10 m); D a declividade em
120 a 680 m (IBGE, 1977), constituída por
porcentagem obtida na Etapa 2.
uma paisagem fortemente ondulada e
Etapa 4 – Cálculo do fator
montanhosa, apresentado ainda uma
topográfico, LS, utilizando a Equação 2
topografia muito acidentada, intercaladas
proposta por Bertoni e Lombardi Neto
por reduzidas áreas planas (MENDONÇA,
(1992) no comando Map Algebra.
2007).
(2)
A vegetação original caracterizada
por remanescentes da Floresta Estacional Em que: L é o comprimento da
Semidecidual (VELOSO et al., 1991) de rampa obtido na Etapa 3; D a declividade
domínio do Bioma Mata Atlântica. em % obtida na Etapa 2.
Para a integração dos dados foi Etapa 5 – Para cálculo do R, fator
desenvolvida dentro do aplicativo de erosividade da precipitação, foi
computacional ArcGIS® versão 10, dez utilizada a equação proposta por Martins
etapas, sendo: (2005) desenvolvida em estudo na região
de Aracruz (ES) utilizando a equação
Etapa 1 - Geração do Modelo
proposta por Wischmeier e Smith (1978)
Digital de Elevação Hidrologicamente
que calculou a energia cinética para uma
Consistente (MDEHC) através da
série de 35 anos de chuvas (1969 a 2004),
interpolação das curvas de nível com
o que permitiu a obtenção da Equação 3.
equidistância vertical de 20 metros por
meio da função Topo to Raster com (3)
resolução de pixel de 10m. Onde, x é a precipitação em mm
Etapa 2 - Obtenção do mapa de (série histórica de 30 anos para as
declividade em porcentagem a partir do dependências e adjacências da microbacia
MDEHC utilizando o comando Slope do estudada obtida junto ao Instituto Nacional
referido Software. de Meteorologia – INMET) já corrigida as
falhas pelo método de ponderação regional
Engenharia Ambiental - Espírito Santo do Pinhal, v. 9, n. 2, p. 021-034 , maio/jun. 2012
6. 26
e interpolada pelo método IDW 2 (Inverso SF 23-24 realizado por Pelúzio e Santos
do Quadrado da Distância) para obtenção (2010). Tendo o mapa com os tipos de
do mapa de precipitação. solo, o mesmo foi rasterizado considerando
Etapa 6 – O mapa de tipo de solo as classes de solo existentes e o fator de
foi obtido por meio da foto interpretação e erodibilidade (K) para cada um conforme
vetorização em tela do mapa do Projeto Tabela 1.
RADAMBRASIL (1987) referente à folha
Tabela 1. Valores do fator erodibilidade (K) e predominância em % para as classes de
solos da microbacia hidrográfica do Córrego Horizonte, Alegre, ES
Tipo de Solo Fator (K) % Fonte
Terra Roxa 0,024 27,70 Roose, 1977
Latossolo Vermelho 0,017 15,70 Roose, 1977
Latossolo Amarelo 0,057 1,27 Mannigel et al., 2002
Podzólico 0,034 55,42 Roose, 1977
Etapa 7 – Para a realização do mapa as classes de uso e ocupação da terra
do fator de uso e manejo do solo (C), foi interpretadas.
utilizado o mapa desenvolvido por Pelúzio Etapa 8 – Os valores de P para a
e Santos (2010) para a microbacia através área em estudo foram definidos segundo
da foto-interpretação em tela de imagens dados de Bertoni & Lombardi Neto (1995)
aerofotogramétricas do ano de 2007 na para duas situações distintas. A primeira
escala 1: 35.000, com resolução de 1,0 m, expressa completa ausência de práticas
cedidas pelo Instituto Estadual de Meio conservacionistas e a utilização de técnicas
Ambiente e Recursos Hídricos do Espírito convencionais de preparo do, assumindo
Santo (IEMA) com uso do Software valor de P = 1,0. A segunda, considerou
®
ArcGIS versão 10, caracterizando o para um cenário holístico, além do plantio
cenário 01. Para o cenário 2, foi de florestas na área na microbacia, a
considerado toda a microbacia reflorestada, implementação de técnicas
com os valores de C evidenciadas na conservacionistas, tendo dessa forma P =
coluna denominada C2 da Tabela 2, para 0,1.
Engenharia Ambiental - Espírito Santo do Pinhal, v. 9, n. 2, p. 021-034 , maio/jun. 2012
7. 27
Etapa 9 – Para a avaliação da perda Em que: R é o fator erosividade da
de solo dentro das APP’s, delimitou-as precipitação pluvial e da enxurrada, em
automaticamente no Software (MJ ha-1 mm ano-1) em função da
computacional ArcGIS® versão 10, precipitação; K o fator erodibilidade do
seguindo a metodologia proposta por solo, em (MJ ha-1 mm ano-1); LS o fator
Pelúzio et al. (2010). Consideraram-se os comprimento da encosta e do grau de
limites das APP conforme condições declividade, adimensional; C o fator de
estabelecidas pelo Código Florestal cobertura e manejo da cultura,
Brasileiro, Lei n.º 4.771, de 15 de setembro adimensional; e P fator práticas de controle
de 1965: 30 metros ao longo das margens da erosão, adimensional.
de cada curso de água; 50 metros nas áreas Para a simulação do cenário 2
de nascentes; encostas superiores que 45° e apenas foram alterados os fatores C e P na
terço superior de morro. Equação 4, uma vez que, os fatores R, K e
Etapa 10 – Para a integração dos LS permanecem constantes por serem de
dados gerados nas etapas anteriores, foi origem naturais independem da ação
orientado o procedimento de seguindo o antrópica.
modelo da Equação Universal de Perdas de
Solo - EUPS, desenvolvida em 1953 pelo 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Soil and Water Conservation Research A partir dos mapas dos fatores LS,
Division of the Agricultural Research K, R, C1 e P1 modelados às condições reais
Service da Universidade de Purdue (EUA), da microbacia do Córrego Horizonte, a
que consiste de um modelo multiplicativo aplicação da EUPS em ambiente SIG
simples, pelo qual a perda média anual de permitiu estimar e espacializar as taxas
solo, expressa em massa por unidade de médias de perda de solo associadas à
área por tempo (t ha-1 ano-1), é dada pelo erosão hídrica para o cenário 1 .
produto de seis fatores determinantes, Para o cenário 2, a influência dos
sendo 4 fatores de origem naturais (R, K, L fatores C e P na EUPS representam maior
e S) e 2 Antrópicos (C e P) de acordo com variação nas taxas de estimativas de perda
a Equação 4 (WISCHMEIER; SMITH, de solo na área de estudo, tendo que
1978; BERTONI; LOMBARDI NETO, utilizar fatores C2 (Tabela 2) e P2
1999). desenvolvidos para o cenário 2, uma vez
(4) que se trata de condições conservacionistas
e práticas de manejo de uso de solo.
Engenharia Ambiental - Espírito Santo do Pinhal, v. 9, n. 2, p. 021-034 , maio/jun. 2012
8. 28
Tabela 2. Fatores de cobertura (C1 e C2) e porcentagem de predominância das classes
de uso do solo nas APP’s da microbacia hidrográfica do Córrego Horizonte, Alegre, ES
Classe % C1* C2** Classe % C1* C2**
Pastagem 42,16 0,100 0,001 Tanque de peixe 0,27 0,001 0,001
Fragmento florestal 28,36 0,001 0,001 Solo exposto 0,24 1,000 0,001
Campo sujo 6,54 0,100 0,001 Grama 0,23 0,100 0,001
Capoeira 5,64 0,010 0,001 Fragmento rochoso 0,15 0,001 0,001
Vegetação rala 5,62 0,100 0,001 Área edificada 0,10 0,001 0,001
Várzea 3,77 0,100 0,001 Reservatório de água 0,07 0,001 0,001
Café 1,91 0,200 0,001 Estrada pavimentada 0,06 0,001 0,001
Área degradada 1,86 0,500 0,001 Área urbana 0,04 0,001 0,001
Estrada não pavimentada 1,09 1,000 0,001 Arborização urbana 0,03 0,200 0,001
Área agricultada 0,73 0,300 0,001 Terreiro de café 0,02 0,001 0,001
Pomar 0,57 0,200 0,001 Palmácea 0,01 0,200 0,001
Hidrografia 0,51 0,001 0,001
* Roose, 1977. ** Valores de C2 considerando a área da microbacia estudada toda
reflorestada.
Por meio da Tabela 2 pode-se Para as condições reais da
observar que o uso predominante das áreas microbacia estudada, a Figura 2 retrata a
de Preservação Permanente (APP’s) da estimativa de perda de solo nas APP’s para
microbacia do Córrego Horizonte está o cenário 1, enquanto que a Figura 3
ocupado em quase sua totalidade (88,32%) representa a estimativa de perda de solo
por pastagem, fragmento florestal, campo nas APP’s, sob condições
sujo, capoeira e vegetação rala. As demais conservacionistas compondo o cenário 2,
classes de usos predominantes nas áreas de onde apenas os parâmetros C1 e P1 foram
preservação permanente (APP) da substituídos pelo C2 e P2, permanecendo
microbacia do Córrego Horizonte estão constantes os demais fatores LS, K e R.
descritas na Tabela 2.
Engenharia Ambiental - Espírito Santo do Pinhal, v. 9, n. 2, p. 021-034 , maio/jun. 2012
9. 29
PERDA DE SOLO NAS ÁREAS DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE DA SUB-BACIA
DO CÓRREGO HORIZONTE, ALEGRE, ES
240000 242000 244000 246000 248000
APP's Área (ha)
µ
NQ
CONVENÇÕES TOPOGRÁFICAS
Topo de Morro 387,05
Perda de Solo na Sub-Bacia
Curso Dágua 204,64 do Córrego Horizonte
t(ha.ano)
Nascente 46,06
7702000
7702000
0 -10 50 - 60
Declividade 1,03 10 - 20 60 - 70
500m
20 - 30 70 - 80
30 - 40 80 - 90
40 - 50 90 - 100
7700000
7700000
70
60
50 Coordenadas UTM do Centro
da Folha
40 E = 240.516,437m
%
N = 7.700.330,929m
30 Projeção Universal Transversa
de Mercator
20 Meridiano Central 39/Zona 24 K
7698000
7698000
Elipsóide: SIRGAS 2000
10 Escala Nominal = 1:40.000
Escala Gráfica
0 0 400 800 1.600
m
240000 242000 244000 246000 248000
Figura 2 – Perda de solo nas áreas de preservação permanente da microbacia
hidrográfica do Córrego Horizonte para o cenário 1
Figura 3 – Perda de solo nas áreas de preservação permanente da microbacia
hidrográfica do Córrego Horizonte para o cenário 2
A perda de solo média estimada por
classes para as áreas de APP’s no cenário
1, encontra-se apresentada na Tabela 3.
Tabela 3. Perda de solo por classe de APP na microbacia do Córrego Horizonte
% da área em Perda de Solo média
Classes relação à área total t(ha.ano) Desvio Padrão
APP´s Totais 100,00 46,052 93,87
Topo de morro 66,03 48,973 88,318
Cenário 1
Nascentes 2,16 52,07 117,038
Declividade 0,13 43,902 126,604
Curso D'água 31,68 43,103 106,979
Engenharia Ambiental - Espírito Santo do Pinhal, v. 9, n. 2, p. 021-034 , maio/jun. 2012
10. 30
Com respeito às estimativas da R e K não alteraram significativamente os
erosão atual, no cenário 1, observa-se uma valores de perda de solo, os quais são mais
-1 -1
média de 46,052 t ha ano considerando influenciados pelo Fator Topográfico (LS).
o uso real da terra na microbacia estudada. Para Bertoni e Lombardi Neto
Analisando as perdas de solo por classe de (1990), valores maiores que 15 t ha-1 ano-1
APP, no cenário 1, visualiza-se que a APP podem não apresentar tolerância à perda
de nascente, foi a que teve maior perda de máxima de solo com um grau de
-1 -1
solo (52,070 t ha ano ), seguida pela APP conservação tal que mantenha uma
-1 -1
de topo de morro com 48,973 t ha ano ). produção econômica em futuro
O desvio padrão apresenta uma variação imprevisível com os meios técnicos atuais.
entre as classes de perda de solo dentro de Quanto à estimativa do cenário 2,
uma mesma classe de APP, isso significa denominado como ideal, modelado
que quanto maior o desvio padrão, maiores considerando práticas conservacionistas e
serão suas diferenças entre as perdas de uso manejo do solo como áreas de cordões
solo espacializadas dentro de uma mesma vegetais ante erosivos, as perdas de solo
classe de APP. Dessa forma, pode-se apresentam taxas menores (média de 0,07 t
observar que a classe de APP que
ha-1 ano-1 para as APP’s de modo geral).
apresenta maior desvio padrão é a de Observou-se ainda, que as APP’s de topo
declividade. de morro tiveram perdas maiores em
Silva (2004) explica que as áreas relaçõa às demais (0,082 t ha-1 ano-1),
mais críticas quanto à perda de solo seguida da APP de nascente com 0,070 (t
estimada estão associadas a elevadas ha-1 ano-1) com desvio padrão de 0,63 e
declividades. Ainda de acordo o referido 0,69, respectivamente.
autor, numa análise de sensibilidade dos
fatores da EUPS, observa-se que os fatores
Tabela 4. Perda de solo por classe de APP na microbacia do Córrego Horizonte
% da área em Perda de Solo
Classes relação à área total média t (ha.ano) Desvio Padrão
APP´s Totais 100,00 0,070 0,064
Topo de morro 66,03 0,082 0,063
Cenário 2 Nascentes 2,16 0,070 0,069
Declividade 0,13 0,466 0,066
Curso d'água 31,68 0,048 0,058
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A diferença observada entre os de solo das APP’s totais, variando em
cenários 1 e 2, está relacionada diretamente cerca de 1% nas demais classes de APP’s,
ao fator de uso e manejo do solo (fator C) e conforme Tabela 5.
práticas conservacionistas (fator P), Weill e Sparovek (2008) explicam
principalmente, onde ocorre uso que áreas ocupadas com usos menos
inexpressivo do mesmo. intensivos, como mata, reflorestamento e
Os resultados apresentados na vegetação ciliar, as taxas estimadas são
Tabela 4 indicam um controle eficiente da pequenas, sendo a perda média ponderada
erosão por parte da cobertura vegetal em relação à área de ocorrência por
oferecida para o cenário 2, hipoteticamente categoria de uso, de 2,0 Mg ha-1 ano-1, fato
reflorestado. Verifica-se que o efeito da que pôde ser comprovado neste trabalho.
cobertura vegetal sobre as perdas médias Para Montebelo et al., (2005) as
anuais de solo contribuiu para que as APP’s devem ser preservadas para que
-1
mesmas fossem reduzidas de 46,052 t ha estas possam cumprir a função ambiental
-1
ano , considerando uso do solo atual, para de preservar os recursos hídricos, proteger
-1 -1
0,070 t ha ano no cenário o solo, promover o bem-estar público,
conservacionista (cenário 2), representando dentre outras diversas funções.
uma redução média de 99,85% nas perdas
Tabela 5 – Estimativa da redução de perda de solo nas classes de APP da microbacia do
Córrego Horizonte
-1 -1
APP’s % de redução de perda de solo média t/ha .ano
APP´s Totais 99,85
Topo de morro 99,83
Nascentes 99,86
Declividade 98,94
Curso D'água 99,89
preservação é a pecuária, sendo que
Ainda de acordo com o autor citado explorações excessivas podem levar a
anteriormente, quando culturas anuais degradação da pastagem. Nestas áreas
estão presentes nas APPs, resíduos tóxicos somente é permitida a dessedentação do
podem ser carreados para os rios. Outro gado, desde que de forma controlada.
uso que é inadequado nestas áreas de
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12. 32
Segundo Bertolini e Lombardi Neto
(1994), o desgaste e o empobrecimento do
solo nas suas diversas fases e formas,
5. REFERÊNCIAS
podem ser evitados com a adoção de
BERTONI, J. & LOMBARDI NETO, F.
práticas conservacionistas que aumentem a Conservação do solo. 4.ed. São
cobertura vegetal e a infiltração da água no Paulo, Ícone, 1999. 355p.
BERTOLINI, D.; LOMBARDI NETO, F.
perfil do solo, reduzindo assim o Embasamento técnico do
escoamento superficial. programa estadual de microbacias
hidrográficas. In: Lombardi Neto,
F.; Drugowich, M.I. (coords.).
Manual técnico de manejo e
4. CONCLUSÕES conservação de solo e água. v. 1,
Os resultados obtidos permitem CATI. Campinas: CATI, 1994.
65p. Manual Técnico, 38.
concluir que: BRASIL. Lei N.º771, de 15 setembro de
É possível observar a 1965. Institui o novo Código
Florestal. Disponível em:.
importância da aplicabilidade da Lei http://www.planalto.gov.br/ccivil_
federal n.º 4.771, de 15 de setembro de 03/Leis/L4711.htm; Acesso em 15
de julho de 2011.
1965 para conservação dos recursos CASSOL, E.A.; LIMA, V.S. Erosão em
naturais, neste caso o solo. entressulcos sob diferentes tipos
de preparo e manejo do solo.
A restauração destes Pesquisa Agropecuária
ecossistemas degradados situados em áreas Brasileira, Brasília, v.38, n.1,
p.117-124, 2003.
de preservação permanente pode garantir a CASTRO, A.G.; VALÉRIO FILHO, M.
proteção dos recursos naturais e o Simulação da expectativa de
perdas de solo em microbacia sob
estabelecimento do fluxo gênico entre as diferentes manejos florestais. Rev.
espécies, a preservação da biodiversidade, Bras. Cienc. Solo, Viçosa,
21:409-418, 1997.
mas também a conservação do solo,
COGO, N.P.; LEVIEN R.; SCHWARZ, R.
evitando assim perdas deste recurso tão A. Perdas de solo e água por
erosão hídrica influenciadas por
nobre e essencial para as espécies que
métodos de preparo, classes de
compõe a biosfera. declive e níveis de fertilidade do
solo. Rev. Bras. Cienc. Solo,
O planejamento das Viçosa, v.27, n.4, p.743-753,
atividades antrópicas em uma microbacia 2003.
COTA, M. de A.; M., A. C. M. . Áreas de
hidrográfica é de fundamental importância
preservação permanente (APP) -
para o manejo adequado dos recursos nela estudo de caso sobre o parâmetro
declividade e as divergências nos
contidos, mantendo assim a integridade
resultados de mapeamento em
dos serviços ambientais. função das bases cartográficas e
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