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O MAPEAMENTO E A DIFUSÃO HISTÓRICA CULTURAL E
ARTÍSTICA DO MUNICÍPIO DE ERMO DO ESTADO DE SANTA
CATARINA
BEATRIZ PAROL DOS SANTOS
ERMO 2005
RESUMO
Falar do povoamento e da cultura de um município é relembrar a importância e influência que
seus antigos moradores influenciaram no seu desenvolvimento econômico e população.
Portanto, por ser algo novo, este trabalho servirá como um registro histórico para o município
do Ermo, assim como as falas de antigos moradores tradicionais que habitam o município a
anos. O município do Ermo a pouco foi emancipado e nunca fora feito nenhum trabalho que
registre fatos históricos a respeito de seu povo e de sua cultura. A presente monografia tem
por tema “o mapeamento e a difusão histórica cultural artística do município de Ermo do
estado de Santa Catarina”, elaborada por meio de pesquisa bibliográfica nas mais renomadas
obras históricas existentes no país e a pesquisa de campo efetuada junto com os moradores da
localidade pesquisada através da história oral. Temos por objetivo discorrer sobre o
surgimento histórico da cidade de Ermo, como demonstraremos tal feito histórico através dos
capítulos que montam nossa monografia. Sendo que no primeiro capitulo, abordaremos de
uma forma simplificada a história pré-colonial e política de povoamento do sul do Brasil,
como se deu e como foram originadas as primeiras cidades. Já no segundo capítulo, estaremos
demonstrando em poucas palavras como se deu a colonização de Santa Catarina no século
XIX. No terceiro e último capítulo, será apresentado às perspectivas e a metodologia, com o
qual foi aplicada para que tal trabalho tivesse o êxito esperado.
Palavras-chave: Povoamento, mapeamento cultural, difusão histórica.
INTRODUÇÃO
O trabalho possui como tema o Mapeamento e difusão histórica cultural e artística
do município de Ermo do Estado de Santa Catarina com a problemática enfocando a
importância do mapeamento e da difusão histórica cultural e artística para o estudo da história
numa perspectiva reflexiva e de inclusão social em Ermo.
A relevância deste projeto esta em possibilitar o resgate dos fragmentos histórico,
do município buscando identificar a cultura material e imaterial da região em referencia.
Sendo que o retorno dos resultados voltará à comunidade, em linguagem acessível, através da
comunicação visual dos acervos e da realização da educação patrimonial promovendo dessa
forma a reflexão, a interpretação e a apropriação da identidade da cultura regional.
Salvando os vestígios e os remanescentes históricos – culturais, identificando
elementos materiais e imateriais da cultura de Ermo se estabelece um dos princípios
determinantes para o conhecimento de diversos segmentos e fases da história. Pesquisando a
forma pela qual determinados grupos humanos ocuparam um território comum, como criaram
através de suas idéias e necessidades, utensílios, ferramentas, instituições símbolos e meio de
comunicação.
Nesse sentido, os bens patrimoniais recebem uma relevância peculiar, sendo
encontrados e resguardados como elementos representativos no tempo e no espaço, em
detrimento das ações modificadoras do meio ambiental, geográfico, biótipo e antrópico.
Considerando-se amplitude da pesquisa em pauta e a intervenção de vários ramos do
conhecimento, as ações deveram ter as suas especialidades sem, entretanto perderem os
objetivos norteadores e trabalharem dentro de uma política comum: Mapear, Registrar,
Salvar, Preservar, Conservar e expor os Bens Artísticos Culturais e Arquitetônicos, dentro de
uma perspectiva arqueológica e histórica.
Com trabalho de educação patrimonial, o mapeamento histórico cultural, a
produção de material pedagógico, a divulgação e marketing possibilitarão a projeção da
potencialidade da riqueza patrimonial deste município, em nível regional.
Destacamos como objetivos deste trabalho, conhecer o processo de formação
sócio cultural do município de Ermo, enfatizando as sociedades pré-coloniais, o povoamento
Vecentista Açoriano e a colonização européia do século XIX. A partir de um mapeamento
junto à comunidade.
Fazer uma breve discussão referente à história oral, memória e identidade, e
patrimônio histórico. Difundir a pesquisa documental bibliográfica e história oral juntamente
com as escolas do município de Ermo, produzindo material didático, oficinas para os alunos
palestras e mini-cursos para os professores.
A metodologia utilizada na pesquisa foi de origem bibliográfica aliadas a pesquisa
de campo. Sendo o mesmo dividido em três capítulos, onde no capítulo inicial, se relatará a
história pré-colonial e política de povoamento no sul do Brasil, já no segundo capítulo do
encarte monográfico será abordado a colonização de nosso Estado durante o século XIX.
No terceiro e derradeiro capítulo de nosso manuscrito nos traz as perspectivas e a
metodologia utilizada para que o trabalho alcança-se o seu objetivo relacionando-se com a
história oral e memória dos habitantes de Ermo, e a valorização do patrimônio histórico
cultural.
1 HISTÓRIA PRÉ-COLONIAL E POLÍTICA DE POVOAMENTO NO SUL DO
BRASIL
A ocupação do território sul brasileiro se dá inicialmente pela presença marcante
de povos pré-coloniais, em conseqüência disto se vê relevante fazer uma breve explanação
teórica referente a pré-história da América, e em particular do Brasil. Posteriormente analisar
os vestígios destes diferentes grupos étnicos e o contado de alguns destes com os europeus.
Destacados os grupos pré-coloniais, estudaremos a presença do europeu no
processo de povoamento do Brasil, tendo como enfoque Santa Catarina.
1.1 Uma breve explanação conceitual sobre pré-história
O conceito de pré-história é recente, surgindo apenas no século XIX. Surgiu para
designar uma disciplina de Daniel Wilson: “The Archaeology and Prehistoric Annals of
Scotland”, este termo foi bastante utilizado, ainda o é, e embora ainda sofra várias críticas,
tem o mérito de salientar que a pré-história estuda o passado do homem a partir das
sociedades ágrafas. (Trigger, 1973, p.04).
Até então, a pré-história era entendida a partir de preceitos religiosos que datavam
o planeta e a vida sobre ele em 6.000 anos. Assim a Igreja Católica sustentou, com base nas
escrituras que o homem fora criado por Deus à sua imagem e semelhança, bem como o céu, a
terra e os demais seres vivos, porém esta explicação criacionista do Universo e do próprio
homem sofreu abalos, especialmente após o século XVI com as grandes navegações quando
os europeus entram em contato com outros povos, porém mantem-se a força do criacionismo
até os nossos dias.
Segundo Noelli (2000) Com o racionalismo científico das sociedades industriais
onde o homem ampliou seu domínio sobre a natureza e a encarou sob nova perspectivas, com
a descoberta da utilização do vapor na geração de energia, a ciência transformou todos os
padrões culturais experimentados pelo homem até então.
De acordo com Leakey (1981) a partir do século XIX com a teoria do
Evolucionismo, ocorreu uma grande mudança nas explicações da origem do homem. Com a
obra de Charles Darwim. “A Origem das Espécies” em 1859, o homem passou a ser visto
como parte do reino animal, resultante de uma evolução e não de uma criação pronta e
acabada.
A importância de A Origem das espécies é quádruplo. Primeiro, Darwin viu o
mundo vivo como mutável e não como estático: as espécies gradualmente se
modificaram, de modo que novas espécies emergiam enquanto outras se extinguiam.
Segundo, Darwin acreditava que este processo era gradual e contínuo, não
envolvendo “saltos” ou mudanças abruptas. Terceiro, Darwin propôs a idéia da
descendência comum: todos os mamíferos, por exemplo, partilhariam de um
ancestral comum, assim como todos os répteis, todos os pássaros, todos os insetos, e
etc. Darwin chegou mesmo a conjeturar que toda a vida, incluindo plantas e animais,
podia, em última instância, ter surgido de um ancestral comum. Quarto, o
mecanismo de mudança de evolução, era a seleção natural, processo através do qual
os indivíduos com características aperfeiçoadas deixam maior descendência.
(LEAKEY, 1981 p. 26).
Funari (2000) nos coloca que, inicialmente, a reação ao Evolucionismo de
Darwim foi violento por parte dos clérigos e de todos que aceitavam as explicações utilizadas
pela igreja católica. O crescimento industrial e populacional,trouxe grandes mudanças
culturais, revelando vestígios pré-históricos, com a abertura de estradas, desvios de rios e a
modificação da paisagem natural levando ao estudo sobre a origem da espécie humana. O
conceito de história como uma ciência voltada para o estudo do passado a partir de
documentos escritos e oficiais, ajustando-se com a invenção da escrita seria o início da
história, sendo que os três milhões de anos anterior ao descobrimento da escrita fica
determinado como pré-história, supondo que estes povos não possuíam história pelo fato de
não dominarem a escrita oficial. Com o surgimento dos termos paleolítico (idade da pedra
lascada) e o neolítico (idade da pedra polida), abriu-se as portas para o estudo da pré-história,
como o imenso período antes da história.
No continente americano, a definição de pré-história tem como referência o período
anterior à chegada dos europeus ao continente em fins do século XV. Tenha visto
que o europeu quando chegou na América, denominou todo o período anterior a sua
vinda de pré-história, porém sabe-se que a escrita já era utilizada antes da chegada
dos mesmos. “ [...] muitos povos americanos tinham sistemas de registros
comparáveis a escrita, como os povos nambiquaras e tupis, na forma de pinturas
corporais adereços e decorações de objetos”. ( BROTHERTON apud NOELLI, 2000
p.13).
O interesse pelo conhecimento da vida dos indígenas levou, no século XIX ao
surgimento de uma outra ciência a antropologia, voltada para o estudo das línguas,
sociedades, costumes e tradições ameríndios e especialistas na análise dos vestígios materiais,
e arqueólogos. (NOELLI 2000)
A arqueologia é uma ciência voltada ao estudo do mundo material ligado a vida
em sociedade, por meio de prospecções e escavações arqueológicas pode-se encontrar
vestígios que venham a nos informar sobre os mais variados aspectos da vida pré-histórica.
As pessoas sempre deixaram restos espalhados. Vemos a prova disto por toda a
parte, nas ruas da cidade e nos depósitos de lixo. Nossos museus exibem objetos
salvos dos restos de outras épocas: moedas romanas, cerâmicas e porcelanas. A lista
é infindável e cada peça conta a mesma história genérica: os humanos fazem
objetos, usam-nos e depois se desfazem deles, jogando-os fora como lixo ou
ocasionalmente ofertando-os numa cerimônia, como o sepultamento de uma pessoa
importante. (LEAKEY, 1981 p. 76).
A cultura material é a base da arqueologia. As moedas, a cerâmica e as
construções do passado nos fornecem vestígios do comportamento de nossos predecessores,
de como geriam suas economias, de suas crenças e do que para eles era importante. A
preservação desta cultura depende, em especial, das condições oferecidas pelo solo, em geral,
os principais artefatos que se preservam são os feitos de pedra, estas ferramentas foram usadas
para as mais variadas atividades, e elas podem nos informar como eram utilizados pelas
antigas sociedades. Outro material que é muito preservado pela natureza é a cerâmica,
constituindo uma grande fonte de informação, este artefato feito de barro cozido, é muito
recente atingindo a data de 12 a 13 mil AP. (antes do presente). (NOELLI, 2000)
As informações encontradas nas paredes de cavernas ou em outras pedras,
conhecidas como arte rupestre, podem ser utilizadas para explicar a vida do passado pré-
histórico. O conjunto de todas as informações de artefatos e locais que transformaram para
habitar faz parte da “cultura material”. Análises de restos de esqueletos podem mostrar aos
estudiosos dados sobre o indivíduo, bem como, com que idade morreu qual sua características
morfológicas, (altura, estatura), etc.
O próprio conceito de “sítio arqueológico” é flexível depende do ponto de vista do
estudioso. O arqueólogo australiano Gordon Childe definia, a mais de cinqüenta
anos “sítio” como um lugar onde se encontravam vestígios humanos inter-
relacionados e que indicariam atividades humanas específicas, como habitações,
túmulos, fontes de matéria-prima, santuários. (NOELLI, 2000 p. 23)
De acordo com Funari (2000) desde 1840 iniciaram-se as pesquisas em Minas
Gerais, onde descobriu-se em uma série de grutas da região de Lagoa Santa restos humanos, o
mais importante destes foi encontrado em 1975, é um fóssil de uma mulher que recebeu o
apelido de Luzia que data de 11.680 anos. Com esta descoberta modifica-se as teorias
relacionadas a origem dos habitantes da América, sendo que anterior a estes tinha-se a idéia
de que a América havia sido ocupada por grupos mongóis asiáticos sistematicamente por todo
o território, porém com as novas descobertas Neves e seus colegas apud Funari (2000)
propuseram uma nova explicação de que a América havia sido também povoado por outros
grupos humanos de tipo africano e oceânico.
Desde o século XIX são encontrados na Amazônia, cavernas e abrigos sob rochas,
muitos pintados com figuras estilizadas de animais, seres humanos e desenhos de forma
geométrica, onde foram feitos há mais de 11 mil anos, estão entre as mais antigas encontradas
na América. Porém existem muitos lugares no Brasil onde não foram realizados nenhuma
pesquisa. Contudo, os estudos da ocupação do litoral, em períodos recuados, encontram-se
prejudicado pelo aumento do nível do mar, no Holoceno, o que acabou por fazer com que a
costa atual esteja a muitos quilômetros em relação ao que era há alguns milhares de anos.
(NOELLI 2000)
1.2 A ocupação pré-colonial do sul do Brasil
No sul do Brasil predominariam sociedades do tipo caçador-coletor, cujo conjunto
de artefatos foi denominado “Tradição Umbu”, estes localizavam-se nos atuais Estados de
São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, viviam da caça e da coleta, nos
grandes descampados sulistas, daí a serem chamados de caçadores do campo, seus sítios são
datados a partir de 12 mil A.P. e teriam persistido até mil anos atrás. Nessa mesma região
existe uma outra tradição tecnológica, chamada de “Tradição Humaitá” que ocupou ambientes
de floresta entre 9 mil A.P., que produziram grandes artefatos bifaciais. (NOELLI 2000).
Encontrava,-se também na região litorânia a presença marcante da cultura dos povos
sambaquieiros.
Sambaqui é uma palavra de etimologia Tupi, língua falada pelos horticultores e
ceramistas que ocupavam uma parte significativa da costa brasileira. “Tamba” significa
conchas e “Ki” amontoado, que são as características deste tipo de sítio. O sul do Brasil tem
despertado grandes interesses pela arqueologia brasileira tendo a atenção dos pesquisadores e
o interesse científico pelo estudo desse tipo de sítio arqueológico. Porém esses sítios sofreram
grandes danos, com o crescimento populacional e econômico, onde os sambaquis foram
minerados para a fabricação de cal e pavimentação de estradas, estes destruídos para dar lugar
as cidades litorâneas. (GASPAR 2000).
A partir de década de 50, foram obtidas as primeiras datações radiocarbônicas e
feitas as primeiras análises de sítios, movimentando para que ocorresse a proteção dos
sambaquis, pois o processo de destruição é intenso. Atualmente a arqueologia brasileira está
inserida no contexto globalizado, onde os pesquisadores acompanham as principais novidades
da comunidade científica internacional.
É preciso e fundamental a preservação dos sítios arqueológicos, pois no que se
refere aos processos naturais é preciso ter claro que os vestígios para o estudo são aqueles que
são preservados, pois os sítios não guardam todos os aspectos da vida social.
Para que se possa estudar o passado é necessário que tenhamos a ele e, em nosso
caso, isso depende basicamente da preservação dos vestígios materiais. A destruição
do patrimônio arqueológico tem sido muito grande, como vimos no caso do uso dos
sambaquis como matéria-prima para obras diversas. (NOELLI, 2000 p. 105).
O ritmo acelerado das transformações da paisagem natural, tem contribuído para a
destruição de muitos sítios arqueológicos que estavam para sempre destruídos e não poderá
ser recuperado. De acordo com Funari (2000, p.105): “Não se preserva se não o que é
importante para nós, o que nos diz algo e, por isso, é importante difundir muito mais o
conhecimento sobre o passado pré-histórico, e ao mesmo tempo, envolver a população
brasileira nesse processo de apropriação de seu patrocínio”.
Com modernas técnicas de análises em Zooarqueologia demonstraram que a pesca
foi uma atividade muito importante para os sambaquieiros. A partir de 1990 o estudo dos
sambaquis recebeu novo estímulo auxiliando melhor estudo do modo de vida do povo que
colonizou o litoral brasileiro. Gaspar (2000, pp. 59-60) salienta: “O estudo da implantação dos
sítios na paisagem indicou ainda o tipo de local escolhido para edificação dos sambaquis.
Eram preferidos pontos de interseção ambiental, próximo do mar, da lagoa, do canal, do
manguezal, da restinga e da floresta”.
Os sítios eram construídos em locais que se caracterizavam por pequenas
elevações tais como cordões e litorâneos, topo de dunas ou meia encostas de morros,
protegidos do vento predominante e próximos a fonte de água potável.
O estudo da implantação dos sítios na paisagem indicou ainda o tipo de local
escolhido para edificação dos Sambaquis. Eram preferidos pontos de interseção
ambiental, próximos do mar, da lagoa, do canal, do manguezal, da restinga e da
floresta. As populações do litoral utilizavam todos os tipos de matérias primas
oferecidas pelo ambiente em que habitavam, como rochas (basalto, quartzo),
conchas, ossos e dentes de animais, além de outros materiais orgânicos que não são
facilmente preservados. (GASPAR, 2000 p.59)
As pesquisas arqueológicas do sul do Brasil existem aproximadamente 130 anos
no qual, já foram catalogadas e estudadas sistematicamente vários sítios. No entanto muita
coisa precisa ainda ser realizada desde a ampliação das áreas já estudadas até rever a
metodologia dos problemas utilizados na pesquisa até então. As pesquisas feitas em Santa
Catarina ficaram centradas na sua maioria no litoral, devido ao número de sambaquis, os
estudos no interior, registraram-se a amostragem. Em conseqüência desta, pouco se sabe sobre
os sítios do interior do Estado. A região de Mata Atlântica que ocupa os contrafortes da Serra
Geral, desde a região litorânea até a borda do planalto, não se foi devidamente estudada,
possuindo alguns pouco levantamentos de sítios arqueológicos (ROHR, 1984) e quase
nenhuma escavação e datação.
Segundo Noelli (2000, p.226): “A região Sul foi ocupada em todos os seus
espaços, tendo em vista a sua diversidade natural, clima, relevo e ecótonos que propiciaram
diversos tipos de adaptação ecológica. Dessa forma, não existe nenhum tipo de ambiente no
sul que não tenha sido ocupado sistemática ou esporadicamente”.
Genericamente falando, três levas humanas ocuparam o sul do Brasil. A primeira
chegou por volta de 12000 ou 13000 A.P. e a partir das datas levantadas por Noelli (2000)
estes grupos mantiveram-se estáveis uma vez que conservaram as mesmas características
materiais, reproduzindo o modelo de caçadores-coletores até cerca de 2500 A.P. Essas
populações são denominadas a partir de seus aspectos culturais e materiais como Tradição
Umbu e Tradição Humaitá, que supostamente desapareceram quando entraram em contato
com os grupos ceramistas, agricultores, Macro-Jê e Tupi-Guarani.
Os grupos denominados Tupi e Macro-Jê, originários da Amazônia e do Centro
Oeste do Brasil, chegaram por volta de 2500 A.P. Estes grupos tem uma tradição ceramista e
horticultora e dominaram completamente a região, ocuparam as bacias hidrográficas.
Para compreender a ocupação do território sul-americano, de forma especial, no
que se refere ao sul do Brasil, sugere o conhecimento de algumas características geográficas e
geomorfológicas, importantes para o conhecimento do pálio ambientais.
Uma visão elementar sobre o continente sul-americano, é que este é formado por
uma sucessão de montanhas com incidência de picos de grande altitude na parte
ocidental do continente e de terras baixas no interior a leste formando enormes redes
hidrográficas que desembocam no Atlântico. As paisagens apresentam
diferenciações do relevo e clima tendo um papel importante na pré-história sul-
americana.
O planalto brasileiro é formado por rochas cristalinas, da era primária. Sobre esta
base cristalina existe uma cobertura sedimentar de arenito e, no Brasil Meridional e
áreas circundantes a ocorrência de fusões vulcânicas basálticas sobre as camadas
anteriores, sendo esta a matéria-prima básica para indústria lítica dos povos que
habitavam este território.
Mais próximo ao Atlântico apresenta maior elevação, onde formam uma barreira
montanhosa com relevos variados e pequenos planaltos de cobertura. O planalto
brasileiro é mais extenso da parte central ao norte do país e mais estreito ao sul onde
está mais próximo dos Andes. Sua formação apresenta grandes oscilações na
paisagem.
Podemos observar na região sul três ambientes distintos: estreita planície litorânea
banhada pelo Atlântico, a Serra Geral, coxilhas e planícies, (a partir do sul do Rio
Grande do Sul, envolvendo os pampas uruguaios e argentinos que apresentam baixas
elevações).
Essa longa evolução geomorfológica projetou as formas hoje conhecidas. Sendo, a
base pela qual a flora e a fauna foi sendo estruturada, tornando-se o habitat para as
sociedades que passaram a ocupar essa área. A planície litorânea ocupando uma
faixa estreita em Santa Catarina, no Rio Grande do Sul, apresenta um alargamento
no sentido sul, gerando grande incidência de lagoas e lagunas. (SCHWENGBER
apud KERN, p. 34, 1991)
De acordo com Aguiar (2001). O litoral catarinense apresenta como características
geomorfológicas praias arenosas de curta e média extensão, separadas por costões rochosos,
com uma fauna e flora exuberante constitui o ecossistema. Este ecossistema oferecia uma
abundante fonte de sobrevivência.
Os grupos que habitaram o sul do Brasil desde o período pré-colonial,
distribuíram-se numa larga área habitacional. Desse espaço, era retirada a subsistência e se
processava a organização social. Podemos relacionar os grupos designados por Tradição
Humaitá e Umbu, também chamados de pré-ceramistas e ou povos ceramistas agricultores do
grupo Macro-jê e Tupi-Guaraní, como os que habitaram inicialmente o interior, até
expandirem-se para o litoral.
Os povos que ocupavam na serra e em suas encostas, os Macro-Jê eram divididos
em dois grupos: os kaingang e os Xokleng, que embora pertencessem ao mesmo tronco
linguístico viviam sempre em guerra entre si, pela ocupação de territórios que lhes garantiam
a sobrevivência.
Segundo Coelho (2003) os Kaingang eram conhecidos como coroados, pois o alto
da cabeça era raspado com bambu. Os Xokleng eram conhecidos pelos colonizadores como
Botocudo, pois os homens usavam um enfeite labial de pedra, chamado de teimbetá: o nome
Xokleng deriva de Xocren, que significa taipa de pedra kaingang, na língua Macro-Jê
significa simplesmente homem. Os Xokleng percorriam todo o planalto serrano, e fixavam
suas tribos nos pampas, de forma esporádica, mais preferiam viver nas encostas da Serra
Geral, onde podiam alimentar-se de peixes e caça do litoral como o pinhão retirado do
planalto. Tanto os Kaingang e os Xokleng utilizavam ferramentas feitas de pedra e alguns
alimentos eram conservados em potes de cerâmicas, dos mais variados tamanhos e formatos.
Como as estações da zona tropical são bem definidas, os nativos deslocavam-se em busca de
alimentos, quando não tinha pinhão no planalto serrano, desciam para o litoral em busca de
peixes e moluscos.
Com a chegada dos europeus, eram inevitáveis os sangrentos combates entre os
portugueses e os índios, como também as disputas entre as próprias tribos, deixando uma
grande parte da população nativa.
Os primeiros grupos humanos a penetrarem em território de Santa Catarina fossem
grupos caçadores-coletores, que teriam atingindo a região através do Rio Uruguai.
Isso por volta de 5500 a.c. Posteriormente, o litoral, em face dos amplos recursos
alimentares de que dispunha, teria servido recursos como pólo de atração, abrigando
populações diversificadas e por um longo período de tempo. O povoamento do
litoral iniciou-se, provavelmente, acerca de 3000 a.c. Estendendo-se praticamente
até a chegada dos grupos europeus. (SANTOS, 1987 p. 28)
De acordo com Santos apud Farias (2000), a região destinada a fixação dos
imigrantes europeus, compreendendo a parte litorania até planalto catarinense, era ocupada
pelos índios Xokleng , conhecidos popularmentes por outra denominações bem como:
“Botocudo”, “Bugre” ou “Kaingang”. Porém Noelli (2000) nos indica outra teoria de que
“Xokleng” e “Kaingang” constituem dois povos distintos lingüística, biológica e
culturalmente.
Com a abertura do caminho ligando Rio Grande a Sorocaba, São Paulo, acabou
dificultando que os Xokleng continuassem a fazer a coleta dos ricos pinhais. O processo de
disputas entre as nações européias pelo alargamento de fronteiras acabou antecipando o
processo de colonização por parte das nações envolvidas onde o Brasil foi colonizado em
primeiro momento por portugueses nas capitanias de maior desenvolvimento entre elas as de
Pernambuco na região Norte e do Sul, a capitania de São Vicente, onde estes foram
colonizando ao sul do litoral brasileiro.
De acordo com Coelho (2003) antes de 1580 a imigração não chegava a ser
relevante. Estima-se que entre doze e quinze mil portugueses desembarcaram no Brasil desde
a descoberta, no ano de 1500. Eram pessoas que provinham dos pontos extremos da escala
social. Ou eram fidalgos, elementos da nobreza peninsular que chegaram aqui como
donatários, sesmeiros ou senhores de engenho, os plebeus e degradados, homens de baixa
condição social, que para cá vinham em busca de fortuna, de aventura ou para cumprir pena.
Inicialmente, a colonização portuguesa planejada, ficou restrita a São Vicente, Recife e
Salvador.
A colonização no Estado de Santa Catarina durante o século XIX faz com que
ocorra um grande movimento populacional que conseqüentemente empurrou os Xokleng
definitivamente para dentro dos atuais limites do Estado, sendo que, nesse período os limites
estaduais não eram os do presente.
Santos (2000) ainda coloca que nos campos de Guarapuava, Curitibanos e Lages,
as fazendas de criação estavam em franca expansão. A estrada de tropas corta o sertão de São
Paulo ao Rio Grande, atravessando os campos ligando fazendas no litoral, os núcleos de
Paranaguá, São Francisco, Desterro e Laguna a muitos foram bases de povoamento dos solos
virgens.
Um outro grupo presente em Santa Catarina no período pré-colonial foram os
Tupi-guarani, denominados de Carijós, que de acordo com Aguiar (2001) este grupo já se
encontrava presente no litoral catarinense por volta de 1000 anos antes dos colonizadores.
Os cario, também conhecidos como Carijó era um grupo indígena da tradição
lingüística Tupi-Guarani, onde estes ocupavam grandes áreas do litoral e do interior do Brasil,
regiões da Argentina, Uruguai e Paraguai. (BRANCHER, 1999).
Os Tupi-Gurani já conheciam a agricultura em conseqüência disto acabam
tornando-se sedentários, utilizavam da pesca para sua subsistência, e já conheciam e
dominavam o fabrico da cerâmica.
Os Carijós viviam em pequenas aldeias e sua alimentação era baseada na caça, na
coleta, na pesca e numa agricultura expressiva para os padrões da época, na qual
destacavam-se as plantações de milho e mandioca. O artesanato Carijó era muito
diversificado. Seus traços variavam entre redes, esteiras e cestos às armadilhas de
caça, como o mundéu e a arapuca, e de pesca, como covo e o jiqui. Seus trabalhos de
pedra polida e madeira abarcavam várias armas para caça e a guerra, além de
inúmeros artefatos, como ênfase para sua maior peça artesanal, a canoa escavada no
tronco de garapuvú.
Além da canoa, confeccionavam também uma embarcação leve, a partir de cascas de
árvores amarradas com fibras vegetais, vedadas e impermeabilizadas com ceras e
resinas. Sua cerâmica, caracterizada por peças de grandes dimensões, com fins
utilitários e decorativos, expressava um apurado senso artístico. Ainda fabricavam
bebidas alcoólicas e farinhas, a base do milho e da mandioca. (COELHO 2003,
p.274)
Como no litoral de Santa Catarina havia grandes grupos de Carijós e estes
mostraram afáveis ao contato com os brancos, muitos portugueses vão começar a aprisionar
índios para vendê-los como escravos. Sendo assim, aldeias inteiras tiveram suas populações
aprisionadas e escravizadas, aldeias contra aldeias entraram em choque pois foram
estimuladas pelos próprios portugueses e os eventuais prisioneiros seriam trocados com os
portugueses. Com o contato com os Europeus os índios começaram a sofrer com doenças
contraídas dos mesmos, como a gripe, o sarampo, a varíola, a pneumonia, a tuberculose,
sendo que na Europa a população já possuía uma resistência a essas doenças e até certos
medicamentos para elas, como para os índios eram doenças desconhecidas, elas grassavam
com caráter epidêmico, matando muitos índios. O esforço dos missionários jesuítas não
impediu que ao fim do século XVII os Carijós tivessem definitivamente desaparecido do
litoral de Santa Catarina. (SANTOS, 1987)
Conforme Aguiar (2001) a história do índio Guarani é composta por uma
incessante luta pela sobrevivência física e cultural, pois foram caçados para serem utilizados
como escravos, obrigados a lutar como soldados nas lutas entre portugueses e espanhóis,
foram reduzidos em missões religiosas para serem catequizados ou assassinados por
imigrantes e atacados pelos bugreiros. Segundo Aguiar (2001, p.38), num relatório sobre a
população indígena do país o Ministério do Exército aponta para os seguintes dados: Em 1997
estima-se a existência de 330 mil índios no Brasil, representando 0,16% da população
brasileira. Em 1500 existiam de 1 milhão a 3 milhões de nativos no país.
Com a ocupação do espaço geográfica realizada pelo europeu, os nativos acabam
ficando confinados perdendo gradativamente seu território, sendo que pouco a pouco o litoral
e o planalto vão sendo ocupados pelos europeus.
1.3 O contato do branco e o índio
O povoamento da região catarinense se deu de início pelo litoral expulsando os
nativos de seus habitat para o interior. As famílias de imigrantes fixavam-se nas proximidades
litorâneas pois esta região foi propícia ao seu desenvolvimento, fornecendo subsídios
alimentares, atrasando desta forma sua entrada ao interior e o contato com os povos nativos.
Segundo Santos (1974) o interesse da população litorânea, ou seja, de origem
européia não se motivaram para qualquer atividade na região do planalto. A falta de interesse
econômico para explorar a floresta e a abertura de caminhos para o comércio, acabou
atrasando o contato entre ambos. Mas com aumento do crescimento populacional e a
necessidade de proteger as regiões de fronteiras e o incentivo de governos provinciais e
imperiais para a colonização e o interesse das companhias de colonização, para vender terras
aos europeus. Com o processo de demarcação de terras realizadas pelos colonizadores
destinados a fundamentar as decisões quanto a localização de colônias, durante tais atividades
encontra-se a presença de nativos.
Boa parte da população que vivia na orla da floresta e que dela dependia para viver,
exercendo os misteres da caça, da extração de madeira ou coleta de mel, frutas e
ervas, evidentemente tinha certeza e respeito pela presença do índio. Essa população
serviu aos agrimensores, engenheiros, e outros interesses nos negócios de
colonização como guia e fonte de informação sobre todo o potencial da área em que
residiam. (SANTOS, 1974 p. 85).
Sendo assim o nativo acabou ficando sem saída, pois praticamente todas as
regiões, já estavam sendo ocupadas pelos colonizadores.
No planalto, a oeste, estavam as fazendas de criação; ao sul, no Rio Grande do Sul, a
colonização começava a marchar em direção ao norte, rumo a fronteira de Santa
Catarina; ao norte, em Curitiba, a colonização começava a descer para o sul, em
direção também de Santa Catarina. A leste, o mar e as povoações litorâneas. Não
havia, portanto, como sair, nem como para onde fugir. (SANTOS, 1974 p. 85).
Os atritos que ocorreram entre o branco e os nativos nos primeiros anos de
colonização se deram ao fato do desconhecimento e o medo que um grupo tinha sobre o outro.
A medida que o colonizador possuía mais terras, mais florestas eram conquistadas, com isso o
território do índio acabava diminuindo e com ele as possibilidades de conseguir alimentos,
dificultando a vida dos índios e destruindo seu habitat.
Conforme Santos (1974) os assaltos começaram a ser cometidos pelos índios
contra as propriedades dos colonos, pois o mesmo possuía gado e as roças onde o índio
acabava atacando. A partir daí, os atritos aumentaram. Sendo assim, as companhias de
colonização e os colonos passaram a exigir garantias de vida e propriedade ao governo. Como
não havia solução a vista, passou-se a utilizar bugreiros, ou seja, caçadores de índios, para os
liquidar.
Quando os primeiros europeus começaram a chegar na região litorânea do sul do
Brasil, encontraram uma cultura nativa, membros da grande Nação Guarani, as relações entre
ambos foram tumultuadas, decorrentes do impasse de interesses: de um lado o colonizador em
busca de riqueza; de outro o nativo, defendendo seu território e sua família. (AGUIAR 2001).
De acordo com Farias (2000), o histórico conflito entre o elemento branco, ou
seja, o imigrante e o indígena tiveram como base a ocupação do território catarinense para
atender aos interesses do governo e das companhias de colonização. As dificuldades no
relacionamento do índio com o branco, onde muitas vezes os índios eram mortos pelos
bugreiros ou pelos próprios imigrantes, os indígenas capturados (geralmente mulheres e
crianças que haviam perdido os pais) sofriam outro tipo de violência. Arrancados de sua
aldeia, passavam a viver com as famílias de imigrantes ou eram conduzidos às instituições
como revela a noticia do jornal “O Dia”, de Florianópolis, em 28 de março de 1905:
Chegaram ontem a esta capital quatro pequenos bugres, capturados na margem do
rio Turvo em Araranguá, pela expedição do sr. Manoel Veríssimo da Rocha, que os
trouxe até aqui. São todos do sexo feminino, regulando de dois a cinco anos de
idade. Vímo-los ontem na prefeitura de polícia, donde foram conduzidos para asilo
de órfãos, a cujos cuidados estão entregues. (BORTOLOTTO, apud FARIAS, 2000,
p.93).
Segundo Santos (1987), com a abertura da estrada de tropas através dos campos
de Lages, no século XVII, a presença dos Xokleng e Kaingang nos campos, e nas florestas
que cobriam as serras, era confirmada pelos ataques que faziam aos tropeiros.
Até os finais do século XVIII são raros os dados a respeito de ataques de índios
aos “civilizados”. No início do século XIX 1808 Dom João VI por carta rege, determinava
que se fizesse guerra aos índios que utilizavam incursões nas cerâmicas de Lages.
O governo provincial promulgou a Lei n. 70, de 28 de abril de 1887, que isentava de
prestação de serviço na Guarda Nacional os moradores das localidades situadas no
sertão, expostas dos Xokleng. No seu artigo I dizia o texto legal: “Ficaram isentos
do serviço ordinário da Guerra Nacional, os moradores dos sítios de Araranguá,
Cabeceiras, do Rio da Madre, Tijucas Grandes, e em quaisquer outros lugares
centrais, onde as habitações por isoladas, sejam expostas a ataques do gentio ou
possam servir de centro e de apoio ao estabelecimento de colônias”. (FARIAS,
2000, p.94)
Cada vez mais que ocorria a penetração da colonização européia ao interior
catarinense, os grupos indígenas iam se afastando, até que os colonizadores invadiram
praticamente todos os espaços indígenas ocorrendo confrontos entre ambos.
O fato de o branco estar contando esta vitória de sua cultura, referindo-se aos
índios com o passado, demonstra que o sucesso dos conquistadores europeus foi completo,
eliminando um povo que se contava na região sul, quando espanhóis e portugueses iniciavam
a saga da conquista (genocídio do povo indígena) a partir do século XVI.
1.4 Povoamento e colonização européia em Santa Catarina
Antes de comentarmos a ocupação do território catarinense, é necessários
esclarecermos a questão do uso das palavras “colonização” e “povoamento”.
Conforme Piazza (1994, p.12): “Povoar significa a ocupação do espaço sem
interesses lucrativos com o mesmo, porém colonizar significa usufruir da terra com objetivos
lucrativos “retirando ao mesmo tempo que povoa, benefício de ordem econômico-social”.
A história da ocupação territorial de Santa Catarina inicia-se por volta de 1500
com os viajantes de várias nacionalidades que tinham por função reconhecer estas terras, e
que acabavam naufragando, os sobreviventes não tendo como retornar a Europa, se
estabeleciam nestas terras, unidos com os indígenas contribuem para o desenvolvimento
populacional do território catarinense. Antes, portanto, que se dividisse o Brasil em Capitanias
(1534 a1536), doando-se a Pero Lopes de Sousa a que se estendia até o Estado de Santa
Catarina... Já a faixa litorânea barriga-verde vinha sendo excursionada e também visitada ou
explorada. (EHLKE, 1973 p.24)
Como se pode notar, o povoamento do território catarinense está diretamente ligado
ao ciclo dos descobrimentos marítimos ibéricos. Com um litoral privilegiado –
contendo duas importantes ilhas, a de São Francisco do Sul e a de Desterro – e
localizado próximo à zona de escoamento da região do Prata, o território catarinense
tornou-se uma região estratégica para os interesses de Portugal. Atraída pela
promessa de metais preciosos, a Coroa portuguesa desejava explorar o rio da Prata a
partir de Santa Catarina e, com isso, defender o litoral catarinense contra possíveis
ataques franceses e espanhóis. (FARIAS, 2000, p.135)
Foi a partir de 1829 que se estabeleceu o processo de colonização européia
propriamente dita no território catarinense, sendo que a ocupação mais intensa da região sul
de Santa Catarina foi a partir de 1875, normatizada pelo Decreto Imperial 5.663 de 1874
(Prates e Almeida, 1993). Esta colonização deu-se, principalmente, com a entrada dos
imigrantes italianos formando as colônias de Tubarão, Azambuja, Urussanga, Criciúma e
Turvo (Piazza, 1982).
Conforme artigo do Governo de Estado de Santa Catarina:
Em 1829, a Sociedade Colonizadora de Hamburgo adquiriu 8 léguas quadradas de
terra, correspondentes ao dote da princesa Dona Francisca, que casa com o príncipe,
fundando a colônia Dona Francisca. Apesar das dificuldades do clima, do solo e do
relevo, a colônia prosperou, expandindo-se pelos vales e planaltos e dando origem,
em 1870, à colônia de São Bento do Sul. O núcleo dessa colônia deu origem à
cidade de Joinville. A colônia de Blumenau (atual Blumenau), no vale do rio Itajaí-
Açú, fundada, em 1850, por um particular, Dr. Hermann Blumenau, foi vendida, dez
anos após, ao Governo Imperial. Em 1893, a Sociedade Colonizadora Hanseática
fundava o vale do Itajaí do Norte, a colônia de Hamônia (hoje Ibirama). (BRASIL,
2005, p.1)
A ocupação de Volta Grande tornou-se mais expressiva com a migração de
italianos e de descendentes de italianos de 1921 a 1931, provenientes destas primeiras
colônias. Estes se estabeleceram por conta própria adquirindo propriedades de terceiros, não
valorizada pelos lusos, vendidas por baixos preços ou mesmo trocadas por gado (Dall'alba,
1997).
Em 1893, a Sociedade Colonizadora Hanseática fundava o vale do Itajaí do Norte,
a colônia de Hamônia (hoje Ibirama).
No vale do Itajaí-Mirim, a partir de 1860, começaram a chegar as primeiras levas
de imigrantes, principalmente alemães e italianos, que dinamizaram a colônia de Itajaí,
posteriormente denominada Brusque.
Na parte sul da bacia do rio Tijucas, apesar dos insucessos da colônia pioneira de
São Pedro de Alcântara, novos intentos colonizadores foram alcançados por alemães, com a
criação das colônias de Santa Tereza e Angelina. (BRASIL, 2005).
Foi no final do Primeiro Reinado que se iniciou um grande movimento de
colonização em todo país. A província de Santa Catarina foi um dos locais em que ele
produziu resultados mais promissores, quer o de iniciativa oficial, quer o particular. Do
primeiro tipo foram: São Padro de Alcântara, de alemães (1829); de nacionalidades diversas
(1836); Piedade, de alemães (1847); Santa Tereza (1854), com soldados agricultores,
destinadas à ligação entre Lages e a capital; Teresópolis, de alemães (1860); Brusque, idem
(1860); Azambuja, de italianos (1877); Luíz Alves, de diversas nacionalidades (1877).
(BRASIL/SC, 2005).
De iniciativa particular foram: Nova Itália, de italianos (1836); Flor da Silva, com
elementos mistos (1844); Blumenau, com alemães (1850); D. Francisca, com alemães (1851),
que deu origem à cidade de Joinville; Leopoldina, com nacionais, belgas, e alemães (1853);
Príncipe D. Pedro, com irlandeses e americanos (1860); o Grão -Pará, com italianos,
espanhóis, russos, polacos, franceses, ingleses e holandeses (1882). (BRASIL/SC, 2005)
Durante o primeiro reinado, a ação colonizadora foi vista mais como fins de defesa
da terra do que de povoamento. Houve, neste período, um movimento migratório
espontâneo, originário das Ilhas Canárias, principalmente da Ilha Lanzarote, para
Santa Catarina, dando origem à colônia de Nova Ericeira, na enseada das Garoupas
(atual Porto Belo). (ZOLDAN & CAPPELINI, 2004, p.78).
Com o objetivo de solucionar o vaziu populacional entre o litoral e o planalto, a
partir de 1829 colonos europeus foram sendo locados às margens às margens da antiga estrada
do Desterro a Lages.
São Pedro de Alcântara (1828) foi a primeira colônia alemã em Santa Catarina,
formada com alemães provenientes de Bremen e outros, da chamada "Legião Alemã",
soldados mercenários que serviram no Rio de Janeiro. Problemas como discórdia entre os
colonos a respeito da localização da colônia, atraso do pagamento a que tinham direito, má
distribuição de terras, má qualidade das terras, etc. Fizeram com que muitos colonos fossem
em busca de outras áreas da Província (como a Colônia de Várgea Grande -1837 - fundada
durante o período regencial, que também dará origem, em 1847, à localidade de Löffelscheidt
(atual Águas Mornas). (ZOLDAN & CAPPELINI, 2004).
Segundo Zoldan & Cappeline (2004) o período Regencial caracterizou-se pela
aversão ao elemento estrangeiro. Por isso, de maneira geral, foi enexpressiva a imigração
neste período. Desenvolvia-se também na Europa uma campanha contrária à imigração para o
Brasil. O regente Pe. Diogo Antônio Feijó autorizou governos provinciais a fundarem
estabelecimentos coloniais por conta própria. É aprovada outra lei que permitiu a colonização
por empresa ou companhia nacional ou estrangeira.
As origens dos núcleos catarinenses e gaúchos vêm de São Vicente. Martim
Afonso de Souza (donatário da Capitania de São Vicente) tinha a idéia de produzir açúcar em
São Paulo, mas não considerou a proximidade desta região com a Serra, conhecida na época
como a muralha. Como a economia colonial estava voltada para a exportação, e São Paulo
não tinha possibilidades de produzir açúcar, estes iniciam o processo de bandeiras, dando
origem aos primeiros núcleos de habitantes em Santa Catarina. Mais tarde para reforçar o
povoamento vieram os açorianos.
1.4.1 Povoamento Vicentista
Portugal, que já manifestara interesse em fundar uma colônia na margem esquerda
do Rio da Prata, começa a encarar com muito interesse e cuidado a preservação da Ilha de
Santa Catarina e avançam pacificamente. O gado, vindo de São Vicente, através dos campos,
atinge o Paraguai. A notícia de minas atrai diversas levas vicentista.(História de Santa
Catarina, 2005).
Em 1642 ergue-se uma capela em São Francisco que em 1660 já passa a vila. Em
1637 é o grande patriarca Francisco Dias Velho que se fixa com filhos criados e escravos na
Ilha de Santa Catarina, fundando a ermida de Nossa Senhora do Desterro (atual
Florianópolis), nome da futura povoação. O mesmo faz em Laguna em 1676, Domingos de
Brito Peixoto. A fundação da colônia de Sacramento em 1680 realça a importância dos
núcleos catarinense. Apesar dos ataques de piratas, já existe, em 1695, comércio regular entre
Paranaguá, São Francisco e Itajaí, expandindo-se os lagunenses até a colônia do Sacramento.
(História de Santa Catarina, 2005).
Os bandeirantes vicentistas contribuíram para o alargamento em direção a oeste
do Tratado de Tordesilhas.
Os bandeirantes, de seu lado, muito contribuíram, ainda, para que as fronteiras do
Brasil-colônia se dilatassem para muito além dos limites pretendidos por Espanha, a
oeste. Expandiram, assim, as possessões portuguesas na América do Sul, dando
outra interpretação ao Tratado de Tordesilhas[...]. (EHLKE,1973 p.44)
As primeiras vilas foram São Francisco (1658), Desterro (1662) e Laguna (1684),
segundo Farias (1998) estes núcleos tinham como base econômica e de sobrevivência a
farinha, o milho, açúcar, e peixe seco, comercializando-os com os navegadores que ali
passavam e com a corte para abastecer os navios e tropas. A partir daí procedera uma intensa
fixação do litoral catarinense, com a concessão e fixação de sesmarias, com seus
estabelecimentos agrícolas e pastoris.
1.4.2 O Povoamento açoriano em Santa Catarina
A sede de colonos na nova capitania coincide com a crise de superpopulação nos
Açores e Madeira. Há um movimento espontâneo de vinda para o Brasil. Resolve então o
Conselho Ultramarino realizar a maior migração sistemática de nossa história. (Brasil/SC,
2005). A Coroa Portuguesa com o intuito de reforçar o contingente populacional e,
conseqüentemente, assegurar desenvolvimento econômico e militar, estabelece o transporte e
posterior assentamento de açorianos no litoral catarinense. (LAGO, 1968).
Segundo Prates e Almeida (1993), cerca de 4.500 açorianos foram transportados
de 1748 a 1756, para reforçar o processo de ocupação do sul do Brasil, desde São Francisco
do Sul (norte catarinense) até Laguna.
Famílias completas (pai, mãe e filhos), desembarcavam em Desterro, hoje
Florianópolis, num contingente superior a 6 mil imigrantes, dos quais em torno de 1.500
foram reembarcados para o continente de São Pedro do Rio Grande do Sul. (FARIAS, 2000).
Muitos foram os fatores que induziram os açorianos a enfrentar os 8000 km de
travessia em condições bastante sofridas; mas com certeza, a promessa de boas terras e ajuda
para faze-las produzir foram decisivas. (Farias, 2000).
Segundo Piazza (1994), o vulcanismo, que desde 1444, atormentava a vida destes
imigrantes, fazendo com que em 1672 os faialenses (da Ilha de Faial) pedissem ao Rei de
Portugal que os enviassem para o Brasil, em 1718 seriam os picarotos (da Ilha de Pico) em
conseqüência dos terremotos solicitam ao Rei de Portugal o transporte para o Brasil, surgindo
assim um alistamento, principalmente na ilha de Pico e do Faial.
Outro fator é a crise alimentar e a superpopulação das Ilhas. No arquipélago da
Madeira existiam vários problemas de densidade demográfica e a falta de alimentos, sendo
estas, causas impulsionadoras para a vinda de madeirenses para o Brasil. “O sul passa a ser
um grande sorvedouro de desclassificados por todo o século XVIII” (SERPA, 1995).
A Europa neste período passa por um processo no qual o capitalismo está se
consolidando. Durante toda a Idade Média o pobre era considerado coitado “paternalismo
cristão”, porém em conseqüência do capitalismo na Idade Moderna o pobre passa a ser vadio,
desculpado, e marginalizado.
Já a partir da Baixa Idade Média, na Europa Ocidental, a preocupação com os
vadios, que preferimos chamar de desclassificados sociais, é uma constante, haja
vista o convulsionamento social ocasionado pelo processo de urbanização,
transformação da economia monetária e mudanças na estrutura da propriedade rural
desintegrando o sistema feudal e engedrando em seu seio a pobreza, mudando a
concepção que dela se fazia outrora: de podre de Cristo, coitadinho que merece
ajuda e com a qual a vizinhança convivia sem causar escândalos passa a ser
considerado como elemento que ameaçava a ordem social. (SERPA, 1995, p.45).
Todos estes problemas incomodavam Portugal, pois este se via ameaçado por uma
invasão açoriana em seu território em conseqüência da crise gerada pelo capitalismo que
produziu os “marginalizados social”. Em meio a isto, Portugal tinha mais um problema a
guarnecer seu território americano contra incursões espanholas, para isso seria necessário
povoar o Brasil meridional, neste caso Santa Catarina, pois estas terras eram de posses
estratégicas, como último bom porto de aguada, reparo de embarcações e abastecimento rumo
ao Rio da Prata. Partindo destes fatores a coroa portuguesa utilizou-os como instrumento para
sua geopolítica americana, na definição das fronteiras meridionais, até então imprecisas.
Um dos principais fatores que levaram os Açorianos a migrarem para o Brasil é a
promessa de boas terras e ajuda para a produção e o cultivo da mesma, mas existe também um
forte espírito de aventura por parte dos açorianos em busca do desconhecido; esperança em
construir riquezas; a imensa fé que os movia.
Os alistamentos feitos a partir de 1746, nas ilhas dos Açores (Terceira, Fail, Pico, S.
Jorge, São Miguel, Santa Maria e Flores), oferecendo ajuda em dinheiro, terras,
instrumentos agrícolas, sementes, gado e arma de fogo às famílias que desejassem
emigrar para o Brasil bem indicam a importância atribuída pela coroa portuguesa a
esta emigração. (FARIAS, 1998, p.242)
No alistamento a corte portuguesa tinha uma preferência por casais com idade de
gerar filhos, ou com filhos jovens, pois seu maior objetivo com esta imigração era a ocupação
do espaço geográfico do Brasil Meridional. Com isto permitiu um aumento populacional
segura onde ocorreu uma explosão demográfica ao longo dos anos.
Segundo Farias (1998) a ocupação do Brasil Meridional foi uma ocupação
sistemática. As comunidades após localizadas estabeleceram um sistema triangular de apoio
recíproco, viabilizando a sobrevivência do povoamento implantado.
Os primeiros povoadores açorianos chegados em 1748 e 1749 desembarcaram na
vila de N. Sra. Do Desterro (atual Florianópolis), habitando uma rua que até os dias de hoje é
conhecida com rua do Ilhéus.
O entorno continental da Ilha de Santa Catarina até Laguna foi o local escolhido
para colocar em prática o ambicioso esquema de povoamento açoriano no sul brasileiro.
De acordo com Farias (1998) 1748-56 foram fundadas mais seis comunidades,
num sistema funcional de freguesias já utilizado em sua terra natal, na Capitania de Santa
Catarina, número duas vezes maior que as fundadas nos 150 anos anteriores. Fundaram as
seguintes freguesias/Santo Antônio (1750), São José (1750), São Miguel (1752), Lagoa da
Conceição (1750) e Santana da Vila Nova (1755).
Os núcleos secundários do povoamento açoriano, surgidos entre 1760 e 1880,
indicam uma expansão territorial considerável (do Ribeirão da Ilha, na região de abrangência
da capital, Desterro, a Araranguá, no sul do Estado) conforme quadro 1 citado por Farias
(1998):
Localidade Data da criação
Ribeirão da Ilha
Porto Belo
Garopaba
Itajaí1
Tubarão
Jaguaruna
Araranguá2
11/07/1809 (freguesia)
12/12/1824 (freguesia)
09/12/1830 (freguesia)
12/08/1833 (freguesia)
23/03/1836 (freguesia)
05/03/1880 (freguesia)
04/05/1848 (freguesia)
QUADRO 1: Os núcleos secundários do povoamento açoriano, surgidos entre 1760 e 1880.
FONTE: FARIAS, 1998, p. 261.
Núcleos terciários, surgidos a partir de 1880, representam a ocupação de áreas
localizadas ao sul de Santa Catarina (São Martinho, Criciúma e Sombrio, entre outras)
conforme a tabela 2:
Localidade Data da criação
Sombrio
Paulo Lopes
Itapema
São Martinho3
Criciúma4
Pedras Grandes5
Armazém6
Gravatal7
08/01/1916 (freguesia)
06/11/1910 (freguesia)
30/12/1914 (dist. policial)
02/08/1892 (freguesia)
02/09/1892 (freguesia)
31/12/1943 (freguesia)
10/01/1901 (freguesia)
02/10/1888 (freguesia)
QUADRO 2: Núcleos terciários surgidos a partir de 1880
FONTE: FARIAS, 1998, p. 277.
Estes açorianos que aqui se fixaram modificaram as estruturas sócio-demográfica-
cultural de nosso Estado, pois anteriores a estes viviam aqui cerca de 2.000 habitantes em
todo o território catarinense.
De acordo com Farias:
A vinda dos imigrantes açorianos mudou completamente a paisagem social,
econômica e política de Santa Catarina, dando-lhe características diferenciadas em
relação aos demais Estados brasileiros. Em primeiro lugar, os açorianos que aqui
chegaram eram homens livres, não se tratavam de mão-de-obra escrava. Além disso,
tornaram-se donos da terra em que viviam, em vez de trabalharem em grandes
propriedades de terra alheia, como acontecia no Nordeste. E, finalmente, ao invés de
produzirem para o mercado externo, cuidavam da própria subsistência e da sua
família. (FARIAS, 2000, p.123).
1
Núcleo multi-cultural açoriano/alemão
2
Núcleo multi-cultural açoriano/italiano
3 1Núcleo multi-cultural açoriano/alemão
4
Núcleos multi-culturais açorianos/italianos
5
Idem
6
Idem
7
Idem
Trouxeram junto de si alguns conhecimentos tecnológicos, que somados a seus
sonhos foram fundamentais para o processo de povoamento de nosso território.
Os imigrantes açorianos tiveram várias mudanças com a fixação no Brasil
Meridional, bem como: substituição da farinha de trigo pela mandioca, utilizando-se da
tecnologia dos moinhos de trigo usados nos Açores; mudanças alimentares deixando de se
alimentar de carne, trigo, sendo estes substituídos por peixes e mandioca; as festas do divino
passam a ser reconhecida pela Igreja Católica.
O povoamento açoriano não buscou, apenas, o objetivo econômico. Ele não foi
ativado para abrir uma nova região produtora no Brasil de meados do século XVIII.
Ele ocorreu, principalmente, para resolver dois problemas da Coroa Portuguesa o
excesso de população nos Açores e a necessidade de manter uma forca militar do
domínio português no cone sul. (SACHET, 1997 p.40)
Segundo Piazza (1994) foi Alexandre de Gusmão a mando do Rei D. João V que
irá articular a criação da Capitania da Ilha de Santa Catarina como base militar e consolidar o
povoamento com a vinda de açorianos e madeirenses.
Deu-lhes boa acolhida o Governador Manuel Escudeiro, sucessor do Brigadeiro
Paes. Mas nem todas as promessas da administração colonial podiam ser cumpridas, por falta
de recursos. Além disso, nem todos os imigrantes, entre os quais muitos nobres, estavam
dispostos a dedicar-se à agricultura ou aos ofícios mecânicos, em obediência às ordens régias,
que tinham o propósito de evitar a entrada de escravos. (Brasil/SC, 2005).
Conforme Farias (2000, p.109) os Açorianos “trouxeram para Santa Catarina uma
bagagem de conhecimento técnicos, tradições, costumes que, somada a seus sonhos, foi
fundamental na consolidação do processo povoador na região”.
Radicados os casais na Ilha e no litoral, foram tentadas várias culturas agrícolas: o
trigo, sem êxito devido a "ferrugem" que o atacava; o linho e o cânhamo, com relativo
aproveitamento, e o algodão, cujo cultivo a Metrópole forçava, sob penalidades severas. Mas
na realidade, a cultura que prevaleceu foi a da mandioca, que os colonos aprenderam no novo
continente e dela conseguiram safras promissoras, permitindo até a sua exportação. Houve no
séc. XVII a criação da cochonila, mas que desapareceu n o séc. XIX, por falta de incentivo.
(BRASIL/SC, 2005, p.1).
O açoriano mostrou-se forte, um vencedor. Superou os desafios representados pelas
densas florestas, as dificuldades em adaptar seus tradicionais cultivos e a presença
de novas doenças subtropicais. Rapidamente desenvolveu mecanismos de
adaptações, transformando alguns dos seus valores básicos e adaptando outros que
se encontrou em uso na região. (FARIAS, 2000, p. 110).
As propriedades eram minifundiárias, de pequeno e médio porte, as atividades
econômicas eram sazonais, tinha como papel fundamental, mandioca, cana-de-açúcar e milho,
produtos de alimentação básica para a população.
A exploração de produtos agrícolas, especialmente a farinha, destinada ao
abastecimento da população urbana, das tropas e de embarcações em trânsito,
associadas á atividade pesqueira, aos poucos deram sentido econômico á população
que chegara. Os limites impostos pela terra, que não era a mais adequada para a
agricultura, além do próprio contexto político que motivara a imigração, não
permitiram que aqui se instalasse uma economia voltada para o mercado europeu.
As atividades econômicas ficaram assim voltadas para o mercado interno da colônia.
(SANTOS, 1977 p.60)
Por toda a costa litorânea de Santa Catarina a cultura predominante é de base
açoriana, no qual se difundiu com as outras culturas européias, bem como italianas, alemães,
polonesas e também africanas, assim sendo é comum encantarmos estas etnias com costumes
tipicamente açorianos em sua religiosidade, gastronomia, processos produtivos, frutos de uma
aprendizagem secular.
Da mesma forma os açorianos adotaram valores culturais presentes nestes grupos
e praticam-nos no seu dia-a-dia, em suas danças, gastronomia, habitação, etc.
As variações culturais microrregionais são o resultado de inúmeros fatores, entre os
quais: o meio ambiente e os recursos naturais disponíveis; tipos de bens e serviços
produzidos; facilidade de vender, trocar e também comprar outros produtos
necessários à sobrevivência de comunidade; troca de experiências com outras
culturas; mentalidades do povo frente aos inúmeros desafios do dia-a-dia.
A outra grande microrregião cultural de base vicentista luso-açoriana surgida no sul
de Santa Catarina envolve a bacia do Araranguá/Mampituba e sistema lagunar de
Sombrio, compreendendo os municípios de Araranguá (pólo vetor microrregional),
Sombrio, Criciúma, Mararcajá, Arroio do Silva, Ermo, Jacinto Machado, Balneário
Gaivota, São João do Sul, Santa Rosa do Sul, Passo de Torres.
Nesta microrregião, mais que em qualquer outra, houve ao longo de seu povoamento
forte ação multicultural, envolvendo luso-açorianos, italianos, alemães, índios e
negros. (FARIAS, 2000 pp.99-101).
As principais manifestações culturais dos açorianos em terras catarinenses:
produção artesanal do engenho de farinha; pasquim; cantos de influência religiosa: terno de
reis, Terno de Santa Amaro, Massânico, Caranguejo, Polca de Flor, Fandango; Cantilha:
Ratoeira, Cantilhas de Trabalho, Pau-de-fitas; Clico do Divino Espírito Santo, Peditório,
Novenas, Cantorias do Espírito Santo; Festa do Divino Espírito Santo, Bandeira do Divino,
Coroa, Cetro, Salva, Impérios do Divina Espírito Santo, Festeiro, Imperador e Imperatriz,
Corte, Cortejo imperial, Missa, Coração, Pagamento de promessas, Pãozinho do Divino,
Varas, Mastro do Divino, Juízes da Vara, Banda Musical; Brinquedos e diversões, Futebol,
Bola de Meia, Jogo de Taco, Jogo de talha, Pião, Brincadeira da tampinha da garrafa, Bolinha
de vidro; etc.
A cultura de um povo pode ser observada através do conjunto das manifestações
expressas ao longo do ano, nos vários campos das ações humana.
Surge da combinação espontânea de diversos elementos, os quais, representam, para
o povo, fundamentos do seu saber ser e saber fazer. Neste conjunto heterogêneo
reúnem-se, a religiosidade, o imaginário, o saber fazer, as relações com a natureza,
os sentimentos. Enfim, a síntese das relações socioeconômicas e culturais do dia-a-
dia do grupo humano. (FARIAS, 1998 p.305)
Estes são uns dos traços representativos da cultura açoriana, que em muitos locais
estão por desaparecer, em conseqüência do não interesse das sociedades mais recentes em
preservar o patrimônio cultural de seus antepassados.
1.4.3 Caminho dos Conventos
Em 1703, Domingos de Filgueira descreveu o caminho entre a Colônia de
Sacramento e Laguna conhecido como Caminho da Praia. Vinte e cinco anos depois, em
1728, foi aberto o Caminho dos Conventos, também chamado do Caminho de Souza Farias
que saindo de Araranguá (SC), subia o planalto, penetrando nos Campos de Cima da Serra,
seguindo até Curitiba para chegar em Sorocaba. (Oliveira, 2005).
Segundo Marcelino (2003, p.4) a estrada iniciava nas proximidades da foz do rio
Araranguá, próximo ao Morro dos Conventos, distante de Laguna, ao sul, pouco mais de 15
léguas.
Seguia-se até os contrafortes da Serra Geral no sentido leste-oeste, atravessando
uma planície de aproximidade 40 quilômetros.
A subida dos contrafortes da serra era por um trilha de difícil acesso, que ao seu
final encontrava-se com o planalto rico em campos e pastos de excelentes
qualidades, com fartura de gado, também denominada de Campos de cima da Serra,
posteriormente, Vacaria dos Pinhais. Destas região, os tropeiros seguiam para Lages
e, daí então, para Curitiba (Hobold, 1994, p.45).
Em função da abertura do Caminho dos Conventos surgiram diversos atalhos e
variantes por onde transitavam tropas de gado, com locais de pouso, que iriam constituir-se
nas primeiras póvoas ou praças. Conforme Marcelino (2003, p.5): “As póvoas eram
compostas por algumas casas e estabelecimentos comerciais, que forneciam mercadorias de
consumo, como açúcar, café sal, querosene, etc”.
O sul do país durante a economia mineradora do século XVIII não possuía
produtos de exportação, porém tinha por função abastecer o mercado interno, principalmente
o gado para a região das minas. Por este motivo desenvolveu-se em Santa Catarina uma
lavoura de policultura diferenciada do restante do país que predominava a monocultura.
Segundo Piazza,
Com a entrada da frota de João Magalhães nos Campos de Viamão, em 1725,
encontrando lá gado xucro, deu-se início ao um processo social-econômico de
recíprocos interesses entre os ‘lagunistas’ e os estancieiros que se firmavam nos
campos nativos do Continente do Rio Grande. (PIAZZA, 1994, p.75).
Laguna começa a ter sua região como destaque na passagem das tropas e na venda
do gado, pois os Campos do Rio Grande do Sul passam a fornecer o gado a Laguna e esta os
retalha, salga e vende para São Vicente remetendo-os via marítima, que por fim os
redistribuía para Minas Gerais.
Dia a dia começa a surgir o interesse da abertura de um novo caminho que ligasse
Rio Grande a São Paulo, este conhecido com “caminho do sul”. O Sargento-mor de cavalaria
Francisco de Souza e Faria recebeu instruções para abrir o caminho, ligando a referida
campanha aos Campos Gerais de Curitiba.
Contornadas as oposições, Francisco de Souza Faria, a11 de fevereiro de 1728, deu
início à sua missão, abrindo o primeiro rasgão na mata, próximo á barra do rio
Araranguá, no local chamado “Conventos”. E a 8 de setembro de 1730 alcançou o
rio do Registro (rio Negro).
Concluiu-se, assim, o “caminho do sul” nas atuais áreas sul-rio-grandenses e
catarinenses. (PIAZZA, 1994 p.77).
Os habitantes de Laguna não gostaram da idéia, porém a idéia obteve apoio nos
demais pontos de escala.
[...] para Laguna, a abertura de qualquer caminho interiorano lhe traria como
conseqüência irreversível a decadência, pois perderia a sua posição invejável de
ponto de passagem obrigatória para o sul como lugar de convergência, do que lhe
advinha boa parte de sua prosperidade e seu poderio. (HOBOLD, 1994 p.46)
A estrada dos conventos que ligava Rio Grande a São Paulo pela Serra tinha sua
entrada na cidade de Araranguá e em seu percurso passava pela atual cidade de Ermo, levando
um grande número de tropeiros e estancieiros a se localizarem ao longo de sua trilha.
Quando abriu o Caminho dos Conventos preocupou-se em fazer com que a maior
parte do trajeto ficasse às margens de alguma vertente de água até em “Cima da
Serra”, assim escaparia das íngremes subidas de morros, como também teria a
garantia de que o gado não morreria de sede durante o percurso. (COELHO, 2003
p.129)
Partindo-se da abertura do “caminho do sul”, inicia-se o povoamento do planalto
catarinense, sendo as terras ocupadas por “invernadas”, “pousos” “estâncias”.
Vale ressaltar que a subida dos contrafortes da Serra Geral ocorria pelas encostas
da Serra da Pedra, localizada mais precisamente no município de Jacinto Machado.
Volta Grande (atual Jacinto Machado), recebeu esta denominação devido a grande
volta que se dava de Araranguá para atingir esta "póvoa", decorrente das grandes áreas
alagadiças existentes na planície. Sua colonização foi inicialmente estabelecida por posseiros
luso-brasileiros que adquiriram terras devolutas oriundos, em sua maioria, de Araranguá e
Laguna. (FONTANELLA, 1992).
Porém o desenvolvimento da região sul catarinense era lento e suas atividades
produtivas eram, em muitos aspectos, rudimentares. Isto ocorreu mesmo após serem
estabelecidos os primeiros moradores e de serem criadas estradas de ligação entre o planalto e
a faixa litorânea favorecendo a criação de um comércio pioneiro.
A economia não era suficientemente promissora e dinâmica para trair um
contingente populacional, ou mesmo para estabelecer uma organização social sólida.
Praticava-se agricultura de pequenas propriedades, com técnicas rudimentares onde eram
derrubadas as matas para utilização do solo até exaustão. Produziam, em sua maioria, a
mandioca, a cana-de-açúcar, o milho, o algodão e outras culturas em menores escalas.
(LAGO, 1968).
No caso de Volta Grande, este caminho principal era ao lado do rio da Pedra e,
este se ajustou às condições morfológicas que, sendo uma extensa planície, beneficiou a
implantação dos demais arruamentos.
2 COLONIZACAO EM SANTA CATARINA SÉCULO XIX
Durante o século XIX, surgem as correntes migratórias européias para a América,
onde uma leva destes imigrantes irão se deslocar para o Brasil e para o Estado de Santa
Catarina, trazendo junto de si uma nova mentalidade, em decorrência da consolidação do
capitalismo e da Revolução Industrial.
A etnia negra é pouco discutida em Santa Catarina, passando muitas vezes a
impressão de que estes nem existem neste Estado, mas sabemos que o negro possui uma
presença marcante em nossa cultura, devendo ser valorizado.
2.1 O imigrante Europeu em solo catarinense
Durante o século XIX a Europa passava por fortes problemas de ordem
econômica e social, dos quais irá motivar a emigração para outros países, neste caso para o
Brasil e mais especial para o Estado de Santa Catarina.
Entre 1815 e 1849, a Europa conheceu três ondas revolucionárias sucessivas, e com
elas, as crises econômicas. A industrialização européia ocorreu de forma desigual.
Os países do sul e do leste continuavam predominantemente agrários e o progresso
industrial restringia-se a uma área pequena (Grã-Bretanha, França, Bélgica e
Alemanha). Na Itália, por exemplo, a maioria da população rural estava insatisfeita
com o quadro social e econômico, apesar do desaparecimento dos direitos feudais.
(FARIAS, 2000, p.123)
Os fatores conjecturais que formaram a mentalidade do emigrante europeu, foram
decorrentes da unificação de alguns países, bem como Alemanha e Itália, que geraram
intranqüilidades perante a população e a falta de terras; um outro fator está relacionado a
Revolução Industrial, que ocasionou a falta de emprego, fome e miséria. Perante isto surgem
as correntes imigratórias, além mar, para os Estados Unidos, a Austrália, e a América do Sul,
onde existia uma grande procura por mão-de-obra européia.
Este movimento de emigração tem ligações com o crescimento demográfico. Entre
1815 e 1914, a população da Europa ultrapassava o dobro. (...) A Europa parece
superpovoada. (...) Se a Europa parece superpovoada no século XIX, isso ocorre
porque, no estado de sua agronomia, ela não esta capacitada a alimentar mais bocas,
e porque, levando-se em conta o desenvolvimento de sua industria, ela não pode
oferecer trabalho a um número maior de pessoas. (REMOND, 1974 p.197)
Em meio a todos estes problemas ocorrentes na Europa a emigração foi a válvula
de escape, tanto para os Estados europeus quanto para sua população, migrando cerca de 60
milhões de pessoas no século XIX.
Em princípio os imigrantes europeus tinham por objetivo migrar para os Estados
Unidos, porém a fiscalização neste país era muito forte não permitindo a entrada de
estrangeiros sem que estivessem com todas as vacinas em dia, (este é um dos exemplos desta
fiscalização), desta maneira poucos europeus conseguiam entrar em território Norte
Americano. A segunda opção era a Argentina, e por último o Brasil.
[...] estrangeiros nenhum procuravam o Brasil espontaneamente, sabendo que as
condições sócio-econômicas era das piores possíveis. Os que abandonavam a Europa
dirigiam-se aos Estados Unidos, ao Canadá que, além de pagarem a passagem um
terço do que gastavam para a América do Sul, ofereciam melhor padrão de vida,
fácil acesso à propriedade, liberdade de culto e clima excelente. No Brasil, além dos
fatores mencionados, havia o problema religioso: quem não casasse pela Igreja
Católica era nulo o casamento e seus filhos considerados ilegítimos. (PEREIRA,
1974 p.58)
Santos (1987) explica que desde o início do século, o governo brasileiro buscava
imitar o exemplo americano de imigração, com o objetivo de desenvolver sua economia
estagnada, e também de resolver seu problema de ocupação em regiões até então desabitadas.
Resumidamente os imigrantes europeus que vieram para o Brasil eram em sua
grande maioria, camponeses sem terra, operários sem trabalho, burgueses falidos. Não
podendo deixar de citar uma pequena, mas significativa leva de imigrantes europeus que
migraram por objetivos ideológicos, sendo estes em sua grande maioria políticos e religiosos.
Esta massa de excluídos do sistema socioeconômico europeu será o visado pelo
governo brasileiro como mão-de-obra para vir substituir o braço escravo, (que estava por
desaparecer nas fazendas de café, visto que estes após a abolição da escravatura acabam
perdendo espaço de trabalho para os imigrantes, pois os produtores brasileiros valorizavam
mais a mão-de-obra européia supondo que esta fosse mais qualificada do que a africana), e
principalmente com o objetivo de embranquecimento da população brasileira.
As transformações sociais e econômicas do 3º quartel do século XIX, o alto preço do
café, a falta de mão de obra nacional, a melhoria das estradas, as ferrovias, o
processo crescente da urbanização, a introdução, lenta embora, da máquina para o
beneficiamento do café e com a qual o trabalhador escravo se mostrava
incompatível, tudo isso favoreceu grandemente o surto imigracionista. (PEREIRA,
1974 p.57)
Santos (1977) coloca que o Sul do Brasil teve uma conotação diferenciada do
restante do país. No Sul os governos provinciais se interessaram por estes imigrantes como
forma de preenchimento demográfico, em áreas ainda não habitadas, bem como no
desbravamento de largas faixas de floresta. Assim sendo as províncias do Rio Grande do Sul,
Santa Catarina e Paraná, passaram a fazer concessões de terras para empresas particulares que
se comprometiam em trazer o imigrante europeu e localizá-lo nas novas terras do Sul.
De acordo com Singer, (1977) a partir do século XIX Santa Catarina passa a ser
palco da colonização européia, principalmente alemã e italiana. O primeiro núcleo de
colonização alemã surge em 1829: São Pedro de Alcântara, próximo a Florianópolis. Depois
são fundadas Joinvile, ao norte, e Blumenau, no Vale do Itajaí, em 1850 e Brusque, no Itajaí-
Mirim, em 1860.
Os italianos começam a chegar a Santa Catarina, em 1836, fundando as colônias
“Nova Itália” e “Nova Trento”, às margens do Rio Tijucas. Mas o principal centro de
colonização italiana será o vale do Tubarão, onde, a partir de 1875, surgem Criciúma e
Urussanga. Imigrantes italianos também irão povoar o Vale do Itajaí, a partir de 1875,
misturando-se com a população germânica já ali estabelecida.
Farias (1998, p.231) explica que a introdução de milhares de imigrantes europeus:
alemães, italianos, poloneses, franceses, portugueses, espanhóis, russos, somada ao grande
fluxo da imigração interna para a região, viabilizou o andamento populacional dos vales
fluviais dos rios Itajaí, Itapocu, Cubatão, Tubarão, Tijucas, Araranguá, Urussanga.
Piazza (1994, p.224) cita a colonização polonesa tendo inicio em 1871 na
localidade de Brusque e a partir de 1882 passam a se fixar em áreas novas ou periféricas das
colônias, seguindo, em muitos casos os roteiros de italianos e alemães, atingindo as
localidades de Jacinto Machado e Turvo ao Sul de Santa Catarina.
Estes europeus se fixaram nestas terras em comunidade semi-isoladas,
reconstruíram aqui suas vidas, sendo que em parte nos mesmos moldes da Europa.
O que às vezes chamamos de novas Europas são outras tantas réplicas da Inglaterra,
da França, da Itália ou da Espanha. Com efeito, esses europeus, que abandonaram
suas terras sem pretensões de voltar, levam consigo seu estilo de vida, suas
instituições, seus costumes, seus gostos, seus hábitos, sua religião, para implanta-los
na terra de adoção. (REMOND, 1974 p.200).
Estas comunidades se mantiveram semi-isoladas e com contatos com sua terra
mãe até a Segunda Guerra Mundial, quando este cordão umbilical é cortado e o governo
brasileiro passa a exigir que todos falem o português abandonando seu idioma de origem.
Neste processo de introdução de europeus em Santa Catarina foi fundamental o
apoio dos açorianos aos recém chegados, sendo que os açorianos tinham como obrigação
alojá-los; contribuíram também com fornecimento de gêneros alimentícios, ensinaram o
cultivo dos produtos regionais, bem como a mandioca, a cana-de-açúcar, milho. Assim sendo,
o desenvolvimento dos engenhos de farinha e da cana-de-açúcar de colonização ítalo-
germânico-poloneses, possuí em suas raízes a base tecnológica açoriana. Neste contexto os
açorianos passaram a utilizar com maior intensidade a madeira nas construções, esta
tecnologia e equipamentos de serragem introduzidos principalmente pelos italianos.
Porém o contato dos europeus vindos no século XIX, não foi tão amistoso com os
açorianos já aqui instalados. Estes imigrantes europeus achavam-se superiores aos açorianos,
em conseqüência disto vários pré-conceitos irão se formar em virtude do modo de vida do
açoriano.
Farias (2000, pp.105-107) nos relata alguns destes pré-conceitos:
- “O homem do litoral é malandro, preguiçoso, não quer trabalhar”, este juízo
formou-se pelo fato de o açoriano ir até a venda e tomar uns tragos e contar uns casos por
volta das 4 a 5 horas da tarde, por conta de este ser o único horário disponível para ele fugir
do seu ritmo de trabalho diário, pois a noite não poderia freqüentar a venda porque dormia
cedo por volta das 20:00 horas, pois sabia que o dia de trabalho iniciava ás 5:00 horas da
madrugada indo neste ritmo até umas 15:00 horas, trabalhando entre 10 a 12 horas seguidas.
Como os ítalo-germânicos eram acostumados aos horários comerciais-industriais trabalhavam
no período diurno tinham este pré-conceito referente aos açorianos.
- “São uns pobres e malandros, vivem só comendo pirão com peixe, por isso as
crianças são amarelas e barrigudas”, a alimentação açoriana era a base de farinha de mandioca
e peixe, tendo como complemento açúcar, café, banana, feijão, vagens e verduras, tornando-
os pessoas saudáveis, visto que na fase adulta os homens ganhavam musculatura e as
mulheres eram dificilmente gordas e flácidas. Em relação as crianças tinham esta cor
amarelada e barriguda pelo fato de andarem descalças, contraindo verminoses, bem como de
comerem muito amido (mandioca).
- “É um povo ignorante, atrasado, que não tem ambição, se conforma com o que
tem, por isso é que é pobre”, é esta mentalidade que difere os açorianos dos ítalo-germânicos.
Enquanto os açorianos se guiam por uma mentalidade pré-capitalista, não acumulativa, de
base econômica de subsistência, os ítalo-germanicos, migrados no século XIX, trouxeram já
uma mentalidade capitalista, seja por virem de uma Europa em plena revolução industrial,
seja porque vieram através de companhias de colonização, que cobravam uma mentalidade
acumulativa, que foi passada aos seus descendentes.
- “Filho(a) meu(minha) não casa com brasileiro(a) (descendentes de luso-
brasileiro) senão não entra mais na minha casa, não é mais meu (minha) filho (filha) e será
deserdado(a)”, Foram estas as ameaças feitas a muitos moços e moças por seus pais e avós,
isto ocorre a partir da década de 60 quando muitos destes jovens passam a freqüentar as
Universidades e trabalharem em empresas quebrando o isolamento que havia entre estas
culturas, muitos acabam se casando, ficam anos isolados de seus familiares. Esta maneira de
pensar dos ítalo-germanicos são por parte derivantes do medo e rancor construído durante a
Segunda Guerra Mundial, quanto estes se viram obrigados pelo governo brasileiro a
romperem os laços afetivos a sua nação-mãe, sendo obrigados a falarem e a escrever em
português. Assim, para estes perseguidos era inadmissível que seus descendentes se casassem
com estes antigos perseguidores.
[...] em especial os alemães e italianos, já expropriados em sua área de origem,
trazem as representações da sociedade burguesa, calcada na superioridade racial do
colonizador europeu, onde o discurso do trabalho livre e branco como portador de
progresso e identificado com a civilização já estava dado. Isto reforçou o isolamento
destes em relação aos africanos e seus descendentes. (PEDRO, 1988 p.64).
Os colonos europeus vindo durante o século XIX, foram de vital importância para
a economia catarinense, pelo seu desenvolvimento com o comércio e a futura indústria;
proporcionou condições para que se ampliassem os mercados locais, aumentando a demanda
de mão-de-obra, e, notadamente, separassem as atividades entre o campo e a cidade,
diversificando a agricultura e impulsionando as exportações para os mercados abertos no
interior e exterior.
Será com a mentalidade do emigrante europeu do século XIX, que irão se
desenvolver a indústria em Santa Catarina. Este imigrante saíra da Europa em plena
Revolução Industrial alicerçado nesta nova forma de pensar, que este se fixará em terras
brasileiras, neste caso em particular, catarinenses.
Em relação a contribuição no aspecto industrial em Santa Catarina Piazza (1994,
p.355) nos coloca que basicamente os colonizadores europeus se deslocam para Santa
Catarina anteriormente à Revolução Industrial ter se consolidado em seus países de origem.
Não se pode dizer claramente que esta colonização trouxe contribuições à “modernização” de
Santa Catarina, porém os estudos feitos até o momento demonstram uma positiva ação
modernizadora, como a origem rural ou urbana, a atividade industrial exercida na Pátria de
origem, e a contribuição da mentalidade que era portador o imigrante, no momento da
imigração.
Tratando do mesmo assunto Boslle (1988, p.73) descreve que os alemães que
entram em Santa Catarina na segunda metade do século XIX, ao contrário do que ocorrera na
primeira metade, contavam com elementos de origem urbana, com formação artesanal,
operária, comercial, industrial e intelectual.
Mesmo os que tinham em sua origem o campo, vinham de uma agricultura que
tendia para a comercialização. Estes imigrantes saem de seu país no qual se industrializa a
passos gigantescos, contribuindo fundamentalmente para explicar a vocação das zonas de
colonização alemão em nosso Estado.
Com a euforia da era materialista, industrial, mecânica e cientifica que grassava no
mundo no terceiro quartel do século passado, coincidiu a vinda para o Brasil dos
imigrantes italianos que trouxeram na sua bagagem, além da ambição, uma
inclinação natural para as artes de ofícios, e para a maquinaria em geral. Iniciando-se
na lavoura pra a qual tinham vindo, vivendo parcimoniosamente, acumulando as
parcas econômicas em anos sucessivos de labor diuturno, o imigrante foi se
transformando de assalariado das grandes fazendas, em proprietário de terras,
substituindo as famílias tradicionais de São Paulo, e no Sul, de sua colônia e da
atividade artesanal doméstica ou local, transformando pequenas oficinas, ferrarias,
funilarias, moinhos movidos a água, em gigantescas indústrias. (PEREIRA, 1974,
p.131).
A burguesia imigrante além de sua vantagem em termos de mentalidade técnica,
industrial e empresarial, existe ainda mais um fator que contribuiu para seu desenvolvimento
industrial e comercial, que está retratado no contato que estes dispunham com empresas de
suas nações, sendo estes laços rompidos somente durante a Segunda Guerra Mundial.
Através desta miscigenação cultural que se formou o povo catarinense, tendo
desta forma em seus hábitos, variados aspectos culturais originários e herdados de seus
colonizadores.
2.2 O negro em Santa Catarina
O trabalho negro é introduzido no Brasil principalmente na região do nordeste, em
conseqüência da falta de mão de obra, e também ao fato de este comércio negreiro ser muito
lucrativo.
Pereira (1974) nos explica que desde o descobrimento do Brasil, quando os
primeiros habitantes começaram a se fixar nestas terras o negro era utilizado como escravo.
No inicio do século XVII viviam no Brasil cerca de 100 mil negros. O tráfico dava muito
lucro, embora se perdesse cerca de 40% dos negros trazidos da África nas travessias, estes
morriam por maus tratos, fome, doenças, suicídios, mas assim mesmo, entravam no Brasil
anualmente milhares de escravos.
O negro nas grandes fazendas era mais um dos grosseiros instrumentos de
trabalho, sem nenhum valor moral ou humano. Este para os seus senhores era como um
animal de carga (cavalo, boi).
A introdução do trabalho negro em Santa Catarina já inicia-se desde as primeiras
vilas fundadas pelos vicentistas, bem como Desterro, São Francisco e Laguna. O trabalho
escravo utilizado em Santa Catarina foi em menor número comparada as outras regiões do
Brasil, mas não com menos importância e valor para o desenvolvimento catarinense, pois os
negros contribuíram e muito para o abrochar de nossa cultura e sociedade.
[...] os escravos nunca foram realmente a maioria da população da província, da Ilha,
ou de Desterro. Sua participação no conjunto da população não é, entretanto,
desprezível: eles representam a quinta parte do contingente populacional até meados
da década de 1850, sendo que, no caso de Desterro, chegou a atingir mais de 40%
em 1831. (PEDRO, 1988 p.19)
Uns dos motivos relacionados ao número reduzido de escravos em Santa Catarina,
se dá ao fato de que as condições de vida dos habitantes que aqui viviam eram precárias não
tendo condições para comprar escravas, com isto levou-os a realizar o trabalho produtivo
pessoalmente.
[...] Como os negros são raros, sobretudo no campo, e a população branca é pobre e
numerosíssima, esta não acha que seja desonra cultivar a terra com as próprias mãos,
e são os brancos que no Desterro exercem todos os misteres. Numa parte da
Província de Minas, onde a brancura da pele estabeleceu uma espécie de nobreza, e
onde os homens de cor são os que trabalham, constituem estes a classe popular. Em
Santa Catarina esta mesma classe se compõe de brancos. (SAINT-HILAIRE apud
PEDRO 1988, p.18)
Em conseqüência disto, costumava-se alugar escravos, como demonstra um
anúncio de jornal da época.
FIGURA 1: Anúncio colocado em Jornal para aluguel de negros.
FONTE: “Os Argos” apud SACHET (1997, p.60).
Os escravos estavam destinados aos afazeres domésticos, na agricultura, no
comércio e na indústria baleeira, em geral. Isto se dá ao fato de que em Santa Catarina a
propriedade era minifundiária, voltada para produção interna, ao contrário das outras regiões
do país onde a economia era totalmente voltada para o comércio europeu.
O escravo em Santa Catarina participou da agricultura de subsistência, e, talvez, de
exportação – mas, ainda não dimensionada-dos trabalhos de marinharia, quer na
indústria baleeira no século XVIII e nos princípios do XIX, quer, também, na
marinha de cabotagem, e, finalmente, nos serviços nitidamente urbanos e,
notadamente, domésticos. (PIAZZA 1994 p.234)
Ano Total de escravos População total % escravos na pop. Total
1797
1810
1812
1812
1819
1831
1840
1844
1853
1857
1872
5.191
7.193
7.578
7.500
9.100
11.984
12.511
14.382
15.025
18.187
14.984
24.892
31.511
33.049
35.000
44.000
49.949
62.213
-
-
92.912
159.802
20,85
22,70
22,92
21,42
20,68
23,99
18,89
-
-
19,57
9,37
QUADRO 3: População escrava em Santa Catarina durante o século XIX.
FONTE: PEDRO, 1988 p.19.
O quadro acima demonstra que ocorre uma constante em todos os anos da
presença negra em Santa Catarina desde 1797. Podemos também perceber que conforme se
vai concretizando a projeto de embranquecimento da população através da vinda maciça do
imigrante europeu em meados do século XIX, o número de negros vai gradativamente
diminuindo.
De acordo com Pedro (1988) durante o século XIX com a vinda do imigrante
italiano, alemão polonês, inicia-se uma nova fase relacionada ao povoamento em Santa
Catarina, pois estes imigrantes num período de sessenta anos iriam quadruplicar a população
catarinense, onde encontraram uma sociedade já preparada para subjugar os elementos negros.
Estes imigrantes irão aderir ao isolamento que fará com que estes venham a subjugar aqueles
que já eram alvo de preconceito pelos demais habitantes. Além disto principalmente italianos
e alemães trazem as representações de uma sociedade burguesa, alicerçada na superioridade
racial do europeu, reforçando seu isolamento frente aos negros, e o preconceito com os
mesmos.
Segundo Leite (1996, p.38) Santa Catarina foi o “lócus” da concretização do
projeto de embranquecimento da população brasileira durante o século XIX, através da
política imigrante européia.
Um dos fortes problemas encontrados no Estado se dá ao fato de caracterizar
Santa Catarina como uma região branca com insignificativa presença de negros, ou ainda pior,
declarar este Estado como sendo a “Europa brasileira”, onde a maior parte da população é
compostos por italianos, alemães e poloneses. Tudo isto demonstra a invisibilidade do afro-
brasileiro em Santa Catarina, e uma “superioridade racial” do branco.
Novos mecanismos sutis ou explícitos de exclusão dos negros , são revelados nas
pesquisas recentes. Por outro lado, diferentes estratégicas utilizadas pelos negros ao
longo deste século para lidarem com a invisibilidade, o racismo e as mais diferentes
formas de segregação, não podem mais ser desconsideradas. O território negro
aparece, então, como o elemento de visibilidade a ser resgatado. Através dele, os
negros, isolados pelo preconceito racial, procura, reconstruir uma tradição centrada
no parentesco, na religião, na terra e nos valores morais cultivados ao longo de sua
descendência. A tradição negra tem sido, comprovadamente, o próprio
enfrentamento, a resistência cotidiana, a luta pela recuperação da auto-estima. Tanto
nas áreas rurais como nas periféricas e urbanas, os negros consolidaram sua
identidade social através da demarcação simbólica expressa por uma fronteira étnica
que é construída ao longo de anos de resistência e em específicos e diversos
contextos: na casa, na vila, no bairro, no clube, na rua, no bar. Esta fronteira étnica,
coincidindo em diversos casos com a ocupação de uma terra, configura uma
apropriação coletiva que é possível de titulação. (LEITE, 1996 p.50)
É recente a inclusão do negro na história nacional e principalmente de Santa
Catarina, da qual construiu e constrói sua identidade cultural através da negação ao negro.
Sendo de suma importância resgatar e investigar este importante legado dos afro- brasileiros
que por muito vem sendo discriminados e excluídos de nossa sociedade e conseqüentemente
de nossa história.
3 PERSPECTIVA E METODOLOGIA DO TRABALHO APLICADO
A história Oral, Memória e Patrimônio Cultural foram a base da pesquisa
realizada, viu-se necessário fazer uma breve discussão sobre os mesmos, destacando a
importância da história oral e da memória como fonte histórica, sendo que foi através deste
recurso histórico que possibilitou o “resgate” da história local de Ermo, tendo iniciado seu
povoamento anterior a vinda dos europeus com os povos pré-coloniais e posteriormente com a
chegada dos imigrantes no século XIX e XX.
Através do conhecimento do patrimônio histórico cultural do município pretende-
se a valorização do mesmo por parte da comunidade.
3.1 História oral e memória
Este trabalho irá se basear nos métodos e perspectivas da História Oral e da
Memória como fontes históricas e a busca da identidade popular, bem como propõe a
Proposta Curricular de Santa Catarina quanto coloca que “a noção de identidade refere-se a
pertencimento do sujeito a um determinado grupo ou valores de grupos distintos”.
[...] é preciso destacar que a memória é a base para a construção da identidade, da
consciência do indivíduo e dos grupos sociais. Afinal, a memória é quem vai
registrar todo o processo de identificação dos sujeitos com o espaço em que se
inserem e as conseqüentes relações que se vêm estabelecer a partir dessa
identificação. (REIS apud CUNHA, 1992 p.167)
Na realização deste trabalho as situações vividas são as de maior importância para
nós, visto que os documentos escritos são raros e insuficientes para se estudar e analisar a
história de uma sociedade, e neste caso particular a sociedade de Ermo, sendo de extrema
urgência a realização desta pesquisa, pois estas pessoas que guardam em sua memória a
história viva do município de Ermo não serão eternos.
Cabe ao historiador oral obter memória de pessoas vivas que servirão de
documentos para o futuro; documentos que, em forma de memórias, se não forem
extraídos rapidamente, se perderão definitivamente, pois, no nosso caso brasileiro ou
latino-americano, o homem não é dado a escrever suas próprias memórias.
(CORREA, 1978 p.18)
Montenegro também coloca que:
A história oral, no trabalho com a população, tem possibilitado o resgate de
experiências, visões de mundo, representações passadas e presentes. Nesse
sentido, as entrevistas permitem instituir um novo campo documental que,
muitas e muitas vezes, tem-se perdido com o falecimento dos seus
narradores. (MONTENEGRO, 1992, pp. 26-27).
Com o início deste trabalho vimos a necessidade de se explanar alguns conceitos
sobre história Oral e Memória, temos total consciência de que este assunto é muito complexo
e não possuímos o objetivo de fazer aqui um estudo com profundidade, e sim tentar
compreender um pouco mais sobre estes conceitos, para que tenhamos suporte na realização
da pesquisa da memória dos habitantes de Ermo.
A história Oral começa a ter valor histórico com Jaques Le Goff a partir da
“História Nova”.
A História Nova ampliou o campo do documento histórico; substituiu a história de
Langlois e Seignobos, fundada essencialmente nos textos, no documento escrito, por
uma história baseada numa multiplicidade de documentos: escritos de todos os tipos,
documentos figurados, produtos de escavações arqueológicas, documentos orais, etc.
(LE GOFF, 1998 p.28)
Existem algumas críticas em relação à História Oral, sendo o ponto mais discutido
a questão da confiabilidade dos testemunhos dados pelos entrevistados, visto que muitos fatos
ficariam distorcidos, como nos coloca Burke (1992, p.34) “... pela deterioração física e pela
nostalgia própria da idade avançada, pelas tendências pessoais tanto do entrevistado como do
entrevistador e pela influência das versões coletivas e retrospectivas do passado”.
Aqui encontramos um grande problema onde muitos historiadores acabam
falhando, (a nosso ver), pois buscam as “verdades” históricas, onde na história não existem
“verdades” absolutas, cada pessoa pode ter um ponto de vista diferente relacionado ao mesmo
fato, onde todas estão com suas verdades. Porém sabemos sem dúvidas de que este trabalho
deve ser problematizado e analisado profundamente, não tomando os depoimentos como
totalmente verdadeiros, posto que, assim como a história, são fundamentalmente parciais.
O principal compromisso do historiador é com a verdade. Entretanto, verá que, em
cada entrevista, principalmente as realizadas com pessoas de grupos diferentes,
opostos ou contrários ao mesmo assunto, a verdade está em cada uma delas; aqui a
verdade histórica é, pios relativa. (CORREA, 1978, p.78)
A história escrita tradicional possui também limitações pois os documentos
escritos tiram a espontaneidade dos fatos, no qual existe em maior quantidade na História
Oral.
Correa (1978) em sua obra aconselha que nas entrevistas se busque diferentes
opiniões, baseadas em diferentes vivências. Em nossa pesquisa procuramos ouvir diversas
etnias presentes em Ermo, açoriana, italiana, alemã e negra, para que tivéssemos a
oportunidade de analisar vários pontos de vista.
As pesquisas realizadas através da história oral, diferente da tradicional são feitas
basicamente como fontes futuras, demonstrando os pontos de vistas unilaterais, existentes
dentro de uma mesma história.
Através do estudo da história oral percebemos a forte ligação que esta tem com a
memória, de acordo com Le Goff (1992, p.49) “tal como o passado não é a história, mas o seu
objetivo, também a memória não é a História, mas um de seus objetivos”.
Segundo Bernardo (1998) com o estudo da memória é possível descortinar
situações conflitivas, discriminações, jogo de poder entre grupos sociais e processos como a
construção de identidade, visto que o processo de memorização possibilita reconstruir e
redefinir continuamente as identidades quando coletivas dos grupos étnicos.
Com os processos de privatização do homem atual, onde cresce a cada dia sua
individualidade fazendo com que se rompam os elos de ligação da memória coletiva, surgindo
assim um sentimento de vazio, que acaba por se instalar no centro de nossas existências. A
perda desta referência em relação a qualquer sentido coletivo, “além de deixar de projetar
perspectivas futuras, faz aumentar a sensação de que os vínculos com o passado estão prestes
a se desfazerem definitivamente”.(DECCA apud CUNHA, 1992 p.131).
Porém o estudo da memória permite que sejam ultrapassadas as individualidades,
atingindo características grupais, sendo que, a memória individual possuiu uma relação de
dependência com os grupos dos quais o individuo faz parte.
Segundo Bosi (1979, p.17) “a memória do indivíduo depende do seu
relacionamento com a família, com a classe social, com a escola, com a Igreja, com a
profissão, enfim, com os grupos de convívio e os grupos de referência peculiares e esse
indivíduo”.
Halbwachs apud Bernardo (1998) afirma que os diversos modos de lembrança
resultam das diferentes formas pelas quais os homens podem vir a se relacionar. O
pensamento individual só é compreendido quando posto no pensamento do grupo
correspondente.
Para a preservação da memória é importante a coletividade dos indivíduos, pois o
capitalismo, o urbanismo acaba por afastar as pessoas, fazendo com que estas se separem
daqueles companheiros que juntos relembravam as memórias guardadas e que agora pela falta
de contato e comunicação estão por desaparecer.
Quando as vozes das testemunhas se dispersam, se apagam, nós ficamos sem guia
para percorrer os caminhos da nossa história mais recente: quem nos conduzirá em
suas bifurcações e atalhos? Fica-nos a história oficial: em vez da envolvente trama
tecida a nossa frente só nos resta virar a página de um livro, unívoco testemunho do
passado. (BOSI apud CUNHA, 1992 p.145)
De acordo com Caldeira (1989) a reconstrução do passado apoiado na memória
revelam dois tipos de informação: o primeiro representa a forma pela qual a memória é
reconstruída socialmente, que estão representadas nas várias maneiras de lembrar e a forma
pela qual o passado é organizado e controlado. Segundo em relação ao conteúdo da memória,
como diferentes versões do passado estão embutidos em relações sociais e como uma delas
pode tornar-se dominante.
Concone apud Bermardo (1998) no qual coloca que a memória é algo vivo e que
não se encontra armazenado nela lembranças precisas e completa do passado vivido. O
presente para o autor serve de parâmetro para uma releitura, interpretação e atribuição de
sentido ao passado.
A memória de um grupo social é produzida socialmente, não trata apenas de uma
produção coletiva: ela associa, tanto ao passado quanto ao presente, experiências do
grupo que interpreta e reinterpreta o passado e usa essas interpretações para dar
sentido á sua experiência presente e para legitimar diferentes interesses. Assim, as
visões sociais do passado não fixas, mas sujeitas a interpretações, à medida que o
presente e as condições sociais do grupo mudam. (CALDEIRA, 1989 p.21)
No período em que nós vivemos, está ocorrendo um processo de massificação, ou
seja a uniformização cultural, onde afastam as sociedades tanto do conhecimento erudito
quanto do popular, passando a criar culturas para elas e não por elas, fazendo com que estas
deixem de lado suas raízes, sua cultura e principalmente sua memória, pois passam a adotar
uma cultura padronizada, em que muitas vezes representam a moda, mas principalmente o
poder de persuasão que a elite possui perante nossa sociedade. Sendo que “o estudo das
macro-estruturas e o debruçamento sobre a história local e a necessidade das pesquisas
particularizadas passam a ser determinantes para a resistência transformadora”.(Porposta
Curricular de Santa Catarina, 1998, 64)
Povoamento do Município de Ermo, SC
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Povoamento do Município de Ermo, SC

  • 1. O MAPEAMENTO E A DIFUSÃO HISTÓRICA CULTURAL E ARTÍSTICA DO MUNICÍPIO DE ERMO DO ESTADO DE SANTA CATARINA BEATRIZ PAROL DOS SANTOS ERMO 2005 RESUMO Falar do povoamento e da cultura de um município é relembrar a importância e influência que seus antigos moradores influenciaram no seu desenvolvimento econômico e população. Portanto, por ser algo novo, este trabalho servirá como um registro histórico para o município do Ermo, assim como as falas de antigos moradores tradicionais que habitam o município a anos. O município do Ermo a pouco foi emancipado e nunca fora feito nenhum trabalho que registre fatos históricos a respeito de seu povo e de sua cultura. A presente monografia tem por tema “o mapeamento e a difusão histórica cultural artística do município de Ermo do estado de Santa Catarina”, elaborada por meio de pesquisa bibliográfica nas mais renomadas obras históricas existentes no país e a pesquisa de campo efetuada junto com os moradores da localidade pesquisada através da história oral. Temos por objetivo discorrer sobre o surgimento histórico da cidade de Ermo, como demonstraremos tal feito histórico através dos capítulos que montam nossa monografia. Sendo que no primeiro capitulo, abordaremos de uma forma simplificada a história pré-colonial e política de povoamento do sul do Brasil, como se deu e como foram originadas as primeiras cidades. Já no segundo capítulo, estaremos demonstrando em poucas palavras como se deu a colonização de Santa Catarina no século XIX. No terceiro e último capítulo, será apresentado às perspectivas e a metodologia, com o qual foi aplicada para que tal trabalho tivesse o êxito esperado. Palavras-chave: Povoamento, mapeamento cultural, difusão histórica. INTRODUÇÃO O trabalho possui como tema o Mapeamento e difusão histórica cultural e artística do município de Ermo do Estado de Santa Catarina com a problemática enfocando a importância do mapeamento e da difusão histórica cultural e artística para o estudo da história numa perspectiva reflexiva e de inclusão social em Ermo. A relevância deste projeto esta em possibilitar o resgate dos fragmentos histórico, do município buscando identificar a cultura material e imaterial da região em referencia. Sendo que o retorno dos resultados voltará à comunidade, em linguagem acessível, através da comunicação visual dos acervos e da realização da educação patrimonial promovendo dessa forma a reflexão, a interpretação e a apropriação da identidade da cultura regional. Salvando os vestígios e os remanescentes históricos – culturais, identificando elementos materiais e imateriais da cultura de Ermo se estabelece um dos princípios determinantes para o conhecimento de diversos segmentos e fases da história. Pesquisando a forma pela qual determinados grupos humanos ocuparam um território comum, como criaram através de suas idéias e necessidades, utensílios, ferramentas, instituições símbolos e meio de
  • 2. comunicação. Nesse sentido, os bens patrimoniais recebem uma relevância peculiar, sendo encontrados e resguardados como elementos representativos no tempo e no espaço, em detrimento das ações modificadoras do meio ambiental, geográfico, biótipo e antrópico. Considerando-se amplitude da pesquisa em pauta e a intervenção de vários ramos do conhecimento, as ações deveram ter as suas especialidades sem, entretanto perderem os objetivos norteadores e trabalharem dentro de uma política comum: Mapear, Registrar, Salvar, Preservar, Conservar e expor os Bens Artísticos Culturais e Arquitetônicos, dentro de uma perspectiva arqueológica e histórica. Com trabalho de educação patrimonial, o mapeamento histórico cultural, a produção de material pedagógico, a divulgação e marketing possibilitarão a projeção da potencialidade da riqueza patrimonial deste município, em nível regional. Destacamos como objetivos deste trabalho, conhecer o processo de formação sócio cultural do município de Ermo, enfatizando as sociedades pré-coloniais, o povoamento Vecentista Açoriano e a colonização européia do século XIX. A partir de um mapeamento junto à comunidade. Fazer uma breve discussão referente à história oral, memória e identidade, e patrimônio histórico. Difundir a pesquisa documental bibliográfica e história oral juntamente com as escolas do município de Ermo, produzindo material didático, oficinas para os alunos palestras e mini-cursos para os professores. A metodologia utilizada na pesquisa foi de origem bibliográfica aliadas a pesquisa de campo. Sendo o mesmo dividido em três capítulos, onde no capítulo inicial, se relatará a história pré-colonial e política de povoamento no sul do Brasil, já no segundo capítulo do encarte monográfico será abordado a colonização de nosso Estado durante o século XIX. No terceiro e derradeiro capítulo de nosso manuscrito nos traz as perspectivas e a metodologia utilizada para que o trabalho alcança-se o seu objetivo relacionando-se com a história oral e memória dos habitantes de Ermo, e a valorização do patrimônio histórico cultural. 1 HISTÓRIA PRÉ-COLONIAL E POLÍTICA DE POVOAMENTO NO SUL DO BRASIL A ocupação do território sul brasileiro se dá inicialmente pela presença marcante de povos pré-coloniais, em conseqüência disto se vê relevante fazer uma breve explanação teórica referente a pré-história da América, e em particular do Brasil. Posteriormente analisar os vestígios destes diferentes grupos étnicos e o contado de alguns destes com os europeus. Destacados os grupos pré-coloniais, estudaremos a presença do europeu no processo de povoamento do Brasil, tendo como enfoque Santa Catarina. 1.1 Uma breve explanação conceitual sobre pré-história O conceito de pré-história é recente, surgindo apenas no século XIX. Surgiu para designar uma disciplina de Daniel Wilson: “The Archaeology and Prehistoric Annals of Scotland”, este termo foi bastante utilizado, ainda o é, e embora ainda sofra várias críticas, tem o mérito de salientar que a pré-história estuda o passado do homem a partir das sociedades ágrafas. (Trigger, 1973, p.04). Até então, a pré-história era entendida a partir de preceitos religiosos que datavam o planeta e a vida sobre ele em 6.000 anos. Assim a Igreja Católica sustentou, com base nas
  • 3. escrituras que o homem fora criado por Deus à sua imagem e semelhança, bem como o céu, a terra e os demais seres vivos, porém esta explicação criacionista do Universo e do próprio homem sofreu abalos, especialmente após o século XVI com as grandes navegações quando os europeus entram em contato com outros povos, porém mantem-se a força do criacionismo até os nossos dias. Segundo Noelli (2000) Com o racionalismo científico das sociedades industriais onde o homem ampliou seu domínio sobre a natureza e a encarou sob nova perspectivas, com a descoberta da utilização do vapor na geração de energia, a ciência transformou todos os padrões culturais experimentados pelo homem até então. De acordo com Leakey (1981) a partir do século XIX com a teoria do Evolucionismo, ocorreu uma grande mudança nas explicações da origem do homem. Com a obra de Charles Darwim. “A Origem das Espécies” em 1859, o homem passou a ser visto como parte do reino animal, resultante de uma evolução e não de uma criação pronta e acabada. A importância de A Origem das espécies é quádruplo. Primeiro, Darwin viu o mundo vivo como mutável e não como estático: as espécies gradualmente se modificaram, de modo que novas espécies emergiam enquanto outras se extinguiam. Segundo, Darwin acreditava que este processo era gradual e contínuo, não envolvendo “saltos” ou mudanças abruptas. Terceiro, Darwin propôs a idéia da descendência comum: todos os mamíferos, por exemplo, partilhariam de um ancestral comum, assim como todos os répteis, todos os pássaros, todos os insetos, e etc. Darwin chegou mesmo a conjeturar que toda a vida, incluindo plantas e animais, podia, em última instância, ter surgido de um ancestral comum. Quarto, o mecanismo de mudança de evolução, era a seleção natural, processo através do qual os indivíduos com características aperfeiçoadas deixam maior descendência. (LEAKEY, 1981 p. 26). Funari (2000) nos coloca que, inicialmente, a reação ao Evolucionismo de Darwim foi violento por parte dos clérigos e de todos que aceitavam as explicações utilizadas pela igreja católica. O crescimento industrial e populacional,trouxe grandes mudanças culturais, revelando vestígios pré-históricos, com a abertura de estradas, desvios de rios e a modificação da paisagem natural levando ao estudo sobre a origem da espécie humana. O conceito de história como uma ciência voltada para o estudo do passado a partir de documentos escritos e oficiais, ajustando-se com a invenção da escrita seria o início da história, sendo que os três milhões de anos anterior ao descobrimento da escrita fica determinado como pré-história, supondo que estes povos não possuíam história pelo fato de não dominarem a escrita oficial. Com o surgimento dos termos paleolítico (idade da pedra lascada) e o neolítico (idade da pedra polida), abriu-se as portas para o estudo da pré-história, como o imenso período antes da história. No continente americano, a definição de pré-história tem como referência o período anterior à chegada dos europeus ao continente em fins do século XV. Tenha visto que o europeu quando chegou na América, denominou todo o período anterior a sua vinda de pré-história, porém sabe-se que a escrita já era utilizada antes da chegada dos mesmos. “ [...] muitos povos americanos tinham sistemas de registros comparáveis a escrita, como os povos nambiquaras e tupis, na forma de pinturas corporais adereços e decorações de objetos”. ( BROTHERTON apud NOELLI, 2000 p.13). O interesse pelo conhecimento da vida dos indígenas levou, no século XIX ao surgimento de uma outra ciência a antropologia, voltada para o estudo das línguas, sociedades, costumes e tradições ameríndios e especialistas na análise dos vestígios materiais, e arqueólogos. (NOELLI 2000)
  • 4. A arqueologia é uma ciência voltada ao estudo do mundo material ligado a vida em sociedade, por meio de prospecções e escavações arqueológicas pode-se encontrar vestígios que venham a nos informar sobre os mais variados aspectos da vida pré-histórica. As pessoas sempre deixaram restos espalhados. Vemos a prova disto por toda a parte, nas ruas da cidade e nos depósitos de lixo. Nossos museus exibem objetos salvos dos restos de outras épocas: moedas romanas, cerâmicas e porcelanas. A lista é infindável e cada peça conta a mesma história genérica: os humanos fazem objetos, usam-nos e depois se desfazem deles, jogando-os fora como lixo ou ocasionalmente ofertando-os numa cerimônia, como o sepultamento de uma pessoa importante. (LEAKEY, 1981 p. 76). A cultura material é a base da arqueologia. As moedas, a cerâmica e as construções do passado nos fornecem vestígios do comportamento de nossos predecessores, de como geriam suas economias, de suas crenças e do que para eles era importante. A preservação desta cultura depende, em especial, das condições oferecidas pelo solo, em geral, os principais artefatos que se preservam são os feitos de pedra, estas ferramentas foram usadas para as mais variadas atividades, e elas podem nos informar como eram utilizados pelas antigas sociedades. Outro material que é muito preservado pela natureza é a cerâmica, constituindo uma grande fonte de informação, este artefato feito de barro cozido, é muito recente atingindo a data de 12 a 13 mil AP. (antes do presente). (NOELLI, 2000) As informações encontradas nas paredes de cavernas ou em outras pedras, conhecidas como arte rupestre, podem ser utilizadas para explicar a vida do passado pré- histórico. O conjunto de todas as informações de artefatos e locais que transformaram para habitar faz parte da “cultura material”. Análises de restos de esqueletos podem mostrar aos estudiosos dados sobre o indivíduo, bem como, com que idade morreu qual sua características morfológicas, (altura, estatura), etc. O próprio conceito de “sítio arqueológico” é flexível depende do ponto de vista do estudioso. O arqueólogo australiano Gordon Childe definia, a mais de cinqüenta anos “sítio” como um lugar onde se encontravam vestígios humanos inter- relacionados e que indicariam atividades humanas específicas, como habitações, túmulos, fontes de matéria-prima, santuários. (NOELLI, 2000 p. 23) De acordo com Funari (2000) desde 1840 iniciaram-se as pesquisas em Minas Gerais, onde descobriu-se em uma série de grutas da região de Lagoa Santa restos humanos, o mais importante destes foi encontrado em 1975, é um fóssil de uma mulher que recebeu o apelido de Luzia que data de 11.680 anos. Com esta descoberta modifica-se as teorias relacionadas a origem dos habitantes da América, sendo que anterior a estes tinha-se a idéia de que a América havia sido ocupada por grupos mongóis asiáticos sistematicamente por todo o território, porém com as novas descobertas Neves e seus colegas apud Funari (2000) propuseram uma nova explicação de que a América havia sido também povoado por outros grupos humanos de tipo africano e oceânico. Desde o século XIX são encontrados na Amazônia, cavernas e abrigos sob rochas, muitos pintados com figuras estilizadas de animais, seres humanos e desenhos de forma geométrica, onde foram feitos há mais de 11 mil anos, estão entre as mais antigas encontradas na América. Porém existem muitos lugares no Brasil onde não foram realizados nenhuma pesquisa. Contudo, os estudos da ocupação do litoral, em períodos recuados, encontram-se prejudicado pelo aumento do nível do mar, no Holoceno, o que acabou por fazer com que a costa atual esteja a muitos quilômetros em relação ao que era há alguns milhares de anos. (NOELLI 2000)
  • 5. 1.2 A ocupação pré-colonial do sul do Brasil No sul do Brasil predominariam sociedades do tipo caçador-coletor, cujo conjunto de artefatos foi denominado “Tradição Umbu”, estes localizavam-se nos atuais Estados de São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, viviam da caça e da coleta, nos grandes descampados sulistas, daí a serem chamados de caçadores do campo, seus sítios são datados a partir de 12 mil A.P. e teriam persistido até mil anos atrás. Nessa mesma região existe uma outra tradição tecnológica, chamada de “Tradição Humaitá” que ocupou ambientes de floresta entre 9 mil A.P., que produziram grandes artefatos bifaciais. (NOELLI 2000). Encontrava,-se também na região litorânia a presença marcante da cultura dos povos sambaquieiros. Sambaqui é uma palavra de etimologia Tupi, língua falada pelos horticultores e ceramistas que ocupavam uma parte significativa da costa brasileira. “Tamba” significa conchas e “Ki” amontoado, que são as características deste tipo de sítio. O sul do Brasil tem despertado grandes interesses pela arqueologia brasileira tendo a atenção dos pesquisadores e o interesse científico pelo estudo desse tipo de sítio arqueológico. Porém esses sítios sofreram grandes danos, com o crescimento populacional e econômico, onde os sambaquis foram minerados para a fabricação de cal e pavimentação de estradas, estes destruídos para dar lugar as cidades litorâneas. (GASPAR 2000). A partir de década de 50, foram obtidas as primeiras datações radiocarbônicas e feitas as primeiras análises de sítios, movimentando para que ocorresse a proteção dos sambaquis, pois o processo de destruição é intenso. Atualmente a arqueologia brasileira está inserida no contexto globalizado, onde os pesquisadores acompanham as principais novidades da comunidade científica internacional. É preciso e fundamental a preservação dos sítios arqueológicos, pois no que se refere aos processos naturais é preciso ter claro que os vestígios para o estudo são aqueles que são preservados, pois os sítios não guardam todos os aspectos da vida social. Para que se possa estudar o passado é necessário que tenhamos a ele e, em nosso caso, isso depende basicamente da preservação dos vestígios materiais. A destruição do patrimônio arqueológico tem sido muito grande, como vimos no caso do uso dos sambaquis como matéria-prima para obras diversas. (NOELLI, 2000 p. 105). O ritmo acelerado das transformações da paisagem natural, tem contribuído para a destruição de muitos sítios arqueológicos que estavam para sempre destruídos e não poderá ser recuperado. De acordo com Funari (2000, p.105): “Não se preserva se não o que é importante para nós, o que nos diz algo e, por isso, é importante difundir muito mais o conhecimento sobre o passado pré-histórico, e ao mesmo tempo, envolver a população brasileira nesse processo de apropriação de seu patrocínio”. Com modernas técnicas de análises em Zooarqueologia demonstraram que a pesca foi uma atividade muito importante para os sambaquieiros. A partir de 1990 o estudo dos sambaquis recebeu novo estímulo auxiliando melhor estudo do modo de vida do povo que colonizou o litoral brasileiro. Gaspar (2000, pp. 59-60) salienta: “O estudo da implantação dos sítios na paisagem indicou ainda o tipo de local escolhido para edificação dos sambaquis. Eram preferidos pontos de interseção ambiental, próximo do mar, da lagoa, do canal, do manguezal, da restinga e da floresta”. Os sítios eram construídos em locais que se caracterizavam por pequenas elevações tais como cordões e litorâneos, topo de dunas ou meia encostas de morros, protegidos do vento predominante e próximos a fonte de água potável.
  • 6. O estudo da implantação dos sítios na paisagem indicou ainda o tipo de local escolhido para edificação dos Sambaquis. Eram preferidos pontos de interseção ambiental, próximos do mar, da lagoa, do canal, do manguezal, da restinga e da floresta. As populações do litoral utilizavam todos os tipos de matérias primas oferecidas pelo ambiente em que habitavam, como rochas (basalto, quartzo), conchas, ossos e dentes de animais, além de outros materiais orgânicos que não são facilmente preservados. (GASPAR, 2000 p.59) As pesquisas arqueológicas do sul do Brasil existem aproximadamente 130 anos no qual, já foram catalogadas e estudadas sistematicamente vários sítios. No entanto muita coisa precisa ainda ser realizada desde a ampliação das áreas já estudadas até rever a metodologia dos problemas utilizados na pesquisa até então. As pesquisas feitas em Santa Catarina ficaram centradas na sua maioria no litoral, devido ao número de sambaquis, os estudos no interior, registraram-se a amostragem. Em conseqüência desta, pouco se sabe sobre os sítios do interior do Estado. A região de Mata Atlântica que ocupa os contrafortes da Serra Geral, desde a região litorânea até a borda do planalto, não se foi devidamente estudada, possuindo alguns pouco levantamentos de sítios arqueológicos (ROHR, 1984) e quase nenhuma escavação e datação. Segundo Noelli (2000, p.226): “A região Sul foi ocupada em todos os seus espaços, tendo em vista a sua diversidade natural, clima, relevo e ecótonos que propiciaram diversos tipos de adaptação ecológica. Dessa forma, não existe nenhum tipo de ambiente no sul que não tenha sido ocupado sistemática ou esporadicamente”. Genericamente falando, três levas humanas ocuparam o sul do Brasil. A primeira chegou por volta de 12000 ou 13000 A.P. e a partir das datas levantadas por Noelli (2000) estes grupos mantiveram-se estáveis uma vez que conservaram as mesmas características materiais, reproduzindo o modelo de caçadores-coletores até cerca de 2500 A.P. Essas populações são denominadas a partir de seus aspectos culturais e materiais como Tradição Umbu e Tradição Humaitá, que supostamente desapareceram quando entraram em contato com os grupos ceramistas, agricultores, Macro-Jê e Tupi-Guarani. Os grupos denominados Tupi e Macro-Jê, originários da Amazônia e do Centro Oeste do Brasil, chegaram por volta de 2500 A.P. Estes grupos tem uma tradição ceramista e horticultora e dominaram completamente a região, ocuparam as bacias hidrográficas. Para compreender a ocupação do território sul-americano, de forma especial, no que se refere ao sul do Brasil, sugere o conhecimento de algumas características geográficas e geomorfológicas, importantes para o conhecimento do pálio ambientais. Uma visão elementar sobre o continente sul-americano, é que este é formado por uma sucessão de montanhas com incidência de picos de grande altitude na parte ocidental do continente e de terras baixas no interior a leste formando enormes redes hidrográficas que desembocam no Atlântico. As paisagens apresentam diferenciações do relevo e clima tendo um papel importante na pré-história sul- americana. O planalto brasileiro é formado por rochas cristalinas, da era primária. Sobre esta base cristalina existe uma cobertura sedimentar de arenito e, no Brasil Meridional e áreas circundantes a ocorrência de fusões vulcânicas basálticas sobre as camadas anteriores, sendo esta a matéria-prima básica para indústria lítica dos povos que habitavam este território. Mais próximo ao Atlântico apresenta maior elevação, onde formam uma barreira montanhosa com relevos variados e pequenos planaltos de cobertura. O planalto brasileiro é mais extenso da parte central ao norte do país e mais estreito ao sul onde está mais próximo dos Andes. Sua formação apresenta grandes oscilações na paisagem. Podemos observar na região sul três ambientes distintos: estreita planície litorânea banhada pelo Atlântico, a Serra Geral, coxilhas e planícies, (a partir do sul do Rio Grande do Sul, envolvendo os pampas uruguaios e argentinos que apresentam baixas
  • 7. elevações). Essa longa evolução geomorfológica projetou as formas hoje conhecidas. Sendo, a base pela qual a flora e a fauna foi sendo estruturada, tornando-se o habitat para as sociedades que passaram a ocupar essa área. A planície litorânea ocupando uma faixa estreita em Santa Catarina, no Rio Grande do Sul, apresenta um alargamento no sentido sul, gerando grande incidência de lagoas e lagunas. (SCHWENGBER apud KERN, p. 34, 1991) De acordo com Aguiar (2001). O litoral catarinense apresenta como características geomorfológicas praias arenosas de curta e média extensão, separadas por costões rochosos, com uma fauna e flora exuberante constitui o ecossistema. Este ecossistema oferecia uma abundante fonte de sobrevivência. Os grupos que habitaram o sul do Brasil desde o período pré-colonial, distribuíram-se numa larga área habitacional. Desse espaço, era retirada a subsistência e se processava a organização social. Podemos relacionar os grupos designados por Tradição Humaitá e Umbu, também chamados de pré-ceramistas e ou povos ceramistas agricultores do grupo Macro-jê e Tupi-Guaraní, como os que habitaram inicialmente o interior, até expandirem-se para o litoral. Os povos que ocupavam na serra e em suas encostas, os Macro-Jê eram divididos em dois grupos: os kaingang e os Xokleng, que embora pertencessem ao mesmo tronco linguístico viviam sempre em guerra entre si, pela ocupação de territórios que lhes garantiam a sobrevivência. Segundo Coelho (2003) os Kaingang eram conhecidos como coroados, pois o alto da cabeça era raspado com bambu. Os Xokleng eram conhecidos pelos colonizadores como Botocudo, pois os homens usavam um enfeite labial de pedra, chamado de teimbetá: o nome Xokleng deriva de Xocren, que significa taipa de pedra kaingang, na língua Macro-Jê significa simplesmente homem. Os Xokleng percorriam todo o planalto serrano, e fixavam suas tribos nos pampas, de forma esporádica, mais preferiam viver nas encostas da Serra Geral, onde podiam alimentar-se de peixes e caça do litoral como o pinhão retirado do planalto. Tanto os Kaingang e os Xokleng utilizavam ferramentas feitas de pedra e alguns alimentos eram conservados em potes de cerâmicas, dos mais variados tamanhos e formatos. Como as estações da zona tropical são bem definidas, os nativos deslocavam-se em busca de alimentos, quando não tinha pinhão no planalto serrano, desciam para o litoral em busca de peixes e moluscos. Com a chegada dos europeus, eram inevitáveis os sangrentos combates entre os portugueses e os índios, como também as disputas entre as próprias tribos, deixando uma grande parte da população nativa. Os primeiros grupos humanos a penetrarem em território de Santa Catarina fossem grupos caçadores-coletores, que teriam atingindo a região através do Rio Uruguai. Isso por volta de 5500 a.c. Posteriormente, o litoral, em face dos amplos recursos alimentares de que dispunha, teria servido recursos como pólo de atração, abrigando populações diversificadas e por um longo período de tempo. O povoamento do litoral iniciou-se, provavelmente, acerca de 3000 a.c. Estendendo-se praticamente até a chegada dos grupos europeus. (SANTOS, 1987 p. 28) De acordo com Santos apud Farias (2000), a região destinada a fixação dos imigrantes europeus, compreendendo a parte litorania até planalto catarinense, era ocupada pelos índios Xokleng , conhecidos popularmentes por outra denominações bem como: “Botocudo”, “Bugre” ou “Kaingang”. Porém Noelli (2000) nos indica outra teoria de que “Xokleng” e “Kaingang” constituem dois povos distintos lingüística, biológica e culturalmente. Com a abertura do caminho ligando Rio Grande a Sorocaba, São Paulo, acabou
  • 8. dificultando que os Xokleng continuassem a fazer a coleta dos ricos pinhais. O processo de disputas entre as nações européias pelo alargamento de fronteiras acabou antecipando o processo de colonização por parte das nações envolvidas onde o Brasil foi colonizado em primeiro momento por portugueses nas capitanias de maior desenvolvimento entre elas as de Pernambuco na região Norte e do Sul, a capitania de São Vicente, onde estes foram colonizando ao sul do litoral brasileiro. De acordo com Coelho (2003) antes de 1580 a imigração não chegava a ser relevante. Estima-se que entre doze e quinze mil portugueses desembarcaram no Brasil desde a descoberta, no ano de 1500. Eram pessoas que provinham dos pontos extremos da escala social. Ou eram fidalgos, elementos da nobreza peninsular que chegaram aqui como donatários, sesmeiros ou senhores de engenho, os plebeus e degradados, homens de baixa condição social, que para cá vinham em busca de fortuna, de aventura ou para cumprir pena. Inicialmente, a colonização portuguesa planejada, ficou restrita a São Vicente, Recife e Salvador. A colonização no Estado de Santa Catarina durante o século XIX faz com que ocorra um grande movimento populacional que conseqüentemente empurrou os Xokleng definitivamente para dentro dos atuais limites do Estado, sendo que, nesse período os limites estaduais não eram os do presente. Santos (2000) ainda coloca que nos campos de Guarapuava, Curitibanos e Lages, as fazendas de criação estavam em franca expansão. A estrada de tropas corta o sertão de São Paulo ao Rio Grande, atravessando os campos ligando fazendas no litoral, os núcleos de Paranaguá, São Francisco, Desterro e Laguna a muitos foram bases de povoamento dos solos virgens. Um outro grupo presente em Santa Catarina no período pré-colonial foram os Tupi-guarani, denominados de Carijós, que de acordo com Aguiar (2001) este grupo já se encontrava presente no litoral catarinense por volta de 1000 anos antes dos colonizadores. Os cario, também conhecidos como Carijó era um grupo indígena da tradição lingüística Tupi-Guarani, onde estes ocupavam grandes áreas do litoral e do interior do Brasil, regiões da Argentina, Uruguai e Paraguai. (BRANCHER, 1999). Os Tupi-Gurani já conheciam a agricultura em conseqüência disto acabam tornando-se sedentários, utilizavam da pesca para sua subsistência, e já conheciam e dominavam o fabrico da cerâmica. Os Carijós viviam em pequenas aldeias e sua alimentação era baseada na caça, na coleta, na pesca e numa agricultura expressiva para os padrões da época, na qual destacavam-se as plantações de milho e mandioca. O artesanato Carijó era muito diversificado. Seus traços variavam entre redes, esteiras e cestos às armadilhas de caça, como o mundéu e a arapuca, e de pesca, como covo e o jiqui. Seus trabalhos de pedra polida e madeira abarcavam várias armas para caça e a guerra, além de inúmeros artefatos, como ênfase para sua maior peça artesanal, a canoa escavada no tronco de garapuvú. Além da canoa, confeccionavam também uma embarcação leve, a partir de cascas de árvores amarradas com fibras vegetais, vedadas e impermeabilizadas com ceras e resinas. Sua cerâmica, caracterizada por peças de grandes dimensões, com fins utilitários e decorativos, expressava um apurado senso artístico. Ainda fabricavam bebidas alcoólicas e farinhas, a base do milho e da mandioca. (COELHO 2003, p.274) Como no litoral de Santa Catarina havia grandes grupos de Carijós e estes mostraram afáveis ao contato com os brancos, muitos portugueses vão começar a aprisionar índios para vendê-los como escravos. Sendo assim, aldeias inteiras tiveram suas populações aprisionadas e escravizadas, aldeias contra aldeias entraram em choque pois foram estimuladas pelos próprios portugueses e os eventuais prisioneiros seriam trocados com os
  • 9. portugueses. Com o contato com os Europeus os índios começaram a sofrer com doenças contraídas dos mesmos, como a gripe, o sarampo, a varíola, a pneumonia, a tuberculose, sendo que na Europa a população já possuía uma resistência a essas doenças e até certos medicamentos para elas, como para os índios eram doenças desconhecidas, elas grassavam com caráter epidêmico, matando muitos índios. O esforço dos missionários jesuítas não impediu que ao fim do século XVII os Carijós tivessem definitivamente desaparecido do litoral de Santa Catarina. (SANTOS, 1987) Conforme Aguiar (2001) a história do índio Guarani é composta por uma incessante luta pela sobrevivência física e cultural, pois foram caçados para serem utilizados como escravos, obrigados a lutar como soldados nas lutas entre portugueses e espanhóis, foram reduzidos em missões religiosas para serem catequizados ou assassinados por imigrantes e atacados pelos bugreiros. Segundo Aguiar (2001, p.38), num relatório sobre a população indígena do país o Ministério do Exército aponta para os seguintes dados: Em 1997 estima-se a existência de 330 mil índios no Brasil, representando 0,16% da população brasileira. Em 1500 existiam de 1 milhão a 3 milhões de nativos no país. Com a ocupação do espaço geográfica realizada pelo europeu, os nativos acabam ficando confinados perdendo gradativamente seu território, sendo que pouco a pouco o litoral e o planalto vão sendo ocupados pelos europeus. 1.3 O contato do branco e o índio O povoamento da região catarinense se deu de início pelo litoral expulsando os nativos de seus habitat para o interior. As famílias de imigrantes fixavam-se nas proximidades litorâneas pois esta região foi propícia ao seu desenvolvimento, fornecendo subsídios alimentares, atrasando desta forma sua entrada ao interior e o contato com os povos nativos. Segundo Santos (1974) o interesse da população litorânea, ou seja, de origem européia não se motivaram para qualquer atividade na região do planalto. A falta de interesse econômico para explorar a floresta e a abertura de caminhos para o comércio, acabou atrasando o contato entre ambos. Mas com aumento do crescimento populacional e a necessidade de proteger as regiões de fronteiras e o incentivo de governos provinciais e imperiais para a colonização e o interesse das companhias de colonização, para vender terras aos europeus. Com o processo de demarcação de terras realizadas pelos colonizadores destinados a fundamentar as decisões quanto a localização de colônias, durante tais atividades encontra-se a presença de nativos. Boa parte da população que vivia na orla da floresta e que dela dependia para viver, exercendo os misteres da caça, da extração de madeira ou coleta de mel, frutas e ervas, evidentemente tinha certeza e respeito pela presença do índio. Essa população serviu aos agrimensores, engenheiros, e outros interesses nos negócios de colonização como guia e fonte de informação sobre todo o potencial da área em que residiam. (SANTOS, 1974 p. 85). Sendo assim o nativo acabou ficando sem saída, pois praticamente todas as regiões, já estavam sendo ocupadas pelos colonizadores. No planalto, a oeste, estavam as fazendas de criação; ao sul, no Rio Grande do Sul, a colonização começava a marchar em direção ao norte, rumo a fronteira de Santa Catarina; ao norte, em Curitiba, a colonização começava a descer para o sul, em direção também de Santa Catarina. A leste, o mar e as povoações litorâneas. Não havia, portanto, como sair, nem como para onde fugir. (SANTOS, 1974 p. 85). Os atritos que ocorreram entre o branco e os nativos nos primeiros anos de colonização se deram ao fato do desconhecimento e o medo que um grupo tinha sobre o outro.
  • 10. A medida que o colonizador possuía mais terras, mais florestas eram conquistadas, com isso o território do índio acabava diminuindo e com ele as possibilidades de conseguir alimentos, dificultando a vida dos índios e destruindo seu habitat. Conforme Santos (1974) os assaltos começaram a ser cometidos pelos índios contra as propriedades dos colonos, pois o mesmo possuía gado e as roças onde o índio acabava atacando. A partir daí, os atritos aumentaram. Sendo assim, as companhias de colonização e os colonos passaram a exigir garantias de vida e propriedade ao governo. Como não havia solução a vista, passou-se a utilizar bugreiros, ou seja, caçadores de índios, para os liquidar. Quando os primeiros europeus começaram a chegar na região litorânea do sul do Brasil, encontraram uma cultura nativa, membros da grande Nação Guarani, as relações entre ambos foram tumultuadas, decorrentes do impasse de interesses: de um lado o colonizador em busca de riqueza; de outro o nativo, defendendo seu território e sua família. (AGUIAR 2001). De acordo com Farias (2000), o histórico conflito entre o elemento branco, ou seja, o imigrante e o indígena tiveram como base a ocupação do território catarinense para atender aos interesses do governo e das companhias de colonização. As dificuldades no relacionamento do índio com o branco, onde muitas vezes os índios eram mortos pelos bugreiros ou pelos próprios imigrantes, os indígenas capturados (geralmente mulheres e crianças que haviam perdido os pais) sofriam outro tipo de violência. Arrancados de sua aldeia, passavam a viver com as famílias de imigrantes ou eram conduzidos às instituições como revela a noticia do jornal “O Dia”, de Florianópolis, em 28 de março de 1905: Chegaram ontem a esta capital quatro pequenos bugres, capturados na margem do rio Turvo em Araranguá, pela expedição do sr. Manoel Veríssimo da Rocha, que os trouxe até aqui. São todos do sexo feminino, regulando de dois a cinco anos de idade. Vímo-los ontem na prefeitura de polícia, donde foram conduzidos para asilo de órfãos, a cujos cuidados estão entregues. (BORTOLOTTO, apud FARIAS, 2000, p.93). Segundo Santos (1987), com a abertura da estrada de tropas através dos campos de Lages, no século XVII, a presença dos Xokleng e Kaingang nos campos, e nas florestas que cobriam as serras, era confirmada pelos ataques que faziam aos tropeiros. Até os finais do século XVIII são raros os dados a respeito de ataques de índios aos “civilizados”. No início do século XIX 1808 Dom João VI por carta rege, determinava que se fizesse guerra aos índios que utilizavam incursões nas cerâmicas de Lages. O governo provincial promulgou a Lei n. 70, de 28 de abril de 1887, que isentava de prestação de serviço na Guarda Nacional os moradores das localidades situadas no sertão, expostas dos Xokleng. No seu artigo I dizia o texto legal: “Ficaram isentos do serviço ordinário da Guerra Nacional, os moradores dos sítios de Araranguá, Cabeceiras, do Rio da Madre, Tijucas Grandes, e em quaisquer outros lugares centrais, onde as habitações por isoladas, sejam expostas a ataques do gentio ou possam servir de centro e de apoio ao estabelecimento de colônias”. (FARIAS, 2000, p.94) Cada vez mais que ocorria a penetração da colonização européia ao interior catarinense, os grupos indígenas iam se afastando, até que os colonizadores invadiram praticamente todos os espaços indígenas ocorrendo confrontos entre ambos. O fato de o branco estar contando esta vitória de sua cultura, referindo-se aos índios com o passado, demonstra que o sucesso dos conquistadores europeus foi completo, eliminando um povo que se contava na região sul, quando espanhóis e portugueses iniciavam a saga da conquista (genocídio do povo indígena) a partir do século XVI.
  • 11. 1.4 Povoamento e colonização européia em Santa Catarina Antes de comentarmos a ocupação do território catarinense, é necessários esclarecermos a questão do uso das palavras “colonização” e “povoamento”. Conforme Piazza (1994, p.12): “Povoar significa a ocupação do espaço sem interesses lucrativos com o mesmo, porém colonizar significa usufruir da terra com objetivos lucrativos “retirando ao mesmo tempo que povoa, benefício de ordem econômico-social”. A história da ocupação territorial de Santa Catarina inicia-se por volta de 1500 com os viajantes de várias nacionalidades que tinham por função reconhecer estas terras, e que acabavam naufragando, os sobreviventes não tendo como retornar a Europa, se estabeleciam nestas terras, unidos com os indígenas contribuem para o desenvolvimento populacional do território catarinense. Antes, portanto, que se dividisse o Brasil em Capitanias (1534 a1536), doando-se a Pero Lopes de Sousa a que se estendia até o Estado de Santa Catarina... Já a faixa litorânea barriga-verde vinha sendo excursionada e também visitada ou explorada. (EHLKE, 1973 p.24) Como se pode notar, o povoamento do território catarinense está diretamente ligado ao ciclo dos descobrimentos marítimos ibéricos. Com um litoral privilegiado – contendo duas importantes ilhas, a de São Francisco do Sul e a de Desterro – e localizado próximo à zona de escoamento da região do Prata, o território catarinense tornou-se uma região estratégica para os interesses de Portugal. Atraída pela promessa de metais preciosos, a Coroa portuguesa desejava explorar o rio da Prata a partir de Santa Catarina e, com isso, defender o litoral catarinense contra possíveis ataques franceses e espanhóis. (FARIAS, 2000, p.135) Foi a partir de 1829 que se estabeleceu o processo de colonização européia propriamente dita no território catarinense, sendo que a ocupação mais intensa da região sul de Santa Catarina foi a partir de 1875, normatizada pelo Decreto Imperial 5.663 de 1874 (Prates e Almeida, 1993). Esta colonização deu-se, principalmente, com a entrada dos imigrantes italianos formando as colônias de Tubarão, Azambuja, Urussanga, Criciúma e Turvo (Piazza, 1982). Conforme artigo do Governo de Estado de Santa Catarina: Em 1829, a Sociedade Colonizadora de Hamburgo adquiriu 8 léguas quadradas de terra, correspondentes ao dote da princesa Dona Francisca, que casa com o príncipe, fundando a colônia Dona Francisca. Apesar das dificuldades do clima, do solo e do relevo, a colônia prosperou, expandindo-se pelos vales e planaltos e dando origem, em 1870, à colônia de São Bento do Sul. O núcleo dessa colônia deu origem à cidade de Joinville. A colônia de Blumenau (atual Blumenau), no vale do rio Itajaí- Açú, fundada, em 1850, por um particular, Dr. Hermann Blumenau, foi vendida, dez anos após, ao Governo Imperial. Em 1893, a Sociedade Colonizadora Hanseática fundava o vale do Itajaí do Norte, a colônia de Hamônia (hoje Ibirama). (BRASIL, 2005, p.1) A ocupação de Volta Grande tornou-se mais expressiva com a migração de italianos e de descendentes de italianos de 1921 a 1931, provenientes destas primeiras colônias. Estes se estabeleceram por conta própria adquirindo propriedades de terceiros, não valorizada pelos lusos, vendidas por baixos preços ou mesmo trocadas por gado (Dall'alba, 1997). Em 1893, a Sociedade Colonizadora Hanseática fundava o vale do Itajaí do Norte, a colônia de Hamônia (hoje Ibirama). No vale do Itajaí-Mirim, a partir de 1860, começaram a chegar as primeiras levas de imigrantes, principalmente alemães e italianos, que dinamizaram a colônia de Itajaí,
  • 12. posteriormente denominada Brusque. Na parte sul da bacia do rio Tijucas, apesar dos insucessos da colônia pioneira de São Pedro de Alcântara, novos intentos colonizadores foram alcançados por alemães, com a criação das colônias de Santa Tereza e Angelina. (BRASIL, 2005). Foi no final do Primeiro Reinado que se iniciou um grande movimento de colonização em todo país. A província de Santa Catarina foi um dos locais em que ele produziu resultados mais promissores, quer o de iniciativa oficial, quer o particular. Do primeiro tipo foram: São Padro de Alcântara, de alemães (1829); de nacionalidades diversas (1836); Piedade, de alemães (1847); Santa Tereza (1854), com soldados agricultores, destinadas à ligação entre Lages e a capital; Teresópolis, de alemães (1860); Brusque, idem (1860); Azambuja, de italianos (1877); Luíz Alves, de diversas nacionalidades (1877). (BRASIL/SC, 2005). De iniciativa particular foram: Nova Itália, de italianos (1836); Flor da Silva, com elementos mistos (1844); Blumenau, com alemães (1850); D. Francisca, com alemães (1851), que deu origem à cidade de Joinville; Leopoldina, com nacionais, belgas, e alemães (1853); Príncipe D. Pedro, com irlandeses e americanos (1860); o Grão -Pará, com italianos, espanhóis, russos, polacos, franceses, ingleses e holandeses (1882). (BRASIL/SC, 2005) Durante o primeiro reinado, a ação colonizadora foi vista mais como fins de defesa da terra do que de povoamento. Houve, neste período, um movimento migratório espontâneo, originário das Ilhas Canárias, principalmente da Ilha Lanzarote, para Santa Catarina, dando origem à colônia de Nova Ericeira, na enseada das Garoupas (atual Porto Belo). (ZOLDAN & CAPPELINI, 2004, p.78). Com o objetivo de solucionar o vaziu populacional entre o litoral e o planalto, a partir de 1829 colonos europeus foram sendo locados às margens às margens da antiga estrada do Desterro a Lages. São Pedro de Alcântara (1828) foi a primeira colônia alemã em Santa Catarina, formada com alemães provenientes de Bremen e outros, da chamada "Legião Alemã", soldados mercenários que serviram no Rio de Janeiro. Problemas como discórdia entre os colonos a respeito da localização da colônia, atraso do pagamento a que tinham direito, má distribuição de terras, má qualidade das terras, etc. Fizeram com que muitos colonos fossem em busca de outras áreas da Província (como a Colônia de Várgea Grande -1837 - fundada durante o período regencial, que também dará origem, em 1847, à localidade de Löffelscheidt (atual Águas Mornas). (ZOLDAN & CAPPELINI, 2004). Segundo Zoldan & Cappeline (2004) o período Regencial caracterizou-se pela aversão ao elemento estrangeiro. Por isso, de maneira geral, foi enexpressiva a imigração neste período. Desenvolvia-se também na Europa uma campanha contrária à imigração para o Brasil. O regente Pe. Diogo Antônio Feijó autorizou governos provinciais a fundarem estabelecimentos coloniais por conta própria. É aprovada outra lei que permitiu a colonização por empresa ou companhia nacional ou estrangeira. As origens dos núcleos catarinenses e gaúchos vêm de São Vicente. Martim Afonso de Souza (donatário da Capitania de São Vicente) tinha a idéia de produzir açúcar em São Paulo, mas não considerou a proximidade desta região com a Serra, conhecida na época como a muralha. Como a economia colonial estava voltada para a exportação, e São Paulo não tinha possibilidades de produzir açúcar, estes iniciam o processo de bandeiras, dando origem aos primeiros núcleos de habitantes em Santa Catarina. Mais tarde para reforçar o povoamento vieram os açorianos. 1.4.1 Povoamento Vicentista
  • 13. Portugal, que já manifestara interesse em fundar uma colônia na margem esquerda do Rio da Prata, começa a encarar com muito interesse e cuidado a preservação da Ilha de Santa Catarina e avançam pacificamente. O gado, vindo de São Vicente, através dos campos, atinge o Paraguai. A notícia de minas atrai diversas levas vicentista.(História de Santa Catarina, 2005). Em 1642 ergue-se uma capela em São Francisco que em 1660 já passa a vila. Em 1637 é o grande patriarca Francisco Dias Velho que se fixa com filhos criados e escravos na Ilha de Santa Catarina, fundando a ermida de Nossa Senhora do Desterro (atual Florianópolis), nome da futura povoação. O mesmo faz em Laguna em 1676, Domingos de Brito Peixoto. A fundação da colônia de Sacramento em 1680 realça a importância dos núcleos catarinense. Apesar dos ataques de piratas, já existe, em 1695, comércio regular entre Paranaguá, São Francisco e Itajaí, expandindo-se os lagunenses até a colônia do Sacramento. (História de Santa Catarina, 2005). Os bandeirantes vicentistas contribuíram para o alargamento em direção a oeste do Tratado de Tordesilhas. Os bandeirantes, de seu lado, muito contribuíram, ainda, para que as fronteiras do Brasil-colônia se dilatassem para muito além dos limites pretendidos por Espanha, a oeste. Expandiram, assim, as possessões portuguesas na América do Sul, dando outra interpretação ao Tratado de Tordesilhas[...]. (EHLKE,1973 p.44) As primeiras vilas foram São Francisco (1658), Desterro (1662) e Laguna (1684), segundo Farias (1998) estes núcleos tinham como base econômica e de sobrevivência a farinha, o milho, açúcar, e peixe seco, comercializando-os com os navegadores que ali passavam e com a corte para abastecer os navios e tropas. A partir daí procedera uma intensa fixação do litoral catarinense, com a concessão e fixação de sesmarias, com seus estabelecimentos agrícolas e pastoris. 1.4.2 O Povoamento açoriano em Santa Catarina A sede de colonos na nova capitania coincide com a crise de superpopulação nos Açores e Madeira. Há um movimento espontâneo de vinda para o Brasil. Resolve então o Conselho Ultramarino realizar a maior migração sistemática de nossa história. (Brasil/SC, 2005). A Coroa Portuguesa com o intuito de reforçar o contingente populacional e, conseqüentemente, assegurar desenvolvimento econômico e militar, estabelece o transporte e posterior assentamento de açorianos no litoral catarinense. (LAGO, 1968). Segundo Prates e Almeida (1993), cerca de 4.500 açorianos foram transportados de 1748 a 1756, para reforçar o processo de ocupação do sul do Brasil, desde São Francisco do Sul (norte catarinense) até Laguna. Famílias completas (pai, mãe e filhos), desembarcavam em Desterro, hoje Florianópolis, num contingente superior a 6 mil imigrantes, dos quais em torno de 1.500 foram reembarcados para o continente de São Pedro do Rio Grande do Sul. (FARIAS, 2000). Muitos foram os fatores que induziram os açorianos a enfrentar os 8000 km de travessia em condições bastante sofridas; mas com certeza, a promessa de boas terras e ajuda para faze-las produzir foram decisivas. (Farias, 2000). Segundo Piazza (1994), o vulcanismo, que desde 1444, atormentava a vida destes imigrantes, fazendo com que em 1672 os faialenses (da Ilha de Faial) pedissem ao Rei de Portugal que os enviassem para o Brasil, em 1718 seriam os picarotos (da Ilha de Pico) em conseqüência dos terremotos solicitam ao Rei de Portugal o transporte para o Brasil, surgindo assim um alistamento, principalmente na ilha de Pico e do Faial. Outro fator é a crise alimentar e a superpopulação das Ilhas. No arquipélago da
  • 14. Madeira existiam vários problemas de densidade demográfica e a falta de alimentos, sendo estas, causas impulsionadoras para a vinda de madeirenses para o Brasil. “O sul passa a ser um grande sorvedouro de desclassificados por todo o século XVIII” (SERPA, 1995). A Europa neste período passa por um processo no qual o capitalismo está se consolidando. Durante toda a Idade Média o pobre era considerado coitado “paternalismo cristão”, porém em conseqüência do capitalismo na Idade Moderna o pobre passa a ser vadio, desculpado, e marginalizado. Já a partir da Baixa Idade Média, na Europa Ocidental, a preocupação com os vadios, que preferimos chamar de desclassificados sociais, é uma constante, haja vista o convulsionamento social ocasionado pelo processo de urbanização, transformação da economia monetária e mudanças na estrutura da propriedade rural desintegrando o sistema feudal e engedrando em seu seio a pobreza, mudando a concepção que dela se fazia outrora: de podre de Cristo, coitadinho que merece ajuda e com a qual a vizinhança convivia sem causar escândalos passa a ser considerado como elemento que ameaçava a ordem social. (SERPA, 1995, p.45). Todos estes problemas incomodavam Portugal, pois este se via ameaçado por uma invasão açoriana em seu território em conseqüência da crise gerada pelo capitalismo que produziu os “marginalizados social”. Em meio a isto, Portugal tinha mais um problema a guarnecer seu território americano contra incursões espanholas, para isso seria necessário povoar o Brasil meridional, neste caso Santa Catarina, pois estas terras eram de posses estratégicas, como último bom porto de aguada, reparo de embarcações e abastecimento rumo ao Rio da Prata. Partindo destes fatores a coroa portuguesa utilizou-os como instrumento para sua geopolítica americana, na definição das fronteiras meridionais, até então imprecisas. Um dos principais fatores que levaram os Açorianos a migrarem para o Brasil é a promessa de boas terras e ajuda para a produção e o cultivo da mesma, mas existe também um forte espírito de aventura por parte dos açorianos em busca do desconhecido; esperança em construir riquezas; a imensa fé que os movia. Os alistamentos feitos a partir de 1746, nas ilhas dos Açores (Terceira, Fail, Pico, S. Jorge, São Miguel, Santa Maria e Flores), oferecendo ajuda em dinheiro, terras, instrumentos agrícolas, sementes, gado e arma de fogo às famílias que desejassem emigrar para o Brasil bem indicam a importância atribuída pela coroa portuguesa a esta emigração. (FARIAS, 1998, p.242) No alistamento a corte portuguesa tinha uma preferência por casais com idade de gerar filhos, ou com filhos jovens, pois seu maior objetivo com esta imigração era a ocupação do espaço geográfico do Brasil Meridional. Com isto permitiu um aumento populacional segura onde ocorreu uma explosão demográfica ao longo dos anos. Segundo Farias (1998) a ocupação do Brasil Meridional foi uma ocupação sistemática. As comunidades após localizadas estabeleceram um sistema triangular de apoio recíproco, viabilizando a sobrevivência do povoamento implantado. Os primeiros povoadores açorianos chegados em 1748 e 1749 desembarcaram na vila de N. Sra. Do Desterro (atual Florianópolis), habitando uma rua que até os dias de hoje é conhecida com rua do Ilhéus. O entorno continental da Ilha de Santa Catarina até Laguna foi o local escolhido para colocar em prática o ambicioso esquema de povoamento açoriano no sul brasileiro. De acordo com Farias (1998) 1748-56 foram fundadas mais seis comunidades, num sistema funcional de freguesias já utilizado em sua terra natal, na Capitania de Santa Catarina, número duas vezes maior que as fundadas nos 150 anos anteriores. Fundaram as seguintes freguesias/Santo Antônio (1750), São José (1750), São Miguel (1752), Lagoa da
  • 15. Conceição (1750) e Santana da Vila Nova (1755). Os núcleos secundários do povoamento açoriano, surgidos entre 1760 e 1880, indicam uma expansão territorial considerável (do Ribeirão da Ilha, na região de abrangência da capital, Desterro, a Araranguá, no sul do Estado) conforme quadro 1 citado por Farias (1998): Localidade Data da criação Ribeirão da Ilha Porto Belo Garopaba Itajaí1 Tubarão Jaguaruna Araranguá2 11/07/1809 (freguesia) 12/12/1824 (freguesia) 09/12/1830 (freguesia) 12/08/1833 (freguesia) 23/03/1836 (freguesia) 05/03/1880 (freguesia) 04/05/1848 (freguesia) QUADRO 1: Os núcleos secundários do povoamento açoriano, surgidos entre 1760 e 1880. FONTE: FARIAS, 1998, p. 261. Núcleos terciários, surgidos a partir de 1880, representam a ocupação de áreas localizadas ao sul de Santa Catarina (São Martinho, Criciúma e Sombrio, entre outras) conforme a tabela 2: Localidade Data da criação Sombrio Paulo Lopes Itapema São Martinho3 Criciúma4 Pedras Grandes5 Armazém6 Gravatal7 08/01/1916 (freguesia) 06/11/1910 (freguesia) 30/12/1914 (dist. policial) 02/08/1892 (freguesia) 02/09/1892 (freguesia) 31/12/1943 (freguesia) 10/01/1901 (freguesia) 02/10/1888 (freguesia) QUADRO 2: Núcleos terciários surgidos a partir de 1880 FONTE: FARIAS, 1998, p. 277. Estes açorianos que aqui se fixaram modificaram as estruturas sócio-demográfica- cultural de nosso Estado, pois anteriores a estes viviam aqui cerca de 2.000 habitantes em todo o território catarinense. De acordo com Farias: A vinda dos imigrantes açorianos mudou completamente a paisagem social, econômica e política de Santa Catarina, dando-lhe características diferenciadas em relação aos demais Estados brasileiros. Em primeiro lugar, os açorianos que aqui chegaram eram homens livres, não se tratavam de mão-de-obra escrava. Além disso, tornaram-se donos da terra em que viviam, em vez de trabalharem em grandes propriedades de terra alheia, como acontecia no Nordeste. E, finalmente, ao invés de produzirem para o mercado externo, cuidavam da própria subsistência e da sua família. (FARIAS, 2000, p.123). 1 Núcleo multi-cultural açoriano/alemão 2 Núcleo multi-cultural açoriano/italiano 3 1Núcleo multi-cultural açoriano/alemão 4 Núcleos multi-culturais açorianos/italianos 5 Idem 6 Idem 7 Idem
  • 16. Trouxeram junto de si alguns conhecimentos tecnológicos, que somados a seus sonhos foram fundamentais para o processo de povoamento de nosso território. Os imigrantes açorianos tiveram várias mudanças com a fixação no Brasil Meridional, bem como: substituição da farinha de trigo pela mandioca, utilizando-se da tecnologia dos moinhos de trigo usados nos Açores; mudanças alimentares deixando de se alimentar de carne, trigo, sendo estes substituídos por peixes e mandioca; as festas do divino passam a ser reconhecida pela Igreja Católica. O povoamento açoriano não buscou, apenas, o objetivo econômico. Ele não foi ativado para abrir uma nova região produtora no Brasil de meados do século XVIII. Ele ocorreu, principalmente, para resolver dois problemas da Coroa Portuguesa o excesso de população nos Açores e a necessidade de manter uma forca militar do domínio português no cone sul. (SACHET, 1997 p.40) Segundo Piazza (1994) foi Alexandre de Gusmão a mando do Rei D. João V que irá articular a criação da Capitania da Ilha de Santa Catarina como base militar e consolidar o povoamento com a vinda de açorianos e madeirenses. Deu-lhes boa acolhida o Governador Manuel Escudeiro, sucessor do Brigadeiro Paes. Mas nem todas as promessas da administração colonial podiam ser cumpridas, por falta de recursos. Além disso, nem todos os imigrantes, entre os quais muitos nobres, estavam dispostos a dedicar-se à agricultura ou aos ofícios mecânicos, em obediência às ordens régias, que tinham o propósito de evitar a entrada de escravos. (Brasil/SC, 2005). Conforme Farias (2000, p.109) os Açorianos “trouxeram para Santa Catarina uma bagagem de conhecimento técnicos, tradições, costumes que, somada a seus sonhos, foi fundamental na consolidação do processo povoador na região”. Radicados os casais na Ilha e no litoral, foram tentadas várias culturas agrícolas: o trigo, sem êxito devido a "ferrugem" que o atacava; o linho e o cânhamo, com relativo aproveitamento, e o algodão, cujo cultivo a Metrópole forçava, sob penalidades severas. Mas na realidade, a cultura que prevaleceu foi a da mandioca, que os colonos aprenderam no novo continente e dela conseguiram safras promissoras, permitindo até a sua exportação. Houve no séc. XVII a criação da cochonila, mas que desapareceu n o séc. XIX, por falta de incentivo. (BRASIL/SC, 2005, p.1). O açoriano mostrou-se forte, um vencedor. Superou os desafios representados pelas densas florestas, as dificuldades em adaptar seus tradicionais cultivos e a presença de novas doenças subtropicais. Rapidamente desenvolveu mecanismos de adaptações, transformando alguns dos seus valores básicos e adaptando outros que se encontrou em uso na região. (FARIAS, 2000, p. 110). As propriedades eram minifundiárias, de pequeno e médio porte, as atividades econômicas eram sazonais, tinha como papel fundamental, mandioca, cana-de-açúcar e milho, produtos de alimentação básica para a população. A exploração de produtos agrícolas, especialmente a farinha, destinada ao abastecimento da população urbana, das tropas e de embarcações em trânsito, associadas á atividade pesqueira, aos poucos deram sentido econômico á população que chegara. Os limites impostos pela terra, que não era a mais adequada para a agricultura, além do próprio contexto político que motivara a imigração, não permitiram que aqui se instalasse uma economia voltada para o mercado europeu. As atividades econômicas ficaram assim voltadas para o mercado interno da colônia. (SANTOS, 1977 p.60) Por toda a costa litorânea de Santa Catarina a cultura predominante é de base açoriana, no qual se difundiu com as outras culturas européias, bem como italianas, alemães,
  • 17. polonesas e também africanas, assim sendo é comum encantarmos estas etnias com costumes tipicamente açorianos em sua religiosidade, gastronomia, processos produtivos, frutos de uma aprendizagem secular. Da mesma forma os açorianos adotaram valores culturais presentes nestes grupos e praticam-nos no seu dia-a-dia, em suas danças, gastronomia, habitação, etc. As variações culturais microrregionais são o resultado de inúmeros fatores, entre os quais: o meio ambiente e os recursos naturais disponíveis; tipos de bens e serviços produzidos; facilidade de vender, trocar e também comprar outros produtos necessários à sobrevivência de comunidade; troca de experiências com outras culturas; mentalidades do povo frente aos inúmeros desafios do dia-a-dia. A outra grande microrregião cultural de base vicentista luso-açoriana surgida no sul de Santa Catarina envolve a bacia do Araranguá/Mampituba e sistema lagunar de Sombrio, compreendendo os municípios de Araranguá (pólo vetor microrregional), Sombrio, Criciúma, Mararcajá, Arroio do Silva, Ermo, Jacinto Machado, Balneário Gaivota, São João do Sul, Santa Rosa do Sul, Passo de Torres. Nesta microrregião, mais que em qualquer outra, houve ao longo de seu povoamento forte ação multicultural, envolvendo luso-açorianos, italianos, alemães, índios e negros. (FARIAS, 2000 pp.99-101). As principais manifestações culturais dos açorianos em terras catarinenses: produção artesanal do engenho de farinha; pasquim; cantos de influência religiosa: terno de reis, Terno de Santa Amaro, Massânico, Caranguejo, Polca de Flor, Fandango; Cantilha: Ratoeira, Cantilhas de Trabalho, Pau-de-fitas; Clico do Divino Espírito Santo, Peditório, Novenas, Cantorias do Espírito Santo; Festa do Divino Espírito Santo, Bandeira do Divino, Coroa, Cetro, Salva, Impérios do Divina Espírito Santo, Festeiro, Imperador e Imperatriz, Corte, Cortejo imperial, Missa, Coração, Pagamento de promessas, Pãozinho do Divino, Varas, Mastro do Divino, Juízes da Vara, Banda Musical; Brinquedos e diversões, Futebol, Bola de Meia, Jogo de Taco, Jogo de talha, Pião, Brincadeira da tampinha da garrafa, Bolinha de vidro; etc. A cultura de um povo pode ser observada através do conjunto das manifestações expressas ao longo do ano, nos vários campos das ações humana. Surge da combinação espontânea de diversos elementos, os quais, representam, para o povo, fundamentos do seu saber ser e saber fazer. Neste conjunto heterogêneo reúnem-se, a religiosidade, o imaginário, o saber fazer, as relações com a natureza, os sentimentos. Enfim, a síntese das relações socioeconômicas e culturais do dia-a- dia do grupo humano. (FARIAS, 1998 p.305) Estes são uns dos traços representativos da cultura açoriana, que em muitos locais estão por desaparecer, em conseqüência do não interesse das sociedades mais recentes em preservar o patrimônio cultural de seus antepassados. 1.4.3 Caminho dos Conventos Em 1703, Domingos de Filgueira descreveu o caminho entre a Colônia de Sacramento e Laguna conhecido como Caminho da Praia. Vinte e cinco anos depois, em 1728, foi aberto o Caminho dos Conventos, também chamado do Caminho de Souza Farias que saindo de Araranguá (SC), subia o planalto, penetrando nos Campos de Cima da Serra, seguindo até Curitiba para chegar em Sorocaba. (Oliveira, 2005). Segundo Marcelino (2003, p.4) a estrada iniciava nas proximidades da foz do rio Araranguá, próximo ao Morro dos Conventos, distante de Laguna, ao sul, pouco mais de 15 léguas. Seguia-se até os contrafortes da Serra Geral no sentido leste-oeste, atravessando
  • 18. uma planície de aproximidade 40 quilômetros. A subida dos contrafortes da serra era por um trilha de difícil acesso, que ao seu final encontrava-se com o planalto rico em campos e pastos de excelentes qualidades, com fartura de gado, também denominada de Campos de cima da Serra, posteriormente, Vacaria dos Pinhais. Destas região, os tropeiros seguiam para Lages e, daí então, para Curitiba (Hobold, 1994, p.45). Em função da abertura do Caminho dos Conventos surgiram diversos atalhos e variantes por onde transitavam tropas de gado, com locais de pouso, que iriam constituir-se nas primeiras póvoas ou praças. Conforme Marcelino (2003, p.5): “As póvoas eram compostas por algumas casas e estabelecimentos comerciais, que forneciam mercadorias de consumo, como açúcar, café sal, querosene, etc”. O sul do país durante a economia mineradora do século XVIII não possuía produtos de exportação, porém tinha por função abastecer o mercado interno, principalmente o gado para a região das minas. Por este motivo desenvolveu-se em Santa Catarina uma lavoura de policultura diferenciada do restante do país que predominava a monocultura. Segundo Piazza, Com a entrada da frota de João Magalhães nos Campos de Viamão, em 1725, encontrando lá gado xucro, deu-se início ao um processo social-econômico de recíprocos interesses entre os ‘lagunistas’ e os estancieiros que se firmavam nos campos nativos do Continente do Rio Grande. (PIAZZA, 1994, p.75). Laguna começa a ter sua região como destaque na passagem das tropas e na venda do gado, pois os Campos do Rio Grande do Sul passam a fornecer o gado a Laguna e esta os retalha, salga e vende para São Vicente remetendo-os via marítima, que por fim os redistribuía para Minas Gerais. Dia a dia começa a surgir o interesse da abertura de um novo caminho que ligasse Rio Grande a São Paulo, este conhecido com “caminho do sul”. O Sargento-mor de cavalaria Francisco de Souza e Faria recebeu instruções para abrir o caminho, ligando a referida campanha aos Campos Gerais de Curitiba. Contornadas as oposições, Francisco de Souza Faria, a11 de fevereiro de 1728, deu início à sua missão, abrindo o primeiro rasgão na mata, próximo á barra do rio Araranguá, no local chamado “Conventos”. E a 8 de setembro de 1730 alcançou o rio do Registro (rio Negro). Concluiu-se, assim, o “caminho do sul” nas atuais áreas sul-rio-grandenses e catarinenses. (PIAZZA, 1994 p.77). Os habitantes de Laguna não gostaram da idéia, porém a idéia obteve apoio nos demais pontos de escala. [...] para Laguna, a abertura de qualquer caminho interiorano lhe traria como conseqüência irreversível a decadência, pois perderia a sua posição invejável de ponto de passagem obrigatória para o sul como lugar de convergência, do que lhe advinha boa parte de sua prosperidade e seu poderio. (HOBOLD, 1994 p.46) A estrada dos conventos que ligava Rio Grande a São Paulo pela Serra tinha sua entrada na cidade de Araranguá e em seu percurso passava pela atual cidade de Ermo, levando um grande número de tropeiros e estancieiros a se localizarem ao longo de sua trilha. Quando abriu o Caminho dos Conventos preocupou-se em fazer com que a maior parte do trajeto ficasse às margens de alguma vertente de água até em “Cima da
  • 19. Serra”, assim escaparia das íngremes subidas de morros, como também teria a garantia de que o gado não morreria de sede durante o percurso. (COELHO, 2003 p.129) Partindo-se da abertura do “caminho do sul”, inicia-se o povoamento do planalto catarinense, sendo as terras ocupadas por “invernadas”, “pousos” “estâncias”. Vale ressaltar que a subida dos contrafortes da Serra Geral ocorria pelas encostas da Serra da Pedra, localizada mais precisamente no município de Jacinto Machado. Volta Grande (atual Jacinto Machado), recebeu esta denominação devido a grande volta que se dava de Araranguá para atingir esta "póvoa", decorrente das grandes áreas alagadiças existentes na planície. Sua colonização foi inicialmente estabelecida por posseiros luso-brasileiros que adquiriram terras devolutas oriundos, em sua maioria, de Araranguá e Laguna. (FONTANELLA, 1992). Porém o desenvolvimento da região sul catarinense era lento e suas atividades produtivas eram, em muitos aspectos, rudimentares. Isto ocorreu mesmo após serem estabelecidos os primeiros moradores e de serem criadas estradas de ligação entre o planalto e a faixa litorânea favorecendo a criação de um comércio pioneiro. A economia não era suficientemente promissora e dinâmica para trair um contingente populacional, ou mesmo para estabelecer uma organização social sólida. Praticava-se agricultura de pequenas propriedades, com técnicas rudimentares onde eram derrubadas as matas para utilização do solo até exaustão. Produziam, em sua maioria, a mandioca, a cana-de-açúcar, o milho, o algodão e outras culturas em menores escalas. (LAGO, 1968). No caso de Volta Grande, este caminho principal era ao lado do rio da Pedra e, este se ajustou às condições morfológicas que, sendo uma extensa planície, beneficiou a implantação dos demais arruamentos. 2 COLONIZACAO EM SANTA CATARINA SÉCULO XIX Durante o século XIX, surgem as correntes migratórias européias para a América, onde uma leva destes imigrantes irão se deslocar para o Brasil e para o Estado de Santa Catarina, trazendo junto de si uma nova mentalidade, em decorrência da consolidação do capitalismo e da Revolução Industrial. A etnia negra é pouco discutida em Santa Catarina, passando muitas vezes a impressão de que estes nem existem neste Estado, mas sabemos que o negro possui uma presença marcante em nossa cultura, devendo ser valorizado. 2.1 O imigrante Europeu em solo catarinense Durante o século XIX a Europa passava por fortes problemas de ordem econômica e social, dos quais irá motivar a emigração para outros países, neste caso para o Brasil e mais especial para o Estado de Santa Catarina. Entre 1815 e 1849, a Europa conheceu três ondas revolucionárias sucessivas, e com elas, as crises econômicas. A industrialização européia ocorreu de forma desigual. Os países do sul e do leste continuavam predominantemente agrários e o progresso industrial restringia-se a uma área pequena (Grã-Bretanha, França, Bélgica e Alemanha). Na Itália, por exemplo, a maioria da população rural estava insatisfeita com o quadro social e econômico, apesar do desaparecimento dos direitos feudais. (FARIAS, 2000, p.123)
  • 20. Os fatores conjecturais que formaram a mentalidade do emigrante europeu, foram decorrentes da unificação de alguns países, bem como Alemanha e Itália, que geraram intranqüilidades perante a população e a falta de terras; um outro fator está relacionado a Revolução Industrial, que ocasionou a falta de emprego, fome e miséria. Perante isto surgem as correntes imigratórias, além mar, para os Estados Unidos, a Austrália, e a América do Sul, onde existia uma grande procura por mão-de-obra européia. Este movimento de emigração tem ligações com o crescimento demográfico. Entre 1815 e 1914, a população da Europa ultrapassava o dobro. (...) A Europa parece superpovoada. (...) Se a Europa parece superpovoada no século XIX, isso ocorre porque, no estado de sua agronomia, ela não esta capacitada a alimentar mais bocas, e porque, levando-se em conta o desenvolvimento de sua industria, ela não pode oferecer trabalho a um número maior de pessoas. (REMOND, 1974 p.197) Em meio a todos estes problemas ocorrentes na Europa a emigração foi a válvula de escape, tanto para os Estados europeus quanto para sua população, migrando cerca de 60 milhões de pessoas no século XIX. Em princípio os imigrantes europeus tinham por objetivo migrar para os Estados Unidos, porém a fiscalização neste país era muito forte não permitindo a entrada de estrangeiros sem que estivessem com todas as vacinas em dia, (este é um dos exemplos desta fiscalização), desta maneira poucos europeus conseguiam entrar em território Norte Americano. A segunda opção era a Argentina, e por último o Brasil. [...] estrangeiros nenhum procuravam o Brasil espontaneamente, sabendo que as condições sócio-econômicas era das piores possíveis. Os que abandonavam a Europa dirigiam-se aos Estados Unidos, ao Canadá que, além de pagarem a passagem um terço do que gastavam para a América do Sul, ofereciam melhor padrão de vida, fácil acesso à propriedade, liberdade de culto e clima excelente. No Brasil, além dos fatores mencionados, havia o problema religioso: quem não casasse pela Igreja Católica era nulo o casamento e seus filhos considerados ilegítimos. (PEREIRA, 1974 p.58) Santos (1987) explica que desde o início do século, o governo brasileiro buscava imitar o exemplo americano de imigração, com o objetivo de desenvolver sua economia estagnada, e também de resolver seu problema de ocupação em regiões até então desabitadas. Resumidamente os imigrantes europeus que vieram para o Brasil eram em sua grande maioria, camponeses sem terra, operários sem trabalho, burgueses falidos. Não podendo deixar de citar uma pequena, mas significativa leva de imigrantes europeus que migraram por objetivos ideológicos, sendo estes em sua grande maioria políticos e religiosos. Esta massa de excluídos do sistema socioeconômico europeu será o visado pelo governo brasileiro como mão-de-obra para vir substituir o braço escravo, (que estava por desaparecer nas fazendas de café, visto que estes após a abolição da escravatura acabam perdendo espaço de trabalho para os imigrantes, pois os produtores brasileiros valorizavam mais a mão-de-obra européia supondo que esta fosse mais qualificada do que a africana), e principalmente com o objetivo de embranquecimento da população brasileira. As transformações sociais e econômicas do 3º quartel do século XIX, o alto preço do café, a falta de mão de obra nacional, a melhoria das estradas, as ferrovias, o processo crescente da urbanização, a introdução, lenta embora, da máquina para o beneficiamento do café e com a qual o trabalhador escravo se mostrava incompatível, tudo isso favoreceu grandemente o surto imigracionista. (PEREIRA, 1974 p.57) Santos (1977) coloca que o Sul do Brasil teve uma conotação diferenciada do
  • 21. restante do país. No Sul os governos provinciais se interessaram por estes imigrantes como forma de preenchimento demográfico, em áreas ainda não habitadas, bem como no desbravamento de largas faixas de floresta. Assim sendo as províncias do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná, passaram a fazer concessões de terras para empresas particulares que se comprometiam em trazer o imigrante europeu e localizá-lo nas novas terras do Sul. De acordo com Singer, (1977) a partir do século XIX Santa Catarina passa a ser palco da colonização européia, principalmente alemã e italiana. O primeiro núcleo de colonização alemã surge em 1829: São Pedro de Alcântara, próximo a Florianópolis. Depois são fundadas Joinvile, ao norte, e Blumenau, no Vale do Itajaí, em 1850 e Brusque, no Itajaí- Mirim, em 1860. Os italianos começam a chegar a Santa Catarina, em 1836, fundando as colônias “Nova Itália” e “Nova Trento”, às margens do Rio Tijucas. Mas o principal centro de colonização italiana será o vale do Tubarão, onde, a partir de 1875, surgem Criciúma e Urussanga. Imigrantes italianos também irão povoar o Vale do Itajaí, a partir de 1875, misturando-se com a população germânica já ali estabelecida. Farias (1998, p.231) explica que a introdução de milhares de imigrantes europeus: alemães, italianos, poloneses, franceses, portugueses, espanhóis, russos, somada ao grande fluxo da imigração interna para a região, viabilizou o andamento populacional dos vales fluviais dos rios Itajaí, Itapocu, Cubatão, Tubarão, Tijucas, Araranguá, Urussanga. Piazza (1994, p.224) cita a colonização polonesa tendo inicio em 1871 na localidade de Brusque e a partir de 1882 passam a se fixar em áreas novas ou periféricas das colônias, seguindo, em muitos casos os roteiros de italianos e alemães, atingindo as localidades de Jacinto Machado e Turvo ao Sul de Santa Catarina. Estes europeus se fixaram nestas terras em comunidade semi-isoladas, reconstruíram aqui suas vidas, sendo que em parte nos mesmos moldes da Europa. O que às vezes chamamos de novas Europas são outras tantas réplicas da Inglaterra, da França, da Itália ou da Espanha. Com efeito, esses europeus, que abandonaram suas terras sem pretensões de voltar, levam consigo seu estilo de vida, suas instituições, seus costumes, seus gostos, seus hábitos, sua religião, para implanta-los na terra de adoção. (REMOND, 1974 p.200). Estas comunidades se mantiveram semi-isoladas e com contatos com sua terra mãe até a Segunda Guerra Mundial, quando este cordão umbilical é cortado e o governo brasileiro passa a exigir que todos falem o português abandonando seu idioma de origem. Neste processo de introdução de europeus em Santa Catarina foi fundamental o apoio dos açorianos aos recém chegados, sendo que os açorianos tinham como obrigação alojá-los; contribuíram também com fornecimento de gêneros alimentícios, ensinaram o cultivo dos produtos regionais, bem como a mandioca, a cana-de-açúcar, milho. Assim sendo, o desenvolvimento dos engenhos de farinha e da cana-de-açúcar de colonização ítalo- germânico-poloneses, possuí em suas raízes a base tecnológica açoriana. Neste contexto os açorianos passaram a utilizar com maior intensidade a madeira nas construções, esta tecnologia e equipamentos de serragem introduzidos principalmente pelos italianos. Porém o contato dos europeus vindos no século XIX, não foi tão amistoso com os açorianos já aqui instalados. Estes imigrantes europeus achavam-se superiores aos açorianos, em conseqüência disto vários pré-conceitos irão se formar em virtude do modo de vida do açoriano. Farias (2000, pp.105-107) nos relata alguns destes pré-conceitos: - “O homem do litoral é malandro, preguiçoso, não quer trabalhar”, este juízo formou-se pelo fato de o açoriano ir até a venda e tomar uns tragos e contar uns casos por volta das 4 a 5 horas da tarde, por conta de este ser o único horário disponível para ele fugir
  • 22. do seu ritmo de trabalho diário, pois a noite não poderia freqüentar a venda porque dormia cedo por volta das 20:00 horas, pois sabia que o dia de trabalho iniciava ás 5:00 horas da madrugada indo neste ritmo até umas 15:00 horas, trabalhando entre 10 a 12 horas seguidas. Como os ítalo-germânicos eram acostumados aos horários comerciais-industriais trabalhavam no período diurno tinham este pré-conceito referente aos açorianos. - “São uns pobres e malandros, vivem só comendo pirão com peixe, por isso as crianças são amarelas e barrigudas”, a alimentação açoriana era a base de farinha de mandioca e peixe, tendo como complemento açúcar, café, banana, feijão, vagens e verduras, tornando- os pessoas saudáveis, visto que na fase adulta os homens ganhavam musculatura e as mulheres eram dificilmente gordas e flácidas. Em relação as crianças tinham esta cor amarelada e barriguda pelo fato de andarem descalças, contraindo verminoses, bem como de comerem muito amido (mandioca). - “É um povo ignorante, atrasado, que não tem ambição, se conforma com o que tem, por isso é que é pobre”, é esta mentalidade que difere os açorianos dos ítalo-germânicos. Enquanto os açorianos se guiam por uma mentalidade pré-capitalista, não acumulativa, de base econômica de subsistência, os ítalo-germanicos, migrados no século XIX, trouxeram já uma mentalidade capitalista, seja por virem de uma Europa em plena revolução industrial, seja porque vieram através de companhias de colonização, que cobravam uma mentalidade acumulativa, que foi passada aos seus descendentes. - “Filho(a) meu(minha) não casa com brasileiro(a) (descendentes de luso- brasileiro) senão não entra mais na minha casa, não é mais meu (minha) filho (filha) e será deserdado(a)”, Foram estas as ameaças feitas a muitos moços e moças por seus pais e avós, isto ocorre a partir da década de 60 quando muitos destes jovens passam a freqüentar as Universidades e trabalharem em empresas quebrando o isolamento que havia entre estas culturas, muitos acabam se casando, ficam anos isolados de seus familiares. Esta maneira de pensar dos ítalo-germanicos são por parte derivantes do medo e rancor construído durante a Segunda Guerra Mundial, quanto estes se viram obrigados pelo governo brasileiro a romperem os laços afetivos a sua nação-mãe, sendo obrigados a falarem e a escrever em português. Assim, para estes perseguidos era inadmissível que seus descendentes se casassem com estes antigos perseguidores. [...] em especial os alemães e italianos, já expropriados em sua área de origem, trazem as representações da sociedade burguesa, calcada na superioridade racial do colonizador europeu, onde o discurso do trabalho livre e branco como portador de progresso e identificado com a civilização já estava dado. Isto reforçou o isolamento destes em relação aos africanos e seus descendentes. (PEDRO, 1988 p.64). Os colonos europeus vindo durante o século XIX, foram de vital importância para a economia catarinense, pelo seu desenvolvimento com o comércio e a futura indústria; proporcionou condições para que se ampliassem os mercados locais, aumentando a demanda de mão-de-obra, e, notadamente, separassem as atividades entre o campo e a cidade, diversificando a agricultura e impulsionando as exportações para os mercados abertos no interior e exterior. Será com a mentalidade do emigrante europeu do século XIX, que irão se desenvolver a indústria em Santa Catarina. Este imigrante saíra da Europa em plena Revolução Industrial alicerçado nesta nova forma de pensar, que este se fixará em terras brasileiras, neste caso em particular, catarinenses. Em relação a contribuição no aspecto industrial em Santa Catarina Piazza (1994, p.355) nos coloca que basicamente os colonizadores europeus se deslocam para Santa Catarina anteriormente à Revolução Industrial ter se consolidado em seus países de origem. Não se pode dizer claramente que esta colonização trouxe contribuições à “modernização” de
  • 23. Santa Catarina, porém os estudos feitos até o momento demonstram uma positiva ação modernizadora, como a origem rural ou urbana, a atividade industrial exercida na Pátria de origem, e a contribuição da mentalidade que era portador o imigrante, no momento da imigração. Tratando do mesmo assunto Boslle (1988, p.73) descreve que os alemães que entram em Santa Catarina na segunda metade do século XIX, ao contrário do que ocorrera na primeira metade, contavam com elementos de origem urbana, com formação artesanal, operária, comercial, industrial e intelectual. Mesmo os que tinham em sua origem o campo, vinham de uma agricultura que tendia para a comercialização. Estes imigrantes saem de seu país no qual se industrializa a passos gigantescos, contribuindo fundamentalmente para explicar a vocação das zonas de colonização alemão em nosso Estado. Com a euforia da era materialista, industrial, mecânica e cientifica que grassava no mundo no terceiro quartel do século passado, coincidiu a vinda para o Brasil dos imigrantes italianos que trouxeram na sua bagagem, além da ambição, uma inclinação natural para as artes de ofícios, e para a maquinaria em geral. Iniciando-se na lavoura pra a qual tinham vindo, vivendo parcimoniosamente, acumulando as parcas econômicas em anos sucessivos de labor diuturno, o imigrante foi se transformando de assalariado das grandes fazendas, em proprietário de terras, substituindo as famílias tradicionais de São Paulo, e no Sul, de sua colônia e da atividade artesanal doméstica ou local, transformando pequenas oficinas, ferrarias, funilarias, moinhos movidos a água, em gigantescas indústrias. (PEREIRA, 1974, p.131). A burguesia imigrante além de sua vantagem em termos de mentalidade técnica, industrial e empresarial, existe ainda mais um fator que contribuiu para seu desenvolvimento industrial e comercial, que está retratado no contato que estes dispunham com empresas de suas nações, sendo estes laços rompidos somente durante a Segunda Guerra Mundial. Através desta miscigenação cultural que se formou o povo catarinense, tendo desta forma em seus hábitos, variados aspectos culturais originários e herdados de seus colonizadores. 2.2 O negro em Santa Catarina O trabalho negro é introduzido no Brasil principalmente na região do nordeste, em conseqüência da falta de mão de obra, e também ao fato de este comércio negreiro ser muito lucrativo. Pereira (1974) nos explica que desde o descobrimento do Brasil, quando os primeiros habitantes começaram a se fixar nestas terras o negro era utilizado como escravo. No inicio do século XVII viviam no Brasil cerca de 100 mil negros. O tráfico dava muito lucro, embora se perdesse cerca de 40% dos negros trazidos da África nas travessias, estes morriam por maus tratos, fome, doenças, suicídios, mas assim mesmo, entravam no Brasil anualmente milhares de escravos. O negro nas grandes fazendas era mais um dos grosseiros instrumentos de trabalho, sem nenhum valor moral ou humano. Este para os seus senhores era como um animal de carga (cavalo, boi). A introdução do trabalho negro em Santa Catarina já inicia-se desde as primeiras vilas fundadas pelos vicentistas, bem como Desterro, São Francisco e Laguna. O trabalho escravo utilizado em Santa Catarina foi em menor número comparada as outras regiões do Brasil, mas não com menos importância e valor para o desenvolvimento catarinense, pois os negros contribuíram e muito para o abrochar de nossa cultura e sociedade.
  • 24. [...] os escravos nunca foram realmente a maioria da população da província, da Ilha, ou de Desterro. Sua participação no conjunto da população não é, entretanto, desprezível: eles representam a quinta parte do contingente populacional até meados da década de 1850, sendo que, no caso de Desterro, chegou a atingir mais de 40% em 1831. (PEDRO, 1988 p.19) Uns dos motivos relacionados ao número reduzido de escravos em Santa Catarina, se dá ao fato de que as condições de vida dos habitantes que aqui viviam eram precárias não tendo condições para comprar escravas, com isto levou-os a realizar o trabalho produtivo pessoalmente. [...] Como os negros são raros, sobretudo no campo, e a população branca é pobre e numerosíssima, esta não acha que seja desonra cultivar a terra com as próprias mãos, e são os brancos que no Desterro exercem todos os misteres. Numa parte da Província de Minas, onde a brancura da pele estabeleceu uma espécie de nobreza, e onde os homens de cor são os que trabalham, constituem estes a classe popular. Em Santa Catarina esta mesma classe se compõe de brancos. (SAINT-HILAIRE apud PEDRO 1988, p.18) Em conseqüência disto, costumava-se alugar escravos, como demonstra um anúncio de jornal da época. FIGURA 1: Anúncio colocado em Jornal para aluguel de negros. FONTE: “Os Argos” apud SACHET (1997, p.60). Os escravos estavam destinados aos afazeres domésticos, na agricultura, no comércio e na indústria baleeira, em geral. Isto se dá ao fato de que em Santa Catarina a propriedade era minifundiária, voltada para produção interna, ao contrário das outras regiões do país onde a economia era totalmente voltada para o comércio europeu. O escravo em Santa Catarina participou da agricultura de subsistência, e, talvez, de exportação – mas, ainda não dimensionada-dos trabalhos de marinharia, quer na indústria baleeira no século XVIII e nos princípios do XIX, quer, também, na marinha de cabotagem, e, finalmente, nos serviços nitidamente urbanos e, notadamente, domésticos. (PIAZZA 1994 p.234)
  • 25. Ano Total de escravos População total % escravos na pop. Total 1797 1810 1812 1812 1819 1831 1840 1844 1853 1857 1872 5.191 7.193 7.578 7.500 9.100 11.984 12.511 14.382 15.025 18.187 14.984 24.892 31.511 33.049 35.000 44.000 49.949 62.213 - - 92.912 159.802 20,85 22,70 22,92 21,42 20,68 23,99 18,89 - - 19,57 9,37 QUADRO 3: População escrava em Santa Catarina durante o século XIX. FONTE: PEDRO, 1988 p.19. O quadro acima demonstra que ocorre uma constante em todos os anos da presença negra em Santa Catarina desde 1797. Podemos também perceber que conforme se vai concretizando a projeto de embranquecimento da população através da vinda maciça do imigrante europeu em meados do século XIX, o número de negros vai gradativamente diminuindo. De acordo com Pedro (1988) durante o século XIX com a vinda do imigrante italiano, alemão polonês, inicia-se uma nova fase relacionada ao povoamento em Santa Catarina, pois estes imigrantes num período de sessenta anos iriam quadruplicar a população catarinense, onde encontraram uma sociedade já preparada para subjugar os elementos negros. Estes imigrantes irão aderir ao isolamento que fará com que estes venham a subjugar aqueles que já eram alvo de preconceito pelos demais habitantes. Além disto principalmente italianos e alemães trazem as representações de uma sociedade burguesa, alicerçada na superioridade racial do europeu, reforçando seu isolamento frente aos negros, e o preconceito com os mesmos. Segundo Leite (1996, p.38) Santa Catarina foi o “lócus” da concretização do projeto de embranquecimento da população brasileira durante o século XIX, através da política imigrante européia. Um dos fortes problemas encontrados no Estado se dá ao fato de caracterizar Santa Catarina como uma região branca com insignificativa presença de negros, ou ainda pior, declarar este Estado como sendo a “Europa brasileira”, onde a maior parte da população é compostos por italianos, alemães e poloneses. Tudo isto demonstra a invisibilidade do afro- brasileiro em Santa Catarina, e uma “superioridade racial” do branco. Novos mecanismos sutis ou explícitos de exclusão dos negros , são revelados nas pesquisas recentes. Por outro lado, diferentes estratégicas utilizadas pelos negros ao longo deste século para lidarem com a invisibilidade, o racismo e as mais diferentes formas de segregação, não podem mais ser desconsideradas. O território negro aparece, então, como o elemento de visibilidade a ser resgatado. Através dele, os negros, isolados pelo preconceito racial, procura, reconstruir uma tradição centrada no parentesco, na religião, na terra e nos valores morais cultivados ao longo de sua descendência. A tradição negra tem sido, comprovadamente, o próprio enfrentamento, a resistência cotidiana, a luta pela recuperação da auto-estima. Tanto nas áreas rurais como nas periféricas e urbanas, os negros consolidaram sua identidade social através da demarcação simbólica expressa por uma fronteira étnica que é construída ao longo de anos de resistência e em específicos e diversos contextos: na casa, na vila, no bairro, no clube, na rua, no bar. Esta fronteira étnica, coincidindo em diversos casos com a ocupação de uma terra, configura uma apropriação coletiva que é possível de titulação. (LEITE, 1996 p.50)
  • 26. É recente a inclusão do negro na história nacional e principalmente de Santa Catarina, da qual construiu e constrói sua identidade cultural através da negação ao negro. Sendo de suma importância resgatar e investigar este importante legado dos afro- brasileiros que por muito vem sendo discriminados e excluídos de nossa sociedade e conseqüentemente de nossa história. 3 PERSPECTIVA E METODOLOGIA DO TRABALHO APLICADO A história Oral, Memória e Patrimônio Cultural foram a base da pesquisa realizada, viu-se necessário fazer uma breve discussão sobre os mesmos, destacando a importância da história oral e da memória como fonte histórica, sendo que foi através deste recurso histórico que possibilitou o “resgate” da história local de Ermo, tendo iniciado seu povoamento anterior a vinda dos europeus com os povos pré-coloniais e posteriormente com a chegada dos imigrantes no século XIX e XX. Através do conhecimento do patrimônio histórico cultural do município pretende- se a valorização do mesmo por parte da comunidade. 3.1 História oral e memória Este trabalho irá se basear nos métodos e perspectivas da História Oral e da Memória como fontes históricas e a busca da identidade popular, bem como propõe a Proposta Curricular de Santa Catarina quanto coloca que “a noção de identidade refere-se a pertencimento do sujeito a um determinado grupo ou valores de grupos distintos”. [...] é preciso destacar que a memória é a base para a construção da identidade, da consciência do indivíduo e dos grupos sociais. Afinal, a memória é quem vai registrar todo o processo de identificação dos sujeitos com o espaço em que se inserem e as conseqüentes relações que se vêm estabelecer a partir dessa identificação. (REIS apud CUNHA, 1992 p.167) Na realização deste trabalho as situações vividas são as de maior importância para nós, visto que os documentos escritos são raros e insuficientes para se estudar e analisar a história de uma sociedade, e neste caso particular a sociedade de Ermo, sendo de extrema urgência a realização desta pesquisa, pois estas pessoas que guardam em sua memória a história viva do município de Ermo não serão eternos. Cabe ao historiador oral obter memória de pessoas vivas que servirão de documentos para o futuro; documentos que, em forma de memórias, se não forem extraídos rapidamente, se perderão definitivamente, pois, no nosso caso brasileiro ou latino-americano, o homem não é dado a escrever suas próprias memórias. (CORREA, 1978 p.18) Montenegro também coloca que: A história oral, no trabalho com a população, tem possibilitado o resgate de experiências, visões de mundo, representações passadas e presentes. Nesse sentido, as entrevistas permitem instituir um novo campo documental que, muitas e muitas vezes, tem-se perdido com o falecimento dos seus narradores. (MONTENEGRO, 1992, pp. 26-27). Com o início deste trabalho vimos a necessidade de se explanar alguns conceitos
  • 27. sobre história Oral e Memória, temos total consciência de que este assunto é muito complexo e não possuímos o objetivo de fazer aqui um estudo com profundidade, e sim tentar compreender um pouco mais sobre estes conceitos, para que tenhamos suporte na realização da pesquisa da memória dos habitantes de Ermo. A história Oral começa a ter valor histórico com Jaques Le Goff a partir da “História Nova”. A História Nova ampliou o campo do documento histórico; substituiu a história de Langlois e Seignobos, fundada essencialmente nos textos, no documento escrito, por uma história baseada numa multiplicidade de documentos: escritos de todos os tipos, documentos figurados, produtos de escavações arqueológicas, documentos orais, etc. (LE GOFF, 1998 p.28) Existem algumas críticas em relação à História Oral, sendo o ponto mais discutido a questão da confiabilidade dos testemunhos dados pelos entrevistados, visto que muitos fatos ficariam distorcidos, como nos coloca Burke (1992, p.34) “... pela deterioração física e pela nostalgia própria da idade avançada, pelas tendências pessoais tanto do entrevistado como do entrevistador e pela influência das versões coletivas e retrospectivas do passado”. Aqui encontramos um grande problema onde muitos historiadores acabam falhando, (a nosso ver), pois buscam as “verdades” históricas, onde na história não existem “verdades” absolutas, cada pessoa pode ter um ponto de vista diferente relacionado ao mesmo fato, onde todas estão com suas verdades. Porém sabemos sem dúvidas de que este trabalho deve ser problematizado e analisado profundamente, não tomando os depoimentos como totalmente verdadeiros, posto que, assim como a história, são fundamentalmente parciais. O principal compromisso do historiador é com a verdade. Entretanto, verá que, em cada entrevista, principalmente as realizadas com pessoas de grupos diferentes, opostos ou contrários ao mesmo assunto, a verdade está em cada uma delas; aqui a verdade histórica é, pios relativa. (CORREA, 1978, p.78) A história escrita tradicional possui também limitações pois os documentos escritos tiram a espontaneidade dos fatos, no qual existe em maior quantidade na História Oral. Correa (1978) em sua obra aconselha que nas entrevistas se busque diferentes opiniões, baseadas em diferentes vivências. Em nossa pesquisa procuramos ouvir diversas etnias presentes em Ermo, açoriana, italiana, alemã e negra, para que tivéssemos a oportunidade de analisar vários pontos de vista. As pesquisas realizadas através da história oral, diferente da tradicional são feitas basicamente como fontes futuras, demonstrando os pontos de vistas unilaterais, existentes dentro de uma mesma história. Através do estudo da história oral percebemos a forte ligação que esta tem com a memória, de acordo com Le Goff (1992, p.49) “tal como o passado não é a história, mas o seu objetivo, também a memória não é a História, mas um de seus objetivos”. Segundo Bernardo (1998) com o estudo da memória é possível descortinar situações conflitivas, discriminações, jogo de poder entre grupos sociais e processos como a construção de identidade, visto que o processo de memorização possibilita reconstruir e redefinir continuamente as identidades quando coletivas dos grupos étnicos. Com os processos de privatização do homem atual, onde cresce a cada dia sua individualidade fazendo com que se rompam os elos de ligação da memória coletiva, surgindo assim um sentimento de vazio, que acaba por se instalar no centro de nossas existências. A perda desta referência em relação a qualquer sentido coletivo, “além de deixar de projetar perspectivas futuras, faz aumentar a sensação de que os vínculos com o passado estão prestes
  • 28. a se desfazerem definitivamente”.(DECCA apud CUNHA, 1992 p.131). Porém o estudo da memória permite que sejam ultrapassadas as individualidades, atingindo características grupais, sendo que, a memória individual possuiu uma relação de dependência com os grupos dos quais o individuo faz parte. Segundo Bosi (1979, p.17) “a memória do indivíduo depende do seu relacionamento com a família, com a classe social, com a escola, com a Igreja, com a profissão, enfim, com os grupos de convívio e os grupos de referência peculiares e esse indivíduo”. Halbwachs apud Bernardo (1998) afirma que os diversos modos de lembrança resultam das diferentes formas pelas quais os homens podem vir a se relacionar. O pensamento individual só é compreendido quando posto no pensamento do grupo correspondente. Para a preservação da memória é importante a coletividade dos indivíduos, pois o capitalismo, o urbanismo acaba por afastar as pessoas, fazendo com que estas se separem daqueles companheiros que juntos relembravam as memórias guardadas e que agora pela falta de contato e comunicação estão por desaparecer. Quando as vozes das testemunhas se dispersam, se apagam, nós ficamos sem guia para percorrer os caminhos da nossa história mais recente: quem nos conduzirá em suas bifurcações e atalhos? Fica-nos a história oficial: em vez da envolvente trama tecida a nossa frente só nos resta virar a página de um livro, unívoco testemunho do passado. (BOSI apud CUNHA, 1992 p.145) De acordo com Caldeira (1989) a reconstrução do passado apoiado na memória revelam dois tipos de informação: o primeiro representa a forma pela qual a memória é reconstruída socialmente, que estão representadas nas várias maneiras de lembrar e a forma pela qual o passado é organizado e controlado. Segundo em relação ao conteúdo da memória, como diferentes versões do passado estão embutidos em relações sociais e como uma delas pode tornar-se dominante. Concone apud Bermardo (1998) no qual coloca que a memória é algo vivo e que não se encontra armazenado nela lembranças precisas e completa do passado vivido. O presente para o autor serve de parâmetro para uma releitura, interpretação e atribuição de sentido ao passado. A memória de um grupo social é produzida socialmente, não trata apenas de uma produção coletiva: ela associa, tanto ao passado quanto ao presente, experiências do grupo que interpreta e reinterpreta o passado e usa essas interpretações para dar sentido á sua experiência presente e para legitimar diferentes interesses. Assim, as visões sociais do passado não fixas, mas sujeitas a interpretações, à medida que o presente e as condições sociais do grupo mudam. (CALDEIRA, 1989 p.21) No período em que nós vivemos, está ocorrendo um processo de massificação, ou seja a uniformização cultural, onde afastam as sociedades tanto do conhecimento erudito quanto do popular, passando a criar culturas para elas e não por elas, fazendo com que estas deixem de lado suas raízes, sua cultura e principalmente sua memória, pois passam a adotar uma cultura padronizada, em que muitas vezes representam a moda, mas principalmente o poder de persuasão que a elite possui perante nossa sociedade. Sendo que “o estudo das macro-estruturas e o debruçamento sobre a história local e a necessidade das pesquisas particularizadas passam a ser determinantes para a resistência transformadora”.(Porposta Curricular de Santa Catarina, 1998, 64)