Prefeitura de Belo Horizonte ofereceu valor inferior do que avaliado a donos de imóveis que foram desapropriados para a construção da Via 210, uma obra que consta na Matriz de Responsabilidades da Copa 2014.
1. Minas
hojeemdia.com.br
BeloHorizonte,sexta-feira,31.1.2014
HOJEEMDIA
25
FOTOS SAMUEL COSTA
CHAMADA
GERAL
EDUARDOCOSTA
Jornalista
minas@hojeemdia.com.br
Caixão não tem gaveta
R$ 600 – É quanto Renildo paga por uma casa alugada desde que teve que deixar o imóvel no Betânia
Sem receber um tostão,
famílias pagam aluguel
Todos os 151 imóveis
desapropriados para a
construção da Via 210,
no bairro Betânia, zona Oeste de Belo Horizonte, foram demolidos. Entretanto, pelo
menos 30 proprietários ainda não receberam as indenizações e
estão pagando aluguel
ou morando de favor.
A babá desempregada Rosana Cristina
Duarte, de 42 anos, é
uma delas. Morou a vida inteira em um lote
com quatro casas na
rua Lótus. Era vizinha
de porta do pai e de
dois irmãos, mas agora encontra-se pouco
com eles, desde que a
família se mudou, em
junho do ano passado.
Um irmão foi para o
bairro Olhos D’água
(região Oeste); o outro, para Contagem,
na região metropolitana; o pai, para Esmeraldas, também na
Grande BH.
LONGE
Atualmente, Rosana mora com o marido e um
filho no Barreiro, e paga
aluguel de R$ 550 por
mês. Como não concordou com o valor oferecido pela Superintendência de Desenvolvimento
da Capital (Sudecap),
corre na Justiça o processo para que a babá e
os parentes possam receber o dinheiro.
Eles não sabem quando irão conseguir a indenização, mas têm uma
certeza: será impossível
ALÉMDISSO
>
Sudecapnão
sabequanto
jáfoipago
ASuperintendênciade
Desenvolvimentoda
Capital(Sudecap),
responsávelpelas
desapropriaçõesnas
obrasda Copa,informou
nãosaberquanto já foi
pagoem indenizações,
inclusivenaVia210.
O total previsto para
desapropriações no
local era de R$ 24,8
milhões, mas subiu para
R$ 54 milhões, média de
R$ 357 mil por imóvel. O
valor total da obra,
hoje, é de R$ 105
milhões. O trecho vai
ligar a Via do Minério à
avenida Tereza
Cristina, sem passar
pelo Anel Rodoviário.
SÓ UMA PARTE – Toninho teve a indenização pelas
benfeitorias na casa, mas não o valor referente ao lote
morar na região de onde
foram desapropriados.
O motorista de caminhão Renildo Alves, de 47
anos, saiu do Betânia há
nove meses e paga um aluguel de R$ 600 no bairro
Jardim América. Ele também aguarda a decisão judicial para saber quando
receberá a indenização para comprar uma casa.
DEFAVOR
Daniela Zaidan foi a última moradora a deixar a
rua Lótus, no Betânia, e
hoje mora de favor na casa de uma prima. “Todos
os dias ela me pergunta
que dia vou sair. Não tenho mais o que fazer”.
Já o pedreiro Luiz Antô-
FIQUEPOR DENTRO
>
PBHdesmente
negociação
Aprimeiravez emque o
Hojeem Diaquestionoua
PBHsobre areduçãono
valordedesapropriações
foiem22 dejaneiro. Por
e-mail,a assessoria da
prefeiturarespondeuque
ainformação não
procedia.Procurada
novamentenesta
semana,a Sudecap deua
mesmaresposta,apesar
deojornal ter afirmado
estarcoma cópiado
chequeoferecidoa
umamoradora.
nio Calixto, de 58 anos,
conseguiu ficar perto de
onde vivia. Ele alugou
uma casa a menos de um
quilômetro de onde ficava o imóvel anterior, e paga R$ 600. Toninho, como é conhecido, recebeu
a indenização pela benfeitoria da residência, mas
ainda não viu o dinheiro
referente ao lote.
A defensora pública
Cleide Aparecida Nepomuceno lamenta a demora em finalizar os processos, mas ressalta que a culpa não é apenas do Judiciário. “A lentidão não é
só da Justiça. O Município deveria ter notificado
os posseiros, e não o antigo proprietário”, diz.
Em mais uma demonstração de que é um líder
religioso diferenciado, o Papa Francisco pediu aos
líderes das nações ricas a garantia de “que a
humanidade seja servida pela riqueza, e não
governada por ela”. Sua Santidade sabe o que diz.
Afinal, o planeta ainda repercute o relatório de uma
organização não governamental britânica, “Oxfam”,
de que o patrimônio das 85 pessoas mais ricas do
mundo equivale às posses de metade da população.
Aquelas têm 1,7 trilhões de dólares, equivalentes ao
patrimônio de 3,5 bilhões de pessoas – as mais
pobres do mundo.
Eu me pergunto, com frequência, por que a gente
insiste em viver como formigas, juntando, juntando,
mesmo sabendo que, quanto mais compacto e cheio
o formigueiro estiver, mais ao alcance dos
predadores estará. Não acredito que seja pecado ter
dinheiro e o próprio Jesus Cristo deixou clara a
aprovação aos bens conseguidos licitamente, por
meio do trabalho, tanto que nos deu os talentos na
expectativa de que os utilizássemos bem.
O problema é o vale tudo. Agora mesmo um padre
foi preso dentro do Vaticano porque estava
multiplicando irregularmente as próprias economias.
E todo dia, toda hora a gente vê exemplos
inacreditáveis de
artimanhas para se
colocar as mãos na
fortuna. É o servidor
público corrupto, o
político desalmado que
enfia a mão no caixa que
é de todos, mas,
convenhamos, os grandes
ganhos da iniciativa
privada muitas vezes
também passam por
trapaças, negociatas e até
rasteiras nos
concorrentes.
O resultado é que o
patrimônio do 1% de
pessoas mais ricas do
mundo equivale a um
total de US$ 110 trilhões,
65 vezes a riqueza total
Cesar
da metade mais pobre da
população mundial. E, pior, os mesmos estudos
indicam que, nos últimos 25 anos, a riqueza ficou
cada vez mais concentrada nas mãos de poucos...
Felizmente, a situação tende a se tornar menos
trágica entre nós, na América Latina, onde a
concentração de renda tem diminuído e, para
desespero dos tucanos e de todos os que odeiam a
dupla Lula-Dilma, a Oxfam destaca o caso brasileiro,
apontando que o país teve “sucesso significativo na
redução da desigualdade desde o início do novo
século”. “Em parte devido ao crescente gasto público
social, uma ênfase no gasto com saúde pública e
educação, um programa de transferência de renda de
larga escala que impõe condições para o recebimento
(Bolsa Família) e um aumento no salário mínimo que
subiu mais de 50% em termos reais desde 2003”,
afirmou o relatório.
Me pego perguntando, com frequência até
irritante, por que as pessoas não percebem que,
depois de certa quantia, tudo o que vier é exagero,
vai gerar mais problema que solução, mais tristeza
que alegria, vai desagregar mais que unir e pode se
tornar doença grave, na necessidade eterna de
acumular mais. Um dia chega a hora, tudo vai ficar
para trás, as coroas de flores só vão enfeitar o túmulo
por 24 horas e, se alguma joia rara ficar no corpo,
provavelmente será saqueada dias depois.
EduardoCostaescreve neste espaçotodas as
segundas,quartase sextas-feiras